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Capítulo 1 - Língua, linguagem e comunicação
1. Capítulo 1 – Língua, linguagem e
comunicação
À capacidade de comunicar-se por meio de signos damos o nome de
linguagem. Assim, linguagem é a capacidade de o homem comunicar-se, seja
por meio de ícones, índices ou símbolos. A língua é um conjunto de sinais
(palavras) e de leis combinatórias por meio do qual as pessoas de uma
comunidade se comunicam e interagem. Ela pertence a todos os membros de
uma comunidade; por isso faz parte do patrimônio social e cultural de cada
coletividade. Como ela é resultado histórico de uma convenção, um único
indivíduo, isoladamente, não é capaz de criá-la ou
modificá-la. Nem a língua nem a fala são imutáveis.
A língua evolui transformando-a historicamente,
algumas palavras ganham ou perdem certos
fonemas, a exemplo da palavra “oxente”, o termo é
formado pela aglutinação da expressão “ó gente”.
Ó gente Ô gente Oxente Oxe
Para comunicar-se, cada indivíduo utiliza o código linguístico do modo que
julga mais apropriado. No entanto, para que a comunicação se dê de maneira
bem-sucedida, faz-se necessário que a língua – que constitui o código
linguístico – seja respeitada em suas regras internas. Assim podemos dizer que
a língua é comum a todos os indivíduos de uma determinada comunidade
linguística e que a fala é um ato individual, efetuado por um membro da
comunidade
Variedades Linguísticas
A língua possui uma unidade que se garante por uma série de elementos
particulares (como os fonemas, os vocábulos) e regras específicas para sua
combinação, ela também possui variedades condicionadas por fatores sociais,
1 “Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor.” Fernando Pessoa.
2. Capítulo 1 – Língua, linguagem e
comunicação
regionais e das diversas situações em que se atualiza. As variedades
linguísticas podem ser divididas a dois campos de estudo, segundo Dino Preti:
Variedades Linguísticas
Variedades Variedade
geográficas socioculturais
Falares Linguagem Variedade Variedades
regionais ou urbana x devidas ao devidas à
dialetos linguagem rural falante situação
Variedades linguísticas são as 1) Variedades geográficas
variações que uma língua apresenta,
de acordo com as condições sociais,
As variedades geográficas ocorrem em
culturais, regionais e históricas em função do espaço geográfico em que a
que é utilizada. linguagem é analisada, pois um mesmo
objeto de estudo pode possuir inúmeras
nomeações, apesar de designarem um
mesmo ser, dependendo da área estuda.
2) Variedades Socioculturais
2.1) Variedades determinadas pelo falante
a) Grupos Culturais: Uma pessoa que conhece a língua que emprega apenas
“de ouvido”, que não teve oportunidade de tomar conhecimento das regras
internas que a compõe, domina essa língua de forma diversa de uma pessoa
que tem contato com esse código linguístico por meio de livros, dicionários ou
ainda por intermédio da convivência com pessoas de boa formação intelectual.
No entanto, não se quer dizer que um grupo fale melhor ou pior que outro.
2 “Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor.” Fernando Pessoa.
3. Capítulo 1 – Língua, linguagem e
comunicação
Deseja-se apenas registrar o fato de que a formação escolar de um indivíduo,
por exemplo, suas atividades profissionais, seu nível cultural podem
determinar um domínio diferente dá língua.
b) O jargão (uma variação social): Observe os diversos grupos profissionais,
cada um deles faz uso de um vocabulário e expressão que são típicos de seu
trabalho.
As análises feitas até aqui apontam para o fato de que há na língua inúmeras
variedades que representam os usos incontáveis que podem ser feitos dela.
Essas variedades são infinitas porque são infinitas as maneiras como o
vocabulário, a pronuncia e a sintaxe de uma língua pode se manifestar. Definir
quantas são ou contá-las seria pressupor uma artificialidade inexistente, pois
não se trata de uma realidade palpável, que se posso tocar ou distinguir com
clareza. Além disso, as variedades se modificam, permeiam-se, de modo que é
impossível determinar onde cada uma começa ou termina, e sua separação só
pode ser feita didaticamente. Geralmente, cada usuário emprega mais de uma
variedade, condicionando-a à situação em que se encontra, ao gênero
discursivo, às finalidade que determinam sua ação. Desse modo, em um
mesmo ato de fala é possível encontrar características de uma variedade
misturada às de outra. Outra questão fundamental a observar é que uma
variedade não é única e exclusivamente linguística: cada uma dela é também,
e ao mesmo tempo, uma manifestação social e cultural, porque a língua e os
seus usos são determinados e condicionados social e culturalmente. Da
mesma forma que a cultura e a maneira de se expressar de algumas classes
sociais possuem maior prestígio (são mais valorizadas) do que as de outras,
podemos dizer que algumas variedades linguísticas também recebem maior
prestigio enquanto outras são menos valorizadas.
Variedade padrão, língua padrão ou norma culta: é a variedade linguística
de maior prestigio social.
Variedade não padrão ou língua não padrão: são todas as linguísticas
diferentes da não padrão.
3 “Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor.” Fernando Pessoa.
4. Capítulo 1 – Língua, linguagem e
comunicação
Obs.: 1) Marca de oralidade: Algumas construções como “deixei ele” , são
típicas da linguagem oral, até mesmo de pessoas que evitariam expressar-se
assim em textos escritos formais
Obs.: 2) Liberdade de uso Mesmo que em aulas de língua um professor
detenha-se mais nas características da norma padrão, não se espera que um
falante – seja ele quem for – abandone a variedade linguística que domina e
passe a empregar a norma-padrão em todos os momentos de sua vida (lembre
que a norma-padrão é um modelo teórico). É preciso saber utilizar mais de uma
variedade linguística, adequando nosso discurso ao contexto, aos
interlocutores, à finalidade pretendida.
Linguagem verbal: envolvimento direto com a palavra
Linguagem não verbal: sem envolvimento direto com a palavra
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães
choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por
casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do
Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo
deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
4 “Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor.” Fernando Pessoa.