2. Acarretamento
Ocorre quando, num par de sentenças, a
verdade da primeira ‘acarreta’ na verdade da
segunda, ou seja:
A verdade da sentença A assegura a verdade
da sentença B.
Então, a verdade da primeira sentença tem
que estar na verdade da segunda.
3. Acarretamento
Exemplo:
Par1
A) Miquéias comprou um computadornovo.
B) Miquéias comprou um aparelho.
A verdade de A está contida em B.
Miquéias comprou um computador, ou seja, um
aparelho. Todo computador é um aparelho.
4. Acarretamento
Outro exemplo:
Par2
A) George consertou o carro dele.
B) George consertou um veículo.
Há acarretamento de A para B, pois os carros
estão na categoria dos veículos, ou seja, todo
carro é um veículo. Concluí-se que, se
George consertou um carro, ele consertou um
veículo.
5. Acarretamento
Como ocorremos acarretamentos?
Os acarretamentos são fenômenos semânticos
que funcionam no posto do enunciado, ou
seja, aquilo que está ligado ao sentido literal
do enunciado.
Os acarretamentos podem ocorrer como
relações semânticas de sinonímia ou
hiperonímia entre enunciados ou por troca de
vozes no enunciado (ativa-passiva).
6. Acarretamento
Como saberse há acarretamento entre
sentenças?
Quando se fala de acarretamento de A para B
estamos colocando não apenas um
relacionamento semântico entre as sentenças,
mas estamos dizendo que a verdade de A está
inserida na verdade de B.
Ex:
A. Maria trouxe bananas, maçãs, uvas, alface e repolho.
B. Maria trouxe frutas e verduras.
7. Acarretamento
Analisando o exemplo anterior, não teríamos
acarretamento de B para A, e nem se as sentenças
estivessem ordenadas como no caso a seguir:
A. Maria trouxe frutas e verduras.
B. Maria trouxe bananas, maçãs, uvas, alface e repolho.
Caso estivessem assim dispostas, não haveria
acarretamento de A para B. Primeiro, quando falamos
de frutas não falamos apenas de bananas, ou maçãs
ou uvas. E se fossem pêras, morangos e jaboticabas?
O mesmo vale para as verduras? Só existem alface e
repolho de verduras?
8. Acarretamento
Os acarretamentos “funcionam” a partir
dessas relações de sinonímia ou hiperonímia
(maior que).
Carros, motos, caminhões<veículos.
Computador, celular, TV<aparelhos.
Maçã, uva, pêra, limão<frutas.
9. Acarretamento
Vamos pensarumpouco?
Imagine que Miquéias foi a uma loja de
departamentos. Foi à seção de moda. Alguém diz
para você:
- Miq ué ias co m pro u alg um as ro upas o nte m .
Isso significa que:
1. Miquéias comprou bermudas?
2. Miquéias comprou calças?
3. Miquéias compou camisas?
4. Miquéias comprou cuecas e meias?
10. Outros nexos semânticos
Existem outros nexos semânticos que são
bastante próximos ao acarretamento. Vamos
à eles:
Sentenças equivalentes;
Sentenças contrárias;
Sentenças contraditórias;
11. Sentenças equivalentes
A verdade de A está em B e a verdade de B está em
A. As duas são sempre verdadeiras juntas ou sempre
falsas juntas.
Ocorre ou por sinonímia das duas sentenças (por
paráfrase ou sinonímia lexical) ou por troca das vozes
(voz ativa para passiva ou o contrário). Ve r pg . 24 do
m ate rial.
Exemplos
Par 1
A. Pedro é irmão de Leda.
B. Leda é irmã de Pedro.
Par 2
A. Pedro cancelou o provedor de internet.
B. O provedor de internet foi cancelado por Pedro.
12. Sentenças contrárias
Observe o exemplo a seguir:
A. Mariana e stá na e sco la trabalhando .
B. Mariana e stá na praia re laxando .
Imagine que trata-se da mesma Mariana e
que as duas sentenças foram enunciadas no
mesmo momento. Qual das duas sentenças
parece ser verdadeira? É possível dizer?
13. Sentenças contrárias
Eis um exemplo de sentenças contrárias. Se
A for verdadeira, (na escola trabalhando), Bé
falsa (na praia relaxando); Mas se B for
verdadeira, A é falsa. E se Mariana estiver na
igreja orando? As duas, A e B, podem ser
falsas juntas.
Concluindo, num par de sentenças contrária,
ou uma ou outra é falsa. A e B nunca são
verdadeiras juntas, mas podem ser falsas
juntas.
14. Sentenças contraditórias
Agora observe os exemplos a seguir, retirados
do material didático, na página 26.
Par 1
A. D. Pedro II foi o segundo imperador do Brasil.
B. D. Pedro II não foi o segundo imperador do Brasil.
Par 2
A. D. Pedro II está vivo.
B. D. Pedro II está morto.
15. Sentenças contraditórias
Reparou que os pares estão numa relação de
contradição?
O ser/estar e não ser/estar indica que uma das
duas é verdadeira e a outra é falsa,
impossibilitando que as duas sejam
verdadeiras ou falsas juntas. Releia o par 1.
As sentenças que estão numa relação de
antonímia, como vivo-morto, acesa-apagada,
sujo-limpo, indicam que existe um sentença
verdadeira e outra falsa. Releia o par 2.
16. Sentenças contraditórias
Portanto, sempre que A é verdadeira, B é
falsa, ou sempre que B é verdadeira, A é
falsa, de maneira que A e B nunca poderão
ser, numa sentença contraditória, verdadeiras
ou falsas juntas.
17. Pressuposição
A pressuposição é um nexo bastante diferente
do acarretamento. É uma inferência
semântica que fazemos daquilo que está na
sentença (e não fora dela).
A pressuposição não precisa
necessariamente de pare s para a análise.
Pense apenas na relação entre posto e
pressuposto, que são, respectivamente,
sentido literal (“aquilo que você já sabe”) e
sentido inferido (a informação que você
considera como nova).
18. Pressuposição
Moura (2006) diz que a principal diferença
entre a pressuposição e o acarretamento está
na validade da verdade de uma sentença, ou
seja, se negarmos uma pressuposição, a
inferência continua, mas se negarmos um
acarretamento, não é mais verdadeira.
Veja o exemplo abaixo:
Zezinho deixou de alimentaro gato.
O que podemos dizer dessa sentença?
19. Pressuposição
Algumas coisas podemos dizer desse exemplo:
O k, e xiste um g ato , e xiste um a pe sso a cham ada Ze z inho ,
ce rto ? (pre ssupo sição de e xistê ncia)
Po de m o s diz e r tam bé m q ue Ze z inho alim e ntava o citado
g ato ante s de ssa e nunciação , ce rto ? (m udança de e stado )
Ainfo rm ação q ue e stá no se ntido lite ral é a de q ue Ze z inho
não alim e nta o g ato . (po sto , e stá nítida e ssa info rm ação no
e nunciado ).
As duas primeiras informações não estão no
sentido literal do enunciado que exemplificamos.
Nós inferimos essas informações, que estavam lá
no enunciado.
20. Pressuposição
Como isso ocorre? Como identificamos as
pressuposições?
Mo ura (20 0 6 ), faz e ndo um a le itura de
Le vinso n, e lucida q ue e xiste m alg um as
e xpre ssõ e s, e struturas e ve rbo s q ue ativam
pre ssupo siçõ e s. (pg . 1 7 -21 )
22. Dúvidas cruéis
Algumas pressuposições são acarretamento?
Sim! Algumas pressuposições podem, se
organizadas em pares ou sentenças
ordenadas, conter acarretamento de A para B,
ou de A para C etc. Mas cuidado! Muito
cuidado! Muitas pressuposições podem
acarretar, mas acarretamentos não são
pressuposições.
23. Dúvidas cruéis
O que é uma pressuposição semântica e uma
pressuposição pragmática? A pressuposição
semântica só infere aquilo que está no
enunciado e não fora dele. A pressuposição
pragmática infere bem mais que aquilo que
está no enunciado.
Ex.:
24. Bibliografia
Ilari, Rodolfo. Introdução à semântica: brincando com a gramática.
7.ed. São Paulo: Contexto, 2009. pp. 85-91.
Ilari, Rodolfo; Geraldi, João Wanderley. Semântica. 11.ed. Série
Princípios. São Paulo: Ática, 2008. pp. 51-63.
Santos, Maria Leonor Maia dos; Trindade, Mônica Mano. Semântica. In:
Aldrigue, Ana Cristina de Sousa (org.). Linguagens: usos e reflexões. João
Pessoa: Editora da UFPB, 2009. Vol.5. pp. 13-29.
Moura, Heronídes Maurílio de Melo. Significação e contexto: uma
introdução a questões de semântica e pragmática. 3.ed. Florianópolis:
Insular, 2003. pp. 11-58.