Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Histórias Infantis
1. A OVELHA GENEROSA
Era uma ovelha muito generosa. Sabem o que é ser generoso? É gostar de dar, dar por prazer.
Pois esta ovelha era mesmo muito generosa. Dava lã. Dava lã, quando lhe pediam. Vinha uma
velhinha e pedia-lhe um xailinho de lã para o Inverno. A ovelha dava. Vinha uma menina e
pedia-lhe um carapuço de lã para ir para à escola. A ovelha dava. Vinha um rapaz e pedia-lhe
um cachecol de lã para ir à bola. A ovelha dava. Vinha uma senhora e pedia-lhe umas meias de
lã para trazer por casa. A ovelha dava.
- Ó ovelha, não achas de mais? Xailes, carapuços, cachecóis, meias... É só dar, dar...
- Não se ralem - respondia a ovelha. - Vocês não aprenderam na escola que a vaca dá leite e a
ovelha dá lã? É o que eu estou a fazer.
Apareceu a Dona Carlota, muito afadigada:
- Eu só queria um novelozinho para fazer um saco para a botija. Ainda chega? Pois claro que
chegava. A ovelha a dar nunca se cansava.
Veio a Dona Firmina, muito preocupada:
- Eu só queria um novelozinho para uma pega para a cozinha. Ainda chega? Pois claro que
chegava. A ovelha a dar nunca se cansava.
Veio a Dona Alda, muito atarantada:
2. - Eu só queria um novelozinho para acabar uma manta. Ainda chega? Pois claro que chegava. A
ovelha a dar nunca se cansava.
E eram coletes, camisolas, golas, golinhas, luvas... que a gente até estranhava que a lã se lhe
não acabasse. A ovelha sorria e tranquilizava: - Não acaba. Nunca acaba. Conhecem aquele
ditado: "Quem dá por bem, muito lhe cresce também"? Pois é o que eu faço.
E a ovelha generosa lá foi atender uma avó, que precisava de um novelo para um casaquinho
de bebé, o seu primeiro neto que estava para nascer...
António Torrado
3. A Gata e o Sábio
O sábio de Bechmezzinn (aldeia situada no norte do Líbano) era muito rico. Dedicava o melhor
do seu tempo ao estudo e a tratar os doentes que o procuravam. A sua fortuna permitia-lhe
socorrer os infelizes e toda a gente dizia que ele era a dedicação em pessoa.
Homem piedoso e recto, a injustiça revoltava-o. Muitas pessoas vinham consultá-lo quando
tinham alguma divergência com vizinhos ou parentes. O sábio dava os melhores conselhos e
desempenhava frequentemente o papel de mediador.
Tinha uma gata a quem se dedicava particularmente. Todos os dias, depois da sesta, ela miava
para chamar o dono. O sábio acariciava-a e levava-a para o jardim, onde ambos passeavam até
ao pôr-do-sol. Ela era a sua única confidente, diziam os criados.
A gata dirigia-se muitas vezes à cozinha, onde era bem recebida. O cozinheiro não escondia
nem a carne nem o peixe, porque ela nada roubava, fosse cru ou cozinhado, contentando-se
com o que lhe davam.
Ora, uma tarde, depois do passeio diário, a gata roubou furtivamente um pedaço de carne de
uma panela. Tendo-a surpreendido, o cozinheiro castigou-a puxando-lhe severamente as
orelhas. Vexada, a gata fugiu e não apareceu mais durante todo o serão.
Intrigado, o sábio perguntou por ela na manhã seguinte. O cozinheiro contou-lhe o que se
passara. O sábio saiu para o jardim e durante muito tempo chamou a gata, que acabou por
aparecer.
— Porque roubaste a carne? — perguntou o sábio.
— O cozinheiro não te dá comida que chegue?
A gata, que tinha parido sem que ninguém soubesse, afastou-se sem responder e voltou
seguida de três lindos gatinhos. Depois, fugiu e trepou à figueira do jardim. O sábio pegou nos
três gatinhos e entregou-os ao cozinheiro que, ao vê-los, mostrou uma grande admiração.
4. — A gata não roubou comida a pensar nela. — declarou o sábio. — O seu gesto foi ditado pela
necessidade. Portanto, não é de condenar. Para alimentar os filhos, qualquer ser, mesmo mais
frágil do que um mosquito, roubaria um pedaço de carne nas barbas de um leão. A gata
limitou-se a seguir o que lhe ditava o seu amor maternal. A conduta delanada tem de
repreensível. O pobre animal está a sofrer por a teres castigado injustamente. Fugiu para a
figueira porque está zangada contigo. Deves ir lá pedir-lhe desculpa, para que se acalme e tudo
volte ao normal.
O cozinheiro concordou. Tirou o turbante, dirigiu-se à figueira e pediu perdão ao animal. Mas a
gata virou a cabeça. O sábio teve de intervir. Conversou longamente com ela e lá conseguiu
convencê-la a descer da árvore.
A gata desceu lentamente da figueira, veio a miar roçar-se nas pernas do sábio e foi para junto
dos seus três filhotes.
Tradução e adaptação
Jean Muzi
16 Contes du monde arabe
Paris, Castor Poche-Flamarion, 1998
Adaptado
5. A raposa e a cegonha
Certo dia de Primavera a comadre raposa convidou a sua amiga cegonha para ir jantar.
A cegonha ao ver servirem o jantar em pratos tão rasos queixou-se:
- Ó comadre raposa, assim eu não como nada enquanto você enche a barriguinha.
- Ó comadre cegonha - respondeu a raposa, aqui em casa todos lambemos bem, por isso não
precisamos de pratos mais fundos.
A cegonha calou-se mas nada pôde fazer. Saiu de casa da raposa esfomeada.
Dias seguintes foi a vez de a raposa ser convidada. Mas quando ela viu servir o almoço:
- Que desastre! - queixou-se a raposa. Com este modelo de pratos não consigo comer, mas tu
comes.
- Não tenho culpa, cá em casa todos temos o bico comprido.
A raposa calou-se lembrando-se da partida que fizera dias antes.
6. -------------------------------------------------------------------------------------------------------
Um dia a raposa convidou a sua amiga cegonha para jantar.
"Amanhã à noite em minha casa, por volta das oito horas!", disse-lhe. "Vou preparar-te um
bom jantar."
Toda contente, no dia seguinte a cegonha arranjou-se para ir a casa da sua amiga raposa.
"Bem-vinda!", disse a raposa. "Vamos já para a mesa. Está tudo pronto!"
A cegonha sentou-se, mas logo percebeu que ia ser impossível comer!
De facto a raposa servira uma sopa muito líquida, num prato pouco fundo, e com o seu bico
longo a cegonha nem a conseguiu provar.
Pelo contrário, a raposa comeu tudo num instante e no fim até lambeu o prato.
"Lamento que tenhas comido tão pouco", disse a raposa rindo por debaixo dos bigodes.
"Desculpa-me, com certeza não gostaste da minha sopa!"
"Estava deliciosa, mas estou com pouco apetite", respondeu educadamente a cegonha.
"Mesmo assim, passei uma bela noite na tua companhia."
Uma semana depois, a cegonha resolveu convidar a raposa: "Amanhã à noite em minha casa,
por volta das oito horas!", disse-lhe. "Vou preparar-te um bom jantar."
Toda contente, no dia seguinte a raposa arranjou-se para ir a casa da sua amiga cegonha.
"Bem-vinda!", disse a cegonha. "Vamos já para a mesa. Está tudo pronto!"
A raposa sentou-se à mesa, mas logo percebeu que desta vez foi a cegonha que lhe pregou
uma boa partida.
Na mesa esperava-os uma sopa, muito apetitosa, servida num vaso de gargalo comprido e
estreito.
Enquanto a cegonha com o seu longo bico limpou a sopa num instante, a raposa apenas
conseguiu lamber a borda do vaso, mas fez de conta que estava tudo bem.
Ao fim da noite, a cegonha disse: "Lamento muito, mas sabes como é: cá se fazem, cá se
pagam!"
A raposa não respondeu nada e, triste e esfomeada, voltou para sua casa.