Matéria jornal o tempo - 02/04/17 - comida de verdade 1
1. ¬ LITZA MATTOS
¬De repente, fazer compras num
supermercado para abastecer a
despensa ou se servir num restau-
rante virou uma missão quase im-
possível. Contar calorias, seguir a
dieta da moda, verificar os rótu-
los, escolher os ingredientes com
propriedades específicas, tudo is-
sosetornouumaobsessãoqueaca-
boutirandoofocodoquerealmen-
te deveria compor uma alimenta-
ção saudável. O segredo passa por
regras muito mais simples do que
as que estamos praticando, dizem
os especialistas: consumir menos
produtosindustrializados (proces-
sados e ultraprocessados) e optar
pela “comida de verdade”.
O cardápio diário ideal de uma
pessoa sem intolerâncias ou aler-
giasalimentaresconsisteemarroz,
feijão, ovos, carnes magras (peixe,
frango, boi), salada (verduras e le-
gumes), frutas, grãos integrais, se-
mentes e derivados do leite. “Sim-
ples assim”, resume a nutricionista
Renata Rodrigues de Oliveira.
Planejar as compras e organi-
zar a rotina para ter sempre uma
refeição à mão na geladeira facili-
ta muito o dia a dia. “Deixar car-
nes e sopas prontas e congelar, ter
sempresementese frutassecas,fa-
zer uso de bons carboidratos, co-
mo arroz integral, batata-doce,
macarrão integral, não é difícil.
Excluiro açúcar, diminuir as fritu-
ras e usar mais o forno, beber me-
nos sucos industrializados são di-
cas importantes”, orienta.
A especialista alerta ainda sobre
os alimentosque nos enganamcom
uma proposta saudável. A maioria
dos pães integrais embalados, por
exemplo,temaçúcaremsuacompo-
sição.Mas,seapessoaconseguiren-
contrar um pão que não contenha
açúcar e seja 100% integral, certa-
mente será melhor do que o pão
branco.Oraciocínioéomesmocom
oiogurte. “Ofeitoemcasaésempre
melhor, pois não há corantes nem
conservantes,alémdesepoderfazê-
los,semaçúcar”,completaOliveira.
Dessa forma e aos poucos, se-
gundo a nutricionista, é possível
libertar-sedos maus hábitos e pas-
sar a ter à mesa “mais frutas e me-
nos biscoitos, mais arroz, feijão,
carne e legumes no lugar de san-
duíches(fast-foods) e comida con-
gelada (industrializada)”.
A segundo sargento do Corpo
de Bombeiros Militar de Minas Ge-
rais (CBM-MG) Viviane Campos,
39, adotou uma alimentação mais
saudável há dois anos, depois de
passar por um tratamento contra o
câncer. “Fui para 96 kg e, quando o
médico me liberou, resolvi mudar
por completo”, lembra. Ela come-
çoucortandooaçúcar,ehojenaco-
zinha não entram mais farinha
branca,refrigeranteefrituras.Osfi-
lhos ainda comem alguns biscoitos
epães,masaúnicacoisaindustriali-
zada que ela ainda se permite é o
chocolate. “Consegui passar para o
feito com 80% de cacau, mas tirar
por completoainda é difícil”, diz.
GRAVIDADE. Os maus hábitos, po-
rém, estão fortemente presentes
no país. Segundo o Ministério da
Saúde,52,5%dosbrasileirosestão
acima do peso ideal, e 17,9% so-
frem com obesidade – uma das ta-
xas mais altas do mundo. Parte do
resultado se deve ao crescimento
doconsumodeprodutosindustria-
lizados,comorefrigerantes,biscoi-
tos, carnes e embutidos, cujo au-
mento nos últimos anos foi de
mais de 400% entre os brasileiros,
conforme estudo da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp).
O desinteresse pela prática culi-
náriaeumafrequênciamaiordere-
feições feitas fora de casa também
são apontados como agravantes.
Para tentar evitar que as refeições
saudáveis virem coisa do passado e
que o cardápio do brasileiro conti-
nue mudando para pior, o ministé-
riocriouo“GuiaAlimentardaPopu-
laçãoBrasileira”,comdicasesuges-
tões para enfrentar os obstáculos
do cotidiano (leia o infográfico).
OUTRAS AÇÕES. Observar as reações
do próprio organismo e adaptar a
alimentaçãotambém são ações im-
portantes. Oestudante de paisagis-
mo e empreendedor Lucas Mou-
rão, 25, viu em sua condição de in-
tolerante à lactose e no projeto de
ser vegetariano a oportunidade de
melhorar as refeições. “Eu comia
muitosindustrializados,nãovalori-
zava frutas e verduras, e isso se re-
fletia na minha saúde. A partir do
momento em que parei de comer
carne, passei a valorizar, apreciar o
gosto e ver esses alimentos sob
uma nova perspectiva”, conta.
A experiência pessoal virou um
empreendimento. Lucas hoje ven-
de produtos doces, salgados e chás
feitos com Plantas Alimentícias
Não Convencionais (Pancs). “As
pessoasfalamqueeuusoingredien-
tes que remetem à infância, como
jatobá e tamarindo. São plantas
quejáforammaiscomunsanterior-
mente, e é uma forma de nos reco-
nectarmos com a terra”, acredita.
Paraajornalistaeempreendedo-
ra Paola Carvalho, 36, a “chavinha”
viroucomagravidez.Agorasuasre-
feições tentam obedecer à sazonali-
dade dos alimentos – ao contrário
de consumir tudo o que é oferecido
o ano todo nos supermercados –,
além de priorizar os orgânicos. “Os
alimentos perderam muito de seus
valores nutricionais e se tornaram
prejudiciais. Quando você compra
um morango fora de época, você
sente o gosto de agrotóxico. Conti-
nuo comendo bolo de chocolate,
mas agora feito com farinha inte-
gral,semaromatizantes,conservan-
tesouaçúcarbranco”,conta.
Deixedeladocalorias,dietasdamodaeindustrializados
einvistasimplesmenteemrefeiçõesricasemfrutas,
verduras,legumesegrãosintegraisparagarantir
umorganismoverdadeiramentenutrido
‘Comidadeverdade’éaregra
daalimentaçãosaudável
Mudança.
Lucas Mou-
rão, 25, per-
cebeu que
comer bem
é um investi-
mento na
saúde: “Com-
pro menos
remédios e
levo a vida
com mais
disposição”
interessa
DENILTONDIAS
JAQUES DIOGO
Maternidade.
Depois da gravidez
Paola Carvalho, 36,
começou a preocu-
par-se mais com os
ingredientes que
come. Ela não se
considera “extremis-
ta”, mas sempre que
possível busca op-
ções mais naturais
4 O TEMPO Belo Horizonte
DOMINGO, 2 DE ABRIL DE 2017
Tempo Livre|