Introdução
“O esforço para entender as causas e os
prováveis desenvolvimentos das novas
relações sociais [industrialização,
urbanização, modificações nas estruturas
tradicionais como a família, etc.] motivou a
reflexão que veio a cristalizar-se na
Sociologia.” (Quintaneiro et al., 2002, p. 12)
Antecedentes
- Força do argumento racional e das ideias iluministas,
conformando um ideal de liberdade que caracteriza a
modernidade
- Crença no progresso advindo da razão: busca de
compreender e controlar os processos naturais e
sociais
- Filosofias sociais e humanistas (Montesquieu e
Rousseau) atentas à busca de “leis sociais” e
entendimento da “evolução” social e seus “desajustes”
- Conflito entre pensadores conservadores e
progressistas (Burke/Saint Simon): temáticas da coesão
e solidariedade
Preocupações
- Busca de ciência social “positiva” capaz de revelar a
organizar social e permitir uma organização social racional da
sociedade
- Comte (1798-1857): propõe uma “sociologia”, alicerçada na
preocupação em entender a crise social e agir sobre ela:
busca da “ordem” poderia controlar o “progresso” da
sociedade; rejeição da metafísica e crença no poder da
observação dos fatos
- Métodos (e o sucesso) das ciências físicas e naturais
influenciam o empreendimento sociológico nascente:
evolucionismo, funcionalismo (analogias entre sociedade e
organismo vivo)
Preocupações e síntese
- Busca do elemento caracterizador do SOCIAL e não
do individual (sociologia =/= psicologia), da
compreensão do que acontece na sociedade atual
(sociologia =/= história); indivíduos interessam
somente na medida em que estabelecem relações
de dependência que tecem um todo maior, fruto
dessas interações no espaço “social”
-Durkheim, Marx e Weber terminam por completar
o esforço de constitui de um campo científico
próprio para a sociedade
Síntese
- “A Sociologia era, e continua a
ser, um debate entre concepções
que procuram dar resposta às
questões cruciais de cada época”
(Quintaneiro et al., 2002, p. 22)
Indagação
Se a Sociologia é uma procura de
respostas para o tempo social, o
que caracteriza e justifica a
perspectiva de Durkheim e do
Positivismo?
A Sociologia Positivista
- O sociólogo Émile Durkheim (1858-1917) pode ser considerado
o principal artífice dessa corrente, que também é chamada
"sociologia funcionalista";
- Na verdade, Durkheim - que foi um continuador crítico de
Comte - teve um papel fundamental na elaboração de um ideal
científico para a Sociologia por:
•Estabelecer a disciplina como diferenciada das filosofias sociais e defini-la
como um "estudo metódico" da realidade social, com o uso da observação e
experimentação (comparação);
•Definir um objeto para o Sociologia: o fato social;
•Elaborar uma metodologia para a disciplina (As regras do método sociológico
- 1895);
•Propor uma série de conceitos, utilizados ainda hoje, para a análise da vida
social, aplicando-os em exemplares pesquisa empíricas (como O Suicídio - 1897
e As formas elementares da vida religiosa - 1912).
O fato social
- Tais fenômenos foram definidos por Durkheim como "toda
maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o
indivíduo uma coerção exterior; ou [...] que é gera na extensão
de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria,
independente das manifestações individuais que possa ter", "as
maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo,
dotados de um poder de coerção em virtude do qual se lhe
impõem";
- Em síntese, os fatos sociais têm existência própria, são
independentes das consciências individuais (diferentemente da
esfera psicológica), sendo exteriores ao indivíduo, coercitivos
em relação a ele, e cobrem toda sociedade;
O fato social
- É fundamental na ideia de "fato social" a
proposição de que a sociedade, mais do que a
soma dos indivíduos, é um fenômeno sui generis,
existindo consciência e representações coletivas,
diferenciadas das individuais;
- A Sociologia deveria, segundo Durkheim, buscar
as leis que regem cada fato social.
A metodologia de Durkheim
- Durkheim preocupou-se em como superar o senso comum, a
fim de construir raciocínios científicos, no estudo da vida social, e
aproximou-se, para tanto, dos métodos adotados nas ciências
naturais;
- Disso decorre a ideia de entender os fatos sociais como coisas,
de modo a procurar investigar relações de causa e efeito e
regularidade de modo a vislumbrar leis (e estratégias de ação);
- Entender o fato social como coisa implica: afastar prenoções;
definir os fenômenos a partir de seus caracteres exteriores que
lhe são comuns, considerando-os independentes de suas
manifestações individuais e tratá-los da maneira mais objetiva
possível.
A metodologia de Durkheim
- A análise do fato social como coisa deve revelar a
causa que produz os fenômenos e revelar a função
que ela desempenha. A causa, que é eminentemente
social, deve ser encontrada através da função que o
fato mantém com algum fim social;
- Este é o princípio da causação funcional, ou seja,
os fenômenos sociais possuem uma causa que pode
ser explicada em termos de suas funções sociais,
nem sempre claras.
Conceitos fundamentais elaborados
por Durkheim
- Solidariedade (laços que unem os indivíduos entre si) como
fundamento da sociedade,
- A divisão do trabalho produz dois diferentes tipos de
solidariedade: mecânica (sociedade primitiva, baixa
diferenciação entre os indivíduos), orgânica (alta
diferenciação e interdependência entre os indivíduos,
ocorre na sociedade complexa);
- Consciência coletiva: são as crenças e sentimentos comuns
ao membros de uma sociedade, sendo um sistema
autônomo que persiste (embora possa modificar-se) no
tempo, unindo as gerações. Envolve dimensões morais e da
mentalidade.
Conceitos fundamentais
- Moral ("um sistema de normas de conduta que
prescrevem como o sujeito deve conduzir-se em
determinadas circunstâncias") é vista como fonte e
fim da sociedade. A moral é derivada da sociedade,
assim como a religião e a ciência, tendo fins
similares de coesão e organização social.
- E o conceito de anomia (desregramento ou
dissolução social) é entendido como derivado de
uma crise na moralidade da época.
Uma obra clássica: O Suicídio (1895)
- Suicídio como fato social, não psicológico;
- Estudo, por meio de análise estatística (suicídio como coisa),
que busca compreender relações entre variáveis (grupos
religiosos, sexo, profissões etc.) e extrair disso uma explicação
social do fenômeno;
- Refuta tese patológica (por meio da análise estatística) e
elabora uma tipologia de três tipos de suicidas:
•Egoísta - em função da melancolia, depressão, desamparo social;
•Altruísta - forma de cumprir um dever social (religião, moral, militar...);
•Anômico - relacionado com a situação de desregramento social, ou seja, a
anomia (o rompimento do equilíbrio moral) que caracterizaria a sociedade
moderna
Referências
QUINTANEIRO, Tania. Émile Durkheim. In: ___ et al. Um toque de clássicos,
Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2002, pp. 67-105.
RODRIGUES, José Albertino. A Sociologia em Émile Durkheim. In: ___ (org.).
Durkheim (coleção Grandes Cientistas Sociais), São Paulo, Ática, 1980.
O Suicídio (vídeo de humor): https://www.youtube.com/watch?
v=SinGkRqFwe0