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PROGRAMA DE MELHORIA DA QUALIDADE E DO AUMENTO DA QUANTIDADE
DA ÁGUA DE RIOS E MANANCIAIS, ATRAVÉS DE INCENTIVOS FINANCEIROS AOS
     PRODUTORES RURAIS − PROGRAMA DO PRODUTOR DE ÁGUA / ANA
       Henrique Marinho Leite Chaves1, Devanir G. dos Santos2 e Antônio Félix Domingues3


I. Introdução.
        A diminuição da infiltração da água no solo e a erosão são processos altamente danosos no
âmbito da propriedade, gerando quedas de produtividade e degradação dos solos, com
conseqüências funestas fora da propriedade. No primeiro caso, há a redução das vazões mínimas
dos rios durante a estação seca, e no segundo, o assoreamento dos leitos e a degradação da
qualidade da água. Para enfrentar este problema, a Agência Nacional de Águas - ANA está
desenvolvendo um programa de “compra” dos benefícios ambientais gerados por práticas e manejos
conservacionistas, denominado Programa do Produtor de Água.
        Trata-se um programa voluntário de melhoria da qualidade e da quantidade de água, dirigido
prioritariamente a bacias hidrográficas de importância estratégica para o País. Neste Programa,
pagamentos serão feitos aos produtores selecionados que, através de práticas e manejos
conservacionistas, contribuam para e melhoria das condições dos recursos hídricos superficiais,
segundo o conceito provedor-recebedor. Esses agentes podem ser produtores individuais,
associações de produtores e comitês de bacias, de áreas previamente selecionadas.
        Não há restrições sobre práticas e manejos. Entretanto, os mesmos deverão aportar, de forma
comprovada, benefícios ambientais ao manancial de interesse. Estes benefícios incluem o
abatimento da sedimentação e o aumento da infiltração de água no solo.
        Os pagamentos serão feitos após a implantação de um projeto específico, previamente
aprovado pela ANA (ou por entidade devidamente autorizada), e cobrirão total ou parcialmente (de
50-100%) os custos médios de referência da prática implantada, dependendo de sua eficiência.

        A idéia subjacente, e que encontra amparo na legislação vigente, é de que quando um
usuário causa um prejuízo à bacia hidrográfica, seja reduzindo a disponibilidade de água, ao captá-
la para determinado uso, seja prejudicando sua qualidade, ao lançar efluentes em um corpo d’água,
esse usuário deverá pagar por esse uso, ora se determinado usuário, ao utilizar práticas adequadas e
ambientalmente sustentáveis ou mesmo, ao tratar adequadamente os resíduos de sua produção, traz
benefícios a bacia, sejam eles de maior disponibilidade de água ou de melhoria da qualidade dos
recursos disponíveis, é justo que ele receba um incentivo para continuar executando tais práticas.

II. Critérios de Performance do Programa

1
  Eng.o. Agro., Ph.D., Superintendência de Conservação de Água e Solo /ANA.
2
  Eng.º Agrº , M. Sc..Gerente, Superintendência de Conservação de Água e Solo /ANA.
3
  Eng.o. Agro,, Superintendente de Conservação de Água e Solo / ANA.
Num primeiro momento, pretende-se estabelecer incentivos somente para a manutenção de
práticas que contribuam para o aumento da disponibilidade de água, ou seja, aquelas práticas que ao
reduzir o escoamento superficial, permitam uma maior infiltração da água no solo, a redução da
erosão e, conseqüentemente, do assoreamento das nascentes e cursos d’água. Em etapas futuras do
projeto, serão contemplados também os aspectos qualitativos.

       Preferencialmente, para que o programa seja auto-sustentável e possa perpetuar sem a
presença do poder público, o programa deve ser implantado naquelas bacias hidrográficas que
estejam organizadas em comitês e que tenham optado pela implementação do instrumento de
cobrança pelo uso da água.

       Os critérios de elegibilidade do Programa incluem os relativos à prioridade da bacia,
(manancial de abastecimento público), e aqueles referentes à eficácia das práticas propostas
(redução de um mínimo de 10% do potencial de escoamento superficial e de 25% da perda de solo).
As tabelas 1 e 2 mostram as faixas de eficiência das práticas propostas e os respectivos valores de
referência para os benefícios gerados.


                              Tabela 1. Valores de Referência para o
                                         Aumento de Infiltração

                              Indicador                     Faixa

                               E.I. (%)            10-20     21-30   > 30

                             VRI* (R$/ha)              30     45     60
                          * Máx. de 200 ha /produtor

                              Tabela 2. Valores de Referência para o
                                         Abatimento de Erosão

                              Indicador                     Faixa

                               E.E. (%)            25-50    51-75    >75

                             VRE* (R$/ha)              30     45     60


       Como se observa na Tabela 1, o aumento do percentual de água infiltrada (E.I., em %)
corresponde a um valor em R$ por hectare e são valores crescentes, ou seja, quanto maior a parcela
infiltrada mais R$ serão pagos por ha, o mesmo acontecendo com relação a eficiência na redução
dos processo erosivos (E.E %) da Tabela 2, quanto mais se reduz a erosão mais reais se recebe por
hectare. Esses procedimentos reforçam a tese de que os produtores devem passar a considerar a
água não somente como um insumo, mas, também, como um de seus produtos e o manejo adequado
da água não deve mais ser considerada uma etapa independente do processo de produção agrícola,
mas deve fazer parte de um sistema integrado.
       As etapas para a obtenção dos valores de referência (VRI e VRE) são:
       1. Estimativa dos valores de CN e φ para os usos/manejos atual e proposto, das respectivas
          tabelas básicas (não incluídas);
       2. Cálculo dos índices de eficiência de infiltração e erosão (E.I. e E.E.) (não apresentados)
       3. Estimativa dos valores de referência individuais (VRI e VRE) e total (VRT), em função
           de E.I. e E.E.
       Se as práticas e manejos propostos aportarem ambos os benefícios, isto é, aumento de
infiltração e abatimento de erosão, os valores de referência individuais poderão ser somados (VRT=
VRI+VRE).
III. Exemplo:
       Um produtor hipotético, participante do Programa, possui uma gleba de 100 ha de pastagem
degradada. Seu projeto visa recuperar a mesma, através da adoção do sistema de integração
lavoura/pecuária, e implantação de terraços. Os valores tabelados de coeficientes de escoamento
(CN) e erosão (φ) para as condições atual e proposta são apresentadas na tabela 3 a seguir:
                   Tabela 3. Valores de CN e φ para o exemplo hipotético
                              Situação                  CN           φ

                    Atual (pastagem degradada)               81          0,25

                    Proposta (pastagem recuperada,           50          0,02
                    com terraços)


Aplicando-se as fórmulas [1] e [2] acima, teremos E.I.=100 (1− 50/81) = 38,2%, e E.E.= 100 (1−
0,02/0,25) = 92%. Transportando-se estas percentagens para as tabelas 1 e 2, obtemos valores
VRI= R$ 60/ha e VRE = 60/ha, com um valor total VRT = R$ 120/ha. Assim, o produtor hipotético
faria jus a um total de R$ 12.000,00, após a implantação da prática e do manejo.


IV. Conclusão
       Bem manejada, a agricultura é uma das poucas atividades econômicas capaz de “produzir”
água de boa qualidade. A ANA espera que, com este Programa, os beneficiários da melhoria de
qualidade e da quantidade de água na bacia (empresas de saneamento, indústrias, municípios,
estados) possam co-financiá-lo. Assim, o Programa permitirá uma participação crescente de
produtores, gerando um círculo virtuoso em que todos (sociedade e meio ambiente) só têm a
ganhar. Entretanto, para atingir as metas do Programa, a participação efetiva da Extensão Rural é
imprescindível.

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O conflito
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Programa de incentivos financeiros para produtores rurais melhorarem a qualidade e quantidade da água

  • 1. PROGRAMA DE MELHORIA DA QUALIDADE E DO AUMENTO DA QUANTIDADE DA ÁGUA DE RIOS E MANANCIAIS, ATRAVÉS DE INCENTIVOS FINANCEIROS AOS PRODUTORES RURAIS − PROGRAMA DO PRODUTOR DE ÁGUA / ANA Henrique Marinho Leite Chaves1, Devanir G. dos Santos2 e Antônio Félix Domingues3 I. Introdução. A diminuição da infiltração da água no solo e a erosão são processos altamente danosos no âmbito da propriedade, gerando quedas de produtividade e degradação dos solos, com conseqüências funestas fora da propriedade. No primeiro caso, há a redução das vazões mínimas dos rios durante a estação seca, e no segundo, o assoreamento dos leitos e a degradação da qualidade da água. Para enfrentar este problema, a Agência Nacional de Águas - ANA está desenvolvendo um programa de “compra” dos benefícios ambientais gerados por práticas e manejos conservacionistas, denominado Programa do Produtor de Água. Trata-se um programa voluntário de melhoria da qualidade e da quantidade de água, dirigido prioritariamente a bacias hidrográficas de importância estratégica para o País. Neste Programa, pagamentos serão feitos aos produtores selecionados que, através de práticas e manejos conservacionistas, contribuam para e melhoria das condições dos recursos hídricos superficiais, segundo o conceito provedor-recebedor. Esses agentes podem ser produtores individuais, associações de produtores e comitês de bacias, de áreas previamente selecionadas. Não há restrições sobre práticas e manejos. Entretanto, os mesmos deverão aportar, de forma comprovada, benefícios ambientais ao manancial de interesse. Estes benefícios incluem o abatimento da sedimentação e o aumento da infiltração de água no solo. Os pagamentos serão feitos após a implantação de um projeto específico, previamente aprovado pela ANA (ou por entidade devidamente autorizada), e cobrirão total ou parcialmente (de 50-100%) os custos médios de referência da prática implantada, dependendo de sua eficiência. A idéia subjacente, e que encontra amparo na legislação vigente, é de que quando um usuário causa um prejuízo à bacia hidrográfica, seja reduzindo a disponibilidade de água, ao captá- la para determinado uso, seja prejudicando sua qualidade, ao lançar efluentes em um corpo d’água, esse usuário deverá pagar por esse uso, ora se determinado usuário, ao utilizar práticas adequadas e ambientalmente sustentáveis ou mesmo, ao tratar adequadamente os resíduos de sua produção, traz benefícios a bacia, sejam eles de maior disponibilidade de água ou de melhoria da qualidade dos recursos disponíveis, é justo que ele receba um incentivo para continuar executando tais práticas. II. Critérios de Performance do Programa 1 Eng.o. Agro., Ph.D., Superintendência de Conservação de Água e Solo /ANA. 2 Eng.º Agrº , M. Sc..Gerente, Superintendência de Conservação de Água e Solo /ANA. 3 Eng.o. Agro,, Superintendente de Conservação de Água e Solo / ANA.
  • 2. Num primeiro momento, pretende-se estabelecer incentivos somente para a manutenção de práticas que contribuam para o aumento da disponibilidade de água, ou seja, aquelas práticas que ao reduzir o escoamento superficial, permitam uma maior infiltração da água no solo, a redução da erosão e, conseqüentemente, do assoreamento das nascentes e cursos d’água. Em etapas futuras do projeto, serão contemplados também os aspectos qualitativos. Preferencialmente, para que o programa seja auto-sustentável e possa perpetuar sem a presença do poder público, o programa deve ser implantado naquelas bacias hidrográficas que estejam organizadas em comitês e que tenham optado pela implementação do instrumento de cobrança pelo uso da água. Os critérios de elegibilidade do Programa incluem os relativos à prioridade da bacia, (manancial de abastecimento público), e aqueles referentes à eficácia das práticas propostas (redução de um mínimo de 10% do potencial de escoamento superficial e de 25% da perda de solo). As tabelas 1 e 2 mostram as faixas de eficiência das práticas propostas e os respectivos valores de referência para os benefícios gerados. Tabela 1. Valores de Referência para o Aumento de Infiltração Indicador Faixa E.I. (%) 10-20 21-30 > 30 VRI* (R$/ha) 30 45 60 * Máx. de 200 ha /produtor Tabela 2. Valores de Referência para o Abatimento de Erosão Indicador Faixa E.E. (%) 25-50 51-75 >75 VRE* (R$/ha) 30 45 60 Como se observa na Tabela 1, o aumento do percentual de água infiltrada (E.I., em %) corresponde a um valor em R$ por hectare e são valores crescentes, ou seja, quanto maior a parcela infiltrada mais R$ serão pagos por ha, o mesmo acontecendo com relação a eficiência na redução dos processo erosivos (E.E %) da Tabela 2, quanto mais se reduz a erosão mais reais se recebe por hectare. Esses procedimentos reforçam a tese de que os produtores devem passar a considerar a água não somente como um insumo, mas, também, como um de seus produtos e o manejo adequado
  • 3. da água não deve mais ser considerada uma etapa independente do processo de produção agrícola, mas deve fazer parte de um sistema integrado. As etapas para a obtenção dos valores de referência (VRI e VRE) são: 1. Estimativa dos valores de CN e φ para os usos/manejos atual e proposto, das respectivas tabelas básicas (não incluídas); 2. Cálculo dos índices de eficiência de infiltração e erosão (E.I. e E.E.) (não apresentados) 3. Estimativa dos valores de referência individuais (VRI e VRE) e total (VRT), em função de E.I. e E.E. Se as práticas e manejos propostos aportarem ambos os benefícios, isto é, aumento de infiltração e abatimento de erosão, os valores de referência individuais poderão ser somados (VRT= VRI+VRE). III. Exemplo: Um produtor hipotético, participante do Programa, possui uma gleba de 100 ha de pastagem degradada. Seu projeto visa recuperar a mesma, através da adoção do sistema de integração lavoura/pecuária, e implantação de terraços. Os valores tabelados de coeficientes de escoamento (CN) e erosão (φ) para as condições atual e proposta são apresentadas na tabela 3 a seguir: Tabela 3. Valores de CN e φ para o exemplo hipotético Situação CN φ Atual (pastagem degradada) 81 0,25 Proposta (pastagem recuperada, 50 0,02 com terraços) Aplicando-se as fórmulas [1] e [2] acima, teremos E.I.=100 (1− 50/81) = 38,2%, e E.E.= 100 (1− 0,02/0,25) = 92%. Transportando-se estas percentagens para as tabelas 1 e 2, obtemos valores VRI= R$ 60/ha e VRE = 60/ha, com um valor total VRT = R$ 120/ha. Assim, o produtor hipotético faria jus a um total de R$ 12.000,00, após a implantação da prática e do manejo. IV. Conclusão Bem manejada, a agricultura é uma das poucas atividades econômicas capaz de “produzir” água de boa qualidade. A ANA espera que, com este Programa, os beneficiários da melhoria de qualidade e da quantidade de água na bacia (empresas de saneamento, indústrias, municípios, estados) possam co-financiá-lo. Assim, o Programa permitirá uma participação crescente de produtores, gerando um círculo virtuoso em que todos (sociedade e meio ambiente) só têm a ganhar. Entretanto, para atingir as metas do Programa, a participação efetiva da Extensão Rural é imprescindível.