1. Análise estrutural e síntese das características
lineares e sistêmicas de modelos
de desenvolvimento de produto1
Carlos Fernando Jung2
Carla Schwengber ten Caten3
Márcia Elisa Soares Echeveste4
José Luis Duarte Ribeiro5
Resumo
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa descritivo-explicativa,
de abordagem qualitativa, que teve por finalidade identificar e entender a
influência dos tipos de pensamento linear e sistêmico na concepção de 21
modelos de Desenvolvimento de Produtos (DP) e Processos de Desenvol-
vimento de Produtos (PDP). O trabalho teve como principais resultados:
(i) uma análise estrutural contemplando a identificação e classificação das
etapas metodológicas dos modelos em três fases: pré-desenvolvimento,
desenvolvimento e pós-desenvolvimento, tornando possível a oferta de um
referencial para futuras pesquisas na área; (ii) um quadro síntese relacio-
nando os modelos de DP e PDP com a existência de etapas metodológicas
nas três fases citadas anteriormente e as características lineares e sistêmicas;
e (iii) a constatação de que a existência da característica sistêmica de
“adaptatividade” em modelos de DP ou PDP indica que o modelo é mais
adequado à implantação do PDP em empresas de qualquer porte.
Palavras-chave: Desenvolvimento de produto; Pesquisa qualitativa;
Métodos; DP; PDP.
Abstract
This paper describes the results of a qualitative approach to research
designed to identify and understand the influence of linear and systemic
thought processes on the conception of 21 Product Development (PD) models
and Product Development Processes (PDP). The work produced two prin-
cipal results: (i) A structural analysis identifying and classifying the
methodological stages of the models in three phases - pre-development,
development and post-development - thereby providing a reference for future
research on the subject; (ii) a summary chart relating the DP and PDP with
the existence of the methodological stages in the three phases cited above
and the respective linear and systemic characteristics; and (iii) the conclusion
that the existence of a systemic characteristic of “adaptability” in PD or
PDP models confirms that such a model is the most adequate for the
implementation of PDP in industries of any particular size
Keyworks: Product development; Quality resource; Methods; DP; PDP.
1
Trabalho apresentado no VIII SEPROSUL – Semana de Engenharia de Produção Sul-Americana 13 e 14 nov. 2007. Bento Gonçalves, RS, Brasil
2
Doutorando em Engenharia, PPGEP/UFRGS, Coordenador do Curso de Engenharia de Produção, FACCAT . E-mail: <carlosfernandojung@gmail.com>
3
Doutora em Engenharia, PPGEM/UFRGS, Professora do PPGEP/UFRGS, Avaliadora da CAPES Eng. III. E-mail: <tencaten@producao.ufrgs.br>
4
Pós-Doutora em Engenharia, USP – Universidade de São Paulo Professora do PPGEP/UFRGS. E-mail: <echeveste@producao.ufrgs.br>
5
Pós-Doutor em Engenharia, Rutgers – The State University of New Jersey, Vice-Coordenador do PPGEP/UFRGS. E-mail: < ribeiro@producao.ufrgs.br>
Recebido em 01/2009 e aceito em 04/2009.
2. Jung, C., Caten, C., Echevest, M., Ribeiro, J.
1 Introdução metodológicas faz-se necessário a utilização
de modelos.
O desenvolvimento de novas tecnologias, Os modelos têm por finalidade a repre-
produtos e processos é foco de atenção da sentação dos conhecimentos, fenômenos e
maior parte das empresas e instituições de sistemas, constituindo a forma estruturada que
pesquisa no atual ambiente competitivo possibilita a compreensão de tudo aquilo que
(BUSS; CUNHA, 2002). Zuin, Dorna, Prancic, é descoberto e produzido em qualquer parte
Mergulhão, Alliprandini e Toledo (2003) afir- do mundo (FOUREZ, 1998). Bonsiepe (1978)
mam que, para as empresas, a necessidade afirma que um modelo metodológico não
do desenvolvimento de novos produtos tem deve possuir o fim em si mesmo e somente deve
auxiliado na busca por maior eficiência e ra- auxiliar no desenvolvimento de produtos atra-
pidez dos seus processos. vés da orientação durante o processo. Assim,
Clark e Whellwright (1995) destacam que é necessário que profissionais da área de enge-
o sucesso no desenvolvimento de produtos nharia do produto façam escolhas adequadas
consiste na eficaz integração multifuncional, de modelos metodológicos para Desenvolvi-
na coordenação entre atividades e tempo utili- mento de Produtos (DP) ou Processo de Desen-
zado para realização e na adequada escolha volvimento de Produtos (PDP), considerando
de um modelo metodológico para a gestão e o tipo de aplicação e porte da empresa.
desenvolvimento de produtos. Um importante fator que pode contribuir
Os modelos existentes para Desenvolvi- para a escolha de um modelo é o conheci-
mento de Produtos (DP) e Processo de Desen- mento das suas características lineares e sistê-
volvimento de Produtos (PDP) envolvem dou- micas. Por exemplo, um modelo linear propõe
trinas e conceitos que representam distintas a solução de problemas através de estratégias
visões de mundo. Buss e Cunha (2002) afir- que seguem em linha reta, em etapas sequen-
mam que as abordagens sobre os modelos ciais, não existindo feedbacks entre as etapas
referenciais para o desenvolvimento de produ- metodológicas (MUNIZ; PLONSKI, 2000).
tos encontrados na literatura são muitas vezes Geralmente, é caracterizado por quantificação,
desconexas e apresentam diferenças metodo- previsibilidade, regularidade e controle. Já em
lógicas em função das distintas visões dos um modelo sistêmico, as propriedades das
autores e das aplicações mercadológicas. partes devem ser compreendidas dentro de
Corroborando com essa afirmação, um contexto maior. As etapas do processo
Kasper (2000) afirma que os conceitos, defi- metodológico para gestão e desenvolvimento
nições e experiências assimilados ao longo são elaboradas a partir do entendimento das
do tempo formam um modelo mental a partir relações entre suas partes, conexões e interde-
do qual são desenvolvidos procedimentos pendências (FREITAS, 2005).
metodológicos e várias linguagens para des- Dessa forma, características lineares e
crever os fenômenos, situações e problemas. sistêmicas podem revelar a forma como os
Para Dutra e Nóbrega (2002), os modelos indivíduos entendem o mundo e elaboram
mentais podem afetar a percepção e as ações, métodos para o desenvolvimento de novos
porque influenciam a forma de visualizar o produtos e processos. Esses métodos, por sua
mundo. vez, podem influenciar o desempenho dos
Pahl, Beitz, Feldhusen e Grote (2005) processos de desenvolvimento nas empresas.
afirmam que uma Metodologia de Projeto Este artigo apresenta os resultados de uma
representa um conjunto de procedimentos pesquisa descritivo-explicativa, de abordagem
com indicações concretas para ações de pro- qualitativa, que teve por finalidade identificar
jeto e desenvolvimento de sistemas. Assim, e entender a influência dos tipos de pensa-
para ser possível representar, visualizar, co- mento linear e sistêmico na concepção de mo-
municar e executar um conjunto de regras delos de DP e PDP. O artigo está organizado
104 Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 10, n. 13, p.103-114, jan./jun. 2009
3. Análise estrutural e síntese das características...
conforme segue: a seção 2 apresenta o refe- como termos equivalentes, pois se concentram
rencial teórico; a seção 3 apresenta o método em relações de causa e efeito. Um modelo
utilizado na pesquisa; a seção 4 contempla uma linear está restrito a situações em que há: (i)
análise estrutural a partir da identificação e razoável grau de estruturação dos problemas;
classificação das etapas metodológicas de 21 (ii) razoável estabilidade do sistema; (iii) baixo
modelos de DP e PDP em três fases: pré- grau de complexidade dinâmica e (iv) baixo
desenvolvimento, desenvolvimento e pós- grau de influência das percepções de dife-
desenvolvimento; a seção 5 apresenta um rentes indivíduos a partir de distintos inte-
quadro-síntese, relacionando os modelos com resses. Esse autor ressalta que um modelo
a existência de etapas metodológicas nas três linear se concentra nas propriedades estáticas
fases citadas e características lineares e sistê- e estruturais do processo.
micas. Finalmente, a seção 6 traz as conclu- Viana (2007) afirma que um modelo
sões do estudo. linear é baseado principalmente numa expe-
riência anterior, num padrão ou modelo pré-
2 Revisão teórica estabelecido ou num conhecimento especí-
fico assimilado. Corroborando, Grizendi (2007)
diz que esse modelo possui uma visão associ-
2.1 Modelos de DP e PDP ada à obtenção de conhecimentos específicos
Um modelo de Desenvolvimento de Pro- relacionados apenas à produção pretendida.
dutos (DP) é formado por um conjunto de Um modelo linear baseado na formu-
etapas que possuem procedimentos destinados lação de leis tem como pressuposto a ideia de
a transformar informações sobre demandas ordem e de estabilidade do mundo, a mensa-
e oportunidades de mercado em especificações gem transmitida é de que o passado se repete
técnicas para a fabricação de um novo pro- no futuro. Pensar de maneira linear significa
duto (PAHL, BEITZ; FELDHUSEN; GROTE, enxergar o mundo da matéria como uma má-
2005). Modelos de Processo de Desenvolvi- quina, cujas operações podem ser determi-
mento de Produtos (PDP) são mais amplos, nadas exatamente por meio de leis físicas e
iniciam no planejamento estratégico do pro- matemáticas; um mundo estático e eterno, um
jeto, determinam o processo de gestão e de- mundo onde o racionalismo cartesiano torna-
senvolvimento do produto e, posteriormen- se cognoscível por via da decomposição dos
te, propõem o acompanhamento no merca- elementos que o constituem (SANTOS, 1988).
do e descontinuidade do produto (CHENG, Segundo Ackoff (1981), as principais
2000; ZUIN, 2004; TOLEDO; SIMÕES; características do pensamento analítico que
LIMA; MANO; SILVA, 2006). fundamentam a concepção de modelos line-
Corroborando essa diferenciação, Eche- ares são: (i) análise, (ii) reducionismo, (iii)
veste (2003) afirma que o Desenvolvimento determinismo e (iv) mecanicismo. No pro-
de Produtos (DP) está mais associado às ativi- cesso de pesquisa, a utilização da “análise”
dades tradicionais de engenharia – projeto, requer supor que todos os fenômenos simples
desenvolvimento e fabricação, enquanto o Pro- ou compostos podem ser entendidos pela
cesso de Desenvolvimento de Produtos (PDP) verificação separada das partes que os inte-
inclui todas as fases e atividades tanto do DP gram (CHECKLAND, 1994).
como aquelas relacionadas a gestão do pro- O “reducionismo”, principal legado da
cesso, marketing, comercialização, distribuição concepção cartesiana, estabelece que qualquer
e serviços pós-venda. fenômeno pode ser explicado partindo da aná-
lise de causas particulares em direção a cau-
2.2 Características de modelos lineares
sas mais gerais (ACKOFF, 1981). O “determi-
Andrade (2007) afirma que os modelos nismo” estabelece que todas as inter-relações
analíticos e lineares podem ser considerados entre os fenômenos podem ser reduzidas a
Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 9, n. 12, p. 103-114, jan./jun. 2009 105
4. Jung, C., Caten, C., Echevest, M., Ribeiro, J.
relações de causa-efeito simples, sendo que em Corroborando, Gramsci (1987) afirma que,
todo o universo cada efeito é visto como uma atualmente, as atividades humanas tornaram-
nova causa para a etapa seguinte (STEWART, se complexas, e é necessária a compreensão
1996). das partes e de suas interações para a solução
Rapoport e Hovarth (1968) afirmam que de problemas sociais, tecnológicos e de pro-
o “mecanicismo” considera um sistema como dução.
uma cadeia de eventos, onde cada compo- Checkland e Scholes (1990) afirmam
nente se relaciona de modo serial ou aditivo que existem três componentes constitutivos
contribuindo para o funcionamento do todo. que podem explicar um sistema: (i) elementos
Para entender o todo, basta compreender o inter-relacionados, (ii) estruturação em níveis,
funcionamento da sequência de ligações entre onde os elementos se comunicam através de
os componentes que formam o sistema. Para feedbacks e existem ações de controle e (iii)
Ackoff (1981), o pensamento analítico que capacidades adaptativas.
fundamenta um modelo linear considera um Corroborando, Kasper (2000) diz que um
sistema e suas partes como estruturas fechadas, sistema é composto por elementos ou objetos
redutíveis a relações de causa e efeito simples, inter-relacionados, existem processos de comu-
sem influências externas. nicação, controle e uma estruturação em níveis,
Desta forma, em modelos lineares ou possuindo propriedades emergentes e capa-
analíticos é possível encontrarem-se caracte- cidades adaptativas como características pelas
rísticas como: (i) a linearidade, (ii) a inter- quais pode ser identificado como um ente
relação de causa e efeito, (iii) o fechamento integral ou unidade complexa.
e (iv) a hierarquia. Para Furtado e Freitas Para Checkland (1994), um sistema é um
(2004), ao longo do tempo, modelos linea- todo estruturado em níveis e etapas que se
res mostraram-se limitados, devido a serem inter-relacionam pela ação, comunicação e
excessivamente mecanicistas. O principal controle que viabilizam a adaptação a um
fator que contribuiu para o insucesso desses ambiente em constante processo de mudança.
modelos foi a não consideração das variá- Senge (2004) considera que um modelo sistê-
veis sociais, que podem influenciar positiva mico pode identificar inter-relacionamentos,
ou negativamente no processo de desenvol- ao invés de eventos, para ver padrões de
vimento de novos produtos. Corroborando, mudança, em vez de recortes instantâneos.
Forrester (1961) apud Kasper (2000) afirma Uma organização ou modelo sistêmico
que modelos lineares são totalmente inade- pode ser identificado a partir dos pressupostos
quados para modelar as características de or- de: (i) circularidade e recorrência - implicando
ganizações e de processos sociais. existência de algum caminho circular entre
as etapas (feedbacks) e a recorrência dos pro-
2.3 Características de modelos sistêmicos
cessos que as realizam; (ii) hierarquia - que
Jordan (1974) afirma que um sistema é requer a existência de restrições às quais as
um conjunto de elementos unidos por algum diversas etapas e subsistemas estão subordi-
tipo de interação ou interdependência que nados, como parte de um padrão organizado
forma o todo. Um modelo sistêmico centra-se que auxiliam a formar; (iii) abertura e fecha-
no comportamento, na dinâmica do processo mento – que denotam a necessidade de um
e na função do geral do sistema (ALVES, 2007). conjunto de interações fechadas, mas com
Andrade (2007) diz que um sistema não abertura a trocas com o meio ambiente e (iv)
pode ser entendido apenas pela análise, mas adaptatividade – que busca a compreensão
exige um enfoque que segue do todo para das interações que geram as capacidades de
as partes através da síntese. A síntese não continuidade de entidades e fenômenos com-
gera conhecimento detalhado da estrutura do plexos, frente aos impactos das variações
sistema, mas fornece entendimento do todo. ambientais (KASPER, 2000).
106 Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 10, n. 13, p.103-114, jan./jun. 2009
5. Análise estrutural e síntese das características...
3 Procedimentos metodológicos volvimento e pós-desenvolvimento. A classi-
ficação proposta explicita as estruturas para
Os resultados apresentados neste traba- viabilizar a identificação das características
lho foram obtidos a partir de uma pesquisa lineares e sistêmicas dos modelos, conside-
descritivo-explicativa, com abordagem qua- rando seus parâmetros de entrada (pré-desen-
litativa. Diehl e Tatim (2004) afirmam que volvimento), internos (desenvolvimento) e de
esse tipo de pesquisa caracteriza-se pela des- saída (pós-desenvolvimento).
crição da complexidade de determinado sis- A identificação das etapas metodológicas
tema visando classificar e compreender os dos modelos de DP e PDP foi realizada a partir
processos dinâmicos que originam mudan- dos esquemas diagramáticos dos modelos
ças e o comportamento dos indivíduos em existentes nas bibliografias. Quando os esque-
função destas. mas não eram apresentados, as etapas foram
A amostra foi composta por 21 mode- identificadas diretamente pelas descrições tex-
los de DP e PDP selecionados entre diversos tuais. O trabalho foi baseado também nas classi-
modelos propostos entre 1962 e 2006 dos se- ficações propostas por Buss e Cunha (2002)
guintes autores: Asimow (1962), Archer (1968), e Romeiro Filho (2004).
Kotler (1974), Jones (1976), Pahl e Beitz (1977), A classificação das etapas em três fases
Bonsiepe (1978), Crawford (1983), Back (1983), considerou as propostas de Zuin (2004), Jung
Park e Zaltman (1987), Andreasen e Hein (1987), (2004) e Toledo, Simões, Lima, Mano e Silva
Suh (1988), Clark e Fujimoto (1991), Wheel- (2006), conforme quadro 1.
wright e Clarck (1992), Bürdek (1994), Roo- Nos quadros 2, 3 e 4, é apresentada a
zenburg e Eekel (1995), Prasad (1997), Dick-
son (1997), Kaminski (2000), Ulrich e Eppin- FASES CARACTERÍSTICAS
ger (2000), Pahl, Beitz, Feldhusen e Grote Planejar a estratégia do produto;
(2005) e Rozenfeld, Forcellini, Amaral, Tole- Definir o portfólio de produtos baseado no
Pré-
plano estratégico da empresa, nas ideias
do, Silva, Alliprandini e Scalice (2006). desenvolvimento
internas e oportunidades do mercado;
Inicialmente, foi utilizada a análise estru- Planejar o projeto.
tural. Foram identificadas as etapas metodo- Projetar o produto;
lógicas dos 21 modelos de DP e PDP, classifi- Determinar as especificações do processo de
produção, manutenção, vendas, distribuição,
cadas em função de três fases: pré-desenvol- assistência técnica e atendimento ao cliente;
vimento, desenvolvimento e pós-desenvolvi- Planejar e preparar a produção;
Desenvolvimento
Produzir lote piloto ou protótipo;
mento. Otimizar a produção ou protótipo;
Na sequência, foi realizada uma síntese Homologar processo de produção;
Produzir.
das características lineares e sistêmicas a partir
da interpretação qualitativa da estrutura metodo-
Comercializar;
lógica de cada modelo de DP e PDP. Distribuir;
A interpretação considerou a inter-relação Acompanhar o produto no mercado (avaliar
e monitorar o desempenho);
de causa e efeito, a abertura e fechamento, a Pós-
Identificar pontos fracos e fortes dos
desenvolvimento
linearidade, a circularidade, a hierarquia, a adap- processos e do produto;
Avaliar e registrar lições para futuras
tatividade e a relação das etapas metodoló- melhorias;
gicas dos modelos de DP e PDP com as fases Descontinuar o produto.
de pré-desenvolvimento, desenvolvimento e
Quadro 1– Características das fases de pré-desenvolvimento,
pós-desenvolvimento propostas. desenvolvimento e pós-desenvolvimento
4 Análise estrutural classificação das etapas metodológicas dos
21 modelos de DP e PDP em relação às fases
Esta análise teve por finalidade identificar de pré-desenvolvimento, desenvolvimento e
e classificar as etapas de 21 modelos de DP e pós-desenvolvimento.
PDP em três fases: pré-desenvolvimento, desen-
Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 9, n. 12, p. 103-114, jan./jun. 2009 107
6. Jung, C., Caten, C., Echevest, M., Ribeiro, J.
FASES FASES
MODELOS/ MODELOS/
AUTORES Pré-desenvolvim- Pós-desenvolvi- AUTORES Pré-desenvolvi- Pós-desenvolvi-
Desenvolvimento Desenvolvimento
ento mento mento mento
(i) Projetar
(i) Efetuar o projeto preliminarmente;
preliminar: (ii) Projetar
Selecionar a concepção; detalhadamente;
Realizar modelos; (iii) Revisar e testar;
Analisar: a sensibilidade, (iv) Planejar a
(i) Estudar a BACK (i) Estudar
acompatibilidade e a produção:
viabilidade: (1983) viabilidade
estabilidade; (v) Planejar o mercado;
Analisar as
Otimizar o projeto (vi) Planejar para o
necessidades;
(ii) Efetuar o projeto consumo e
ASIMOW Identificar o
detalhado: manutenção;
(1962) problema;
Preparar para executar o (vii) Planejar a
Analisar:
projeto; obsolescência
fisicamente,
Projetar os sub-sistemas,
econômica e
componentes, partes e (i) Gerar o conceito do
financeiramente
desenhos de montagem; produto;
Construir (ii) Analisar a
PARK e (i) Gerar ideias;
experimentalmente; performance do (i) Comercializar
ZALTMAN (ii) Selecionar
Testar; Analisar e Revisar; mercado;
(1987) as ideias
Reprojetar (iii) Desenhar o mix de
marketing
(iv) Testar no mercado
(i) Estabelecer
um programa; (i) Determinar o tipo de
ARCHER (i) Desenvolver; produto, considerando
(ii) Coletar dados;
(1968) (ii) Comunicar o tipo de processo;
(iii) Analisar;
(iv) Sintetizar (ii) Determinar o
princípio do design
(iii) Determinar o tipo
(i) Desenvolver e testar o de produção
conceito; (iv) Efetuar o design do
(ii) Desenvolver estratégia (i) Investigar a
produto:
(i) Gerar ideias; de marketing; ANDREASEN necessidade:
KOTLER (i) Comercializar Pesquisar marketing; (i) Vender
(ii) Efetuar (iii) Analisar mercado; e HEIN Determinar a
(1974) Fazer design
triagem de ideias (iv) Desenvolver o (1987) necessidade
preliminar;
produto; básica
Planejar a produção
(v) Efetuar teste no (v) Preparar para a
mercado. produção:
Preparar vendas e
(i) Divergência: produção
Obter informação (i) Convergência: (vi) Executar:
primária; Localizar parâmetros; Adaptar a produção;
Explorar a Descrever sub-soluções; Produzir
situação do Identificar contradições;
JONES
projeto Combinar subsoluções em (i) Determinar os
(1976)
(ii) Transforma- alternativas; requisitos funcionais;
ção: Perceber ou Avaliar alternativas; (i) Identificar
SUH (ii) Determinar os
transformar a Escolher solução (design uma necessidade
(1988) atributos do produto;
social
estrutura do final) (iii) Prototipar;
problema (iv) Produzir o produto
(i) Determinar o conceito (i) Planejamento do
do design; CLARK e produto
(i) Especificar os (i) Concepção
(ii) Efetuar o design FUJIMOTO (ii) Projeto do produto
PAHL e requisitos da do produto
preliminar ou layout (1991) (iii) Projeto do
BEITZ tarefa a partir do processo
preliminar;
(1977) mercado, empresa
(iii) Detalhar o design ou
e economia. (i) Determinar os
layout definitivo;
(iv) Documentar (i) Gerar, requisitos e detalhar os
WHEELWRIGHT
conceber e projetos;
e CLARCK
(i) Levantar os requisitos; desenvolver (ii) Focar na inovação e
(1992)
Ideias desenvolver os projetos
(ii) Fracionar o problema;
selecionados
(iii) Hierarquizar os
problemas;
(i) Identificar o
(iv) Analisar as soluções
problema
(i) Descobrir e existentes;
(ii) Analisar a
valorizar uma (v) Desenvolver
situação;
BONSIEPE necessidade; alternativas; BÜRDEK (iii) Definir o
(1978) (ii) Analisar; (vi) Verificar e selecionar (i) Realizar
(1994) problema;
(iii) Formular o alternativas; (iv) Gerar
problema (vii) Elaborar os detalhes alternativas;
particulares; (v) Avaliar a
(viii) Prototipar; escolha
(ix) Avaliar;
(x) Modificar o protótipo; (i) Efetuar uma síntese
(xi) Fabricar pré-série das soluções;
ROOZENBURG
(i) Analisar o (ii) Simular as
(i) Identificar e (i) Gerar o conceito; (i) Lançar no e EEKEL
CRAWFORD problema soluções;
selecionar as (ii) Avaliar o conceito; mercado (1995)
(1983) (iii) Avaliar o projeto;
oportunidades (iii) Desenvolver (iv) Tomar a decisão
Quadro 2: Classificação proposta das etapas dos modelos, Quadro 3: Classificação proposta das etapas dos modelos,
período 1962 a 1983 período 1983 a 1995
108 Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 10, n. 13, p.103-114, jan./jun. 2009
7. Análise estrutural e síntese das características...
FASES POSSUI
CARACTERÍSTICAS
MODELOS/ ETAPAS NAS
LINEARES E SISTÊ ICAS
M
AUTORES FASES
Pré-desenvolvi- Pós-desenvolvi- IDENTIFICADAS (*)
Desenvolvimento PROPOSTAS
mento mento
Sim (*)
(i) Engenharia e análise;
(ii) Design do produto; MODELOS /
(i) Definição da (iii) Prototipagem; AUTORES
(i) Melhoria,
Pré-desenvolvimento
Pós-desenvolvimento
missão da (iv) Planejamento e
PRASAD suporte e entrega
Desenvolvimento
empresa; operacionalização de
(1997) contínuas
Adaptatividade
Causa e efeito
(ii) Definição do engenharia;
Circularidade
Linearidade
Fechamento
conceito (v) Operacionalização e
Hierarquia
Abertura
controle da produção;
(vi) Fabricação
(i) Gerar ideias;
(ii) Desenvolver (i) Lançar no ASIMOW
DICKSON * * * * * * * *
o conceito; (i) Desenvolver e testar mercado (1962)
(1997)
(iii) Planejar o
desenvolvimento ARCHER
* * * * * * * *
(1968)
(i) Efetuar o projeto
(i) Especificar
básico; KOTLER
tecnicamente as * * * * * * * * *
KAMINSKI (ii) Efetuar o projeto (1974)
necessidades;
(2000) executivo;
(ii) Estudar a
(iii) Planejar a produção; JONES
viabilidade * * * * * * * *
(iv) Executar (1976)
(i) Desenvolver o PAHL e
(i) Planejar
conceito; BEITZ * * * * * * * *
marketing;
ULRICH (ii) Definir a arquitetura (1977)
(ii) Planejar o
e EPPINGER do produto;
design;
(2000) (iii) Detalhar o design; BONSIEPE
(iii) Planejar a * * * * * * * *
(iv) Testar e refinar; (1978)
manufatura
(v) Produzir
CRAWFORD
* * * * * * * * *
(i) Desenvolver a (1983)
estrutura de construção:
Formar corpo preliminar; BACK
(i) Planejar a * * * * * * * *
Selecionar estudos (1983)
tarefa:
preliminares;
Analisar o
Refinar a forma PARK e
mercado,
preliminar; ZALTMAN * * * * * * * * *
empresa e
Avaliar (1987)
conjuntura;
(ii) Projetar a forma
Encontrar e
PAHL et al. definitiva: ANDREASEN
selecionar ideias; * * * * * * * * *
(2005) Eliminar pontos fracos e e HEIN (1987)
Esclarecer a
erros;
tarefa;
Elaborar lista preliminar; SUH
Elaborar lista de * * * * * * * *
Elaborar instruções para (1988)
requisitos
produção e montagem
(ii) Desenvolver
(iii) Desenvolver CLARK e
o princípio da
documentação para FUJIMOTO * * * * * * * *
solução
fabricação: (1991)
Detalhar, complementar e
verificar a documentação. WHEELWRIGHT
e CLARCK * * * * * * * *
(i) Acompanhar (1992)
(i) Efetuar o projeto o produto e
informacional; processo:
BÜRDEK
(ii) Efetuar o projeto Avaliar * * * * * * * *
(1994)
conceitual; satisfação do
(iii) Efetuar o projeto cliente;
detalhado; Monitorar ROOZENBURG
(iv) Preparar a produção; desempenho; e EEKEL * * * * * * * *
Obter recursos de Realizar (1995)
fabricação; auditoria pós-
Planejar produção piloto; projeto; PRASAD
* * * * * * * * *
Receber e instalar Registrar lições (1997)
(i) Planejar recursos; apreendidas
estrategicamente Produzir lote piloto; (ii) Descontinuar DICKSON
ROZENFELD * * * * * * * * *
os produtos; Homologar o processo; o produto: (1997)
et al.(2006)
(ii) Planejar o Otimizar a produção; Analisar, aprovar
projeto Certificar o produto; e planejar a KAMINSKI
Desenvolver processos de descontinuidade; * * * * * * * *
(2000)
fabricação e manutenção Preparar e
(v) Lançar o produto: acompanhar o ULRICH e
Planejar lançamento; recebimento do EPPINGER * * * * * * * *
Desenvolver os processos produto; (2000)
de venda, distribuição, Descontinuar a
atendimento e produção;
PAHL et al
assistência; Finalizar suporte * * * * * * * *
Promover marketing; ao produto; (2005)
Lançar produto; Avaliar e
Gerenciar lançamento encerrar o ROZENFELD
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projeto et al (2006)
Quadro 4: Classificação proposta das etapas dos modelos, Quadro 5: Síntese das características lineares
período 1997 a 2006 e sistêmicas, e relação das etapas com as fases propostas
Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 9, n. 12, p. 103-114, jan./jun. 2009 109
8. Jung, C., Caten, C., Echevest, M., Ribeiro, J.
Figura 1: Características lineares e sistêmicas de um modelo de PDP
5 Síntese das características O quadro 5 apresenta uma síntese resul-
lineares e sistêmicas tado da interpretação qualitativa da estrutura
metodológica dos 21 modelos de DP e PDP
Como características lineares foram consi- analisados. A interpretação considerou os ele-
deradas: linearidade, inter-relação de causa mentos explicados na figura 1.
e efeito, hierarquia e fechamento. Como Todos os modelos apresentam caracte-
características sistêmicas, além das lineares rísticas tanto lineares como sistêmicas. No
citadas, foram consideradas ainda: circu- primeiro modelo estudado, proposto por
laridade, abertura e adaptatividade. Além Asimow (1962), já se pode observar a exis-
destas características, também foi verificada tência da “abertura” e da “circularidade” que
a existência de etapas metodológicas dos são características sistêmicas. Isto demons-
modelos nas três fases citadas anteriormente. tra que modelos concebidos nos primórdios
A figura 1 apresenta um modelo diagramático da estruturação metodológica do desenvol-
onde cada uma destas características é expli- vimento de produtos tiveram por influência,
citada. além do pensamento linear, o sistêmico.
110 Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 10, n. 13, p.103-114, jan./jun. 2009
9. Análise estrutural e síntese das características...
Para caracterizar também um modelo de Amaral, Toledo, Silva, Alliprandini e Scalice
DP ou PDP como sistêmico, foi considerado (2006). Ao analisar-se o texto desses autores,
que o mesmo deveria apresentar a existência fica evidente que o modelo apresenta essa
de etapas metodológicas nas fases de pré-desen- característica como um diferencial metodo-
volvimento, desenvolvimento e pós-desen- lógico. Rozenfeld, Forcellini, Amaral, Toledo,
volvimento. Silva, Alliprandini e Scalice (2006) propõem
Verificou-se que os modelos propostos que o modelo seja adaptável às necessidades
por Kotler (1974), Crawford (1983), Park e de PDP das empresas, sendo possível uma
Zaltman (1987), Andreasen e Hein (1987), empresa customizar as etapas propostas pelo
Prasad (1997), Dickson (1997) e Rozenfeld, modelo em função das suas peculiaridades.
Forcellini, Amaral, Toledo, Silva, Alliprandini
e Scalice (2006) possuem etapas metodoló- 6 Conclusões
gicas em todas as fases propostas. No entanto
os modelos de Prasad (1997) e Rozenfeld Este artigo apresentou os resultados de
Forcellini, Amaral, Toledo, Silva, Alliprandini uma pesquisa que teve por finalidade identi-
e Scalice (2006) atendem o conceito adotado ficar e entender a influência dos tipos de
em Zuin (2004), Jung (2004) e Toledo Simões, pensamento linear e sistêmico e modelos
Lima, Mano e Silva (2006) de forma mais referenciais de inovação na concepção de 21
completa. modelos de DP e PDP.
Prasad (1997) propõe em seu modelo, Foi realizada uma análise estrutural a par-
como etapa fina, a melhoria, suporte e entregas tir da identificação e classificação das etapas
contínuas. Rozenfeld, Forcellini, Amaral, metodológicas de 21 modelos de DP e PDP
Toledo, Silva, Alliprandini e Scalice (2006) em três fases: pré-desenvolvimento, desenvol-
propõem (i) acompanhar o produto e processo vimento e pós-desenvolvimento. A análise
que consiste em avaliar a satisfação do cliente, evidenciou as etapas de cada modelo, viabi-
monitorar o desempenho, realizar uma audi- lizando referencial para futuras pesquisas em
toria pós-projeto, registrar as lições apreen- DP e PDP.
didas e (ii) descontinuar o produto, o que Foi apresentado um quadro-síntese das
requer analisar, aprovar e planejar a descon- características lineares e sistêmicas, resultado
tinuidade, preparar e acompanhar o recebi- obtido a partir da interpretação qualitativa da
mento do produto e, ainda, descontinuar a estrutura metodológica dos 21 modelos de
produção, finalizando o suporte ao produto DP e PDP analisados. A interpretação consi-
para depois avaliar e encerrar o projeto. derou: (i) a existência de etapas metodoló-
Os modelos propostos por Kotler gicas nas fases de pré-desenvolvimento, desen-
(1974), Crawford (1983), Park e Zaltman volvimento e pós-desenvolvimento propostas,
(1987), Andreasen e Hein (1987) e Dickson (ii) a inter-relação de causa e efeito, (iii) a
(1997) apenas referem, na etapa final, as linearidade, (iv) o fechamento, (v) a hierar-
ações de: comercializar, lançar no mercado e quia, (vi) a abertura, (vii) a circularidade e
vender que podem ser enquadradas na fase (viii) a adaptatividade.
de pós-desenvolvimento, mas não significam A síntese das características lineares e
necessariamente um envolvimento da equipe sistêmicas revelou que apenas os modelos de
em procedimentos de acompanhamento do Prasad (1997) e Rozenfeld, Forcellini, Amaral,
produto, suporte, descontinuidade e avaliação Toledo, Silva, Alliprandini e Scalice (2006)
posterior dos resultados de mercado e satis- atendem completamente o conceito adotado
fação dos clientes. com base em Zuin (2004), Jung (2004) e
Uma das características sistêmicas, a Toledo, Simões, Lima, Mano e Silva (2006),
adaptatividade, somente foi identificada no para caracterizar a existência de etapas metodo-
modelo proposto por Rozenfeld, Forcellini, lógicas nas fases de pré-desenvolvimento,
Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 9, n. 12, p. 103-114, jan./jun. 2009 111
10. Jung, C., Caten, C., Echevest, M., Ribeiro, J.
desenvolvimento e pós-desenvolvimento. Systems Dynamic Review,v. 38, n 1, p. 75-
Uma das características sistêmicas, a adapta- 91, 1994.
tividade, somente foi identificada no modelo
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