Este documento descreve uma pesquisa sobre opiniões e práticas da praxe acadêmica entre estudantes da Universidade de Lisboa. Os alunos desenvolveram um questionário online e receberam respostas de 46 estudantes. A maioria era do sexo feminino e com idades entre 18-21 anos. Os resultados mostram que a maioria dos respondentes acredita que a praxe promove união entre os alunos, mas também pode envolver humilhação ou agressão.
1. PRAXE: OPINIÕES e PRÁTICAS 1
Praxe Académica: Opiniões e Praticas
A elaboração de um relatório na unidade curricular Investigação em Educação I
Patrícia Valério, Ana Beatriz Ferreira & Maria Morodo
IE-UL, Lisboa
1.º Ano Licenciatura Ciências da educação, Turma 2
Dezembro 2013
Resumo
Este artigo encerra o trabalho desenvolvido ao longo do primeiro semestre, pelos alunos do primeiro
ano da Licenciatura de Educação e Formação, no âmbito da unidade curricular Investigação em
Educação, módulos II e III. Face aos objetivos estipulados relativos à metodologia de
desenvolvimento de questionários, foi selecionado e trabalhado o tema da praxe académica. Após o
desenvolvimento e operacionalização do problema de investigação foi construído e adaptado um
questionário, posteriormente enviado aos alunos da licenciatura. Mais do que interpretar resultados,
este trabalho visa demonstrar os conhecimentos e competências adquiridas, relativamente à
elaboração de um questionário de investigação e respetivo relatório. A escolha do tema praxe visa
contribuir também para o reforço da pouca informação existente sobre praxe académica, procurando
descreve- lo com recurso às opiniões e práticas da praxe emitidas pelos alunos, promovendo a
discussão dentro da comunidade académica.
Palavras-Chave : Questionário de Investigação, Investigação em educação, Praxe Académica
Para elaborar este artigo científico, procurou abordar-se o tema da praxe, devido ao facto, de como
alunos de um curso de ensino superior, os alunos da unidade curricular de Investigação em
Educação, terem acesso privilegiado a informação sobre esta prática estudantil, tendo parte deles
2. PRAXE: OPINIÕES e PRÁTICAS 2
vivenciado a praxe. Assim, procurou recolher-se junto dos alunos opiniões e práticas inerentes à
temática referida, procurando recolher informação nas várias dimensões: afetiva, cognitiva e
comportamental. Desta forma foram desenvolvidos conhecimentos e competências na elaboração de
questionários de investigação, aplica-los, analisá- los e apresentar os resultados sob a forma de artigo
científico, obedecendo às normas da American Psychological Association (APA) e simultaneamente
dar um pequeno contributo para a caracterização do fenómeno da praxe, visto que em Portugal as
culturas estudantis e universitárias são pouco estudadas. (Frias, 2003). Torna-se, por isso, necessário
defini- las e entendê- las dentro de um quadro metodológico, social, histórico (Frias, 2003, p. 81) e
psicológico.
O conceito de praxe é marcadamente polissémico, o que determina que diferentes pessoas lhe
atribuam diferentes significados. Alguns estudos elaborados referem-se à praxe académica como
dimensão simbólica de uma entidade social: a Universidade. Esta entidade, é definida, por vários
autores, como um sistema aberto de aprendizagem e de relações interpessoais, sendo por excelência
um contexto de construção e consolidação da autonomia da identidade do sentido de vida do jovem
adulto. (Almeida, 1998) Associada aos estudantes, a praxe, é a parte mais visível dos atos
cerimoniais da comunidade universitária. Trata-se de um conjunto complexo de rituais formais e
festivos, que envolvem mitos, imagens e objetos pré-concebidos, conferindo à Universidade uma
singularidade, muito pouco estudada. (Frias, 2003, p. 81) Há quem lhe atribua o significado de ritual
de passagem, uma forma de celebrar a entrada dos estudantes no ensino superior, de caracter
integrador, uma vez que permite de alguma forma, a entrada numa comunidade e o assumir de uma
determinada identidade. (Loureiro, Frederico-Ferreira, Ventura, Cardoso, & Bettencourt, 2009, p. 89)
Os jovens que ingressam na universidade confrontam-se com uma série de desafios pessoais,
interpessoais, familiares e institucionais que merecem uma análise mais atenta pelas autoridades e
serviços académicos com maiores responsabilidades na receção e apoio aos estudantes. (Almeida,
Soares, & Ferreira, 2002, p. 82) A praxe é um desses desafios, uma das vivências académicas, pelo
3. PRAXE: OPINIÕES e PRÁTICAS 3
que deve procurar-se uma avaliação de despiste das vivências académicas que mais poderão
dificultar (ou facilitar?) a integração e ajustamento dos estudantes.
O que em Portugal se designa por praxe, é o conjunto de tradições estudantis que refletem as mais
diversas humilhações, mais ou menos ritualizadas, que os estudantes mais antigos, os “doutores”,
impõem aos mais novos, os caloiros. A relação doutores/caloiros é assinalada por um conjunto de
símbolos da Praxe, que podem variar consoante a região do país e a sua respetiva academia, que
representa uma associação académica, que se constitui a diferentes níveis segundo as épocas, locais,
sociabilidades e culturas mais ou menos homogéneas e partilhadas. (Frias, 2003, p. 83) A praxe
académica refere-se também a brincadeiras, por vezes violentas, a comportamentos lúdicos e
paródicos: troças, partidas, piadas, de que dão testemunho antigos estudantes. São referidos também,
os registos subjetivo e representacional: o do vivido e o das perceções, que variam segundo os
grupos e as épocas, porque a natureza destas tradições, evolui à imagem da Universidade e da própria
sociedade. Tal como a praxe, a tradição, a cultura e os rituais não são processos óbvios. Este
fenómeno complexo e multiforme implica inúmeros indivíduos, grupos, entidades e organismos. Em
cidades como Porto, Braga e Coimbra, acontecimentos como a Queima das Fitas, regulam o
calendário universitário e mesmo o da própria cidade. As práticas rituais estudantis, as suas normas
reguladoras e os seus excessos são inseparáveis da Escola como instituição- universidade incluída-onde
se desenvolvem. Estão ligadas aos códigos e costumes sócio históricos em vigor entre uma
população jovem, e às sensibilidades coletivas (Frias, 2003, p. 88) em meio urbano, como é o caso da
Universidade de Lisboa, na qual se insere o Instituto de Educação, onde foi aplicado o nosso
questionário de investigação sobre as opiniões e as práticas da praxe.
Esta complexidade do fenómeno da praxe pode indicar como estes desafios ilustram a riqueza de
vivências proporcionadas ao jovem universitário, sobretudo nas fases iniciais de entrada e adaptação
ao ensino superior. O sucesso deste processo de adaptação, especialmente durante o primeiro ano,
constitui um preditor importante da persistência e do sucesso dos alunos ao longo da sua experiência
4. PRAXE: OPINIÕES e PRÁTICAS 4
académica bem como do real aproveitamento das novas oportunidades de desenvolvimento
psicossocial. (Almeida, 1998, p. 114)
A universidade e toda a comunidade académica, não podem viver à margem de que a adaptação à
universidade, embora normal para os jovens que fazem essa opção vocacional, é geradora de stress,
constituindo para os alunos menos resilientes, uma fonte de solidão, desinteresse e por vezes de
depressão. (Almeida & Santos, 2001, pp. 205-206) Em 1997, um grupo de investigadores das
Universidades do Minho e de Coimbra, desenvolveram um Questionário de Vivências Académicas,
abrangendo várias dimensões, pessoais, académicas, relacionais e institucionais da adaptação dos
jovens ao contexto universitário. Na sua versão original continha 170 itens, distribuídos por 17
dimensões o que levantou dificuldades de utilização, pois a par do tempo exigido para a resposta,
registou-se alguma tendência dos estudantes para responder ao questionário de uma forma
estereotipada. (Almeida, Soares, & Ferreira, 2002, pp. 82-83) Sob a orientação da docente, a
Professora Guilhermina Lobato Miranda, foi construído ao longo das aulas um questionário curto,
para eliminar alguns dos problemas levantados por questionários extensos, de forma a contornar as
respostas estereotipadas. Foi utilizada uma escala de Likert, uma das mais populares quando se
pretende medir atitudes e comportamentos, utilizando para esse efeito opções de resposta que variam
de um extremo a outro, estabelecendo diferentes níveis de opinião, importante quando se está a
estudar assuntos sensíveis como é o caso da praxe. Apesar de ser necessário ter em conta que um
estudo de investigação em Educação termina com a apresentação, análise e discussão dos resultados.
(Almeida & Freire, 2008) O fundamental, neste artigo, é o desenvolvimento dos conhecimentos e das
competências relativas à unidade curricular, visto que como alunos do primeiro ano, ainda não
dispomos de tempo e meios necessários para analisar e caracterizar com todo o rigor necessário, o
fenómeno da praxe.
5. PRAXE: OPINIÕES e PRÁTICAS 5
Método
O trabalho de investigação realizado, como exercício académico, é de natureza descritiva, pois
procura contribuir para descrever o fenómeno da praxe, identificando variáveis, partindo dos
constructos formulados nas aulas e inventariando factos relativos às opiniões e práticas da praxe.
Participantes:
A população estudada é composta pelos alunos que frequentam os três anos das licenciaturas de
Ciências da Educação e de Psicologia, no Instituto de Educação e Faculdade de Psicologia, da
Universidade de Lisboa, no primeiro semestre de 2013. A amostra selecionada de forma aleatória
constitui-se pelos alunos que responderam, dentro do prazo estipulado ao questionário enviado
através de formato eletrónico.
Procedimentos:
Utilizando a ferramenta de formulários do Google, disponível através do correio eletrónico da
universidade, foi construído um questionário científico, composto por questões formuladas em grupo
nas aulas, pelos alunos das três turmas de Metodologias da Investigação em Educação, Módulos II e
II. O questionário foi dividido em duas parte, sendo a primeira destinada a caracterizar os
participantes relativamente ao sexo, idade, curso e ano que frequenta, e, se participou ou não na
praxe. Para a segunda parte do questionário foram selecionadas 33 questões fechadas, abrangendo
conteúdos das dimensões afetiva, cognitiva e comportamental. Além disso é um instrumento
económico, e que permite uma menor possibilidade de enviesamento pelo entrevistador, e neste caso
a aptidão dos inquiridos não suscitou problemas, dado que se considera que os alunos do ensino
superior sejam detentores das competências necessárias ao nível das Tecnologias de Informção e
Comunicação (TIC) para responder ao questionário em questão.
6. PRAXE: OPINIÕES e PRÁTICAS 6
Posteriormente, a hiperligação com o questionário foi disponibilizado aos alunos, através da
plataforma Moodle da Universidade de Lisboa, e dado um prazo aos alunos, para que respondessem
por via eletrónica ao questionário. Ficou à responsabilidade da docente da unidade curricular, enviar
o questionário aos restantes alunos, das restantes turmas e curso.
Foi apenas utilizada um instrumento de medida, para descrever as opiniões e práticas da
praxe, através da frequência de ocorrência de determinada resposta. Para cada uma das dimensões,
afetiva, cognitiva e comportamental, classificaram-se as respostas dadas às questões usando uma
escala ordinal tipo Likert de 1-6, sendo 1 (discordo totalmente), 2 (discordo), 3 (discordo
parcialmente), 4 (concordo parcialmente), 5 (concordo) e 6 (concordo totalmente). Todas as
respostas foram dadas de forma anónima. Este instrumento foi selecionado porque permite recolher
diretamente informações sobre variáveis subjetivas e garantir a confidencialidade e anonimato das
respostas.
Resultados
Depois de terem sido obtidas as respostas ao questionário, a docente enviou aos alunos os
resultados gerados automaticamente pela ferramenta do Google utilizada. Esta fez o tratamento
estatístico automático dos dados, neste caso frequências absolutas, apresentando os resultados
graficamente e em percentagem de respostas obtidas.
Foram obtidas 46 respostas, sendo 96% das respostas de alunos do sexo feminino e apenas
4% do sexo masculino. Relativamente às idades, o quadro seguinte caracteriza a amostra estudada,
onde se verifica que 82% dos alunos que responderam ao inquérito, está na faixa etária 18-21 anos,
apenas 4% tem menos de 18 anos e 13% mais de 21 anos. Apenas responderam ao questionário
alunos da licenciatura de Ciências da Educação. Relativamente ao ano de frequência, 65%
frequentam o primeiro ano da licenciatura, 28% frequenta o terceiro ano e 7% frequenta o segundo
ano. Dos inquiridos que responderam, 33% nunca participou na praxe, 11% participou sempre em
7. PRAXE: OPINIÕES e PRÁTICAS 7
todas as atividades e 56% participou parcialmente na praxe, sendo que de forma equitativa, 28%
participou em algumas atividades e os mesmos 28% participou em poucas atividades.
Relativamente aos resultados obtidos às perguntas relacionadas com a praxe, os resultados
encontram-se no quadro que se segue:
Questão
Escala Likert 1-6
1 2 3 4 5 6
Percentagem de respostas (%)
1. A praxe é uma forma de integração na vida académica 0 4 15 33 24 24
2. A praxe é uma forma de humilhação 20 22 13 24 11 11
3. A praxe promove o espírito de união entre os alunos 4 4 20 20 26 26
4. A praxe é uma forma divertida de integrar os novos alunos 2 11 24 24 26 13
5. A praxe é uma forma de agressão física 28 37 15 9 9 2
6. A praxe é uma forma de agressão psicológica 15 46 11 9 9 11
7. A praxe permite construir novas amizades 0 0 17 22 30 30
8. A praxe é um ritual de poder entre pares 7 15 15 26 20 17
9. A praxe suprime o pensamento crítico 13 22 13 30 13 9
10. Na praxe é respeitada a vontade de cada um 15 28 28 13 11 7
11. A praxe estabelece uma hierarquia entre estudantes 2 0 9 24 35 30
12. A praxe é uma antecâmara das futuras relações de poder 7 13 26 15 33 7
13. Participei na praxe por receio de exclusão da comunidade académica 56 14 8 14 8 0
14. Participei na praxe para trajar e poder praxar 18 15 15 6 26 21
15. Durante a praxe há uma uniformização da apresentação pessoal (ex.:
camisolas da mesma cor, sem pinturas e acessórios...)
6 11 14 29 23 17
16. Durante a praxe tive que exibir certos comportamentos (ex.: andar de
pijama, andar com um penico na cabeça, falar com desconhecidos...)
0 3 12 18 29 38
17. Durante a praxe tive que decorar canções e dizer palavrões em
público
0 0 9 3 21 68
18. Durante a praxe tive que fazer exercícios físicos (flexões, abdominais,
correr, saltar, rastejar)
3 0 6 0 22 69
8. PRAXE: OPINIÕES e PRÁTICAS 8
19. Durante a praxe pintaram-me o corpo (cara, braços, pernas) 3 0 9 9 29 50
20. Durante a praxe fui sujeito a rituais de ascensão (batismo, enterro e
traçar de capa)
23 3 3 13 16 42
21. Durante a praxe tive que comer alimentos desconhecidos e sem
talheres
32 9 9 12 18 21
22. Durante a praxe é imposto o consumo de álcool 36 28 3 11 17 6
23. Durante a praxe é incentivado o consumo de drogas leves (erva,
haxixe)
81 11 6 3 0 0
24. Gostei de participar na praxe 9 12 9 18 30 21
25. Gosto de falar sobre a praxe 4 9 28 4 35 20
26. Senti-me humilhado(a) enquanto estava a ser praxado(a) 39 19 10 13 10 10
27. Senti-me envergonhado(a) enquanto estava a ser praxado(a) 22 19 19 22 13 6
28. Senti-me sem vontade própria enquanto estava a ser praxado(a) 38 13 6 16 13 16
29. Senti-me acolhido(a)/protegido(a) durante a praxe 6 16 16 19 31 13
30. Senti receio/medo das atividades da praxe 21 27 15 6 24 6
31. Senti-me feliz durante a praxe 12 6 12 24 33 12
32. Sinto vergonha quando assisto/vejo atividades de praxe 48 22 15 4 7 4
33. Sinto orgulho quando assisto/vejo atividades de praxe 28 13 9 20 15 15
Com as respostas obtidas às perguntas, não foi levantada numa primeira fase, nenhuma hipótese
estatística, sendo essa relegada para uma fase posterior, quando forem adquiridos mais
conhecimentos e competências de tratamento estatístico de dados e de interpretação de resultados.
Conclusões
O questionário elaborado e aplicado aos alunos obteve 46 respostas, num universo de x alunos. Face
à população dos alunos que frequentam os três anos das licenciaturas, que se estima ser constituída
por mais de 100 alunos, e partindo do pressuposto que receberam a hiperligação com o questionário,
apenas 46 alunos responderam, sendo que apenas foram obtidas respostas de alunos da Licenciatura
de Ciências de Educação. Assim a significância da amostra não nos permite considerar que a mesma
seja significativa porque quando o efetivo da população é inferior a 100, o efetivo da amostra exigido
9. PRAXE: OPINIÕES e PRÁTICAS 9
é praticamente coincidente com o da população, que é mais ou menos n=80 (Almeida & Freire,
2008, p. 103) Desta forma, analisando apenas as respostas dadas por 46 alunos de Ciências de
Educação, verifica-se que o maior número de respostas vem de alunos do primeiro ano,
provavelmente por serem os mesmos que frequentam a unidade curricular de Investigação em
Educação I. Quanto ao facto dos alunos serem maioritariamente do sexo feminino, corroboram o
facto da maioria dos alunos de ambos os cursos serem do sexo feminino.
Os alunos participantes revelam na maioria um gosto em falar sobre praxe, pelo que 59% concorda,
ainda que 4% revele que apenas concorda parcialmente em gostar de falar de praxe. Relativamente à
participação na praxe, mais de metade afirmou participar de alguma forma nas atividades inerentes à
praxe, cerca de 67% dos que responderam ao inquérito, os restantes 33% dos que responderam ao
questionário, não participaram na praxe, mas mesmo não participando, responderam ao questionário.
Assim podemos concluir que 33% dos que responderam, fizeram-no não com o recurso a uma
vivência pessoal, mas com recurso a vivências de terceiros, o que poderá sustentar o carater
mediatizado do fenómeno da praxe académica. Quando foram questionados, se gostaram de
participar na praxe, 69% dos alunos que responderam ao questionário, concorda que gostou, sendo
que 51% concorda ou concorda totalmente, e 18% concorda parcialmente, o que poderá revelar a não
concordância com algumas práticas da praxe.
Quando se aborda a questão das agressões físicas e psicológicas, 80% dos inquiridos discorda que a
praxe seja uma forma de agressão física, ainda que 15% discorde parcialmente, e 11% concorde ou
concorde totalmente que a praxe seja uma forma de agressão física, o que pode revelar que os alunos
reagem de formas diferenciadas às atividades físicas da praxe, pelo que poderemos colocar a
hipótese de que perante a mesma atividade física, uns alunos sintam que estão a ser agredidos
fisicamente e outros não o considerem agressão. Relativamente às agressões psicológicas apesar 71%
dos alunos discordar que a praxe seja uma forma de agressão psicológica, 29% dos alunos concorda
com o oposto, admitindo que a praxe e as suas práticas, envolvem algum tipo de agressão
10. PRAXE: OPINIÕES e PRÁTICAS 10
psicológica, apesar de 9% concordar parcialmente, 9% concordar e 11% concordar totalmente, o que
mais uma vez corrobora o caracter subjetivo das práticas e opiniões sobre praxe académica, devendo
toda a comunidade académica manter-se atenta ao fenómeno em todas as suas dimensões.
A resposta mais unânime obtida nas respostas ao questionário, foi relativa ao incentivo ao consumo
de drogas leves durante as práticas da praxe, que revelou que 81% dos que responderam ao inquérito,
discorda totalmente dessa afirmação, podendo indicar ou uma reduzida taxa de utilização de drogas
leves, ou mesmo perante uma situação de anonimato, ter receio de assumir o consumo, visto tratar-se
de um trabalho académico.
Relativamente à participação na praxe por receio de exclusão da comunidade académica, 70% dos
alunos discorda totalmente ou discorda, o que poderá revelar que os alunos que compõem a amostra
participaram na praxe por outros motivos que não a inclusão no meio académico. Por outro lado
relativamente à praxe permitir a construção de novas amizades, 60% dos alunos responde que
concorda ou concorda totalmente. Apesar de não terem sido estudadas correlações entre os dados
obtidos, apesar dos alunos não considerarem que participaram na praxe para serem aceites no meio
académico, consideram que a mesma permite construir novas amizades o que nos pode remeter para
a complexidade e subjetividade do fenómeno dos fenómenos inerentes à integração na universidade,
como é o caso da praxe, temática já referida por vários autores, entre os quais Almeida & Santos em
2001. As respostas obtidas ilustram também, em parte a definição de praxe no contexto português,
como já referido, relativamente á participação em atividades que envolvem supostos
comportamentos de humilhação, como andar de pijama, com um penico na cabeça, etc., sendo que
85% dos alunos concorda de alguma forma com o facto de ter de exibir esses comportamentos e 92%
dos alunos concordar que teve de decorar e d izer palavrões em público.
Não tendo significância, os resultados obtidos poderão servir de futuro como ponto de partida para
uma investigação mais aprofundada sobre a praxe. A elaboração do questionário e do relatório
11. PRAXE: OPINIÕES e PRÁTICAS 11
contribuiram para colocar em prática os conhecimentos adquiridos ao longo das aulas e estimularam
a aquisição e assimilação de competências relativamente à unidade curricular de Investigação em
Educação, podendo contribuir para que no futuro, possamos realizar investigação em educação,
aplicando as metodologias de investigação adequadas.
Referências:
Almeida, L. S. (1998). Questionário de Vivências Académicas para Jovens Universitários: Estudos de
Construção e Validação. Revista galego-portuguesa de psicoloxía e educación, 03, pp. 113-130.
Almeida, L. S., & Freire, T. (2008). Metodologia da investigação em psicologia e educação. Braga:
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Almeida, L. S., & Santos, L. (Abril de 2001). Scientific Electronic Library Online. Obtido em 27 de Dezembro de
2013, de Scielo Portugal: http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?pid=S0870-
82312001000200001&script=sci_arttext
Almeida, L. S., & Santos, L. (Abril de 2001). Vivências académicas e rendimento escolar: Estudo com alunos
universitários do 1.º ano. Análise Psicológica, 19, pp. 205-217.
Almeida, L. S., Soares, A. P., & Ferreira, J. A. (Novembro de 2002). Questionário de Vivências Acadêmicas
(QVA-r):Avaliação do ajustamento dos estudantes universitários. Avaliação Psicológica, 1, pp. 81-93.
Frias, A. (Outubro de 2003). Praxe académica e culturas universitárias em Coimbra.Lógicas das tradições e
dinâmicas identitárias. Revista Crítica de Ciências Sociais, 66, pp. 81-116.
Loureiro, C. R., Frederico-Ferreira, M. M., Ventura, M. C., Cardoso, E. M., & Bettencourt, J. A. (2009). A Praxe
Académica na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Educação: Temas e Problemas, 8, pp. 89-
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