[1] O documento descreve a história inicial da mineração de ouro no Brasil desde os primeiros achados no século XVI até o século XVIII.
[2] É detalhada a expansão da mineração de ouro em São Paulo e Minas Gerais, com a descoberta de várias minas nessa região.
[3] Também são apresentados os métodos utilizados na extração de ouro, como a lavagem em bateias e a utilização de mundéus, além dos equipamentos como pilões e moinhos.
1. Museu das Minas e do Metal
História do Ouro no Brasil
Prof. Dr. Friedrich E. Renger
Instituto de Geociências / UFMG
2. ANTECEDENTES
Primeiros achados de ouro em São Vicente
ca. 1550 (carta do bispo D. Pero Fernandes Sardinha de 12
de julho de 1552)
Bras Cubas, capitão-mor de Santos (+ 1592)
1560 achou ouro e metais; Luis Martins manifestou 3
marcos, 6 grãos (688,8g) em 11/05/1562
Morro da Jaraguá, (Bairro Perús, São Paulo)
Sec. XVI
1603 Regimento para as minas do Brasil
Sec. XVII Criação de Casas de Fundição em São Paulo:
São Paulo 1601, Iguape 1637, Paranaguá 1649
3. Mapa do Brasil, atribuído a Luís
Teixeira, com sobreposição do
contorno atual do litoral do Brasil com
o Meridiano de Tordesilhas e o
perímetro de Minas Gerais.
A real posição do Meridiano de
Tordesilhas, passando próximo à linha
Belém – Ilha de Santa Catarina,
apresenta um ângulo de cerca de 13o
de rotação.
Mapa do Brasil do Roteiro de todos os sinais ... na costa do
Brasil, atribuído a Luís Teixeira, ca. 1585, Biblioteca da
Ajuda, Lisboa, cópia do acervo do Museu de Ouro de
Sabará, fotografia Tibério França.
4. “... É povoada esta terra do Brasil toda
de portugueses quanto dizem as
capitanias, e somente à costa do mar, e
quando muito 15, 20 léguas pelo sertão
/ é mui povoada do gentio da terra /
tem muitos ma[n]timentos / em partes
dela há ouro, assim de minas como de
lavagens.”
Detalhe da legenda do Mapa do Brasil do Roteiro de todos os
sinais ... na costa do Brasil, atribuído a Luís Teixeira, ca.
1585, Biblioteca da Ajuda, Lisboa, cópia do acervo do Museu
de Ouro de Sabará, fotografia Tibério França.
10. As primeiras Casas de Fundição e de Moeda no Brasil
1601 (?) Casa de Fundição de São Paulo
1637 (?) Casa de Fundição de Iguape
Casa de Moeda de São Paulo
1645 (cunhagem dos Vicentinos)
1649 - 1736 Casa de Fundição de Paranaguá
12. Minas de ouro de Paranguá
Mapa da Baia de Paranaguá (ca. 1653)
mostrando as minas de ouro ao redor da
Baia e o caminho para “Queireitiba”.
13. Informação sobre as minas do Brasil (1662)
“Como se tira o ouro das minas que chamão de Pernagua”
Capítulo 1o. [Prospecção e Lavra]
Os que vão tirar este ouro pela experiência que já tem o fazem primeiro com um bordão
ferrado que penetrando a superfície da terra sentindo pedregulho abaixo é sinal certo ter
a terra ouro em quantidade que promete lucro além do gasto e dispêndio feito, e cavando
este pedregulho e terra, enchem umas bandejas de pau que chamam bateas e na ribeira
mais vizinha as mergulham, e a corrente das águas lavando o terrestre, assentam no vaso
e fundo da bandeja os grãos do ouro liquido que a natureza e ventura lhes depara, e
quantos são os ministros desta obra, tanto é o interesse, acertando a ser a paragem
menos
rendosa de ouro que alguma outra daquela costa sempre tiram [com] um índio, cada dia o
Valor de ouro dez vinténs e quando mais avantajada cinco ou seis tostões, e dez e doze
conforme o acerto da experiência dos que o buscam.
Anais Bibl. Nacional, v. 57 (Biblioteca da Ajuda, Lisboa)
14. Informação sobre as minas do Brasil (1662)
“Porque razão não são os quintos deste ouro rendosos e pouco o ouro
que se tira a respeito do que em si tem toda esta costa”
Capítulo 2o.
Vão a tirar este ouro na maneira sobredita os moradores de São Paulo e mais vilas vizinhas
que têm cabedal de escraveria para o poderem fazer, que aos pobres de 3 e 4 até 10 escravos
É impossível pela distância que se alongam de suas vivendas e despovoação daquelas terras
A que vão tirar o ouro, pela fuga dos índios naturais daquela costa, não tem nelas mantimento
Algum de que se sustentarem, e forçosamente hão de levar de suas casas o gasto para a
Jornada, dias de assistência e dilação da vinda, e nunca pode levar tanto mantimento um índio
Nas costas, que sustentando-se ida e vinda se possa deter nas diligências de tirar ouro mais de
Doze ou quinze dias, causas porque são tão poucos os que vão e não muito o que se tira.
[... etc]
Anais Bibl. Nacional, v. 57 (Biblioteca da Ajuda, Lisboa)
17. 3
4
1
2
Mapa da maior parte da costa e sertão do Brazil, extraído do original do Pe. Cocleo, ca. 1700;
(Arquivo Histórico do Exército – AHEx, Rio de Janeiro)
18. Além da localização das minas junto às cabeceiras do Rio Paraopeba, estão registradas também as
Minas grandes achadas ano 1694 nas cabeceiras do Rio Gualachos, as Minas do Saberaboçu [sic], as do
Rio das Velhas e do Rio da Peste ou Guarapiranga onde se lê Aqui a muito ouro, mas ouve muita peste.
19. O jesuíta italiano Padre
Andreoni, mais conhecido por seu
pseudômino, André João Antonil
(1649 – 1716), é autor de um
relato detalhado sobre a região
intitulado Cultura e opulência do
Brasil por suas drogas e minas. A
primeira edição, de 1711, foi
quase integralmente queimada por
ordem da coroa portuguesa na
intenção de manter o segredo das
informações consideradas
estratégicas.
20. O mapa é certamente
posterior a 1715, pois
constam as primeiras vilas
das Minas (às vezes com
letra muito apagada), tais
como do Ribeirão do
Carmo, Vila Rica e Sabará
(estas três erigidas em
1711), São João del Rei
(1713), Vila do Príncipe
(1714) e Pitangui (1715).
Provavelmente é de 1717,
pois não consta a Vila de
São José del Rei, que foi
criada em janeiro de 1718.
Possivelmente é da autoria
de Felix de Azevedo
Carneiro e Cunha (AHU-
MG, Cx. 2, Doc. 4; FJP no
84; pois neste documento
manda-se agradecer o
mapa das minas e conceder
a mercê de cem mil réis).
Mapa das Minas de Ouro e São Paulo e costa do mar que lhe pretence, atribuído a Felix de
Azevedo Carneiro e Cunha, ca. 1717, Biblioteca Nacional, reprodução do Museu Paulista in Mapas
históricos brasileiros, Abril Cultural.
22. A OCUPAÇÃO DAS MINAS NOS MAPAS
DOS PADRES MATEMÁTICOS
Montagem do Conjunto de
quatro mapas do território
das minas entre as latitudes
16º 30’S e 21º 30’S,
atribuídos a Diogo Soares e
Domingos Capassi.
(1734/35)
Estão representados
praticamente todos os
arraiais e vilas da região
existentes na época com a
respectiva identificação
toponímica.
23.
24. O Quinto no Brasil
1534 Nas cartas de doação das capitanias, o rei reservava para si,
entre outros, o direito do Quinto:
D. João III “... Havendo nas terras da dita capitania qualquer sorte de
pedreira, pérolas, aljôfar, ouro, prata, cobre, estanho e chumbo
ou qualquer outra sorte de metal, pagar-se-á a mim o Quinto
...” (ANTT)
1535 Carta de doação das minas de ouro e prata que Fernão Álvares de
Andrade, Aires da Cunha e João de Barros venham a descobrir nas sus
capitanias do Brasil de
D. João III 18 de junho de 1535:
“... os ditos capitães e seus sucessores serão obrigados de pagar a mim e
meus sucessores o Quinto de todo ouro e prata que acharem e
descobrirem, tomarem ou haverem assim das minas como por comércio
ou por qualquer outra maneira e toda a mais parte do dito ouro e prata
será sua, livre e isenta sem dela pagarem outros alguns direitos nem
tributos de qualquer qualidade que seja, salvo o dito Quinto que uma só
vez hão de pagar ... “
1557 Alvará de 17 de dezembro de 1557: Dos que descobrem veios
de metal, e o prêmio que haverão:
D. Sebastião 4o E de todos os metais que se tirarem depois de fundidos e
apurados, pagarão o Quinto a Sua Alteza, salvo de todos os
custos ...
25.
26. 1700 - 1710 Entrega direta dos 20 % ao Provedor dos Quintos
1710 - 1713 Cobrança por bateia (10 oitavas por bateia, isto é por escravo).
1714 - 1718 Fintas anuais, inicialmente de 30 arrobas (ca. de 440 kg)
1718 - 1722 Diminuição da finta para 25 arrobas, deixando os Direitos de Entrada para a
Fazenda Real (a partir de 1o de outubro de 1718).
1722 - 1724 Finta anual de 37 arrobas
1725 - 1730 Entrega de todo ouro recuperado nas lavras na casa de fundição ou Intendências de
Ouro, com pagamento de 20 % do ouro em pó, sendo o resto fundido em barra e
entregue ao minerador com uma guia, podendo sair para fora da Capitania.
1730 - 1732 Idem, porém cobrando somente 12 % (maio de 1730 a setembro de 1732)
1732 - 1734 Idem, desconto de 20 %
1734 - 1735 Finta de 100 arrobas (1469 kg)
1735 - 1751 Capitação (taxação de todos os escravos, inclusive dos domésticos, bem bom das
lojas e vendas)
1751 - 1832 Volta das Casas de Fundição; pagamento de 20 % de ouro físico e entrega da
barra; 1827: extinção do Quinto; 1832: fechamento das Casas de Fundição.
27. Quinta do Borba Gato, Provedor de Quintos
Muro da Quinta do Bom Retiro – Roça Grande, Sabará
30. Barra de ouro da Casa de Certidão de uma Barra de ouro
Fundição de Sabará (1794)
31. Arrecadação anual do Quinto de Ouro em Minas 1697 - 1820
Arrobas
200
150
100
50
0
1690 1700 1710 1720 1730 1740 1750 1760 1770 1780 1790 1800 1810 1820 1830
A arrecadação do período totaliza 110,5 t de ouro, correspondendo
teoricamente a uma produção de 552,5 toneladas
32. A Casa da Moeda Falsa
Planta da “Casa da Moeda Falsa” 1731 (BN, Lisboa, Cod. 746)
19 17
17- Casa de Ignacio de Sousa por terminar
19- Irmida e sacrystia em q’ foi preso Ignacio de
Sousa debaixo do altar
33. O sitio da Boa Vista da Paraopeba no mapa dos Padres Matemáticos
(ca. 1734/35 )
47. Mineralizações de ouro na coluna estratigráfica do QF
Aluviões [sub]-recentes (R das Velhas,
Ribeirão do Carmo)
Cata Branca (veios pós-transamazônicos)
Serra de Ouro Preto
Gongo Soco etc. (jacutinga na Fm. Cauê)
Passagem, Cata Preta (Fm. Batatal)
Conglomerado basal da Fm Moeda
Morro Velho, Cuiabá; São Bento, etc.
48. Mina do Morro Velho, Nova Lima, MG
St. John del Rey Ming Co. Ltd.
Marianne North, 1872
50. Mina Velha do Morro Velho em 1849
Seção da Mina do Morro Velho, mostrando os três corpos Baú,
Cachoeira e Gambá (em 1849)
51. Mina do Morro Velho,Nova Lima
St. John del Rey Mining Co. Ltd
Abertura de poços
52. George Chalmers
Superintendente da
Mina do Morro Velho
(1884 –1924)
Acesso à Mina Grande, aberto em 1889
The Directors of the
St. John del Rey Mining Co. Ltd.
have placed this Tablet
to record their appreciation
of the immense services rendered by
GEORGE CHALMERS
in the re-opening of the Morro Velho Lode
and in designing and constructing the Surface Works
56. A Mina do Morro Velho foi desativada em outubro de 2003, depois de
169 anos de trabalhos da St. John del Rey Mining Co. e sucessoras.
Cava da Mina Velha
Após o processo de decomissionamento está previsto a implantação
de um centro de convenções, um pólo joalheiro e ainda a abertura de
uma parte da mina para visitação.
58. Produção mundial de Ouro
(de minas, sem reciclagem)
2010: 2.652 t 2011: 2.786 t
1. China: 341 t (12,86 %)
2. Austrália: 259 t ( 9,77 %)
3. EUA: 240 t ( 9,05 %)
4. África do Sul 192 t ( 7,24 %)
5. Rússia: 190 t ( 7,16 %)
6. Peru: 170 t ( 6,41 %)
7. Indonésia: 120 t ( 4,52 %)
8. Gana: 100 t ( 3,77 %)
9. Uzbequistão: 90 t ( 3,39 %)
10. Canadá: 90 t ( 3,39 %)
11. Brasil: 62 t ( 2,34 %) Minas Gerais ca. 32,4 t (52 %)
60. Produção de ouro no Brasil em 2011: cerca de 62 t
Minas Gerais: 32,4 t
Anglogold-Ashanti 10,9 t;
Minas Cuaibá/Sabará; Lamego/Sabará; Corr. do Sítio/Sta. Bárbara
Kinross ca. 15 t,
Mina Morro do Ouro/Paracatu)
Jaguar/MSOL ca. 4,85 t;
Minas Turmalina/Conc. do Pará; Caeté; Paciência/Itabirito,Rio Acima)
Goiás: 8,4 t
Anglogold-Ashanti 4,2 t; Mina Serra Grande/Crixás;
Yamana 4,2 t; Mina Chapada/Alto Horizonte
Bahia: 5,5 t
Yamana 5,5 t;
Minas de Jacobina e Fazenda Brasileira/Teofilândia, Marrocas, Araci)
Garimpo: cerca 6 t
63. Mapa geológicodo QF de Peter Claussen (1841)
Detalhe da Serra de Gandarela
com as minas ao longo do contato
64. Mineralização aurífera no conglomerado basal da Fm Moeda
Fm Batatal
Fm Moeda
Unidade III
Cgl basal=Unidade I
Unidade II
65. Henwood, William Jory (1871):
Observations on the metalliferous
deposits: On the gold mines of
Minas Geraes, in Brazil.
(Royal Geol. Society Cornwall,
vol. 8, p, 168 – 370)
O xisto azul-acinzentado e homogêneo de Ouro Fino, perto de Palmital está
intercalado com um xisto quartzoso de 2 a 8 pés de espessura, contendo
pedaços reniformes de xisto, misto com massas globulares e esferoidais de
pirita branca, bem como piritas com estrutura radial lamelar concêntrica,
que fornece 14 g/t.
81. Projetos em desenvolvimento
Pará:
Colossus – Nova Serra Pelada (Au, Pt, Pd), produção a partir de 2013
Eldorado – Tocantinzinho, produção a partir de 2013/14
Mato Grosso:
Yamana – Ernesto/Pau-a-Pique, produção a partir de 2012