SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 58
Baixar para ler offline
André Pacheco
CONTEXTOHISTÓRICO
A base econômica desse império era o
comércio e a exploração do trabalho escravo
(cf. Ap 18,9-24). Nessa época, o número de
escravas e escravos aumentou de maneira
assustadora. A exploração da mão de obra
escrava na agricultura e nas indústrias
artesanais produzia o excedente, possibilitando
aumentar o comércio interno e externo.
No final do século I, as fronteiras
do império romano eram imensas.
O ditado: “Todos os caminhos
conduzem a Roma” era uma
verdade, pois Roma era o centro
de tudo e as estradas todas
davam acesso a ela. Com a
expansão territorial e a
formação de uma população tão
diversificada, de costumes e
culturas muito diferentes, o
exército tornou-se a principal
força de sustentação da política
romana.
As autoridades
judaicas,
presentes
desde o século
III a.C. na Ásia
Menor,
perseguiram os
cristãos por
motivos
religiosos e
políticos.
PEDRO
São Pedro é o símbolo da fé que acredita sem precisar de
explicações, que segue Jesus com extrema confiança.
Simão, imediatamente após o convite de Jesus, abandona
seu barco, suas redes e o segue, mesmo sem conhecê-Lo.
De pescador de peixes, passaria a ser pescador de
homens,conforme a promessa de Jesus (Mt 4,-18).
LEMBRE-SE:
Pedro é o Apóstolo mais citado nos Evangelhos e
aparece ao lado de Jesus em todos os momentos
cruciais de sua pregação, pois tinha com Ele uma
grande proximidade.
A vida de Pedro passou a ser um conhecer a Cristo na
caminhada diária e na convivência contínua, o que foi
provocando um amadurecimento de sua fé e
fidelidade.
PEDRO DEIXOU-SE EVANGELIZAR PELO PRÓPRIO
CRISTO, COM ELE CONHECEU A DOUTRINA E TORNOU-SE
EVANGELIZADOR.
Podemos nos ver em São Pedro:
humano em sua fragilidade, ele é como
todos os outros apóstolos, que diante da
agonia e condenação de Jesus, se
sentem desanimados e sem chão, como
nós, diante dessa pandemia que gerou
tanta desesperança e aflição.
Porém, Pedro, mesmo assim,
perseverava, entre seus erros e acertos,
na caminhada junto ao Mestre, pois sabia
que não havia outro caminho “Senhor, a
quem iriamos nós? Tu tens palavras de
vida eterna.
LEMBRE-SE:
Pedro conduz o Colégio dos Apóstolos
após a Ressurreição, glorifica Jesus com
suas pregações ousadas e sua liderança
e convicção o levam a morte, e seu
sangue, escorrendo pelo chão, sela a
santidade e vocação missionária da
Igreja.
Celebramos, no dia 4 de julho, a Solenidade de São Pedro e
São Paulo, duas colunas fortes da Igreja desde seus
primórdios.
Pedro era pescador, certamente pouco letrado, homem
simples do povo.
1) era de espírito determinado e amavam intensa e ardorosamente a
Cristo;
2) reconheceu sua fragilidade: Pedro chorava amargamente por ter
negado três vezes o Senhor. Confiou na misericórdia de Deus e não
desanimou;
3) deu-se inteiramente ao apostolado, anunciando Cristo
intrepidamente;
4) foi martirizado em Roma: Pedro foi crucificado de ponta cabeça.
CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES:
O fato de conferir tanta
credibilidade a uma só pessoa
significa o desejo de Cristo pela
unidade. Ele quer um só rebanho
e um só Pastor (Jo 10, 14); um só
batismo, um só Salvador; Ele
quer que todos sejam um como
Ele e o Pai (cf. Jo 17, 21); a
comunidade dos primeiros
cristãos era um só coração e
uma só alma (cf. At 2, 4).
Por que Cristo escolheu a Pedro, o menos acadêmico, o mais
simples, para receber as chaves, para ser a pedra visível da base
da Igreja, para ser o primeiro Papa?
Certamente, por causa de sua autenticidade, sua capacidade de
reiniciar sua vida de fé após as quedas, de perdoar, de
perseverar com Cristo, mesmo quando experimentava a
fragilidade. Venceu o medo, o desânimo; viveu com Cristo, para
Cristo e em Cristo.
Deu sua vida por Cristo e teve a graça de morrer com o mesmo
suplício, a cruz.
Depois de Pentecostes, o apóstolo consagrou toda a sua vida,
até o martírio em uma cruz.
A Pedro é atribuído o primeiro milagre depois da ressurreição
de Jesus, na porta do Templo e ainda, é atribuída a ele, a
primeira conversão de um pagão.
Nas perseguições sofreu a prisão por testemunhar Jesus e a
sua salvação. Foi missionário de Jesus e do seu Evangelho em
Jerusalém, na Palestina, em Antioquia, em Corinto, em Roma.
Pedro
Carta
R E A V I V A R A C A M I N H A D A
Hoje, existem muitas formas de entrar em contato
com as comunidades — por exemplo, internet,
boletins, visitas, encontros, reuniões, seminários,
congressos, cursos e festas. Viajando no tempo,
vamos perceber que no século I d.C. a situação era
bem diferente.
A maneira mais comum de chegar às comunidades
cristãs, espalhadas por todo o império romano, era
por meio de cartas. Existia também a visita pessoal,
porém, com menos frequência, pois as viagens de um
lugar para o outro eram cansativas e demoradas.
O objetivo de uma carta é animar e encorajar as comunidades a continuar firmes
no projeto de Jesus, uma forma de ensinar a distância, de continuar a catequese.
A primeira carta de Pedro, assim como as demais cartas do Novo Testamento,
nasceu com essa finalidade.
of the Month
Essa carta foi enviada a vários
grupos de cristãs e cristãos da Ásia
Menor, presentes nas seguintes
regiões: Ponto, Galácia, Capadócia,
Ásia e Bitínia (cf. 1Pd 1, 1), no final
do século I d.C. As cartas de Pedro
— juntamente com a de Tiago, a de
Judas e as três cartas atribuídas a
João — fazem parte de uma coleção
conhecida como cartas católicas.
São cartas dirigidas a várias
comunidades, por isso são
chamadas de universais.
Esse é o sentido da palavra católico.
Situando o
autor e a data
NO INÍCIO DA PRIMEIRA
CARTA DE PEDRO, CONFORME
O COSTUME DA ÉPOCA, O
REMETENTE SE APRESENTA:
“PEDRO, APÓSTOLO DE JESUS
CRISTO” (1PD 1, 1).
E m a i s : o a u t o r d i z q u e e l e é p r e s b í t e r o
c o m o o s a n c i ã o s , “ t e s t e m u n h a d o s
s o f r i m e n t o s d e C r i s t o e p a r t i c i p a n t e d a
g l ó r i a q u e h á d e s e r r e v e l a d a ” ( 1 P d 5 , 1 ) .
E s s a s p a l a v r a s f a l a m d a e x p e r i ê n c i a
p e s s o a l d o a u t o r e o i d e n t i f i c a m c o m o
t e s t e m u n h a o c u l a r d a v i d a , d o s
e n s i n a m e n t o s , d a m o r t e e d a r e s s u r r e i ç ã o
d e J e s u s .
Aceitar que essa carta tenha sido ditada por Pedro e
escrita por Silvano nos coloca diante de algumas
dificuldades: por exemplo, o fato de o anúncio do
evangelho na Ásia Menor ter sido feito por Paulo e sua
equipe missionária. O apóstolo Pedro não atuou nessa
região. Na carta, o autor afirma que está numa comunidade
cristã na Babilônia, em companhia de Marcos (1Pd 5,13).
Chamar Roma de Babilônia se tornou uma forma de
protesto, após a destruição do Templo e da cidade de
Jerusalém, por volta do ano 70 d.C. Outro motivo a
considerar é a questão da linguagem: o estilo utilizado
nessa carta é do final do século I d.C.
Pode-se situar a escrita
dessa carta um pouco antes,
aproximadamente no ano 90
d.C.
Portanto, não foi o apóstolo
Pedro quem a escreveu, pois
sua morte aconteceu entre
os anos 64 e 67. Mas, então,
quem foi?
É possível que tenha sido
escrita por discípulos da
comunidade cristã de Roma
(1Pd 5,1).
As cartas de Pedro, as cartas a
Timóteo e a Tito, como também
outros livros do Novo Testa­
mento,
são escritos pseudônimos, pois,
na antiguidade, era costume
escrever um livro e usar o nome
de um mestre respeitado para
assinar o seu texto.
Hoje, isso seria considerado
fraude e pode­
ria gerar até
processo, mas naquele tempo
era uma espécie de homenagem
a alguém importante.
Destinatários
“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos que
vivem dispersos como forasteiros no
Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia”
(1Pd 1,1).
Os destinatários da primeira carta de Pedro
estavam espalhados em quatro regiões da
província romana da Ásia Menor.
Essa área caiu sob o domínio do império
romano a partir de 133/131 a.C., porém a
organização em regiões só aconteceu por
volta de 17 a.C.
A Bitínia e o Ponto já estavam reunidas em
uma só província desde 63 a.C.
O s c r i s t ã o s n e s s a r e g i ã o , e s t i m a d o s e m
a p r o x i m a d a m e n t e 8 0 m i l , e r a m p e s s o a s p r o v e n i e n t e s d e
d i f e r e n t e s l u g a r e s , c u l t u r a s e c o s t u m e s r e l i g i o s o s . E r a m
c o m u n i d a d e s p o b r e s , f o r m a d a s , e m s u a m a i o r i a , p o r
m i g r a n t e s , f o r a s t e i r o s e o u t r o s e s t r a n g e i r o s r e s i d e n t e s
( 1 P d 1 , 1 ; 2 , 1 1 ) , p r o v e n i e n t e s d e c u l t u r a s n ã o j u d a i c a s
( 1 P d 1 , 1 4 - 1 9 ; 2 , 1 1 - 1 2 ; 4 , 1 - 6 . 1 2 - 1 9 ) .
A Carta
Como a primeira carta de Pedro ajuda as
comunidades cristãs a permanecer firmes na fé?
Com essa pergunta na mente e no coração, vamos
entrar no texto e fazer as nossas descobertas.
O cabeçalho de uma carta, conforme o costume dos asiáticos, devia
conter o nome do remetente e a sua apresentação, os destinatários e
sua localização e, por fim, as saudações conclusivas.
Os vv. 1-2 cumprem exatamente essa função. Aqui temos o remetente e
sua referência: Pedro, apóstolo de Jesus Cristo; os destinatários: aos
que vivem como forasteiros; localização: na diáspora — Ponto, Galácia,
Capadócia, Ásia e Bitínia; saudações conclusivas: “que a graça e a paz
sejam abundantes para vocês”.
O v. 2a rompe com a estrutura do cabeçalho:
“eleitos segundo os desígnios de Deus Pai,
pela santificação do Espírito para obedecer a
Jesus Cristo e ter parte na aspersão de seu
sangue”.
Aqui temos informações preciosas: estão
enunciados todos os temas que serão
desenvolvidos ao longo da carta, a saber: a
eleição de Deus Pai, a santificação do
Espírito, a obediência a Jesus Cristo para
ter parte na aspersão de seu sangue.
A primeira carta de Pedro faz uma
inversão: Deus elege os marginalizados
e excluídos como seu povo eleito.
As pessoas que não eram
reconhecidas nem tinham cidadania, a
partir da eleição de Deus tornam-se
cidadãs e pedras vivas na construção
da casa de Deus (1Pd 2,5-10). O termo
“eleito” vem da tradição judaica e
apresenta a relação amorosa de Deus
com o seu povo (Dt 7,6; Is 43,20).
A nova comunidade de irmãs e irmãos é chamada a “praticar
um amor fraterno, sem hipocrisia” (1Pd 1,22). O convite ao
amor atinge o centro da mensagem cristã. Viver o amor
mútuo, o respeito e a acolhida é fundamental para enfrentar
as pressões sociais (1Pd 1,22; 2,17; 4,8; 5,9).
A fonte do amor é o novo nascimento: “Vocês nasceram de
novo, não de uma semente mortal, mas imortal, por meio da
Palavra de Deus, que é viva e que permanece” (1Pd 1,23).
Comunidades
cristãs
Nas comunidades cristãs, as pessoas
buscavam viver novas relações,
baseadas na partilha e na
solidariedade, na tentativa de superar
as desigualdades entre servo e senhor,
mulher e homem, escravos e livres.
COMO ENTENDER A ORDEM CONTIDA NESSA CARTA:
“SUBMETAM-SE A TODA CRIATURA HUMANA POR CAUSA DO
SENHOR” (1PD 2,13)?
E, MAIS ADIANTE, A EXORTAÇÃO DIRIGIDA AOS ESCRAVOS:
“ESCRAVOS, SUJEITAI-VOS, COM TODO O RESPEITO, AOS
VOSSOS SENHORES, NÃO O SÓ AOS BONS E RAZOÁVEIS, MAS
TAMBÉM AOS PERVERSOS (1PD 2,18)?
1PD |André Pacheco
As pessoas cristãs tinham de se adaptar ao
sistema, pois não havia outra saída. Era questão
de sobrevivência.
Além da sobrevivência pessoal e da comunidade,
a submissão era por causa do Senhor e tinha
como objetivo evangelizar com a própria vida
(1Pd 2,13.15-16).
No entanto, nas comunidades cristãs, procurava-se viver a
igualdade e a liberdade.
Ir contra a ordem dos donos colocava em risco a própria
vida e a de toda a comunidade. Submeter-se, portanto, era
forma de resistência e também de evangelizar com a
própria vida. A pessoa era chamada, a exemplo de Jesus, a
não devolver o mal com o mal.
Na primeira carta de Pedro há vários
termos ou expressões referentes ao
batismo, por exemplo: purificados
(1Pd 1,22), sangue (1Pd 1,2.19),
crianças recém-nascidas (1Pd 2,2),
água (1Pd 3,21).
Esse texto relembra para as
comunida­
des cristãs o sentido original
do batismo, ou seja, de novo
nascimento: as cristãs e os cristãos
são o novo povo de Deus (1Pd 2,10;
4,17).
O novo
povo de
Deus
Da mesma forma, as pessoas
cristãs são rejeitadas pela
sociedade, mas escolhidas por
Deus. A partir dessa escolha,
elas são pedras vivas e “vão
entrando na construção da
casa espiritual, e formando um
sacerdócio santo, destinado a
oferecer sacrifícios espirituais
que Deus aceita por meio de
Jesus Cristo” (1Pd 2,5).
Para falar de Cristo e da nova comunidade, o autor utiliza a
imagem da pedra viva. Essa imagem é inspirada no Antigo
Testamento (Is 28,16; Sl 118,22). Cristo é a pedra viva que foi
rejeitada por seu povo, mas escolhida por Deus.
Cristo é o exemplo a ser seguido (1Pd 3,18). Para entender a
vida e a prática de Jesus, as comunidades releem o profeta
Isaías, especialmente os cânticos do servo sofredor.
A vida, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus têm
como pano de fundo a vida e a missão do servo sofredor
(1Pd 2,21-25). A ressurreição de Cristo é fonte de esperança
e de resistência para as pessoas cristãs.
Qual a ideia e a
proposta de 1Pd?
“A verdadeira graça em que estais estabelecidos” é a
comunidade cristã como “a casa de Deus” (ho oikos tou
Theou: cf. 4,17).
Eis que o povo empobrecido, vivendo sem casa (em
paroikia) no meio do mundo, ganha uma casa, a casa
de Deus para morar!
Para imigrantes sem pátria e sem casa (paroikoi), que
anseiam por um grupo que lhes substitua pátria e casa
de antigamente, a graça (charis) e a boa-notícia
(evangelho) é que o próprio Deus lhes tenha edificado
uma casa e nela os tenha acolhido em nova
fraternidade (cf. “fostes edificados ‘como casa’ —
oikodomeisthe — por Deus”: 2,7).
A. carta deseja confirmá-los
nesta casa, nesta graça em
que estão estabelecidos.
Vamos ver em seguida quão
imensa graça é essa nova
casa.
Por que a carta é de
exortação, confirmação e
estímulo?
Porque esses cristãos, já marginalizados na
sociedade em que viviam (como estranhos
sem casa e aconchego, destituídos de
direitos de cidadania plena, imigrantes
empobrecidos em tanta coisa humana),
também sofriam por serem cristãos, grupo
presumidamente estranho e exótico que se
afastava dos costumes dos antigos
companheiros de paganismo, criticando-os
por seu comportamento (4,2-3).
Eram, pois, pessoas
que careciam de
exorta­
ção e
estímulo, porque
corriam dois riscos:
o de abjurar e voltar à sociedade sem os
valores cristãos da nova casa, sem
conversão, por causa das oposições
sofridas (donde o apelo insistente da
carta ao paradigma do sofrimento de
Cristo); afastar-se-iam, assim, da casa de
Deus, a verdadeira graça de Deus em
que se podiam apoiar;
Primeiro
o de fechar-se em si, dentro da casa de
Deus, deixando o mundo seguir o seu
próprio curso com todos os problemas
de seus companheiros de paroikia que,
de mais a mais, continuavam no seio das
trevas do paganismo (cf. 2,9), deixando
de lhes anunciar “a admirável luz de
Deus” (cf. ibid.).
segundo
A comunidade cristã de 1Pd é Igreja
plantada no meio dos sem-casa, dos
migrantes da colonização romana, que se
destacou por intensas migrações internas,
plantada no meio dos marginalizados e
empobrecidos no seio da sociedade: uma
Igreja de paroikoi, sem-casa, no meio de
paroikoi, sem-casa.
1Pd concebe a Igreja relativamente fora da sociedade
(quanto a costumes e comportamentos), mas dentro
dela e por ela responsável por uma existência de
testemunho e missão. Pela existência de testemunho,
frui e mostra o aconchego da casa de Deus esperando a
todos.
Nela, brilha a luz de Deus no seio das trevas do
paganismo e do desumano da situação de paroikia,
situação não fraterna oposta à vontade de Deus e
superada dentro da casa de Deus.
1Pd estimula a superar uma teologia de
Igreja pautada preponderantemente
pelo modelo da “instituição”, que pode
se tornar fria por ausência de relações
concretas humanas.
Convida a colocar os pastores real e
socialmente no seio do rebanho, que é
o “rebanho de Deus” (5,2) e não deles,
como responsabilidade do exemplo da
fraternidade e da não dominação.
Hoje, nas sociedades latino-americanas, onde o povo vive em
imensa paroikia produzida pelas políticas nacionais e
internacionais que causam ondas de migrações em busca de
sobrevivência, faz-se mister achar a Igreja local realizada
como acolhedora casa de Deus, onde todos se sintam em
casa e promovidos como oikonomoi dos variados dons de
Deus a serviço dos irmãos (4,10), como casa de um “grupo de
irmãos” entre os homens empenhados em testemunhar com
“o belo modo de viver” (2,12) a vocação universal dos homens
para a fraternidade realizada em relações pessoais e
estruturais concretas.
Terá 1Pd correspondido à meta
que se propôs de “exortar e
garantir que a verdadeira graça
de Deus é esta em que estais
estabelecidos”?
Perfeitamente, pois traduziu o evangelho do Reino pregado
por Jesus no evangelho da casa de Deus acolhedora dos
empobrecidos pela sociedade pagã da época, casa onde
estes são ricos da graça de Deus, que os estimula ao ensaio
de virtudes sociais novas, de relações fraternas sem
dominação, da colocação dos dons recebidos de Deus a
serviço dos outros no seio de um “grupo de irmãos” que se
empenha em antecipar a vocação de fraternidade do
gênero humano. Concretizou-se o evangelho rumo a
genuínos anseios humanos.
Pedro hoje é Francisco, exemplo de simplicidade,
alegria, preocupação com a fraternidade (Fratelli
Tutti), com a natureza (Laudato Si), com a santidade
(Patris Corde; Gaudete et exultate) e devoção a Maria
(Mês de Maio, orações pelo fim da pandemia).
Em união com o Papa, Sucessor de Pedro, e movidos
pelo espírito de missionário intrépido de Paulo,
prossigamos nossa fidelidade na Igreja fundada por
Cristo, em busca da unidade perdida, agindo sem
proselitismo, sem orgulho, sem vaidade, mas na
humildade, sinceridade de viver nosso amor a Cristo,
assentados firmes sobre a rocha que é o Pedro.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a 1 CARTA DE PEDRO OK (3) (1).pdf

Epistola Paulina Completo.pptx
Epistola Paulina  Completo.pptxEpistola Paulina  Completo.pptx
Epistola Paulina Completo.pptxLucianoMachado52
 
Uma Mensagem à Igreja Local e à Liderança
Uma Mensagem à Igreja Local e à LiderançaUma Mensagem à Igreja Local e à Liderança
Uma Mensagem à Igreja Local e à LiderançaAntonio Fernandes
 
Lição 1 - A Espístola aos Romanos
Lição 1 - A Espístola aos RomanosLição 1 - A Espístola aos Romanos
Lição 1 - A Espístola aos RomanosAndrew Guimarães
 
LBA LIÇÃO 1 - A EPÍSTOLA AOS ROMANOS_2016 2 TRI
LBA LIÇÃO 1 - A EPÍSTOLA AOS ROMANOS_2016 2 TRILBA LIÇÃO 1 - A EPÍSTOLA AOS ROMANOS_2016 2 TRI
LBA LIÇÃO 1 - A EPÍSTOLA AOS ROMANOS_2016 2 TRINatalino das Neves Neves
 
Aula 1 A Igreja Apostólica
Aula 1 A Igreja ApostólicaAula 1 A Igreja Apostólica
Aula 1 A Igreja ApostólicaMarcia oliveira
 
Aula nº 1 introdução
Aula nº 1   introduçãoAula nº 1   introdução
Aula nº 1 introduçãoWelton Dias
 
Lição 01 - Cenário Histórico.pptx
Lição 01 - Cenário Histórico.pptxLição 01 - Cenário Histórico.pptx
Lição 01 - Cenário Histórico.pptxJoel Silva
 
2 PEDRO E JUDAS Hernandes dias Lopes -.pdf
2 PEDRO E JUDAS Hernandes dias Lopes -.pdf2 PEDRO E JUDAS Hernandes dias Lopes -.pdf
2 PEDRO E JUDAS Hernandes dias Lopes -.pdfWaldianaDeSouza
 
A Epístola aos Romanos
A Epístola aos RomanosA Epístola aos Romanos
A Epístola aos RomanosCelso Napoleon
 
Ebd cpad lições bíblicas 2°trimestre 2016 lição 1 Epístola aos Romanos.
Ebd cpad lições bíblicas 2°trimestre 2016 lição 1 Epístola aos Romanos.Ebd cpad lições bíblicas 2°trimestre 2016 lição 1 Epístola aos Romanos.
Ebd cpad lições bíblicas 2°trimestre 2016 lição 1 Epístola aos Romanos.GIDEONE Moura Santos Ferreira
 

Semelhante a 1 CARTA DE PEDRO OK (3) (1).pdf (20)

Epistola Paulina Completo.pptx
Epistola Paulina  Completo.pptxEpistola Paulina  Completo.pptx
Epistola Paulina Completo.pptx
 
Uma Mensagem à Igreja Local e à Liderança
Uma Mensagem à Igreja Local e à LiderançaUma Mensagem à Igreja Local e à Liderança
Uma Mensagem à Igreja Local e à Liderança
 
Introdução ao Novo testamento
Introdução ao Novo testamentoIntrodução ao Novo testamento
Introdução ao Novo testamento
 
Lição 1 - A Espístola aos Romanos
Lição 1 - A Espístola aos RomanosLição 1 - A Espístola aos Romanos
Lição 1 - A Espístola aos Romanos
 
LBA LIÇÃO 1 - A EPÍSTOLA AOS ROMANOS_2016 2 TRI
LBA LIÇÃO 1 - A EPÍSTOLA AOS ROMANOS_2016 2 TRILBA LIÇÃO 1 - A EPÍSTOLA AOS ROMANOS_2016 2 TRI
LBA LIÇÃO 1 - A EPÍSTOLA AOS ROMANOS_2016 2 TRI
 
Atos dos apostolos
Atos dos apostolos Atos dos apostolos
Atos dos apostolos
 
Panorama do NT - 1Pedro
Panorama do NT - 1PedroPanorama do NT - 1Pedro
Panorama do NT - 1Pedro
 
Aula 1 A Igreja Apostólica
Aula 1 A Igreja ApostólicaAula 1 A Igreja Apostólica
Aula 1 A Igreja Apostólica
 
Aula nº 1 introdução
Aula nº 1   introduçãoAula nº 1   introdução
Aula nº 1 introdução
 
Lição 01 - Cenário Histórico.pptx
Lição 01 - Cenário Histórico.pptxLição 01 - Cenário Histórico.pptx
Lição 01 - Cenário Histórico.pptx
 
2 PEDRO E JUDAS Hernandes dias Lopes -.pdf
2 PEDRO E JUDAS Hernandes dias Lopes -.pdf2 PEDRO E JUDAS Hernandes dias Lopes -.pdf
2 PEDRO E JUDAS Hernandes dias Lopes -.pdf
 
025 judas
025 judas025 judas
025 judas
 
01.pptx
01.pptx01.pptx
01.pptx
 
A Epístola aos Romanos
A Epístola aos RomanosA Epístola aos Romanos
A Epístola aos Romanos
 
NT III EPISTOLA.pdf
NT III EPISTOLA.pdfNT III EPISTOLA.pdf
NT III EPISTOLA.pdf
 
Lição 1 - A Epístola aos Romanos
Lição 1 - A Epístola aos RomanosLição 1 - A Epístola aos Romanos
Lição 1 - A Epístola aos Romanos
 
Historia igreja
Historia igrejaHistoria igreja
Historia igreja
 
Historia igreja
Historia igrejaHistoria igreja
Historia igreja
 
Boletim cbg n°_38_21_set_2014
Boletim cbg n°_38_21_set_2014Boletim cbg n°_38_21_set_2014
Boletim cbg n°_38_21_set_2014
 
Ebd cpad lições bíblicas 2°trimestre 2016 lição 1 Epístola aos Romanos.
Ebd cpad lições bíblicas 2°trimestre 2016 lição 1 Epístola aos Romanos.Ebd cpad lições bíblicas 2°trimestre 2016 lição 1 Epístola aos Romanos.
Ebd cpad lições bíblicas 2°trimestre 2016 lição 1 Epístola aos Romanos.
 

Último

AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdfAS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdfnatzarimdonorte
 
Material sobre o jubileu e o seu significado
Material sobre o jubileu e o seu significadoMaterial sobre o jubileu e o seu significado
Material sobre o jubileu e o seu significadofreivalentimpesente
 
Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo Dia
Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo DiaSérie: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo Dia
Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo DiaDenisRocha28
 
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 199ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19PIB Penha
 
O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .
O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .
O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .natzarimdonorte
 
Oração dos Fiéis Festa da Palavra Catequese
Oração dos  Fiéis Festa da Palavra CatequeseOração dos  Fiéis Festa da Palavra Catequese
Oração dos Fiéis Festa da Palavra Catequeseanamdp2004
 
GÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 E
GÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 EGÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 E
GÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 EMicheleRosa39
 
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos viniciusTaoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos viniciusVini Master
 
ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............
ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............
ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............Nelson Pereira
 
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).natzarimdonorte
 

Último (12)

AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdfAS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
 
Material sobre o jubileu e o seu significado
Material sobre o jubileu e o seu significadoMaterial sobre o jubileu e o seu significado
Material sobre o jubileu e o seu significado
 
Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo Dia
Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo DiaSérie: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo Dia
Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo Dia
 
Mediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
Mediunidade e Obsessão - Doutrina EspíritaMediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
Mediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
 
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 199ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
 
O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .
O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .
O SELO DO ALTÍSSIMO E A MARCA DA BESTA .
 
Fluido Cósmico Universal e Perispírito.ppt
Fluido Cósmico Universal e Perispírito.pptFluido Cósmico Universal e Perispírito.ppt
Fluido Cósmico Universal e Perispírito.ppt
 
Oração dos Fiéis Festa da Palavra Catequese
Oração dos  Fiéis Festa da Palavra CatequeseOração dos  Fiéis Festa da Palavra Catequese
Oração dos Fiéis Festa da Palavra Catequese
 
GÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 E
GÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 EGÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 E
GÊNESIS A-2.pptx ESTUDO INTEGRADO DE CAPITULO 1 E
 
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos viniciusTaoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
 
ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............
ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............
ARMAGEDOM! O QUE REALMENTE?.............
 
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
 

1 CARTA DE PEDRO OK (3) (1).pdf

  • 3. A base econômica desse império era o comércio e a exploração do trabalho escravo (cf. Ap 18,9-24). Nessa época, o número de escravas e escravos aumentou de maneira assustadora. A exploração da mão de obra escrava na agricultura e nas indústrias artesanais produzia o excedente, possibilitando aumentar o comércio interno e externo. No final do século I, as fronteiras do império romano eram imensas. O ditado: “Todos os caminhos conduzem a Roma” era uma verdade, pois Roma era o centro de tudo e as estradas todas davam acesso a ela. Com a expansão territorial e a formação de uma população tão diversificada, de costumes e culturas muito diferentes, o exército tornou-se a principal força de sustentação da política romana. As autoridades judaicas, presentes desde o século III a.C. na Ásia Menor, perseguiram os cristãos por motivos religiosos e políticos.
  • 4. PEDRO São Pedro é o símbolo da fé que acredita sem precisar de explicações, que segue Jesus com extrema confiança. Simão, imediatamente após o convite de Jesus, abandona seu barco, suas redes e o segue, mesmo sem conhecê-Lo. De pescador de peixes, passaria a ser pescador de homens,conforme a promessa de Jesus (Mt 4,-18).
  • 5. LEMBRE-SE: Pedro é o Apóstolo mais citado nos Evangelhos e aparece ao lado de Jesus em todos os momentos cruciais de sua pregação, pois tinha com Ele uma grande proximidade. A vida de Pedro passou a ser um conhecer a Cristo na caminhada diária e na convivência contínua, o que foi provocando um amadurecimento de sua fé e fidelidade.
  • 6. PEDRO DEIXOU-SE EVANGELIZAR PELO PRÓPRIO CRISTO, COM ELE CONHECEU A DOUTRINA E TORNOU-SE EVANGELIZADOR.
  • 7. Podemos nos ver em São Pedro: humano em sua fragilidade, ele é como todos os outros apóstolos, que diante da agonia e condenação de Jesus, se sentem desanimados e sem chão, como nós, diante dessa pandemia que gerou tanta desesperança e aflição. Porém, Pedro, mesmo assim, perseverava, entre seus erros e acertos, na caminhada junto ao Mestre, pois sabia que não havia outro caminho “Senhor, a quem iriamos nós? Tu tens palavras de vida eterna.
  • 8. LEMBRE-SE: Pedro conduz o Colégio dos Apóstolos após a Ressurreição, glorifica Jesus com suas pregações ousadas e sua liderança e convicção o levam a morte, e seu sangue, escorrendo pelo chão, sela a santidade e vocação missionária da Igreja.
  • 9. Celebramos, no dia 4 de julho, a Solenidade de São Pedro e São Paulo, duas colunas fortes da Igreja desde seus primórdios. Pedro era pescador, certamente pouco letrado, homem simples do povo.
  • 10. 1) era de espírito determinado e amavam intensa e ardorosamente a Cristo; 2) reconheceu sua fragilidade: Pedro chorava amargamente por ter negado três vezes o Senhor. Confiou na misericórdia de Deus e não desanimou; 3) deu-se inteiramente ao apostolado, anunciando Cristo intrepidamente; 4) foi martirizado em Roma: Pedro foi crucificado de ponta cabeça. CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES:
  • 11. O fato de conferir tanta credibilidade a uma só pessoa significa o desejo de Cristo pela unidade. Ele quer um só rebanho e um só Pastor (Jo 10, 14); um só batismo, um só Salvador; Ele quer que todos sejam um como Ele e o Pai (cf. Jo 17, 21); a comunidade dos primeiros cristãos era um só coração e uma só alma (cf. At 2, 4).
  • 12. Por que Cristo escolheu a Pedro, o menos acadêmico, o mais simples, para receber as chaves, para ser a pedra visível da base da Igreja, para ser o primeiro Papa? Certamente, por causa de sua autenticidade, sua capacidade de reiniciar sua vida de fé após as quedas, de perdoar, de perseverar com Cristo, mesmo quando experimentava a fragilidade. Venceu o medo, o desânimo; viveu com Cristo, para Cristo e em Cristo. Deu sua vida por Cristo e teve a graça de morrer com o mesmo suplício, a cruz.
  • 13. Depois de Pentecostes, o apóstolo consagrou toda a sua vida, até o martírio em uma cruz. A Pedro é atribuído o primeiro milagre depois da ressurreição de Jesus, na porta do Templo e ainda, é atribuída a ele, a primeira conversão de um pagão. Nas perseguições sofreu a prisão por testemunhar Jesus e a sua salvação. Foi missionário de Jesus e do seu Evangelho em Jerusalém, na Palestina, em Antioquia, em Corinto, em Roma. Pedro
  • 14. Carta R E A V I V A R A C A M I N H A D A
  • 15. Hoje, existem muitas formas de entrar em contato com as comunidades — por exemplo, internet, boletins, visitas, encontros, reuniões, seminários, congressos, cursos e festas. Viajando no tempo, vamos perceber que no século I d.C. a situação era bem diferente. A maneira mais comum de chegar às comunidades cristãs, espalhadas por todo o império romano, era por meio de cartas. Existia também a visita pessoal, porém, com menos frequência, pois as viagens de um lugar para o outro eram cansativas e demoradas.
  • 16. O objetivo de uma carta é animar e encorajar as comunidades a continuar firmes no projeto de Jesus, uma forma de ensinar a distância, de continuar a catequese. A primeira carta de Pedro, assim como as demais cartas do Novo Testamento, nasceu com essa finalidade.
  • 17.
  • 18. of the Month Essa carta foi enviada a vários grupos de cristãs e cristãos da Ásia Menor, presentes nas seguintes regiões: Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (cf. 1Pd 1, 1), no final do século I d.C. As cartas de Pedro — juntamente com a de Tiago, a de Judas e as três cartas atribuídas a João — fazem parte de uma coleção conhecida como cartas católicas. São cartas dirigidas a várias comunidades, por isso são chamadas de universais. Esse é o sentido da palavra católico.
  • 20. NO INÍCIO DA PRIMEIRA CARTA DE PEDRO, CONFORME O COSTUME DA ÉPOCA, O REMETENTE SE APRESENTA: “PEDRO, APÓSTOLO DE JESUS CRISTO” (1PD 1, 1).
  • 21. E m a i s : o a u t o r d i z q u e e l e é p r e s b í t e r o c o m o o s a n c i ã o s , “ t e s t e m u n h a d o s s o f r i m e n t o s d e C r i s t o e p a r t i c i p a n t e d a g l ó r i a q u e h á d e s e r r e v e l a d a ” ( 1 P d 5 , 1 ) . E s s a s p a l a v r a s f a l a m d a e x p e r i ê n c i a p e s s o a l d o a u t o r e o i d e n t i f i c a m c o m o t e s t e m u n h a o c u l a r d a v i d a , d o s e n s i n a m e n t o s , d a m o r t e e d a r e s s u r r e i ç ã o d e J e s u s .
  • 22. Aceitar que essa carta tenha sido ditada por Pedro e escrita por Silvano nos coloca diante de algumas dificuldades: por exemplo, o fato de o anúncio do evangelho na Ásia Menor ter sido feito por Paulo e sua equipe missionária. O apóstolo Pedro não atuou nessa região. Na carta, o autor afirma que está numa comunidade cristã na Babilônia, em companhia de Marcos (1Pd 5,13). Chamar Roma de Babilônia se tornou uma forma de protesto, após a destruição do Templo e da cidade de Jerusalém, por volta do ano 70 d.C. Outro motivo a considerar é a questão da linguagem: o estilo utilizado nessa carta é do final do século I d.C.
  • 23. Pode-se situar a escrita dessa carta um pouco antes, aproximadamente no ano 90 d.C. Portanto, não foi o apóstolo Pedro quem a escreveu, pois sua morte aconteceu entre os anos 64 e 67. Mas, então, quem foi? É possível que tenha sido escrita por discípulos da comunidade cristã de Roma (1Pd 5,1). As cartas de Pedro, as cartas a Timóteo e a Tito, como também outros livros do Novo Testa­ mento, são escritos pseudônimos, pois, na antiguidade, era costume escrever um livro e usar o nome de um mestre respeitado para assinar o seu texto. Hoje, isso seria considerado fraude e pode­ ria gerar até processo, mas naquele tempo era uma espécie de homenagem a alguém importante.
  • 25. “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos que vivem dispersos como forasteiros no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pd 1,1).
  • 26. Os destinatários da primeira carta de Pedro estavam espalhados em quatro regiões da província romana da Ásia Menor. Essa área caiu sob o domínio do império romano a partir de 133/131 a.C., porém a organização em regiões só aconteceu por volta de 17 a.C. A Bitínia e o Ponto já estavam reunidas em uma só província desde 63 a.C.
  • 27. O s c r i s t ã o s n e s s a r e g i ã o , e s t i m a d o s e m a p r o x i m a d a m e n t e 8 0 m i l , e r a m p e s s o a s p r o v e n i e n t e s d e d i f e r e n t e s l u g a r e s , c u l t u r a s e c o s t u m e s r e l i g i o s o s . E r a m c o m u n i d a d e s p o b r e s , f o r m a d a s , e m s u a m a i o r i a , p o r m i g r a n t e s , f o r a s t e i r o s e o u t r o s e s t r a n g e i r o s r e s i d e n t e s ( 1 P d 1 , 1 ; 2 , 1 1 ) , p r o v e n i e n t e s d e c u l t u r a s n ã o j u d a i c a s ( 1 P d 1 , 1 4 - 1 9 ; 2 , 1 1 - 1 2 ; 4 , 1 - 6 . 1 2 - 1 9 ) .
  • 29. Como a primeira carta de Pedro ajuda as comunidades cristãs a permanecer firmes na fé? Com essa pergunta na mente e no coração, vamos entrar no texto e fazer as nossas descobertas.
  • 30. O cabeçalho de uma carta, conforme o costume dos asiáticos, devia conter o nome do remetente e a sua apresentação, os destinatários e sua localização e, por fim, as saudações conclusivas. Os vv. 1-2 cumprem exatamente essa função. Aqui temos o remetente e sua referência: Pedro, apóstolo de Jesus Cristo; os destinatários: aos que vivem como forasteiros; localização: na diáspora — Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia; saudações conclusivas: “que a graça e a paz sejam abundantes para vocês”.
  • 31. O v. 2a rompe com a estrutura do cabeçalho: “eleitos segundo os desígnios de Deus Pai, pela santificação do Espírito para obedecer a Jesus Cristo e ter parte na aspersão de seu sangue”. Aqui temos informações preciosas: estão enunciados todos os temas que serão desenvolvidos ao longo da carta, a saber: a eleição de Deus Pai, a santificação do Espírito, a obediência a Jesus Cristo para ter parte na aspersão de seu sangue.
  • 32. A primeira carta de Pedro faz uma inversão: Deus elege os marginalizados e excluídos como seu povo eleito. As pessoas que não eram reconhecidas nem tinham cidadania, a partir da eleição de Deus tornam-se cidadãs e pedras vivas na construção da casa de Deus (1Pd 2,5-10). O termo “eleito” vem da tradição judaica e apresenta a relação amorosa de Deus com o seu povo (Dt 7,6; Is 43,20).
  • 33. A nova comunidade de irmãs e irmãos é chamada a “praticar um amor fraterno, sem hipocrisia” (1Pd 1,22). O convite ao amor atinge o centro da mensagem cristã. Viver o amor mútuo, o respeito e a acolhida é fundamental para enfrentar as pressões sociais (1Pd 1,22; 2,17; 4,8; 5,9).
  • 34. A fonte do amor é o novo nascimento: “Vocês nasceram de novo, não de uma semente mortal, mas imortal, por meio da Palavra de Deus, que é viva e que permanece” (1Pd 1,23).
  • 36. Nas comunidades cristãs, as pessoas buscavam viver novas relações, baseadas na partilha e na solidariedade, na tentativa de superar as desigualdades entre servo e senhor, mulher e homem, escravos e livres.
  • 37. COMO ENTENDER A ORDEM CONTIDA NESSA CARTA: “SUBMETAM-SE A TODA CRIATURA HUMANA POR CAUSA DO SENHOR” (1PD 2,13)? E, MAIS ADIANTE, A EXORTAÇÃO DIRIGIDA AOS ESCRAVOS: “ESCRAVOS, SUJEITAI-VOS, COM TODO O RESPEITO, AOS VOSSOS SENHORES, NÃO O SÓ AOS BONS E RAZOÁVEIS, MAS TAMBÉM AOS PERVERSOS (1PD 2,18)? 1PD |André Pacheco
  • 38. As pessoas cristãs tinham de se adaptar ao sistema, pois não havia outra saída. Era questão de sobrevivência. Além da sobrevivência pessoal e da comunidade, a submissão era por causa do Senhor e tinha como objetivo evangelizar com a própria vida (1Pd 2,13.15-16).
  • 39. No entanto, nas comunidades cristãs, procurava-se viver a igualdade e a liberdade. Ir contra a ordem dos donos colocava em risco a própria vida e a de toda a comunidade. Submeter-se, portanto, era forma de resistência e também de evangelizar com a própria vida. A pessoa era chamada, a exemplo de Jesus, a não devolver o mal com o mal.
  • 40. Na primeira carta de Pedro há vários termos ou expressões referentes ao batismo, por exemplo: purificados (1Pd 1,22), sangue (1Pd 1,2.19), crianças recém-nascidas (1Pd 2,2), água (1Pd 3,21). Esse texto relembra para as comunida­ des cristãs o sentido original do batismo, ou seja, de novo nascimento: as cristãs e os cristãos são o novo povo de Deus (1Pd 2,10; 4,17).
  • 41. O novo povo de Deus Da mesma forma, as pessoas cristãs são rejeitadas pela sociedade, mas escolhidas por Deus. A partir dessa escolha, elas são pedras vivas e “vão entrando na construção da casa espiritual, e formando um sacerdócio santo, destinado a oferecer sacrifícios espirituais que Deus aceita por meio de Jesus Cristo” (1Pd 2,5). Para falar de Cristo e da nova comunidade, o autor utiliza a imagem da pedra viva. Essa imagem é inspirada no Antigo Testamento (Is 28,16; Sl 118,22). Cristo é a pedra viva que foi rejeitada por seu povo, mas escolhida por Deus.
  • 42. Cristo é o exemplo a ser seguido (1Pd 3,18). Para entender a vida e a prática de Jesus, as comunidades releem o profeta Isaías, especialmente os cânticos do servo sofredor.
  • 43. A vida, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus têm como pano de fundo a vida e a missão do servo sofredor (1Pd 2,21-25). A ressurreição de Cristo é fonte de esperança e de resistência para as pessoas cristãs.
  • 44. Qual a ideia e a proposta de 1Pd?
  • 45. “A verdadeira graça em que estais estabelecidos” é a comunidade cristã como “a casa de Deus” (ho oikos tou Theou: cf. 4,17). Eis que o povo empobrecido, vivendo sem casa (em paroikia) no meio do mundo, ganha uma casa, a casa de Deus para morar! Para imigrantes sem pátria e sem casa (paroikoi), que anseiam por um grupo que lhes substitua pátria e casa de antigamente, a graça (charis) e a boa-notícia (evangelho) é que o próprio Deus lhes tenha edificado uma casa e nela os tenha acolhido em nova fraternidade (cf. “fostes edificados ‘como casa’ — oikodomeisthe — por Deus”: 2,7).
  • 46. A. carta deseja confirmá-los nesta casa, nesta graça em que estão estabelecidos. Vamos ver em seguida quão imensa graça é essa nova casa.
  • 47. Por que a carta é de exortação, confirmação e estímulo?
  • 48. Porque esses cristãos, já marginalizados na sociedade em que viviam (como estranhos sem casa e aconchego, destituídos de direitos de cidadania plena, imigrantes empobrecidos em tanta coisa humana), também sofriam por serem cristãos, grupo presumidamente estranho e exótico que se afastava dos costumes dos antigos companheiros de paganismo, criticando-os por seu comportamento (4,2-3).
  • 49. Eram, pois, pessoas que careciam de exorta­ ção e estímulo, porque corriam dois riscos:
  • 50. o de abjurar e voltar à sociedade sem os valores cristãos da nova casa, sem conversão, por causa das oposições sofridas (donde o apelo insistente da carta ao paradigma do sofrimento de Cristo); afastar-se-iam, assim, da casa de Deus, a verdadeira graça de Deus em que se podiam apoiar; Primeiro
  • 51. o de fechar-se em si, dentro da casa de Deus, deixando o mundo seguir o seu próprio curso com todos os problemas de seus companheiros de paroikia que, de mais a mais, continuavam no seio das trevas do paganismo (cf. 2,9), deixando de lhes anunciar “a admirável luz de Deus” (cf. ibid.). segundo
  • 52. A comunidade cristã de 1Pd é Igreja plantada no meio dos sem-casa, dos migrantes da colonização romana, que se destacou por intensas migrações internas, plantada no meio dos marginalizados e empobrecidos no seio da sociedade: uma Igreja de paroikoi, sem-casa, no meio de paroikoi, sem-casa.
  • 53. 1Pd concebe a Igreja relativamente fora da sociedade (quanto a costumes e comportamentos), mas dentro dela e por ela responsável por uma existência de testemunho e missão. Pela existência de testemunho, frui e mostra o aconchego da casa de Deus esperando a todos. Nela, brilha a luz de Deus no seio das trevas do paganismo e do desumano da situação de paroikia, situação não fraterna oposta à vontade de Deus e superada dentro da casa de Deus.
  • 54. 1Pd estimula a superar uma teologia de Igreja pautada preponderantemente pelo modelo da “instituição”, que pode se tornar fria por ausência de relações concretas humanas. Convida a colocar os pastores real e socialmente no seio do rebanho, que é o “rebanho de Deus” (5,2) e não deles, como responsabilidade do exemplo da fraternidade e da não dominação.
  • 55. Hoje, nas sociedades latino-americanas, onde o povo vive em imensa paroikia produzida pelas políticas nacionais e internacionais que causam ondas de migrações em busca de sobrevivência, faz-se mister achar a Igreja local realizada como acolhedora casa de Deus, onde todos se sintam em casa e promovidos como oikonomoi dos variados dons de Deus a serviço dos irmãos (4,10), como casa de um “grupo de irmãos” entre os homens empenhados em testemunhar com “o belo modo de viver” (2,12) a vocação universal dos homens para a fraternidade realizada em relações pessoais e estruturais concretas.
  • 56. Terá 1Pd correspondido à meta que se propôs de “exortar e garantir que a verdadeira graça de Deus é esta em que estais estabelecidos”?
  • 57. Perfeitamente, pois traduziu o evangelho do Reino pregado por Jesus no evangelho da casa de Deus acolhedora dos empobrecidos pela sociedade pagã da época, casa onde estes são ricos da graça de Deus, que os estimula ao ensaio de virtudes sociais novas, de relações fraternas sem dominação, da colocação dos dons recebidos de Deus a serviço dos outros no seio de um “grupo de irmãos” que se empenha em antecipar a vocação de fraternidade do gênero humano. Concretizou-se o evangelho rumo a genuínos anseios humanos.
  • 58. Pedro hoje é Francisco, exemplo de simplicidade, alegria, preocupação com a fraternidade (Fratelli Tutti), com a natureza (Laudato Si), com a santidade (Patris Corde; Gaudete et exultate) e devoção a Maria (Mês de Maio, orações pelo fim da pandemia). Em união com o Papa, Sucessor de Pedro, e movidos pelo espírito de missionário intrépido de Paulo, prossigamos nossa fidelidade na Igreja fundada por Cristo, em busca da unidade perdida, agindo sem proselitismo, sem orgulho, sem vaidade, mas na humildade, sinceridade de viver nosso amor a Cristo, assentados firmes sobre a rocha que é o Pedro.