1) O documento descreve uma pesquisa sobre a proteção de solos em áreas de recarga de nascentes na microbacia do Arroio Mirim no Brasil.
2) Foi realizado um diagnóstico do uso do solo e da vegetação na bacia usando imagens de satélite para mapear a ocupação do solo.
3) Verificou-se que 28,82% da área é ocupada por lavouras temporárias, 32,96% por pastagens e 24,63% por florestas nativas.
Proteção de solos em áreas de recarga de nascentes
1. 1
PROTEÇÃO DE SOLOS EM ÁREAS DE RECARGA DE NASCENTES
Resumo: Este trabalho teve por objetivo caracterizar as formas de uso e ocupação
da microbacia do Arroio Mirim, localizada na bacia hidrográfica do Rio Iguaçu,
buscando elaborar um diagnóstico do uso dos solos e distribuição da vegetação ao
longo da bacia, utilizando-se de sistemas de informações geográficas, com a
utilização de imagens de satélite do software Google Earth procurando estabelecer
um prognóstico da situação ambiental atual. Na área diagnosticou-se a vegetação,
culturas e construções, buscando elaborar um mapa de ocupação e uso do solo bem
como de áreas de preservação permanente. Foram também levantados dados como
a declividade média, área da microbacia, vazão do manancial, tipo de solo, latitude,
longitude e elevação máxima e mínima. Com base na fotointerpretação, verificou-se
que a distribuição da ocupação da área esta distribuída da seguinte forma: 28,82%
ocupada com lavouras temporárias, 32,96% ocupada por pastagens, 24,63% com
florestas nativas, 8,61% de áreas de preservação permanente, com
aproximadamente 2,37% de áreas a serem repostas.
Palavras chave: microbacia hidrográfica, zonas de recarga, ocupação e uso do
solo.
Abstract: This study aimed to characterize the forms of use and occupation of the
microbasin Arroio Mirim, located in the basin of Rio Iguaçu, seeking establish a
diagnosis of land use and distribution of vegetation along the basin, using systems of
geographic information, with the use of satellite imagery of Google Earth software
seeking to establish a prognosis of the current environmental situation. In the area
revealed itself to vegetation, crops and buildings, searching prepare a map of
occupation and use of land as well as areas of permanent preservation. Data were
also raised as the average slope, area of micro-, flow of wealth soil type, latitude and
longitude and elevation maximum and minimum. Based on photointerpretation, it was
found that the distribution of the occupation of the area allocated as follows: 28.82%
occupied with temporary crops, pastures occupied by 32.96%, 24.63% with native
forests, 8.61% for permanent preservation areas, with approximately 2.37% of areas
to be restored.
Key words: hydrographic microbasin, areas of recharge, occupation and use of land.
2. 2
INTRODUÇÃO
A conservação da água e do solo é de fundamental importância para a gestão
dos recursos hídricos. As ações conservacionistas de água e solo compreendem um
conjunto de medidas que possibilitam aumentar a quantidade de água disponível
nas bacias, por meio da recarga adequada dos aqüíferos, e a melhoria de sua
qualidade, ao reduzir os processos erosivos e o volume de efluentes lançados nos
corpos de água (SANTOS; ROMANO, 2005).
A situação de poluição hídrica tem-se agravado, considerando-se o uso
inadequado do solo, erosão, desmatamento, e uso inadequado de insumos
agrícolas. Estes fatores, associados à distribuição anual de chuvas e às
características climáticas levam a danos ambientais dos recursos hídricos, dentre os
quais se destacam o aumento do transporte de sedimento e a contaminação
orgânica e química das águas (MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE, 2008).
Segundo Souza e Fernandes (2000), a paisagem pode ser dividida em:
(a) zonas de recarga – são constituídas pelos topos de morros e chapadas,
possuem solos profundos e permeáveis, são fundamentais para o abastecimento do
lençol freático. Devem ser mantidas sob vegetação nativa, pois a sua função de
recarga pode ser prejudicada pela impermeabilização do solo decorrente da
compactação ou contaminação do lençol freático por agrotóxicos carreados pelas
águas que infiltram no solo;
(b) zonas de erosão – estão localizadas logo abaixo das zonas de recarga,
onde se distribuem as vertentes em declives e comprimento de rampas favoráveis
ao processo erosivo, podendo ser acelerado pelo uso impróprio. Nessas áreas, o
escoamento superficial tende a predominar sobre o processo de infiltração. São
responsáveis pelo carreamento de sedimentos que podem vir a causar
assoreamento dos cursos d`agua;
(c) zonas de sedimentação – conhecidas também como bacias fluviais, são o
segmento mais baixo da bacia hidrográfica. Possuem considerável aptidão
agropecuária. É nesta região que deve permanecer a vegetação ciliar de
fundamental importância para a contenção de sedimentos, erosão das margens
entre outros.
A mata ciliar, também designada como floresta ripária, mata de galeria,
floresta beiradeira, floresta ripícola e ribeirinha é uma vegetação que ocorre ao longo
dos cursos d’agua (MARTINS, 2001). Ela é de suma importância para a manutenção
3. 3
da qualidade da água dos rios, controle do regime hídrico, redução da erosão das
margens de rios, lagos e reservatórios, manutenção da ictiofauna e melhoria dos
aspectos da paisagem (PASSOS, 1998).
Apenas a recomposição da mata ciliar não é suficiente para recuperar a
capacidade de produção de água de uma bacia hidrográfica. É de fundamental
importância, para a recarga do lençol freático, a proteção das zonas de recarga
acima das nascentes, por meio do uso da terra de acordo com sua capacidade e
existência de matas de topos de morro, como afirmam Botelho e Davide (2002).
O instrumento legal mais importante para disciplinar o uso e ocupação do solo
é o Código Florestal, instituído pela Lei Federal nº. 4.771, de 15 de setembro de
1965, que, nos artigos 2º e 3º, trata das áreas de preservação permanente (APPs).
A reserva legal é a área localizada no interior de uma propriedade ou posse
rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos
recursos, a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos, a conservação
da biodiversidade e ao abrigo e proteção da fauna e da flora nativas. Ela varia de
acordo com o bioma e o tamanho da propriedade e para as propriedades rurais
situada na região sul do país, está estipulada em 20% da área da propriedade
(IBAMA, 2008).
Com a evolução das ciências, o mapeamento de áreas via satélite é de
fundamental importância para o processo de obtenção de informações de objetos
físicos e do meio ambiente também. Dentre as tecnologias, a fotogrametria
atualmente constitui uma ferramenta de extrema importância para a confecção de
mapas e cartas, com a necessária confiabilidade e precisão das informações
levantadas (FAGUNDES; TAVARES, 1991).
Wolf (1995) destaca que a fotointerpretação possibilita analisar objetos ou
situações em fotografias aéreas e determinar o seu significado fundamentando-se
também em dados conhecidos que permitam extrair feições ou inferir deduções
sobre o objeto de estudo.
A fotointerpretação pode ser utilizada para múltiplas finalidades; para auxiliar
o delineamento da rede de drenagem original, verificar alterações no leito dos rios e
qualitativas na vegetação, usos de propriedades, atualização de bases cartográficas
e para observar transformações morfológicas e espaciais no caso de barragens,
(MELLO; LOCH, 2003).
4. 4
Documentos cartográficos em formato digital, que apresentem uma
estruturação de dados geoambientais para um sistema de informações geográficas
podem fazer parte de banco de dados geoambientais, servindo assim de base para
monitoramento ecológico em bacias hidrográficas, tal como afirmam Karnaukhova &
Loch (2000).
Visando avaliar a preservação ambiental, bem como o uso e ocupação do
solo, este trabalho foi desenvolvido em uma microbacia hidrográfica, situada no
interior do Município de Cascavel, PR.
MATERIAIS E MÉTODOS
No desenvolvimento do trabalho foram obtidos dados como a declividade
média da bacia através de um aparelho de GPS (Sistema de Posicionamento
Global) geodésico modelo SR-20 utilizando bandas L1, para tanto, foram marcados
dois pontos, um na parte mais alta da bacia logo acima da nascente e outro na parte
mais baixa onde deságua o córrego. Os dados foram descarregados no programa
GIS DATAPRO. A base utilizada para a correção dos dados fica na COPEL da Rua
Carlos Gomes, no Município de Cascavel – PR.
O método de correção utilizado foi o de códigos suavizados, resultando em
uma precisão de 0,40 metros, este arquivo corrigido foi exportado para o software
AUTOCAD 2005, onde foi calculado o desnível entre os dois pontos, sendo ele a
diferença entre o ponto mais alto e o mais baixo, este valor foi calculado por regra de
três, ate obter-se a porcentagem de declividade.
A mensuração da área da bacia foi feita através de imagens de satélite em
duas dimensões do software Google Earth 2008, os dados foram computados no
software AUTO CAD 2005, as imagens foram rasterizadas, utilizando-se poli-linhas
por cima da imagem e em seguida foram calculadas as respectivas áreas e
elaborado o mapa de uso e ocupação do solo.
Foi feita uma estimativa da vazão do curso d´água obtendo-se a profundidade
em três pontos, largura do córrego, velocidade do curso, em seguida foi calculada a
área e a velocidade, através da fórmula universal Q=SxV (Q=vazão em m³/s; S=área
e V=velocidade), obteve-se a vazão. Também foi feita uma análise de sólidos
sedimentáveis da água em um laboratório credenciado.
Foram levantadas também algumas características físicas da bacia como a
densidade de drenagem, calculada pela fórmula Dd=L/A (Dd=densidade de
5. 5
drenagem; L=comprimento dos canais em Km; A=área estudada em Km²). O fator
de forma calculado pela fórmula F=A/L² (F=fator de forma; A=área da bacia;
L=comprimento do eixo da bacia), a qual é proposta por Horton (1932) que afirma
também que a forma é uma das características físicas mais difíceis de ser expressas
em termos quantitativos e que este índice de forma pode dar alguma indicação
sobre tendências a inundações.
RESULTADOS E DISCUSSÔES
A microbacia hidrográfica avaliada foi a do manancial Arroio Mirim,
pertencente à bacia hidrográfica do Rio Iguaçu. Situada a Latitude 25°05`53`` Sul e
53°23`09`` de Longitude Oeste. Apresenta altitudes entre 530 e 700 metros,
somando uma área total de 2.671.078,000 m², (267,107 hectares) e possui uma
declividade média de 5,84%.
Esta situada em uma região de clima subtropical úmido mesotérmico, com um
regime pluviométrico anual entorno de 2000 mm/ano. A média das temperaturas dos
meses mais quentes é superior a 22°C e a dos meses mais frios é inferior a 18°C, a
umidade relativa do ar gira em torno de 75%, segundo dados do Simepar (2008).
Verificou-se que o solo predominante é um LATOSSOLO VERMELHO
Distroférico, a vegetação caracteriza-se por ser um remanescente do Bioma Mata
Atlântica.
TIPOLOGIA % da Área em
área Hectares
Agricultura temporária 28,82% 76,98 há-¹
Pastagens 32,96% 88,06 há-¹
Florestas nativas 24,63% 65,81 há-¹
APP´S existentes 8,61% 23,01 há-¹
APP´S a repor 2,37% 6,34 há-¹
Tabela 1: Tipos de vegetação e suas respectivas áreas.
Desta forma, nota-se a importância da caracterização do uso e ocupação do
solo na microbacia e a determinação dos impactos potenciais que este uso pode
causar. As melhores condições de cobertura vegetal são apontadas para as matas
de galeria que em conjunto perfazem 8,61% da área, reduzindo processos erosivos
e assoreamento e indicando que a preservação destas áreas esta sendo executada.
6. 6
Isto vem confirmar que vem sendo cumprido o Código Florestal, que no seu artigo
2°, determina a preservação das matas situadas ao longo dos cursos d’água e ao
redor das nascentes.
Figura 1: Mapa de ocupação e uso do solo da microbacia hidrográfica do
Arroio Mirim.
7. 7
A presença de mata nativa nos topos de morro da microbacia reflete a
importância da conservação desta, tendo em vista que são áreas que desempenham
papel importante no processo de recarga. Na microbacia do Arroio Mirim, foi
constatado afloramentos de rocha e solos rasos. De acordo com Souza e
Fernandes (2000), devem ser mantidas sob vegetação nativa, pois a sua função de
recarga pode ser prejudicada pela impermeabilização do solo.
As áreas de pastagens apresentam manejo adequado, com espécies de
gramíneas adequadas, que impedem a erosão do solo e favorecem a infiltração,
salvo apenas uma área abaixo da cabeceira, que apresenta processo erosivo
significante, caracterizando a formação de voçorocas, resultado de uma cobertura
vegetal menos adequada, identificada como espécie de gramínea formadora de
touceiras, que favorece o escoamento superficial ao formar canais que possibilitam o
processo de erosão.
Figura 2: Área de pastagem com início de processo erosivo.
Uma preocupação maior refere-se às culturas anuais produzidas, que podem
representar risco de contaminação devido ao transporte de resíduos químicos
provenientes da adubação e da aplicação de defensivos. Embora todas as áreas
ocupadas com explorações agrícolas apresentem sistema de plantio direto, e com
boa quantidade de palha sobre a superfície, que contribui significativamente para a
infiltração de água no perfil do solo, ajudando a abastecer os lençóis subterrâneos e
favorecer os processos de recarga, não deixa de ser um problema em potencial.
8. 8
A análise de sólidos sedimentáveis da água apresentou uma concentração de
0,001mg/L de sólidos em suspensão que se sedimentam, descaracterizando
evidências de erosão que prejudiquem o córrego. De acordo com a resolução n° 20
do CONAMA, este valor está dentro dos padrões para emissão de sólidos
sedimentáveis (Artigo 21), e também consta como padrão de classificação das
águas naturais, portanto, esta dentro dos limites estabelecidos pela legislação.
O córrego possui uma vazão de 665,28Litros/hora em épocas de chuvas
menos intensas. Apesar de apresentar 66,2% da área total com superfície propicia
para a infiltração, contudo, devido aos afloramentos rochosos nas áreas de recarga,
que constituem em centros de dispersão de água, definindo um comportamento
hidrológico diferenciado nas encostas, que impedem uma adequada recarga, pois a
água escoa sobre a superfície impermeável da rocha.
Segundo Coelho Netto (1992), estes afloramentos funcionam como
superfícies impermeáveis e como barreira aos fluxos nas encostas, provocando uma
concentração ao redor dos mesmos e promovendo um desvio das águas e da
distribuição da umidade.
Somados aos solos pouco profundos, ocorre um rápido escoamento da água,
drenando-a rapidamente, com escorrimento subterrâneo direto para o leito do
córrego, diminuindo a retenção e o acúmulo de água nos lençóis subterrâneos, o
que garantiria a manutenção de uma maior vazão do córrego. Com isso se conclui
que a baixa vazão do córrego é resultado de uma zona de recarga deficiente devido
aos afloramentos de rocha menos permeáveis na superfície das encostas.
A densidade de drenagem foi um fator a ser analisado, pois reflete a
influência da geologia, topografia, do solo e da vegetação da microbacia, e está
relacionado com o tempo gasto para a saída do escoamento superficial da bacia.
Esta apresentou uma baixa densidade de drenagem (1,47 Km/Km-²), segundo
a classificação de Strhaler (1957), onde até 5,0 Km/Km-² é dado como valor baixo de
densidade de drenagem. Valores baixos de densidade de drenagem estão
geralmente associados a regiões de rochas permeáveis e de regime pluviométrico
caracterizado por chuvas de baixa intensidade, afirma ainda (STRHALER, 1957).
O fator de forma pode atuar sobre os processos hidrológicos da microbacia,
ou sobre o comportamento hidrológico. Foi verificado um fator de forma de 0,55,
indicativo de que o escoamento direto não se concentra tão rapidamente quanto em
uma bacia de maior valor de F. Bacias mais longas e estreitas como a estudada
9. 9
aqui, são mais dificilmente atingidas integralmente por chuvas intensas. A forma da
bacia, bem como a forma do sistema de drenagem, pode ser influenciada por
algumas outras características da bacia, principalmente pela geologia, (HORTON,
1932).
CONCLUSÃO
A microbacia possui aproximadamente 66% de área recoberta por vegetação
permanente
As áreas de recarga apresentam afloramentos de rocha e solos rasos,
impedindo uma adequada recarga e resulta em uma rápida drenagem da água,
fazendo-a escoar rapidamente para fora da microbacia, o que dificulta a manutenção
de uma boa vazão do córrego.
Desta forma se faz necessário à conservação das zonas de recarga da
microbacia, preservando as matas de topos de morro, para melhorar a infiltração e
garantir uma adequada recarga bem como fazer o uso correto dos solos,
respeitando as suas classes de capacidade de uso.
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