1. Quantos Enfermeiros trabalham nas instituições públicas?
O SEP realizou durante o mês de Maio um levantamento do número de Enfermeiros que trabalham nas
Instituições Públicas nos Açores. No Serviço Regional de Saúde exercem 1426 enfermeiros, 1078 têm vínculo
público (RCTFP) e 348 em Contrato Individual de Trabalho (CIT). Segundo o mesmo levantamento, no final do
corrente ano 160 enfermeiros serão possuidores de formação especializada e estarão em condições de poder
aceder à categoria de Enfermeiro Principal.
Este levantamento foi disponibilizado aos enfermeiros por email e está disponível em
www.facebook.com/sepacores.
O SEP esteve presente nos dias 25 e 26 de Maio no 1º
Congresso de Enfermagem dos Açores, que decorreu na
Universidade dos Açores. No dia 25 o Coordenador Regional,
Enfermeiro Francisco Branco, participou numa Mesa Redonda
subordinada ao tema “Desafios, Interrogações e Ambições”.
Elegemos como principais desafios para o futuro imediato da
profissão de enfermeiro/a na Região Autónoma dos Açores:
- Regular o mercado de trabalho com vista a que os enfermeiros
a Contrato Individual de Trabalho nos Hospitais EPE´s tenham
expetativa de desenvolvimento profissional;
- Aproveitar a capacidade instalada em cuidados de
enfermagem diferenciados, contribuindo para a visibilidade e a
leitura desses cuidados como receita e não como despesa nos
orçamentos das instituições;
- Promover a aplicação dos projectos construídos em âmbito
académico no contexto do exercício profissional, contribuindo
assim para uma maior credibilização do exercício da profissão
de enfermagem.
2. artigo de reflexão
Isto é que vai uma crise…
A “crise”, de facto, está por todo o lado,
assumindo múltiplas formas em diferentes contextos.
Atracados à crise económica global que atravessamos
Fábio Sousa encontram-se um sem número de consequências ou
de “outras crises” que assumem um impacto
tremendo, que não pode ser ignorado na vida dos
cidadãos, e que podem por em causa o direito a uma
Crise.
vida condigna, que a cada um assiste. Falamos na
Palavra infame e inglória que incorre no risco do
crise do emprego, ou do desemprego, melhor dito, na
seu significado se desvanecer e se deturpar, tal é a
crise da saúde, na crise da produtividade, na crise da
sua assustadora e constante utilização no léxico do
educação, na crise do setor da assistência social,
dia-a-dia de todos nós. Não é difícil confirmarmos a
enfim, na crise do “estado social”, nos moldes como
veracidade desta constatação, basta pararmos e
está definido e o entendemos.
pensarmos por um instante. Estamos rodeados de
A crise económica que atualmente enfrentamos a
“crise” por todos os lados, quer seja pelas imagens
nível nacional, apesar de não se constituir caso único
que nos são transmitidas pelos noticiários e que
no período recente da história do país, tende,
todos os dias nos assaltam com uma fúria impiedosa,
contudo, a assumir contornos e proporções
quer seja pela palavra escrita, que vemos refletida
alarmantes, levando inclusivamente alguns
nos jornais ou através das conversas informais que
especialistas a traçar cenários apocalípticos, alguns
não podemos deixar de manter com aqueles com
dirão de bancarrota e de falência das contas públicas.
quem nos relacionamos.
Mas até aqui nada de novo, com maior ou menor
A todas estas situações encontra-se,
grau de alarmismo, estamos todos cientes de que a
invariavelmente, associada a noção de “crise”,
situação atual afigura-se séria e exige, mais do que
entidade abstrata que, qual polvo desenvolve
nunca, uma reflexão ponderada sobre que decisões
tentáculos e nos envolve e emaranha numa espécie
estruturais de fundo deverão ser tomadas pelo poder
de rede, da qual nos esforçamos, desesperadamente
político no sentido de recuperar a economia nacional
por sair, ou será que nos estamos a deixar ficar, sem
e controlar o descalabro em que se transformou a
resistir e dar luta?
gestão das contas públicas.
Pois bem, no sentido de responder ao convite que
Mas porquê novamente referir tudo isto, quando
me foi endereçado para a escrita de um artigo e ao
já todos o sabemos? Exatamente porque entendo ser
realizar um esforço para a seleção de um eventual
este o preâmbulo essencial, mas não o único, que
tema para o mesmo resolvi debruçar-me sobre a
deve estar subjacente à análise da conjetura laboral
problemática atual da crise. Na verdade, por vezes
onde nos inserimos.
não é preciso procurar muito, o óbvio encontra-se
Reportando-me à nossa profissão, entendo ser de
mesmo à frente dos nossos olhos…
unânime reconhecimento que a atual situação em
Neste sentido, importa realizar uma declaração de
que os serviços, em geral, e os profissionais, em
intenções prévia, uma vez que o presente texto
particular, se encontram está longe, cada vez mais
procura traduzir, tão-somente, um mero exercício de
longe de ser considerada ideal e as perspetivas de
reflexão individual, despretensioso e livre. Tão livre
melhoria teimam em não aparecer, deixando antever
quanto procuro ser na minha dupla vida: a pessoal e a
uma ausência prolongada.
profissional.
3. Isto é que vai uma crise… (continuação)
As cada vez mais adversas condições de trabalho, muito que fomos forçados a aprender a fazer muito
a perda de direitos que tanto custaram a conseguir com pouco e a imbuirmos de esforço e dedicação
em lutas passadas, a não valorização económica do tudo aquilo que ousamos tocar, transformar e criar.
trabalho/cuidados prestados, a perda de poder Sejamos mais uma vez capazes, como soubemos
económico, o subdimensionamento das equipas face anteriormente ser e estar, com ou sem “crise”, de
ao volume de trabalho, que só aumenta, são apenas marcar a diferença com a nossa atuação e
uma ínfima parte do leque de problemáticas que corresponder às justificadas expetativas que os
ameaçam a profissão de enfermagem nos tempos outros em nós depositam. Mesmo em clima pesado
atuais e vindouros e que concorrem para um de austeridade e pese embora alguma desilusão,
crescente sentimento de desmotivação e desencanto perfeitamente legítima, sentida com o futuro que se
geral, perante a profissão, que acredito todos os antevê pouco risonho e profícuo, saibamos estar à
enfermeiros, em maior ou em menor grau, vão altura dos tempos e das correspondentes
desenvolvendo e sentindo, apesar de muitos optarem dificuldades, bem como dos desafios, que em
por não o expressar. momentos de crise, apelam de um modo especial à
Mas o que fazer? Será aceitável irmo-nos inovação e criatividade.
progressivamente deixando afundar, nesta onda de A este propósito torna-se oportuno fazer
desmotivação e de descrença, usando como pretexto referência a uma das definições de crise, encontradas
a tão afamada “crise” que para tudo e mais alguma no dicionário da língua portuguesa, que entende esta
coisa é utilizada para justificar o que se passa na palavra como: conjuntura ou momento perigoso,
atualidade? Devemos, simplesmente, baixar os difícil ou decisivo. Com efeito, a razão pela qual fiz
braços, vencidos pela força das circunstâncias referência no início do presente texto, ao perigo do
adversas? Devemos alterar a forma esforçada e sentido etimológico da palavra crise poder deturpar-
dedicada com que trabalhamos, implementando, se relaciona-se com a evidência de frequentemente
também nós, um corte (que não financeiro, é certo) entendermos a esse conceito mais como um
na qualidade dos serviços e cuidados que prestamos? momento perigoso, havendo a tendência para
Certamente que não! esquecer a segunda parte da definição, ou seja, de
Neste campo os enfermeiros, enquanto classe conceber um momento de crise, igualmente, como
profissional, e ao contrário de outros momentos em um momento decisivo, um ponto de viragem.
que a mesma se demostrou dividida e não coesa, Termino fazendo alusão às palavras de um
sempre demonstraram uma enorme capacidade de visionário, J. F. Kennedy, que na linha do acima
trabalho e uma estoica determinação em fazer mais e exposto referiu: «Quando escrito em chinês a palavra
melhor pela saúde das populações, assumindo-se crise compõe-se de dois caracteres: um representa
como uma verdadeira força motriz do sistema de perigo e o outro representa oportunidade»..ato
saúde português. É justo reconhecê-lo, e há que fazê- Saibamos, pois, caros colegas, neste momento
lo, sem falsas modéstias. Na verdade, acredito que concreto, aproveitar esta “crise”, que nos envolve,
em termos de capacidade de trabalho poucas são as como uma oportunidade. Este é o (grande) desafio
classes profissionais que conseguem ultrapassar os que se nos impõe…
enfermeiros na sua dedicação e espírito de missão. Fábio Sousa
Neste campo não recebemos lições de ninguém, há (Enfermeiro)
fabioalexandre.sousa@gmail.com