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NÓS E O CULTO
- Um Estudo da Liturgia
Cristã Autores:
Nilo Belotto
Duncan Alexander Reily
Ely Éser Barreto César

1997
SUMÁRIO
CAPÍTULO I
PRINCÍPIOS BÍBLICOS, HISTÓRICOS E
TEOLÓGICOS DO CULTO
I. NO ANTIGO TESTAMENTO
A. Culto Hebreu - Êxodo - Aliança - Influências
dos povos vizinhos
B. O Culto Hebreu Reinterpreta o Culto Pagão
Locais de culto
As Festas
Sacrifícios
2
C. Desvios do Culto e o Profetismo Purificador
D. Avaliação Teológica dos Princípios Históricos do Culto
II. NO NOVO TESTAMENTO
A. A Nova Aliança e o Culto
B. Dimensões Cristológicas do Culto
C. Culto e Influências Culturais
D. O Culto e o Espírito Santo
E. Culto e Missão
CAPÍTULO II
INFLUÊNCIAS CULTURAIS NO CULTO CRISTÃO DO
BRASIL
CAPÍTULO III
IMPLICAÇÕES DOS PRINCÍPIOS BÍBLICOS,
HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS NO Culto
CAPÍTULO IV
RENOVAÇÃO DO CULTO
A. A Reforma da Própria Liturgia
A Palavra de Deus
O Sermão
A Santa Ceia
A Oração
Confissão de Fé
Hinos e Cânticos
Testemunhos Litúrgicos da Vida Comunitária
A Estrutura do Culto e Renovação Litúrgica
Celebração dos Sacramentos
O Ano Litúrgico
Os símbolos no Culto Cristão
B. A Liturgia Como Elemento de Renovação da Igreja
ANEXO I - PASSOS NA ELABORAÇÃO DE UMA ORDEM DE
CULTO
ANEXO II - ANO LITÚRGICO
3
ANEXO III - SÍMBOLOS DO ANTIGO E NOVO
TESTAMENTOS
ANEXO IV - ARRANJOS DOS MÓVEIS NA IGREJA
BIBLIOGRAFIA

CAPÍTULO I
PRINCÍPIOS BÍBLICOS, HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DO
CULTO
I. NO ANTIGO TESTAMENTO
A. Culto Hebreu - Êxodo - Aliança - Influências dos povos vizinhos
Deus se revelou ao povo de Israel numa sucessão extraordinária de fatos históricos, entre os quais se destacam o Êxodo e a Aliança.
Para os antigos hebreus, o conhecimento de Deus
era, assim, uma conseqüência direta do que realmente aconteceu na História humana.
O episódio do Êxodo, que revela a luta do
povo hebreu para se livrar da escravidão do Egito, mostra claramente ao povo de Israel que
Deus o havia escolhido como testemunho histórico de sua revelação, sendo Ele o libertador do
povo oprimido.
4
Ao libertar o povo eleito da escravidão no
Egito e, posteriormente, estabelecendo com ele
uma Aliança, Deus demonstra que é Senhor da
História. Nada acontece por acaso. Há um plano
para a humanidade, do qual o Êxodo e a Aliança
são uma antevisão. Além de se revelar ao povo
de Israel através de sua interferência na História, Javé, o Deus de Israel, se revela, também, através da Palavra, no sinal, quando se
estabelece uma relação entre Deus e o Povo Eleito (Ex 20:2).
Juntamente com a revelação e a aliança, o
povo de Israel recebia obrigações e responsabilidades (Ex 19:5). Israel deverá cumprir a lei
recebida por Moisés, no Sinai.
Em resposta a tudo o que Deus fez pelo seu
povo, Israel adora Javé e se coloca a seu serviço, engajando-se na Missão de Deus. Israel é
uma comunidade que adora porque recebeu a revelação de Deus, e a adoração se faz, principalmente, através do culto.
A palavra culto significa a soma das formas que procuram dar expressão ao relacionamento Deus-homem, homem-Deus. Isto quer dizer, em
outras palavras, que tudo que se faz para adorar a Deus, até o pormenor mais insignificante,
faz parte do culto.
Israel adora porque sente necessidade de,
historicamente, caracterizar a libertação, a
Aliança e outros eventos reveladores.
Adora, também, porque através desse ato, o
povo encontra sua identidade e descobre que tem
uma história e, consequentemente um futuro. O
culto judeu, entretanto, não é totalmente originário de Israel. Houve grande influência de
outros povos, como sacrifícios de animais, ofe-
5
rendas de produtos da terra, determinação de
locais para o culto, etc.
Deus nos revela que é Senhor da história e
criador da natureza, mas, o entendemos mais através de seus atos poderosos na História que
por meio da natureza. Por isso, afirmamos que o
culto hebraico e cristãos estão ligados à História, não à natureza.
Outra diferença importante que notamos entre o culto pagão e o judeu-cristão: o culto
pagão se realiza para manipular a divindade,
usando-se para isto, o rito; o culto hebreu tinha por objetivo adorar aquele de quem a vida
dependia e agradecer-lhe a graça recebida.
B. O Culto Hebreu Reinterpreta o Culto Pagão
O Antigo Testamento faz muitas referências
aos cananeus e seu Deus Baal, e o culto a este
deus muito influenciou, nas formas do culto, o
culto hebreu, como por exemplo, os lugares sagrados, onde se realizavam as festividades e a
oferenda de sacrifícios. Mas a essência da fé
israelita não se baseia nas formas no culto.
Devemos assinalar que o culto pagão traz
consigo uma tendência muito perigosa para a fé
israelita, principalmente pelo fato de pretender manter uma relação com a divindade e influenciá-la. Isso se processa em dois sentidos:
conquistar a graça e aplacar a ira dos deuses.
Devemos perguntar se no processo de assimilação cultual, a fé em Javé consegue impor-se
contra tal tendência pagã.
Examinaremos, para melhor compreensão, os
principais elementos do culto israelita, como
locais sagrados, festividades e formas de sa-
6
crifícios, através das várias fases de sua História.
Locais de culto
No início de sua história, os hebreus eram
nômades, isto é, não se fixavam em um
lugar.
Como exerciam uma atividade pastoril, iam com
seus rebanhos à procura de melhores pastagens.
Nessa fase, não possuem, obviamente, um lugar
de adoração, um santuário fixo. Isto só acontece quando eles deixam de ser nômades; nesta segunda fase seus principais locais de culto são:
Siquém, Betel, Silo e Jerusalém. Todos estes
locais eram, originalmente, pagãos.
Enquanto nômades, a idéia de um Deus que
se relaciona pessoalmente com seus adoradores,
através de um pacto, não se coaduna com a idéia
de Deus limitado a um santuário. Somente quando
o povo se fixa na terra é que aparecem os primeiros templos.
Mas, nem todos aceitam cultuar a Deus em
locais determinados, pois Javé, por sua própria
essência, não é confinável a um lugar préestabelecido.Por isso, houve reação a esta tendência, principalmente através da crítica dos
Profetas.
Resumo
O culto hebreu foi influenciado pelos ritos culturais dos povos vizinhos, mas a essência da fé israelita difere muito da fé destes
povos.
Entretanto, o culto pagão oferece algum
perigo para a fé judaica porque aquele pretende
manipular a divindade, ao contrário deste. No-
7
ta-se a influência do culto pagão na determinação de lugares sagrados, no costume de se oferecer sacrifícios à divindade, e nas festas.
Os israelitas, porém, reinterpretam o culto pagão e o próprio objetivo do culto, que é o
de agradecer a Deus pelos benefícios recebidos.
As Festas
Muitas festas organizadas pelos hebreus em
homenagem à Javé, celebradas no santuário central (Jerusalém), eram festas agrárias, assimiladas dos cananeus, e devidamente reinterpretadas.
Conforme já afirmamos, a fé em Javé não
aceita todos os elementos do culto cananeu. As
grandes festas judaicas - Páscoa, Festa das Semanas e do Outono - são depuradas de qualquer
elemento mágico ou relacionado com os ritos de
fertilidade.
Israel celebra as grandes festas no santuário para onde a comunidade se dirige e relaciona-as a Javé, como o doador da Terra e de
seus frutos e, por este motivo, Ele deve receber louvor e gratidão.
Sacrifícios
O costume de oferecer sacrifícios à divindade é comum a muitas nações vizinhas de Israel. Naturalmente, cada povo praticava este costume à sua própria maneira, sendo difícil descobrir a origem de todos eles.
Ao oferecer um sacrifício, o doador manifesta sua adoração e seu agradecimento a Deus.
Ambos participam da dádiva: um como doador, o
outro, como receptor, estabelecendo, assim, uma
comunicação entre as duas partes.
8
Para os pagãos a dádiva significava que a
divindade era alimentada pelo homem. O Antigo
testamento não aceita essa concepção, pois, Javé não necessita de alimentação. A comunhão com
ele é pessoal, não mágica. Por isso, o objetivo
das dádivas em Israel é de gratidão, adoração
e, também, expiatório.
Em conseqüência do exílio, aumenta o sentimento do pecado e generaliza-se o hábito de
oferecer sacrifícios expiatórios. Com isso, os
hebreus pretendem pagar esta dívida, possibilitando a reconciliação com a divindade ultrajada
pelos pecados.
Nos sacrifícios comunitários diários, que
deviam acalmar a ira de Javé pelos pecados do
povo, os holocaustos desempenhavam o principal
papel. Há textos, porém, que afirmam ser o perdão concedido independentemente de qualquer sacrifício.
Nas relações pessoais entre Deus e o homem
a consciência do perdão não está vinculada aos
sacrifícios, embora sacrifício e expiação, sob
o aspecto teológico pós-exílico, deveriam ir de
mãos dadas.
Mas as formas culturais até então usadas
pelos israelitas, sugeridas pelas observações
das práticas religiosas dos povos vizinhos, tiveram importância histórica, porque foi através
delas que Israel pôde celebrar a aliança única
estabelecida com Javé.
Resumo
As festas israelitas eram baseadas nas
festividades de cunho agrícola dos cananeus,
mas foram modificadas e reinterpretadas para
melhor atender à fé do povo hebreu.
9
Também os sacrifícios que, para os pagãos
visavam a alimentar os deuses, para os hebreus
eram dádivas de gratidão, adoração e expiação.
Inicialmente, os sacrifícios eram particulares, mas, com as construção dos templos, tornaram-se comunitários e aparecem, por isso, os
primeiros sacerdotes.
C. Desvios do Culto e o Profetismo Purificador
O culto autêntico, sendo uma forma de relacionamento entre Deus e o homem, tem o sentido de recapitulação dos eventos salvíficos do
passado, de adoração, gratidão, expiação e comunhão, o que significa obediência às exigências do pacto, como foi visto anteriormente.
Entretanto, o culto corre o perigo de ser
deturpado, e isso realmente aconteceu, dando
origem à polêmica profética contra a deturpação
ocorrida.
Podemos citar numerosos textos bíblicos
que comprovam tal polêmica: Am 5:21ss.; Os 6:6;
Is 1:10-17.
Além de atacar o culto, IsaÍas ataca também, as orações (Is 1:15) e juntamente com Amós demonstra, claramente, um espírito de crítica social, quando observa o requinte e a profusão das oferendas, acessível, apenas, aos abastados.
Examinando os textos bíblicos citados,
percebemos que, através dos Profetas, Javé rejeita violentamente os sacrifícios e holocaustos e qualquer outro tipo de culto que não se
expresse em uma vida diária de retidão e justiça. Os profetas colocam, portanto, o culto israelita como era praticado em sua época, no
10
mesmo nível da idolatria dos pagãos, com suas
monstruosidades cultuais e aberrações sexuais.
A maneira adequada de cultuar Deus é pura
e simplesmente a obediência à sua vontade, e a
vontade de Deus exige a fidelidade a Javé, conhecimento de Deus, relacionamento humano integro e direito para todos, especialmente para
com os desamparados.
Os profetas não apontam, diretamente, falhas ou erros nas práticas cultuais, mas mostram como os homens devem agir, de acordo com o
que vemos nos textos bíblicos.
Observando a vida da sociedade que os cerca, principalmente a opressão econômica e jurídica dos mais necessitados, como órfãos e viúvas, os Profetas chegam à conclusão de que as
exigências fundamentais do Deus do pacto estão
sendo desprezadas. Os profetas constatam, então, uma discrepância evidente entre esta situação - opressão social, infidelidade e desobediência à Javé - e o afã verificado no âmbito
cultual, onde se multiplicam cerimônias, sacrifícios e ofertas, cada vez mais sofisticados.
Reconhecendo tal fato, os Profetas voltam
sua polêmica, impiedosa, sarcástica e acirrada,
contra o culto de sua época e o desmarcaram. Os
profetas afirmam que, onde não há relacionamento íntegro, não pode haver culto autêntico.
Mostram que o culto, em vez de proporcionar o
contato com Deus, tornou-se uma arma contra Javé e a favor da segurança do homem.
O homem abriga-se no culto contra a vontade de Javé. Utiliza o culto como instrumento de
chantagem, de suborno, que pretende comprar a
garantia da condescendência divina. Este é o
perigo que o culto autêntico traz consigo, do
qual falamos no início deste capítulo.
11
Resumo
Com o passar do tempo, o objetivo do culto
passou a ser deturpado em Israel. de ação de
graças que era, passou a ser semelhante ao culto pagão, porque pretendia manipular Deus ou
fazê-lo cúmplice dos pecados dos homens. O sacrifício torna-se mais requintado, à medida que
o homem se distancia de Deus pelo pecado.
Os profetas tiveram consciência deste fato
e passam a proclamar que o verdadeiro culto a
Deus pressupõe a justiça social, o conhecimento
e obediência a Deus, e mostram que o homem está
usando o culto como instrumento de chantagem
contra Javé, pretendendo comprar a condescendência divina.
D. Avaliação Teológica dos Princípios Históricos do Culto
Qualquer forma de culto traz em seu bojo a
possibilidade de tornar-se um instrumento de
manipulação de Deus - contra Deus. Por isso,
todo culto precisa ser constantemente questionado.
Pode-se questionar se existe ou não correspondência entre o culto e a obediência concreta e cotidiana à vontade de Deus, no que diz
respeito à responsabilidade para com o próximo,
a comunidade e o engajamento geral na missão de
Deus.
Mas não nos iludamos: só aprenderá a questionar assim aquele que souber entregar-se total e irrestritamente a Deus e desprender-se,
da mesma maneira, dos homens - aquele que, como
os Profetas, viver na dependência absoluta de
Deus e na independência absoluta dos homens.
12
Toda forma de culto tem a possibilidade de
se tornar contra Deus, razão pela qual deve ser
sempre questionada. Para isso, devemos seguir o
exemplo dos profetas e perguntar se o culto está se realizando conforme a vontade de Deus. Os
Profetas questionaram o culto de maneira clara,
radical, implacável e audaciosa. Pergunta-se
swe os cristãos estão seguindo o preceito de
Deus relativo à responsabilidade para com o
próximo, e se estão se colocando a serviço de
Deus.
Para questionar assim o culto, o cristão
deve entregar-se totalmente a Deus como os Profetas, e desprender-se das coisas terrenas.
II. NO NOVO TESTAMENTO
A. A Nova Aliança e o Culto
No Novo Testamento assim como no Antigo, o
culto não é uma realidade independente da revelação de Deus; não é, também, uma atividade isolada ao lado de outras, como o trabalho, o
amor, etc. O culto cristão está ligado à Nova
Aliança que Deus fez com seu povo na pessoa de
Jesus Cristo, à nova liberdade que ele cria, à
nova orientação histórica ao seu futuro.
Como os cristãos entenderam que havia uma
novidade na revelação de Deus em Cristo, eles
expressaram esta novidade desde os primeiros
dias de vida da Igreja Cristã, criando um novo
culto.
A primeira modificação diz respeito do dia
consagrado ao culto. A escolha recaiu sobre o
primeiro dia da semana, substituindo o sábado
do culto judeu. A escolha desse dia baseia-se
na recordação de um acontecimento marcante na
vida dos primeiros discípulos: as aparições de
13
Cristo ressuscitado. Por isso, o primeiro dia
da semana foi chamado de ‘‘dia do Senhor’’ (dies Domini) ou domingo.
A origem deste novo culto tem suas raízes
na fé de que o Jesus de Nazaré, pela sua ressurreição, foi feito Senhor e Cristo. O culto
surgiu para festejar a ressurreição, e é celebrado somente a partir da presença maravilhosa
e misteriosa do ressurreto, pois ‘‘onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles’’ (Mt 18:20).
As inovações introduzidas no culto cristão
dependem, diretamente, desta nova revelações de
Deus que os cristãos chamam de Nova Aliança,
que é nova porque, através dela, Deus propõe ao
homem uma libertação mais radical - a libertação da morte para a vida - pois, o homem do
primeiro século, como o homem antigo em geral,
sabia que ele é aquele que morre.
Sem verdadeiro futuro o presente do homem
não tem significado (I Co 15:32). Se Cristo nos
liberta para a vida futura e, consequentemente,
para a vida de cada dia, ensinando-nos a assumir nossa verdadeira dimensão humana, sua aliança com os homens torna-os herdeiros deste novo mundo, desta nova vida.
Por isso a Nova Aliança é celebrada como a
semente de vida que germina no meio da morte,
como a inauguração de um novo mundo e de nova
possibilidade de uma ação significativa (1 Co
15:58). Por isso o culto cristão é celebrado no
domingo, no dia em que os primeiros cristãos
receberam o novo mundo do Ressuscitado. Esse
culto foi, desde cedo, uma explosão de alegria
e um comportamento sério no novo mundo que surge. É a razão pela qual não pode ser uma cele-
14
bração individual, mas é uma festa da comunidade.

Resumo
Tanto o Antigo quando Novo Testamento tratam o culto como uma atividade ligada a todos
os aspectos da vida. O culto cristão, porém,
liga-se à Nova Aliança estabelecida entre Deus
e o homem por intermédio de Cristo. O novo povo
de Deus é representado pela Igreja.
A Nova Aliança determinou mudanças cultuais, a partir do próprio dia que passa a ser
domingo, em lugar do tradicional sábado da religião judaica.
O domingo é o dia em que Jesus Cristo ressuscitou e apareceu aos discípulos com a mensagem da libertação do homem para a vida futura.
Por isso a Nova Aliança é celebrada como a vitória da vida sobre a morte, dando origem a uma
nova comunidade.

B. Dimensões Cristológicas do Culto
Se todo o culto cristão tem seus alicerces
nesta Nova Aliança, só pode haver culto cristão
no Cristo. Portanto, só há celebração cristã
onde o Senhor está presente.
Quem decide essa presença de Cristo em cada celebração não são os cristãos. Ela é uma
decisão livre da graça de Deus. Mas, assim como
só a fé e a graça permitem ver em Jesus de Nazaré, o Cristo, a presença dele no culto não é
aparente. É uma convicção de fé para os fiéis,
que sabem que Deus também é fiel.
15
Por outro lado, a Igreja não dispõe da
presença de seu Senhor, nem pode provocá-la mediante a repetição de certos ritos. Essa presença só pode ser invocada, e é a graça do atendimento de uma súplica, não o exercício do
poder sacerdotal.
Há outro aspecto importante quando se considera o culto a partir da obra de Jesus Cristo: é o fato de cada ato do culto não ser uma
mera peça teatral e não se transformar apenas
numa piedosa recordação de um acontecimento que
se dará no futuro. Ele é uma recapitulação da
história da Salvação. Ao revivermos a história
de Cristo a cada domingo, estamos reavivando
toda a história da humanidade, e descobrindo o
verdadeiro homem e a verdadeira dimensão da humanidade.
Descobrimos que não é para a morte que fomos criados, mas para a vida e que nossa comunhão com o Cristo nos torna herdeiros de um
mundo novo, já, aqui e agora e descobrimos,
também que, em conseqüência disto, somos convidados a participar de sua missão libertadora,
em favor de todos os homens, sua cultura, suas
instituições.
O culto não é somente a atualização do
passado no presente, mas também, a antecipação
jubilosa do banquete final. Veja Mt 26:29.
O Reino de Deus está presente no culto por
obra do Espírito Santo, por isso, também, é que
o culto cristão é uma celebração de vida no
nosso presente histórico, valorizando-o, dignificando-o, reorientando-o para o futuro definitivo de Deus. Isso torna o culto num momento de
intensa alegria (At 2:46;16:34).
16
Resumo
A Nova Aliança torna-se a base do culto
cristão e, em conseqüência, só haverá culto
cristão com a presença de Cristo. Mas Cristo é
quem decide sobre sua presença no culto, a Igreja não dispõe livremente dele.
O culto autêntico não é só uma piedosa representação teatral feita para recordar os eventos. É a própria história da salvação recapitulada, e também, a atualização desse passado
e uma antecipação do Reino de Deus, que está
presente no culto por obra do Espírito Santo.
Essa participação torna o culto numa celebração
histórica do nosso presente, valorizando-o, reorientando-o para o nosso encontro com Deus.
C. Culto e Influências Culturais
Ao constatarmos que a Igreja primitiva elaborou o seu culto, a partir de uma profunda
meditação sobre a vida de Jesus Cristo e na base de seu encontro libertador com Ele, poderíamos concluir que havia apenas um tipo de celebração naquela Igreja. Isto seria, porém, uma
conclusão falsa. Sendo uma celebração de vida,
cada comunidade celebra o culto a seu modo, de
acordo com sua realidade cultural.
O Evangelho, sendo uma boa nova de vida
para cada homem, convida cada um a responder a
Cristo, em termos de elaboração doutrinal e ética, conforme o seu meio cultural próprio.
Cristo não se comunica com robôs, mas com seres
humanos que respondem na ‘‘linguagem’’ que conhecem, escolhendo as formas que lhes sejam
significativas.
Isso já acontecia na primeira igreja. Assim, o culto que celebra a vida da Nova Aliança
e nos engaja na mesma missão de vida em Cristo,
17
é um pouco ‘‘nosso culto’’, já que nós elaboramos as formas que ele deve tomar.

Criamos nossas orações, nossos cânticos,
nosso testemunho, proclamado, exatamente como
os cristãos primitivos o fizeram. Cada época,
incorpora sua cultura aos cultos. O batismo,
por exemplo, é uma prática ligada à iniciação
religiosa, em quase todas as religiões do oriente.
Os judeus, então, adotaram o rito batismal
e o adaptaram para ser aplicado aos prosélitos,
isto é, não judeus convertidos que não podiam
se circuncidar.
João, o Batista, propôs um conteúdo novo
para o seu batismo de arrependimento, preparando a vinda do Senhor. Era o batismo de água,
ligado, portanto, à idéia de ‘‘purificação’’.
O batismo cristão incorpora a mesma forma
comum na época, dando-lhe um novo significado,
ligado à idéia de aliança, implicando na recepção, por parte do batizando, do Espírito Santo.
Com o batismo, pela ação do Espírito Santo, o
homem é incorporado à vida de Jesus Cristo. O
mesmo fato aconteceu com outros elementos da fé
cristã presentes no culto, como a Santa Ceia, o
batismo, etc.
A Santa Ceia lembra as refeições sacrificiais das religiões primitivas e a Páscoa judaica, mas seu conteúdo é novo, por incorporar
o homem na Nova Aliança à última ceia de Jesus
com seus discípulos.
Assim é que, para alguns cristãos primitivos, como os coríntios, a Santa Ceia fazia parte de uma das refeições normais do dia, com a
participação de toda a comunidade, seguramente
dentro do estilo das refeições sagradas dos
templos pagãos gregos.
Veja na Bíblia, os seguintes trechos: 1 Co
11:17 e ss; 11:24-25; At 2:46.
Atualmente, as igrejas estão preferindo
‘‘purificar’’ a prática da Santa Ceia, que não
é mais celebrada como refeição sacrificial, mas
como participação na Nova Aliança.
19

Resumo
Em todas as partes do mundo e em todas as
épocas celebra-se o culto cristão.
Na essência, não há diferença entre os
cultos de um lugar ou de uma época; mas na forma, cada local e cada período histórico influem
na manifestação cultual. Cada homem responde a
Cristo de acordo com sua formação cultural.
Vários ritos cristãos sofreram e sofrerão
influências formais. Exemplificamos com o batismo e a Santa Ceia. Ambos porém, reinterpretam e dão um novo conteúdo, o qual incorpora o
homem na Nova Aliança.
D. O Culto e o Espírito Santo
O culto, para ser cristão, deve estar aberto à ação soberana do Espírito Santo, e isto
por duas razões: para que seja uma atualização
da Aliança e para que nossa resposta a Deus seja autêntica.
Sem o Espírito nosso culto não será a nossa celebração da vida. Cristo prometeu a seus
seguidores, o Espírito, para que não ficassem
órfãos ou para que pudessem vê-lo após a sua
ressurreição. É por isso que a morte e a ressurreição marcam o início de um mundo novo,
tornado possível pela ação do Espírito.
Comprove as afirmativas acima, lendo e resumindo os seguintes trechos bíblicos: Jo
14:16-18; 16: 7-13.
Todas estas afirmações revelam que, se há
culto hoje, e que Cristo está presente onde estiverem dois ou três reunidos em Seu nome, é
20
por meio do Espírito que, vivifica e transforma
nossos atos em celebração (Jo 6:23).
É o Espírito que nos convida a responder,
em nossos termos, no ato onde celebramos a vida. Ele é o Espírito Criador. Por isso, cada
culto é um pouco uma nova criação. Criar, no
culto, é crer que o Espírito é vivificante, que
age dentro de nós e da comunidade, criando nossa comunhão com a vida.
Finalmente, admitimos que o Espírito é a
dinâmica de nosso culto por ser o agente da
Missão (At. 1:8). É nele que descobrimos que
nosso culto só é culto se nos engajarmos na
missão de Deus.
E. Culto e Missão
Participar, no culto, é estar disponível
para servir aos homens, ensejando-lhes a oportunidade de descobrirem, em comunhão com Jesus
Cristo, o verdadeiro sentido de nossa comunidade.
Nosso futuro é o mesmo de Deus. Estamos
destinados à plenitude de vida, onde dominam as
realidades do amor absoluto, de verdadeira justiça e da autêntica paz.
Por isso, o culto nos leva a dizer sim à
vida e não à morte, à injustiça, ao pecado enfim. Participar da aliança da vida é, também,
engajar-se contra todas as formas de opressão,
miséria, injustiça, ódio, guerra.
Ser a favor do mundo de Deus é ser contra
tudo o que conflita com este novo mundo. O termo que os cristãos usam para definir culto é
latreúein ou leitourgein, que significava, originalmente, prestar serviço não remunerado ao
21
Estado. Foi empregado, religiosamente, para definir a relação de serviço religioso dos fiéis
a seus deuses.
No Novo Testamento, culto significa tanto
adoração ou oração, como serviço prestado a
Deus. Veja At 26:7; Rm 1:9; Hb 12:28.
Cultuar é, também, de acordo com o Novo
Testamento, comunhão com Cristo, pois o cristão
é aquele que testemunha e adora Cristo, presente nos pequeninos irmãos da parábola de Mateus
25:31-46. Cultuar não é fugir do mundo para uma
esfera sacral, mas dispor-se ao serviço de Deus
pelo mundo.
O culto, conforme diz Von Allmen em seu
livro O Culto Cristão, está para a Igreja assim
como o coração está para a circulação do sangue. O coração possui dois movimentos, o de
sístole, que consiste no bombeamento do sangue
para o coração, a fim de que, depois de revivido (ou consagrado) ali, possa fluir para o corpo (mundo) no movimento de diástole. Sem sístole não há diástole, o que sufocaria e mataria o
coração. Por conseguinte, no culto há renovação
do homem para o serviço de Deus.

Resumo
A participação do cristão no culto exige
deste uma disposição de trabalhar para Cristo
em benefício da comunidade. O próprio termo
‘‘liturgia’’ significa prestar serviço não remunerado. Cultuar é adorar e servir a Deus, além de participar da comunhão com Cristo.
Sem a participação cultual não há renovação do homem em Cristo.
22
O verdadeiro culto não se limita aos ritos
do mesmo, mas se completa e se realiza com a
atuação do cristão para que a boa nova seja levada à toda a humanidade.
CAPÍTULO II
INFLUÊNCIAS CULTURAIS NO CULTO CRISTÃO DO
BRASIL
O culto cristão tem sido influenciado, através dos tempos, por vários fatores culturais. Estes fatores podem ser econômicos, filosóficos, científicos e até mesmo políticos. Exemplificando, podemos observar as mudanças sofridas pela Santa Ceia, e inclusive a sua origem, baseada na Páscoa judaica. Houve uma época, em Corinto, que a Santa Ceia oferecia uma
refeição completa aos cristãos. Este costume
iniciou-se devido a fatores sócio-econômicos da
comunidade cristã.
Naturalmente, mesmo havendo uma mudança
nos elementos simbólicos do culto, este não muda na sua essência. Claro que deve haver um
critério na substituição dos elementos básicos.
Deve-se usar produtos do local onde se realiza
o culto, desde que guardem, uma semelhança com
os primitivamente usados. O culto é autêntico
na medida que corresponde a uma resposta cultural do homem que adora.
Com a propagação do cristianismo a todos
os lugares da Terra, os ritos cultuais cristãos
foram modificados pela cultura de cada povo e
de cada época. O culto, sendo um ato onde o homem adora Deus, certamente é influenciado pelas
condições humanas, que variam conforme a situação sócio-econômico-política da comunidade.
23
Antes do século 19, o Brasil havia sido
território proibido aos Protestantes. Houve, é
claro, uma colônia francesa no Rio de Janeiro
no século 16, e uma holandesa no Nordeste no
século 17; porém, ambas eram consideradas invasões e foram afastadas à força de armas. No entanto, após a transferência da corte portuguesa
para o Rio de Janeiro em 1808, e uma série de
tratados com a Inglaterra (1810), o Brasil começou a permitir o culto anglicano particular,
concessão esta que foi logo estendida, também,
a outros imigrantes, notadamente os alemães.
Foram estes últimos que, em 1823, organizaram a
primeira igreja Protestante no Brasil, em Nova
Friburgo. Depois os Anglicanos também inauguraram o seu primeiro templo no Rio de Janeiro,
em 1845. Em ambos os casos o trabalho era feito
na língua dos imigrantes e visando a atender
somente os imigrantes, sem nenhuma tendência
proselitista.
Esses imigrantes eram leigos e não possuíam uma base litúrgica. Traziam apenas a Bíblia.
Convém lembrar também, que a essa época,
tanto na Europa quanto na América do Norte, as
práticas litúrgicas estavam num nível extremamente baixo. As práticas e conceitos litúrgicos
dos Reformadores tinham passado por grandes mudanças, em virtude das guerras religiosas na
Europa, e pelas limitações e desafios da tarefa
de evangelizar a rude fronteira da América do
Norte.
Além disso, o movimento para
renovação
litúrgica estava apenas começando. Basta lembrar que a Igreja Metodista da América do Norte
ficou cerca de 150 anos sem possuir um livro
autorizado para seus cultos. Em conseqüência
desses fatores, não é de se estranhar que os
24
primeiros protestantes que vieram para cá não
trouxessem uma base litúrgica.
Estes fatos, aliados à falta de ministros
ordenados, deram origem a um culto doméstico,
despojado, simples, desprovido de elementos estéticos, limitando-se à leitura bíblica, orações, cântico de hinos e uma exortação. Tudo
isso era realizado sem qualquer orientação litúrgica.
Quando começaram a chegar os primeiros
missionários, no século passado, somente os episcopais tinham um ‘‘Livro de Oração Comum’’.
A maioria não trouxe nenhum livro de culto, que
não usavam no seu país de origem.
Este livro foi traduzido para a língua
portuguesa para ser usado no Brasil. Os primeiros luteranos chegados da Europa trouxeram a
ordem do culto usada na sua região da Alemanha,
a qual foi adaptada às exigências da situação
brasileira.
Outra dificuldade encontrada pelos missionários e que refletiu sobre o culto, foi o fato
de o mesmo ser proibido de ser realizado em igrejas. Era permitido apenas realizar serviços
cultuais em residências ou locais que não lembrassem igrejas, como salões, galpões etc. Era
proibida, por lei, a construção de templos para
a liturgia protestante.
Desta maneira, o culto importado, aliado
às dificuldades legais aqui encontradas, deu
origem a um culto especificamente brasileiro.
Outros fatores, porém, contribuíram para o desenvolvimento de uma liturgias brasileira.
Entre estes fatores, podemos citar a grande extensão territorial do país, aliada às limitações de recursos humanos, isto é, o número
25
de ministros ordenados não era suficiente para
cobrir todo o país, o que fez com que o povo
brasileiro fosse convertido e tivesse a assistência religiosa de leigos, apenas.
Muitas congregações raramente recebiam a
visita de um pastor, os quais tinham a seu cuidado vastas regiões que deveriam ser vencidas a
cavalo, principal e, às vezes, único meio de
locomoção.
Devido
a
fatores
sócio-econômicopolíticos, a maioria das igrejas nasceu de uma
escola dominical, realizada em residências, dirigida por um leigo recém-convertido e, quase
sempre, semi-analfabeto, tendo apenas a Bíblia
para orientação de seus cultos.
Essa foi a igreja que milhares de crentes
conheceram durante os anos formativos de sua
vida cristã. Além disso, a simples leitura da
Bíblia resultava no nascimento de congregações
de crentes no interior, sem qualquer contato
com um pastor. A falta de ministros ordenados
tornava, também, impossível a realização dominical da Santa Ceia.
Nas primeiras décadas do século 19, as Sociedades Bíblicas Inglesa e Americana começaram
a enviar Bíblias para o Brasil, através de homens de negócios que para cá se dirigiram. Muitos distribuíam os livros ao povo brasileiro,
outros, entretanto, simplesmente abandonavamnos nos portos, onde quem quisesse poderia apanhá-los. Dessa forma, a Bíblia foi parar em diversos lares, fazendo com que muitos brasileiros se convertessem, apenas com a leitura da
mesma. Estas pessoas, depois de convertidas,
passavam a realizar cultos domésticos, objetivando novas conversões.
26
Os cultos realizados pelos novos convertidos eram muito simples, seguindo tão-somente os
ensinamentos bíblicos, único guia que os novos
protestantes conheciam.
O crescimento da igreja protestante do
Brasil foi, também, muito condicionado pelas
leis do Império, que concediam aos protestantes
estrangeiros o direito de, apenas realizar seus
cultos em locais que não se assemelhassem a
templos. A mesma lei não permitia que se fizesse proselitismo entre os brasileiros.
Foi somente a partir de 1859 que o primeiro missionário que aqui aportou, Dr. Kalley,
obteve permissão, após uma luta jurídica, para
promover cultos domésticos dos quais os brasileiros pudessem participar.
Frente às dificuldades legais encontradas,
os primeiros missionários tiveram que preparar
famílias de crentes, para dirigir cultos domésticos nas suas casas com o intuito de evangelizar. Tudo isso deixou marcas na vida litúrgica
e nos cultos realizados no Brasil, que têm sido
influenciados, também, por forças raciais e étnicas.
As influências africana e indígena nos
cultos brasileiros não podem ser desprezadas
porque vêm ao encontro das ânsias profundas do
coração brasileiro.
Não devemos deixar de lembrar que, em
qualquer cultura, a vida social e religiosa é
sempre influenciada pela forma do governo.
No Brasil, desde os tempos coloniais, o
padrão de vida tem sido fortemente influenciado
pelo ‘‘homem forte’’ ou ‘‘manda-chuva” da região e, em reação, criou-se a capacidade de “ dar
27
um jeito’’ e fugir às conseqüências diretas da
lei, sem entrar em oposição com ela.
É difícil para a vida litúrgica escapar a
esta herança. Neste país, com sua complexidade,
sua vasta extensão geográfica, seu mosaico de
culturas e grande amor à liberdade, existe a
possibilidade de criar uma pluralidade de liturgias para servir às subculturas da nação.
Um aspecto básico que deve ser considerado
por aquele que proporá o culto brasileiro, nesta diversidade, é precisamente a sua realidade
sócio-cultural. O culto no Nordeste deve ser
nordestino e, no Rio de Janeiro, deve ser carioca, assim como o paranaense deve conter elementos da cultura de seu Estado, e assim por
diante.
Em outras palavras, a contribuição da cultura nacional e regional sobre este ato de resposta deve ter a marca da autenticidade, deve
ser um pouco, uma expressão de arte. Devemos
criar nossa mímica, nosso estilo de orar, nossos hinos, enfim, devemos sempre cultuar a Deus
à nossa maneira. Só assim o culto será realmente autêntico.
Finalizando, devemos enfatizar o fato de
que todas essas dificuldades encontradas pelo
protestantismo no Brasil, não contrariou o desejo de se fazer um culto simples, sem pompas,
diferente do culto católico, para justificar
sua própria existência no país.
Todos esses fatores devem ser conhecidos e
considerados pelas pessoas que querem dar uma
contribuição à vida litúrgica do povo evangélico do Brasil.
28

CAPÍTULO III
IMPLICAÇÕES DOS PRINCÍPIOS
BÍBLICOS, HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS NO CULTO
Vimos no Capítulo I deste volume, alguns
princípios bíblicos, históricos e teológicos do
culto cristão.
Veremos agora algumas implicações desses
princípios, na prática do culto cristão.
Deus se revelou ao povo de Israel numa sucessão extraordinária de fatos históricos e na
encarnação de Jesus Cristo, que testemunhou
nosso amor a Deus porque Deus nos amou primeiro.
29
Estudamos também, a ação do Espírito Santo
que cria o verdadeiro culto e também, o atualiza, hoje, aqui, agora.
Enfatizamos a natureza essencialmente comunitária, corporativa, do culto, ou seja, não
é o indivíduo que adora, mas toda a Igreja.
Terminando, falamos que o culto tem uma
dimensão missionária, ele não é um fim em si
mesmo, mas algo que prepara o povo para o testemunho no mundo.
O culto cristão é uma resposta humana à
revelação divina. A Bíblia toda testifica que a
obra da salvação é de iniciativa divina. Deusa
toma a iniciativa e o povo responde. Com essa
resposta estabelece-se o diálogo no culto. Este
princípios afeta o culto no seu conteúdo.
A parte mais importante do culto cristão é
Deus, que se revela soberano, criador e Santo.
Deus é sujeito e objeto do Culto. Ele cria e
busca o povo que o adora. Em conseqüência deve
haver uma objetividade no culto.
O culto é uma resposta à revelação de
Deus.Se Deus é o sujeito e objeto do culto, o
conteúdo das orações, hinos e pregação deve ser
orientado para Deus e não para o homem, já que
este não é o objeto do Culto. No culto, deve-se
enfatizar que Deus é Senhor da História. Ele
toma uma iniciativa e nós respondemos a ela.
Outra decorrência do princípio teológico
da iniciativa divina é relativa ao lugar onde é
realizado o culto, isto é, a igreja ou templo.
A própria arquitetura dos locais de culto deve
ser orientada para a glória de Deus e não a do
homem.
A disposição dos móveis internos deve
refletir a ação de Deus na salvação do seu povo. É por isso que a mesa da comunhão deve fi-
30
car no centro. À direita da mesa coloca-se o
púlpito, onde é interpretada a palavra da revelação, e à sua esquerda deve ficar o lectório
ou atril, onde se lê a palavra de Deus.
Quando estes princípios não são observados, os templos não refletem o fato de Deus ser
sujeito e objeto do Culto. A igreja deve ser um
lugar adequado para a glória, a oração e o testemunho da ação de Deus na História e na vida
de um povo.
Outra implicação dos princípios bíblicos e
teológicos envolve o diálogo que deve haver no
Culto: este deve ser um diálogo entre Deus, que
toma a iniciativa, e o homem, que responde. Se
isto não acontece dá-se o monólogo, que às vezes de estabelece, por falta de respeito aos
princípios bíblicos.
O homem não pode se tornar o centro do
culto e, simplesmente, falar de suas necessidades, suas angústias, e não ouvir Deus. Neste
caso o culto é subjetivo.
Mas pode acontecer o contrário: o homem
não é levado em conta, não há respeito à liberdade humana; é o culto objetivo.
O culto é composto de partes intimamente
ligadas, obedecendo a uma harmonia de forma. A
Bíblia oferece certos padrões de liturgia dos
quais derivam a forma do culto praticado hoje.
Podemos exemplificar com o capítulo 6 do
livro de Isaías, quando o jovem foi ao templo,
provavelmente para lamentar a morte de seu amigo, o rei Usias; havia, sem dúvida, um espírito
preparado e receptivo para o culto e Isaías teve uma visão maravilhosa de Deus (Is 6:1).
Esta é a primeira experiência do culto - o
encontro com Deus. Ali se sente a presença de
31
Deus, e os anjos cantam a grandiosidade de um
Deus justo e santo. A partir deste momento Isaías passa a reconhecer sua indignidade e fraqueza e faz uma confissão de pecados, conforme
o versículo 5.
Esse ato de confissão significa a resposta
de Isaías à glória, à majestade, à santidade de
Deus. O diálogo se estabelece entre Deus que se
revela, e o homem Isaías que sente, face a
grandeza da revelação, os seus pecados, e confessa-os.
Após a confissão de Isaías, um anjo tirou
do altar uma brasa viva, tocou com ela a boca
do profeta, dizendo: ‘‘a tua iniquidade foi tirada e purificado o teu pecado’’ (vers. 7). Assim, a confissão dos pecados e a declaração do
perdão constituem a segunda e terceira parte do
culto.
Após o perdão de Isaías, existe uma explosão de alegria, onde acontece a manifestação de
louvor, de ação de graças, que é a quarta parte
do culto.
A seguir vemos, novamente, Deus, que se
manifesta através de uma comissão, de uma revelação de vontade, a Isaías dizendo que ele deveria ir ao povo e proclamar a sua palavra como
profeta. Este mandamento é imediatamente atendido por Isaías que responde: ‘‘Eis-me aqui Senhor e envia-me” . Aqui estão a quinta e sexta
parte do culto, que é a iluminação ou explicação da palavra e a dedicação, a resposta, a
consagração ao discipulado, à vontade de Deus.
Outro princípio que terá conseqüências importantes na estrutura do culto é aquele que
coloca Cristo como o ápice, o ponto mais importante na história da salvação, da revelação e
32
do pacto que Deus fez com a Igreja e o novo Israel.
Se todo o culto cristão tem seus alicerces
nesta nova aliança de vida estabelecida por
meio da vida, morte e ressurreição de Jesus
Cristo, só pode haver culto cristão no Cristo,
isto é, só há culto cristão ali onde Cristo está presente, mais do que isto, a forma, a estrutura do culto é dada pela própria vida de
Jesus Cristo.
O Culto, no dizer de Von Allmen, é ‘‘a recapitulação da história da salvação’’, aonde a
vida de Cristo aparece novamente, os seus ensinos, a sua pregação e especialmente a sua morte
e ressurreição.
Vários autores modernos vêem, na maneira
como os evangelistas organizaram seus evangelhos, reflexões dos primeiros cultos cristãos.
Assim, o culto teria, pelo menos, duas partes
distintas:
•

•

a primeira se inspira no ministério de
Jesus na Galiléia, ou ministério galileano de Jesus;
a segunda parte baseia-se na estruturação do culto, é aquela que se chama de o
culto dos fiéis, correspondendo ao ministério de Jesus em Jerusalém. Esta
parte se concentra sobre a morte e ressurreição de Jesus Cristo, sua bênção e
o envio de seus discípulos ao mundo para
o testemunho de sua missão. Nesta parte
do culto apareceriam o ofertório, a oração de consagração e a Santa Ceia.

Assim, se a base do culto cristão é a própria vida, morte, ressurreição e ensino de
Cristo, é, portanto, o exame de sua vida e sua
33
obra que nos indicará a forma que deve tomar
nosso culto hoje. Isto nos leva a concluir que
um culto é verdadeiro se demonstrar os dois momentos da Nova Aliança: presença da palavra e
celebração da Santa Ceia. A forma do culto está
dada em Cristo e não é, portanto, objeto de
nossa criação.
Outro princípio que tem suas implicações
na estrutura do culto é aquele que diz ser a
verdadeira oração aquela que nasce da atividade
do Espírito Santo. O culto só é culto cristão
se estiver aberto à ação soberana do Espírito
Santo.
O Apóstolo Paulo diz em 2 Co 3:17: ‘‘Ora,
o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito
do Senhor, aí há liberdade’’.
A nova vida em Cristo corresponde a nova
vida em liberdade, não só para os indivíduos
mas, também, para a congregação, a Igreja.
O Pentecostes testemunha o nascimento do
poder, da liberdade. Podemos dizer que a ação
do Espírito dinamiza o culto, mas também, oferece, segundo a doutrina cristã, o equilíbrio e
a sobriedade tão importantes e necessários hoje.
A verdadeira e genuína adoração exige uma
Igreja guiada pelo Espírito Santo, e também,
uma ordem no culto aliada à expressão carismática. A liberdade não deve ser confundia com
licenciosidade. A liberdade cristã está em função de Jesus Cristo. A obra cristã é a obra de
Cristo, portanto, não há completa liberdade do
homem na direção do culto cristão.
O Espírito é livre e não deve ser manipulado, mas o critério é Cristo que é atualizado
pelo Espírito Santo. Portanto, no culto, os e-
34
lementos e as estruturas devem dar suficiente
liberdade de expressão para a criatividade da
congregação e dos indivíduos.
A criatividade da ação do Espírito de Deus
na congregação local, na comunidade deve-se
permitir a ação do Espírito Santo para criar e
recriar a vida comunitária. Deve-se lembrar,
também, que a ordem, a disciplina voltada para
aquilo que fez Jesus Cristo deve ser o critério.
Outro princípio que tem implicações no
culto, hoje, é aquele que diz ser o culto cristão essencialmente comunitário. A adoração é um
ato de toda a Igreja, não do indivíduo apenas.
O homem participa como membro da comunidade.
Quando se diz que o culto cristão é essencialmente comunitário significa dizer que a Igreja
vive e está em Cristo, incorporada no Seu corpo.
A Igreja adora e obedece, por isso Jesus,
quando ensinou a oração dominical, disse: Pai
nosso, significando o Pai de toda a comunidade.
Ele não disse Pai meu. Deste princípio decorre
um culto não individualista. O ministro ou líderes leigos, não detêm o monopólio cultual.
O culto é de todo o povo de Deus que deve
ter a máxima participação no mesmo, através das
leituras responsivas e nos congregacionais, o
uso do amém e de orações comunitárias. Deve-se
usar sempre o adjetivo nosso e não meu.
Por isso, a estrutura, o local dos templos, bem como a mesa de comunhão, o púlpito, o
atril, devem ficar ao alcance da comunidade.
Tudo deve ser colocado de maneira tal que envolva o maior número de pessoas.
35
Os móveis não devem ser fixos, e deve-se
usar, de preferência, cadeiras, o que permite
uma maior mobilidade para formar círculos ou
arranjos que facilitem a participação maior de
todos nas funções do Culto.
Um outro princípio que tem implicações importantes no culto é aquele que procura ligá-lo
à Missão. Culto é uma preparação adequada da
Igreja para o serviço e o testemunho de Deus no
mundo.
Participar no culto é estar disponível para servir aos homens no mundo, ensejando-lhes a
oportunidade de descobrir, em comunhão com Jesus Cristo, o verdadeiro sentido de nossa humanidade ou da liberdade de sermos verdadeiros
homens deste mundo. Este princípio faz do culto
o momento adequado para que as ansiedades, os
problemas e as angústias daqueles que adoram
sejam trazidos à luz da palavra e da revelação
de Deusos sacramentos e na oração.
Disso decorre a importância de as orações
comunitárias estarem ligadas à vida daqueles
que adoram, e também, o valor das orações intercessórias que refletem a preocupação com o
povo de Deus e com aqueles que não pertencem à
comunidade da fé.
No culto, a Igreja deve preparar os fiéis
para intercederem por aqueles que não têm voz,
os irmãos que não têm o necessário para uma vida condigna, enfim, deve-se pedir por todos os
injustiçados e infelizes.
A intercessão pelos oprimidos não deve esgotar-se no culto. A luta deve prosseguir através do testemunho no trabalho, em casa, enfim,
nos campos mais diferentes da vida; os cristãos
devem testemunhar sempre a favor da justiça, da
liberdade e da igualdade entre os homens.
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A pregação também deve refletir os problemas e angústias dos homens da congregação que
deveriam dialogar com o pregador, antes ou depois da apresentação da palavra. Isto é possível quando o ministro, ou aquele que lidera o
culto, é sensível às necessidades de sua Igreja
e a missão que ele tem no mundo.

Resumo
O culto cristão é uma resposta do homem a
Deus, que é sujeito e objeto do culto, razão
pela qual este deve ser orientado para Deus.
Tudo no culto deve visar à adoração de Deus,
desde a arquitetura e a disposição dos móveis
no templo, até a oração mais simples.
O culto é um diálogo da comunidade com
Deus e compõe-se de partes intimamente ligadas.
No entanto a base do culto é a vida, morte,
ressurreição e ensino de Cristo, que indicam a
forma do culto. A verdadeira oração e o verdadeiro culto nascem da atividade do Espírito
Santo.
A nova vida em Cristo dá à comunidade e ao
indivíduo uma liberdade de culto sob a orientação do Espírito Santo. A Igreja tem liberdade
de criar o culto mas, sempre tomando Cristo como paradigma.
Outras implicações: o culto é sempre da
coletividade e deve sempre vir ligado à Missão.
Não há culto cristão completo desvinculado do
serviço e do testemunho.
Finalmente, devemos insistir que só é possível celebrar a vida que Deus nos dá na ale-
37
gria. O culto verdadeiro é uma eucaristia, isto
é, uma ação de graças.

CAPÍTULO IV
RENOVAÇÃO DO CULTO
A. A Reforma da Própria Liturgia
Ao considerarmos as possibilidades de uma
renovação litúrgica devemos afirmar que o culto
tem uma parte que pode ser reformada e outra
que não é passível de reformas.
O elemento sacramental do culto, os meios
de graça, aquilo que foi instituído por Jesus
Cristo, as palavras e os sacramentos, não podem
ser
mudados. Não se pode reformar a leitura
bíblica, mas as leituras que são feitas durante
o culto, isto é, o lecionário, pode ser modificado.
Veremos, a seguir, os elementos do culto e
as possibilidades que encerram para sua renovação litúrgica para a nossa igreja de hoje.
De um modo geral, os elementos cultuais se
resumem em quatro: a palavra de Deus, os sacramentos, as orações e a manifestação litúrgica
da vida comunitária.
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A Palavra de Deus
Todos os cristãos concordam que a palavra
de Deus é um elemento indispensável para o culto. Sem ela o culto não seria um encontro vivo
e eficaz entre Deus e seu povo, entre Cristo
ressurreto e sua Igreja; sem ela não se estabeleceria o diálogo entre a divindade e o homem.
Com a palavra de Deus sabemos que Cristo é entendido e revivido pela Igreja.
Não se podem alterar os sacramentos na sua
essência. Não se concebe um batismo sem água e
sem a invocação da Trindade.
Igualmente, não se podem modificar os elementos (pão e vinho) da Santa Ceia, nem eliminar as palavras de Jesus quando da instituição
da mesma. No entanto, outros elementos podem
ser modificados e reinterpretados a fim de tornar os sacramentos mais relevantes para o dia
que vivemos.
No culto a palavra se manifesta sob
diversas formas: diretamente, como na leitura das
Escrituras; a pregação; a absolvição; a saudação; a bênção. Indiretamente, temos a manifestação da palavra nos hinos, nas confissões de
fé e nas doxologias.
Porém, jamais se deve substituir, no culto, a leitura da palavra da Bíblia pela pregação dessa palavra, o que significaria clericalizar o culto e dar um golpe mortal na leitura
e na participação dos leigos e, também, pelo
fato de que a recapitulação da história da salvação exige que essa palavra seja reatualizada
através da leitura da Bíblia durante o culto.
Mas, como escolher a leitura para o culto.
É costume o pastor decidir sobre o tipo de leitura. Isso resulta muitas vezes em repetições e
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ênfases próprias de cada um. Aconselha-se, para
evitar isso, o uso do calendário cristão, o que
daria maior variedade, abrangendo toda a história da salvação.
Para que haja uma completa recapitulação
histórica no culto, são necessárias pelo menos
três leituras, na seguinte ordem: a do Antigo
Testamento, onde ouvimos sobre a criação e os
profetas; outra, das Epístolas, para que a Igreja se faça ouvir através do apóstolo e, finalizando, uma leitura dos Evangelhos, a voz do
Senhor que deve ser ouvida cada domingo. A ordem da leitura é relativa.
Uma pergunta que se faz freqüentemente quem deve proceder às leituras? A do Antigo
Testamento e a da Epístola devem ser feitas por
leigos, dando-lhes a oportunidade de participar
ativamente no culto.
As leituras devem ser feitas de frente para o povo e devem-se escolher as versões bíblicas que comuniquem melhor a palavra, e de preferência a versão que as pessoas tenham em
mãos.
É possível, também, usar antífonas e responsos, para não se restringir a uma só forma
de leitura. Para uma maior participação da congregação, pode-se pedir a leigos para que procedam à leitura de trechos bíblicos que tenham
uma mensagem especial para o leitor.
Deve-se estimular a criatividade conforme
o grupo, de crianças, jovens, adultos ou misto,
para que a leitura desperte interesse e a participação de todos, lembrando que ela atualiza
a vida de Cristo, a história da Igreja e a ação
do Espírito Santo, aqui e agora.
40
Outra forma de usar-se a palavra de Deus é
uma saudação especial no início do culto, com
aquela tradicional ‘‘Graça e Paz a Vós outros
da parte de Deus, nosso Pai e do Senhor Jesus
Cristo’’. Pode-se usar, também, um versículo
bíblico que convida o povo a participar em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Não se
deve começar um culto anunciando o programa ou
destacando uma pessoa.
A primeira palavra deve ser aquela que
brota de Deus, sujeito e objeto do culto, e
portanto a celebração de sua presença deve vir
em primeiro lugar. Para isso selecionam-se,
previamente, textos bíblicos variados, permitindo uma renovação à medida que solicitamos a
presença de Deus.
No início do culto, antes da mensagem e da
Santa Ceia deve-se rogar, numa invocação, a ação inspiradora do Espírito, para que o culto,
a pregação e a Ceia, não se tornem em atos mágicos, eficazes devido à correta manipulação do
homem, mas atos de salvação pelo poder do Deus
presente. Deve-se destacar, nesses momentos, a
iniciativa de Deus.
Outro elemento importante é a absolvição,
após a confissão. É fundamental declarar-se que
Deus liberta e perdoa a congregação. A atualização de versículos bíblicos adequados a esse
momento deve ser enfatizada para que a palavra
de Deus se torne um elemento de perdão e graça.
A bênção final também faz parte da palavra
de Deus e está incluída em todas as liturgias.
Esta bênção não é um ato mágico, mas tem o objetivo de oferecer-se, pela palavra de Deus, a
certeza de que Deus continua agindo na vida da
Igreja. Nesse momento, usa-se sempre a segunda
41
pessoa do plural, caso contrário, seria uma oração, apenas.
Se a igreja usa a bênção em forma de oração e não mostra a ousadia de abençoar de forma
declarativa e direta, mostraria pequenês de fé
e desobediência diante da obrigação de usar a
autoridade que lhe foi outorgada.
As palavras da bênção devem ser acompanhadas pelo gesto bíblico de erguer as mãos, o
mesmo usado por Cristo. (Lv 24:50ss).
A bênção apostólica é uma palavra cheia de
poder na qual, Deus em pessoa, representado por
um homem, no caso o ministro, faz descer sobre
a comunidade cristã a salvação, a prosperidade,
a alergia de viver e testemunhar a ação de
Cristo, de Deus e do Espírito Santo.

Resumo
A renovação litúrgica é possível em algumas partes e impossível em outras.A palavra de
Deus não deve ser substituída, da mesma forma
que as partes essenciais do batismo e Santa
Ceia.
Pode-se renovar o lecionário e a simbologia batismal. A Palavra de Deus é indispensável
para o culto e não pode ser substituída pela
pregação, porque ela é a recapitulação da história da salvação. A palavra no culto pode ser
levada aos fiéis em forma das leituras das Escrituras, de pregação, da absolvição, da saudação e da benção.
O Sermão
42
A pregação é a palavra de Deus interpretada para a congregação, porém é uma verdade da
personalidade; ela é um testemunho pessoal acerca do Deus que se revela. Esta palavra, porém, não é auto-suficiente. São necessários os
sacramentos para deixar claro que o sermão não
é uma forma intelectual ou testemunho pessoal
do pregador, mas está ligado ao evento representado nos sacramentos.
A pregação é um ato indispensável na estrutura do culto mas não é o seu ponto culminante, como pretendem alguns. Não se deve ir ao
culto apenas para ouvir o pregador ou para
prestigiá-lo, como se o culto estivesse restrito à Palavra do homem.
Deve haver um equilíbrio entre a palavra
pregada e os sacramentos, pois o culto cristão
hoje, não deve deixar que a palavra do homem
seja fundamental, mesmo evidenciado a ação do
Espírito que a torna a Palavra de Deus.
Entretanto, a palavra de Deus é entendida
mais claramente se a mesma for vinculada à eucaristia. A Santa Ceia estabelece uma ligação
entre a Igreja e o futuro e a pregação liga-a
ao presente.
A Santa Ceia
De acordo com o Novo Testamento a Santa
Ceia foi o ponto culminante no culto dos primeiros cristão, que se reuniam para ouvir a palavra e partir o pão.
Através da Ceia os discípulos e os primeiros cristãos perseveravam na doutrina dos apóstolos (At 2.42). A Ceia era celebrada regularmente, no
domingo. Havia um vínculo entre o
43
dia do Senhor e o partir o pão, conforme vemos
na Carta aos Coríntios.
Algumas testemunhas antigas, como Plínio
governador da Bitínia, afirmam que os cristãos,
além do culto da palavra, incluíam no seu culto, uma refeição, a Santa Ceia. A Santa Ceia
atualiza a dádiva de Cristo dando-se a si mesmo
para a salvação dos homens. Por isso, o culto
não é completo sem a Santa Ceia. A Santa Ceia é
necessária ao culto porque foi instituída por
Cristo que ordenou a Igreja a sua celebração.
Ela é necessária, portanto, por simples obediência à ordem e à palavra de Cristo.
Os membros da Igreja primitiva participavam dominicalmente da Ceia do Senhor, e membros
da Igreja de hoje devem ter o mesmo privilégio.
Porém, nem toda a reunião realizada na igreja
deve incluir a Ceia. Isso se aplica especialmente a reuniões evangelizantes e outras que
envolvem pessoas não-crentes. Deve ser lembrado
que a participação da Santa Ceia é privilégio
oferecido àqueles que professam a fé e são batizados.
A Santa Ceia deve se realizar de forma a
integrar totalmente o povo. Por este motivo,
muitas Igrejas eliminam qualquer empecilho que
separe a comunidade da comunhão, dando acesso
direto às pessoas a uma mesa ampla onde o pão é
o vinho sejam oferecidos informalmente.
Na Santa Ceia os cristãos devem se comunicar uns com os outros, falando sobre seus problemas, suas angústias e também, suas alegrias.
O culto, a comunhão são verdadeiras festas que
devem refletir a ressurreição e a presença de
Cristo, aqui e agora.
Portanto, as pessoas não devem se dirigir
para a mesa de comunhão, tristes, com os olhos
44
baixos. Não, ali se celebra a vitória de Cristo
sobre o pecado, sobre a morte e sobre as limitações do homem. Na Santa Ceia e no culto devese demonstrar alegria porque o Senhor nos recebe. Ele é o dono, o senhor do banquete que parte o pão.
É pela presença de sua espírito entre nós
que o culto é um momento de júbilo, pois ele
atualiza a salvação atualizando o cristo no
nosso momento e no nosso tempo.
A participação de todos deve ser a mais
criativa possível. O ministro, ou aquele que
dirige o culto, deve fazer com que a realidade
da vida, do dia-a-dia, participe deste evento,
e que a congregação não deixe de lado os problemas que a afligem.
Quando Cristo instituiu a Santa Ceia fez
menção 0àquilo que estava lhe acontecendo: a
traição, a vitória da cruz que se aproximava, a
promessa do futuro. Por isso ao participarmos
hoje da Santa Ceia devemos trazer a realidade
da vida. Esta realidade dá uma dimensão nova ao
culto ao ser compartilhada entre os presentes e
ao procurar-se o perdão, a renovação, a graça,
o alimento, que permite continuar a proclamar a
hora nova para os que ainda não a conhecem.

Resumo
O sermão, ato indispensável no culto, é a
interpretação da Palavra de Deus. Mas se não
for complementado pelos sacramentos, o valor do
sermão se esvazia. Por isso, a pregação está
vinculada à eucaristia, que desde os primeiros
tempos do cristianismo é um dos pontos culminantes do culto.
45
A eucaristia é repartir o pão e também
compartilhar as dores e alegrias da vida. É um
momento de festa porque recebe-se o Senhor.
Cristo é o criador da eucaristia e ordena a igreja que ministre-a regularmente.
A Oração
A oração é indispensável, não só à vida do
cristão, mas também ao culto litúrgico. O Novo
Testamento não cessa de exortar a sua prática
(At 2.42), que foi ordenada expressamente por
Jesus.
Ela é, por conseguinte não a simples expressão de uma necessidade religiosa ou uma
técnica mediante a qual o homem possa coagir
Deus, mas sim um ato de obediência.
Quando os discípulos interpelam Cristo sobre a oração, ele não se restringe a dar-lhes
ensinamentos teóricos, mas ensina-lhes a orar o
‘‘Pai Nosso’’, ordenando-lhes que fizessem dela
a sua própria oração. Por esse motivo, essa oração marcou, desde o início, a vida diária dos
cristãos.
A oração não é somente um ato de obediência, mas também, de fé e esperança, porque apressa a chegada do Reino de Deus. Com o senhor, aprendemos que a oração começa com o nosso ‘‘Sim’’ ao mundo de Deus: seu nome, seu reino e sua vontade.
E no Espírito do ‘‘Seja feita a tua vontade’’ que pedimos perdão, o pão nosso de cada
dia, o não cair em tentação. Fazer a vontade de
Deus é o objeto central da oração.
Nós não podemos nos associar ao mundo de
Deus por conta própria. ‘‘Ninguém vem ao Pai
46
senão por mim’’, disse Jesus. Por isso, só há
oração cristã feita em nome de Jesus.
Por ser comunitária, a oração deve ser
feita, sempre, usando o adjetivo nosso e não
meu, nós nolugar do pronome eu.
Por outro lado, deve-se evitar o uso de
linguagem infantil, como por exemplo, paizinho
no lugar de Pai, e também, não deve se usar uma
linguagem bombástica, em tom de discurso.
A oração, no culto, deve refletir os anseios e a ação de graças à Deus de toda a comunidade, razão pela qual deve-se evitar o uso de
chavões e o tom professoral. Uma sugestão é de
se preparar uma oração do culto em grupos que
expressem os anseios, preocupações, alegrias e
frustrações vividas concretamente na semana.
Algumas pessoas evitam escrever orações
para não cair no ritualismo, mas nota-se que
quando não são preparadas prevíamente, as preces resvalam para a repetição de chavões sem
significado. Aconselha-se uma preparação cuidadosa das preces.
O estudo da oração dos grandes homens de
Deus pode ajudar o cristão a compreender a
grandeza e o valor das orações.
A leitura de livros devocionários e o costume de se indagar sobre as necessidades comunais, ajuda a preparação das preces que se pretende fazer no culto.
As orações devem ser compreendidas pela
congregação e trazer as necessidades dos membros da Igreja. Elas devem ser definidas, concretizando as necessidades das pessoas.
Há diversas formas de orações cultuais:
47
• Existem as coletas, orações breves e
precisas que ‘‘recolhem’’ as necessidades da Igreja e do mundo, apresentandolhes a Deus, que as recebe em nome do
Filho.
• A litania, outro tipo de oração, é uma
intercessão em favor da Igreja, do mundo
e seus governantes e de todos os que estão cansados, aos quais o Salvador veio
aliviar. Essa oração se apresenta, tradicionalmente, em três formas: o celebrante a pronuncia e o povo se associa
em silêncio; pode ser rezada por dois
oficiantes, ou o oficiante anuncia o tema em forma de exortação e, após um momento de silêncio, o povo responde ‘‘Senhor, tem misericórdia’’.

Resumo
A oração é indispensável, não só à vida do
cristão, como ao culto litúrgico. O culto não
pode prescindir da oração. A oração não corresponde a uma simples expressão de uma necessidade religiosa. É um ato de obediência, de fé e
de esperança. O cristão deve orar ao Pai através de seu filho.
A oração deve refletir os anseios e a ação
de graças à Deus de toda a comunidade. Deve ser
compreendida pela congregação e trazer as necessidades dos membros da Igreja.
Há várias formas de orações cultuais: as
coletas, orações breves e precisas que ‘‘recolhem’’ as necessidades da Igreja e do mundo.
Outro tipo de oração é a litania, uma intercessão em favor da Igreja, do mundo e seus gover-
48
nantes e de todos os que estão cansados, aos
quais o Salvador veio aliviar.~

Confissão de Fé
É o elemento pelo qual a Igreja se compromete com o serviço de Deus no mundo, declarando-se disposta a enfrentar todas as conseqüências dessa confissão, inclusive a final, isto
é, morrer pela fé.
A palavra credo não significa simplesmente
‘‘eu admito aquilo que vou enumerar’’, mas ‘‘eu
arrisco minha vida por aquilo que vou enumerar’’. Poder-se-ia dizer que no Credo a igreja
dá a si mesma a palavra que recebe, tal como na
comunhão eucarística ela se dá àquilo que se
entregou por ela.
É um ato tão importante que não permite
improvisações e deve ser proclamada por toda a
comunidade com voz audível e em tom de testemunho, com os olhos abertos, olhar para a frente,
testemunhando a crença professada pela Igreja.
Pode-se professar a confissão de fé através de credos escritos por outras igrejas cristãs. A Igreja Metodista tem usado o ‘‘Credo da
Coréia’’.
O credo deve ser proferido antes da Santa
Ceia, depois da confissão, num momento onde a
igreja já perdoada deve proclamar aquilo que
crê ao mundo.
Hinos e Cânticos
A Igreja sempre fez uso de hinos e cânticos no culto, o que evidência a sua importân-
49
cia, além das referências a eles encontradas no
Novo Testamento que demonstram serem os hinos e
cânticos formas de oração provenientes do coração humano e da inspiração do Espírito Santo.
A história da hinologia apresenta épocas
de glória e de decadência, de movimentos de renovação, de falsas inovações e de necessárias
retificações da música sacra. Demonstra também,
que a produção de hinos serve de indicador fiel
da vida da igreja. e podendo, por vezes, tornar-se fonte de vitalidade espiritual quando o
pensamento teológico se torna vazio e esclerosado.
Pode-se distinguir diversos tipos de hinos: cânticos de aclamação e de confissão, como
o ‘‘Amém’’, ‘‘Aleluia’’, ‘‘Santo-Santo” , e
‘‘Glória’’; cânticos de meditação que servem de
elo entre a leitura e a oração; e cânticos de
ação de graças.
Os cânticos têm um elemento litúrgico que
reflete e proclama a teologia, a fé e a esperança da igreja, por isso os hinos não devem
ter letras muito subjetivas ou refletir um estado emocional particular.
Os hinos refletem o pensamento da igreja,
por isso deve-se estimular a criação de novos
cânticos que traduzam a época vivida pela comunidade de fé.
Temos atualmente novos hinos, como o hinário há pouco publicado A Nova Canção, e outros
criados pela juventude.
Testemunhos Litúrgicos da Vida Comunitária
O texto já citado de Atos diz: ‘‘perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comu-
50
nhão’’. Comunhão (Koinonia) pode-se dizer que é
a contribuição para o sustento dos pobres, as
exortações, as admoestações mútuas, as antífonas, os anúncios, o ósculo da paz. Todos esses
elementos eram testemunhos da comunidade cristã.
A oferta, dentro da perspectiva do culto
cristão, é um sinal efetivo da oferenda dos fiéis ao serviço de Deus, razão pela qual não pode ser monopolizada. A oferta não é apenas um
elemento material mas, também, um sinal de fraternidade e unidade cristã.
A oferta objetiva auxiliar a Igreja a viver nesta fraternidade, nessa dimensão humana
de atender à missão e promover a ação social em
favor daqueles que têm pouco ou nenhum recurso.
O ósculo (beijo) da paz, prática apostólica que caiu em desuso, pode ser restaurado através de um aperto de mão ou um abraço, e desejo de paz de Deus entre os membros da comunidade.
O orgulho, as
ais, desapareceriam
to, razão pela qual
da comunidade seria

diferenças sociais e racidiante do encontro de Criseste elemento de testemunho
muito importante.

Assim como Deus esteve presente em Cristo,
mostrando-se, também, através dos seus gestos,
é desejável que incorporemos nossos gestos,
nosso andar, nosso assentar, etc., na celebração que fazemos. Celebrar a vida é ir concretamente ao outro.
Os testemunhos de experiências pessoais
que possam apresentar algo de positivo para a
comunidade, também podem ser utilizados. O oficiante, conhecedor desses testemunhos saberia
utilizá-los adequadamente, sem entretanto, fa-
51
zer uso disso com muita freqüência, para não
cair numa rotina prejudicial. Para evitar isso,
poderia se restaurar esse testemunho de uma maneira mais criativa.
Um elemento comunitário importante são os
anúncios e avisos que devem fazer parte da ordem do culto, colocando, de preferência, logo
após a pregação ou antes da oração de intercessão, dando a esta algo de concreto.
Isso significa que nascimento, morte, alegria, e tristeza, enfim, a experiência de cada
um ou as realizações comunitárias, como culto,
encontros, devem ser trazidas à vida, porque
são elementos reais da existência e portanto
devem servir de elemento de oração e de testemunho do povo.
Mas é preciso cuidado. Deve-se evitar anúncios que podem aparecer no jornal, no boletim ou anunciados, com melhor propriedade, nas
reuniões das diferentes sociedades. No culto
devem aparecer os anúncios que são essenciais
ao desenvolvimento da comunidade, ao testemunho
e às orações que devem ser dirigidas em torno
desses anúncios.
A Estrutura do Culto e Renovação Litúrgica
A estrutura da ordem do culto pode ser um
elemento de renovação litúrgica da Igreja: vimos que a passagem de Isaías, cap. 6, pode e
tem servido de base para a estrutura cultual.
Assim, teríamos a visão como primeira parte dessa estrutura; depois a confissão e o perdão que Isaías recebeu e o louvor em resposta
ao perdão. Em seguida a instrução quando ele
recebe a missão de ir ao povo como profeta e,
finalmente, a dedicação dele e a benção.
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Apareceriam assim, na primeira parte - a
visão - a possibilidade do convite, a adoraçãoa
leitura do salmo, a oração evocativa, a epiclessis, o hino de adoração, a oração de reconhecimento da presença divina ou de adoração.
Na segunda parte teria lugar a confissão,
que falta em muitos cultos. Na confissão, nós
nos medimos a partir da Palavra de Deus. Aquele
que organiza o culto poderá sempre propor um
trecho da Palavra que oriente a confissão da
congregação. Esta poderia ser uma oração pública ou silenciosa, um hino de confissão, uma
leitura responsiva de salmos de confissão ou de
textos que falam da fraqueza humana.
Segue-se o perdão que poderia ser em forma
de leitura, hino, ou declaração de perdão.
Depois tem lugar o louvor, quando a congregação exulta em gratidão e louvor pelo perdão recebido. Nesta parte haveria a leitura de
um salmo, um cântico ou oração de ação de graças, hinos de aleluia.
O momento da instrução é um dos mais críticos do culto. O pregador pode ser tentado a
propor apenas suas idéias. A congregação pode
ser tentada a ouvir simplesmente um belo discurso. Como cremos que o Espírito é o que vivifica o culto, atualizando-nos a salvação, ele
deve ser invocado para que o testemunho humano
seja vivificado, isto é, se transforme em palavra de salvação. Esta oração, chamada epiclesis, pode ser feita na forma de um hino ou coro, ou uma simples oração. Não se deve esquecer
da leitura bíblica na qual se baseará o sermão
ou mensagem.
Finalmente, existe a dedicação, onde aparecem os hinos de consagração, a parte intercessória, os avisos, a oração de consagração e
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também a comunhão, quando o povo se dedica a
Cristo e se compromete com sua missão. Finalizando, vem a bênção apostólica.
Além dessas possibilidades, há outras modernas e mais enriquecedoras, baseadas no Evangelho, cuja estrutura lembra a do culto. Na
primeira parte teríamos a encarnação de Cristo,
onde sua presença e comunhão com os homens seria o ponto de celebração de gratidão. esta
presença deve ser invocada através de uma oração ao Espírito (Epiclesis).
Em seguida vem o batismo de Cristo onde
aparecem a confissão e a busca de fé e da reconsagração; depois têm lugar a expiação e ressurreição, representadas na Santa Ceia.
Finalizando, tem lugar o discipulado de
Cristo, o envio ao mundo, quando Jesus diz aos
discípulos que eles têm todo o poder e devem ir
para pregar e batizar.
Outra possibilidade e estrutura do culto é
baseada nos três passos ou pilares fundamentais
da história da redenção - criação, queda e reconciliação.
Na parte da criação apare a manifestação
da grandeza do Ccriador, da diferença que existe entre criador e criatura, e a alegria na
presença do Criador e de sua direção no mundo.
À segunda parte, a queda, corresponde o
afastamento do homem de seu Criador, quando
sente toda a tragédia de seu pecado e vê as
possibilidades e a necessidade da busca de
Deus.
O terceiro passo - a reconciliação - quando o homem vê na promessa do Antigo Testamento,
a vinda de Cristo, a resposta para o pecado.
Nesta parte entrariam as leituras do Antigo
54
Testamento, as Epístolas, a pregação, a eucaristia e a Missão.
Podemos dividir o culto, de uma forma abreviada, em quatro passos:
1º - a celebração da glória e do poder de
Deus;
2º - a liberação, a confissão e o perdão;
3º - a instrução, onde apareceriam o mestre e o Espírito Santo;
4º - a comunhão, onde sobressaía o Salvador.
O mais importante em toda essa estrutura é
a participação do povo nas partes mais acessíveis, razão pela qual devem usar-se orações,
hinos e expressões inteligíveis para a comunidade.
Para isso há necessidade de se conhecer os
elementos cultuais da comunidade a elaborar hinos e orações de acordo com essa realidade cultual para que o povo tenha uma participação efetiva e total.
Isto não quer dizer que os elementos universais do culto cristão devem ser colocados de
lado; naturalmente, deve-se criar instrumentos
para a participação da congregação, mas sempre
coordenados com os aspectos históricos e teológicos do culto cristão.
Quem elabora a ordem do culto e decide o
que o mesmo vai ser são os ministros, que devem
se preparar com muito cuidado.
O oficiante, deve, também, deixar ao povo,
a possibilidade de desenvolver a sua criatividade.
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Celebração dos Sacramentos
É necessário agora darmos uma orientação
geral sobre a maneira de se celebrar os sacramentos da igreja, que são o batismo e a eucaristia.
Batismo
O batismo está ligado à fé, e é a marca, o
selo do cristão, a sua ordenação para missão.
É um sacramento que se relaciona com a fé
dos pais e testemunhas do batizando, os quais
assumem o compromisso de educar a criança no
Evangelho, até que ela mesma possa fazer a sua
profissão de fé.
O batismo é um ordenação de todos os discípulos para a Missão. Por isso, na estrutura
do culto, ele deve vir sempre na primeira parte, isto é, na parte chamada de culto dos iniciados ou catecúmenos.
Por marcar o início da vida cristã, este
sacramento se coloca onde está no Evangelho o
batismo de Jesus, no chamado dos discípulos,
após a parte da visão da celebração ou depois
da confissão, antes da pregação e da Santa Ceia.
No batismo deve aparecer, claramente, a
confissão de fé por parte de toda a Igreja, através do credo apostólico, ou de orações nas
quais os participantes, diante de Deus e dos
presentes, assumam um compromisso de testemunhar e ajudar os batizandos a crescerem na graça e no conhecimento de Cristo.
Outro elemento que deve aparecer no batismo é a epiclesis, a oração que invoca a presença de Jesus e pede que ele seja o dirigente, o
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que vai dar sentido ao batismo, através da água
e do Espírito.
Finalmente, aparece a recepção do corpo de
Cristo em que o compromisso da comunidade reflete o batismo. Por isso este sacramento não é
de cunho individual, e só deve ser ministrado
particularmente em casos extremos, na iminência
de morte. Mesmo assim, sempre que possível, deve ser feito na presença de dois ou três membros da comunidade.
Santa Ceia
O enfoque desse sacramento é a morte e
ressurreição de Cristo e, consequentemente, a
morte e ressurreição do participante. Isto significa que aquele que vai participar da morte
de Cristo morre para o pecado e ressuscita numa
nova vida em Cristo.
O centro da eucaristia é a celebração da
vida, portanto, a alegria deve estar presente,
porque o Senhor venceu o pecado e a morte, e
está vivo, presidindo este sacramento, oferecendo, como o anfitrião da ceia, o alimento que
assinala o fato de pertencermos à Nova Aliança,
ao novo mundo, ao reino. Por isto, a Ceia é uma
celebração de toda a comunidade beneficiada pelo novo pacto.
A Santa Ceia tem uma dimensão que aponta
para o passado, quando Jesus diz: ‘‘Fazei isto
em memória de mim’’. A vida de Cristo é relembrada na dimensão presente quando o cristão
participar do amor, da graça e da comunhão com
seus irmãos.
Não existe Santa Ceia sem comunhão ou fraternidade, que nasce do aceitar o outro, do
perdão, da recepção do outro. Por isso é um mo-
57
mento propício para o cristão perdoar os seus
semelhantes.
A Santa Ceia tem, também, uma dimensão do
futuro, pois, ao constituí-la, Jesus disse:
‘‘porque vos digo que já não beberei do fruto
da vida até que venha o Reino de Deus’’. Aí, o
futuro invade o presente e o presente é içado
para o futuro do Reino, porque fomos admitidos
à Nova Aliança do Reino. Na Ceia celebramos
nossa condição de herdeiros de um mundo novo,
mundo futuro que já principia no nosso presente
concreto.
Deve-se iniciar a Santa Ceia com a epiclesis para se evitar a possibilidade de se encarar aquela celebração como algo mágico, ou seja, que a simples e correta repetição das palavras de Jesus que instituíram a Ceia, confira a
garantia de que estaremos celebrando a vida.
Pela epliclesis invocaremos o Espírito para que, por sua graça, aquele ato comum de vida
se transforme numa participação real à vida de
Deus. Portanto, a eucaristia é um convite de
Cristo à comunhão, à nova vida, à participação
ao Reino de Deus. O Espírito invocado atualizará, através dela, a morte e a ressurreição de
Cristo em nosso favor. É por causa desta morte
e desta ressurreição que Deus estabeleceu a Nova Aliança com os homens.
Neste evento, os hinos e as orações devem
refletir a alegria da ressurreição de Cristo.
Participando da morte através do pão e do Reino
através do cálice, somos enviados para o mundo
testemunhar nossa fé.

O Ano Litúrgico
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Desde a sua fundação, a igreja atribui a
certos domingos e às semanas por eles iniciadas, um colorido especial e intenção memorial
específica. Estes domingos formam o ano litúrgico ou eclesiástico.
O ano litúrgico é um plano de adoração que
se baseia nos grandes temas da história da salvação, especialmente no Evangelho, na vida de
Cristo. De acordo com o plano, os textos mais
expressivos da Bíblia se sucedem a cada domingo.
Estes textos bíblicos formam o lecionário,
que é um plano organizado de leituras bíblicas,
incluindo lições do Antigo Testamento, das Epístolas e do Evangelho.
Os textos bíblicos são arranjados de maneira que permitam enfatizar certos eventos da
história da salvação.
O ano litúrgico não é obrigatório na Igreja Metodista como não o é em muitas outras. É
assim porque nós adoramos a Deus e não uma estrutura.
A comemoração do ano litúrgico é importante porque permite reviver os principais eventos
da história da salvação, desde a criação até o
Apocalipse. Também evita a repetição desnecessária, por parte dos dirigentes do culto e da
congregação, de trechos prediletos que focalizam apenas alguns aspectos da revelação.
Há diversas maneiras de se estruturar o
ano cristão. Falaremos da estruturação cronológica que permite conhecer a história da salvação desde a criação até a consumação do Reino
de Deus.
A primeira estação do ano litúrgico é a
Criação. Esta época se comemora no período que
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vai do 13º domingo antes do Natal até ao 4º domingo antes do Natal e se estrutura no Antigo
Testamento. Na criação se procura ver a ação de
Deus no mundo, na criação do homem, na sua providência.
Nesta estação dá-se ênfase aos textos bíblicos sobre o chamado de Abrahão, sua promessa, a formação do povo de Israel, a escravidão
e a libertação, a Aliança, o povo peregrino e
de modo especial os profetas.
A segunda estação é o Advento - quatro domingos antes do Natal. Nessa época enfatizarse-ia a profecia que prepara a vinda de Jesus
Cristo.
Outra quadra é o Natal quando se celebra a
encarnação de Jesus Cristo, o nascimento do Filho de Deus, que veio participar da natureza
humana. É bom lembrar que a festa de Natal não
substitui o culto de Natal, o qual é importante
porque focaliza a encarnação de Cristo.
Segue-se a Epifania. Nesta estação é celebrada a revelação universal de Jesus Cristo, a
manifestação do Salvador de todos os homens.
Nesta época é comemorada a manifestação de Jesus aos homens sábios (magos) do oriente, no
dia 6 de janeiro, quando se inicia este período.
Além disto, nessa ocasião celebra-se também a apresentação de Jesus ao mundo, desde sua
infância até o início de sua missão, passando
pela sua circuncisão, a apresentação no templo,
a visita ao templo, o batismo de Jesus, o milagre de Caná, a cura dos cegos, a tempestade acalmada. O número de domingos dessa fase varia
de acordo com a Páscoa, pode ser de quatro a
nove domingos.
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A quinta estação é a Quaresma que começa
na quarta-feira de cinzas e termina domingo de
Ramos. São seis domingos nos quais se recordam
a decisão de Jesus em oferecer sua vida e a necessidade do discípulo tomar a cruz e seguir
Cristo no caminho do sacrifício.
Recorda-se nessa época, a parábola da semente que morre para frutificar. Contudo, não é
uma estação onde se faz penitência por amor à
penitência, mas antes, a Quaresma, na sua obra
de disciplina está para a paz e para o Pentecostes, assim como a convicção do pecado está
para a redenção.
A sexta quadra do ano litúrgico é a Páscoa
e Ascensão. Tem
início na Semana-Santa, na
quarta-feira, quando se comemora o lava-pés. Na
quinta-feira se comemora a última ceia; na sexta-feira, a morte e, no domingo, a Ressurreição.
A Páscoa deve ser a celebração mais cuidadosa e significante do calendário cristão. É o
ponto alto do ano litúrgico, porquanto, é o evento central do cristianismo - a morte e ressurreição de Jesus. Ela dura do domingo da ressurreição até o 6º domingo seguinte. No 6º domingo após a Páscoa a Igreja se prepara para
Pentecoste, lendo e meditanto os capítulos 1416 do Evangelho de João e Atos 1.
A última quadra é o Pentecoste, a segunda
festa cristã em significado.
Poderia se incluir nesta fase a igreja no
Reino de Deus. Esta comemoração é importante
porque se celebra a atualização da presença de
Cristo no mundo através do espírito e a inauguração da igreja.
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A celebração do Pentecoste começa no sétimo domingo após a Páscoa e se prolonga até três
domingos antes do início do tempo da criação,
ou 16 domingos antes do Natal. São relembradas
a Igreja, a palavra, os sacramentos, a atuação
do Espírito através da Igreja.
O calendário litúrgico termina com os três
domingos nos quais se celebram a escatologia,
isto é, os últimos dias. Neste três domingos
focaliza-se, respectivamente, a remissão dos
pecados, a ressurreição geral e a vida eterna.
Sugerimos que cada igreja programe seu ano
litúrgico a parir de setembro, quando se comemora a criação.
Os símbolos no Culto Cristão
Para finalizar mencionaremos a importância
dos símbolos no culto, os quais apontam para a
realidade que está atrás deles mesmos. Através
dos símbolos conhecemos o sentido e o significado das coisas materiais que utilizamos em
nosso culto.
Começamos dizendo que o lugar onde adoramos a Deus, o próprio templo, tem um sentido e
uma significação simbólicos. A arquitetura da
igreja deve significar algo de muito importante
para a comunidade que ali adora.
Podemos falar da autenticidade do material
que é utilizado; a colocação dos móveis, o simbolismo da luz e das cores. Todos esses elementos simbólicos têm um significado especial dentro do culto cristão.
Consideramos, porém, só o simbolismo das
cores. As cores sempre foram um importante meio
de comunicação. A Igreja sempre as usou para
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dar o tom à sua celebração. Assim, termos o
verde para a fase da Criação e o Pentecoste; o
roxo para o Advento e Quaresma; branco e amarelo-ouro para o Natal, Epifania e Páscoa. No dia
de Pentecoste deve-se usar o vermelho, e na
Sexta-feira Santa usa-se a cor preta.
No culto, Deus e o homem utilizam diversos
elementos da linguagem litúrgica para comunicar
a linguagem do culto. A voz, por exemplo, é um
elemento utilizado na leitura, no sermão e nos
cânticos. O sermão pode ser proferido em forma
de diálogo, de história ou mesmo de forma poética, mas sempre através da voz.
Da mesma maneira, a simbologia das cores,
a arquitetura do templo e os arranjos dos móveis, tudo visa a uma linguagem litúrgica.
Há, também, elementos visuais, como os boletins, fotos, projeção de diapositivos e filmes, colagens, representações teatrais simbólicas, enfim, vários elementos que podem ser usados com criatividade para a renovação da vida
da igreja.
Tudo isso, porém, só tem sentido na medida
em que comunica a vontade de Deus e renova a
vida da igreja. Estes elementos não são um fim
de si mesmos, mas um veículo que pode ser utilizado pelo Espírito em favor de uma verdadeira
renovação eclesiástica através do Culto.

Resumo
Para evitar a repetição de alguns trechos
da Bíblia, aconselha-se instituir o calendário
litúrgico que rememora a história da salvação
em ordem cronológica, começando com a Criação e
terminando na Ressurreição de Cristo. Isso da-
63
ria uma unidade temática ao culto e uma visão
global da Bíblia.
Para melhor compreender-se o culto, devese conhecer os símbolos usados na celebração do
mesmo. Tudo é importante: a arquitetura do templo, os móveis, as cores usadas, a voz, a luz,
os elementos visuais. Esses símbolos são importantes na medida em que permitem uma melhor comunicação entre Deus e o homem.

B. A Liturgia Como Elemento de Renovação da Igreja
O culto, por atualizar a história da salvação em favor do homem, por ser o resultado da
presença vivificadora do Espírito que nos faz
participantes da morte e ressurreição de Cristo, pode se transformar na base de renovação da
igreja.
Esta renovação pode se dar em várias direções. Em primeiro lugar, o culto faz reavivar a
comunhão da igreja com Cristo, e isso dá a ela
a consciência de ser o próprio corpo do Senhor.
Por isso o culto é de suma importância para igreja. Onde ela estiver, onde ela se manifestar, o culto deve estar presente para permitir
a sua constante reanimação como corpo de Cristo.
Em segundo lugar, o culto é um veículo de
renovação porque, no nível individual, ele cria
condições para a renovação da fé pessoal. No
culto, o cristão descobre sua própria história
no resumo da história dos atos de Deus no mundo.
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O culto, sendo a comunhão entre Cristo e
os homens é uma atualização do batismo do cristão, isto é, através do culto revive-se a morte
do homem com Cristo, para a velha vida e o velho mundo que estão marcados pela falência, pela importância e pela não-vida. Atualizando-se
a morte com Cristo, atualiza-se o renascimento
para o mundo novo, inaugurado através da ressurreição do Cristo.
No culto, celebra-se a vida inaugurada na
ressurreição e selada no batismo, redescobrindo
no cristão, a condição de herdeiros do mundo
novo, através da Nova Aliança de Deus.
Esta Aliança faz reviver a condição de peregrinos, de povo em marcha, na história dos
homens em direção ao Reino. Através da Aliança
revive-se a esperança que acompanha o homem no
seu dia-a-dia trivial e rotineiro.
Um terceiro elemento ligado à renovação do
culto é precisamente o seu vínculo com a criação de Deus e encarnação de Cristo. Por isso,
deve-se destacar permanentemente a necessidade
de se levar a sério o elemento material, corpóreo, no culto. Assim, a criação deve ser celebrada no culto (através das cores, do ritmo, da
música, das flores, etc); o corpo do homem deve
ser valorizado (através de movimento, gestos,
etc); sobretudo o apelo para a presença do homem no mundo de Deus através do serviço ao homem necessitado, reverência ao mundo (preocupação como mordomia, ecologia, etc).
Um quarto aspecto de renovação que o culto
relembra que os cristãos possuem um ministério
e que não há distinção de funções entre pastores e leigos para o cumprimento da missão.
Reavivando o batismo, o culto possibilita
a renovação dessa consciência missionária cris-
65
tã. Todos são batizados para o Reino que Deus
está construindo juntamente com os homens.
Por isso, o culto deve permitir o confronto entre a comunidade que o Cristão constrói
com as próprias mãos e o ideal futuro do Reino
de Deus. O culto permite, por uma razão, a crítica da vida individual e comunitária.
Questiona-se se a vida íntima e familiar
de cada um deve ser decidida pelo indivíduo ou
se o ideal de vida do Reino e da verdadeira vida que ele trará deve julgá-la.
Revivendo o batismo e a ordenação para a
missão, o culto permite ao cristão uma crítica
do presente sem saída e uma reorientação de seu
engajamento, sua luta, na direção da única opção definitiva: o futuro perfeito prometido no
culto, em Jesus Cristo.
Por esta razão, cada culto de hoje possui,
como no Antigo Testamento, um colorido profético que lembra que a história vivida pelo homem
não é o Reino e que os cristãos são responsáveis pelo aparecimento deste Reino na realidade
de hoje, nos níveis político, econômico e social.
O culto, por ser o encontro com o Cristo
vivo, é o termômetro que avalia a totalidade da
vida cristã. A confissão de fé, as orações, a
pregação, a eucaristia são feitas na presença
do Senhor, que chama o homem para a vida e para
o futuro.
Através do culto, redescobre-se a missão,
e o cristão é reorientado para ela, e é alertado para o fato de que a bênção de Deus sempre
se destina a todas as gentes. Por tudo isso, o
culto não pode ser somente um encontro social,
um programa do pastor ou de algum grupo de i-
66
greja. Ele é um verdadeiro encontro entre os
homens, por ser um encontro com a verdade.
Ele será um programa na medida em que atualiza o verdadeiro programa, a história dos atos de Deus, que arranca os homens de suas vidas vazias para a verdadeira esperança. Ele pode ser um encontro, porque é a celebração alegre da própria vida.

ANEXO I - PASSOS NA ELABORAÇÃO DE UMA ORDEM DE
CULTO
•
CELEBRAÇÃO
•
DA GLÓRIA E O PODER DE DEUS
•
LIBERAÇÃO
•
CONFISSÃO, PERDÃO E COMPROMISSO
•
AFIRMAÇÃO
•
DA COMUNIDADE CRISTÃ
•
INSTRUÇÃO
•
O MESTRE É O ESPÍRITO SANTO
Extraído de um folheto escrito pelo Prof.
Pablo Sosa
ANEXO II
67
ANO LITÚRGICO

**** FIGURA *****
68
ANEXO III
SÍMBOLOS DO ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS
1. Pomba com ramo de oliveira - às vezes usado
como símbolo do dilúvio. Significa paz, perdão, e a promessa da vida nova.
2. Altar do sacrifício - o altar com o cordeiro
morto indica o caráter sacrificial da adoração do A. T.; ao cristão sugere o caráter
sacrificial da vida e ministério de Jesus.
3. Rolo e feixe de trigo - símbolos da festas
de Pentecostes, festa esta que ocorria ao
final da colheita de trigo e, mais tarde incluía a comemoração da entrega da Lei no Sinai.
4. Verga e umbrais - a verga e umbrais, respingados de sangue, são o símbolo de proteção
de Deus no Egito quando passava o anjo destruídos - fator central da festa da Páscoa.
5. Tábuas da Lei - representadas por uma tábua
de pedra dupla; forma adotada pela maioria
das igrejas protestantes.
6. Castiçal de sete braços - é um símbolo de
adoração do AT; conhecido como Menorah, é
usado hoje nas sinagogas judaicas.
7. Altar dos holocaustos - altar sobre o qual
as ofertas das primícias e cereais eram
queimadas. Também símbolo da adoração do
A.T.
8. QUI - RHO - monograma das primeiras letras
QUI e RHO, da palavra grega ‘‘Cristo’’.
9. Alfa-Ômega - a primeira e a última letras do
alfabeto grego, significando que Jesus Cristo é o começo e o fim de tudo (Apocalipse
1.8).
69
10. Jesus Cristo Vencedor - Consta da cruz grega
com abreviações das palavras gregas Jesus
(IC) e Cristo (XC) e ainda a palavra Nika
(vencedor)
11. QUI-RHO com Alfa e Ômega num círculo - o
símbolo do Cristo está dentro do símbolo da
eternidade (círculo), assim significando a
existência eterna do nosso Senhor.
12. Monograma de Jesus - formado pelas primeiras
duas e última letras d apalavra Jesus, no
grego com sinal de abreviação.
13. Cruz na forma de âncora - usada pelos cristãos nas catacumbas; de origem egípcia.
14. A Cruz do triunfo - símbolo do triunfo do
Evangelho por toda a terra.
15. Três círculos - representam as três pessoas
eternas da Santíssima Trindade.
16. Cruz e túmulo vazio - simboliza a morte sacrificial de Cristo e sua vitória sobre a
morte na ressurreição.

ANEXO IV
ARRANJOS DOS MÓVEIS NA IGREJA
Abreviações: M = Mesa de Comunhão; P =
Púlpito; L = Lectório; B = Batistério; Ó = órgão.
1. CULTO FORMAL - Todos os móveis são portáteis, talvez, com exceção do órgão. A ênfase
é sobre a mesa, o púlpito e o batistério.
2. BATISMO - O pastor e a pessoa a ser batizada
ficam de pé no mesmo nível do santuário
(chamado coro) a fim de que a cerimônia seja
70
vista pela congregação. Os pais e testemunhas permanecem de pé diante do batistério,
mas no nível da nave (onde está a congregação).
3. COMUNHÃO - A Santa Ceia é servida pelo pastor para a congregação enquanto as pessoas
permanecem de pé ao redor da mesa.
4. COMUNHÃO - A Santa Ceia é servida pelo pastor num genuflexório portátil.
5. COMUNHÃO - A mesa da Santa Ceia é removida
para a nave com os comungantes ao redor. O
púlpito é colocado no centro. A ceia põe ser
servida de pé ou usando genuflexório portátil ou ainda com almofadas.
6. CASAMENTO - A largura do corredor central e
da frente é aumentada a fim de permitir espaço para os noivos, testemunhas e o pastor.
Um genuflexório é usado.
7. FUNERAL - A largura do corredor central é
aumentada para permitir a movimentação com o
caixão fúnebre que será colocado na frente
como indicado no desenho.
8. RECEPÇÃO DE NOVOS MEMBROS - Os que vão ser
recebidos à comunhão da Igreja permanecem
junto ao genuflexório. O mesmo arranjo pode
servir para o culto de confirmação.
9. REUNIÃO DE EVANGELIZAÇÃO - A congregação se
reúne em frente ao púlpito que fica ao centro. O coro se reúne atrás do púlpito.
A
mesa da comunhão e genuflexório ficam diante
do púlpito.
10. APRESENTAÇÃO CORAL - O coro é reunido na
plataforma olhando para o regente e a congregação. Programas especiais do coro, can-
71
tatas, oratórios, etc, podem se servir deste arranjo.
11. CONCERTO - Espaço amplo fica disponível neste arranjo para instrumentos de maior porte
como o piano.
12. DRAMA - A plataforma (ou coro) serve como
palco para drama, festas de natal, representações de Escola Dominical. Neste caso o órgão fica escondido.
13. DRAMA - A área teatral fica no centro da nave. Assemelha-se ao teatro de arena.
14. GRUPO CORAL - Para comunidade ou grupo de
cantores. neste caso a congregação se reúne
ao redor do piano e do regente.
15. AUDIO-VISUAL - A tela é localizada na plataforma para que a maioria das pessoas fique
dentro de um ângulo visual de 60º. Além deste ângulo, a imagem se torna distorcida.
16. ENCONTROS - Nesta ilustração duas mesas são
colocadas no centro da Plataforma com os líderes sentados atrás das mesas. Este arranjo
é usado para debates, palestras ou encontros
comunitários.
Extraído de God’s Party.David James Randolph.
New York, Abingdon Press, 1975. p. 129-31.
72

BIBLIOGRAFIA
ALBRIGHT, W. F. From the stone age to christianisty.
Baltimore, The John Hopkins Press,
1957.
ALLMEN, J.J. Von, O Culto Cristão. São Paulo,
ASTE/Imprensa Metodista, 1968.
BORNKMAN, G. Jesus de Nazaré. Petrópolis, Vozes, 1975 (trad. de Jesus von Nazareth, W.
Kohammer Gmbh, 1956, por J.S. Gonçalves).
BULTMANN, R. Le christianisme primitif. Paris,
Payot, 1969.
BUTRICK, G.A. (Ed.). The Interpreter’s Bible.
New York, Abingdon-Cokesbury Press, 1952.
C.M.I., Uma igreja para o mundo, Edições Oikoumene (trad. J. C. Maraschin).
CULMANN, O. La foi et le culte de l’église primitive. Neuchâtel, Delachaux et Niestlé,
1963.
HAHN, C.J. Cultos Evangélicos no Brasil: sua
origem e desenvolvimento (tese de doutoramento).
HARDIN, H.G., The celebration of the gospel.
New York, Abingdon Press, 1964.
KIRKPATRICK, D. (Ed.). The Holy Spirit, Nashville, 1974.
LEENHARDT, F. Le sacrement de la Sainte Cêne.
Neuchâtel, Delachaux et Niestlé, 1948.
RANDOLPH, D.J., God’s party. New York, Abingdon
Press, 1975.
73
SIMPÓSIO Nº 11, ASTE, São Paulo, Imprensa Metodista, 1973.

SIMPÓSIO Nº 3, ASTE, São Paulo, Imprensa Metodista, 1969.

WHRIGHT, G.E., O Deus que age.
ASTE/Imprensa Metodista, 1967.

São

Paulo,

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Princípios bíblicos e históricos do culto cristão

  • 1. NÓS E O CULTO - Um Estudo da Liturgia Cristã Autores: Nilo Belotto Duncan Alexander Reily Ely Éser Barreto César 1997 SUMÁRIO CAPÍTULO I PRINCÍPIOS BÍBLICOS, HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DO CULTO I. NO ANTIGO TESTAMENTO A. Culto Hebreu - Êxodo - Aliança - Influências dos povos vizinhos B. O Culto Hebreu Reinterpreta o Culto Pagão Locais de culto As Festas Sacrifícios
  • 2. 2 C. Desvios do Culto e o Profetismo Purificador D. Avaliação Teológica dos Princípios Históricos do Culto II. NO NOVO TESTAMENTO A. A Nova Aliança e o Culto B. Dimensões Cristológicas do Culto C. Culto e Influências Culturais D. O Culto e o Espírito Santo E. Culto e Missão CAPÍTULO II INFLUÊNCIAS CULTURAIS NO CULTO CRISTÃO DO BRASIL CAPÍTULO III IMPLICAÇÕES DOS PRINCÍPIOS BÍBLICOS, HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS NO Culto CAPÍTULO IV RENOVAÇÃO DO CULTO A. A Reforma da Própria Liturgia A Palavra de Deus O Sermão A Santa Ceia A Oração Confissão de Fé Hinos e Cânticos Testemunhos Litúrgicos da Vida Comunitária A Estrutura do Culto e Renovação Litúrgica Celebração dos Sacramentos O Ano Litúrgico Os símbolos no Culto Cristão B. A Liturgia Como Elemento de Renovação da Igreja ANEXO I - PASSOS NA ELABORAÇÃO DE UMA ORDEM DE CULTO ANEXO II - ANO LITÚRGICO
  • 3. 3 ANEXO III - SÍMBOLOS DO ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS ANEXO IV - ARRANJOS DOS MÓVEIS NA IGREJA BIBLIOGRAFIA CAPÍTULO I PRINCÍPIOS BÍBLICOS, HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DO CULTO I. NO ANTIGO TESTAMENTO A. Culto Hebreu - Êxodo - Aliança - Influências dos povos vizinhos Deus se revelou ao povo de Israel numa sucessão extraordinária de fatos históricos, entre os quais se destacam o Êxodo e a Aliança. Para os antigos hebreus, o conhecimento de Deus era, assim, uma conseqüência direta do que realmente aconteceu na História humana. O episódio do Êxodo, que revela a luta do povo hebreu para se livrar da escravidão do Egito, mostra claramente ao povo de Israel que Deus o havia escolhido como testemunho histórico de sua revelação, sendo Ele o libertador do povo oprimido.
  • 4. 4 Ao libertar o povo eleito da escravidão no Egito e, posteriormente, estabelecendo com ele uma Aliança, Deus demonstra que é Senhor da História. Nada acontece por acaso. Há um plano para a humanidade, do qual o Êxodo e a Aliança são uma antevisão. Além de se revelar ao povo de Israel através de sua interferência na História, Javé, o Deus de Israel, se revela, também, através da Palavra, no sinal, quando se estabelece uma relação entre Deus e o Povo Eleito (Ex 20:2). Juntamente com a revelação e a aliança, o povo de Israel recebia obrigações e responsabilidades (Ex 19:5). Israel deverá cumprir a lei recebida por Moisés, no Sinai. Em resposta a tudo o que Deus fez pelo seu povo, Israel adora Javé e se coloca a seu serviço, engajando-se na Missão de Deus. Israel é uma comunidade que adora porque recebeu a revelação de Deus, e a adoração se faz, principalmente, através do culto. A palavra culto significa a soma das formas que procuram dar expressão ao relacionamento Deus-homem, homem-Deus. Isto quer dizer, em outras palavras, que tudo que se faz para adorar a Deus, até o pormenor mais insignificante, faz parte do culto. Israel adora porque sente necessidade de, historicamente, caracterizar a libertação, a Aliança e outros eventos reveladores. Adora, também, porque através desse ato, o povo encontra sua identidade e descobre que tem uma história e, consequentemente um futuro. O culto judeu, entretanto, não é totalmente originário de Israel. Houve grande influência de outros povos, como sacrifícios de animais, ofe-
  • 5. 5 rendas de produtos da terra, determinação de locais para o culto, etc. Deus nos revela que é Senhor da história e criador da natureza, mas, o entendemos mais através de seus atos poderosos na História que por meio da natureza. Por isso, afirmamos que o culto hebraico e cristãos estão ligados à História, não à natureza. Outra diferença importante que notamos entre o culto pagão e o judeu-cristão: o culto pagão se realiza para manipular a divindade, usando-se para isto, o rito; o culto hebreu tinha por objetivo adorar aquele de quem a vida dependia e agradecer-lhe a graça recebida. B. O Culto Hebreu Reinterpreta o Culto Pagão O Antigo Testamento faz muitas referências aos cananeus e seu Deus Baal, e o culto a este deus muito influenciou, nas formas do culto, o culto hebreu, como por exemplo, os lugares sagrados, onde se realizavam as festividades e a oferenda de sacrifícios. Mas a essência da fé israelita não se baseia nas formas no culto. Devemos assinalar que o culto pagão traz consigo uma tendência muito perigosa para a fé israelita, principalmente pelo fato de pretender manter uma relação com a divindade e influenciá-la. Isso se processa em dois sentidos: conquistar a graça e aplacar a ira dos deuses. Devemos perguntar se no processo de assimilação cultual, a fé em Javé consegue impor-se contra tal tendência pagã. Examinaremos, para melhor compreensão, os principais elementos do culto israelita, como locais sagrados, festividades e formas de sa-
  • 6. 6 crifícios, através das várias fases de sua História. Locais de culto No início de sua história, os hebreus eram nômades, isto é, não se fixavam em um lugar. Como exerciam uma atividade pastoril, iam com seus rebanhos à procura de melhores pastagens. Nessa fase, não possuem, obviamente, um lugar de adoração, um santuário fixo. Isto só acontece quando eles deixam de ser nômades; nesta segunda fase seus principais locais de culto são: Siquém, Betel, Silo e Jerusalém. Todos estes locais eram, originalmente, pagãos. Enquanto nômades, a idéia de um Deus que se relaciona pessoalmente com seus adoradores, através de um pacto, não se coaduna com a idéia de Deus limitado a um santuário. Somente quando o povo se fixa na terra é que aparecem os primeiros templos. Mas, nem todos aceitam cultuar a Deus em locais determinados, pois Javé, por sua própria essência, não é confinável a um lugar préestabelecido.Por isso, houve reação a esta tendência, principalmente através da crítica dos Profetas. Resumo O culto hebreu foi influenciado pelos ritos culturais dos povos vizinhos, mas a essência da fé israelita difere muito da fé destes povos. Entretanto, o culto pagão oferece algum perigo para a fé judaica porque aquele pretende manipular a divindade, ao contrário deste. No-
  • 7. 7 ta-se a influência do culto pagão na determinação de lugares sagrados, no costume de se oferecer sacrifícios à divindade, e nas festas. Os israelitas, porém, reinterpretam o culto pagão e o próprio objetivo do culto, que é o de agradecer a Deus pelos benefícios recebidos. As Festas Muitas festas organizadas pelos hebreus em homenagem à Javé, celebradas no santuário central (Jerusalém), eram festas agrárias, assimiladas dos cananeus, e devidamente reinterpretadas. Conforme já afirmamos, a fé em Javé não aceita todos os elementos do culto cananeu. As grandes festas judaicas - Páscoa, Festa das Semanas e do Outono - são depuradas de qualquer elemento mágico ou relacionado com os ritos de fertilidade. Israel celebra as grandes festas no santuário para onde a comunidade se dirige e relaciona-as a Javé, como o doador da Terra e de seus frutos e, por este motivo, Ele deve receber louvor e gratidão. Sacrifícios O costume de oferecer sacrifícios à divindade é comum a muitas nações vizinhas de Israel. Naturalmente, cada povo praticava este costume à sua própria maneira, sendo difícil descobrir a origem de todos eles. Ao oferecer um sacrifício, o doador manifesta sua adoração e seu agradecimento a Deus. Ambos participam da dádiva: um como doador, o outro, como receptor, estabelecendo, assim, uma comunicação entre as duas partes.
  • 8. 8 Para os pagãos a dádiva significava que a divindade era alimentada pelo homem. O Antigo testamento não aceita essa concepção, pois, Javé não necessita de alimentação. A comunhão com ele é pessoal, não mágica. Por isso, o objetivo das dádivas em Israel é de gratidão, adoração e, também, expiatório. Em conseqüência do exílio, aumenta o sentimento do pecado e generaliza-se o hábito de oferecer sacrifícios expiatórios. Com isso, os hebreus pretendem pagar esta dívida, possibilitando a reconciliação com a divindade ultrajada pelos pecados. Nos sacrifícios comunitários diários, que deviam acalmar a ira de Javé pelos pecados do povo, os holocaustos desempenhavam o principal papel. Há textos, porém, que afirmam ser o perdão concedido independentemente de qualquer sacrifício. Nas relações pessoais entre Deus e o homem a consciência do perdão não está vinculada aos sacrifícios, embora sacrifício e expiação, sob o aspecto teológico pós-exílico, deveriam ir de mãos dadas. Mas as formas culturais até então usadas pelos israelitas, sugeridas pelas observações das práticas religiosas dos povos vizinhos, tiveram importância histórica, porque foi através delas que Israel pôde celebrar a aliança única estabelecida com Javé. Resumo As festas israelitas eram baseadas nas festividades de cunho agrícola dos cananeus, mas foram modificadas e reinterpretadas para melhor atender à fé do povo hebreu.
  • 9. 9 Também os sacrifícios que, para os pagãos visavam a alimentar os deuses, para os hebreus eram dádivas de gratidão, adoração e expiação. Inicialmente, os sacrifícios eram particulares, mas, com as construção dos templos, tornaram-se comunitários e aparecem, por isso, os primeiros sacerdotes. C. Desvios do Culto e o Profetismo Purificador O culto autêntico, sendo uma forma de relacionamento entre Deus e o homem, tem o sentido de recapitulação dos eventos salvíficos do passado, de adoração, gratidão, expiação e comunhão, o que significa obediência às exigências do pacto, como foi visto anteriormente. Entretanto, o culto corre o perigo de ser deturpado, e isso realmente aconteceu, dando origem à polêmica profética contra a deturpação ocorrida. Podemos citar numerosos textos bíblicos que comprovam tal polêmica: Am 5:21ss.; Os 6:6; Is 1:10-17. Além de atacar o culto, IsaÍas ataca também, as orações (Is 1:15) e juntamente com Amós demonstra, claramente, um espírito de crítica social, quando observa o requinte e a profusão das oferendas, acessível, apenas, aos abastados. Examinando os textos bíblicos citados, percebemos que, através dos Profetas, Javé rejeita violentamente os sacrifícios e holocaustos e qualquer outro tipo de culto que não se expresse em uma vida diária de retidão e justiça. Os profetas colocam, portanto, o culto israelita como era praticado em sua época, no
  • 10. 10 mesmo nível da idolatria dos pagãos, com suas monstruosidades cultuais e aberrações sexuais. A maneira adequada de cultuar Deus é pura e simplesmente a obediência à sua vontade, e a vontade de Deus exige a fidelidade a Javé, conhecimento de Deus, relacionamento humano integro e direito para todos, especialmente para com os desamparados. Os profetas não apontam, diretamente, falhas ou erros nas práticas cultuais, mas mostram como os homens devem agir, de acordo com o que vemos nos textos bíblicos. Observando a vida da sociedade que os cerca, principalmente a opressão econômica e jurídica dos mais necessitados, como órfãos e viúvas, os Profetas chegam à conclusão de que as exigências fundamentais do Deus do pacto estão sendo desprezadas. Os profetas constatam, então, uma discrepância evidente entre esta situação - opressão social, infidelidade e desobediência à Javé - e o afã verificado no âmbito cultual, onde se multiplicam cerimônias, sacrifícios e ofertas, cada vez mais sofisticados. Reconhecendo tal fato, os Profetas voltam sua polêmica, impiedosa, sarcástica e acirrada, contra o culto de sua época e o desmarcaram. Os profetas afirmam que, onde não há relacionamento íntegro, não pode haver culto autêntico. Mostram que o culto, em vez de proporcionar o contato com Deus, tornou-se uma arma contra Javé e a favor da segurança do homem. O homem abriga-se no culto contra a vontade de Javé. Utiliza o culto como instrumento de chantagem, de suborno, que pretende comprar a garantia da condescendência divina. Este é o perigo que o culto autêntico traz consigo, do qual falamos no início deste capítulo.
  • 11. 11 Resumo Com o passar do tempo, o objetivo do culto passou a ser deturpado em Israel. de ação de graças que era, passou a ser semelhante ao culto pagão, porque pretendia manipular Deus ou fazê-lo cúmplice dos pecados dos homens. O sacrifício torna-se mais requintado, à medida que o homem se distancia de Deus pelo pecado. Os profetas tiveram consciência deste fato e passam a proclamar que o verdadeiro culto a Deus pressupõe a justiça social, o conhecimento e obediência a Deus, e mostram que o homem está usando o culto como instrumento de chantagem contra Javé, pretendendo comprar a condescendência divina. D. Avaliação Teológica dos Princípios Históricos do Culto Qualquer forma de culto traz em seu bojo a possibilidade de tornar-se um instrumento de manipulação de Deus - contra Deus. Por isso, todo culto precisa ser constantemente questionado. Pode-se questionar se existe ou não correspondência entre o culto e a obediência concreta e cotidiana à vontade de Deus, no que diz respeito à responsabilidade para com o próximo, a comunidade e o engajamento geral na missão de Deus. Mas não nos iludamos: só aprenderá a questionar assim aquele que souber entregar-se total e irrestritamente a Deus e desprender-se, da mesma maneira, dos homens - aquele que, como os Profetas, viver na dependência absoluta de Deus e na independência absoluta dos homens.
  • 12. 12 Toda forma de culto tem a possibilidade de se tornar contra Deus, razão pela qual deve ser sempre questionada. Para isso, devemos seguir o exemplo dos profetas e perguntar se o culto está se realizando conforme a vontade de Deus. Os Profetas questionaram o culto de maneira clara, radical, implacável e audaciosa. Pergunta-se swe os cristãos estão seguindo o preceito de Deus relativo à responsabilidade para com o próximo, e se estão se colocando a serviço de Deus. Para questionar assim o culto, o cristão deve entregar-se totalmente a Deus como os Profetas, e desprender-se das coisas terrenas. II. NO NOVO TESTAMENTO A. A Nova Aliança e o Culto No Novo Testamento assim como no Antigo, o culto não é uma realidade independente da revelação de Deus; não é, também, uma atividade isolada ao lado de outras, como o trabalho, o amor, etc. O culto cristão está ligado à Nova Aliança que Deus fez com seu povo na pessoa de Jesus Cristo, à nova liberdade que ele cria, à nova orientação histórica ao seu futuro. Como os cristãos entenderam que havia uma novidade na revelação de Deus em Cristo, eles expressaram esta novidade desde os primeiros dias de vida da Igreja Cristã, criando um novo culto. A primeira modificação diz respeito do dia consagrado ao culto. A escolha recaiu sobre o primeiro dia da semana, substituindo o sábado do culto judeu. A escolha desse dia baseia-se na recordação de um acontecimento marcante na vida dos primeiros discípulos: as aparições de
  • 13. 13 Cristo ressuscitado. Por isso, o primeiro dia da semana foi chamado de ‘‘dia do Senhor’’ (dies Domini) ou domingo. A origem deste novo culto tem suas raízes na fé de que o Jesus de Nazaré, pela sua ressurreição, foi feito Senhor e Cristo. O culto surgiu para festejar a ressurreição, e é celebrado somente a partir da presença maravilhosa e misteriosa do ressurreto, pois ‘‘onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles’’ (Mt 18:20). As inovações introduzidas no culto cristão dependem, diretamente, desta nova revelações de Deus que os cristãos chamam de Nova Aliança, que é nova porque, através dela, Deus propõe ao homem uma libertação mais radical - a libertação da morte para a vida - pois, o homem do primeiro século, como o homem antigo em geral, sabia que ele é aquele que morre. Sem verdadeiro futuro o presente do homem não tem significado (I Co 15:32). Se Cristo nos liberta para a vida futura e, consequentemente, para a vida de cada dia, ensinando-nos a assumir nossa verdadeira dimensão humana, sua aliança com os homens torna-os herdeiros deste novo mundo, desta nova vida. Por isso a Nova Aliança é celebrada como a semente de vida que germina no meio da morte, como a inauguração de um novo mundo e de nova possibilidade de uma ação significativa (1 Co 15:58). Por isso o culto cristão é celebrado no domingo, no dia em que os primeiros cristãos receberam o novo mundo do Ressuscitado. Esse culto foi, desde cedo, uma explosão de alegria e um comportamento sério no novo mundo que surge. É a razão pela qual não pode ser uma cele-
  • 14. 14 bração individual, mas é uma festa da comunidade. Resumo Tanto o Antigo quando Novo Testamento tratam o culto como uma atividade ligada a todos os aspectos da vida. O culto cristão, porém, liga-se à Nova Aliança estabelecida entre Deus e o homem por intermédio de Cristo. O novo povo de Deus é representado pela Igreja. A Nova Aliança determinou mudanças cultuais, a partir do próprio dia que passa a ser domingo, em lugar do tradicional sábado da religião judaica. O domingo é o dia em que Jesus Cristo ressuscitou e apareceu aos discípulos com a mensagem da libertação do homem para a vida futura. Por isso a Nova Aliança é celebrada como a vitória da vida sobre a morte, dando origem a uma nova comunidade. B. Dimensões Cristológicas do Culto Se todo o culto cristão tem seus alicerces nesta Nova Aliança, só pode haver culto cristão no Cristo. Portanto, só há celebração cristã onde o Senhor está presente. Quem decide essa presença de Cristo em cada celebração não são os cristãos. Ela é uma decisão livre da graça de Deus. Mas, assim como só a fé e a graça permitem ver em Jesus de Nazaré, o Cristo, a presença dele no culto não é aparente. É uma convicção de fé para os fiéis, que sabem que Deus também é fiel.
  • 15. 15 Por outro lado, a Igreja não dispõe da presença de seu Senhor, nem pode provocá-la mediante a repetição de certos ritos. Essa presença só pode ser invocada, e é a graça do atendimento de uma súplica, não o exercício do poder sacerdotal. Há outro aspecto importante quando se considera o culto a partir da obra de Jesus Cristo: é o fato de cada ato do culto não ser uma mera peça teatral e não se transformar apenas numa piedosa recordação de um acontecimento que se dará no futuro. Ele é uma recapitulação da história da Salvação. Ao revivermos a história de Cristo a cada domingo, estamos reavivando toda a história da humanidade, e descobrindo o verdadeiro homem e a verdadeira dimensão da humanidade. Descobrimos que não é para a morte que fomos criados, mas para a vida e que nossa comunhão com o Cristo nos torna herdeiros de um mundo novo, já, aqui e agora e descobrimos, também que, em conseqüência disto, somos convidados a participar de sua missão libertadora, em favor de todos os homens, sua cultura, suas instituições. O culto não é somente a atualização do passado no presente, mas também, a antecipação jubilosa do banquete final. Veja Mt 26:29. O Reino de Deus está presente no culto por obra do Espírito Santo, por isso, também, é que o culto cristão é uma celebração de vida no nosso presente histórico, valorizando-o, dignificando-o, reorientando-o para o futuro definitivo de Deus. Isso torna o culto num momento de intensa alegria (At 2:46;16:34).
  • 16. 16 Resumo A Nova Aliança torna-se a base do culto cristão e, em conseqüência, só haverá culto cristão com a presença de Cristo. Mas Cristo é quem decide sobre sua presença no culto, a Igreja não dispõe livremente dele. O culto autêntico não é só uma piedosa representação teatral feita para recordar os eventos. É a própria história da salvação recapitulada, e também, a atualização desse passado e uma antecipação do Reino de Deus, que está presente no culto por obra do Espírito Santo. Essa participação torna o culto numa celebração histórica do nosso presente, valorizando-o, reorientando-o para o nosso encontro com Deus. C. Culto e Influências Culturais Ao constatarmos que a Igreja primitiva elaborou o seu culto, a partir de uma profunda meditação sobre a vida de Jesus Cristo e na base de seu encontro libertador com Ele, poderíamos concluir que havia apenas um tipo de celebração naquela Igreja. Isto seria, porém, uma conclusão falsa. Sendo uma celebração de vida, cada comunidade celebra o culto a seu modo, de acordo com sua realidade cultural. O Evangelho, sendo uma boa nova de vida para cada homem, convida cada um a responder a Cristo, em termos de elaboração doutrinal e ética, conforme o seu meio cultural próprio. Cristo não se comunica com robôs, mas com seres humanos que respondem na ‘‘linguagem’’ que conhecem, escolhendo as formas que lhes sejam significativas. Isso já acontecia na primeira igreja. Assim, o culto que celebra a vida da Nova Aliança e nos engaja na mesma missão de vida em Cristo,
  • 17. 17 é um pouco ‘‘nosso culto’’, já que nós elaboramos as formas que ele deve tomar. Criamos nossas orações, nossos cânticos, nosso testemunho, proclamado, exatamente como os cristãos primitivos o fizeram. Cada época, incorpora sua cultura aos cultos. O batismo, por exemplo, é uma prática ligada à iniciação religiosa, em quase todas as religiões do oriente.
  • 18. Os judeus, então, adotaram o rito batismal e o adaptaram para ser aplicado aos prosélitos, isto é, não judeus convertidos que não podiam se circuncidar. João, o Batista, propôs um conteúdo novo para o seu batismo de arrependimento, preparando a vinda do Senhor. Era o batismo de água, ligado, portanto, à idéia de ‘‘purificação’’. O batismo cristão incorpora a mesma forma comum na época, dando-lhe um novo significado, ligado à idéia de aliança, implicando na recepção, por parte do batizando, do Espírito Santo. Com o batismo, pela ação do Espírito Santo, o homem é incorporado à vida de Jesus Cristo. O mesmo fato aconteceu com outros elementos da fé cristã presentes no culto, como a Santa Ceia, o batismo, etc. A Santa Ceia lembra as refeições sacrificiais das religiões primitivas e a Páscoa judaica, mas seu conteúdo é novo, por incorporar o homem na Nova Aliança à última ceia de Jesus com seus discípulos. Assim é que, para alguns cristãos primitivos, como os coríntios, a Santa Ceia fazia parte de uma das refeições normais do dia, com a participação de toda a comunidade, seguramente dentro do estilo das refeições sagradas dos templos pagãos gregos. Veja na Bíblia, os seguintes trechos: 1 Co 11:17 e ss; 11:24-25; At 2:46. Atualmente, as igrejas estão preferindo ‘‘purificar’’ a prática da Santa Ceia, que não é mais celebrada como refeição sacrificial, mas como participação na Nova Aliança.
  • 19. 19 Resumo Em todas as partes do mundo e em todas as épocas celebra-se o culto cristão. Na essência, não há diferença entre os cultos de um lugar ou de uma época; mas na forma, cada local e cada período histórico influem na manifestação cultual. Cada homem responde a Cristo de acordo com sua formação cultural. Vários ritos cristãos sofreram e sofrerão influências formais. Exemplificamos com o batismo e a Santa Ceia. Ambos porém, reinterpretam e dão um novo conteúdo, o qual incorpora o homem na Nova Aliança. D. O Culto e o Espírito Santo O culto, para ser cristão, deve estar aberto à ação soberana do Espírito Santo, e isto por duas razões: para que seja uma atualização da Aliança e para que nossa resposta a Deus seja autêntica. Sem o Espírito nosso culto não será a nossa celebração da vida. Cristo prometeu a seus seguidores, o Espírito, para que não ficassem órfãos ou para que pudessem vê-lo após a sua ressurreição. É por isso que a morte e a ressurreição marcam o início de um mundo novo, tornado possível pela ação do Espírito. Comprove as afirmativas acima, lendo e resumindo os seguintes trechos bíblicos: Jo 14:16-18; 16: 7-13. Todas estas afirmações revelam que, se há culto hoje, e que Cristo está presente onde estiverem dois ou três reunidos em Seu nome, é
  • 20. 20 por meio do Espírito que, vivifica e transforma nossos atos em celebração (Jo 6:23). É o Espírito que nos convida a responder, em nossos termos, no ato onde celebramos a vida. Ele é o Espírito Criador. Por isso, cada culto é um pouco uma nova criação. Criar, no culto, é crer que o Espírito é vivificante, que age dentro de nós e da comunidade, criando nossa comunhão com a vida. Finalmente, admitimos que o Espírito é a dinâmica de nosso culto por ser o agente da Missão (At. 1:8). É nele que descobrimos que nosso culto só é culto se nos engajarmos na missão de Deus. E. Culto e Missão Participar, no culto, é estar disponível para servir aos homens, ensejando-lhes a oportunidade de descobrirem, em comunhão com Jesus Cristo, o verdadeiro sentido de nossa comunidade. Nosso futuro é o mesmo de Deus. Estamos destinados à plenitude de vida, onde dominam as realidades do amor absoluto, de verdadeira justiça e da autêntica paz. Por isso, o culto nos leva a dizer sim à vida e não à morte, à injustiça, ao pecado enfim. Participar da aliança da vida é, também, engajar-se contra todas as formas de opressão, miséria, injustiça, ódio, guerra. Ser a favor do mundo de Deus é ser contra tudo o que conflita com este novo mundo. O termo que os cristãos usam para definir culto é latreúein ou leitourgein, que significava, originalmente, prestar serviço não remunerado ao
  • 21. 21 Estado. Foi empregado, religiosamente, para definir a relação de serviço religioso dos fiéis a seus deuses. No Novo Testamento, culto significa tanto adoração ou oração, como serviço prestado a Deus. Veja At 26:7; Rm 1:9; Hb 12:28. Cultuar é, também, de acordo com o Novo Testamento, comunhão com Cristo, pois o cristão é aquele que testemunha e adora Cristo, presente nos pequeninos irmãos da parábola de Mateus 25:31-46. Cultuar não é fugir do mundo para uma esfera sacral, mas dispor-se ao serviço de Deus pelo mundo. O culto, conforme diz Von Allmen em seu livro O Culto Cristão, está para a Igreja assim como o coração está para a circulação do sangue. O coração possui dois movimentos, o de sístole, que consiste no bombeamento do sangue para o coração, a fim de que, depois de revivido (ou consagrado) ali, possa fluir para o corpo (mundo) no movimento de diástole. Sem sístole não há diástole, o que sufocaria e mataria o coração. Por conseguinte, no culto há renovação do homem para o serviço de Deus. Resumo A participação do cristão no culto exige deste uma disposição de trabalhar para Cristo em benefício da comunidade. O próprio termo ‘‘liturgia’’ significa prestar serviço não remunerado. Cultuar é adorar e servir a Deus, além de participar da comunhão com Cristo. Sem a participação cultual não há renovação do homem em Cristo.
  • 22. 22 O verdadeiro culto não se limita aos ritos do mesmo, mas se completa e se realiza com a atuação do cristão para que a boa nova seja levada à toda a humanidade. CAPÍTULO II INFLUÊNCIAS CULTURAIS NO CULTO CRISTÃO DO BRASIL O culto cristão tem sido influenciado, através dos tempos, por vários fatores culturais. Estes fatores podem ser econômicos, filosóficos, científicos e até mesmo políticos. Exemplificando, podemos observar as mudanças sofridas pela Santa Ceia, e inclusive a sua origem, baseada na Páscoa judaica. Houve uma época, em Corinto, que a Santa Ceia oferecia uma refeição completa aos cristãos. Este costume iniciou-se devido a fatores sócio-econômicos da comunidade cristã. Naturalmente, mesmo havendo uma mudança nos elementos simbólicos do culto, este não muda na sua essência. Claro que deve haver um critério na substituição dos elementos básicos. Deve-se usar produtos do local onde se realiza o culto, desde que guardem, uma semelhança com os primitivamente usados. O culto é autêntico na medida que corresponde a uma resposta cultural do homem que adora. Com a propagação do cristianismo a todos os lugares da Terra, os ritos cultuais cristãos foram modificados pela cultura de cada povo e de cada época. O culto, sendo um ato onde o homem adora Deus, certamente é influenciado pelas condições humanas, que variam conforme a situação sócio-econômico-política da comunidade.
  • 23. 23 Antes do século 19, o Brasil havia sido território proibido aos Protestantes. Houve, é claro, uma colônia francesa no Rio de Janeiro no século 16, e uma holandesa no Nordeste no século 17; porém, ambas eram consideradas invasões e foram afastadas à força de armas. No entanto, após a transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, e uma série de tratados com a Inglaterra (1810), o Brasil começou a permitir o culto anglicano particular, concessão esta que foi logo estendida, também, a outros imigrantes, notadamente os alemães. Foram estes últimos que, em 1823, organizaram a primeira igreja Protestante no Brasil, em Nova Friburgo. Depois os Anglicanos também inauguraram o seu primeiro templo no Rio de Janeiro, em 1845. Em ambos os casos o trabalho era feito na língua dos imigrantes e visando a atender somente os imigrantes, sem nenhuma tendência proselitista. Esses imigrantes eram leigos e não possuíam uma base litúrgica. Traziam apenas a Bíblia. Convém lembrar também, que a essa época, tanto na Europa quanto na América do Norte, as práticas litúrgicas estavam num nível extremamente baixo. As práticas e conceitos litúrgicos dos Reformadores tinham passado por grandes mudanças, em virtude das guerras religiosas na Europa, e pelas limitações e desafios da tarefa de evangelizar a rude fronteira da América do Norte. Além disso, o movimento para renovação litúrgica estava apenas começando. Basta lembrar que a Igreja Metodista da América do Norte ficou cerca de 150 anos sem possuir um livro autorizado para seus cultos. Em conseqüência desses fatores, não é de se estranhar que os
  • 24. 24 primeiros protestantes que vieram para cá não trouxessem uma base litúrgica. Estes fatos, aliados à falta de ministros ordenados, deram origem a um culto doméstico, despojado, simples, desprovido de elementos estéticos, limitando-se à leitura bíblica, orações, cântico de hinos e uma exortação. Tudo isso era realizado sem qualquer orientação litúrgica. Quando começaram a chegar os primeiros missionários, no século passado, somente os episcopais tinham um ‘‘Livro de Oração Comum’’. A maioria não trouxe nenhum livro de culto, que não usavam no seu país de origem. Este livro foi traduzido para a língua portuguesa para ser usado no Brasil. Os primeiros luteranos chegados da Europa trouxeram a ordem do culto usada na sua região da Alemanha, a qual foi adaptada às exigências da situação brasileira. Outra dificuldade encontrada pelos missionários e que refletiu sobre o culto, foi o fato de o mesmo ser proibido de ser realizado em igrejas. Era permitido apenas realizar serviços cultuais em residências ou locais que não lembrassem igrejas, como salões, galpões etc. Era proibida, por lei, a construção de templos para a liturgia protestante. Desta maneira, o culto importado, aliado às dificuldades legais aqui encontradas, deu origem a um culto especificamente brasileiro. Outros fatores, porém, contribuíram para o desenvolvimento de uma liturgias brasileira. Entre estes fatores, podemos citar a grande extensão territorial do país, aliada às limitações de recursos humanos, isto é, o número
  • 25. 25 de ministros ordenados não era suficiente para cobrir todo o país, o que fez com que o povo brasileiro fosse convertido e tivesse a assistência religiosa de leigos, apenas. Muitas congregações raramente recebiam a visita de um pastor, os quais tinham a seu cuidado vastas regiões que deveriam ser vencidas a cavalo, principal e, às vezes, único meio de locomoção. Devido a fatores sócio-econômicopolíticos, a maioria das igrejas nasceu de uma escola dominical, realizada em residências, dirigida por um leigo recém-convertido e, quase sempre, semi-analfabeto, tendo apenas a Bíblia para orientação de seus cultos. Essa foi a igreja que milhares de crentes conheceram durante os anos formativos de sua vida cristã. Além disso, a simples leitura da Bíblia resultava no nascimento de congregações de crentes no interior, sem qualquer contato com um pastor. A falta de ministros ordenados tornava, também, impossível a realização dominical da Santa Ceia. Nas primeiras décadas do século 19, as Sociedades Bíblicas Inglesa e Americana começaram a enviar Bíblias para o Brasil, através de homens de negócios que para cá se dirigiram. Muitos distribuíam os livros ao povo brasileiro, outros, entretanto, simplesmente abandonavamnos nos portos, onde quem quisesse poderia apanhá-los. Dessa forma, a Bíblia foi parar em diversos lares, fazendo com que muitos brasileiros se convertessem, apenas com a leitura da mesma. Estas pessoas, depois de convertidas, passavam a realizar cultos domésticos, objetivando novas conversões.
  • 26. 26 Os cultos realizados pelos novos convertidos eram muito simples, seguindo tão-somente os ensinamentos bíblicos, único guia que os novos protestantes conheciam. O crescimento da igreja protestante do Brasil foi, também, muito condicionado pelas leis do Império, que concediam aos protestantes estrangeiros o direito de, apenas realizar seus cultos em locais que não se assemelhassem a templos. A mesma lei não permitia que se fizesse proselitismo entre os brasileiros. Foi somente a partir de 1859 que o primeiro missionário que aqui aportou, Dr. Kalley, obteve permissão, após uma luta jurídica, para promover cultos domésticos dos quais os brasileiros pudessem participar. Frente às dificuldades legais encontradas, os primeiros missionários tiveram que preparar famílias de crentes, para dirigir cultos domésticos nas suas casas com o intuito de evangelizar. Tudo isso deixou marcas na vida litúrgica e nos cultos realizados no Brasil, que têm sido influenciados, também, por forças raciais e étnicas. As influências africana e indígena nos cultos brasileiros não podem ser desprezadas porque vêm ao encontro das ânsias profundas do coração brasileiro. Não devemos deixar de lembrar que, em qualquer cultura, a vida social e religiosa é sempre influenciada pela forma do governo. No Brasil, desde os tempos coloniais, o padrão de vida tem sido fortemente influenciado pelo ‘‘homem forte’’ ou ‘‘manda-chuva” da região e, em reação, criou-se a capacidade de “ dar
  • 27. 27 um jeito’’ e fugir às conseqüências diretas da lei, sem entrar em oposição com ela. É difícil para a vida litúrgica escapar a esta herança. Neste país, com sua complexidade, sua vasta extensão geográfica, seu mosaico de culturas e grande amor à liberdade, existe a possibilidade de criar uma pluralidade de liturgias para servir às subculturas da nação. Um aspecto básico que deve ser considerado por aquele que proporá o culto brasileiro, nesta diversidade, é precisamente a sua realidade sócio-cultural. O culto no Nordeste deve ser nordestino e, no Rio de Janeiro, deve ser carioca, assim como o paranaense deve conter elementos da cultura de seu Estado, e assim por diante. Em outras palavras, a contribuição da cultura nacional e regional sobre este ato de resposta deve ter a marca da autenticidade, deve ser um pouco, uma expressão de arte. Devemos criar nossa mímica, nosso estilo de orar, nossos hinos, enfim, devemos sempre cultuar a Deus à nossa maneira. Só assim o culto será realmente autêntico. Finalizando, devemos enfatizar o fato de que todas essas dificuldades encontradas pelo protestantismo no Brasil, não contrariou o desejo de se fazer um culto simples, sem pompas, diferente do culto católico, para justificar sua própria existência no país. Todos esses fatores devem ser conhecidos e considerados pelas pessoas que querem dar uma contribuição à vida litúrgica do povo evangélico do Brasil.
  • 28. 28 CAPÍTULO III IMPLICAÇÕES DOS PRINCÍPIOS BÍBLICOS, HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS NO CULTO Vimos no Capítulo I deste volume, alguns princípios bíblicos, históricos e teológicos do culto cristão. Veremos agora algumas implicações desses princípios, na prática do culto cristão. Deus se revelou ao povo de Israel numa sucessão extraordinária de fatos históricos e na encarnação de Jesus Cristo, que testemunhou nosso amor a Deus porque Deus nos amou primeiro.
  • 29. 29 Estudamos também, a ação do Espírito Santo que cria o verdadeiro culto e também, o atualiza, hoje, aqui, agora. Enfatizamos a natureza essencialmente comunitária, corporativa, do culto, ou seja, não é o indivíduo que adora, mas toda a Igreja. Terminando, falamos que o culto tem uma dimensão missionária, ele não é um fim em si mesmo, mas algo que prepara o povo para o testemunho no mundo. O culto cristão é uma resposta humana à revelação divina. A Bíblia toda testifica que a obra da salvação é de iniciativa divina. Deusa toma a iniciativa e o povo responde. Com essa resposta estabelece-se o diálogo no culto. Este princípios afeta o culto no seu conteúdo. A parte mais importante do culto cristão é Deus, que se revela soberano, criador e Santo. Deus é sujeito e objeto do Culto. Ele cria e busca o povo que o adora. Em conseqüência deve haver uma objetividade no culto. O culto é uma resposta à revelação de Deus.Se Deus é o sujeito e objeto do culto, o conteúdo das orações, hinos e pregação deve ser orientado para Deus e não para o homem, já que este não é o objeto do Culto. No culto, deve-se enfatizar que Deus é Senhor da História. Ele toma uma iniciativa e nós respondemos a ela. Outra decorrência do princípio teológico da iniciativa divina é relativa ao lugar onde é realizado o culto, isto é, a igreja ou templo. A própria arquitetura dos locais de culto deve ser orientada para a glória de Deus e não a do homem. A disposição dos móveis internos deve refletir a ação de Deus na salvação do seu povo. É por isso que a mesa da comunhão deve fi-
  • 30. 30 car no centro. À direita da mesa coloca-se o púlpito, onde é interpretada a palavra da revelação, e à sua esquerda deve ficar o lectório ou atril, onde se lê a palavra de Deus. Quando estes princípios não são observados, os templos não refletem o fato de Deus ser sujeito e objeto do Culto. A igreja deve ser um lugar adequado para a glória, a oração e o testemunho da ação de Deus na História e na vida de um povo. Outra implicação dos princípios bíblicos e teológicos envolve o diálogo que deve haver no Culto: este deve ser um diálogo entre Deus, que toma a iniciativa, e o homem, que responde. Se isto não acontece dá-se o monólogo, que às vezes de estabelece, por falta de respeito aos princípios bíblicos. O homem não pode se tornar o centro do culto e, simplesmente, falar de suas necessidades, suas angústias, e não ouvir Deus. Neste caso o culto é subjetivo. Mas pode acontecer o contrário: o homem não é levado em conta, não há respeito à liberdade humana; é o culto objetivo. O culto é composto de partes intimamente ligadas, obedecendo a uma harmonia de forma. A Bíblia oferece certos padrões de liturgia dos quais derivam a forma do culto praticado hoje. Podemos exemplificar com o capítulo 6 do livro de Isaías, quando o jovem foi ao templo, provavelmente para lamentar a morte de seu amigo, o rei Usias; havia, sem dúvida, um espírito preparado e receptivo para o culto e Isaías teve uma visão maravilhosa de Deus (Is 6:1). Esta é a primeira experiência do culto - o encontro com Deus. Ali se sente a presença de
  • 31. 31 Deus, e os anjos cantam a grandiosidade de um Deus justo e santo. A partir deste momento Isaías passa a reconhecer sua indignidade e fraqueza e faz uma confissão de pecados, conforme o versículo 5. Esse ato de confissão significa a resposta de Isaías à glória, à majestade, à santidade de Deus. O diálogo se estabelece entre Deus que se revela, e o homem Isaías que sente, face a grandeza da revelação, os seus pecados, e confessa-os. Após a confissão de Isaías, um anjo tirou do altar uma brasa viva, tocou com ela a boca do profeta, dizendo: ‘‘a tua iniquidade foi tirada e purificado o teu pecado’’ (vers. 7). Assim, a confissão dos pecados e a declaração do perdão constituem a segunda e terceira parte do culto. Após o perdão de Isaías, existe uma explosão de alegria, onde acontece a manifestação de louvor, de ação de graças, que é a quarta parte do culto. A seguir vemos, novamente, Deus, que se manifesta através de uma comissão, de uma revelação de vontade, a Isaías dizendo que ele deveria ir ao povo e proclamar a sua palavra como profeta. Este mandamento é imediatamente atendido por Isaías que responde: ‘‘Eis-me aqui Senhor e envia-me” . Aqui estão a quinta e sexta parte do culto, que é a iluminação ou explicação da palavra e a dedicação, a resposta, a consagração ao discipulado, à vontade de Deus. Outro princípio que terá conseqüências importantes na estrutura do culto é aquele que coloca Cristo como o ápice, o ponto mais importante na história da salvação, da revelação e
  • 32. 32 do pacto que Deus fez com a Igreja e o novo Israel. Se todo o culto cristão tem seus alicerces nesta nova aliança de vida estabelecida por meio da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, só pode haver culto cristão no Cristo, isto é, só há culto cristão ali onde Cristo está presente, mais do que isto, a forma, a estrutura do culto é dada pela própria vida de Jesus Cristo. O Culto, no dizer de Von Allmen, é ‘‘a recapitulação da história da salvação’’, aonde a vida de Cristo aparece novamente, os seus ensinos, a sua pregação e especialmente a sua morte e ressurreição. Vários autores modernos vêem, na maneira como os evangelistas organizaram seus evangelhos, reflexões dos primeiros cultos cristãos. Assim, o culto teria, pelo menos, duas partes distintas: • • a primeira se inspira no ministério de Jesus na Galiléia, ou ministério galileano de Jesus; a segunda parte baseia-se na estruturação do culto, é aquela que se chama de o culto dos fiéis, correspondendo ao ministério de Jesus em Jerusalém. Esta parte se concentra sobre a morte e ressurreição de Jesus Cristo, sua bênção e o envio de seus discípulos ao mundo para o testemunho de sua missão. Nesta parte do culto apareceriam o ofertório, a oração de consagração e a Santa Ceia. Assim, se a base do culto cristão é a própria vida, morte, ressurreição e ensino de Cristo, é, portanto, o exame de sua vida e sua
  • 33. 33 obra que nos indicará a forma que deve tomar nosso culto hoje. Isto nos leva a concluir que um culto é verdadeiro se demonstrar os dois momentos da Nova Aliança: presença da palavra e celebração da Santa Ceia. A forma do culto está dada em Cristo e não é, portanto, objeto de nossa criação. Outro princípio que tem suas implicações na estrutura do culto é aquele que diz ser a verdadeira oração aquela que nasce da atividade do Espírito Santo. O culto só é culto cristão se estiver aberto à ação soberana do Espírito Santo. O Apóstolo Paulo diz em 2 Co 3:17: ‘‘Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade’’. A nova vida em Cristo corresponde a nova vida em liberdade, não só para os indivíduos mas, também, para a congregação, a Igreja. O Pentecostes testemunha o nascimento do poder, da liberdade. Podemos dizer que a ação do Espírito dinamiza o culto, mas também, oferece, segundo a doutrina cristã, o equilíbrio e a sobriedade tão importantes e necessários hoje. A verdadeira e genuína adoração exige uma Igreja guiada pelo Espírito Santo, e também, uma ordem no culto aliada à expressão carismática. A liberdade não deve ser confundia com licenciosidade. A liberdade cristã está em função de Jesus Cristo. A obra cristã é a obra de Cristo, portanto, não há completa liberdade do homem na direção do culto cristão. O Espírito é livre e não deve ser manipulado, mas o critério é Cristo que é atualizado pelo Espírito Santo. Portanto, no culto, os e-
  • 34. 34 lementos e as estruturas devem dar suficiente liberdade de expressão para a criatividade da congregação e dos indivíduos. A criatividade da ação do Espírito de Deus na congregação local, na comunidade deve-se permitir a ação do Espírito Santo para criar e recriar a vida comunitária. Deve-se lembrar, também, que a ordem, a disciplina voltada para aquilo que fez Jesus Cristo deve ser o critério. Outro princípio que tem implicações no culto, hoje, é aquele que diz ser o culto cristão essencialmente comunitário. A adoração é um ato de toda a Igreja, não do indivíduo apenas. O homem participa como membro da comunidade. Quando se diz que o culto cristão é essencialmente comunitário significa dizer que a Igreja vive e está em Cristo, incorporada no Seu corpo. A Igreja adora e obedece, por isso Jesus, quando ensinou a oração dominical, disse: Pai nosso, significando o Pai de toda a comunidade. Ele não disse Pai meu. Deste princípio decorre um culto não individualista. O ministro ou líderes leigos, não detêm o monopólio cultual. O culto é de todo o povo de Deus que deve ter a máxima participação no mesmo, através das leituras responsivas e nos congregacionais, o uso do amém e de orações comunitárias. Deve-se usar sempre o adjetivo nosso e não meu. Por isso, a estrutura, o local dos templos, bem como a mesa de comunhão, o púlpito, o atril, devem ficar ao alcance da comunidade. Tudo deve ser colocado de maneira tal que envolva o maior número de pessoas.
  • 35. 35 Os móveis não devem ser fixos, e deve-se usar, de preferência, cadeiras, o que permite uma maior mobilidade para formar círculos ou arranjos que facilitem a participação maior de todos nas funções do Culto. Um outro princípio que tem implicações importantes no culto é aquele que procura ligá-lo à Missão. Culto é uma preparação adequada da Igreja para o serviço e o testemunho de Deus no mundo. Participar no culto é estar disponível para servir aos homens no mundo, ensejando-lhes a oportunidade de descobrir, em comunhão com Jesus Cristo, o verdadeiro sentido de nossa humanidade ou da liberdade de sermos verdadeiros homens deste mundo. Este princípio faz do culto o momento adequado para que as ansiedades, os problemas e as angústias daqueles que adoram sejam trazidos à luz da palavra e da revelação de Deusos sacramentos e na oração. Disso decorre a importância de as orações comunitárias estarem ligadas à vida daqueles que adoram, e também, o valor das orações intercessórias que refletem a preocupação com o povo de Deus e com aqueles que não pertencem à comunidade da fé. No culto, a Igreja deve preparar os fiéis para intercederem por aqueles que não têm voz, os irmãos que não têm o necessário para uma vida condigna, enfim, deve-se pedir por todos os injustiçados e infelizes. A intercessão pelos oprimidos não deve esgotar-se no culto. A luta deve prosseguir através do testemunho no trabalho, em casa, enfim, nos campos mais diferentes da vida; os cristãos devem testemunhar sempre a favor da justiça, da liberdade e da igualdade entre os homens.
  • 36. 36 A pregação também deve refletir os problemas e angústias dos homens da congregação que deveriam dialogar com o pregador, antes ou depois da apresentação da palavra. Isto é possível quando o ministro, ou aquele que lidera o culto, é sensível às necessidades de sua Igreja e a missão que ele tem no mundo. Resumo O culto cristão é uma resposta do homem a Deus, que é sujeito e objeto do culto, razão pela qual este deve ser orientado para Deus. Tudo no culto deve visar à adoração de Deus, desde a arquitetura e a disposição dos móveis no templo, até a oração mais simples. O culto é um diálogo da comunidade com Deus e compõe-se de partes intimamente ligadas. No entanto a base do culto é a vida, morte, ressurreição e ensino de Cristo, que indicam a forma do culto. A verdadeira oração e o verdadeiro culto nascem da atividade do Espírito Santo. A nova vida em Cristo dá à comunidade e ao indivíduo uma liberdade de culto sob a orientação do Espírito Santo. A Igreja tem liberdade de criar o culto mas, sempre tomando Cristo como paradigma. Outras implicações: o culto é sempre da coletividade e deve sempre vir ligado à Missão. Não há culto cristão completo desvinculado do serviço e do testemunho. Finalmente, devemos insistir que só é possível celebrar a vida que Deus nos dá na ale-
  • 37. 37 gria. O culto verdadeiro é uma eucaristia, isto é, uma ação de graças. CAPÍTULO IV RENOVAÇÃO DO CULTO A. A Reforma da Própria Liturgia Ao considerarmos as possibilidades de uma renovação litúrgica devemos afirmar que o culto tem uma parte que pode ser reformada e outra que não é passível de reformas. O elemento sacramental do culto, os meios de graça, aquilo que foi instituído por Jesus Cristo, as palavras e os sacramentos, não podem ser mudados. Não se pode reformar a leitura bíblica, mas as leituras que são feitas durante o culto, isto é, o lecionário, pode ser modificado. Veremos, a seguir, os elementos do culto e as possibilidades que encerram para sua renovação litúrgica para a nossa igreja de hoje. De um modo geral, os elementos cultuais se resumem em quatro: a palavra de Deus, os sacramentos, as orações e a manifestação litúrgica da vida comunitária.
  • 38. 38 A Palavra de Deus Todos os cristãos concordam que a palavra de Deus é um elemento indispensável para o culto. Sem ela o culto não seria um encontro vivo e eficaz entre Deus e seu povo, entre Cristo ressurreto e sua Igreja; sem ela não se estabeleceria o diálogo entre a divindade e o homem. Com a palavra de Deus sabemos que Cristo é entendido e revivido pela Igreja. Não se podem alterar os sacramentos na sua essência. Não se concebe um batismo sem água e sem a invocação da Trindade. Igualmente, não se podem modificar os elementos (pão e vinho) da Santa Ceia, nem eliminar as palavras de Jesus quando da instituição da mesma. No entanto, outros elementos podem ser modificados e reinterpretados a fim de tornar os sacramentos mais relevantes para o dia que vivemos. No culto a palavra se manifesta sob diversas formas: diretamente, como na leitura das Escrituras; a pregação; a absolvição; a saudação; a bênção. Indiretamente, temos a manifestação da palavra nos hinos, nas confissões de fé e nas doxologias. Porém, jamais se deve substituir, no culto, a leitura da palavra da Bíblia pela pregação dessa palavra, o que significaria clericalizar o culto e dar um golpe mortal na leitura e na participação dos leigos e, também, pelo fato de que a recapitulação da história da salvação exige que essa palavra seja reatualizada através da leitura da Bíblia durante o culto. Mas, como escolher a leitura para o culto. É costume o pastor decidir sobre o tipo de leitura. Isso resulta muitas vezes em repetições e
  • 39. 39 ênfases próprias de cada um. Aconselha-se, para evitar isso, o uso do calendário cristão, o que daria maior variedade, abrangendo toda a história da salvação. Para que haja uma completa recapitulação histórica no culto, são necessárias pelo menos três leituras, na seguinte ordem: a do Antigo Testamento, onde ouvimos sobre a criação e os profetas; outra, das Epístolas, para que a Igreja se faça ouvir através do apóstolo e, finalizando, uma leitura dos Evangelhos, a voz do Senhor que deve ser ouvida cada domingo. A ordem da leitura é relativa. Uma pergunta que se faz freqüentemente quem deve proceder às leituras? A do Antigo Testamento e a da Epístola devem ser feitas por leigos, dando-lhes a oportunidade de participar ativamente no culto. As leituras devem ser feitas de frente para o povo e devem-se escolher as versões bíblicas que comuniquem melhor a palavra, e de preferência a versão que as pessoas tenham em mãos. É possível, também, usar antífonas e responsos, para não se restringir a uma só forma de leitura. Para uma maior participação da congregação, pode-se pedir a leigos para que procedam à leitura de trechos bíblicos que tenham uma mensagem especial para o leitor. Deve-se estimular a criatividade conforme o grupo, de crianças, jovens, adultos ou misto, para que a leitura desperte interesse e a participação de todos, lembrando que ela atualiza a vida de Cristo, a história da Igreja e a ação do Espírito Santo, aqui e agora.
  • 40. 40 Outra forma de usar-se a palavra de Deus é uma saudação especial no início do culto, com aquela tradicional ‘‘Graça e Paz a Vós outros da parte de Deus, nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo’’. Pode-se usar, também, um versículo bíblico que convida o povo a participar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Não se deve começar um culto anunciando o programa ou destacando uma pessoa. A primeira palavra deve ser aquela que brota de Deus, sujeito e objeto do culto, e portanto a celebração de sua presença deve vir em primeiro lugar. Para isso selecionam-se, previamente, textos bíblicos variados, permitindo uma renovação à medida que solicitamos a presença de Deus. No início do culto, antes da mensagem e da Santa Ceia deve-se rogar, numa invocação, a ação inspiradora do Espírito, para que o culto, a pregação e a Ceia, não se tornem em atos mágicos, eficazes devido à correta manipulação do homem, mas atos de salvação pelo poder do Deus presente. Deve-se destacar, nesses momentos, a iniciativa de Deus. Outro elemento importante é a absolvição, após a confissão. É fundamental declarar-se que Deus liberta e perdoa a congregação. A atualização de versículos bíblicos adequados a esse momento deve ser enfatizada para que a palavra de Deus se torne um elemento de perdão e graça. A bênção final também faz parte da palavra de Deus e está incluída em todas as liturgias. Esta bênção não é um ato mágico, mas tem o objetivo de oferecer-se, pela palavra de Deus, a certeza de que Deus continua agindo na vida da Igreja. Nesse momento, usa-se sempre a segunda
  • 41. 41 pessoa do plural, caso contrário, seria uma oração, apenas. Se a igreja usa a bênção em forma de oração e não mostra a ousadia de abençoar de forma declarativa e direta, mostraria pequenês de fé e desobediência diante da obrigação de usar a autoridade que lhe foi outorgada. As palavras da bênção devem ser acompanhadas pelo gesto bíblico de erguer as mãos, o mesmo usado por Cristo. (Lv 24:50ss). A bênção apostólica é uma palavra cheia de poder na qual, Deus em pessoa, representado por um homem, no caso o ministro, faz descer sobre a comunidade cristã a salvação, a prosperidade, a alergia de viver e testemunhar a ação de Cristo, de Deus e do Espírito Santo. Resumo A renovação litúrgica é possível em algumas partes e impossível em outras.A palavra de Deus não deve ser substituída, da mesma forma que as partes essenciais do batismo e Santa Ceia. Pode-se renovar o lecionário e a simbologia batismal. A Palavra de Deus é indispensável para o culto e não pode ser substituída pela pregação, porque ela é a recapitulação da história da salvação. A palavra no culto pode ser levada aos fiéis em forma das leituras das Escrituras, de pregação, da absolvição, da saudação e da benção. O Sermão
  • 42. 42 A pregação é a palavra de Deus interpretada para a congregação, porém é uma verdade da personalidade; ela é um testemunho pessoal acerca do Deus que se revela. Esta palavra, porém, não é auto-suficiente. São necessários os sacramentos para deixar claro que o sermão não é uma forma intelectual ou testemunho pessoal do pregador, mas está ligado ao evento representado nos sacramentos. A pregação é um ato indispensável na estrutura do culto mas não é o seu ponto culminante, como pretendem alguns. Não se deve ir ao culto apenas para ouvir o pregador ou para prestigiá-lo, como se o culto estivesse restrito à Palavra do homem. Deve haver um equilíbrio entre a palavra pregada e os sacramentos, pois o culto cristão hoje, não deve deixar que a palavra do homem seja fundamental, mesmo evidenciado a ação do Espírito que a torna a Palavra de Deus. Entretanto, a palavra de Deus é entendida mais claramente se a mesma for vinculada à eucaristia. A Santa Ceia estabelece uma ligação entre a Igreja e o futuro e a pregação liga-a ao presente. A Santa Ceia De acordo com o Novo Testamento a Santa Ceia foi o ponto culminante no culto dos primeiros cristão, que se reuniam para ouvir a palavra e partir o pão. Através da Ceia os discípulos e os primeiros cristãos perseveravam na doutrina dos apóstolos (At 2.42). A Ceia era celebrada regularmente, no domingo. Havia um vínculo entre o
  • 43. 43 dia do Senhor e o partir o pão, conforme vemos na Carta aos Coríntios. Algumas testemunhas antigas, como Plínio governador da Bitínia, afirmam que os cristãos, além do culto da palavra, incluíam no seu culto, uma refeição, a Santa Ceia. A Santa Ceia atualiza a dádiva de Cristo dando-se a si mesmo para a salvação dos homens. Por isso, o culto não é completo sem a Santa Ceia. A Santa Ceia é necessária ao culto porque foi instituída por Cristo que ordenou a Igreja a sua celebração. Ela é necessária, portanto, por simples obediência à ordem e à palavra de Cristo. Os membros da Igreja primitiva participavam dominicalmente da Ceia do Senhor, e membros da Igreja de hoje devem ter o mesmo privilégio. Porém, nem toda a reunião realizada na igreja deve incluir a Ceia. Isso se aplica especialmente a reuniões evangelizantes e outras que envolvem pessoas não-crentes. Deve ser lembrado que a participação da Santa Ceia é privilégio oferecido àqueles que professam a fé e são batizados. A Santa Ceia deve se realizar de forma a integrar totalmente o povo. Por este motivo, muitas Igrejas eliminam qualquer empecilho que separe a comunidade da comunhão, dando acesso direto às pessoas a uma mesa ampla onde o pão é o vinho sejam oferecidos informalmente. Na Santa Ceia os cristãos devem se comunicar uns com os outros, falando sobre seus problemas, suas angústias e também, suas alegrias. O culto, a comunhão são verdadeiras festas que devem refletir a ressurreição e a presença de Cristo, aqui e agora. Portanto, as pessoas não devem se dirigir para a mesa de comunhão, tristes, com os olhos
  • 44. 44 baixos. Não, ali se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado, sobre a morte e sobre as limitações do homem. Na Santa Ceia e no culto devese demonstrar alegria porque o Senhor nos recebe. Ele é o dono, o senhor do banquete que parte o pão. É pela presença de sua espírito entre nós que o culto é um momento de júbilo, pois ele atualiza a salvação atualizando o cristo no nosso momento e no nosso tempo. A participação de todos deve ser a mais criativa possível. O ministro, ou aquele que dirige o culto, deve fazer com que a realidade da vida, do dia-a-dia, participe deste evento, e que a congregação não deixe de lado os problemas que a afligem. Quando Cristo instituiu a Santa Ceia fez menção 0àquilo que estava lhe acontecendo: a traição, a vitória da cruz que se aproximava, a promessa do futuro. Por isso ao participarmos hoje da Santa Ceia devemos trazer a realidade da vida. Esta realidade dá uma dimensão nova ao culto ao ser compartilhada entre os presentes e ao procurar-se o perdão, a renovação, a graça, o alimento, que permite continuar a proclamar a hora nova para os que ainda não a conhecem. Resumo O sermão, ato indispensável no culto, é a interpretação da Palavra de Deus. Mas se não for complementado pelos sacramentos, o valor do sermão se esvazia. Por isso, a pregação está vinculada à eucaristia, que desde os primeiros tempos do cristianismo é um dos pontos culminantes do culto.
  • 45. 45 A eucaristia é repartir o pão e também compartilhar as dores e alegrias da vida. É um momento de festa porque recebe-se o Senhor. Cristo é o criador da eucaristia e ordena a igreja que ministre-a regularmente. A Oração A oração é indispensável, não só à vida do cristão, mas também ao culto litúrgico. O Novo Testamento não cessa de exortar a sua prática (At 2.42), que foi ordenada expressamente por Jesus. Ela é, por conseguinte não a simples expressão de uma necessidade religiosa ou uma técnica mediante a qual o homem possa coagir Deus, mas sim um ato de obediência. Quando os discípulos interpelam Cristo sobre a oração, ele não se restringe a dar-lhes ensinamentos teóricos, mas ensina-lhes a orar o ‘‘Pai Nosso’’, ordenando-lhes que fizessem dela a sua própria oração. Por esse motivo, essa oração marcou, desde o início, a vida diária dos cristãos. A oração não é somente um ato de obediência, mas também, de fé e esperança, porque apressa a chegada do Reino de Deus. Com o senhor, aprendemos que a oração começa com o nosso ‘‘Sim’’ ao mundo de Deus: seu nome, seu reino e sua vontade. E no Espírito do ‘‘Seja feita a tua vontade’’ que pedimos perdão, o pão nosso de cada dia, o não cair em tentação. Fazer a vontade de Deus é o objeto central da oração. Nós não podemos nos associar ao mundo de Deus por conta própria. ‘‘Ninguém vem ao Pai
  • 46. 46 senão por mim’’, disse Jesus. Por isso, só há oração cristã feita em nome de Jesus. Por ser comunitária, a oração deve ser feita, sempre, usando o adjetivo nosso e não meu, nós nolugar do pronome eu. Por outro lado, deve-se evitar o uso de linguagem infantil, como por exemplo, paizinho no lugar de Pai, e também, não deve se usar uma linguagem bombástica, em tom de discurso. A oração, no culto, deve refletir os anseios e a ação de graças à Deus de toda a comunidade, razão pela qual deve-se evitar o uso de chavões e o tom professoral. Uma sugestão é de se preparar uma oração do culto em grupos que expressem os anseios, preocupações, alegrias e frustrações vividas concretamente na semana. Algumas pessoas evitam escrever orações para não cair no ritualismo, mas nota-se que quando não são preparadas prevíamente, as preces resvalam para a repetição de chavões sem significado. Aconselha-se uma preparação cuidadosa das preces. O estudo da oração dos grandes homens de Deus pode ajudar o cristão a compreender a grandeza e o valor das orações. A leitura de livros devocionários e o costume de se indagar sobre as necessidades comunais, ajuda a preparação das preces que se pretende fazer no culto. As orações devem ser compreendidas pela congregação e trazer as necessidades dos membros da Igreja. Elas devem ser definidas, concretizando as necessidades das pessoas. Há diversas formas de orações cultuais:
  • 47. 47 • Existem as coletas, orações breves e precisas que ‘‘recolhem’’ as necessidades da Igreja e do mundo, apresentandolhes a Deus, que as recebe em nome do Filho. • A litania, outro tipo de oração, é uma intercessão em favor da Igreja, do mundo e seus governantes e de todos os que estão cansados, aos quais o Salvador veio aliviar. Essa oração se apresenta, tradicionalmente, em três formas: o celebrante a pronuncia e o povo se associa em silêncio; pode ser rezada por dois oficiantes, ou o oficiante anuncia o tema em forma de exortação e, após um momento de silêncio, o povo responde ‘‘Senhor, tem misericórdia’’. Resumo A oração é indispensável, não só à vida do cristão, como ao culto litúrgico. O culto não pode prescindir da oração. A oração não corresponde a uma simples expressão de uma necessidade religiosa. É um ato de obediência, de fé e de esperança. O cristão deve orar ao Pai através de seu filho. A oração deve refletir os anseios e a ação de graças à Deus de toda a comunidade. Deve ser compreendida pela congregação e trazer as necessidades dos membros da Igreja. Há várias formas de orações cultuais: as coletas, orações breves e precisas que ‘‘recolhem’’ as necessidades da Igreja e do mundo. Outro tipo de oração é a litania, uma intercessão em favor da Igreja, do mundo e seus gover-
  • 48. 48 nantes e de todos os que estão cansados, aos quais o Salvador veio aliviar.~ Confissão de Fé É o elemento pelo qual a Igreja se compromete com o serviço de Deus no mundo, declarando-se disposta a enfrentar todas as conseqüências dessa confissão, inclusive a final, isto é, morrer pela fé. A palavra credo não significa simplesmente ‘‘eu admito aquilo que vou enumerar’’, mas ‘‘eu arrisco minha vida por aquilo que vou enumerar’’. Poder-se-ia dizer que no Credo a igreja dá a si mesma a palavra que recebe, tal como na comunhão eucarística ela se dá àquilo que se entregou por ela. É um ato tão importante que não permite improvisações e deve ser proclamada por toda a comunidade com voz audível e em tom de testemunho, com os olhos abertos, olhar para a frente, testemunhando a crença professada pela Igreja. Pode-se professar a confissão de fé através de credos escritos por outras igrejas cristãs. A Igreja Metodista tem usado o ‘‘Credo da Coréia’’. O credo deve ser proferido antes da Santa Ceia, depois da confissão, num momento onde a igreja já perdoada deve proclamar aquilo que crê ao mundo. Hinos e Cânticos A Igreja sempre fez uso de hinos e cânticos no culto, o que evidência a sua importân-
  • 49. 49 cia, além das referências a eles encontradas no Novo Testamento que demonstram serem os hinos e cânticos formas de oração provenientes do coração humano e da inspiração do Espírito Santo. A história da hinologia apresenta épocas de glória e de decadência, de movimentos de renovação, de falsas inovações e de necessárias retificações da música sacra. Demonstra também, que a produção de hinos serve de indicador fiel da vida da igreja. e podendo, por vezes, tornar-se fonte de vitalidade espiritual quando o pensamento teológico se torna vazio e esclerosado. Pode-se distinguir diversos tipos de hinos: cânticos de aclamação e de confissão, como o ‘‘Amém’’, ‘‘Aleluia’’, ‘‘Santo-Santo” , e ‘‘Glória’’; cânticos de meditação que servem de elo entre a leitura e a oração; e cânticos de ação de graças. Os cânticos têm um elemento litúrgico que reflete e proclama a teologia, a fé e a esperança da igreja, por isso os hinos não devem ter letras muito subjetivas ou refletir um estado emocional particular. Os hinos refletem o pensamento da igreja, por isso deve-se estimular a criação de novos cânticos que traduzam a época vivida pela comunidade de fé. Temos atualmente novos hinos, como o hinário há pouco publicado A Nova Canção, e outros criados pela juventude. Testemunhos Litúrgicos da Vida Comunitária O texto já citado de Atos diz: ‘‘perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comu-
  • 50. 50 nhão’’. Comunhão (Koinonia) pode-se dizer que é a contribuição para o sustento dos pobres, as exortações, as admoestações mútuas, as antífonas, os anúncios, o ósculo da paz. Todos esses elementos eram testemunhos da comunidade cristã. A oferta, dentro da perspectiva do culto cristão, é um sinal efetivo da oferenda dos fiéis ao serviço de Deus, razão pela qual não pode ser monopolizada. A oferta não é apenas um elemento material mas, também, um sinal de fraternidade e unidade cristã. A oferta objetiva auxiliar a Igreja a viver nesta fraternidade, nessa dimensão humana de atender à missão e promover a ação social em favor daqueles que têm pouco ou nenhum recurso. O ósculo (beijo) da paz, prática apostólica que caiu em desuso, pode ser restaurado através de um aperto de mão ou um abraço, e desejo de paz de Deus entre os membros da comunidade. O orgulho, as ais, desapareceriam to, razão pela qual da comunidade seria diferenças sociais e racidiante do encontro de Criseste elemento de testemunho muito importante. Assim como Deus esteve presente em Cristo, mostrando-se, também, através dos seus gestos, é desejável que incorporemos nossos gestos, nosso andar, nosso assentar, etc., na celebração que fazemos. Celebrar a vida é ir concretamente ao outro. Os testemunhos de experiências pessoais que possam apresentar algo de positivo para a comunidade, também podem ser utilizados. O oficiante, conhecedor desses testemunhos saberia utilizá-los adequadamente, sem entretanto, fa-
  • 51. 51 zer uso disso com muita freqüência, para não cair numa rotina prejudicial. Para evitar isso, poderia se restaurar esse testemunho de uma maneira mais criativa. Um elemento comunitário importante são os anúncios e avisos que devem fazer parte da ordem do culto, colocando, de preferência, logo após a pregação ou antes da oração de intercessão, dando a esta algo de concreto. Isso significa que nascimento, morte, alegria, e tristeza, enfim, a experiência de cada um ou as realizações comunitárias, como culto, encontros, devem ser trazidas à vida, porque são elementos reais da existência e portanto devem servir de elemento de oração e de testemunho do povo. Mas é preciso cuidado. Deve-se evitar anúncios que podem aparecer no jornal, no boletim ou anunciados, com melhor propriedade, nas reuniões das diferentes sociedades. No culto devem aparecer os anúncios que são essenciais ao desenvolvimento da comunidade, ao testemunho e às orações que devem ser dirigidas em torno desses anúncios. A Estrutura do Culto e Renovação Litúrgica A estrutura da ordem do culto pode ser um elemento de renovação litúrgica da Igreja: vimos que a passagem de Isaías, cap. 6, pode e tem servido de base para a estrutura cultual. Assim, teríamos a visão como primeira parte dessa estrutura; depois a confissão e o perdão que Isaías recebeu e o louvor em resposta ao perdão. Em seguida a instrução quando ele recebe a missão de ir ao povo como profeta e, finalmente, a dedicação dele e a benção.
  • 52. 52 Apareceriam assim, na primeira parte - a visão - a possibilidade do convite, a adoraçãoa leitura do salmo, a oração evocativa, a epiclessis, o hino de adoração, a oração de reconhecimento da presença divina ou de adoração. Na segunda parte teria lugar a confissão, que falta em muitos cultos. Na confissão, nós nos medimos a partir da Palavra de Deus. Aquele que organiza o culto poderá sempre propor um trecho da Palavra que oriente a confissão da congregação. Esta poderia ser uma oração pública ou silenciosa, um hino de confissão, uma leitura responsiva de salmos de confissão ou de textos que falam da fraqueza humana. Segue-se o perdão que poderia ser em forma de leitura, hino, ou declaração de perdão. Depois tem lugar o louvor, quando a congregação exulta em gratidão e louvor pelo perdão recebido. Nesta parte haveria a leitura de um salmo, um cântico ou oração de ação de graças, hinos de aleluia. O momento da instrução é um dos mais críticos do culto. O pregador pode ser tentado a propor apenas suas idéias. A congregação pode ser tentada a ouvir simplesmente um belo discurso. Como cremos que o Espírito é o que vivifica o culto, atualizando-nos a salvação, ele deve ser invocado para que o testemunho humano seja vivificado, isto é, se transforme em palavra de salvação. Esta oração, chamada epiclesis, pode ser feita na forma de um hino ou coro, ou uma simples oração. Não se deve esquecer da leitura bíblica na qual se baseará o sermão ou mensagem. Finalmente, existe a dedicação, onde aparecem os hinos de consagração, a parte intercessória, os avisos, a oração de consagração e
  • 53. 53 também a comunhão, quando o povo se dedica a Cristo e se compromete com sua missão. Finalizando, vem a bênção apostólica. Além dessas possibilidades, há outras modernas e mais enriquecedoras, baseadas no Evangelho, cuja estrutura lembra a do culto. Na primeira parte teríamos a encarnação de Cristo, onde sua presença e comunhão com os homens seria o ponto de celebração de gratidão. esta presença deve ser invocada através de uma oração ao Espírito (Epiclesis). Em seguida vem o batismo de Cristo onde aparecem a confissão e a busca de fé e da reconsagração; depois têm lugar a expiação e ressurreição, representadas na Santa Ceia. Finalizando, tem lugar o discipulado de Cristo, o envio ao mundo, quando Jesus diz aos discípulos que eles têm todo o poder e devem ir para pregar e batizar. Outra possibilidade e estrutura do culto é baseada nos três passos ou pilares fundamentais da história da redenção - criação, queda e reconciliação. Na parte da criação apare a manifestação da grandeza do Ccriador, da diferença que existe entre criador e criatura, e a alegria na presença do Criador e de sua direção no mundo. À segunda parte, a queda, corresponde o afastamento do homem de seu Criador, quando sente toda a tragédia de seu pecado e vê as possibilidades e a necessidade da busca de Deus. O terceiro passo - a reconciliação - quando o homem vê na promessa do Antigo Testamento, a vinda de Cristo, a resposta para o pecado. Nesta parte entrariam as leituras do Antigo
  • 54. 54 Testamento, as Epístolas, a pregação, a eucaristia e a Missão. Podemos dividir o culto, de uma forma abreviada, em quatro passos: 1º - a celebração da glória e do poder de Deus; 2º - a liberação, a confissão e o perdão; 3º - a instrução, onde apareceriam o mestre e o Espírito Santo; 4º - a comunhão, onde sobressaía o Salvador. O mais importante em toda essa estrutura é a participação do povo nas partes mais acessíveis, razão pela qual devem usar-se orações, hinos e expressões inteligíveis para a comunidade. Para isso há necessidade de se conhecer os elementos cultuais da comunidade a elaborar hinos e orações de acordo com essa realidade cultual para que o povo tenha uma participação efetiva e total. Isto não quer dizer que os elementos universais do culto cristão devem ser colocados de lado; naturalmente, deve-se criar instrumentos para a participação da congregação, mas sempre coordenados com os aspectos históricos e teológicos do culto cristão. Quem elabora a ordem do culto e decide o que o mesmo vai ser são os ministros, que devem se preparar com muito cuidado. O oficiante, deve, também, deixar ao povo, a possibilidade de desenvolver a sua criatividade.
  • 55. 55 Celebração dos Sacramentos É necessário agora darmos uma orientação geral sobre a maneira de se celebrar os sacramentos da igreja, que são o batismo e a eucaristia. Batismo O batismo está ligado à fé, e é a marca, o selo do cristão, a sua ordenação para missão. É um sacramento que se relaciona com a fé dos pais e testemunhas do batizando, os quais assumem o compromisso de educar a criança no Evangelho, até que ela mesma possa fazer a sua profissão de fé. O batismo é um ordenação de todos os discípulos para a Missão. Por isso, na estrutura do culto, ele deve vir sempre na primeira parte, isto é, na parte chamada de culto dos iniciados ou catecúmenos. Por marcar o início da vida cristã, este sacramento se coloca onde está no Evangelho o batismo de Jesus, no chamado dos discípulos, após a parte da visão da celebração ou depois da confissão, antes da pregação e da Santa Ceia. No batismo deve aparecer, claramente, a confissão de fé por parte de toda a Igreja, através do credo apostólico, ou de orações nas quais os participantes, diante de Deus e dos presentes, assumam um compromisso de testemunhar e ajudar os batizandos a crescerem na graça e no conhecimento de Cristo. Outro elemento que deve aparecer no batismo é a epiclesis, a oração que invoca a presença de Jesus e pede que ele seja o dirigente, o
  • 56. 56 que vai dar sentido ao batismo, através da água e do Espírito. Finalmente, aparece a recepção do corpo de Cristo em que o compromisso da comunidade reflete o batismo. Por isso este sacramento não é de cunho individual, e só deve ser ministrado particularmente em casos extremos, na iminência de morte. Mesmo assim, sempre que possível, deve ser feito na presença de dois ou três membros da comunidade. Santa Ceia O enfoque desse sacramento é a morte e ressurreição de Cristo e, consequentemente, a morte e ressurreição do participante. Isto significa que aquele que vai participar da morte de Cristo morre para o pecado e ressuscita numa nova vida em Cristo. O centro da eucaristia é a celebração da vida, portanto, a alegria deve estar presente, porque o Senhor venceu o pecado e a morte, e está vivo, presidindo este sacramento, oferecendo, como o anfitrião da ceia, o alimento que assinala o fato de pertencermos à Nova Aliança, ao novo mundo, ao reino. Por isto, a Ceia é uma celebração de toda a comunidade beneficiada pelo novo pacto. A Santa Ceia tem uma dimensão que aponta para o passado, quando Jesus diz: ‘‘Fazei isto em memória de mim’’. A vida de Cristo é relembrada na dimensão presente quando o cristão participar do amor, da graça e da comunhão com seus irmãos. Não existe Santa Ceia sem comunhão ou fraternidade, que nasce do aceitar o outro, do perdão, da recepção do outro. Por isso é um mo-
  • 57. 57 mento propício para o cristão perdoar os seus semelhantes. A Santa Ceia tem, também, uma dimensão do futuro, pois, ao constituí-la, Jesus disse: ‘‘porque vos digo que já não beberei do fruto da vida até que venha o Reino de Deus’’. Aí, o futuro invade o presente e o presente é içado para o futuro do Reino, porque fomos admitidos à Nova Aliança do Reino. Na Ceia celebramos nossa condição de herdeiros de um mundo novo, mundo futuro que já principia no nosso presente concreto. Deve-se iniciar a Santa Ceia com a epiclesis para se evitar a possibilidade de se encarar aquela celebração como algo mágico, ou seja, que a simples e correta repetição das palavras de Jesus que instituíram a Ceia, confira a garantia de que estaremos celebrando a vida. Pela epliclesis invocaremos o Espírito para que, por sua graça, aquele ato comum de vida se transforme numa participação real à vida de Deus. Portanto, a eucaristia é um convite de Cristo à comunhão, à nova vida, à participação ao Reino de Deus. O Espírito invocado atualizará, através dela, a morte e a ressurreição de Cristo em nosso favor. É por causa desta morte e desta ressurreição que Deus estabeleceu a Nova Aliança com os homens. Neste evento, os hinos e as orações devem refletir a alegria da ressurreição de Cristo. Participando da morte através do pão e do Reino através do cálice, somos enviados para o mundo testemunhar nossa fé. O Ano Litúrgico
  • 58. 58 Desde a sua fundação, a igreja atribui a certos domingos e às semanas por eles iniciadas, um colorido especial e intenção memorial específica. Estes domingos formam o ano litúrgico ou eclesiástico. O ano litúrgico é um plano de adoração que se baseia nos grandes temas da história da salvação, especialmente no Evangelho, na vida de Cristo. De acordo com o plano, os textos mais expressivos da Bíblia se sucedem a cada domingo. Estes textos bíblicos formam o lecionário, que é um plano organizado de leituras bíblicas, incluindo lições do Antigo Testamento, das Epístolas e do Evangelho. Os textos bíblicos são arranjados de maneira que permitam enfatizar certos eventos da história da salvação. O ano litúrgico não é obrigatório na Igreja Metodista como não o é em muitas outras. É assim porque nós adoramos a Deus e não uma estrutura. A comemoração do ano litúrgico é importante porque permite reviver os principais eventos da história da salvação, desde a criação até o Apocalipse. Também evita a repetição desnecessária, por parte dos dirigentes do culto e da congregação, de trechos prediletos que focalizam apenas alguns aspectos da revelação. Há diversas maneiras de se estruturar o ano cristão. Falaremos da estruturação cronológica que permite conhecer a história da salvação desde a criação até a consumação do Reino de Deus. A primeira estação do ano litúrgico é a Criação. Esta época se comemora no período que
  • 59. 59 vai do 13º domingo antes do Natal até ao 4º domingo antes do Natal e se estrutura no Antigo Testamento. Na criação se procura ver a ação de Deus no mundo, na criação do homem, na sua providência. Nesta estação dá-se ênfase aos textos bíblicos sobre o chamado de Abrahão, sua promessa, a formação do povo de Israel, a escravidão e a libertação, a Aliança, o povo peregrino e de modo especial os profetas. A segunda estação é o Advento - quatro domingos antes do Natal. Nessa época enfatizarse-ia a profecia que prepara a vinda de Jesus Cristo. Outra quadra é o Natal quando se celebra a encarnação de Jesus Cristo, o nascimento do Filho de Deus, que veio participar da natureza humana. É bom lembrar que a festa de Natal não substitui o culto de Natal, o qual é importante porque focaliza a encarnação de Cristo. Segue-se a Epifania. Nesta estação é celebrada a revelação universal de Jesus Cristo, a manifestação do Salvador de todos os homens. Nesta época é comemorada a manifestação de Jesus aos homens sábios (magos) do oriente, no dia 6 de janeiro, quando se inicia este período. Além disto, nessa ocasião celebra-se também a apresentação de Jesus ao mundo, desde sua infância até o início de sua missão, passando pela sua circuncisão, a apresentação no templo, a visita ao templo, o batismo de Jesus, o milagre de Caná, a cura dos cegos, a tempestade acalmada. O número de domingos dessa fase varia de acordo com a Páscoa, pode ser de quatro a nove domingos.
  • 60. 60 A quinta estação é a Quaresma que começa na quarta-feira de cinzas e termina domingo de Ramos. São seis domingos nos quais se recordam a decisão de Jesus em oferecer sua vida e a necessidade do discípulo tomar a cruz e seguir Cristo no caminho do sacrifício. Recorda-se nessa época, a parábola da semente que morre para frutificar. Contudo, não é uma estação onde se faz penitência por amor à penitência, mas antes, a Quaresma, na sua obra de disciplina está para a paz e para o Pentecostes, assim como a convicção do pecado está para a redenção. A sexta quadra do ano litúrgico é a Páscoa e Ascensão. Tem início na Semana-Santa, na quarta-feira, quando se comemora o lava-pés. Na quinta-feira se comemora a última ceia; na sexta-feira, a morte e, no domingo, a Ressurreição. A Páscoa deve ser a celebração mais cuidadosa e significante do calendário cristão. É o ponto alto do ano litúrgico, porquanto, é o evento central do cristianismo - a morte e ressurreição de Jesus. Ela dura do domingo da ressurreição até o 6º domingo seguinte. No 6º domingo após a Páscoa a Igreja se prepara para Pentecoste, lendo e meditanto os capítulos 1416 do Evangelho de João e Atos 1. A última quadra é o Pentecoste, a segunda festa cristã em significado. Poderia se incluir nesta fase a igreja no Reino de Deus. Esta comemoração é importante porque se celebra a atualização da presença de Cristo no mundo através do espírito e a inauguração da igreja.
  • 61. 61 A celebração do Pentecoste começa no sétimo domingo após a Páscoa e se prolonga até três domingos antes do início do tempo da criação, ou 16 domingos antes do Natal. São relembradas a Igreja, a palavra, os sacramentos, a atuação do Espírito através da Igreja. O calendário litúrgico termina com os três domingos nos quais se celebram a escatologia, isto é, os últimos dias. Neste três domingos focaliza-se, respectivamente, a remissão dos pecados, a ressurreição geral e a vida eterna. Sugerimos que cada igreja programe seu ano litúrgico a parir de setembro, quando se comemora a criação. Os símbolos no Culto Cristão Para finalizar mencionaremos a importância dos símbolos no culto, os quais apontam para a realidade que está atrás deles mesmos. Através dos símbolos conhecemos o sentido e o significado das coisas materiais que utilizamos em nosso culto. Começamos dizendo que o lugar onde adoramos a Deus, o próprio templo, tem um sentido e uma significação simbólicos. A arquitetura da igreja deve significar algo de muito importante para a comunidade que ali adora. Podemos falar da autenticidade do material que é utilizado; a colocação dos móveis, o simbolismo da luz e das cores. Todos esses elementos simbólicos têm um significado especial dentro do culto cristão. Consideramos, porém, só o simbolismo das cores. As cores sempre foram um importante meio de comunicação. A Igreja sempre as usou para
  • 62. 62 dar o tom à sua celebração. Assim, termos o verde para a fase da Criação e o Pentecoste; o roxo para o Advento e Quaresma; branco e amarelo-ouro para o Natal, Epifania e Páscoa. No dia de Pentecoste deve-se usar o vermelho, e na Sexta-feira Santa usa-se a cor preta. No culto, Deus e o homem utilizam diversos elementos da linguagem litúrgica para comunicar a linguagem do culto. A voz, por exemplo, é um elemento utilizado na leitura, no sermão e nos cânticos. O sermão pode ser proferido em forma de diálogo, de história ou mesmo de forma poética, mas sempre através da voz. Da mesma maneira, a simbologia das cores, a arquitetura do templo e os arranjos dos móveis, tudo visa a uma linguagem litúrgica. Há, também, elementos visuais, como os boletins, fotos, projeção de diapositivos e filmes, colagens, representações teatrais simbólicas, enfim, vários elementos que podem ser usados com criatividade para a renovação da vida da igreja. Tudo isso, porém, só tem sentido na medida em que comunica a vontade de Deus e renova a vida da igreja. Estes elementos não são um fim de si mesmos, mas um veículo que pode ser utilizado pelo Espírito em favor de uma verdadeira renovação eclesiástica através do Culto. Resumo Para evitar a repetição de alguns trechos da Bíblia, aconselha-se instituir o calendário litúrgico que rememora a história da salvação em ordem cronológica, começando com a Criação e terminando na Ressurreição de Cristo. Isso da-
  • 63. 63 ria uma unidade temática ao culto e uma visão global da Bíblia. Para melhor compreender-se o culto, devese conhecer os símbolos usados na celebração do mesmo. Tudo é importante: a arquitetura do templo, os móveis, as cores usadas, a voz, a luz, os elementos visuais. Esses símbolos são importantes na medida em que permitem uma melhor comunicação entre Deus e o homem. B. A Liturgia Como Elemento de Renovação da Igreja O culto, por atualizar a história da salvação em favor do homem, por ser o resultado da presença vivificadora do Espírito que nos faz participantes da morte e ressurreição de Cristo, pode se transformar na base de renovação da igreja. Esta renovação pode se dar em várias direções. Em primeiro lugar, o culto faz reavivar a comunhão da igreja com Cristo, e isso dá a ela a consciência de ser o próprio corpo do Senhor. Por isso o culto é de suma importância para igreja. Onde ela estiver, onde ela se manifestar, o culto deve estar presente para permitir a sua constante reanimação como corpo de Cristo. Em segundo lugar, o culto é um veículo de renovação porque, no nível individual, ele cria condições para a renovação da fé pessoal. No culto, o cristão descobre sua própria história no resumo da história dos atos de Deus no mundo.
  • 64. 64 O culto, sendo a comunhão entre Cristo e os homens é uma atualização do batismo do cristão, isto é, através do culto revive-se a morte do homem com Cristo, para a velha vida e o velho mundo que estão marcados pela falência, pela importância e pela não-vida. Atualizando-se a morte com Cristo, atualiza-se o renascimento para o mundo novo, inaugurado através da ressurreição do Cristo. No culto, celebra-se a vida inaugurada na ressurreição e selada no batismo, redescobrindo no cristão, a condição de herdeiros do mundo novo, através da Nova Aliança de Deus. Esta Aliança faz reviver a condição de peregrinos, de povo em marcha, na história dos homens em direção ao Reino. Através da Aliança revive-se a esperança que acompanha o homem no seu dia-a-dia trivial e rotineiro. Um terceiro elemento ligado à renovação do culto é precisamente o seu vínculo com a criação de Deus e encarnação de Cristo. Por isso, deve-se destacar permanentemente a necessidade de se levar a sério o elemento material, corpóreo, no culto. Assim, a criação deve ser celebrada no culto (através das cores, do ritmo, da música, das flores, etc); o corpo do homem deve ser valorizado (através de movimento, gestos, etc); sobretudo o apelo para a presença do homem no mundo de Deus através do serviço ao homem necessitado, reverência ao mundo (preocupação como mordomia, ecologia, etc). Um quarto aspecto de renovação que o culto relembra que os cristãos possuem um ministério e que não há distinção de funções entre pastores e leigos para o cumprimento da missão. Reavivando o batismo, o culto possibilita a renovação dessa consciência missionária cris-
  • 65. 65 tã. Todos são batizados para o Reino que Deus está construindo juntamente com os homens. Por isso, o culto deve permitir o confronto entre a comunidade que o Cristão constrói com as próprias mãos e o ideal futuro do Reino de Deus. O culto permite, por uma razão, a crítica da vida individual e comunitária. Questiona-se se a vida íntima e familiar de cada um deve ser decidida pelo indivíduo ou se o ideal de vida do Reino e da verdadeira vida que ele trará deve julgá-la. Revivendo o batismo e a ordenação para a missão, o culto permite ao cristão uma crítica do presente sem saída e uma reorientação de seu engajamento, sua luta, na direção da única opção definitiva: o futuro perfeito prometido no culto, em Jesus Cristo. Por esta razão, cada culto de hoje possui, como no Antigo Testamento, um colorido profético que lembra que a história vivida pelo homem não é o Reino e que os cristãos são responsáveis pelo aparecimento deste Reino na realidade de hoje, nos níveis político, econômico e social. O culto, por ser o encontro com o Cristo vivo, é o termômetro que avalia a totalidade da vida cristã. A confissão de fé, as orações, a pregação, a eucaristia são feitas na presença do Senhor, que chama o homem para a vida e para o futuro. Através do culto, redescobre-se a missão, e o cristão é reorientado para ela, e é alertado para o fato de que a bênção de Deus sempre se destina a todas as gentes. Por tudo isso, o culto não pode ser somente um encontro social, um programa do pastor ou de algum grupo de i-
  • 66. 66 greja. Ele é um verdadeiro encontro entre os homens, por ser um encontro com a verdade. Ele será um programa na medida em que atualiza o verdadeiro programa, a história dos atos de Deus, que arranca os homens de suas vidas vazias para a verdadeira esperança. Ele pode ser um encontro, porque é a celebração alegre da própria vida. ANEXO I - PASSOS NA ELABORAÇÃO DE UMA ORDEM DE CULTO • CELEBRAÇÃO • DA GLÓRIA E O PODER DE DEUS • LIBERAÇÃO • CONFISSÃO, PERDÃO E COMPROMISSO • AFIRMAÇÃO • DA COMUNIDADE CRISTÃ • INSTRUÇÃO • O MESTRE É O ESPÍRITO SANTO Extraído de um folheto escrito pelo Prof. Pablo Sosa ANEXO II
  • 68. 68 ANEXO III SÍMBOLOS DO ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS 1. Pomba com ramo de oliveira - às vezes usado como símbolo do dilúvio. Significa paz, perdão, e a promessa da vida nova. 2. Altar do sacrifício - o altar com o cordeiro morto indica o caráter sacrificial da adoração do A. T.; ao cristão sugere o caráter sacrificial da vida e ministério de Jesus. 3. Rolo e feixe de trigo - símbolos da festas de Pentecostes, festa esta que ocorria ao final da colheita de trigo e, mais tarde incluía a comemoração da entrega da Lei no Sinai. 4. Verga e umbrais - a verga e umbrais, respingados de sangue, são o símbolo de proteção de Deus no Egito quando passava o anjo destruídos - fator central da festa da Páscoa. 5. Tábuas da Lei - representadas por uma tábua de pedra dupla; forma adotada pela maioria das igrejas protestantes. 6. Castiçal de sete braços - é um símbolo de adoração do AT; conhecido como Menorah, é usado hoje nas sinagogas judaicas. 7. Altar dos holocaustos - altar sobre o qual as ofertas das primícias e cereais eram queimadas. Também símbolo da adoração do A.T. 8. QUI - RHO - monograma das primeiras letras QUI e RHO, da palavra grega ‘‘Cristo’’. 9. Alfa-Ômega - a primeira e a última letras do alfabeto grego, significando que Jesus Cristo é o começo e o fim de tudo (Apocalipse 1.8).
  • 69. 69 10. Jesus Cristo Vencedor - Consta da cruz grega com abreviações das palavras gregas Jesus (IC) e Cristo (XC) e ainda a palavra Nika (vencedor) 11. QUI-RHO com Alfa e Ômega num círculo - o símbolo do Cristo está dentro do símbolo da eternidade (círculo), assim significando a existência eterna do nosso Senhor. 12. Monograma de Jesus - formado pelas primeiras duas e última letras d apalavra Jesus, no grego com sinal de abreviação. 13. Cruz na forma de âncora - usada pelos cristãos nas catacumbas; de origem egípcia. 14. A Cruz do triunfo - símbolo do triunfo do Evangelho por toda a terra. 15. Três círculos - representam as três pessoas eternas da Santíssima Trindade. 16. Cruz e túmulo vazio - simboliza a morte sacrificial de Cristo e sua vitória sobre a morte na ressurreição. ANEXO IV ARRANJOS DOS MÓVEIS NA IGREJA Abreviações: M = Mesa de Comunhão; P = Púlpito; L = Lectório; B = Batistério; Ó = órgão. 1. CULTO FORMAL - Todos os móveis são portáteis, talvez, com exceção do órgão. A ênfase é sobre a mesa, o púlpito e o batistério. 2. BATISMO - O pastor e a pessoa a ser batizada ficam de pé no mesmo nível do santuário (chamado coro) a fim de que a cerimônia seja
  • 70. 70 vista pela congregação. Os pais e testemunhas permanecem de pé diante do batistério, mas no nível da nave (onde está a congregação). 3. COMUNHÃO - A Santa Ceia é servida pelo pastor para a congregação enquanto as pessoas permanecem de pé ao redor da mesa. 4. COMUNHÃO - A Santa Ceia é servida pelo pastor num genuflexório portátil. 5. COMUNHÃO - A mesa da Santa Ceia é removida para a nave com os comungantes ao redor. O púlpito é colocado no centro. A ceia põe ser servida de pé ou usando genuflexório portátil ou ainda com almofadas. 6. CASAMENTO - A largura do corredor central e da frente é aumentada a fim de permitir espaço para os noivos, testemunhas e o pastor. Um genuflexório é usado. 7. FUNERAL - A largura do corredor central é aumentada para permitir a movimentação com o caixão fúnebre que será colocado na frente como indicado no desenho. 8. RECEPÇÃO DE NOVOS MEMBROS - Os que vão ser recebidos à comunhão da Igreja permanecem junto ao genuflexório. O mesmo arranjo pode servir para o culto de confirmação. 9. REUNIÃO DE EVANGELIZAÇÃO - A congregação se reúne em frente ao púlpito que fica ao centro. O coro se reúne atrás do púlpito. A mesa da comunhão e genuflexório ficam diante do púlpito. 10. APRESENTAÇÃO CORAL - O coro é reunido na plataforma olhando para o regente e a congregação. Programas especiais do coro, can-
  • 71. 71 tatas, oratórios, etc, podem se servir deste arranjo. 11. CONCERTO - Espaço amplo fica disponível neste arranjo para instrumentos de maior porte como o piano. 12. DRAMA - A plataforma (ou coro) serve como palco para drama, festas de natal, representações de Escola Dominical. Neste caso o órgão fica escondido. 13. DRAMA - A área teatral fica no centro da nave. Assemelha-se ao teatro de arena. 14. GRUPO CORAL - Para comunidade ou grupo de cantores. neste caso a congregação se reúne ao redor do piano e do regente. 15. AUDIO-VISUAL - A tela é localizada na plataforma para que a maioria das pessoas fique dentro de um ângulo visual de 60º. Além deste ângulo, a imagem se torna distorcida. 16. ENCONTROS - Nesta ilustração duas mesas são colocadas no centro da Plataforma com os líderes sentados atrás das mesas. Este arranjo é usado para debates, palestras ou encontros comunitários. Extraído de God’s Party.David James Randolph. New York, Abingdon Press, 1975. p. 129-31.
  • 72. 72 BIBLIOGRAFIA ALBRIGHT, W. F. From the stone age to christianisty. Baltimore, The John Hopkins Press, 1957. ALLMEN, J.J. Von, O Culto Cristão. São Paulo, ASTE/Imprensa Metodista, 1968. BORNKMAN, G. Jesus de Nazaré. Petrópolis, Vozes, 1975 (trad. de Jesus von Nazareth, W. Kohammer Gmbh, 1956, por J.S. Gonçalves). BULTMANN, R. Le christianisme primitif. Paris, Payot, 1969. BUTRICK, G.A. (Ed.). The Interpreter’s Bible. New York, Abingdon-Cokesbury Press, 1952. C.M.I., Uma igreja para o mundo, Edições Oikoumene (trad. J. C. Maraschin). CULMANN, O. La foi et le culte de l’église primitive. Neuchâtel, Delachaux et Niestlé, 1963. HAHN, C.J. Cultos Evangélicos no Brasil: sua origem e desenvolvimento (tese de doutoramento). HARDIN, H.G., The celebration of the gospel. New York, Abingdon Press, 1964. KIRKPATRICK, D. (Ed.). The Holy Spirit, Nashville, 1974. LEENHARDT, F. Le sacrement de la Sainte Cêne. Neuchâtel, Delachaux et Niestlé, 1948. RANDOLPH, D.J., God’s party. New York, Abingdon Press, 1975.
  • 73. 73 SIMPÓSIO Nº 11, ASTE, São Paulo, Imprensa Metodista, 1973. SIMPÓSIO Nº 3, ASTE, São Paulo, Imprensa Metodista, 1969. WHRIGHT, G.E., O Deus que age. ASTE/Imprensa Metodista, 1967. São Paulo,