1. miúdos
O sucesso dos heróis
C
rianças
irreverentes,
alunos pouco
aplicados e
nada populares,
adultos
apalermados e heróis em
roupa interior são algumas
das personagens que atraem
miúdos para a leitura.
Contextos como a escola ou
a família misturam-se com
banda desenhada e cartoon
humorístico. Resultado: livros
para quem não gosta de ler.
Por enquanto.
“Há miúdos que precisam
deste tipo de livros para
darem início a hábitos de
leitura”, diz Paula Barros,
professora de Português há
26 anos, sobretudo de alunos
com idades entre os 12 e os 15.
“Depois de se habituarem a ter
momentos de concentração
e de silêncio em contacto
com uma história que os
anima, vão querer continuar
e irão certamente tornar-se
À primeira vista, são personagens leitores.”
pouco inteligentes. Mas fazem rir e E não acredita que, por
conviverem com heróis
Ba
en nana
ca
obrigam a pensar. Se há adultos que palermas, se tornem pessoas
imbecis, como certos adultos
lha Que
do r se
na r
não acreditam nisso, outros sabem vaticinam. “O humor é uma
esc fam boa prova de inteligência,
ola oso
pr , m
que este é um dos caminhos para as pessoas bem-humoradas
ep as têm sentido crítico e
ara “e
tór stá conquistar novos leitores. Primeiro são normalmente muito
ia”
a leitura, depois a literatura. criativas.”
Paula Barros lembra que,
em muitas situações, para
Texto Rita Pimenta se “achar graça”, há que
invocar vários conhecimentos
e referências de diversa
natureza. Dá o exemplo
da série de animação The
Simpsons: “Eles adoram e
percebem. É um tipo de
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2. palermas
humor inteligente e crítico, um diário, mas aqui o Banana Devemos confiar disparates”. O livro era da
que exige cultura. Se fosse um será o próprio leitor. Isto série Capitão Cuecas, escrita
livro, eles liam-no.” porque haverá espaço para a nas escolhas dos e desenhada por Dav Pilkey
criança escrever e desenhar e editada pela Gradiva. (Esta
Micróbio da leitura o seu quotidiano na escola. O miúdos. Depois informação chegou à redacção
O mesmo pensa o editor Mário
de Moura (Vogais & C.ª), que
melhor e o pior.
“Se a Castello Lopes distribuir
de lerem estes do PÚBLICO via telefone, numa
altura em que divulgámos um
lançou em Portugal O Diário o filme em Portugal [estreou-se livros, hão-de título da colecção, e foi pedida
de Um Banana ( Jeff Kinney), nos EUA em Março], também a omissão das identidades.)
um sucesso de vendas. “Os faremos o livro do making of”, ler outros, diz a Paula Barros comenta:
livros são humorísticos e as informa o editor. “Embora não conheça o Capitão
personagens irreverentes, professora Paula Cuecas, penso que é uma
mas não imbecis”, diz. Editor
há 57 anos, Mário de Moura
Família e escola
No final do segundo período,
Barros atitude pouco feliz. São livros
que satisfazem crianças com
considera “uma parvoíce” que Paula Barros propôs a algumas determinadas características e
se afirme que “o Banana é lido turmas do 7. º ano da Escola numa certa fase. Não devem c
por quem não gosta de ler”. Secundária de
E defende: “O que é preciso é Bocage (Setúbal) sessões de
úbal)
pôr o micróbio da leitura.” leitura na
Ca
A julgar pelos números biblioteca. de pitão
dos três títulos de O Diário Os alunos sen C
ha uec
de Um Banana, o “micróbio” escolheriamm ram as
já contaminou bastantes os livros quee -no Doi
e e s am
crianças (e adultos) em quisessem e leriam le
sal igos
Portugal. O primeiro volume excertos para os colegas. De
ra o tou
vai na sétima edição (35 mil Alice Vieira da
sp
exemplares de tiragem); o a Sebastião ág
ina
segundo, O Rodrick é Terrível, da Gama, s
teve tiragem de 20 mil (quatro passando por or
edições); e o terceiro, A Última Anne Frank e
Gota, lançado em Março, pelo Banana, a,
já tem três edições (22 mil foi uma
exemplares), informa Ione Devemos
animação. “Devemos
França, responsável pela confiar nas escolhas
divulgação e marketing. tir
deles. A partir de certa
O editor justifica, com altura, eles percebem que
o sotaque e o discurso a necessitam de outras leituras.
demonstrarem um longo E nós, família e escola,
ia
passado no Brasil, o sucesso devemos estar presentes para
tar
do Banana: “Os miúdos se ndo.”
os ir orientando.”
identificam com esse menino O mesmo entendimento
bobo e com problemas de não teve outra professora de
tra
relacionamento com os Português, que, perante uma
outros. Depois, o texto é encarregada de educação
a
bem-humorado e simples, se feliz porque, “pela primeira
e,
mesclando bem com os comics.” vez”, o filho ficava “sentado
o
Para Setembro, início do a ler um livro do princípio ao
ro
próximo ano lectivo, está fim”, lhe disse que não queria
sse
previsto o lançamento de mais nos
os seus alunos “a ler aqueles
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3. miúdos
ser desprezados.” A literatura Portugal, incluindo os Quico Ricotta
virá a seguir. “Eles acabarão de passatempos, a que Texto: Dav Pilkey;
por ser os leitores que nós correspondem 27 edições e ilustração:
queremos.” 48 mil exemplares, informa Martin Ontiveros;
Esta série trata de um herói Rodolfo Begonha, director tradução: Gonçalo
criado por dois amigos que adjunto da Gradiva Publicações. Terra; edição:
frequentam a “quarta classe”, A provar a importância Gradiva Júnior. €9
isto é, o 4.º ano do 1.º ciclo. desta personagem no catálogo
Fãs de banda desenhada, da Gradiva Júnior está o
os dois pequenos rebeldes placard que encima a parte
criam uma história dentro da frente do pavilhão da feira O Capitão Cuecas
da própria história. E o herói destinado ao infanto-juvenil. Texto e ilustração:
acaba por saltar das páginas Lá, pode encontrar um herói Dav Pilkey;
para a escola dos rapazes. voador em trajes menores. tradução: Catarina
Quando Dav Pilkey Horta; edição:
Faltam novos episódios era criança, “os seus Gradiva Júnior. €10
Helena Rafael, assessora professores achavam que
de imprensa da editora era muito irrequieto e Henrique,
Gradiva, explica que parte que tinha ‘dificuldades de o Terrível
do sucesso se deve “a uma comportamento’”. Nalgumas Texto: Francesca
certa escatologia dos temas, edições, conta-se: “Quando Simon; ilustração:
onde entram sanitas, fraldas não estava a escrever frases Tony Ross;
e afins... o que diverte os na sala de castigo, podia ser O Diário de Um tradução: Rómina
miúdos em certas idades”. encontrado na sua secretária Banana Texto e Laranjeira; edição:
No entanto, desde 2006 particular no corredor a ilustração: Jeff Gailivro. €5,50
que o autor não cria histórias escola. Foi lá que passou Kinney; tradução:
para esta colecção, nem para muito tempo a escrever Renato Carreira;
uma semelhante, a do robô e desenhar os seus livros edição: Vogais
Quico Ricotta. “Embora se vão originais de banda desenhada & C.ª €14,40
reeditando os títulos, os miúdos acerca de um super-herói
reclamam novos episódios.” E é denominado Capitão Cuecas.
certinho que durante a Feira do Publicar um livro era um
Livro, que decorre em Lisboa, sonho de Dav.” Conseguiu.
terão de explicar muitas vezes às
crianças que não sabem o que se Procurar boas traduções
passa co o autor.
com auto . Na linha de protagonistas
No total, já foram publicados crianças, semelhantes ao
dez livros do Capitão em Banana, está o Menino
Me Geronimo Stilton
ao nino Texto: Geronimo
pa
i p Nico Stilton; ilustração:
ara lau
lhe Fr Roberto Ronchi;
faz anc tradução: Carlos
er ês,
os p Grifo Babo;
TP ede
C edição: Editorial
Presença. €8
O Menino Nicolau
Texto: René
Goscinny;
ilustração: Jean-
Jacques Sempé;
tradução: Miguel
Martins Rodrigues;
edição: Teorema.
€17
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4. Nicolau (René Goscinny divertidos, lêem-se depressa e
e Jean-Jacques Sempé, com facilidade, fazem lembrar
Teorema), de que Paula algumas situações por que já
Barros é fã. Leu as histórias passaram (na escola ou em
do Nicolau na língua original, família) e têm desenhos fáceis
em francês, mas aplaude a de entender e de reproduzir.
tradução para português.
Um aspecto que a professora Um livro, uma homenagem
considera muito importante Para a professora de Português,
na escolha de livros de importa realçar a grande
autores estrangeiros. “diversidade de escolha de
Sugere também que as livros, quer em quantidade
famílias leiam em conjunto. quer em qualidade”. O que não
Mesmo que os miúdos já acontecia antigamente. “Hoje
estejam a ficar crescidos e sejam escreve-se mais para os jovens
leitores autónomos, “pode ser e escreve-se no sentido de os
muito divertido partilharem cativar para a leitura, com o
alguns livros”. Se os adultos objectivo de formar leitores
conhecerem as personagens e activos. É neste âmbito que se
os contextos que mais atraem podem enquadrar os livros de
os seus educandos, terão maior que falamos.”
facilidade em encaminhá-los Também satisfeito com o
literariamente. E os próprios interesse na promoção da
adultos irão surpreender-se com leitura e na criação de novos
o que os filhos sabem e com o leitores competentes está
que vão exigindo dos autores Mário de Moura, que valoriza o
que lêem. papel dos planos nacionais de
Outras personagens de leitura. E considera a Internet
sucesso junto dos mais novos uma aliada das letras. “Com a
são Henrique, o Terrível Internet, os miúdos começaram
(Francesca Simone e Tony a ler mais. E a perceber que a
Ross, Gailivro) e o rato leitura é uma coisa gostosa.”
Geronimo Stilton (Editorial O editor, que diz que “o livro
Presença). Entre comentários é um presente barato”, sugere
nos sites criados pelas editoras que se ofereçam sempre livros.
e conversas da Pública com “Dar um livro de presente é
algumas crianças leitoras uma homenagem.” a
destas séries, há em comum o
seguinte: os livros são muito rpimenta@publico.pt
As personagens
são irreverentes,
mas não imbecis,
diz Mário de
Moura, que edita
“O Diário de Um
Banana”