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O POVO CEGO
E AS FARSAS DO PODER

                      uma aventura real no
                      país do faz-de-conta




         A visão e a história de uma vítima de sucessivas tentativas de homicídio
                        empreendidas pelo serviço secreto brasileiro



Sexo                  Prostituição              Psiquiatria           Conspirações
Política              Homofobia                 Matemática            Espionagem




                 eric campos bastos guedes
Eric Campos Bastos Guedes                   1                  O Povo Cego e as Farsas do Poder
Eric Campos Bastos Guedes   2   O Povo Cego e as Farsas do Poder
“A culpa é do hipócrita, mentiroso e esperto ao contrário,
que atira a pedra e esconde a mão.”
Estamira




Eric Campos Bastos Guedes                         3          O Povo Cego e as Farsas do Poder
Índice
PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO...................................................................................................5
PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO...................................................................................................6
PREFACIO À TERCEIRA EDIÇÃO...................................................................................................7
Parte I
(Introito – Ilustrando o problema com textos relacionados)................................................................9
Parte II
(Vida Pregressa – Uma Pequena Autobiografia)................................................................................13
Parte III
(Difamação e tentativas de homicídio - o ataque de inimigos ocultos)..............................................61
Parte IV
(Indução ao suicídio, indução ao homicídio e infestação por cisticercose)......................................134
Parte V
(Escâneres comentados – a vilania familiar)....................................................................................186
Parte VI
(o ataque dos religiosos e infecção por sífilis).................................................................................200




Eric Campos Bastos Guedes                                        4                          O Povo Cego e as Farsas do Poder
PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO

Este não é um livro de ficção, lamentavelmente. Desde o início de 2007 venho sofrendo
perseguições de caráter político e diversas ameaças 1. Tive meu nome difamado, fui drogado
involuntariamente e sofri tentativas de homicídio. Sabemos que tais coisas ocorreram no passado e
que talvez ocorram em algumas partes do mundo hoje. Porém sempre pensamos nisto como algo
um tanto distante de nossa realidade. Até acontecer conosco.
        A maioria dos países tem um serviço secreto. Que propósitos tem tal atividade? Eles alegam
proteger a soberania nacional e a democracia, entre outras coisas. No entanto é difícil imaginar que
um governo tão corrupto esteja, ao mesmo tempo, tão preocupado em manter a democracia. A
soberania nacional, por sua vez, continua sendo uma abstração sem base concreta. Basta citar o caso
do nióbio – mineral absolutamente necessário para a indústria mundial. Somos o único país do
mundo com quantidade significativa de nióbio e estamos vendendo este mineral a preços risíveis. O
silêncio a esse respeito é total.
        A grande mídia distrai a população com questões que nos chocam. Somos submetidos a
sucessivos sequestros emocionais e levados, assim, a ignorar os problemas reais – aqueles cujas
soluções nos trariam mais qualidade de vida, prosperidade e paz. A mídia atribui a causa de nossos
problemas ao chapéu que temos sobre a cabeça e não aos pensamentos que nutrimos dentro dela.
Então, compramos um chapéu novo e mais caro – e continuamos com nossos problemas.
        O presente texto convida a uma reflexão sobre a justiça e o poder no Brasil contemporâneo e
no mundo. A sucessão dos acontecimentos por vir darão a tônica de nossas conclusões: um sopro de
esperança no futuro ou a trágica constatação de uma realidade abjeta e inexorável.
        Os nomes das pessoas e instituições envolvidas foram trocados para evitar uma eventual
proibição do comércio da presente obra2, como já aconteceu com outro livro semelhante, a saber,
“O Canto dos Malditos” de Austregésilo Carrano Bueno.

Eric Campos Bastos Guedes
fator-n@hotmail.com / mathfire@gmail.com




1 Na verdade, pude verificar que um primeiro indício significativo de que estava sendo vítima de algum tipo de
  conspiração ou complô surgiu em 2006, talvez antes que eu tivesse sido premiado na Olimpíada Iberoamericana de
  Matemática Universitária. Este indício consiste na alteração do texto de um meu outro livro – Fórmulas para
  Números Primos – alteração esta feita, presumivelmente, via Internet por algum hacker. Após 10 anos acessando a
  Internet sem nunca ter tido esse tipo de problema, essa foi a primeira vez em que percebi, de modo relativamente
  claro, que dados contidos no HD de meu computador foram acessados e alterados. Tal alteração foi bastante sutil
  para não ser percebida imediatamente, mas, talvez tenha sido nociva o bastante para fazer com que a proposta de
  publicação daquele meu livro pela Sociedade Brasileira de Matemática fosse recusada. Sem ter conhecimento da
  alteração do texto, acabei por publicá-lo, eu mesmo, em formato digital ao disponibiliza-lo no site
  www.docstoc.com .
2 Na terceira edição deste texto decidi pôr os nomes verdadeiros das pessoas e instituições envolvidas. Já não tenho
  receio de ser processado por isso, pois omitir os nomes reais dificultaria muito qualquer investigação que pudesse
  ser feita a fim de elucidar os fatos e as interpretações deles. Na verdade, responder um processo na justiça agora
  seria um problema pequeno se comparado com as muitas tentativas de homicídio que sofri e que venho sofrendo
  sucessivamente. Na verdade, meus opositores querem anular-me, mas há que se dizer também que para anular uma
  pessoa nem sempre é uma boa estratégia matá-la. As vezes pode-se destruir uma pessoa oferecendo a ela comida
  contaminada. Isso ficará claro durante a leitura do texto.

Eric Campos Bastos Guedes                                5                       O Povo Cego e as Farsas do Poder
PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido considerado excelente. Às vésperas de
uma eleição, Lula está a ponto de conseguir eleger sua candidata, a ex-ministra Dilma Rousseff.
Perguntando a pessoas do povo, vê-se logo que Lula é muito benquisto pela população. Não é para
menos! Hoje temos mais empregos que na época de Fernando Henrique Cardoso, os salários
subiram e o salário mínimo, em particular, subiu bastante. O grande problema é o que tem sido
feito por debaixo dos panos, sem alarde, sem divulgação.
        Venho denunciando o governo Lula por permitir que cidadãos brasileiros sejam mortos pela
ABIN – Agência Brasileira de Inteligência. A ABIN é o serviço secreto brasileiro, o equivalente ao
Serviço Nacional de Informações (SNI) da época da ditadura militar. Muitas pessoas que
trabalharam para o antigo e opressor SNI, trabalham hoje para a ABIN. Inclusive gente envolvida
com torturas, homicídios e coisas do gênero. Um grande indício de que o presidente Lula sabe que
cidadãos brasileiros estão sendo mortos pela ABIN é o fato de que uma das funções da ABIN é
justamente prover o poder executivo de informações. Isto significa que Lula tem todo o direito de
saber o que a ABIN está fazendo. E se ele não sabe é porque não está nem aí.
        Apesar de tudo, tenho que reconhecer que, talvez, Lula seja refém da ABIN. Foi a ABIN a
responsável pela criptografia do telefone presidencial. Essa criptografia protegeria, em tese, as
ligações de Lula e de seus familiares de coisas como grampos telefônicos. No entanto, é lógico que
se alguém faz a segurança das informações de outrem, poderá, se quiser, ter acesso a tais
informações. Por exemplo, o sistema criptográfico dos telefones presidenciais pode ter uma falha
que só a ABIN conhece, e a ABIN poderia se valer, hipoteticamente, de uma tal falha para ter
acesso às ligações do presidente. Não somos governados por quem pensamos que nos governa.
        Gostaria de acrescentar que essa segunda edição tem várias melhorias em relação à primeira.
Foram acrescentadas passagens antes omitidas, detalhes significativos e a perseguição que sofri
após a primeira edição. Também corrigi alguns erros que haviam na edição precedente. Entretanto,
esse texto ainda não está tão bom como gostaria que estivesse. O motivo é que tive de apressar o
trabalho para que fosse publicado antes do segundo turno da eleição presidencial. Penso que a
eleição pode mudar dramaticamente a minha sorte – para pior. Talvez meus inimigos se sintam
muito mais a vontade para tentar me matar agora, já que Lula vai deixar a presidência da república.
E se a denúncia que lanço neste trabalho ficar erroneamente desvinculada da imagem de Dilma
Rousseff, candidata de Lula, o povo pode se enganar ao pensar que ela não tem nada a ver com os
assassinos de estado pagos a peso de ouro pelo governo federal e que trabalham para a ABIN.

Eric Campos Bastos Guedes
Escrito em Araruama, em 5 de setembro de 2010.
Modificado em Araruama, em 30 de outubro de 2010.




Eric Campos Bastos Guedes                       6                    O Povo Cego e as Farsas do Poder
PREFACIO À TERCEIRA EDIÇÃO

Demorou muito para que eu entendesse que há uma relação muito próxima entre o governo e os
líderes religiosos. Tais líderes utilizam sua influência para levar seus seguidores à praticar atos
abomináveis contra as pessoas que sabem o que há de podre no governo. Esses atos abomináveis
incluem contaminar criminosamente, com a bactéria da sífilis, por exemplo, as pessoas que sabem a
verdade a respeito desse sistema de coisas iníquo que rege o mundo. Essa contaminação criminosa
pode vir através de uma comida ou através de uma injeção preparadas com a finalidade de nos fazer
adoecer de neurosífilis ou neurocisticercose, doenças que sabidamente levam à demência e à
psicose. Eu mesmo fui infectado com a bactéria da sífilis e contaminado com cisticercose. Se meus
inimigos tivessem tido pleno êxito eu não teria mais capacidade de lidar com computadores ou
escrever textos como esse. O fato é que tenho a bactéria da sífilis, ou alguma outra, e isso não
aparece no exame padrão para sífilis (VDRL). Se eu tivesse adquirido sífilis por via sexual isso
seria acusado pelo exame. Sei que tenho a bactéria da sífilis no meu corpo pelos sinais que ela me
mostrou: glande avermelhada, manchas vermelhas nos braços e nas costas (não exatamente como na
sífilis adquirida por via sexual, mas mais ou menos perto disso), céu da boca com algo que lembra
um ferimento bem tênue (quando eu passo a língua na região eu sinto). Se eu conseguir vencer a
bactéria, pode ser que não consiga provar que a tenho em meu corpo; senão, a doença poderá se
desenvolver de modo dramático e me deixar com vários ferimentos na pele ou provocar sinais de
demência em mim. É esperar para ver.
         Também preciso falar da grande covardia que estão fazendo à meu filho Sólon que mal fez
dois anos de idade. Certa vez, quando estivemos eu, minha esposa e Sólon na casa de minha sogra
em Santa Maria de Campos foi chamada uma menina para cuidar de meu filho. Eu observava ela
cuidando de Sólon e teve uma vez que ela pôs um recipiente de formato cilíndrico (formato fálico)
de pastilhas M&M na boca e chamou a atenção de meu filho para que ele a visse fazendo isso.
Posteriormente eu estava a brincar com Sólon quando a empregada, autoproclamada “evangélica”,
disse “Você não sabe no que ele vai se transformar...”. No dia em que Sólon fez dois anos de idade
ele foi deixado sob os cuidados de Vanda, minha mãe, que é extremamente católica. Quando voltou
para casa eu o observei e ele pôs uma peça do seu brinquedo, de formato fálico (formato cilíndrico),
na boca e depois tirou e sentou em cima dela. Na minha opinião a responsável por esse
comportamento de Sólon foi minha mãe Vanda que deve ter deixado pessoas extremamente
“religiosas” ensinado isso a ele. Os indícios me levam a acreditar que são as pessoas religiosas que
fazem isso aos filhos dos “inimigos”, aqueles que podem envergonhar os líderes das religiões que
tem pregado o bem mas feito o que Deus repudia.
         O próprio Jesus Cristo nos fala sobre isto no livro de Mateus, capítulo 23, versículo 13:

      “Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês fecham a porta do Reino
      do Céu para os outros, mas vocês mesmos não entram, nem deixam que entrem os que
      estão querendo entrar.”3

        Se eu vier a desenvolver alguma doença incapacitante, que leve à demência ou a um estado
de menor inteligência (meu QI está, segundo os testes, entre 115 e 127) ou se meu filho Sólon vier a
se tornar homossexual, isso confirmará a verdade desse texto. Confirmará também, em parte, que a
religião está na base de todas as perversidades do mundo. Funciona assim: você pode fazer tudo que
não presta que não sentirá culpa, pois você é “lavado no sangue do cordeiro” a cada nova reunião de
sua igreja. Para ser “lavado” você só tem que fazer o que os líderes (pastores, padres etc) querem,
não importando o tamanho da sujeira. Desde que o autoproclamado “cristão” cometa a perversidade

3 O Novo Testamento – Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.

Eric Campos Bastos Guedes                             7                      O Povo Cego e as Farsas do Poder
sem que se possa provar nada contra ele, ou contra a igreja dele, fica tudo bem. O que importa para
essa gente religiosa é fazer o que é mal sem que se possa ser pego e condenado por isso. Uma aura
de falsa santidade envolve muitos dos religiosos praticantes – não todos, mas uma parte
considerável. São escravos do diabo que passam a ideia de serem seres humanos maravilhosos. As
religiões ditas cristãs não são cristãs de verdade. Elas são mecanismos que os senhores do mundo
utilizam para anular o trabalho de quem vem em nome de Deus revelar a verdade ao povo. Lendo a
Bíblia logo vemos várias passagens que depõe contra todas as igrejas autoproclamadas cristãs. Por
exemplo, em Atos, capítulo 5, quando a igreja “mata” o casal Ananias e Safira. É lamentável que
possam existir pessoas tão falsas quanto algumas das que frequentam seriamente uma igreja e se
dispõem a fazer o mal para engordar esse falso Deus/demônio que tem uma insaciável “fome de
almas”. E a expressão “fome de almas” eu tirei de um texto de minha religiosa mãe Vanda que dizia
ser “impossível” (sic) saciar a fome desse demônio que ela chamava de “Deus”. De fato, a
expressão “fome de almas” nos remete muito mais a ideia de um monstro demoníaco do que a de
Deus. Então foi Vanda mesmo que concordou que o “Deus” dela era um demônio! E por ter passado
tantos anos frequentando a igreja ela deve saber bem a quem serve.
        Muitas pessoas que frequentam alguma religião estão metidas nessa guerra santa. Uma
guerra para que a verdade não seja revelada. A verdade a respeito das atitudes sórdidas que muitos
dos membros mais respeitáveis de uma igreja têm praticado. Tenho medo de que essas pessoas
religiosas façam mal a meu filho Sólon ou à minha esposa Márcia – os religiosos podem
contaminá-los com sífilis ou cisticercose.

Eric Campos Bastos Guedes
30/06/2011




Eric Campos Bastos Guedes                        8                   O Povo Cego e as Farsas do Poder
Parte I
               (Introito – Ilustrando o problema com textos relacionados)




Eric Campos Bastos Guedes                9               O Povo Cego e as Farsas do Poder
http://www.obm.org.br/univ/oimu.htm

Olimpíada Iberoamericana de Matemática Universitária

O participante não deve possuir título Universitário a nível de graduação ou equivalente e deve estar
matriculado em uma Universidade como estudante de graduação.


IX OIMU (2006)
Nome                                        Prêmio         Cidade-Estado
Rafael Daigo Hirama                         Ouro           S.J. dos Campos – SP (1º)
Rafael Marini Silva                         Prata          S.J. dos Campos – SP (2º)
Thomás Yoiti Sasaki Hoshina                 Bronze         Rio de Janeiro – RJ (3º)
Felipe Rodrigues Nogueira de Souza          Menção         Campinas – SP        (4º)
Luty Rodrigues Ribeiro                      Menção         Fortaleza – CE       (5º)
Luiz Felipe Marini Silva                    Menção         S.J. dos Campos – SP (6º)
Eric Campos Bastos Guedes                   Menção         Rio de Janeiro – RJ (7º)
Rafael Constant da Costa                    Menção         Rio de Janeiro – RJ (8º)




Eric Campos Bastos Guedes                        10                   O Povo Cego e as Farsas do Poder
Ilustríssimo Dr. Delegado do 77° DP Icaraí



Eric Campos Bastos Guedes, filho de Winter Bastos Guedes (pai) e Vanda Campos Guedes (mãe),
portador da CI nºXXXXXXXX-X, CPF nºYYYYYYYYY-YY, domiciliado à Rua Domingues de
Sá, n°422 em Icaraí, Niterói, RJ, vem por meio desta requerer registro de ocorrência e apuração
pelo seguinte: ameaça de morte, calúnia e difamação (texto abaixo, postado na página de recados da
vítima, no Orkut):

“Seu arrombado do caralho....
Ao invés de ficar entrando em uma comunidade séria de policiais pra ficar fazendo chacota de
nossas caras,porque não vai procurar um trabalho,ou algo do tipo?
Filho da puta do caralho,cú de burro desgraçado! Bastardo maldito,no mínimo deve ser algum filho
de alguma cadela desgraçada na vida que fica passabdo trotes para as autoridades...
E digo mais,se ficar de graça com a gente,é 2 palitos eu falo com uns brothers ae no Rio e consigo
seu endereço e passo você pros irmãos ae malucão,nem vem tirar que aqui é policía no baguio,se
liga ae comediagem...pra desenrolar este barato é 2 palitos,tá avisado. ”




                                         Nestes termos
                                        Pede deferimento




                             ________________________________
                                Niterói, 7 de novembro de 2008




Eric Campos Bastos Guedes                       11                   O Povo Cego e as Farsas do Poder
Tópico de Discussão na comunidade “Denúncias, Dúvidas, Direito” no Orkut

Infecção Criminosa em Clínica Psiquiátrica
Início > Comunidades > Governo e Política > DENÚNCIAS, DÚVIDAS, DIREITO. > Fórum: >

Mensagens
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2 nov (5 dias atrás)
Eric Campos
Infecção Criminosa em Clínica Psiquiátrica

Fui internado numa clínica psiquiátrica por motivos políticos. Não havia indicação real para uma
internação, visto que eu estava calmo, lúcido e produtivo. No final da internação, como eles não
tinham como me manter mais tempo preso, deram uma agulhada no meu pé esquerdo. Quando olhei
para meu pé havia, no local da agulhada, uma gota de um líquido vermelho escuro. Não acreditei no
que eu estava vendo e não reclamei na hora porque eu estava drogado com altas doses de
antipsicóticos e tranquilizantes. Passei o dedo por cima do ponto vermelho em meu pé. Era sangue.
Desconfio que me infectaram criminosamente (talvez HIV), já que estou sendo perseguido desde
2006 por motivos políticos, principalmente depois que obtive a sétima colocação no Brasil na
Olimpíada Iberoamericana de Matemática Universitária (em 2006) sem estudar. Gostaria, em caso
de confirmada a infecção, processar o hospital. Não há, no momento, nenhum teste que confirme
qualquer infecção, mas preciso postar isto aqui para que fique o crime bem caracterizado. Como
devo proceder?

[ eric campos bastos guedes ]

2 nov (5 dias atrás)
Dra. Nancy

Boa Tarde Érico, lamento pelo que voce passou, mas uma coisa é certa, o bem sempre vence o mal!
Como não há nenhuma indicação de infeccção ou manifestação criminosa, no meu entender, para
deixar registrada tal situação para uma confirmação ou não de um crime, se dirija a um Distrito
Policial para lavrar um Boletim de Ocorrência de Preservação de Direitos, também pode se dirigir
diretamente ao Ministério Público e deixar sua denúncia lá, espero que não esteja contaminado, é o
que te desejo de melhor, mas, se algo surgir após um tempo, voce já deixou registrado em dois
órgãos que poderão investigar o ocorrido.
Boa sorte!




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Parte II
                      (Vida Pregressa – Uma Pequena Autobiografia)




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A Matemática como princípio do pensamento lógico-racional

Gosto de Matemática desde os 7 ou 8 anos de idade 4. Naquela época abria a Enciclopédia Novo
Conhecer, ricamente ilustrada, para me divertir tentando determinar a velocidade de translação da
Terra. Não encontrando essa velocidade explicitada na enciclopédia, imaginei que pudesse
calculá-la. Primeiro supus que a Terra se movia em uma trajetória circular em torno do Sol, o que
não está lá muito distante da realidade. Depois supus, corretamente, que caso a trajetória da Terra
em torno do Sol fosse circular, o número pelo qual eu deveria multiplicar a distância da Terra ao Sol
para ter o “comprimento da trajetória” da Terra em torno do Sol era o mesmo número pelo qual eu
deveria multiplicar o raio de qualquer círculo para obter o comprimento da circunferência. Partindo
desses pressupostos, apossei-me de um transferidor de formato circular e medi – com grau
suficiente de precisão – o valor de tal número, que estimei como sendo aproximadamente 6. Fiz isso
sem saber nada a respeito da célebre constante matemática  (lê-se “pi”), que expressa a razão entre
o comprimento da circunferência e seu diâmetro.

                                                       ***

Um pouco sobre minha mãe

Eu perguntava pelas coisas que queria conhecer e geralmente elas tinham um caráter numérico.
Perguntei certa vez sobre o significado dos números que apareciam numa bússola: “Você vai gastar
o fosfato de seu cérebro”, respondeu minha mãe. Interessante notar que ela era professora – e uma
ótima professora, conforme sempre tenho ouvido falar dela. Já imaginaram ela numa sala de aula
dizendo isso para seus alunos? “Assim vocês vão gastar o fosfato de seus cérebros”. Não é difícil
imaginar porque o quociente de inteligência do povo brasileiro – em torno de 89 pontos – está
próximo da imbecilidade. A boa professora dá sinais de caridade no trato com seus alunos na escola
onde trabalha, mas tolhe a inteligência do próprio filho. É como se ela ensinasse os desfavorecidos
para ostentar compaixão e dificultasse a vida dos mais promissores para mostrar que é melhor que
eles. Há quem seja acusado por favorecer familiares, mas sabotar a inteligência do próprio filho é
obra do diabo. Minha mãe sempre buscou manter uma imagem de santidade e correção perante
todos. O objetivo dessa sua busca é o de criar uma fachada moralmente inatacável a fim de encobrir
seus atos perversos. Ora, Vanda sabia que seu empenho em ensinar estudantes desfavorecidos seria
tido como uma atitude de caridade. Por outro lado, ensinar ao próprio filho poderia ser visto como
um tipo perigoso de egoísmo.
        Por que um mestre se preocuparia em educar alguém inteligente e interessado que pudesse
vir a superá-lo? O único motivo que vejo para isso é imaginar o mestre que ele toma parte, de algum
modo delirante, no sucesso intelectual de seus alunos. Fora isso, ninguém gosta da ideia de ser
intelectualmente inferior a outrem. Se não nos imaginamos tomando parte no sucesso de nosso
próximo, não apreciaremos este sucesso.

                                                       ***

Sobre os dois tipos de egoísmo e sobre o perdão

Todos somos egoístas por natureza – o grande problema não é ser ou não ser, mas sim ser ou não ser
patologicamente egoísta. A diferença entre o egoísmo patológico e o sadio é que o patológico quer
ter sucesso às custas do fracasso dos demais, enquanto o sadio procura ter sucesso tomando parte no
4 Ao examinar criteriosamente minha cronologia, verifiquei que é muito mais provável que meu gosto pela
  Matemática tenha começado a se estabelecer aos 9 ou 10 anos. Nessa idade tinha muito mais interesse por
  calculadoras que as demais crianças de minha faixa etária. Eu me interessava por questões como: “Quantos
  segundos há em um ano?” Então, fazia algumas contas para chegar ao resultado (cerca de trinta e um milhões).

Eric Campos Bastos Guedes                               14                       O Povo Cego e as Farsas do Poder
sucesso dos outros. Uma pessoa estará sendo patologicamente egoísta se se incomodar com o êxito
de quem ela julga não merecê-lo; estará sendo saudavelmente egoísta se admirar o êxito de outrem,
porque se sente engrandecida com o sucesso alheio, por estar tomando parte, emocionalmente, neste
sucesso. Ninguém é saudavelmente egoísta o tempo todo, nem patologicamente egoísta por toda a
vida. Normalmente nos sentimos bem com o sucesso das pessoas que gostamos, mas nos
incomodamos com o de quem detestamos. Quem, por mais delirante que isto possa parecer, julga-se
irremediavelmente superior a todos, tem a chance de mostrar sua superioridade ao distribuir seu
conhecimento a quem lhe pedir. A sabedoria é uma das coisas que quanto mais distribuímos, mais
passamos a ter. Um dos modos de dominar um assunto com excelência é ensinar esse assunto. O ato
de expor um tema a outras pessoas é um fator importante para a fixação do conhecimento na mente
do professor. Uma pessoa saudavelmente egoísta fica feliz em ensinar, porque isto confirma,
emocionalmente, que ela sabe mais; uma pessoa patologicamente egoísta fica desconfortável
quando ensina, porque ao repassar o conhecimento que possui, julga que seu aluno está mais
próximo de saber tanto quanto o professor. O foco do egoísta patológico está no fracasso dos
demais, sua intenção é destruir quem está acima e aumentar a vantagem que tem sobre quem está
abaixo; o foco do egoísta saudável está no próprio êxito, sua intenção é ter mais sucesso hoje do que
ontem, mais amanhã do que hoje. Para fazer isso sua estratégia consiste em cooperar para o êxito
dos demais, partindo do pressuposto que toma ele próprio parte nesse êxito. Nutrir ódio, raiva ou
antipatia pelas pessoas favorece o egoísmo patológico; já a ausência de ódio, de raiva e a simpatia
pelos demais favorece o egoísmo saudável. Perdoar as pessoas e amá-las em espírito e em verdade é
o que temos de fazer para não sermos pegos na armadilha do egoísmo patológico. Uma estratégia
para fazer isso consiste em compreender as dificuldades alheias. De fato, se entendemos o porque
de termos sido vítimas de maldades, passamos a perdoar nossos agressores. Se não há compreensão,
dificilmente haverá perdão. É por isso que a traição de um amigo é muito mais difícil de perdoar
que as agressões de um inimigo. A traição é uma surpresa desagradável, inesperada. Se temos um
bom amigo a muitos anos, acabamos por justificar internamente nossa amizade. Passamos a
responder subconscientemente a perguntas como: “porque somos amigos?”; “porque fulano é meu
amigo?”; “porque eu sou amigo de fulano?”. Encontramos intimamente variadas respostas para
essas questões, de modo a fortalecer nossa amizade. Quando ocorre uma traição não estamos
preparados para ela. Não encontramos boas respostas para a pergunta “porque não somos mais
amigos?”; “porque fulano me traiu?”, pois nossa fé na amizade nos levava a acreditar que esse tipo
de coisa jamais aconteceria. Então, por não compreendermos a traição de nossos amigos, será muito
mais difícil perdoá-los. Quando a agressão vem de um inimigo ela já é esperada e, portanto, muito
fácil de a entendermos. Talvez por isso se diga que o ódio e o amor estão muito próximos. Se
amamos alguém que nos decepciona, passamos a odiar essa pessoa, pois deixamos de ter prazer na
amizade com ela; se perdoamos alguém que odiamos, deixamos de sofrer com o ódio que se foi e o
sentimento de alívio pelo fim de um sofrimento nos torna aptos a sentir amor por aquela pessoa. O
amor e o ódio são vizinhos muito próximos, mas totalmente antagônicos. O primeiro nos trás a vida
e o segundo quer nos impor a morte.
        Se queremos ter sucesso será muito mais fácil obtê-lo pelo caminho do egoísmo saudável do
que pelo do egoísmo patológico. E se queremos ser saudavelmente egoístas o primeiro passo é
perdoar nossos inimigos. Ora, para perdoarmos quem nos fez sofrer é necessário que
compreendamos o porque do outro. Conhecer as motivações e dificuldades de nossos inimigos é um
passo importante para conseguirmos perdoá-los. Então, pessoas mais sábias conseguem perdoar
mais. Uma pessoa mais inteligente perdoa mais do que a menos inteligente; pessoas que conhecem
mais sobre o mundo, sobre como funciona a sociedade realmente e, em particular, pessoas que
conhecem mais sobre psicologia são mais eficientes em se tratando de perdoar as outras. Portanto,
se queremos perdoar mais, um caminho é nos tornarmos mais sábios, seja pela aquisição de
conhecimento, seja pelo aumento de nossa inteligência. O conhecimento precípuo a que devemos
buscar para conseguirmos perdoar nossos inimigos é o da psicologia. Se somos bons psicólogos


Eric Campos Bastos Guedes                        15                   O Povo Cego e as Farsas do Poder
conseguimos entender melhor as dificuldades e motivações das pessoas que nos cercam, e essa
compreensão poderá conduzir ao perdão. O segundo tipo de conhecimento que devemos buscar para
alcançar o perdão é o que diz respeito à como as pessoas se relacionam entre si de modo
organizado, em instituições e empresas. Conhecer a realidade, o mundo como ele é, nos leva a esse
conhecimento. O estudo da filosofia pode ser um meio de se chegar a esse conhecimento. Um dos
melhores meios de aprender filosofia é a pesquisa na Internet, pois ela é acessível à maioria da
população, tem baixo custo e contém uma parcela imensa de todo o conhecimento de nossa
civilização. Na Internet os canais que nos levam melhor a aquisição de saberes são a pesquisa de
textos prontos no buscador Google e na Wikipédia; a pesquisa de vídeos – principalmente
documentários – no YouTube e no Google Vídeo; a pesquisa do que eu chamo de verdade em
estado bruto em comunidades do Orkut. A pesquisa no Orkut pode revelar muitas coisas que não
estão claras nem nos textos prontos nem nos vídeos 5. É um tipo de pesquisa que tem sido
subvalorizado, mas é um meio novo – e ainda muito mal compreendido – de chegarmos a um
conhecimento de excelente qualidade com muito pouco esforço, pois acabamos nos divertindo ao
adquirirmos e repassarmos informações em comunidades de sites de relacionamento. O que leva a
pesquisa em comunidades de sites de relacionamento ser altamente proveitosa é o fato bem
conhecido de que falamos muitas coisas nesses sites que não diríamos face a face ou pelo telefone.
Acabamos sendo mais sinceros no Orkut do que no trabalho, na igreja ou no seio familiar. O maior
problema de aprender pelo Orkut é separar quem está sendo sincero de quem está jogando, ou
trabalhando em silêncio para sustentar falsas crenças, mitos que dificultam a vida das pessoas por
serem amplamente aceitos, embora falsos. Me parece que muitas pessoas tem criado e sustentado
grandes comunidades com a finalidade de fazer esse tipo de jogo, perpetuando, assim, mitos
malsãos que sangram a humanidade.
        Mas mesmo que alcancemos grande sabedoria ela pode, ainda assim, não ser suficiente para
conseguirmos perdoar nossos inimigos. O problema é mais ter o saber correto do que ter muito
saber. Podemos ser muito inteligentes e termos muito conhecimento. Entretanto, nunca chegaremos
a ser oniscientes, sempre nos faltará saber algo. E pode ser que o pequeno detalhe que nos falta
saber seja crucial para conseguirmos perdoar um inimigo específico. Talvez por isso Deus seja
amor: ele perdoa sempre pois, conhecendo tudo, sabe também de nossas motivações e dificuldades.
        Se não obtivermos sucesso em conseguir perdoar um inimigo pela aquisição de
conhecimento e aumento da inteligência, há, ainda, um outro bom meio de chegarmos ao perdão:
nos sentindo bem. Se estamos nos sentindo bem, acabamos esquecendo a ira e o ódio contra nossos
inimigos e nos concentramos em continuar a nos sentir bem. O melhor meio que eu conheço para
me sentir bem é criar um círculo virtuoso em torno de meu autodesenvolvimento. Se funciona para
mim, pode funcionar para outras pessoas também.
        Criamos um círculo virtuoso quando nos empenhamos com alegria e motivação em alcançar
êxitos que valorizamos. No meu caso costumo buscar êxito em atividades como estudar livros de
matemática ou física e escrever livros que julgo serem importantes. Jogos também me deixam
motivado, particularmente o xadrez. Outra atividade que me deixa animado é participar de uma
certa lista de discussão de Matemática de alto nível onde existe o desafio de resolver interessantes
problemas de matemática. É claro que essas atividades são coisas que me motivam, que me animam,
mas são as minhas atividades motivadoras. Cada pessoa deve ter seu próprio grupo de atividades
motivadoras. Elas podem ter cunho intelectual ou físico. Tenho um grande amigo que se tornou um
excelente corredor. A corrida passou a ocupar um lugar importante em sua vida. Ele participa de

5 A pesquisa em comunidades do Orkut relacionadas com os temas que queremos conhecer conduz, não raro, à
  elucidação de questões cujas respostas nos são negadas pelos veículos socialmente autorizados que deveriam
  responder a contento as mesmas questões – mas não o fazem. E não o fazem porque o papel de muitas instituições
  bem estabelecidas e bem conceituadas está fortemente ligado à manutenção da ignorância do povo. Isso é muito
  comum em medicina, por exemplo. O detentor do saber médico – e do diploma – costuma se valer da ignorância do
  paciente sobre o tema para receitar remédios desnecessários que talvez tornem seu paciente realmente doente. E uma
  vez estabelecida a patologia, o adoentado deverá retornar muitas outras vezes ao consultório de seu médico.

Eric Campos Bastos Guedes                               16                       O Povo Cego e as Farsas do Poder
maratonas, meias-maratonas e passa bastante tempo treinando. Sente-se muito bem ao constatar
seus próprios progressos. A corrida o tornou alguém mais feliz, mais realizado. A prática do esporte
costuma nos tornar pessoas melhores.
        Alcançar êxito em atividades que nos interessam nos leva a nos sentir bem – e acabamos
esquecendo as ofensas que sofremos.
        O que quero frisar é que você deve procurar ter suas próprias atividades motivadoras. O que
me faz sentir bem pode fazer você se sentir muito mal e vice-versa. Suas atividades motivadoras
devem lhe dar prazer, ainda que esse prazer seja precedido por um esforço persistente em sentir-se
motivado por elas.
        Uma regra geral é que a atividade motivadora deve ser lícita, honesta e estar dentro da lei,
pois caso contrário levará o praticante à ruína decorrente da punição imposta pela sociedade.
        Outra regra é ter uma atividade por vez – de fato, fazer várias coisas ao mesmo tempo ou ter
muitos objetivos diferentes e simultâneos é garantia de fracasso na tentativa de estabelecer ou
manter atividades motivadoras. Se quiser fazer de sua atividade motivadora um hábito salutar,
procure introduzi-lo aos poucos e jamais tente implementar muitos hábitos de uma só vez – é muito
mais fácil (mas ainda assim difícil) criar um hábito por vez do que criar muitos hábitos de repente.
Na verdade, julgo ser praticamente impossível para a maioria das pessoas criar dois ou três hábitos
de uma só vez.
        Uma quarta regra útil para que você se sinta bem com uma atividade motivadora é procurar
enxergar seus próprios progressos, valorizando cada pequena vitória. Já os insucessos devem ser
psicologicamente minimizados: se você não alcançar a marca que deseja hoje, poderá se sentir
melhor dizendo a si mesmo que alcançar a tal marca amanhã será uma vitória ainda maior, pois o
esforço tempera o banquete dos vencedores. Procure enaltecer para si mesmo cada pequeno
progresso que você fizer6; analogamente, procure minimizar toda queda ou fracasso que lhe ocorrer.
Você pode fazer isso procurando enxergar o que ganhou de bom com aquela queda ou fracasso. Por
exemplo, um sofrimento pode nos tornar pessoas mais experientes, mais vividas e mais fortes.
        A quinta regra para estabelecer uma atividade motivadora é que você não deve falar de seu
objetivo com outras pessoas. Por exemplo, se meu objetivo é me tornar um excelente corredor, eu
não devo falar isso a ninguém, mas somente para mim mesmo. Quando falamos de nossos objetivos
para outras pessoas perdemos o sentido do desafio e a motivação esfria. É muito mais valioso o
trabalho em silêncio em nossos próprios objetivos que a exibição ruidosa de um esforço que pode
vir a dar em nada. Se falamos de uma de nossas metas para outrem, podemos deixar de buscá-la por
nós mesmos, isto é, por amor, e passarmos a nos ver obrigados a trabalhar na meta para mostrar que
não estávamos mentindo, que levamos realmente a sério nosso objetivo e coisas assim. Nosso
objetivo deixa de ser nosso e passa a focar o outro; deixa de ser algo de nosso íntimo e se torna algo
para ser visto pelo outro. E como é chato buscar um objetivo que não é nosso!

                                                       ***

Meu primeiro computador e a aprendizagem do xadrez

Ganhei meu primeiro computador aos 9 ou 10 anos de idade. Era um TK82C, da Microdigital. Com
ele aprendi os rudimentos de programação de computadores na linguagem Basic, muito popular na
época. Tornei-me um programador de computadores competente para minha pouca idade. Estava

6 Cada pequeno sucesso deve ser fator interno de motivação e conforto. Falar à outros sobre seu progresso o levará,
  muito provavelmente, à decepção de não ser devidamente reconhecido. Você não deve depender da boa vontade de
  outras pessoas em motivá-lo. É possível, inclusive, que todas as pessoas que você conhece intencionem
  desestimula-lo, declaradamente ou não. Quando você fala sobre um seu objetivo ou sobre um seu sucesso para
  alguém, poderá receber palavras de incentivo que não corresponderão à uma intenção verdadeira em motivá-lo, mas
  devem-se tão somente essas palavras à educação. A motivação emocional e psicológica não deve vir de palavras ou
  atitudes de pessoas próximas. Você mesmo deve se motivar.

Eric Campos Bastos Guedes                               17                      O Povo Cego e as Farsas do Poder
sempre criando e executando programas que me permitissem investigar o mundo dos números.
Também costumava jogar xadrez contra o computador – eu era péssimo, nunca venci uma só partida
de meu modesto TK82C. Apesar de ser um mal jogador, gostava de jogar e ensinar xadrez a quem
quer que fosse. O prazer de ensinar e aprender sempre me acompanhou.
       No início, ensinei xadrez a mim mesmo. Eu devia ter entre 9 e 10 anos quando aprendi a
jogar. Mas ninguém me ensinou, eu aprendi pelas regras que estavam no Supermanual do Escoteiro
Mirim, uma publicação que se valia dos personagens da Disney para passar conhecimentos úteis.
Mas acabei cometendo um erro ao interpretar mal as regras do Supermanual: no início eu achava
que as peças do xadrez tinham que passar por cima das do oponente para capturá-las, como no jogo
de damas. Esse equívoco durou um tempo considerável. Ensinei errado para um amigo, mas alguém
que sabia mais nos alertou dizendo que estávamos jogando errado, então nós dois passamos a jogar
da maneira correta. Isso ocorreu no Colégio Salesiano Santa Rosa, quando eu cursava a quinta série
do antigo primeiro grau – o equivalente ao hoje chamado Ensino Fundamental.

                                                ***

Sobre a inteligência e a importância de sua busca

O interesse pelo xadrez partiu de mim mesmo, ninguém em minha família jogava. Buscar atividades
inteligentes é atitude que favorece o aumento da inteligência e essa busca está muito mais
relacionada com uma pré-disposição da personalidade e do caráter do que com uma uma arquitetura
cerebral diferenciada. A inteligência está mais relacionada com nossos anseios e motivações do que
com uma genética privilegiada. Esse tipo de ideia nos liberta da noção de que nosso quociente de
inteligência – o popular QI – não depende do que fazemos. Se acreditamos que não podemos fazer
nada para aumentar nossa inteligência, nada faremos com este objetivo – e essa atitude acaba por
nos tolher a própria inteligência. Se, por outro lado, acreditamos que podemos aumentar nosso QI,
passamos a buscar atividades que nos levem a ter esse aumento. E nosso QI acaba subindo mesmo.
Esse raciocínio vai ao encontro de uma máxima devida a Henry Ford que diz o seguinte: “Se você
acredita que pode ou acredita que não pode, de qualquer forma você está certo”. Nossas crenças
nos dizem o que somos ou não capazes de fazer. Se acreditamos que podemos resolver um
problema difícil, nós nos debruçamos sobre ele até o resolver ou até fazer progressos importantes na
busca da solução do tal problema. Mesmo que não tenhamos pleno êxito, nossa dedicação é
premiada com um incremento de nosso saber técnico e com um aumento de nossa capacidade de
resolver problemas.
        Claramente, a inteligência está intimamente relacionada com a capacidade de resolver
problemas. Então, uma crença útil é a de que podemos, com esforço e tempo suficientes, resolver
qualquer problema que queiramos. A grande questão é saber quanto tempo e esforço estamos
dispostos a empregar na solução de cada problema ou na conquista de cada objetivo. Há uma sábia
máxima que aconselha: “Saiba escolher suas batalhas”. Entre todas as metas que queremos atingir,
quais nos darão mais felicidade? Quais serão mais rapidamente alcançadas? Em quais delas
acreditamos mais? Que metas nos tornarão pessoas mais realizadas após serem cumpridas? Devido
à nossa limitação referente à prazos, é fundamental saber escolher bem à que metas vamos nos
dedicar de cada vez.

                                                ***

A morte de meu avô Antônio Pereira Campos

Segundo o que minha mãe me dissera, meu avô passaria por uma intervenção cirúrgica muito
delicada e da qual pouquíssimas pessoas sobreviviam. Eu fiquei chateado com a notícia e esperava


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por sua morte. Quando ele voltou para casa fiquei impressionado. Estava aparentemente bem. Tão
bem como sempre esteve. Acabei por atribuir a sobrevivência de meu avô Antônio a uma genética
privilegiada. E fiquei satisfeito por ser seu neto.
        As coisas não estavam tão bem, entretanto. Antônio – ou seu caxeta para os antigos
conhecidos – estava tomando uns remédios. Me disseram que ele estava sofrendo de depressão ou
se tratando de uma aterosclerose. Talvez os remédios que ele tomava fossem antidepressivos, mas
isso eu estou conjecturando. Naquela semana ele fizera para mim um alteres com um cabo de
vassoura e dois pesos de chumbo que ele mesmo fabricou derretendo uns canos velhos do mesmo
material. Parece que ele queria que eu praticasse musculação em casa com aquele halter, mas não
me interessei muito por isso não. E num dia de sol, pela manhã, meu avô pegou uma escada, uma
corda e se enforcou. Estávamos somente eu e ele em casa. Antes de sair para o colégio fui me
despedir dele e o encontrei deitado no chão de seu quarto. Supus – erroneamente – que estivesse
dormindo. Tentei acordá-lo de todos os modos, sem sucesso. Fiquei intrigado: como ele poderia ter
um sono tão profundo? Achei que ele estava fingindo que não acordava. Então peguei meu material
e fui para o colégio.
        Naquela época, eu e meu irmão Winter Bastos Guedes Júnior estudávamos no Curso São
Francisco de Assis, uma escola tradicional de Icaraí que tinha o melhor ensino fundamental de
Niterói. Só ia até a quarta série primária, entretanto. Depois disso éramos encaminhados para outras
escolas. Naquele tempo eu fazia a quarta série e meu irmão devia estar na primeira ou segunda série
do primário. Nós estudávamos à tarde. Naquele dia, ao terminar a aula, pediram-nos que não
voltássemos direto para casa, mas que esperássemos um pouco até sermos liberados. Ao retornar do
colégio vi minha avó chorando – coisa que nunca havia presenciado antes. Me disseram que meu
avô Antônio Caxeta havia morrido. Mas não me disseram que ele tinha se matado, nem que ele já
estava morto quando saí de casa. Simplesmente não liguei os fatos. Disseram-me que ele falecera
vítima de um aneurisma ou de uma trombose.
        Em se tratando de crianças, é natural esconder tal fato. Acho, porém, que foi um desrespeito
à minha dignidade de neto não me revelarem a verdade depois de eu adulto. Nesse caso, ao
descobrir a verdade por nós mesmos nos sentimos traídos e desprestigiados por nossos familiares.
Aí vem aquela conversa fiada de “não contei para você para que você não ficasse nervoso”; “não
contei para te poupar da dor” e coisas deste gênero. E eles se fazem parecer bons praticando o que é
mal.

                                                ***

A morte de meu pai Winter Bastos Guedes

Meu pai morreu de modo intrigante. Muito mais intrigante do que eu poderia supor em minha
ingênua infância.
        Certo dia, quando cursava a 5ª série do ensino fundamental no Colégio Salesiano Santa
Rosa, cheguei em casa após uma surra que levei de uns valentões da escola. Eles me surraram por
eu ter feito chacota do cara que eles bateram primeiro. Eu não sabia que seria o segundo da lista.
Não vou dizer que foi uma surra merecida, mas ao menos aprendi a não zombar de quem apanha.
        Eram cerca de cinco e meia da tarde quando cheguei em casa. Lembro que ainda não havia
escurecido e que os valentões pisaram no livro de matemática adotado pela escola. Eu estava
bastante chateado com o que ocorrera. Bati na porta da sala, como fazia todos os dias para entrar.
Nada. Bati novamente. Silêncio. De repente a porta é aberta num rompante e meu pai passa
carregado numa maca, aparentemente desacordado, sendo levado por dois enfermeiros. Ao entrar
em casa sou informado de que ele sofrera um mal estar. Tudo bem. Ele não parecia estar tão mal na
maca. Não deveria ser nada grave, ele seria medicado e voltaria logo para a casa. Ao ver a grande
quantidade de sangue sendo lavada a baldes d’água mudei de opinião. Fiquei apavorado. Minha


Eric Campos Bastos Guedes                       19                   O Povo Cego e as Farsas do Poder
mãe disse que fôssemos rezar para que ele ficasse bom e não morresse. Foi a primeira coisa
realmente importante que pedi a Deus e sem dúvida a oração mais fervorosa que já fiz.
        Uma semana depois recebo a notícia de que ele havia morrido no hospital. Minha mãe me
disse que ele havia tido uma tontura quando estava no alto de uma escada. Caiu e bateu com a
cabeça num murinho, sofrendo traumatismo craniano. A tontura teria sido causada por um infarto
repentino. Provavelmente uma farsa, como descobri mais tarde, já adulto. De fato, num primeiro
momento, ao ver meu pai passando por mim numa maca, não me alarmei: ele estava bem, não havia
sangue na roupa dele. O absurdo era evidente: não havia sangue na roupa de meu pai, mas a escada
que dava acesso ao segundo andar da casa era um rio vermelho. Ao comentar isso com minha mãe,
anos mais tarde, ela disse: “Eles trocaram a camisa dele antes de levá-lo, para não assustar seu
irmão Winter”. Com essa emenda a fraude tornou-se patente. E segue o demônio aplaudindo as
mentiras de minha família.
        Cheguei à conclusão – verdadeira ou falsa, ela é mais plausível do que a que me contaram –
de que meu pai havia sido morto pela ditadura. O ano era 1983 e vivíamos ainda sob o jugo
explícito da tirania militar que, embora mais branda do que nas duas décadas anteriores, ainda podia
fazer o que bem entendesse com a população. A farsa toda seria para encobrir um crime horrendo,
que de outro modo teria se tornado um escândalo, visto ser meu pai um ex-militar honesto ao
extremo, pessoa instruída e culta ocupando posição de destaque no Ministério da Fazenda (ele
trabalhava lá como farmacêutico-bioquímico). Minha mãe deveria saber de tudo, claro. Mas teria
mantido o silêncio, mesmo após o fim da ditadura militar. Tudo isso faz sentido, mas ainda assim
são conjecturas que não pude comprovar.
        Um ano após a morte de meu pai, minha mãe estava com outro companheiro. Um chupim
bebum, ignorante e boa vida. Apesar de sentir grande antipatia por ele naquela época, hoje eu o
aceito plenamente. Depois de uns 10 ou 12 anos, passei a enxergar meu padrasto como alguém
humano e amigável. Ele não tinha obrigação ou culpa nenhuma por não atender aos requisitos que
eu imaginava serem necessários a qualquer candidato a marido de minha mãe.
        Morto o chefe, a família desintegrava-se rapidamente. Minha mãe não me dava mais atenção
– eu tinha 13 anos – deixando minha criação a cargo de minha avó Dermontina da Silva Campos e
de minha tia Vera Lúcia de Campos. Vanda simplesmente foi morar em outro lugar com Lourenço –
este é o nome de meu padrasto – e com meu irmão Winter. Não era um lugar distante, mas eu me
sentia negligenciado, posto de lado como um objeto que perdera a serventia.
        Naquele momento de minha vida, eu passava pelas transformações próprias da puberdade
que se iniciava. Apesar disso, não havia sequer tido a primeira ejaculação e sabia muito pouco sobre
sexo. Só descobriria a masturbação no ano seguinte, em 1985. Uns poucos anos antes, eu pensava
que os bebês nasciam após a grande emoção da esposa com seu casamento. Só entendi de onde
vinham os bebês após assistir uma reportagem sobre isso no Fantástico – o show da vida, programa
domingueiro tradicional da Rede Globo já naquela época.

                                                ***

Beijar uma garota

Eu queria beijar uma garota. O nome dela era Gisele. Uma menina branca e loura, filha de uma
amiga matemática de minha mãe que morava nas proximidades. Não tinha a menor ideia de como
beijá-la e não fui feliz na execução de um plano que sequer existia. Foi meu primeiro “fora”.
        Refugiei-me nos livros, onde encontrei bom material para aprender sobre coisas que julgava
importantes. Na sexta série já havia aprendido a resolver equações do segundo grau – que eram
estudadas na oitava série – e um pouco de álgebra no livro “Álgebra I” de Augusto César Morgado
e Eduardo Wagner. Nessa época frequentei um psicólogo chamado Eduardo Nicolau que mais tarde
viria a me ajudar muito, me indicando um excelente curso de matemática: o método Kumon. Os


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livros não me impediram de me sentir em desvantagem perante meus colegas, que já conheciam as
meninas na intimidade. Eu, por outro lado, sequer sabia como era o corpo nu de uma mulher. Até
então, nunca havia visto uma mulher nua, nem ao vivo nem em fotos 7. Por estranho que possa
parecer, isso fez de mim um péssimo aluno e estudante, apesar de estudar mais que os outros e ter
uma inteligência um pouco maior (tenho um QI de 121).
         Já na quinta série, pouco depois da morte de meu pai, comecei a faltar às aulas. Perdi provas,
inclusive de matemática. Fui fazer a 2ª chamada temendo uma possível reprovação, pois havia
estudado muito pouco a matéria. Ao fazer a prova, entretanto, achei tudo muito fácil. Foi uma
surpresa agradável. A prova de matemática era sobre dízimas periódicas e constatei que com um
mínimo de conhecimento e o uso do mero bom senso, eu podia resolvê-la toda. Passei de ano.
         Naquela época eu nutria uma paixão por Quênia Balbi, uma estudante de minha classe cuja
beleza me fascinava. A professora pedia às vezes para que eu fosse pegar as carteirinhas dos
estudantes no final da aula para devolvê-las com o carimbo de presença. Quando estava a sós com a
carteirinha de estudante de Quênia eu a beijava loucamente – a carteirinha. Queria tocá-la.
Imaginava que ela torceria o pé na saída do colégio e, então, eu a levaria nos braços até minha casa
para ser tratada. Minha imaginação ia muito mais longe: via as paredes do Colégio Salesiano Santa
Rosa cobertas por bumbuns femininos separados dos corpos. Eu imaginava tocá-los e acariciá-los.
Não me julgando capaz de realizar meu intento com meninas de verdade, quis tocar estátuas, dessas
que costumamos ver nos museus, despidas com as nádegas a mostra. Cheguei a fazer isso quando
visitei um museu na cidade do Rio de Janeiro. Eu estava obcecado.
         O que quero dizer com tudo isso é que meninos de onze anos já se preocupam muito com
garotas. E se eles não tiverem quem os oriente no sentido de uma vida sexual e afetiva salutar, terão
muitos problemas que, aparentemente, não estariam relacionados à sexo ou vida afetiva: queda
brusca do rendimento escolar, faltas, fuga da realidade e coisas assim. Só fui beijar uma “garota”
aos dezoito anos e depois disso meu aproveitamento escolar e meu rendimento intelectual sofreram
um boom. Para deslanchar completamente ficou faltando me livrar das drogas psiquiátricas, o que
só começou a acontecer em 2006, quando eu tinha 35 anos.

                                                        ***

Problemas na quinta e na sexta série

Na 6ª série saí do Curso Salesiano Santa Rosa, onde haviam me matriculado. Eu faltava quase
todos os dias e cobrava de mim mesmo um desempenho acadêmico superior, como o que eu sempre
havia tido até a quarta série, antes da morte de meu pai. As faltas não se deviam a “vagabundagem”
ou coisas assim, pois eu não saía para vadiar, namorar, caminhar ou me divertir de algum modo. Eu
só queria evitar a dor moral. Simplesmente passei a sofrer muito na escola. Era um suplício assistir
as aulas, eu não conseguia prestar atenção ao que os professores diziam, ainda que me esforçasse
para isto, e minhas notas medíocres me faziam sentir mal. Se pelo menos eu fosse namorador,
poderia curtir mais a escola, ela teria alguma graça no recreio, pelo menos. Mas eu era virgem e não
tinha nenhum contato íntimo com garotas.
        Achava que a matéria havia ficado muito mais complicada e muito maior e que por isso já
não bastava simplesmente prestar atenção às aulas para aprender as disciplinas. Até certo ponto isso
até ocorria, e eu tentei passar a estudar mais em casa para voltar a ter boas notas e me sentir melhor
por isso. Mas a verdade é que eu estava sendo insidiosamente envenenado por drogas de uso
psiquiátrico – e elas diminuem o rendimento escolar, como bem se sabe.
7 Naquele tempo as revistas eróticas vinham embaladas num plastico preto que tapava os corpos nus das modelos,
  deixando à mostra somente os títulos das revistas. Também não existiam nos jornais as figuras picantes de mulheres
  seminuas, como há hoje em dia. A exibição de filmes ou programas com mulheres nuas ou em poses e trajes
  provocantes era muito mais rara que nos tempos atuais. A exibição das mulheres mais sensuais e menos vestidas
  ocorria em programas como O Cassino do Chacrinha e O Clube do Bolinha, mas nada comparado ao que há hoje.

Eric Campos Bastos Guedes                                21                      O Povo Cego e as Farsas do Poder
Minha mãe e eu não sabíamos como lidar com a situação. Eu ainda tinha a desculpa de ser
uma criança, mas o que dizer de minha mãe? As vezes penso que ela sabia, sim, como resolver a
maior parte de meus problemas, mas preferiu me abrir a porta larga do caminho largo que leva ao
inferno. Era muito mais fácil para ela me por em clínicas, psicólogos e psiquiatras do que
reconhecer que as “medicações” estavam destruindo minha vida e que o que eu precisava de
verdade era de uma “boa massagem”, como diria dezesseis anos depois uma garota de programa
chamada Sílvia. Essa atitude conservadora e socialmente irrepreensível de minha mãe não permitiu
a ela ajudar o filho que de doze anos que se encontrava em dificuldades.
        Vanda passou a me levar numa clínica que se propunha a trabalhar com “radiestesia” ou algo
do tipo. Era a clínica de um tal de frei Albino Ariesi. Situava-se na cidade do Rio de Janeiro e eu
passei a frequentar uma psicóloga lá chamada Drª Petrônia. Ela só sabia me responsabilizar por tudo
de ruim que acontecia comigo. Essa psicóloga dizia em tom acusatório “Isto é Fuga!” e “Você se
condicionou a isto”. Era péssimo. Além de não resolver os problemas, eu saía de lá com o ego
destroçado. Eu queria ser como Einstein e Petrônia sabia disto; entretanto eu mesmo não o sabia
plenamente. Ela tentou me dissuadir de ideias dessa natureza dizendo que o trabalho de Einstein
tinha centenas de páginas e era coisa muito difícil. Talvez ela quisesse me fazer concluir que a
matemática e a ciência eram coisas tão difíceis que seria melhor nem pensar nisso. Graças a Deus
aquele demônio de saias estava errado. Inclusive, talvez por ela ter reprovado de modo tão
veemente meu desejo de ser um novo Einstein, essa a ideia tenha ganhado força em meus
pensamentos. Ora, por ela reprovar tanto meu desejo de me tornar um cientista, entendi que
Petrônia achava esse meu desejo perfeitamente realizável. Entendi também que a possibilidade de
realização de tal desejo enfurecia o demônio de sais. Só pra contrariar, considerei muito boa a ideia
de vir a ser um cientista.
        Consegui terminar minha quinta série no Colégio Salesiano Santa Rosa com dificuldades.
        O fracasso de meu tratamento com Drª Petrônia fez com que minha mãe procurasse outro
profissional. Acabei chegando ao consultório do psicólogo Eduardo Nicolau. Ele trabalhava com
uma psiquiatra que receitava remédios para os pacientes dele. Naquele período, pelo que me
lembro, eu estava tomando um antidepressivo chamado Tofranil e, talvez, um outro remédio de que
não me lembro. Tomei meus “remédios” durante mais de vinte anos, sempre seguindo a prescrição
médica com rigor. Até descobrir a farsa da psiquiatria, utilizada para anular indivíduos considerados
uma “ameaça” aos planos da cúpula de poder que domina o mundo.
        Na sexta série iniciei no Salesiano meus estudos. Só que não consegui cursar. Pedimos
transferência para uma outra escola: o Centro Educacional de Niterói – o popular “Centrinho”. Lá,
por algum motivo, tudo ficou muito melhor. Lembro que foi lá que retomei meu interesse pela
Matemática ao ter tirado uma ótima nota na prova. Eu apreciava o professor dessa matéria e ele
também gostava de mim. Iniciei estudos por minha própria conta. Eles se baseavam muito mais em
imaginação do que em matéria propriamente. Eu tive muitas ideias que gostava de desenvolver. Foi
também nesse tempo que comecei a escrever meus primeiros poemas. Eu tinha uns treze anos
quando escrevi meu primeiro poema. Não era um bom poema, mas eu gostava dele. Apareceram
outros que também não eram bons, mas eu também gostava deles. Fui insistindo e não me abati com
as críticas negativas que recebia uma hora ou outra. Hoje, graças a Deus, consigo escrever poemas
de boa e de ótima qualidade. A persistência favorece o sucesso.
        Antes de terminar o ano letivo, entrei em pânico. A exposição de trabalhos de alunos – uma
espécie de feira de ciências – estava se aproximando e eu não consegui me convencer de que meu
trabalho era bom o suficiente para eles. Meu trabalho era bom para mim mesmo, mas eu achava que
ele não seria apreciado nem pelos meus amigos, nem pelo professor de matemática. Parei de ir às
aulas e faltei quase o bimestre final todo. Mesmo sem ter feito as provas finais os professores do
Centrinho acharam por bem me passar de ano devido ao meu ótimo desempenho nos outros
bimestres. Essa atitude dos professores do Centrinho salvou minha alma. Fui para a sétima série.



Eric Campos Bastos Guedes                        22                   O Povo Cego e as Farsas do Poder
***

A descoberta da masturbação

O psicólogo Eduardo Nicolau me ensinara, através de desenhos, o que era a masturbação na teoria.
Achei aquilo muito esquisito e totalmente sem propósito. Afinal, que benefício poderia haver em tal
conduta? Eu não fazia ideia. Por vontade própria decidira que teria meu primeiro gozo com minha
esposa, depois que casasse. Eu queria casar virgem.
        Descobri em 1985, nos meus 13 ou 14 anos, o que era a masturbação na prática. Naquele
período eu não estava frequentando a escola e minha mãe já havia se amigado com meu padrasto
Alcemir Lourenço de Souza. Numa noite eu estava deitado sozinho em meu quarto com o membro
ereto, tentando dormir. Queria que meu membro ficasse “normal”, pois me sentia um pouco
desconfortável com ele duro naquela posição. Como ele insistia em permanecer rijo, tentei colocá-
lo na posição que considerava mais normal. Então, tentando por meu pênis numa posição que
julgava mais adequada, gozei – não tinha essa intenção, entretanto. Foi algo absolutamente natural.
Nunca havia sentido aquilo antes, foi ótimo. No início achava que o esperma saía da barriga, pois
ela ficava sempre molhada. Não queria saber o que estava acontecendo, ou como acontecia, só sabia
que me sentia muito bem com aquilo. Após alguns meses resolvi comprar revistas eróticas. Passei a
ver como as pessoas faziam sexo. Eu também queria fazer, mas não conseguia me relacionar
sexualmente com ninguém. Neste aspecto fiz a mim próprio. Ninguém me ajudou.
        Minha primeira revista erótica tinha pornografia pesada, era uma antiga Sex Appeal em preto
e branco. Tinha fotos de mulheres com homens, de homens com homens e de mulheres com
mulheres, mas eu me concentrei somente nas fotos heterossexuais, que eram as primeiras. O resto
eu nem olhava.
        O “cinco contra um” foi uma grande descoberta para mim, mas eu ainda queria muito me
relacionar com garotas. Isso só foi acontecer em 1989, quando eu fiz 18 anos e meu então
psiquiatra, Eugênio Lamy, entendeu que com a maioridade não havia nenhum risco para ele se me
orientasse a buscar os serviços de uma prostituta. Mas vamos deixar este assunto para depois.

                                               ***

Sétima série no Colégio Figueiredo Costa

Depois de ser aprovado na sexta série no Centrinho, tentei fazer lá mesmo minha sétima série. Mas
foi estranho. Meus antigos amigos do ano passado estavam mudados. Quietos, calados e um tanto
reservados demais. Eu não me sentia mais bem lá. Decidi mudar de colégio.
        Foi quando surgiu a chance de estudar com meu melhor amigo no Colégio Figueiredo
Costa, então um dos grandes colégios tradicionais de Niterói. O nome desse meu melhor amigo é
Raphael Oliveira de Rezende – o corredor que mencionei antes – e somos amigos até hoje por conta
dos grandes perigos que nos irmanaram em nossas aventuras. Mas falemos disso mais adiante.
        Eu e Rapha não ficamos na mesma classe. Fiquei na classe dos que sabiam menos e Rapha
estava na classe dos que sabiam mais. Foi bom que fosse assim, pois me destaquei sobremaneira
junto aos que estudavam menos. E foi isso que me motivou a estudar bastante e tentar conseguir só
notas finais 10 nas disciplinas de matemática e geometria. O Colégio Figueiredo Costa foi ótimo
para mim por esse lado. Mas eu estava ficando mais velho e ainda não havia me relacionado com
garotas. Esse problema era muito pior do que parecia, pois, no final do ano comecei a me tornar um
estudante agressivo com os demais. De compasso em punho, ameacei um folgado que zombara de
mim e, graças a Deus ficou nisso. Noutra ocasião um sujeito que fazia o segundo grau lá implicou
comigo e eu me vinguei na hora: tinha uma trave grande, de metal, usada na quadra próxima ao pé
do implicante e eu levantei essa trave um pouco e a soltei em cima do pé dele. Ele ficou pulando


Eric Campos Bastos Guedes                       23                   O Povo Cego e as Farsas do Poder
num pé só e olhando assustado para mim. Eu mesmo me assustei com o que havia acabado de fazer,
e pedi desculpas imediatamente, de modo ruidoso e suplicante, denotando algum desespero.
Ninguém conversou comigo para explicar que o que eu passei a fazer estava errado e passei a
adotar, ocasionalmente, uma conduta violenta. Isto quase destruiu minha vida. Acredito que se
estivesse me relacionando com meninas, dificilmente teria recorrido a esse tipo de comportamento
para me fazer respeitar.
        Apesar de ainda não ter me relacionado sexualmente com ninguém, tinha uma menina de
quem eu gostava. Eu cheguei para ela e falei o que aconteceu: disse que havia sonhado com ela e
ela me disse que eu estava mentindo, que aquilo não tinha acontecido. Eu tinha sonhado com ela
realmente. Estávamos nus numa cama e nos batíamos com travesseiros de penas que esvoaçavam
pelo ar. Acho que quem viu esta cena num anúncio televisivo da época talvez se lembre. Era assim
mesmo, que nem o anúncio. No meu sonho eu e ela éramos os amantes que apareciam no comercial.
O nome da garota era Andréa e o ano era 1986.
        Andréa era filha de um professor de matemática e fazia a sexta série no Figueiredo Costa.
Ela tinha umas amigas gozadoras, de pele escura. Eu ajudei Andréa e suas amigas a apresentarem
um trabalho na feira de ciências. Foi uma época muito boa, tirando a parte da violência.
        Raphael deixou um pouco de lado a amizade que tinha comigo e passou a preferir a
companhia de um aluno chamado Erick Varjão, que estudava na classe dele. Varjão sabia se
defender na base da conversa, sem violência. Sabia se fazer respeitar pela palavra e não pela força
bruta. Se eu soubesse fazer isso naquela época, não teria feito tanta bobagem na vida. Acho que
deveriam haver aulas nas escolas ensinando aos alunos como agir em certas situações, e sobre como
não agir. Enquanto a educação escolar de crianças é obrigatória, não há nada que obrigue os pais a
instruírem seus filhos sobre questões relativas à violência e à vida afetiva e sexual.

                                               ***

Férias da sétima para a oitava série

Foi nessa época que decidi entrar de cara na Matemática. Criei uma técnica diferente para obter
números primos que dois ou três anos depois viria a ser publicada na Revista do Professor de
Matemática (RPM) sob o título Uma Construção de primos, no número 15 dessa revista. Quem me
ajudou muito foi a professora Renate Watanabe. Foi ela que encaminhou esse meu primeiro trabalho
para apreciação do comitê editorial da RPM. Seu apoio e suas orientações, que recebi por carta, me
foram muito valiosas. Naquele período de férias de fim de ano pedi a minha mãe para contratar um
certo professor particular de matemática para mim. Esse professor eu conhecera no próprio
Figueiredo Costa. Ele lecionou geometria lá, substituindo o professor Odilon. Foi com Odilon que
tomei conhecimento de demonstrações de teoremas em matemática. As duas primeiras
demonstrações que conheci foram a da irracionalidade de  2 e a da soma dos ângulos internos do
triângulo ser sempre 180°. Aproveitei as férias para aprender trigonometria, geometria e álgebra.
Coisas que deveriam ser estudadas nos anos seguintes. Na verdade, naquelas férias eu passei a ter
um domínio de toda a matemática da oitava série e a entender muitas coisas do ensino médio, então
chamado de segundo grau.

                                               ***

Sobre as aventuras: o barco

Aventurar-se é correr riscos na descoberta de novas fronteiras. Algumas das aventuras de que
participei com meus amigos foram inesquecíveis. Teve uma vez que eu, Rapha e meu irmão Winter
Bastos construímos um barco com madeira coletada na rua, câmaras de ar e pranchas de isopor.


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Pusemos o barco na praia de São Francisco, tivemos que carregá-lo nós mesmos, a pé, até São
Francisco. Foi bastante cansativo, mas tivemos sucesso. Nosso barco flutuou no mar e fomos
remando até um lugar onde havia vários barquinhos ancorados. Subimos num deles e não tinha
ninguém por perto para nos impedir. Mas não conseguimos entrar na cabine do barquinho, pois ela
estava trancada. Entrou água no pacote de biscoitos que levamos para fazer um lanche e perdemos
um martelo que levamos para repregar o barco caso ele ameaçasse se desmanchar, indo uma parte
para cada lado. Winter acabou tendo uma insolação por pegar muito sol na cabeça. Essa aventura foi
no início de 1987, nas minhas férias da sétima para a oitava série do antigo primeiro grau. Uns
meses depois fui morar em Araruama com minha mãe, meu irmão Winter, o enteado de minha mãe,
chamado Alexssandro ou Sandro e meu padrasto Lourenço, que naquela época chamávamos de
Blau.

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Outra aventura: a grande cruz ao longe

Numa tarde, eu, Sandro e Winter vimos uma espécie de cruz ao longe e resolvemos ir até aquela
cruz para resolver o enigma e saber qual o significado dela. Mas era muito mais longe do que
podíamos ir naquela tarde. Então resolvemos ir no dia seguinte, pela manhã. Não contamos nada
para Blau nem para Vanda, pois eles iam “melar” nossos planos. No dia seguinte iniciamos uma
jornada até a misteriosa cruz. Teve uma hora que tivemos que passar em frente a uma casinha que
tinha um cão mal humorado tomando conta. Resolvemos que um cachorro, mesmo grande e
oferecendo risco, não iria impedir nossa jornada. Então decidimos passar caminhando em frente à
casinha, sem correr e nem olhar em direção ao cão. Ele rosnou ameaçadoramente, mas ficou nisso e
nós conseguimos passar. Ao chegar na cruz misteriosa sondamos o lugar. Uma cruz grande sobre
um canteiro circular, com círculos concêntricos que se sobrepunham, os menores sobre os maiores.
Levantamos a hipótese daquele ser o túmulo de um cavalo muito bem quisto por seu proprietário
que, após a morte do animal teria resolvido e homenageá-lo com a imensa cruz sobre o local de seu
sepultamento. Voltamos para casa por outro caminho e descobrimos que a tal cruz era o que as
pessoas chamam de cruzeiro, que é uma cruz numa parte visível da cidade que a consagra a Cristo.
O cruzeiro mais famoso do mundo é o Cristo Redentor, localizado na cidade do Rio de Janeiro.
Uma estátua com Jesus de braços abertos acaba tendo a forma de uma cruz mesmo.

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Mais uma aventura: o morro misterioso

Nossa primeira aventura foi subir um morro em Niterói que tinha uma misteriosa construção no
topo. Naquela época minha mãe, meu padrasto, meu irmão e Sandro moravam num
apartamentozinho no oitavo andar de um prédio situado na rua Noronha Torrezão, bairro de Santa
Rosa, Niterói. Eu, Winter e Rapha resolvemos ir até o topo do morro para saber do que se tratava
aquela construção. Minha mãe, alarmada, fez uma funesta previsão: “vocês vão morrer!”, mas nos
deixou partir. A empregada fizera alguns sanduíches com ovos para que levássemos em nossa
pequena excursão sem guia. Acho que chamamos Sandro para ir conosco, mas parece que ele não
quis ir. Iniciamos nossa aventura subindo uma ruazinha de um morro próximo, passamos na casa da
madrinha de Winter, que se chamava Rosa. Ela era meio enricada e morava numa casa grande perto
do morro. Nos avistou vindo ao longe e, não nos reconhecendo devido à distância, mandou que os
cães nos atacassem. Ficamos paradinhos e eles ameaçavam nos morder, latindo ferozmente a uma
pequena distância. Mas quando Rosa nos reconheceu, ordenou que os cães retornassem. Fizemos
um lanche na casa da madrinha Rosa e prosseguimos a jornada. Teve uma ruazinha que subimos e


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na última casa precisávamos pedir passagem para prosseguir. Pedimos água ali e o dono da casa nos
orientou: “não vão por tal caminho, porque tem uns marginais por lá. Sigam por este outro
caminho”. Então prosseguimos. Tivemos que jogar os sanduíches fora, pois entrou terra na sacola
em que os carregávamos. Após atravessar uma matagal queimado, chegamos até a construção. Ela
parecia abandonada, mas ao examinar melhor, avistei um sujeito sem camisa e com uma arma de
fogo num cinturão. Nos afastamos um pouco do sujeito e tentamos decidir o que faríamos. Fiquei
com medo dele nos matar. Não era bem medo o que eu sentia, mas um receio que misturava
prudência e animação. Ele podia ser um bandido ou algo assim. Era uma situação difícil. Enquanto
conversávamos o sujeito nos achou. Ele era da polícia e nos disse que aquele era o posto de
telecomunicações da polícia. Lavamos nossas mãos com um sabão de coco metido num prego. O
policial perguntou se estávamos lá para pegar alguma pipa e dissemos que não. A vista era
reveladora. De um lado estava São Francisco e um outro morro com uma outra construção. Do
outro lado víamos o centro de Niterói, a ponte Rio-Niterói, e boa parte da Bahia de Guanabara. Era
incrível. Voltamos por outro caminho e eu escorreguei e rasguei minha calça de moletom.
Acabamos chegando no bairro de Fátima, próximo de Santa Rosa e voltamos a pé para casa.
        Essas aventuras marcaram muito minha infância e início de adolescência.

                                                        ***

A descoberta do Método Kumon

Em 1983 havia iniciado um tratamento com o psicólogo Eduardo Nicolau. Ele soube de meu grande
interesse por Matemática, mas na época em que me tratava achou que esse interesse me absorvia
tanto que estava a dificultar meu amadurecimento e ingresso no mundo adulto e real. Era como se a
energia e interesse que eu investia na Matemática me mantivessem longe de resolver questões mais
mundanas, tais como arranjar uma namorada, me relacionar afetivamente, aprender sobre a vida etc.
        Em 1985 eu deixei de ser paciente de Eduardo Nicolau e passei a me tratar com Drº Eugênio
Lamy desde 23 de agosto daquele ano. Entretanto, Eduardo Nicolau foi um psicólogo tão bom para
mim que, mesmo eu não sendo mais seu paciente, me deu uma dica de ouro para dominar a
matemática. No final de 1986 ou início de 1987, ele me chamou em seu consultório e me instruiu a
procurar um amigo seu, chamado Faraday Smith Correa dos Reis. O professor Faraday estava a
ministrar um curso chamado Método Kumon, que se propunha a fazer o estudante gostar de
matemática através do alcance da excelência nessa disciplina pela realização de elevado número de
exercícios de crescente complexidade. Gostei muito da ideia e procurei por Faraday para iniciar o
curso. Foi ótimo tê-lo conhecido, pois era grande apreciador e conhecedor da Matemática, pessoa
inteligente que buscava ajudar, pela via da instrução, quem mostrasse interesse ou talento pela
Matemática. Foi particularmente importante ter conhecido professor Faraday naquela época, pois,
num período crítico de minha vida, ele manifestou interesse e admiração verdadeira por meu talento
criador em Matemática e isso me motivou bastante à prosseguir com o desenvolvimento de minhas
ideias nessa área.
        Infelizmente, de início, minha frustração afetivo-sexual dificultou muito minha adesão de
corpo e alma ao Método Kumon. Era difícil estudar matemática com tanto empenho pensando na
loura da escola8.

                                                        ***

Oitava série no Colégio Itapuca


8 Nessa época eu cursava a oitava série do primeiro grau no Colégio Itapuca, em Santa Rosa. A loura referida no texto
  chamava-se Marcela e eu havia lhe proposto que fôssemos para meu apartamento fazer sexo.

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Em 1987 eu cursava a 8ª série do ensino fundamental no colégio Itapuca, situado na rua Noronha
Torrezão. Entretanto, já sabia mais matemática do que os estudantes do ensino médio. Não tendo
interesse nas demais matérias e não vendo mais nenhuma graça nas aulas de matemática de minha
classe, expliquei isso ao diretor Tomás e pedi permissão a ele para assistir também as aulas de
matemática das classes do ensino médio. Tomás disse que eu poderia assistir as aulas do ensino
médio depois que eu conseguisse a nota máxima em todas as matérias de minha própria classe.
Descartei a ideia, pois não me interessava por outras disciplinas, somente por matemática e
geometria. Ora, é fato bem conhecido o de que a inteligência é seletiva. Portanto, é muito natural
que cada pessoa manifeste graus diferentes de interesse por assuntos diversos. Meu pedido de
assistir as aulas de matemática das classes mais adiantadas fazia todo sentido, portanto. A conclusão
que tiro é que a escola não se interessa pelo desenvolvimento pessoal, intelectual e social de seus
alunos, mas sim pelo cumprimento de metas burocráticas.
         Tendo sido impedido de estudar o que queria, passei a me interessar por outras coisas. Eu
queria muito ficar com uma menina chamada Marcela, uma loira descolada de cabelos curtos e
corpo atraente. Na verdade eu queria levá-la para meu apartamento na Rua Comendador Queiroz,
em Icaraí, onde morávamos eu, minha tia Vera Lúcia de Campos e minha avó Dermontina da Silva
Campos. Queria fazer com ela tudo que vi os homens fazendo com as mulheres em minhas revistas
de sexo explícito. Não tinha artifício para isso, entretanto. Se naquela época eu tivesse a cabeça que
tenho hoje, poderia ter tido muitas namoradas e ficantes. Naquela época falava-se muito mais em
namoro do que em ficar. O verbo “ficar” não era usado com o significado que tem hoje, de ficar
beijando, acariciando e excitando descompromissadamente um parceiro ou parceira eventual. Eu
propus a Marcela que ela fosse comigo para minha casa para nos relacionarmos sexualmente, mas
ela não quis. Marcela se aproveitou da situação e passou a caçoar de mim, achando graça de minha
proposta. Sua atitude autorizou os demais alunos a caçoarem de mim também, porque perceberam
minha fraqueza. Passei a ser alvo de zombaria no Itapuca e isso me deixava p. da vida. A escola
ficou insuportável e acabei reagindo a uma dessas provocações dando um murro na cara de um
aluno. Ele, que antes era meu amigo, passou a me ignorar e quando o procurei ele disse que
chamaria o irmão mais velho que era militar para me dar uma surra. Minha vida escolar ia de mal a
pior, embora minhas notas estivessem acima da média.

                                                 ***

Três pontos a ponderar

Quero destacar três coisas: primeiro, o mito de que o agressor quer ser agressor; segundo, o silêncio
sobre os malefícios do atraso da iniciação sexual dos adolescentes; terceiro, o fato pouco estudado
de que drogas psiquiátricas são legalizadas, porém ainda são drogas. Sobre o agressor querer ser
agressor quero dizer que isso não corresponde sempre a verdade. Cada caso é um caso. Um
verdadeiro agressor quer ser agressor e pode ser. Se uma agressão ocorre, uma das perguntas que se
deve procurar responder é: “o agressor queria cometer a agressão ou ele perdeu o controle?”. Se o
agressor perdeu o controle ele precisa de ajuda, mas se ele fez o que fez por um exercício do livre
arbítrio, deverá ser punido. Responder a pergunta proposta nos orienta sobre como resolver o
problema e evitar que futuras agressões ocorram. Se queremos resolver um problema, temos que
entender o problema primeiro. O que tenho observado é a mídia eleger os vilões do momento, cada
um deles teve a sua época: Josef Fritzl, como pedófilo, raptor e estuprador da própria filha; o casal
Nardoni, pela morte de Isabela Nardoni; Suzane Von Richthofen pelo assassinato de seus pais; o
maníaco do parque, pelo estupro e morte de muitas mulheres; Febrônio Índio do Brasil, pela morte e
estupro de crianças. Examinando esses casos, podemos nos perguntar: “o que foi feito para evitar
novas tragédias como essas?”. Não vale responder dizendo que houve um aumento da pena, por
exemplo. Aumentar a pena para um crime fará o juiz relutar um pouco mais em condenar alguém


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por aquele crime. Na prática, talvez menos pessoas sejam condenadas. Além disso, se o mero
aumento da pena resolvesse o problema ia ser muito fácil acabar com a criminalidade: bastaria
punir todos os criminosos com pena máxima, digamos, uns 40 (quarenta) de reclusão. Será que o
mundo passaria a ser um paraíso ou um inferno? Acho que viveríamos num inferno. Um indício
forte que aponta nessa direção é o fato de as prisões da Islândia serem como hotéis de quatro
estrelas: lá o condenado tem direito a duas horas por dia de Internet! Se uma punição branda
favorecesse o crime, a Islândia seria um país com alto índice de criminalidade, o que não ocorre.
Por outro lado, se uma punição mais severa fosse capaz de refrear o crime, o índice de
criminalidade no Brasil deveria ser muito mais baixo que o da Islândia, o que também não acontece.
Estamos olhando na direção errada se nos propusermos a combater o crime com o aumento das
penas. Mas qual a solução para isso? Uma pista nos é dada se lembrarmos um pensamento devido a
Pitágoras: “devemos educar as crianças para não ter que punir os homens”. Quero acrescentar que
não é uma punição mais ou menos severa que irá resolver o problema da criminalidade. Para coibir
o crime, as punições devem ser adequadas, mas não necessariamente severas. Para ilustrar o que
digo lembro-me do caso do primo de um antigo amigo de meu irmão. O amigo atendia pela alcunha
de Bob Cuspe. Ele nos contou que um primo seu – ou algum outro parente, não tenho certeza qual
– fora preso por ter cometido um pequeno furto ou algum delito de menor importância. Devido às
ameaças, agressões e traumas que teve na prisão, saiu de lá tão revoltado que pensava em fazer
coisas muito piores. O que tenho observado é que a punição excessiva conduz a revolta do punido e
à prática de crimes muito mais terríveis que os iniciais. A prisão de uma pessoa acaba sendo uma
bola de neve em que cada vez que o preso é liberado por já ter cumprido a pena, ou por ter tido
algum benefício, passa ele a cometer crimes muito piores. Algo análogo posso afirmar sobre
internações em clínicas psiquiátricas.
        Em todos os casos que citei, de Fritzl, Nardoni etc, os agressores, provavelmente, queriam
cometer os crimes. Não fizeram o que fizeram por terem, de algum modo, perdido o controle. O
meu caso é diferente. Eu iniciei uma série de atos violentos por estar sob forte tensão e sem uma
válvula de escape eficaz. Isso nos leva ao segundo tema que quero destacar: o atraso da iniciação
sexual dos adolescentes. É esse atraso, muitas vezes, o responsável pelo comportamento violento de
crianças e adolescentes intelectualmente promissores. É esse atraso que frustra o empenho de bons
estudantes ao se sentirem na obrigação de tirar notas altas devido ao sentimento de inferioridade
que tem em relação aos seus amigos e amigas que já se relacionam sexualmente. É como se notas
excelentes compensassem um deficit na área afetivo-sexual. Em cada ambiente procuramos o
respeito dos demais – principalmente os talentos mais promissores buscam esse respeito. A ironia é
que os mais talentosos acabam negligenciando amiúde o sexo e o afeto por terem eles uma fonte
muito mais interessante de prazer: sua inteligência e motivação. Porém, se essas crianças e
adolescentes perdem o interesse em atividades intelectuais e se não conseguem ingressar a contento
no mundo do sexo e do afeto, passam elas a correrem um risco muito grande de cometerem
suicídio, assassinatos, estupros, agressões violentas e coisas do gênero. O respeito que buscam pode
não lhes ser dado, ainda que o mereçam. Isso deve acontecer bastante na transição da infância para
a adolescência e na da adolescência para a vida adulta. Não por acaso é justamente nessas fases da
vida que costumam surgir a maioria dos casos de esquizofrenia. Pode ser que essa esquizofrenia
decorra da interrupção do prazer de ser inteligente e simultânea dificuldade em ingressar no mundo
do sexo. A grande solução não está em pílulas, comprimidos, haloperidol ou carbamazepina, mas
simplesmente numa orientação correta e bem intencionada da criança ou adolescente para fazê-los
ingressar a contento no sexo! A solução pode ser simplesmente essa! E o porque de essa solução
não estar sendo implementada é bem fácil de entender. O pai e, principalmente a mãe, não estão a
vontade com a ideia do “bebezinho” deles ter uma vida sexualmente normal, sadia e ativa. O
problema estaria muito mais na família do que na criança ou adolescente considerado problemático.
A tal da criança-problema talvez seja apenas uma criança que precisa urgente de “uma boa
massagem” – no segundo sentido da palavra, por favor! Sobre isso quero dizer que uma pu*a na


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cama é muito melhor que uma dama na sociedade.
       Há que se falar também sobre o crime de Wellington Menezes de Oliveira, o atirador de
realengo, que entrou armado em sua antiga escola e matou a tiros 12 estudantes. Ora, pelo que se
entende da carta deixada por Wellington no trecho seguinte:

     “...nenhum fornicador ou adultero poderá ter contato direto comigo, nem nada que seja
     impuro poderá tocar em meu sangue, nenhum impuro pode ter contato direto com um
     virgem sem sua permissão...” [grifo meu]

fica mais ou menos claro que Wellington morreu virgem! Sim! Estranhamente a grande mídia de
massa não deu o devido destaque a esse fato crucial. Se Wellington tivesse uma vida sexual, mesmo
que fosse com prostitutas (dada sua dificuldade em relacionar-se), provavelmente o massacre de
realengo não teria ocorrido. Como evitar que tais ataques venham a ocorrer? Ora, poderíamos
instituir uma data de combate ao bullying, lembrando a cada ano a trajédia de realengo e atribuindo
ao bullying a culpa pelo ocorrido. Assim, os alunos das escolas ficariam bem conscientes sobre as
consequências do bullying, o que coibiria tal prática.
         O terceiro tema é “drogas psiquiátricas são legalizadas, porém ainda são drogas” e está
relacionado aos dois anteriores. A maioria das pessoas pensa que tranquilizantes realmente tornam
as pessoas mais calmas. Extrapolando essa ideia, acham que muitas pessoas que são mentalmente
enfermas precisam dos tranquilizantes para viverem em sociedade, caso contrário se tornariam
agressivas e violentas. Nada disso é verdade. Se repararmos bem, as pessoas que tomam
tranquilizantes – diazepam, haloperidol, carbamazepina, clonazepam, clozapina etc – tem mais
propensão a serem justamente as desajustadas, as frustradas, as estranhas e as que ficam de fora dos
círculos de amizade. Poder-se-ia argumentar que esse desajuste se deve à doença dessas pessoas e
que o tranquilizante estaria tratando o desajuste. Esse argumento é uma distorção da verdade. O que
vejo são pessoas adoecendo pelo uso de tranquilizantes. Tranquilizantes estes que, ao embotar a
motivação do usuário e reduzir sua memória, atenção e capacidade de aprendizagem, sabotam o
intelecto do “doente”, privando-o do que, talvez, possa ser uma de suas maiores alegrias: o sucesso
escolar e intelectual. Mais: ao reduzir a dose desses tranquilizantes ou suprimi-los, passamos por
uma síndrome de abstinência. Esta última expressão costuma ser muito mais utilizada quando nos
referimos a drogas ilegais ou ilícitas. Mas o fato de termos adquirido drogas numa farmácia, com
receita médica e agindo dentro da lei não transforma essas drogas em algo diferente do que são:
drogas! Nosso corpo não está nem aí para a legalidade das drogas que utilizamos: o dano cerebral
ocorrerá com drogas legais ou ilegais, em menor ou maior grau. A redução ou supressão do uso de
tranquilizantes costuma levar, como eu estava dizendo, a uma síndrome de abstinência. Quando ela
ocorre, se não estivermos preparados, entraremos em crise e ao sairmos da crise pelo retorno ao uso
das drogas dizemos a nós mesmos: “é... eu acho que preciso realmente tomar meus remédios”. Isso
é tão errado como tratar o vício em crack ou cocaína com mais crack e mais cocaína. Simplesmente
é o modo errado de enfrentar o problema.
         A relação do terceiro tema com os dois primeiros é que o uso de drogas, legais ou não, ao
frustrar a criança ou adolescente pela redução de sua capacidade de aprendizagem, memória e
atenção, favorece a agressão. Afinal, pessoas frustradas estão muito mais propensas a cometerem
agressões do que as bem relacionadas. Além disso, a utilização de medicações psiquiátricas como o
haloperidol e a clozapina tornam as pessoas muito mais envergonhadas e medrosas, o que pode ser
fatal se o usuário ainda não iniciou sua vida sexual. De fato, o haloperidol, a clozapina e a
risperidona são drogas tranquilizantes que nos tornam pessoas afetivamente menos interessantes e
sexualmente deficitárias. Ora, levando o usuário uma vida de sucessivas frustrações de caráter
afetivo, sexual e intelectual, as drogas psiquiátricas produzem uma legião de agressores, suicidas e
incapazes. Não quero com isso justificar as graves agressões que cometi – falarei delas ainda – mas
quero pelo menos explicá-las. Tentar justificar o mal é impossível, pois o mal não é justo; o que


Eric Campos Bastos Guedes                       29                   O Povo Cego e as Farsas do Poder
devemos, sim é entender o mal, exatamente para nos defendermos dele. Sun-Tzu nos diz em seu
livro “A arte da guerra” que conhecer o inimigo nos garante metade da vitória sobre ele. E se
estamos em guerra contra o mal, temos que saber de onde ele vem e como ele age.

                                               ***

O porteiro gay do Colégio Itapuca

Em 1987 um homossexual de nome Geraldo – funcionário do colégio Itapuca – se aproximou de
mim. Ele me disse os maiores disparates. Disse que os tempos hoje são outros, mais liberais e que
se eu decidisse sair na rua com o pinto duro para fora das calças, o melhor que ele poderia fazer
seria ficar na minha frente para esconder meu órgão. Aquela conversa dele era um espetáculo
bizarro que assisti estupefato, mas devido à novidade escutei o que ele dizia por algumas horas –
veja bem: horas. Ele estava tão a fim de ficar comigo que me ofereceu o gabarito dos testes do
colégio Itapuca. Recusei a ideia de cara. No fim, quando eu já estava para ir embora, me chamou
para ir para sua casa transarmos. Eu não quis. Foi constrangedor, mas pelo menos aprendi um pouco
sobre como são as pessoas.
        Naquela noite, em casa, fiquei profundamente angustiado. Enquanto Marcela – a loura
descolada do Itapuca – me esnobava e dava bola para outros caras, eu era assediado por um gay.
Abandonei o colégio Itapuca.

                                               ***

Hábitos sexuais reprováveis

No primeiro semestre de 1987 ocorreu um pequeno incidente que mudou a história de minha vida e
isto quase me destruiu. Academicamente, perdi uns 15 anos de estudo na UFF. Nesse tempo eu
poderia ter concluído a graduação, feito o mestrado e também o doutorado.
       Estava indo ao apartamento onde meu amigo Raphael morava com sua mãe Márcia e sua
irmã Raquel quando avistei, na mesma calçada, vindo em minha direção, uma menina-mulher que
devia ter mais ou menos a minha idade mesmo. Foi perto do Colégio Salesiano Santa Rosa, ou na
Rua Mário Viana, ou na Rua Santa Rosa, acho. Naquela época eu ainda não havia me relacionado
sexualmente e estava cheio dos hormônios próprios da adolescência. Quando via uma mulher – ou
mesmo quando não via – acabava a desejando muito, mas não tinha nenhum artifício para conseguir
que mulher nenhuma transasse comigo. Na verdade, cada negativa que eu recebia ao propor sexo
com mulheres me desgastava muito, razão pela qual eu fiz poucas propostas de sexo às pessoas.
Quando aquela menina-mulher de short passou ao meu lado, minha mão escorregou furtivamente
até suas nádegas e ela disse: “IIIIIIhhh, garoto!”. Meu ato não foi intencional – um lapso
momentâneo em que fui guiado pela minha libido. Continuei meu caminho e percebi que ficara
naquilo: não houve nenhum tipo de repreensão mais eficaz além do “IIIIIIhhh, garoto!”. Imaturo e
cheio de “T”, passei a fazer tal coisa de modo rotineiro. Eu sabia que era perigoso e queria parar,
mas se tornou um vício. Eu realmente tentei parar algumas vezes, mas sem êxito. Quando avistava
um menina bonita a mostrar o contorno da bunda em shortinhos ou calças jeans apertadas, logo me
lembrava desse mal hábito e ficava tentado à sair pela rua para tocar alguma mulher. Sei que para a
maioria das pessoas é difícil entender que isso era um vício: mal hábito que temos e que é difícil
pararmos por nós mesmos. O que quero dizer é que é muito mais fácil aconselhar alguém a deixar
um vício do que nós mesmos deixarmos os nossos. O alcoolismo, o cigarro e os tóxicos são vícios
que só quem os tem saberá realmente o quanto é difícil parar. Mais que isso: certas pessoas são
muito mais propensas a desenvolver vícios que outras. É muito fácil dizermos a um alcoólatra para
parar de beber porque não estamos no corpo dele para saber o peso e a força de seu vício. Em se


Eric Campos Bastos Guedes                       30                   O Povo Cego e as Farsas do Poder
tratando de hábitos sexuais, também se pode desenvolver vícios e foi isso que aconteceu comigo.

                                                        ***

Mais agressões e a Marcela do Gay-Lussac

Fui estudar no Colégio Gay-Lussac, no centro de Niterói. Lá conheci outra garota que, como a
anterior, chamava-se Marcela. Mas era uma Marcela muito diferente. Branca, cabelos curtos e
negros, inteligente, estudiosa. Ela me encantava com o que dizia e com o interesse que manifestava
por ideias, conceitos e teorias. Eu gostava muito dela e Marcela estava sempre conversando comigo
sobre os livros que lia e coisas assim. Era muito bom vê-la falar com tanto interesse e admiração
dos livros que costumava ler. Mas eu me sentia frustrado por não acreditar ser capaz de estabelecer
uma relação mais próxima com ela, tipo um namoro. Olhando em retrospecto, percebo que era isso
que nós queríamos. Ou, mesmo que não quiséssemos isto, era exatamente isto que nos faria felizes.
         Minha grande dificuldade em me relacionar a contento com o sexo oposto foi, sem dúvida,
uma barreira que demorei muito para superar e que me causava grandes e contínuas frustrações. Se
eu me considerasse um estudante excelente – não bom ou ótimo, mas excelente – as frustrações se
dissipavam fácil, fácil. Na verdade eu buscava uma excelência em relação aos outros estudantes de
minha classe – isso implicava em ser o melhor ou estar entre os melhores estudantes da sala. Nem
sempre eu conseguia isto, entretanto. Frustrado, acabei bancando o imbecil. Fustigado por um outro
aluno que bagunçava uma aula de geometria, tirando toda a graça dela, meti a ponta de um
compasso na barriga dele. O caso foi parar na diretoria, que foi complacente comigo. Talvez a
complacência do diretor se devesse ao fato de eu ser considerado um aluno muito bom que teve um
mal momento diante de outro aluno que já era considerado problemático. Por sorte não foi feita
queixa na polícia.
         Após a agressão, passei a ser considerado o malfeitor de minha classe. E se não me falha a
memória, minha vítima se tornou, momentaneamente, um herói. Ele foi, após a agressão sofrida,
aclamado pela classe e carregado nos braços sob aplausos e gritos de “viva!” 9. Apesar de eu ter sido
o agressor e ele a vítima, julgo ter tido muito mais prejuízos que ele pela minha atitude irrefletida.
Marcela nunca mais falou comigo e as últimas palavras que dirigiu a mim foram: “Cala a boca!”
         Teve uma aula de história em que fomos para a sala de audio-visual assistir um
documentário a respeito do comunismo. Um outro estudante, que estava sentado atrás de mim, me
cuspiu. Reclamei com o professor, que solenemente me ignorou. Pronto. Eu estava visado como o
grande vilão de minha classe não tinha nada que eu pudesse fazer para reverter a situação. Era
difícil prestar atenção às aulas pois passaram a jogar bolas de papel em mim, razão pela qual passei
a me sentar na última fileira de carteiras da classe, lá no fundão. Também passei a ser vítima de
comentários maldosos dirigidos a mim. Eu não podia me concentrar mais nas aulas, pois chegou a
meu conhecimento que um grupo de alunos planejava me surrar quando estivesse só. Eu também
sabia que nada do que fizesse reverteria a situação.

9 Esse episódio ilustra bem a motivação do portador da Síndrome de Münchausen (F68.1). Apesar de nenhum dos
  personagens do episódio supra-relatado sofrer dessa síndrome, o incidente mostra, claramente, que alguém que
  venha a sofrer uma agressão considerada indevida por seu entorno social receberá carinho, aplauso e manifestação
  de apoio desse mesmo entorno. O portador da Síndrome de Münchausen busca dissimuladamente e com empenho
  receber essa mesma manifestação de apoio e esse mesmo carinho de seus amigos e conhecidos. Para isso, procura,
  sempre que possível, passar a ideia de que foi uma vítima inocente de reveses e infortúnios absolutamente
  imerecidos. Com a finalidade de desempenhar um papel de vítima, o portador dessa patologia costuma simular
  doenças em si mesmo ou em familiares muito próximos (que tecnicamente são chamados de substitutos). A fim de
  desempenhar o papel de vítima inocente, não hesita o portador dessa síndrome em por sua própria integridade física
  em risco ou causar graves danos a familiares próximos, podendo mesmo chegar a cometer o assassinato de
  familiares, desde que estejam convictos de que seu crime não será descoberto jamais (é imprescindível que sejam
  sempre considerados inocentes, caso contrário deixam de receber o carinho destinado às vítimas e passam a ser alvo
  da recriminação destinada aos agressores).

Eric Campos Bastos Guedes                                31                      O Povo Cego e as Farsas do Poder
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O povo cego e as farsas do poder 3ed

  • 1. O POVO CEGO E AS FARSAS DO PODER uma aventura real no país do faz-de-conta A visão e a história de uma vítima de sucessivas tentativas de homicídio empreendidas pelo serviço secreto brasileiro Sexo Prostituição Psiquiatria Conspirações Política Homofobia Matemática Espionagem eric campos bastos guedes Eric Campos Bastos Guedes 1 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 2. Eric Campos Bastos Guedes 2 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 3. “A culpa é do hipócrita, mentiroso e esperto ao contrário, que atira a pedra e esconde a mão.” Estamira Eric Campos Bastos Guedes 3 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 4. Índice PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO...................................................................................................5 PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO...................................................................................................6 PREFACIO À TERCEIRA EDIÇÃO...................................................................................................7 Parte I (Introito – Ilustrando o problema com textos relacionados)................................................................9 Parte II (Vida Pregressa – Uma Pequena Autobiografia)................................................................................13 Parte III (Difamação e tentativas de homicídio - o ataque de inimigos ocultos)..............................................61 Parte IV (Indução ao suicídio, indução ao homicídio e infestação por cisticercose)......................................134 Parte V (Escâneres comentados – a vilania familiar)....................................................................................186 Parte VI (o ataque dos religiosos e infecção por sífilis).................................................................................200 Eric Campos Bastos Guedes 4 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 5. PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO Este não é um livro de ficção, lamentavelmente. Desde o início de 2007 venho sofrendo perseguições de caráter político e diversas ameaças 1. Tive meu nome difamado, fui drogado involuntariamente e sofri tentativas de homicídio. Sabemos que tais coisas ocorreram no passado e que talvez ocorram em algumas partes do mundo hoje. Porém sempre pensamos nisto como algo um tanto distante de nossa realidade. Até acontecer conosco. A maioria dos países tem um serviço secreto. Que propósitos tem tal atividade? Eles alegam proteger a soberania nacional e a democracia, entre outras coisas. No entanto é difícil imaginar que um governo tão corrupto esteja, ao mesmo tempo, tão preocupado em manter a democracia. A soberania nacional, por sua vez, continua sendo uma abstração sem base concreta. Basta citar o caso do nióbio – mineral absolutamente necessário para a indústria mundial. Somos o único país do mundo com quantidade significativa de nióbio e estamos vendendo este mineral a preços risíveis. O silêncio a esse respeito é total. A grande mídia distrai a população com questões que nos chocam. Somos submetidos a sucessivos sequestros emocionais e levados, assim, a ignorar os problemas reais – aqueles cujas soluções nos trariam mais qualidade de vida, prosperidade e paz. A mídia atribui a causa de nossos problemas ao chapéu que temos sobre a cabeça e não aos pensamentos que nutrimos dentro dela. Então, compramos um chapéu novo e mais caro – e continuamos com nossos problemas. O presente texto convida a uma reflexão sobre a justiça e o poder no Brasil contemporâneo e no mundo. A sucessão dos acontecimentos por vir darão a tônica de nossas conclusões: um sopro de esperança no futuro ou a trágica constatação de uma realidade abjeta e inexorável. Os nomes das pessoas e instituições envolvidas foram trocados para evitar uma eventual proibição do comércio da presente obra2, como já aconteceu com outro livro semelhante, a saber, “O Canto dos Malditos” de Austregésilo Carrano Bueno. Eric Campos Bastos Guedes fator-n@hotmail.com / mathfire@gmail.com 1 Na verdade, pude verificar que um primeiro indício significativo de que estava sendo vítima de algum tipo de conspiração ou complô surgiu em 2006, talvez antes que eu tivesse sido premiado na Olimpíada Iberoamericana de Matemática Universitária. Este indício consiste na alteração do texto de um meu outro livro – Fórmulas para Números Primos – alteração esta feita, presumivelmente, via Internet por algum hacker. Após 10 anos acessando a Internet sem nunca ter tido esse tipo de problema, essa foi a primeira vez em que percebi, de modo relativamente claro, que dados contidos no HD de meu computador foram acessados e alterados. Tal alteração foi bastante sutil para não ser percebida imediatamente, mas, talvez tenha sido nociva o bastante para fazer com que a proposta de publicação daquele meu livro pela Sociedade Brasileira de Matemática fosse recusada. Sem ter conhecimento da alteração do texto, acabei por publicá-lo, eu mesmo, em formato digital ao disponibiliza-lo no site www.docstoc.com . 2 Na terceira edição deste texto decidi pôr os nomes verdadeiros das pessoas e instituições envolvidas. Já não tenho receio de ser processado por isso, pois omitir os nomes reais dificultaria muito qualquer investigação que pudesse ser feita a fim de elucidar os fatos e as interpretações deles. Na verdade, responder um processo na justiça agora seria um problema pequeno se comparado com as muitas tentativas de homicídio que sofri e que venho sofrendo sucessivamente. Na verdade, meus opositores querem anular-me, mas há que se dizer também que para anular uma pessoa nem sempre é uma boa estratégia matá-la. As vezes pode-se destruir uma pessoa oferecendo a ela comida contaminada. Isso ficará claro durante a leitura do texto. Eric Campos Bastos Guedes 5 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 6. PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido considerado excelente. Às vésperas de uma eleição, Lula está a ponto de conseguir eleger sua candidata, a ex-ministra Dilma Rousseff. Perguntando a pessoas do povo, vê-se logo que Lula é muito benquisto pela população. Não é para menos! Hoje temos mais empregos que na época de Fernando Henrique Cardoso, os salários subiram e o salário mínimo, em particular, subiu bastante. O grande problema é o que tem sido feito por debaixo dos panos, sem alarde, sem divulgação. Venho denunciando o governo Lula por permitir que cidadãos brasileiros sejam mortos pela ABIN – Agência Brasileira de Inteligência. A ABIN é o serviço secreto brasileiro, o equivalente ao Serviço Nacional de Informações (SNI) da época da ditadura militar. Muitas pessoas que trabalharam para o antigo e opressor SNI, trabalham hoje para a ABIN. Inclusive gente envolvida com torturas, homicídios e coisas do gênero. Um grande indício de que o presidente Lula sabe que cidadãos brasileiros estão sendo mortos pela ABIN é o fato de que uma das funções da ABIN é justamente prover o poder executivo de informações. Isto significa que Lula tem todo o direito de saber o que a ABIN está fazendo. E se ele não sabe é porque não está nem aí. Apesar de tudo, tenho que reconhecer que, talvez, Lula seja refém da ABIN. Foi a ABIN a responsável pela criptografia do telefone presidencial. Essa criptografia protegeria, em tese, as ligações de Lula e de seus familiares de coisas como grampos telefônicos. No entanto, é lógico que se alguém faz a segurança das informações de outrem, poderá, se quiser, ter acesso a tais informações. Por exemplo, o sistema criptográfico dos telefones presidenciais pode ter uma falha que só a ABIN conhece, e a ABIN poderia se valer, hipoteticamente, de uma tal falha para ter acesso às ligações do presidente. Não somos governados por quem pensamos que nos governa. Gostaria de acrescentar que essa segunda edição tem várias melhorias em relação à primeira. Foram acrescentadas passagens antes omitidas, detalhes significativos e a perseguição que sofri após a primeira edição. Também corrigi alguns erros que haviam na edição precedente. Entretanto, esse texto ainda não está tão bom como gostaria que estivesse. O motivo é que tive de apressar o trabalho para que fosse publicado antes do segundo turno da eleição presidencial. Penso que a eleição pode mudar dramaticamente a minha sorte – para pior. Talvez meus inimigos se sintam muito mais a vontade para tentar me matar agora, já que Lula vai deixar a presidência da república. E se a denúncia que lanço neste trabalho ficar erroneamente desvinculada da imagem de Dilma Rousseff, candidata de Lula, o povo pode se enganar ao pensar que ela não tem nada a ver com os assassinos de estado pagos a peso de ouro pelo governo federal e que trabalham para a ABIN. Eric Campos Bastos Guedes Escrito em Araruama, em 5 de setembro de 2010. Modificado em Araruama, em 30 de outubro de 2010. Eric Campos Bastos Guedes 6 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 7. PREFACIO À TERCEIRA EDIÇÃO Demorou muito para que eu entendesse que há uma relação muito próxima entre o governo e os líderes religiosos. Tais líderes utilizam sua influência para levar seus seguidores à praticar atos abomináveis contra as pessoas que sabem o que há de podre no governo. Esses atos abomináveis incluem contaminar criminosamente, com a bactéria da sífilis, por exemplo, as pessoas que sabem a verdade a respeito desse sistema de coisas iníquo que rege o mundo. Essa contaminação criminosa pode vir através de uma comida ou através de uma injeção preparadas com a finalidade de nos fazer adoecer de neurosífilis ou neurocisticercose, doenças que sabidamente levam à demência e à psicose. Eu mesmo fui infectado com a bactéria da sífilis e contaminado com cisticercose. Se meus inimigos tivessem tido pleno êxito eu não teria mais capacidade de lidar com computadores ou escrever textos como esse. O fato é que tenho a bactéria da sífilis, ou alguma outra, e isso não aparece no exame padrão para sífilis (VDRL). Se eu tivesse adquirido sífilis por via sexual isso seria acusado pelo exame. Sei que tenho a bactéria da sífilis no meu corpo pelos sinais que ela me mostrou: glande avermelhada, manchas vermelhas nos braços e nas costas (não exatamente como na sífilis adquirida por via sexual, mas mais ou menos perto disso), céu da boca com algo que lembra um ferimento bem tênue (quando eu passo a língua na região eu sinto). Se eu conseguir vencer a bactéria, pode ser que não consiga provar que a tenho em meu corpo; senão, a doença poderá se desenvolver de modo dramático e me deixar com vários ferimentos na pele ou provocar sinais de demência em mim. É esperar para ver. Também preciso falar da grande covardia que estão fazendo à meu filho Sólon que mal fez dois anos de idade. Certa vez, quando estivemos eu, minha esposa e Sólon na casa de minha sogra em Santa Maria de Campos foi chamada uma menina para cuidar de meu filho. Eu observava ela cuidando de Sólon e teve uma vez que ela pôs um recipiente de formato cilíndrico (formato fálico) de pastilhas M&M na boca e chamou a atenção de meu filho para que ele a visse fazendo isso. Posteriormente eu estava a brincar com Sólon quando a empregada, autoproclamada “evangélica”, disse “Você não sabe no que ele vai se transformar...”. No dia em que Sólon fez dois anos de idade ele foi deixado sob os cuidados de Vanda, minha mãe, que é extremamente católica. Quando voltou para casa eu o observei e ele pôs uma peça do seu brinquedo, de formato fálico (formato cilíndrico), na boca e depois tirou e sentou em cima dela. Na minha opinião a responsável por esse comportamento de Sólon foi minha mãe Vanda que deve ter deixado pessoas extremamente “religiosas” ensinado isso a ele. Os indícios me levam a acreditar que são as pessoas religiosas que fazem isso aos filhos dos “inimigos”, aqueles que podem envergonhar os líderes das religiões que tem pregado o bem mas feito o que Deus repudia. O próprio Jesus Cristo nos fala sobre isto no livro de Mateus, capítulo 23, versículo 13: “Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês fecham a porta do Reino do Céu para os outros, mas vocês mesmos não entram, nem deixam que entrem os que estão querendo entrar.”3 Se eu vier a desenvolver alguma doença incapacitante, que leve à demência ou a um estado de menor inteligência (meu QI está, segundo os testes, entre 115 e 127) ou se meu filho Sólon vier a se tornar homossexual, isso confirmará a verdade desse texto. Confirmará também, em parte, que a religião está na base de todas as perversidades do mundo. Funciona assim: você pode fazer tudo que não presta que não sentirá culpa, pois você é “lavado no sangue do cordeiro” a cada nova reunião de sua igreja. Para ser “lavado” você só tem que fazer o que os líderes (pastores, padres etc) querem, não importando o tamanho da sujeira. Desde que o autoproclamado “cristão” cometa a perversidade 3 O Novo Testamento – Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002. Eric Campos Bastos Guedes 7 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 8. sem que se possa provar nada contra ele, ou contra a igreja dele, fica tudo bem. O que importa para essa gente religiosa é fazer o que é mal sem que se possa ser pego e condenado por isso. Uma aura de falsa santidade envolve muitos dos religiosos praticantes – não todos, mas uma parte considerável. São escravos do diabo que passam a ideia de serem seres humanos maravilhosos. As religiões ditas cristãs não são cristãs de verdade. Elas são mecanismos que os senhores do mundo utilizam para anular o trabalho de quem vem em nome de Deus revelar a verdade ao povo. Lendo a Bíblia logo vemos várias passagens que depõe contra todas as igrejas autoproclamadas cristãs. Por exemplo, em Atos, capítulo 5, quando a igreja “mata” o casal Ananias e Safira. É lamentável que possam existir pessoas tão falsas quanto algumas das que frequentam seriamente uma igreja e se dispõem a fazer o mal para engordar esse falso Deus/demônio que tem uma insaciável “fome de almas”. E a expressão “fome de almas” eu tirei de um texto de minha religiosa mãe Vanda que dizia ser “impossível” (sic) saciar a fome desse demônio que ela chamava de “Deus”. De fato, a expressão “fome de almas” nos remete muito mais a ideia de um monstro demoníaco do que a de Deus. Então foi Vanda mesmo que concordou que o “Deus” dela era um demônio! E por ter passado tantos anos frequentando a igreja ela deve saber bem a quem serve. Muitas pessoas que frequentam alguma religião estão metidas nessa guerra santa. Uma guerra para que a verdade não seja revelada. A verdade a respeito das atitudes sórdidas que muitos dos membros mais respeitáveis de uma igreja têm praticado. Tenho medo de que essas pessoas religiosas façam mal a meu filho Sólon ou à minha esposa Márcia – os religiosos podem contaminá-los com sífilis ou cisticercose. Eric Campos Bastos Guedes 30/06/2011 Eric Campos Bastos Guedes 8 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 9. Parte I (Introito – Ilustrando o problema com textos relacionados) Eric Campos Bastos Guedes 9 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 10. http://www.obm.org.br/univ/oimu.htm Olimpíada Iberoamericana de Matemática Universitária O participante não deve possuir título Universitário a nível de graduação ou equivalente e deve estar matriculado em uma Universidade como estudante de graduação. IX OIMU (2006) Nome Prêmio Cidade-Estado Rafael Daigo Hirama Ouro S.J. dos Campos – SP (1º) Rafael Marini Silva Prata S.J. dos Campos – SP (2º) Thomás Yoiti Sasaki Hoshina Bronze Rio de Janeiro – RJ (3º) Felipe Rodrigues Nogueira de Souza Menção Campinas – SP (4º) Luty Rodrigues Ribeiro Menção Fortaleza – CE (5º) Luiz Felipe Marini Silva Menção S.J. dos Campos – SP (6º) Eric Campos Bastos Guedes Menção Rio de Janeiro – RJ (7º) Rafael Constant da Costa Menção Rio de Janeiro – RJ (8º) Eric Campos Bastos Guedes 10 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 11. Ilustríssimo Dr. Delegado do 77° DP Icaraí Eric Campos Bastos Guedes, filho de Winter Bastos Guedes (pai) e Vanda Campos Guedes (mãe), portador da CI nºXXXXXXXX-X, CPF nºYYYYYYYYY-YY, domiciliado à Rua Domingues de Sá, n°422 em Icaraí, Niterói, RJ, vem por meio desta requerer registro de ocorrência e apuração pelo seguinte: ameaça de morte, calúnia e difamação (texto abaixo, postado na página de recados da vítima, no Orkut): “Seu arrombado do caralho.... Ao invés de ficar entrando em uma comunidade séria de policiais pra ficar fazendo chacota de nossas caras,porque não vai procurar um trabalho,ou algo do tipo? Filho da puta do caralho,cú de burro desgraçado! Bastardo maldito,no mínimo deve ser algum filho de alguma cadela desgraçada na vida que fica passabdo trotes para as autoridades... E digo mais,se ficar de graça com a gente,é 2 palitos eu falo com uns brothers ae no Rio e consigo seu endereço e passo você pros irmãos ae malucão,nem vem tirar que aqui é policía no baguio,se liga ae comediagem...pra desenrolar este barato é 2 palitos,tá avisado. ” Nestes termos Pede deferimento ________________________________ Niterói, 7 de novembro de 2008 Eric Campos Bastos Guedes 11 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 12. Tópico de Discussão na comunidade “Denúncias, Dúvidas, Direito” no Orkut Infecção Criminosa em Clínica Psiquiátrica Início > Comunidades > Governo e Política > DENÚNCIAS, DÚVIDAS, DIREITO. > Fórum: > Mensagens mostrando 1-2 de 2 2 nov (5 dias atrás) Eric Campos Infecção Criminosa em Clínica Psiquiátrica Fui internado numa clínica psiquiátrica por motivos políticos. Não havia indicação real para uma internação, visto que eu estava calmo, lúcido e produtivo. No final da internação, como eles não tinham como me manter mais tempo preso, deram uma agulhada no meu pé esquerdo. Quando olhei para meu pé havia, no local da agulhada, uma gota de um líquido vermelho escuro. Não acreditei no que eu estava vendo e não reclamei na hora porque eu estava drogado com altas doses de antipsicóticos e tranquilizantes. Passei o dedo por cima do ponto vermelho em meu pé. Era sangue. Desconfio que me infectaram criminosamente (talvez HIV), já que estou sendo perseguido desde 2006 por motivos políticos, principalmente depois que obtive a sétima colocação no Brasil na Olimpíada Iberoamericana de Matemática Universitária (em 2006) sem estudar. Gostaria, em caso de confirmada a infecção, processar o hospital. Não há, no momento, nenhum teste que confirme qualquer infecção, mas preciso postar isto aqui para que fique o crime bem caracterizado. Como devo proceder? [ eric campos bastos guedes ] 2 nov (5 dias atrás) Dra. Nancy Boa Tarde Érico, lamento pelo que voce passou, mas uma coisa é certa, o bem sempre vence o mal! Como não há nenhuma indicação de infeccção ou manifestação criminosa, no meu entender, para deixar registrada tal situação para uma confirmação ou não de um crime, se dirija a um Distrito Policial para lavrar um Boletim de Ocorrência de Preservação de Direitos, também pode se dirigir diretamente ao Ministério Público e deixar sua denúncia lá, espero que não esteja contaminado, é o que te desejo de melhor, mas, se algo surgir após um tempo, voce já deixou registrado em dois órgãos que poderão investigar o ocorrido. Boa sorte! Eric Campos Bastos Guedes 12 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 13. Parte II (Vida Pregressa – Uma Pequena Autobiografia) Eric Campos Bastos Guedes 13 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 14. A Matemática como princípio do pensamento lógico-racional Gosto de Matemática desde os 7 ou 8 anos de idade 4. Naquela época abria a Enciclopédia Novo Conhecer, ricamente ilustrada, para me divertir tentando determinar a velocidade de translação da Terra. Não encontrando essa velocidade explicitada na enciclopédia, imaginei que pudesse calculá-la. Primeiro supus que a Terra se movia em uma trajetória circular em torno do Sol, o que não está lá muito distante da realidade. Depois supus, corretamente, que caso a trajetória da Terra em torno do Sol fosse circular, o número pelo qual eu deveria multiplicar a distância da Terra ao Sol para ter o “comprimento da trajetória” da Terra em torno do Sol era o mesmo número pelo qual eu deveria multiplicar o raio de qualquer círculo para obter o comprimento da circunferência. Partindo desses pressupostos, apossei-me de um transferidor de formato circular e medi – com grau suficiente de precisão – o valor de tal número, que estimei como sendo aproximadamente 6. Fiz isso sem saber nada a respeito da célebre constante matemática  (lê-se “pi”), que expressa a razão entre o comprimento da circunferência e seu diâmetro. *** Um pouco sobre minha mãe Eu perguntava pelas coisas que queria conhecer e geralmente elas tinham um caráter numérico. Perguntei certa vez sobre o significado dos números que apareciam numa bússola: “Você vai gastar o fosfato de seu cérebro”, respondeu minha mãe. Interessante notar que ela era professora – e uma ótima professora, conforme sempre tenho ouvido falar dela. Já imaginaram ela numa sala de aula dizendo isso para seus alunos? “Assim vocês vão gastar o fosfato de seus cérebros”. Não é difícil imaginar porque o quociente de inteligência do povo brasileiro – em torno de 89 pontos – está próximo da imbecilidade. A boa professora dá sinais de caridade no trato com seus alunos na escola onde trabalha, mas tolhe a inteligência do próprio filho. É como se ela ensinasse os desfavorecidos para ostentar compaixão e dificultasse a vida dos mais promissores para mostrar que é melhor que eles. Há quem seja acusado por favorecer familiares, mas sabotar a inteligência do próprio filho é obra do diabo. Minha mãe sempre buscou manter uma imagem de santidade e correção perante todos. O objetivo dessa sua busca é o de criar uma fachada moralmente inatacável a fim de encobrir seus atos perversos. Ora, Vanda sabia que seu empenho em ensinar estudantes desfavorecidos seria tido como uma atitude de caridade. Por outro lado, ensinar ao próprio filho poderia ser visto como um tipo perigoso de egoísmo. Por que um mestre se preocuparia em educar alguém inteligente e interessado que pudesse vir a superá-lo? O único motivo que vejo para isso é imaginar o mestre que ele toma parte, de algum modo delirante, no sucesso intelectual de seus alunos. Fora isso, ninguém gosta da ideia de ser intelectualmente inferior a outrem. Se não nos imaginamos tomando parte no sucesso de nosso próximo, não apreciaremos este sucesso. *** Sobre os dois tipos de egoísmo e sobre o perdão Todos somos egoístas por natureza – o grande problema não é ser ou não ser, mas sim ser ou não ser patologicamente egoísta. A diferença entre o egoísmo patológico e o sadio é que o patológico quer ter sucesso às custas do fracasso dos demais, enquanto o sadio procura ter sucesso tomando parte no 4 Ao examinar criteriosamente minha cronologia, verifiquei que é muito mais provável que meu gosto pela Matemática tenha começado a se estabelecer aos 9 ou 10 anos. Nessa idade tinha muito mais interesse por calculadoras que as demais crianças de minha faixa etária. Eu me interessava por questões como: “Quantos segundos há em um ano?” Então, fazia algumas contas para chegar ao resultado (cerca de trinta e um milhões). Eric Campos Bastos Guedes 14 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 15. sucesso dos outros. Uma pessoa estará sendo patologicamente egoísta se se incomodar com o êxito de quem ela julga não merecê-lo; estará sendo saudavelmente egoísta se admirar o êxito de outrem, porque se sente engrandecida com o sucesso alheio, por estar tomando parte, emocionalmente, neste sucesso. Ninguém é saudavelmente egoísta o tempo todo, nem patologicamente egoísta por toda a vida. Normalmente nos sentimos bem com o sucesso das pessoas que gostamos, mas nos incomodamos com o de quem detestamos. Quem, por mais delirante que isto possa parecer, julga-se irremediavelmente superior a todos, tem a chance de mostrar sua superioridade ao distribuir seu conhecimento a quem lhe pedir. A sabedoria é uma das coisas que quanto mais distribuímos, mais passamos a ter. Um dos modos de dominar um assunto com excelência é ensinar esse assunto. O ato de expor um tema a outras pessoas é um fator importante para a fixação do conhecimento na mente do professor. Uma pessoa saudavelmente egoísta fica feliz em ensinar, porque isto confirma, emocionalmente, que ela sabe mais; uma pessoa patologicamente egoísta fica desconfortável quando ensina, porque ao repassar o conhecimento que possui, julga que seu aluno está mais próximo de saber tanto quanto o professor. O foco do egoísta patológico está no fracasso dos demais, sua intenção é destruir quem está acima e aumentar a vantagem que tem sobre quem está abaixo; o foco do egoísta saudável está no próprio êxito, sua intenção é ter mais sucesso hoje do que ontem, mais amanhã do que hoje. Para fazer isso sua estratégia consiste em cooperar para o êxito dos demais, partindo do pressuposto que toma ele próprio parte nesse êxito. Nutrir ódio, raiva ou antipatia pelas pessoas favorece o egoísmo patológico; já a ausência de ódio, de raiva e a simpatia pelos demais favorece o egoísmo saudável. Perdoar as pessoas e amá-las em espírito e em verdade é o que temos de fazer para não sermos pegos na armadilha do egoísmo patológico. Uma estratégia para fazer isso consiste em compreender as dificuldades alheias. De fato, se entendemos o porque de termos sido vítimas de maldades, passamos a perdoar nossos agressores. Se não há compreensão, dificilmente haverá perdão. É por isso que a traição de um amigo é muito mais difícil de perdoar que as agressões de um inimigo. A traição é uma surpresa desagradável, inesperada. Se temos um bom amigo a muitos anos, acabamos por justificar internamente nossa amizade. Passamos a responder subconscientemente a perguntas como: “porque somos amigos?”; “porque fulano é meu amigo?”; “porque eu sou amigo de fulano?”. Encontramos intimamente variadas respostas para essas questões, de modo a fortalecer nossa amizade. Quando ocorre uma traição não estamos preparados para ela. Não encontramos boas respostas para a pergunta “porque não somos mais amigos?”; “porque fulano me traiu?”, pois nossa fé na amizade nos levava a acreditar que esse tipo de coisa jamais aconteceria. Então, por não compreendermos a traição de nossos amigos, será muito mais difícil perdoá-los. Quando a agressão vem de um inimigo ela já é esperada e, portanto, muito fácil de a entendermos. Talvez por isso se diga que o ódio e o amor estão muito próximos. Se amamos alguém que nos decepciona, passamos a odiar essa pessoa, pois deixamos de ter prazer na amizade com ela; se perdoamos alguém que odiamos, deixamos de sofrer com o ódio que se foi e o sentimento de alívio pelo fim de um sofrimento nos torna aptos a sentir amor por aquela pessoa. O amor e o ódio são vizinhos muito próximos, mas totalmente antagônicos. O primeiro nos trás a vida e o segundo quer nos impor a morte. Se queremos ter sucesso será muito mais fácil obtê-lo pelo caminho do egoísmo saudável do que pelo do egoísmo patológico. E se queremos ser saudavelmente egoístas o primeiro passo é perdoar nossos inimigos. Ora, para perdoarmos quem nos fez sofrer é necessário que compreendamos o porque do outro. Conhecer as motivações e dificuldades de nossos inimigos é um passo importante para conseguirmos perdoá-los. Então, pessoas mais sábias conseguem perdoar mais. Uma pessoa mais inteligente perdoa mais do que a menos inteligente; pessoas que conhecem mais sobre o mundo, sobre como funciona a sociedade realmente e, em particular, pessoas que conhecem mais sobre psicologia são mais eficientes em se tratando de perdoar as outras. Portanto, se queremos perdoar mais, um caminho é nos tornarmos mais sábios, seja pela aquisição de conhecimento, seja pelo aumento de nossa inteligência. O conhecimento precípuo a que devemos buscar para conseguirmos perdoar nossos inimigos é o da psicologia. Se somos bons psicólogos Eric Campos Bastos Guedes 15 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 16. conseguimos entender melhor as dificuldades e motivações das pessoas que nos cercam, e essa compreensão poderá conduzir ao perdão. O segundo tipo de conhecimento que devemos buscar para alcançar o perdão é o que diz respeito à como as pessoas se relacionam entre si de modo organizado, em instituições e empresas. Conhecer a realidade, o mundo como ele é, nos leva a esse conhecimento. O estudo da filosofia pode ser um meio de se chegar a esse conhecimento. Um dos melhores meios de aprender filosofia é a pesquisa na Internet, pois ela é acessível à maioria da população, tem baixo custo e contém uma parcela imensa de todo o conhecimento de nossa civilização. Na Internet os canais que nos levam melhor a aquisição de saberes são a pesquisa de textos prontos no buscador Google e na Wikipédia; a pesquisa de vídeos – principalmente documentários – no YouTube e no Google Vídeo; a pesquisa do que eu chamo de verdade em estado bruto em comunidades do Orkut. A pesquisa no Orkut pode revelar muitas coisas que não estão claras nem nos textos prontos nem nos vídeos 5. É um tipo de pesquisa que tem sido subvalorizado, mas é um meio novo – e ainda muito mal compreendido – de chegarmos a um conhecimento de excelente qualidade com muito pouco esforço, pois acabamos nos divertindo ao adquirirmos e repassarmos informações em comunidades de sites de relacionamento. O que leva a pesquisa em comunidades de sites de relacionamento ser altamente proveitosa é o fato bem conhecido de que falamos muitas coisas nesses sites que não diríamos face a face ou pelo telefone. Acabamos sendo mais sinceros no Orkut do que no trabalho, na igreja ou no seio familiar. O maior problema de aprender pelo Orkut é separar quem está sendo sincero de quem está jogando, ou trabalhando em silêncio para sustentar falsas crenças, mitos que dificultam a vida das pessoas por serem amplamente aceitos, embora falsos. Me parece que muitas pessoas tem criado e sustentado grandes comunidades com a finalidade de fazer esse tipo de jogo, perpetuando, assim, mitos malsãos que sangram a humanidade. Mas mesmo que alcancemos grande sabedoria ela pode, ainda assim, não ser suficiente para conseguirmos perdoar nossos inimigos. O problema é mais ter o saber correto do que ter muito saber. Podemos ser muito inteligentes e termos muito conhecimento. Entretanto, nunca chegaremos a ser oniscientes, sempre nos faltará saber algo. E pode ser que o pequeno detalhe que nos falta saber seja crucial para conseguirmos perdoar um inimigo específico. Talvez por isso Deus seja amor: ele perdoa sempre pois, conhecendo tudo, sabe também de nossas motivações e dificuldades. Se não obtivermos sucesso em conseguir perdoar um inimigo pela aquisição de conhecimento e aumento da inteligência, há, ainda, um outro bom meio de chegarmos ao perdão: nos sentindo bem. Se estamos nos sentindo bem, acabamos esquecendo a ira e o ódio contra nossos inimigos e nos concentramos em continuar a nos sentir bem. O melhor meio que eu conheço para me sentir bem é criar um círculo virtuoso em torno de meu autodesenvolvimento. Se funciona para mim, pode funcionar para outras pessoas também. Criamos um círculo virtuoso quando nos empenhamos com alegria e motivação em alcançar êxitos que valorizamos. No meu caso costumo buscar êxito em atividades como estudar livros de matemática ou física e escrever livros que julgo serem importantes. Jogos também me deixam motivado, particularmente o xadrez. Outra atividade que me deixa animado é participar de uma certa lista de discussão de Matemática de alto nível onde existe o desafio de resolver interessantes problemas de matemática. É claro que essas atividades são coisas que me motivam, que me animam, mas são as minhas atividades motivadoras. Cada pessoa deve ter seu próprio grupo de atividades motivadoras. Elas podem ter cunho intelectual ou físico. Tenho um grande amigo que se tornou um excelente corredor. A corrida passou a ocupar um lugar importante em sua vida. Ele participa de 5 A pesquisa em comunidades do Orkut relacionadas com os temas que queremos conhecer conduz, não raro, à elucidação de questões cujas respostas nos são negadas pelos veículos socialmente autorizados que deveriam responder a contento as mesmas questões – mas não o fazem. E não o fazem porque o papel de muitas instituições bem estabelecidas e bem conceituadas está fortemente ligado à manutenção da ignorância do povo. Isso é muito comum em medicina, por exemplo. O detentor do saber médico – e do diploma – costuma se valer da ignorância do paciente sobre o tema para receitar remédios desnecessários que talvez tornem seu paciente realmente doente. E uma vez estabelecida a patologia, o adoentado deverá retornar muitas outras vezes ao consultório de seu médico. Eric Campos Bastos Guedes 16 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 17. maratonas, meias-maratonas e passa bastante tempo treinando. Sente-se muito bem ao constatar seus próprios progressos. A corrida o tornou alguém mais feliz, mais realizado. A prática do esporte costuma nos tornar pessoas melhores. Alcançar êxito em atividades que nos interessam nos leva a nos sentir bem – e acabamos esquecendo as ofensas que sofremos. O que quero frisar é que você deve procurar ter suas próprias atividades motivadoras. O que me faz sentir bem pode fazer você se sentir muito mal e vice-versa. Suas atividades motivadoras devem lhe dar prazer, ainda que esse prazer seja precedido por um esforço persistente em sentir-se motivado por elas. Uma regra geral é que a atividade motivadora deve ser lícita, honesta e estar dentro da lei, pois caso contrário levará o praticante à ruína decorrente da punição imposta pela sociedade. Outra regra é ter uma atividade por vez – de fato, fazer várias coisas ao mesmo tempo ou ter muitos objetivos diferentes e simultâneos é garantia de fracasso na tentativa de estabelecer ou manter atividades motivadoras. Se quiser fazer de sua atividade motivadora um hábito salutar, procure introduzi-lo aos poucos e jamais tente implementar muitos hábitos de uma só vez – é muito mais fácil (mas ainda assim difícil) criar um hábito por vez do que criar muitos hábitos de repente. Na verdade, julgo ser praticamente impossível para a maioria das pessoas criar dois ou três hábitos de uma só vez. Uma quarta regra útil para que você se sinta bem com uma atividade motivadora é procurar enxergar seus próprios progressos, valorizando cada pequena vitória. Já os insucessos devem ser psicologicamente minimizados: se você não alcançar a marca que deseja hoje, poderá se sentir melhor dizendo a si mesmo que alcançar a tal marca amanhã será uma vitória ainda maior, pois o esforço tempera o banquete dos vencedores. Procure enaltecer para si mesmo cada pequeno progresso que você fizer6; analogamente, procure minimizar toda queda ou fracasso que lhe ocorrer. Você pode fazer isso procurando enxergar o que ganhou de bom com aquela queda ou fracasso. Por exemplo, um sofrimento pode nos tornar pessoas mais experientes, mais vividas e mais fortes. A quinta regra para estabelecer uma atividade motivadora é que você não deve falar de seu objetivo com outras pessoas. Por exemplo, se meu objetivo é me tornar um excelente corredor, eu não devo falar isso a ninguém, mas somente para mim mesmo. Quando falamos de nossos objetivos para outras pessoas perdemos o sentido do desafio e a motivação esfria. É muito mais valioso o trabalho em silêncio em nossos próprios objetivos que a exibição ruidosa de um esforço que pode vir a dar em nada. Se falamos de uma de nossas metas para outrem, podemos deixar de buscá-la por nós mesmos, isto é, por amor, e passarmos a nos ver obrigados a trabalhar na meta para mostrar que não estávamos mentindo, que levamos realmente a sério nosso objetivo e coisas assim. Nosso objetivo deixa de ser nosso e passa a focar o outro; deixa de ser algo de nosso íntimo e se torna algo para ser visto pelo outro. E como é chato buscar um objetivo que não é nosso! *** Meu primeiro computador e a aprendizagem do xadrez Ganhei meu primeiro computador aos 9 ou 10 anos de idade. Era um TK82C, da Microdigital. Com ele aprendi os rudimentos de programação de computadores na linguagem Basic, muito popular na época. Tornei-me um programador de computadores competente para minha pouca idade. Estava 6 Cada pequeno sucesso deve ser fator interno de motivação e conforto. Falar à outros sobre seu progresso o levará, muito provavelmente, à decepção de não ser devidamente reconhecido. Você não deve depender da boa vontade de outras pessoas em motivá-lo. É possível, inclusive, que todas as pessoas que você conhece intencionem desestimula-lo, declaradamente ou não. Quando você fala sobre um seu objetivo ou sobre um seu sucesso para alguém, poderá receber palavras de incentivo que não corresponderão à uma intenção verdadeira em motivá-lo, mas devem-se tão somente essas palavras à educação. A motivação emocional e psicológica não deve vir de palavras ou atitudes de pessoas próximas. Você mesmo deve se motivar. Eric Campos Bastos Guedes 17 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 18. sempre criando e executando programas que me permitissem investigar o mundo dos números. Também costumava jogar xadrez contra o computador – eu era péssimo, nunca venci uma só partida de meu modesto TK82C. Apesar de ser um mal jogador, gostava de jogar e ensinar xadrez a quem quer que fosse. O prazer de ensinar e aprender sempre me acompanhou. No início, ensinei xadrez a mim mesmo. Eu devia ter entre 9 e 10 anos quando aprendi a jogar. Mas ninguém me ensinou, eu aprendi pelas regras que estavam no Supermanual do Escoteiro Mirim, uma publicação que se valia dos personagens da Disney para passar conhecimentos úteis. Mas acabei cometendo um erro ao interpretar mal as regras do Supermanual: no início eu achava que as peças do xadrez tinham que passar por cima das do oponente para capturá-las, como no jogo de damas. Esse equívoco durou um tempo considerável. Ensinei errado para um amigo, mas alguém que sabia mais nos alertou dizendo que estávamos jogando errado, então nós dois passamos a jogar da maneira correta. Isso ocorreu no Colégio Salesiano Santa Rosa, quando eu cursava a quinta série do antigo primeiro grau – o equivalente ao hoje chamado Ensino Fundamental. *** Sobre a inteligência e a importância de sua busca O interesse pelo xadrez partiu de mim mesmo, ninguém em minha família jogava. Buscar atividades inteligentes é atitude que favorece o aumento da inteligência e essa busca está muito mais relacionada com uma pré-disposição da personalidade e do caráter do que com uma uma arquitetura cerebral diferenciada. A inteligência está mais relacionada com nossos anseios e motivações do que com uma genética privilegiada. Esse tipo de ideia nos liberta da noção de que nosso quociente de inteligência – o popular QI – não depende do que fazemos. Se acreditamos que não podemos fazer nada para aumentar nossa inteligência, nada faremos com este objetivo – e essa atitude acaba por nos tolher a própria inteligência. Se, por outro lado, acreditamos que podemos aumentar nosso QI, passamos a buscar atividades que nos levem a ter esse aumento. E nosso QI acaba subindo mesmo. Esse raciocínio vai ao encontro de uma máxima devida a Henry Ford que diz o seguinte: “Se você acredita que pode ou acredita que não pode, de qualquer forma você está certo”. Nossas crenças nos dizem o que somos ou não capazes de fazer. Se acreditamos que podemos resolver um problema difícil, nós nos debruçamos sobre ele até o resolver ou até fazer progressos importantes na busca da solução do tal problema. Mesmo que não tenhamos pleno êxito, nossa dedicação é premiada com um incremento de nosso saber técnico e com um aumento de nossa capacidade de resolver problemas. Claramente, a inteligência está intimamente relacionada com a capacidade de resolver problemas. Então, uma crença útil é a de que podemos, com esforço e tempo suficientes, resolver qualquer problema que queiramos. A grande questão é saber quanto tempo e esforço estamos dispostos a empregar na solução de cada problema ou na conquista de cada objetivo. Há uma sábia máxima que aconselha: “Saiba escolher suas batalhas”. Entre todas as metas que queremos atingir, quais nos darão mais felicidade? Quais serão mais rapidamente alcançadas? Em quais delas acreditamos mais? Que metas nos tornarão pessoas mais realizadas após serem cumpridas? Devido à nossa limitação referente à prazos, é fundamental saber escolher bem à que metas vamos nos dedicar de cada vez. *** A morte de meu avô Antônio Pereira Campos Segundo o que minha mãe me dissera, meu avô passaria por uma intervenção cirúrgica muito delicada e da qual pouquíssimas pessoas sobreviviam. Eu fiquei chateado com a notícia e esperava Eric Campos Bastos Guedes 18 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 19. por sua morte. Quando ele voltou para casa fiquei impressionado. Estava aparentemente bem. Tão bem como sempre esteve. Acabei por atribuir a sobrevivência de meu avô Antônio a uma genética privilegiada. E fiquei satisfeito por ser seu neto. As coisas não estavam tão bem, entretanto. Antônio – ou seu caxeta para os antigos conhecidos – estava tomando uns remédios. Me disseram que ele estava sofrendo de depressão ou se tratando de uma aterosclerose. Talvez os remédios que ele tomava fossem antidepressivos, mas isso eu estou conjecturando. Naquela semana ele fizera para mim um alteres com um cabo de vassoura e dois pesos de chumbo que ele mesmo fabricou derretendo uns canos velhos do mesmo material. Parece que ele queria que eu praticasse musculação em casa com aquele halter, mas não me interessei muito por isso não. E num dia de sol, pela manhã, meu avô pegou uma escada, uma corda e se enforcou. Estávamos somente eu e ele em casa. Antes de sair para o colégio fui me despedir dele e o encontrei deitado no chão de seu quarto. Supus – erroneamente – que estivesse dormindo. Tentei acordá-lo de todos os modos, sem sucesso. Fiquei intrigado: como ele poderia ter um sono tão profundo? Achei que ele estava fingindo que não acordava. Então peguei meu material e fui para o colégio. Naquela época, eu e meu irmão Winter Bastos Guedes Júnior estudávamos no Curso São Francisco de Assis, uma escola tradicional de Icaraí que tinha o melhor ensino fundamental de Niterói. Só ia até a quarta série primária, entretanto. Depois disso éramos encaminhados para outras escolas. Naquele tempo eu fazia a quarta série e meu irmão devia estar na primeira ou segunda série do primário. Nós estudávamos à tarde. Naquele dia, ao terminar a aula, pediram-nos que não voltássemos direto para casa, mas que esperássemos um pouco até sermos liberados. Ao retornar do colégio vi minha avó chorando – coisa que nunca havia presenciado antes. Me disseram que meu avô Antônio Caxeta havia morrido. Mas não me disseram que ele tinha se matado, nem que ele já estava morto quando saí de casa. Simplesmente não liguei os fatos. Disseram-me que ele falecera vítima de um aneurisma ou de uma trombose. Em se tratando de crianças, é natural esconder tal fato. Acho, porém, que foi um desrespeito à minha dignidade de neto não me revelarem a verdade depois de eu adulto. Nesse caso, ao descobrir a verdade por nós mesmos nos sentimos traídos e desprestigiados por nossos familiares. Aí vem aquela conversa fiada de “não contei para você para que você não ficasse nervoso”; “não contei para te poupar da dor” e coisas deste gênero. E eles se fazem parecer bons praticando o que é mal. *** A morte de meu pai Winter Bastos Guedes Meu pai morreu de modo intrigante. Muito mais intrigante do que eu poderia supor em minha ingênua infância. Certo dia, quando cursava a 5ª série do ensino fundamental no Colégio Salesiano Santa Rosa, cheguei em casa após uma surra que levei de uns valentões da escola. Eles me surraram por eu ter feito chacota do cara que eles bateram primeiro. Eu não sabia que seria o segundo da lista. Não vou dizer que foi uma surra merecida, mas ao menos aprendi a não zombar de quem apanha. Eram cerca de cinco e meia da tarde quando cheguei em casa. Lembro que ainda não havia escurecido e que os valentões pisaram no livro de matemática adotado pela escola. Eu estava bastante chateado com o que ocorrera. Bati na porta da sala, como fazia todos os dias para entrar. Nada. Bati novamente. Silêncio. De repente a porta é aberta num rompante e meu pai passa carregado numa maca, aparentemente desacordado, sendo levado por dois enfermeiros. Ao entrar em casa sou informado de que ele sofrera um mal estar. Tudo bem. Ele não parecia estar tão mal na maca. Não deveria ser nada grave, ele seria medicado e voltaria logo para a casa. Ao ver a grande quantidade de sangue sendo lavada a baldes d’água mudei de opinião. Fiquei apavorado. Minha Eric Campos Bastos Guedes 19 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 20. mãe disse que fôssemos rezar para que ele ficasse bom e não morresse. Foi a primeira coisa realmente importante que pedi a Deus e sem dúvida a oração mais fervorosa que já fiz. Uma semana depois recebo a notícia de que ele havia morrido no hospital. Minha mãe me disse que ele havia tido uma tontura quando estava no alto de uma escada. Caiu e bateu com a cabeça num murinho, sofrendo traumatismo craniano. A tontura teria sido causada por um infarto repentino. Provavelmente uma farsa, como descobri mais tarde, já adulto. De fato, num primeiro momento, ao ver meu pai passando por mim numa maca, não me alarmei: ele estava bem, não havia sangue na roupa dele. O absurdo era evidente: não havia sangue na roupa de meu pai, mas a escada que dava acesso ao segundo andar da casa era um rio vermelho. Ao comentar isso com minha mãe, anos mais tarde, ela disse: “Eles trocaram a camisa dele antes de levá-lo, para não assustar seu irmão Winter”. Com essa emenda a fraude tornou-se patente. E segue o demônio aplaudindo as mentiras de minha família. Cheguei à conclusão – verdadeira ou falsa, ela é mais plausível do que a que me contaram – de que meu pai havia sido morto pela ditadura. O ano era 1983 e vivíamos ainda sob o jugo explícito da tirania militar que, embora mais branda do que nas duas décadas anteriores, ainda podia fazer o que bem entendesse com a população. A farsa toda seria para encobrir um crime horrendo, que de outro modo teria se tornado um escândalo, visto ser meu pai um ex-militar honesto ao extremo, pessoa instruída e culta ocupando posição de destaque no Ministério da Fazenda (ele trabalhava lá como farmacêutico-bioquímico). Minha mãe deveria saber de tudo, claro. Mas teria mantido o silêncio, mesmo após o fim da ditadura militar. Tudo isso faz sentido, mas ainda assim são conjecturas que não pude comprovar. Um ano após a morte de meu pai, minha mãe estava com outro companheiro. Um chupim bebum, ignorante e boa vida. Apesar de sentir grande antipatia por ele naquela época, hoje eu o aceito plenamente. Depois de uns 10 ou 12 anos, passei a enxergar meu padrasto como alguém humano e amigável. Ele não tinha obrigação ou culpa nenhuma por não atender aos requisitos que eu imaginava serem necessários a qualquer candidato a marido de minha mãe. Morto o chefe, a família desintegrava-se rapidamente. Minha mãe não me dava mais atenção – eu tinha 13 anos – deixando minha criação a cargo de minha avó Dermontina da Silva Campos e de minha tia Vera Lúcia de Campos. Vanda simplesmente foi morar em outro lugar com Lourenço – este é o nome de meu padrasto – e com meu irmão Winter. Não era um lugar distante, mas eu me sentia negligenciado, posto de lado como um objeto que perdera a serventia. Naquele momento de minha vida, eu passava pelas transformações próprias da puberdade que se iniciava. Apesar disso, não havia sequer tido a primeira ejaculação e sabia muito pouco sobre sexo. Só descobriria a masturbação no ano seguinte, em 1985. Uns poucos anos antes, eu pensava que os bebês nasciam após a grande emoção da esposa com seu casamento. Só entendi de onde vinham os bebês após assistir uma reportagem sobre isso no Fantástico – o show da vida, programa domingueiro tradicional da Rede Globo já naquela época. *** Beijar uma garota Eu queria beijar uma garota. O nome dela era Gisele. Uma menina branca e loura, filha de uma amiga matemática de minha mãe que morava nas proximidades. Não tinha a menor ideia de como beijá-la e não fui feliz na execução de um plano que sequer existia. Foi meu primeiro “fora”. Refugiei-me nos livros, onde encontrei bom material para aprender sobre coisas que julgava importantes. Na sexta série já havia aprendido a resolver equações do segundo grau – que eram estudadas na oitava série – e um pouco de álgebra no livro “Álgebra I” de Augusto César Morgado e Eduardo Wagner. Nessa época frequentei um psicólogo chamado Eduardo Nicolau que mais tarde viria a me ajudar muito, me indicando um excelente curso de matemática: o método Kumon. Os Eric Campos Bastos Guedes 20 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 21. livros não me impediram de me sentir em desvantagem perante meus colegas, que já conheciam as meninas na intimidade. Eu, por outro lado, sequer sabia como era o corpo nu de uma mulher. Até então, nunca havia visto uma mulher nua, nem ao vivo nem em fotos 7. Por estranho que possa parecer, isso fez de mim um péssimo aluno e estudante, apesar de estudar mais que os outros e ter uma inteligência um pouco maior (tenho um QI de 121). Já na quinta série, pouco depois da morte de meu pai, comecei a faltar às aulas. Perdi provas, inclusive de matemática. Fui fazer a 2ª chamada temendo uma possível reprovação, pois havia estudado muito pouco a matéria. Ao fazer a prova, entretanto, achei tudo muito fácil. Foi uma surpresa agradável. A prova de matemática era sobre dízimas periódicas e constatei que com um mínimo de conhecimento e o uso do mero bom senso, eu podia resolvê-la toda. Passei de ano. Naquela época eu nutria uma paixão por Quênia Balbi, uma estudante de minha classe cuja beleza me fascinava. A professora pedia às vezes para que eu fosse pegar as carteirinhas dos estudantes no final da aula para devolvê-las com o carimbo de presença. Quando estava a sós com a carteirinha de estudante de Quênia eu a beijava loucamente – a carteirinha. Queria tocá-la. Imaginava que ela torceria o pé na saída do colégio e, então, eu a levaria nos braços até minha casa para ser tratada. Minha imaginação ia muito mais longe: via as paredes do Colégio Salesiano Santa Rosa cobertas por bumbuns femininos separados dos corpos. Eu imaginava tocá-los e acariciá-los. Não me julgando capaz de realizar meu intento com meninas de verdade, quis tocar estátuas, dessas que costumamos ver nos museus, despidas com as nádegas a mostra. Cheguei a fazer isso quando visitei um museu na cidade do Rio de Janeiro. Eu estava obcecado. O que quero dizer com tudo isso é que meninos de onze anos já se preocupam muito com garotas. E se eles não tiverem quem os oriente no sentido de uma vida sexual e afetiva salutar, terão muitos problemas que, aparentemente, não estariam relacionados à sexo ou vida afetiva: queda brusca do rendimento escolar, faltas, fuga da realidade e coisas assim. Só fui beijar uma “garota” aos dezoito anos e depois disso meu aproveitamento escolar e meu rendimento intelectual sofreram um boom. Para deslanchar completamente ficou faltando me livrar das drogas psiquiátricas, o que só começou a acontecer em 2006, quando eu tinha 35 anos. *** Problemas na quinta e na sexta série Na 6ª série saí do Curso Salesiano Santa Rosa, onde haviam me matriculado. Eu faltava quase todos os dias e cobrava de mim mesmo um desempenho acadêmico superior, como o que eu sempre havia tido até a quarta série, antes da morte de meu pai. As faltas não se deviam a “vagabundagem” ou coisas assim, pois eu não saía para vadiar, namorar, caminhar ou me divertir de algum modo. Eu só queria evitar a dor moral. Simplesmente passei a sofrer muito na escola. Era um suplício assistir as aulas, eu não conseguia prestar atenção ao que os professores diziam, ainda que me esforçasse para isto, e minhas notas medíocres me faziam sentir mal. Se pelo menos eu fosse namorador, poderia curtir mais a escola, ela teria alguma graça no recreio, pelo menos. Mas eu era virgem e não tinha nenhum contato íntimo com garotas. Achava que a matéria havia ficado muito mais complicada e muito maior e que por isso já não bastava simplesmente prestar atenção às aulas para aprender as disciplinas. Até certo ponto isso até ocorria, e eu tentei passar a estudar mais em casa para voltar a ter boas notas e me sentir melhor por isso. Mas a verdade é que eu estava sendo insidiosamente envenenado por drogas de uso psiquiátrico – e elas diminuem o rendimento escolar, como bem se sabe. 7 Naquele tempo as revistas eróticas vinham embaladas num plastico preto que tapava os corpos nus das modelos, deixando à mostra somente os títulos das revistas. Também não existiam nos jornais as figuras picantes de mulheres seminuas, como há hoje em dia. A exibição de filmes ou programas com mulheres nuas ou em poses e trajes provocantes era muito mais rara que nos tempos atuais. A exibição das mulheres mais sensuais e menos vestidas ocorria em programas como O Cassino do Chacrinha e O Clube do Bolinha, mas nada comparado ao que há hoje. Eric Campos Bastos Guedes 21 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 22. Minha mãe e eu não sabíamos como lidar com a situação. Eu ainda tinha a desculpa de ser uma criança, mas o que dizer de minha mãe? As vezes penso que ela sabia, sim, como resolver a maior parte de meus problemas, mas preferiu me abrir a porta larga do caminho largo que leva ao inferno. Era muito mais fácil para ela me por em clínicas, psicólogos e psiquiatras do que reconhecer que as “medicações” estavam destruindo minha vida e que o que eu precisava de verdade era de uma “boa massagem”, como diria dezesseis anos depois uma garota de programa chamada Sílvia. Essa atitude conservadora e socialmente irrepreensível de minha mãe não permitiu a ela ajudar o filho que de doze anos que se encontrava em dificuldades. Vanda passou a me levar numa clínica que se propunha a trabalhar com “radiestesia” ou algo do tipo. Era a clínica de um tal de frei Albino Ariesi. Situava-se na cidade do Rio de Janeiro e eu passei a frequentar uma psicóloga lá chamada Drª Petrônia. Ela só sabia me responsabilizar por tudo de ruim que acontecia comigo. Essa psicóloga dizia em tom acusatório “Isto é Fuga!” e “Você se condicionou a isto”. Era péssimo. Além de não resolver os problemas, eu saía de lá com o ego destroçado. Eu queria ser como Einstein e Petrônia sabia disto; entretanto eu mesmo não o sabia plenamente. Ela tentou me dissuadir de ideias dessa natureza dizendo que o trabalho de Einstein tinha centenas de páginas e era coisa muito difícil. Talvez ela quisesse me fazer concluir que a matemática e a ciência eram coisas tão difíceis que seria melhor nem pensar nisso. Graças a Deus aquele demônio de saias estava errado. Inclusive, talvez por ela ter reprovado de modo tão veemente meu desejo de ser um novo Einstein, essa a ideia tenha ganhado força em meus pensamentos. Ora, por ela reprovar tanto meu desejo de me tornar um cientista, entendi que Petrônia achava esse meu desejo perfeitamente realizável. Entendi também que a possibilidade de realização de tal desejo enfurecia o demônio de sais. Só pra contrariar, considerei muito boa a ideia de vir a ser um cientista. Consegui terminar minha quinta série no Colégio Salesiano Santa Rosa com dificuldades. O fracasso de meu tratamento com Drª Petrônia fez com que minha mãe procurasse outro profissional. Acabei chegando ao consultório do psicólogo Eduardo Nicolau. Ele trabalhava com uma psiquiatra que receitava remédios para os pacientes dele. Naquele período, pelo que me lembro, eu estava tomando um antidepressivo chamado Tofranil e, talvez, um outro remédio de que não me lembro. Tomei meus “remédios” durante mais de vinte anos, sempre seguindo a prescrição médica com rigor. Até descobrir a farsa da psiquiatria, utilizada para anular indivíduos considerados uma “ameaça” aos planos da cúpula de poder que domina o mundo. Na sexta série iniciei no Salesiano meus estudos. Só que não consegui cursar. Pedimos transferência para uma outra escola: o Centro Educacional de Niterói – o popular “Centrinho”. Lá, por algum motivo, tudo ficou muito melhor. Lembro que foi lá que retomei meu interesse pela Matemática ao ter tirado uma ótima nota na prova. Eu apreciava o professor dessa matéria e ele também gostava de mim. Iniciei estudos por minha própria conta. Eles se baseavam muito mais em imaginação do que em matéria propriamente. Eu tive muitas ideias que gostava de desenvolver. Foi também nesse tempo que comecei a escrever meus primeiros poemas. Eu tinha uns treze anos quando escrevi meu primeiro poema. Não era um bom poema, mas eu gostava dele. Apareceram outros que também não eram bons, mas eu também gostava deles. Fui insistindo e não me abati com as críticas negativas que recebia uma hora ou outra. Hoje, graças a Deus, consigo escrever poemas de boa e de ótima qualidade. A persistência favorece o sucesso. Antes de terminar o ano letivo, entrei em pânico. A exposição de trabalhos de alunos – uma espécie de feira de ciências – estava se aproximando e eu não consegui me convencer de que meu trabalho era bom o suficiente para eles. Meu trabalho era bom para mim mesmo, mas eu achava que ele não seria apreciado nem pelos meus amigos, nem pelo professor de matemática. Parei de ir às aulas e faltei quase o bimestre final todo. Mesmo sem ter feito as provas finais os professores do Centrinho acharam por bem me passar de ano devido ao meu ótimo desempenho nos outros bimestres. Essa atitude dos professores do Centrinho salvou minha alma. Fui para a sétima série. Eric Campos Bastos Guedes 22 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 23. *** A descoberta da masturbação O psicólogo Eduardo Nicolau me ensinara, através de desenhos, o que era a masturbação na teoria. Achei aquilo muito esquisito e totalmente sem propósito. Afinal, que benefício poderia haver em tal conduta? Eu não fazia ideia. Por vontade própria decidira que teria meu primeiro gozo com minha esposa, depois que casasse. Eu queria casar virgem. Descobri em 1985, nos meus 13 ou 14 anos, o que era a masturbação na prática. Naquele período eu não estava frequentando a escola e minha mãe já havia se amigado com meu padrasto Alcemir Lourenço de Souza. Numa noite eu estava deitado sozinho em meu quarto com o membro ereto, tentando dormir. Queria que meu membro ficasse “normal”, pois me sentia um pouco desconfortável com ele duro naquela posição. Como ele insistia em permanecer rijo, tentei colocá- lo na posição que considerava mais normal. Então, tentando por meu pênis numa posição que julgava mais adequada, gozei – não tinha essa intenção, entretanto. Foi algo absolutamente natural. Nunca havia sentido aquilo antes, foi ótimo. No início achava que o esperma saía da barriga, pois ela ficava sempre molhada. Não queria saber o que estava acontecendo, ou como acontecia, só sabia que me sentia muito bem com aquilo. Após alguns meses resolvi comprar revistas eróticas. Passei a ver como as pessoas faziam sexo. Eu também queria fazer, mas não conseguia me relacionar sexualmente com ninguém. Neste aspecto fiz a mim próprio. Ninguém me ajudou. Minha primeira revista erótica tinha pornografia pesada, era uma antiga Sex Appeal em preto e branco. Tinha fotos de mulheres com homens, de homens com homens e de mulheres com mulheres, mas eu me concentrei somente nas fotos heterossexuais, que eram as primeiras. O resto eu nem olhava. O “cinco contra um” foi uma grande descoberta para mim, mas eu ainda queria muito me relacionar com garotas. Isso só foi acontecer em 1989, quando eu fiz 18 anos e meu então psiquiatra, Eugênio Lamy, entendeu que com a maioridade não havia nenhum risco para ele se me orientasse a buscar os serviços de uma prostituta. Mas vamos deixar este assunto para depois. *** Sétima série no Colégio Figueiredo Costa Depois de ser aprovado na sexta série no Centrinho, tentei fazer lá mesmo minha sétima série. Mas foi estranho. Meus antigos amigos do ano passado estavam mudados. Quietos, calados e um tanto reservados demais. Eu não me sentia mais bem lá. Decidi mudar de colégio. Foi quando surgiu a chance de estudar com meu melhor amigo no Colégio Figueiredo Costa, então um dos grandes colégios tradicionais de Niterói. O nome desse meu melhor amigo é Raphael Oliveira de Rezende – o corredor que mencionei antes – e somos amigos até hoje por conta dos grandes perigos que nos irmanaram em nossas aventuras. Mas falemos disso mais adiante. Eu e Rapha não ficamos na mesma classe. Fiquei na classe dos que sabiam menos e Rapha estava na classe dos que sabiam mais. Foi bom que fosse assim, pois me destaquei sobremaneira junto aos que estudavam menos. E foi isso que me motivou a estudar bastante e tentar conseguir só notas finais 10 nas disciplinas de matemática e geometria. O Colégio Figueiredo Costa foi ótimo para mim por esse lado. Mas eu estava ficando mais velho e ainda não havia me relacionado com garotas. Esse problema era muito pior do que parecia, pois, no final do ano comecei a me tornar um estudante agressivo com os demais. De compasso em punho, ameacei um folgado que zombara de mim e, graças a Deus ficou nisso. Noutra ocasião um sujeito que fazia o segundo grau lá implicou comigo e eu me vinguei na hora: tinha uma trave grande, de metal, usada na quadra próxima ao pé do implicante e eu levantei essa trave um pouco e a soltei em cima do pé dele. Ele ficou pulando Eric Campos Bastos Guedes 23 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 24. num pé só e olhando assustado para mim. Eu mesmo me assustei com o que havia acabado de fazer, e pedi desculpas imediatamente, de modo ruidoso e suplicante, denotando algum desespero. Ninguém conversou comigo para explicar que o que eu passei a fazer estava errado e passei a adotar, ocasionalmente, uma conduta violenta. Isto quase destruiu minha vida. Acredito que se estivesse me relacionando com meninas, dificilmente teria recorrido a esse tipo de comportamento para me fazer respeitar. Apesar de ainda não ter me relacionado sexualmente com ninguém, tinha uma menina de quem eu gostava. Eu cheguei para ela e falei o que aconteceu: disse que havia sonhado com ela e ela me disse que eu estava mentindo, que aquilo não tinha acontecido. Eu tinha sonhado com ela realmente. Estávamos nus numa cama e nos batíamos com travesseiros de penas que esvoaçavam pelo ar. Acho que quem viu esta cena num anúncio televisivo da época talvez se lembre. Era assim mesmo, que nem o anúncio. No meu sonho eu e ela éramos os amantes que apareciam no comercial. O nome da garota era Andréa e o ano era 1986. Andréa era filha de um professor de matemática e fazia a sexta série no Figueiredo Costa. Ela tinha umas amigas gozadoras, de pele escura. Eu ajudei Andréa e suas amigas a apresentarem um trabalho na feira de ciências. Foi uma época muito boa, tirando a parte da violência. Raphael deixou um pouco de lado a amizade que tinha comigo e passou a preferir a companhia de um aluno chamado Erick Varjão, que estudava na classe dele. Varjão sabia se defender na base da conversa, sem violência. Sabia se fazer respeitar pela palavra e não pela força bruta. Se eu soubesse fazer isso naquela época, não teria feito tanta bobagem na vida. Acho que deveriam haver aulas nas escolas ensinando aos alunos como agir em certas situações, e sobre como não agir. Enquanto a educação escolar de crianças é obrigatória, não há nada que obrigue os pais a instruírem seus filhos sobre questões relativas à violência e à vida afetiva e sexual. *** Férias da sétima para a oitava série Foi nessa época que decidi entrar de cara na Matemática. Criei uma técnica diferente para obter números primos que dois ou três anos depois viria a ser publicada na Revista do Professor de Matemática (RPM) sob o título Uma Construção de primos, no número 15 dessa revista. Quem me ajudou muito foi a professora Renate Watanabe. Foi ela que encaminhou esse meu primeiro trabalho para apreciação do comitê editorial da RPM. Seu apoio e suas orientações, que recebi por carta, me foram muito valiosas. Naquele período de férias de fim de ano pedi a minha mãe para contratar um certo professor particular de matemática para mim. Esse professor eu conhecera no próprio Figueiredo Costa. Ele lecionou geometria lá, substituindo o professor Odilon. Foi com Odilon que tomei conhecimento de demonstrações de teoremas em matemática. As duas primeiras demonstrações que conheci foram a da irracionalidade de  2 e a da soma dos ângulos internos do triângulo ser sempre 180°. Aproveitei as férias para aprender trigonometria, geometria e álgebra. Coisas que deveriam ser estudadas nos anos seguintes. Na verdade, naquelas férias eu passei a ter um domínio de toda a matemática da oitava série e a entender muitas coisas do ensino médio, então chamado de segundo grau. *** Sobre as aventuras: o barco Aventurar-se é correr riscos na descoberta de novas fronteiras. Algumas das aventuras de que participei com meus amigos foram inesquecíveis. Teve uma vez que eu, Rapha e meu irmão Winter Bastos construímos um barco com madeira coletada na rua, câmaras de ar e pranchas de isopor. Eric Campos Bastos Guedes 24 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 25. Pusemos o barco na praia de São Francisco, tivemos que carregá-lo nós mesmos, a pé, até São Francisco. Foi bastante cansativo, mas tivemos sucesso. Nosso barco flutuou no mar e fomos remando até um lugar onde havia vários barquinhos ancorados. Subimos num deles e não tinha ninguém por perto para nos impedir. Mas não conseguimos entrar na cabine do barquinho, pois ela estava trancada. Entrou água no pacote de biscoitos que levamos para fazer um lanche e perdemos um martelo que levamos para repregar o barco caso ele ameaçasse se desmanchar, indo uma parte para cada lado. Winter acabou tendo uma insolação por pegar muito sol na cabeça. Essa aventura foi no início de 1987, nas minhas férias da sétima para a oitava série do antigo primeiro grau. Uns meses depois fui morar em Araruama com minha mãe, meu irmão Winter, o enteado de minha mãe, chamado Alexssandro ou Sandro e meu padrasto Lourenço, que naquela época chamávamos de Blau. *** Outra aventura: a grande cruz ao longe Numa tarde, eu, Sandro e Winter vimos uma espécie de cruz ao longe e resolvemos ir até aquela cruz para resolver o enigma e saber qual o significado dela. Mas era muito mais longe do que podíamos ir naquela tarde. Então resolvemos ir no dia seguinte, pela manhã. Não contamos nada para Blau nem para Vanda, pois eles iam “melar” nossos planos. No dia seguinte iniciamos uma jornada até a misteriosa cruz. Teve uma hora que tivemos que passar em frente a uma casinha que tinha um cão mal humorado tomando conta. Resolvemos que um cachorro, mesmo grande e oferecendo risco, não iria impedir nossa jornada. Então decidimos passar caminhando em frente à casinha, sem correr e nem olhar em direção ao cão. Ele rosnou ameaçadoramente, mas ficou nisso e nós conseguimos passar. Ao chegar na cruz misteriosa sondamos o lugar. Uma cruz grande sobre um canteiro circular, com círculos concêntricos que se sobrepunham, os menores sobre os maiores. Levantamos a hipótese daquele ser o túmulo de um cavalo muito bem quisto por seu proprietário que, após a morte do animal teria resolvido e homenageá-lo com a imensa cruz sobre o local de seu sepultamento. Voltamos para casa por outro caminho e descobrimos que a tal cruz era o que as pessoas chamam de cruzeiro, que é uma cruz numa parte visível da cidade que a consagra a Cristo. O cruzeiro mais famoso do mundo é o Cristo Redentor, localizado na cidade do Rio de Janeiro. Uma estátua com Jesus de braços abertos acaba tendo a forma de uma cruz mesmo. *** Mais uma aventura: o morro misterioso Nossa primeira aventura foi subir um morro em Niterói que tinha uma misteriosa construção no topo. Naquela época minha mãe, meu padrasto, meu irmão e Sandro moravam num apartamentozinho no oitavo andar de um prédio situado na rua Noronha Torrezão, bairro de Santa Rosa, Niterói. Eu, Winter e Rapha resolvemos ir até o topo do morro para saber do que se tratava aquela construção. Minha mãe, alarmada, fez uma funesta previsão: “vocês vão morrer!”, mas nos deixou partir. A empregada fizera alguns sanduíches com ovos para que levássemos em nossa pequena excursão sem guia. Acho que chamamos Sandro para ir conosco, mas parece que ele não quis ir. Iniciamos nossa aventura subindo uma ruazinha de um morro próximo, passamos na casa da madrinha de Winter, que se chamava Rosa. Ela era meio enricada e morava numa casa grande perto do morro. Nos avistou vindo ao longe e, não nos reconhecendo devido à distância, mandou que os cães nos atacassem. Ficamos paradinhos e eles ameaçavam nos morder, latindo ferozmente a uma pequena distância. Mas quando Rosa nos reconheceu, ordenou que os cães retornassem. Fizemos um lanche na casa da madrinha Rosa e prosseguimos a jornada. Teve uma ruazinha que subimos e Eric Campos Bastos Guedes 25 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 26. na última casa precisávamos pedir passagem para prosseguir. Pedimos água ali e o dono da casa nos orientou: “não vão por tal caminho, porque tem uns marginais por lá. Sigam por este outro caminho”. Então prosseguimos. Tivemos que jogar os sanduíches fora, pois entrou terra na sacola em que os carregávamos. Após atravessar uma matagal queimado, chegamos até a construção. Ela parecia abandonada, mas ao examinar melhor, avistei um sujeito sem camisa e com uma arma de fogo num cinturão. Nos afastamos um pouco do sujeito e tentamos decidir o que faríamos. Fiquei com medo dele nos matar. Não era bem medo o que eu sentia, mas um receio que misturava prudência e animação. Ele podia ser um bandido ou algo assim. Era uma situação difícil. Enquanto conversávamos o sujeito nos achou. Ele era da polícia e nos disse que aquele era o posto de telecomunicações da polícia. Lavamos nossas mãos com um sabão de coco metido num prego. O policial perguntou se estávamos lá para pegar alguma pipa e dissemos que não. A vista era reveladora. De um lado estava São Francisco e um outro morro com uma outra construção. Do outro lado víamos o centro de Niterói, a ponte Rio-Niterói, e boa parte da Bahia de Guanabara. Era incrível. Voltamos por outro caminho e eu escorreguei e rasguei minha calça de moletom. Acabamos chegando no bairro de Fátima, próximo de Santa Rosa e voltamos a pé para casa. Essas aventuras marcaram muito minha infância e início de adolescência. *** A descoberta do Método Kumon Em 1983 havia iniciado um tratamento com o psicólogo Eduardo Nicolau. Ele soube de meu grande interesse por Matemática, mas na época em que me tratava achou que esse interesse me absorvia tanto que estava a dificultar meu amadurecimento e ingresso no mundo adulto e real. Era como se a energia e interesse que eu investia na Matemática me mantivessem longe de resolver questões mais mundanas, tais como arranjar uma namorada, me relacionar afetivamente, aprender sobre a vida etc. Em 1985 eu deixei de ser paciente de Eduardo Nicolau e passei a me tratar com Drº Eugênio Lamy desde 23 de agosto daquele ano. Entretanto, Eduardo Nicolau foi um psicólogo tão bom para mim que, mesmo eu não sendo mais seu paciente, me deu uma dica de ouro para dominar a matemática. No final de 1986 ou início de 1987, ele me chamou em seu consultório e me instruiu a procurar um amigo seu, chamado Faraday Smith Correa dos Reis. O professor Faraday estava a ministrar um curso chamado Método Kumon, que se propunha a fazer o estudante gostar de matemática através do alcance da excelência nessa disciplina pela realização de elevado número de exercícios de crescente complexidade. Gostei muito da ideia e procurei por Faraday para iniciar o curso. Foi ótimo tê-lo conhecido, pois era grande apreciador e conhecedor da Matemática, pessoa inteligente que buscava ajudar, pela via da instrução, quem mostrasse interesse ou talento pela Matemática. Foi particularmente importante ter conhecido professor Faraday naquela época, pois, num período crítico de minha vida, ele manifestou interesse e admiração verdadeira por meu talento criador em Matemática e isso me motivou bastante à prosseguir com o desenvolvimento de minhas ideias nessa área. Infelizmente, de início, minha frustração afetivo-sexual dificultou muito minha adesão de corpo e alma ao Método Kumon. Era difícil estudar matemática com tanto empenho pensando na loura da escola8. *** Oitava série no Colégio Itapuca 8 Nessa época eu cursava a oitava série do primeiro grau no Colégio Itapuca, em Santa Rosa. A loura referida no texto chamava-se Marcela e eu havia lhe proposto que fôssemos para meu apartamento fazer sexo. Eric Campos Bastos Guedes 26 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 27. Em 1987 eu cursava a 8ª série do ensino fundamental no colégio Itapuca, situado na rua Noronha Torrezão. Entretanto, já sabia mais matemática do que os estudantes do ensino médio. Não tendo interesse nas demais matérias e não vendo mais nenhuma graça nas aulas de matemática de minha classe, expliquei isso ao diretor Tomás e pedi permissão a ele para assistir também as aulas de matemática das classes do ensino médio. Tomás disse que eu poderia assistir as aulas do ensino médio depois que eu conseguisse a nota máxima em todas as matérias de minha própria classe. Descartei a ideia, pois não me interessava por outras disciplinas, somente por matemática e geometria. Ora, é fato bem conhecido o de que a inteligência é seletiva. Portanto, é muito natural que cada pessoa manifeste graus diferentes de interesse por assuntos diversos. Meu pedido de assistir as aulas de matemática das classes mais adiantadas fazia todo sentido, portanto. A conclusão que tiro é que a escola não se interessa pelo desenvolvimento pessoal, intelectual e social de seus alunos, mas sim pelo cumprimento de metas burocráticas. Tendo sido impedido de estudar o que queria, passei a me interessar por outras coisas. Eu queria muito ficar com uma menina chamada Marcela, uma loira descolada de cabelos curtos e corpo atraente. Na verdade eu queria levá-la para meu apartamento na Rua Comendador Queiroz, em Icaraí, onde morávamos eu, minha tia Vera Lúcia de Campos e minha avó Dermontina da Silva Campos. Queria fazer com ela tudo que vi os homens fazendo com as mulheres em minhas revistas de sexo explícito. Não tinha artifício para isso, entretanto. Se naquela época eu tivesse a cabeça que tenho hoje, poderia ter tido muitas namoradas e ficantes. Naquela época falava-se muito mais em namoro do que em ficar. O verbo “ficar” não era usado com o significado que tem hoje, de ficar beijando, acariciando e excitando descompromissadamente um parceiro ou parceira eventual. Eu propus a Marcela que ela fosse comigo para minha casa para nos relacionarmos sexualmente, mas ela não quis. Marcela se aproveitou da situação e passou a caçoar de mim, achando graça de minha proposta. Sua atitude autorizou os demais alunos a caçoarem de mim também, porque perceberam minha fraqueza. Passei a ser alvo de zombaria no Itapuca e isso me deixava p. da vida. A escola ficou insuportável e acabei reagindo a uma dessas provocações dando um murro na cara de um aluno. Ele, que antes era meu amigo, passou a me ignorar e quando o procurei ele disse que chamaria o irmão mais velho que era militar para me dar uma surra. Minha vida escolar ia de mal a pior, embora minhas notas estivessem acima da média. *** Três pontos a ponderar Quero destacar três coisas: primeiro, o mito de que o agressor quer ser agressor; segundo, o silêncio sobre os malefícios do atraso da iniciação sexual dos adolescentes; terceiro, o fato pouco estudado de que drogas psiquiátricas são legalizadas, porém ainda são drogas. Sobre o agressor querer ser agressor quero dizer que isso não corresponde sempre a verdade. Cada caso é um caso. Um verdadeiro agressor quer ser agressor e pode ser. Se uma agressão ocorre, uma das perguntas que se deve procurar responder é: “o agressor queria cometer a agressão ou ele perdeu o controle?”. Se o agressor perdeu o controle ele precisa de ajuda, mas se ele fez o que fez por um exercício do livre arbítrio, deverá ser punido. Responder a pergunta proposta nos orienta sobre como resolver o problema e evitar que futuras agressões ocorram. Se queremos resolver um problema, temos que entender o problema primeiro. O que tenho observado é a mídia eleger os vilões do momento, cada um deles teve a sua época: Josef Fritzl, como pedófilo, raptor e estuprador da própria filha; o casal Nardoni, pela morte de Isabela Nardoni; Suzane Von Richthofen pelo assassinato de seus pais; o maníaco do parque, pelo estupro e morte de muitas mulheres; Febrônio Índio do Brasil, pela morte e estupro de crianças. Examinando esses casos, podemos nos perguntar: “o que foi feito para evitar novas tragédias como essas?”. Não vale responder dizendo que houve um aumento da pena, por exemplo. Aumentar a pena para um crime fará o juiz relutar um pouco mais em condenar alguém Eric Campos Bastos Guedes 27 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 28. por aquele crime. Na prática, talvez menos pessoas sejam condenadas. Além disso, se o mero aumento da pena resolvesse o problema ia ser muito fácil acabar com a criminalidade: bastaria punir todos os criminosos com pena máxima, digamos, uns 40 (quarenta) de reclusão. Será que o mundo passaria a ser um paraíso ou um inferno? Acho que viveríamos num inferno. Um indício forte que aponta nessa direção é o fato de as prisões da Islândia serem como hotéis de quatro estrelas: lá o condenado tem direito a duas horas por dia de Internet! Se uma punição branda favorecesse o crime, a Islândia seria um país com alto índice de criminalidade, o que não ocorre. Por outro lado, se uma punição mais severa fosse capaz de refrear o crime, o índice de criminalidade no Brasil deveria ser muito mais baixo que o da Islândia, o que também não acontece. Estamos olhando na direção errada se nos propusermos a combater o crime com o aumento das penas. Mas qual a solução para isso? Uma pista nos é dada se lembrarmos um pensamento devido a Pitágoras: “devemos educar as crianças para não ter que punir os homens”. Quero acrescentar que não é uma punição mais ou menos severa que irá resolver o problema da criminalidade. Para coibir o crime, as punições devem ser adequadas, mas não necessariamente severas. Para ilustrar o que digo lembro-me do caso do primo de um antigo amigo de meu irmão. O amigo atendia pela alcunha de Bob Cuspe. Ele nos contou que um primo seu – ou algum outro parente, não tenho certeza qual – fora preso por ter cometido um pequeno furto ou algum delito de menor importância. Devido às ameaças, agressões e traumas que teve na prisão, saiu de lá tão revoltado que pensava em fazer coisas muito piores. O que tenho observado é que a punição excessiva conduz a revolta do punido e à prática de crimes muito mais terríveis que os iniciais. A prisão de uma pessoa acaba sendo uma bola de neve em que cada vez que o preso é liberado por já ter cumprido a pena, ou por ter tido algum benefício, passa ele a cometer crimes muito piores. Algo análogo posso afirmar sobre internações em clínicas psiquiátricas. Em todos os casos que citei, de Fritzl, Nardoni etc, os agressores, provavelmente, queriam cometer os crimes. Não fizeram o que fizeram por terem, de algum modo, perdido o controle. O meu caso é diferente. Eu iniciei uma série de atos violentos por estar sob forte tensão e sem uma válvula de escape eficaz. Isso nos leva ao segundo tema que quero destacar: o atraso da iniciação sexual dos adolescentes. É esse atraso, muitas vezes, o responsável pelo comportamento violento de crianças e adolescentes intelectualmente promissores. É esse atraso que frustra o empenho de bons estudantes ao se sentirem na obrigação de tirar notas altas devido ao sentimento de inferioridade que tem em relação aos seus amigos e amigas que já se relacionam sexualmente. É como se notas excelentes compensassem um deficit na área afetivo-sexual. Em cada ambiente procuramos o respeito dos demais – principalmente os talentos mais promissores buscam esse respeito. A ironia é que os mais talentosos acabam negligenciando amiúde o sexo e o afeto por terem eles uma fonte muito mais interessante de prazer: sua inteligência e motivação. Porém, se essas crianças e adolescentes perdem o interesse em atividades intelectuais e se não conseguem ingressar a contento no mundo do sexo e do afeto, passam elas a correrem um risco muito grande de cometerem suicídio, assassinatos, estupros, agressões violentas e coisas do gênero. O respeito que buscam pode não lhes ser dado, ainda que o mereçam. Isso deve acontecer bastante na transição da infância para a adolescência e na da adolescência para a vida adulta. Não por acaso é justamente nessas fases da vida que costumam surgir a maioria dos casos de esquizofrenia. Pode ser que essa esquizofrenia decorra da interrupção do prazer de ser inteligente e simultânea dificuldade em ingressar no mundo do sexo. A grande solução não está em pílulas, comprimidos, haloperidol ou carbamazepina, mas simplesmente numa orientação correta e bem intencionada da criança ou adolescente para fazê-los ingressar a contento no sexo! A solução pode ser simplesmente essa! E o porque de essa solução não estar sendo implementada é bem fácil de entender. O pai e, principalmente a mãe, não estão a vontade com a ideia do “bebezinho” deles ter uma vida sexualmente normal, sadia e ativa. O problema estaria muito mais na família do que na criança ou adolescente considerado problemático. A tal da criança-problema talvez seja apenas uma criança que precisa urgente de “uma boa massagem” – no segundo sentido da palavra, por favor! Sobre isso quero dizer que uma pu*a na Eric Campos Bastos Guedes 28 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 29. cama é muito melhor que uma dama na sociedade. Há que se falar também sobre o crime de Wellington Menezes de Oliveira, o atirador de realengo, que entrou armado em sua antiga escola e matou a tiros 12 estudantes. Ora, pelo que se entende da carta deixada por Wellington no trecho seguinte: “...nenhum fornicador ou adultero poderá ter contato direto comigo, nem nada que seja impuro poderá tocar em meu sangue, nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem sua permissão...” [grifo meu] fica mais ou menos claro que Wellington morreu virgem! Sim! Estranhamente a grande mídia de massa não deu o devido destaque a esse fato crucial. Se Wellington tivesse uma vida sexual, mesmo que fosse com prostitutas (dada sua dificuldade em relacionar-se), provavelmente o massacre de realengo não teria ocorrido. Como evitar que tais ataques venham a ocorrer? Ora, poderíamos instituir uma data de combate ao bullying, lembrando a cada ano a trajédia de realengo e atribuindo ao bullying a culpa pelo ocorrido. Assim, os alunos das escolas ficariam bem conscientes sobre as consequências do bullying, o que coibiria tal prática. O terceiro tema é “drogas psiquiátricas são legalizadas, porém ainda são drogas” e está relacionado aos dois anteriores. A maioria das pessoas pensa que tranquilizantes realmente tornam as pessoas mais calmas. Extrapolando essa ideia, acham que muitas pessoas que são mentalmente enfermas precisam dos tranquilizantes para viverem em sociedade, caso contrário se tornariam agressivas e violentas. Nada disso é verdade. Se repararmos bem, as pessoas que tomam tranquilizantes – diazepam, haloperidol, carbamazepina, clonazepam, clozapina etc – tem mais propensão a serem justamente as desajustadas, as frustradas, as estranhas e as que ficam de fora dos círculos de amizade. Poder-se-ia argumentar que esse desajuste se deve à doença dessas pessoas e que o tranquilizante estaria tratando o desajuste. Esse argumento é uma distorção da verdade. O que vejo são pessoas adoecendo pelo uso de tranquilizantes. Tranquilizantes estes que, ao embotar a motivação do usuário e reduzir sua memória, atenção e capacidade de aprendizagem, sabotam o intelecto do “doente”, privando-o do que, talvez, possa ser uma de suas maiores alegrias: o sucesso escolar e intelectual. Mais: ao reduzir a dose desses tranquilizantes ou suprimi-los, passamos por uma síndrome de abstinência. Esta última expressão costuma ser muito mais utilizada quando nos referimos a drogas ilegais ou ilícitas. Mas o fato de termos adquirido drogas numa farmácia, com receita médica e agindo dentro da lei não transforma essas drogas em algo diferente do que são: drogas! Nosso corpo não está nem aí para a legalidade das drogas que utilizamos: o dano cerebral ocorrerá com drogas legais ou ilegais, em menor ou maior grau. A redução ou supressão do uso de tranquilizantes costuma levar, como eu estava dizendo, a uma síndrome de abstinência. Quando ela ocorre, se não estivermos preparados, entraremos em crise e ao sairmos da crise pelo retorno ao uso das drogas dizemos a nós mesmos: “é... eu acho que preciso realmente tomar meus remédios”. Isso é tão errado como tratar o vício em crack ou cocaína com mais crack e mais cocaína. Simplesmente é o modo errado de enfrentar o problema. A relação do terceiro tema com os dois primeiros é que o uso de drogas, legais ou não, ao frustrar a criança ou adolescente pela redução de sua capacidade de aprendizagem, memória e atenção, favorece a agressão. Afinal, pessoas frustradas estão muito mais propensas a cometerem agressões do que as bem relacionadas. Além disso, a utilização de medicações psiquiátricas como o haloperidol e a clozapina tornam as pessoas muito mais envergonhadas e medrosas, o que pode ser fatal se o usuário ainda não iniciou sua vida sexual. De fato, o haloperidol, a clozapina e a risperidona são drogas tranquilizantes que nos tornam pessoas afetivamente menos interessantes e sexualmente deficitárias. Ora, levando o usuário uma vida de sucessivas frustrações de caráter afetivo, sexual e intelectual, as drogas psiquiátricas produzem uma legião de agressores, suicidas e incapazes. Não quero com isso justificar as graves agressões que cometi – falarei delas ainda – mas quero pelo menos explicá-las. Tentar justificar o mal é impossível, pois o mal não é justo; o que Eric Campos Bastos Guedes 29 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 30. devemos, sim é entender o mal, exatamente para nos defendermos dele. Sun-Tzu nos diz em seu livro “A arte da guerra” que conhecer o inimigo nos garante metade da vitória sobre ele. E se estamos em guerra contra o mal, temos que saber de onde ele vem e como ele age. *** O porteiro gay do Colégio Itapuca Em 1987 um homossexual de nome Geraldo – funcionário do colégio Itapuca – se aproximou de mim. Ele me disse os maiores disparates. Disse que os tempos hoje são outros, mais liberais e que se eu decidisse sair na rua com o pinto duro para fora das calças, o melhor que ele poderia fazer seria ficar na minha frente para esconder meu órgão. Aquela conversa dele era um espetáculo bizarro que assisti estupefato, mas devido à novidade escutei o que ele dizia por algumas horas – veja bem: horas. Ele estava tão a fim de ficar comigo que me ofereceu o gabarito dos testes do colégio Itapuca. Recusei a ideia de cara. No fim, quando eu já estava para ir embora, me chamou para ir para sua casa transarmos. Eu não quis. Foi constrangedor, mas pelo menos aprendi um pouco sobre como são as pessoas. Naquela noite, em casa, fiquei profundamente angustiado. Enquanto Marcela – a loura descolada do Itapuca – me esnobava e dava bola para outros caras, eu era assediado por um gay. Abandonei o colégio Itapuca. *** Hábitos sexuais reprováveis No primeiro semestre de 1987 ocorreu um pequeno incidente que mudou a história de minha vida e isto quase me destruiu. Academicamente, perdi uns 15 anos de estudo na UFF. Nesse tempo eu poderia ter concluído a graduação, feito o mestrado e também o doutorado. Estava indo ao apartamento onde meu amigo Raphael morava com sua mãe Márcia e sua irmã Raquel quando avistei, na mesma calçada, vindo em minha direção, uma menina-mulher que devia ter mais ou menos a minha idade mesmo. Foi perto do Colégio Salesiano Santa Rosa, ou na Rua Mário Viana, ou na Rua Santa Rosa, acho. Naquela época eu ainda não havia me relacionado sexualmente e estava cheio dos hormônios próprios da adolescência. Quando via uma mulher – ou mesmo quando não via – acabava a desejando muito, mas não tinha nenhum artifício para conseguir que mulher nenhuma transasse comigo. Na verdade, cada negativa que eu recebia ao propor sexo com mulheres me desgastava muito, razão pela qual eu fiz poucas propostas de sexo às pessoas. Quando aquela menina-mulher de short passou ao meu lado, minha mão escorregou furtivamente até suas nádegas e ela disse: “IIIIIIhhh, garoto!”. Meu ato não foi intencional – um lapso momentâneo em que fui guiado pela minha libido. Continuei meu caminho e percebi que ficara naquilo: não houve nenhum tipo de repreensão mais eficaz além do “IIIIIIhhh, garoto!”. Imaturo e cheio de “T”, passei a fazer tal coisa de modo rotineiro. Eu sabia que era perigoso e queria parar, mas se tornou um vício. Eu realmente tentei parar algumas vezes, mas sem êxito. Quando avistava um menina bonita a mostrar o contorno da bunda em shortinhos ou calças jeans apertadas, logo me lembrava desse mal hábito e ficava tentado à sair pela rua para tocar alguma mulher. Sei que para a maioria das pessoas é difícil entender que isso era um vício: mal hábito que temos e que é difícil pararmos por nós mesmos. O que quero dizer é que é muito mais fácil aconselhar alguém a deixar um vício do que nós mesmos deixarmos os nossos. O alcoolismo, o cigarro e os tóxicos são vícios que só quem os tem saberá realmente o quanto é difícil parar. Mais que isso: certas pessoas são muito mais propensas a desenvolver vícios que outras. É muito fácil dizermos a um alcoólatra para parar de beber porque não estamos no corpo dele para saber o peso e a força de seu vício. Em se Eric Campos Bastos Guedes 30 O Povo Cego e as Farsas do Poder
  • 31. tratando de hábitos sexuais, também se pode desenvolver vícios e foi isso que aconteceu comigo. *** Mais agressões e a Marcela do Gay-Lussac Fui estudar no Colégio Gay-Lussac, no centro de Niterói. Lá conheci outra garota que, como a anterior, chamava-se Marcela. Mas era uma Marcela muito diferente. Branca, cabelos curtos e negros, inteligente, estudiosa. Ela me encantava com o que dizia e com o interesse que manifestava por ideias, conceitos e teorias. Eu gostava muito dela e Marcela estava sempre conversando comigo sobre os livros que lia e coisas assim. Era muito bom vê-la falar com tanto interesse e admiração dos livros que costumava ler. Mas eu me sentia frustrado por não acreditar ser capaz de estabelecer uma relação mais próxima com ela, tipo um namoro. Olhando em retrospecto, percebo que era isso que nós queríamos. Ou, mesmo que não quiséssemos isto, era exatamente isto que nos faria felizes. Minha grande dificuldade em me relacionar a contento com o sexo oposto foi, sem dúvida, uma barreira que demorei muito para superar e que me causava grandes e contínuas frustrações. Se eu me considerasse um estudante excelente – não bom ou ótimo, mas excelente – as frustrações se dissipavam fácil, fácil. Na verdade eu buscava uma excelência em relação aos outros estudantes de minha classe – isso implicava em ser o melhor ou estar entre os melhores estudantes da sala. Nem sempre eu conseguia isto, entretanto. Frustrado, acabei bancando o imbecil. Fustigado por um outro aluno que bagunçava uma aula de geometria, tirando toda a graça dela, meti a ponta de um compasso na barriga dele. O caso foi parar na diretoria, que foi complacente comigo. Talvez a complacência do diretor se devesse ao fato de eu ser considerado um aluno muito bom que teve um mal momento diante de outro aluno que já era considerado problemático. Por sorte não foi feita queixa na polícia. Após a agressão, passei a ser considerado o malfeitor de minha classe. E se não me falha a memória, minha vítima se tornou, momentaneamente, um herói. Ele foi, após a agressão sofrida, aclamado pela classe e carregado nos braços sob aplausos e gritos de “viva!” 9. Apesar de eu ter sido o agressor e ele a vítima, julgo ter tido muito mais prejuízos que ele pela minha atitude irrefletida. Marcela nunca mais falou comigo e as últimas palavras que dirigiu a mim foram: “Cala a boca!” Teve uma aula de história em que fomos para a sala de audio-visual assistir um documentário a respeito do comunismo. Um outro estudante, que estava sentado atrás de mim, me cuspiu. Reclamei com o professor, que solenemente me ignorou. Pronto. Eu estava visado como o grande vilão de minha classe não tinha nada que eu pudesse fazer para reverter a situação. Era difícil prestar atenção às aulas pois passaram a jogar bolas de papel em mim, razão pela qual passei a me sentar na última fileira de carteiras da classe, lá no fundão. Também passei a ser vítima de comentários maldosos dirigidos a mim. Eu não podia me concentrar mais nas aulas, pois chegou a meu conhecimento que um grupo de alunos planejava me surrar quando estivesse só. Eu também sabia que nada do que fizesse reverteria a situação. 9 Esse episódio ilustra bem a motivação do portador da Síndrome de Münchausen (F68.1). Apesar de nenhum dos personagens do episódio supra-relatado sofrer dessa síndrome, o incidente mostra, claramente, que alguém que venha a sofrer uma agressão considerada indevida por seu entorno social receberá carinho, aplauso e manifestação de apoio desse mesmo entorno. O portador da Síndrome de Münchausen busca dissimuladamente e com empenho receber essa mesma manifestação de apoio e esse mesmo carinho de seus amigos e conhecidos. Para isso, procura, sempre que possível, passar a ideia de que foi uma vítima inocente de reveses e infortúnios absolutamente imerecidos. Com a finalidade de desempenhar um papel de vítima, o portador dessa patologia costuma simular doenças em si mesmo ou em familiares muito próximos (que tecnicamente são chamados de substitutos). A fim de desempenhar o papel de vítima inocente, não hesita o portador dessa síndrome em por sua própria integridade física em risco ou causar graves danos a familiares próximos, podendo mesmo chegar a cometer o assassinato de familiares, desde que estejam convictos de que seu crime não será descoberto jamais (é imprescindível que sejam sempre considerados inocentes, caso contrário deixam de receber o carinho destinado às vítimas e passam a ser alvo da recriminação destinada aos agressores). Eric Campos Bastos Guedes 31 O Povo Cego e as Farsas do Poder