P A L E S T R A Mario Sergio Cortella A Criança No Seu Mundo
1. PALESTRA
“A criança em seu mundo”
prof. Mario Sergio Cortella – Filósofo
Programa: Café Filosófico – TV Cultura – 01/05/2005 – 22:00h.
Somos a 1 ª geração que não está construindo o futuro; dizemos aos nossos
filhos: “vocês não têm futuro...”, “eu é que tive infância!...”.
Qual o nome dado na Grécia antiga que designava o escravo que conduzia
crianças? Pedagogo.
Como era a casa de 30 anos atrás? Tinha Sala, corredor e quartos:
Na sala tinha: TV, sofá, vitrola, ...
No quarto: cama, guarda-roupa, ...
Ao chegar, passávamos pela sala, trocávamos de roupa e voltávamos para a
sala. A convivência acontecia na sala.
A casa de hoje: Sala, e ao invés de quartos, tocas.
Na sala: ninguém mais vai, só quando tem visita. E a sala está sempre
arrumada, parece que está sempre esperando alguém.
Na toca (quarto): TV, DVD, computador, cama, ...
Hoje todos chegam e vão direto para a toca e ficam. Até a refeição pode ser
feita na toca, no horário que quiser.
Sabe qual o local de encontro de crianças e adultos? O Shopping; aliás
somente no caminho, pois quando chegam lá, cada um vai para um lado e só
se encontram novamente no estacionamento.
Hoje, é muito claro na cabeça das crianças o conceito de FAST: a nova
qualidade de vida. Ganhar tempo? Para que?
Nem em velório paramos mais! Antes, largávamos o que estávamos fazendo,
viajávamos distâncias para ir ao velório de um amigo, hoje, somente nos
lembramos rapidamente: “se der dou uma passada lá...”.
Já existe até velório “drive thru”, cinco na Califórnia. No Brasil, já inventaram o
velório com “web cam”.
As crianças não estão sendo preparadas para a perda, não são apresentadas à
morte. Pensamos que estamos as protegendo da vida real. Somente vêem no
vídeo game, onde podem reiniciar e fazer voltar à vida... isso não é a verdade.
Mas elas crescem não sabendo como é perder algo importante. Não dão o
devido valor às coisas.
2. Sabe porque que a aula de hoje tem 50 minutos de duração?
Porque foi feito um estudo na década de 20 e constatado que é o tempo
máximo de duração da concentração de uma criança; veja, na década de 20!
Fizeram este mesmo estudo hoje, e sabe qual é o tempo máximo de
concentração de uma criança de hoje? Seis minutos!
Vivemos a era da IMPACIÊNCIA
Vivemos dominados pelo controle remoto. No cotidiano, vivemos ensinando as
crianças a não querer demorar nada.
As crianças não gostam da escola?
Gostam sim, elas adoram vir para a escola. Elas não gostam é das nossas
aulas! Se puderem elas até fogem! Mesmo que seja mentalmente!
Existem lugares que têm portas para as pessoas não entrarem: teatro, cinema.
Existem lugares que têm portas para as pessoas não saírem: escolas,
presídios.
Um estudo feito com crianças de 02 a 07 anos, constatou que já assistiram a
cerca de 5000 horas de TV na vida. Em cinco anos de vida, já viu cerca de
5000 horas de TV, ou seja, já viu cenas que aterrorizam, mortes, sexo, lutas,
guerras, jogo do Corinthians, ou seja, todo tipo de porcaria...
Mas elas adoram vir para a escola. Antes de bater o sinal, os pátios estão
lotados delas conversando animadas, reunidas. No final, ninguém quer ir
embora, se pudessem ficavam todas na frente, conversando, felizes...
O problema é que forçamos um jovem que hoje somente se concentra por
cerca de 06 minutos a sair de casa cedo, deixar o seu sofá macio para sentar-
se em uma cadeira de pau; ver um adulto escrevendo com uma pedra em outro
pedaço de pedra; ouvir que o berílio faz parte da família dos alcalino-terrosos, o
que é um predicativo do objeto; quais são os nomes dos rios da margem
esquerda do rio Amazonas, qual é a trajetória de uma bala de canhão, e
obrigamos a ler Amor de Perdição de Camilo Castello Branco; ou seja,
informações extremamente importantes para a vida nos dias de hoje!
Uma casa a 35 anos atrás:
Sala:
Mesa com cadeiras: as pessoas jantavam juntas, conversavam, brigavam,
conviviam.
Uma cristaleira: onde a mãe guardava os presentes de casamento para usar
em um dia especial que nunca chegou, e que depois foram dados aos netos,
bisnetos, ...
Famílias católicas tinham um “altarzinho” com Nossa Senhora...
As poltronas, pasmem: eram umas de frente para as outras, os seres humanos
gostavam de se olhar. Outro humano era sempre bem vindo. Quando vinha um
vizinho, todos se reuniam para ouvir as novidades.
3. Um dia, o pai encosta a caminhonete e descarrega uma caixa grande com 04
pés de madeira, com o nome de Televisão. Uma máquina de válvulas, que
precisava esquentar para ver alguma coisa...
Imediatamente a televisão, vai para o lugar do altarzinho que antes era da
santa. As poltronas passam a ser viradas todas para a TV. Ninguém mais se
olha. Vizinhos já não são bem vindos, pois a conversa atrapalha para escutar o
programa... as pessoas não gostam mais de se ver. Até pronunciam
constantemente a frase: “vocês nunca mais vão me ver!!!”
Houve uma época na história da humanidade em que os filhos corriam para
abraçar os pais quando estes chegavam. Hoje, a relação entre pais e filhos já
está quase sendo regida pelo Código do Consumidor.
Professores: não dêem tarefa para os jovens para o final de semana. Quem de
nós gosta de levar serviço para casa? Sabe quando o jovem vai fazer a tarefa?
No domingo à noite, quando já está cansado e com sono. E depois nós
queremos que ele goste de estudar.
Vivemos na era do CONFORMISMO. Quando jogo água dentro de um copo, a
água se conforma com o vidro, fica aprisionada dentro dele. Essa é a razão da
palavra conformar. Ter a forma de, ficar aprisionado dentro de.
A INFÂNCIA:
A palavra infante vem daquele que é incapaz de falar.
As crianças crescem vendo TV e apresentadas nas manhãs, quase sempre
loiras. Quando chegam à escola, têm um choque ao ver que sua professora ou
professor não é loiro!
Podemos estar sendo os únicos adultos que temos contato físico com as
crianças nos dias de hoje.
Uma mentira, repetida por cerca de 10 vezes passa se tornar verdade:
“Melhoral é melhor e não faz mal”. “A poupança desse banco é melhor que o
outro”; “estamos na cidade maravilhosa, mas a vida é muito difícil, aqui falta
emprego...”
Devemos ser o grande periscópio sobre o mal da sociedade.
O mundo está sendo está muito cruel para as mulheres em que elas têm que
ser sempre jovens e bonitas...
Quais são os pontos de contato que estamos tendo com as crianças desse
mundo?