Antropologia Filosófica para introdução dos estudos de Antropologia Jurídica. Destinado aos estudos dos discentes do Curso de Direito. Uma visão filosófica do Homo somaticus.
14. FENOMENOLOGIA DO HOMEM
- I -
A DIMENSÃO CORPÓREA DO HOMEM
(Homo somaticus) O corpo humano
– A expressão “homo somaticus”, hoje, é um tanto quanto rara;
Era, no entanto, comum nos tempos de São Paulo; dois
elementos eram distintos no homem: um psíquico, dizendo
respeito à alma, e outro somático, referente ao corpo.
– Nos valeremos da expressão (Homo somaticus) para
identificar a dimensão corpórea do homem.
– Propriedades do corpo humano:
O conhecimento que a ciência tem do corpo humano é ainda
muito limitado e imperfeito: “O volume de nossa ignorância
supera o de nossos conhecimentos”.
Todavia, o que já sabemos é mais que suficiente para deixar-
nos estupefatos e maravilhados.
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FENOMENOLOGIA DO HOMEM
A DIMENSÃO CORPÓREA DO HOMEM
Outro fato surpreendente diz respeito ao desenvolvimento do corpo
humano.
Enquanto o animal nasce, geralmente, com o corpo já perfeito,
inteiramente pré-fabricado, pelo qual torna-se independente desde os
primeiros dias, o homem nasce com um corpo que está ainda em fase de
estruturação.
Mas enquanto o corpo do animal não é mais capaz de desenvolver-se
ulteriormente de modo apreciável, o corpo humano é dotado de um
poder de desenvolvimento maravilhoso.
O homem não só é senhor de seu corpo como também graças a ele torna-
se senhor do mundo.
O elemento fisiológico que lhe permite atingir e também superar todas as
várias especializações dos animais é o cérebro. O cérebro aparece aqui
como fator de equilíbrio biológico.
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FENOMENOLOGIA DO HOMEM
A DIMENSÃO CORPÓREA DO HOMEM
Outro aspecto que caracteriza o corpo humano e o distingue nitidamente
de todos os outros animais é sua posição vertical.
A construção corpórea dá, porém, só a predisposição ao porte ereto:
ele não é um fato adquirido desde o nascimento.
A postura vertical e o porte ereto são, portanto, ato livre e consciente
do homem.
Ao contrário da posição horizontal, o porte ereto é sinal de vida, de saúde,
de vigília, de força. Por esse motivo a posição vertical assumiu importantes
conotações simbólicas. (edifícios: a torre de Babel, a torre Eiffel etc.
Os soberanos sobem ao trono. O céu, montes, árvores etc)
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FENOMENOLOGIA DO HOMEM
A DIMENSÃO CORPÓREA DO HOMEM
Funções da corporeidade em geral:
A somaticidade é componente fundamental do existir; do viver;
do conhecer; do desejar, do fazer, do ter etc. Ou seja, o corpo é
elemento essencial do homem. Sem ele:
- não pode alimentar-se
- não pode reproduzir-se
- não pode aprender
- não pode comunicar
- não pode divertir-se.
É mediante o corpo que o homem é um ser social. Os fantasmas
assustam-nos justamente porque não têm corpo.
É mediante o corpo que o homem é um ser no mundo.
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FENOMENOLOGIA DO HOMEM
A DIMENSÃO CORPÓREA DO HOMEM
Entre essas funções, algumas têm grande importância para a compreensão
da natureza específica do ser humano: assim as funções de “mundanização”,
de individuação, de autocompreensão, de posse, e outras mais.
Função mundanizante
Uma das principais funções da somaticidade é a de “mundanizar”
o homem, isto é, de o fazer um ser-no-mundo. É por obra do corpo que
o homem faz parte do mundo; ele se reconhece constituído dos mesmos
elementos do mundo, sujeito às mesmas leis, por causa do seu corpo.
Como qualquer corpo, o nosso também se insere em uma situação espacial
bem definida e deve ocupar sempre determinada porção do espaço.
Sair do espaço significa abandonar o próprio corpo, desencarnar-se,
cessar de existir no mundo.
O meu corpo é aquilo para que e mediante o qual os objetos
existem.
19. ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA
Antropologia e metafísica
Função epistemológica
A contribuição da somaticidade ao conhecimento (função
gnosiológica) é muito mais vasta e importante do que se admitia na
filosofia clássica.
A autoconsciência se cristaliza sempre na cinestesia: o sentimento
fundamental que nós possuímos do nosso ser, o qual se qualifica
sistematicamente mediante as condições e disposições somáticas:
sinto-me bem ou mal, confortável ou não, sereno ou preocupado etc.
Há situações em que apalpo o meu corpo para saber se estou bem.
Alto e baixo, na frente e atrás, direita e esquerda constituem, graças
ao corpo, totalidade orgânica. O meu corpo determina o centro do
universo...
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21. ExplicaçõesExplicações
dos termosdos termos
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GnoseologiaGnoseologia = Indaga das condições= Indaga das condições
do conhecimento pertinente aodo conhecimento pertinente ao
sujeito que conhece.sujeito que conhece.
OntologiaOntologia = indaga das condições ,= indaga das condições ,
segundo as quais algo torna-sesegundo as quais algo torna-se
objetoobjeto do conhecimento.do conhecimento.
MetafísicaMetafísica = indagações sobre a= indagações sobre a
estrutura e o significado doestrutura e o significado do serser emem
si e da vida.si e da vida.
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FALS
22. ExplicaçõesExplicações
dos termosdos termos
(resumo)(resumo)
16/08/14 22
GnoseologiaGnoseologia = teoria do= teoria do
conhecimento.conhecimento.
OntologiaOntologia = refer-se à teoria= refer-se à teoria
dodo “ser”“ser”..
MetafísicaMetafísica = parte geral.= parte geral.
Profº.Esp. Mário Correia -
FALS
23. Ser, para o idealista, não é outra coisa senão = “ídéia”;
Ser, é “ser” pensado = atitude lógica
Ser, é “ser” percebido = atitude psicológica;
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FALS
26. ONTOGNOSEOLOGIA:
Teoria transcendental do conhecimento;
Correlação primordial entre Pensamento e
a Realidade;
Correlação entre o sujeito cognocente e
algo a conhecer.
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FALS
27. Que é que se conhece?Que é que se conhece?
“Nós conhecemosconhecemos aquilo que elevamos ao
plano do pensamento, de maneira que só
há realidade como realidaderealidade espiritual”
(Reale, 2010, p.121)
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FALS
28. Que é a realidade?Que é a realidade?
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FALS
29. Que é que realidade?Que é que realidade?
“Situa-se no plano da Metafísica”
“Desdobra-se em Objetos”Objetos”
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FALS
31. ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA
Antropologia e metafísica
Função econômica ou de posse
O corpo é antes de tudo necessário para possuir a existência.
Com o exercício da função de posse, nós temos a impressão que
ocorre uma dilatação do nosso corpo, da nossa dimensão somática.
Consideramos as coisas como possíveis prolongamentos do nosso
corpo...
A mão é órgão específico da função econômica como também da
mundanizante: é com ela que tomamos posse das coisas e também
moldamos e transformamos as coisas.
Na mão se atua sobretudo o movimento bivalente do homem para o
mundo e do mundo para o homem.
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32. ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA
Antropologia e metafísica
Função ascética
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Filósofos, moralistas, escritores de coisas espirituais têm sempre instituído
relação entre perfeição moral e espiritual, de uma parte, e uso do próprio
corpo de outra. Mas o fizeram de duas maneiras opostas.
Alguns (Platão, Plotino, Agostinho) pensaram que o corpo, com as suas
paixões, os seus instintos, as suas misérias e fraquezas constituía um
peso ou um laço para a alma e a impedia de ascender para o mundo do
espírito.
Outros (Aristóteles, Tomás), ao contrário, creram que o
corpo, enquanto constitutivo essencial do homem, seja
diretamente envolvido na sua perfeição: ela depende em
grande parte dos hábitos somáticos que uma pessoa
consegue atingir.
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ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA
Antropologia e metafísica
A experiência cotidiana nos diz que o exercício de uma virtude, como a
prática de um vício, são em larga medida devidos aos hábitos que
conseguimos adquirir com o nosso corpo.
Função ascética
Não há, pois, nenhuma dúvida que corpo tem uma função
capital a desenvolver também em relação ao ascetismo e à
vida espiritual.
Por exemplo, os vícios do fumo e da bebida dependem essencialmente
de hábito somático.
Assim também é a prática da castidade, que para alguns parece tão
árdua e mesmo impossível: também essa é uma questão de hábito
somático.
Ascetismo: uma filosofia de vida na qual são refreados os prazeres
mundanos.
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ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA
Antropologia e metafísica
Implicações onto-antropológicas
As principais implicações da análise da somaticidade são:
I. A importância capital de que a dimensão somática se reveste para o
homem: a somaticidade é uma componente essencial do ser do homem.
Sem a corporeidade o homem não é mais homem, porque não pode mais
realizar muitas atividades que são típicamente suas, como o sentir, o falar,
o cantar, o jogar, o trabalhar, etc.
II. Eu supero incessantemente o meu corpo: estou sempre além de mim
mesmo e, não obstante a pequenez da minha configuração corpórea,
consigo fazer minha a imensidão do universo.
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ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA
Antropologia e metafísica
Implicações onto-antropológicas
III. Embora essencial ao homem e embora relativo do mistério profundo
que o homem traz em si mesmo (o corpo é a manifestação divina desse
mistério),
o corpo não é o homem. Eis as suas razões principais:
- mesmo perdendo uma parte do meu corpo, sinto-me ainda
substancialmente o mesmo;
- o corpo sem vida, ainda que permanecendo por algum tempo
substancialmente o mesmo, não é mais homem;
- a autoconsciência distingue nitidamente o nosso ser do nosso
corpo (Descartes);
- nas nossas atividades há um aspecto físico e um aspecto
psíquico;
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ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA
Antropologia e metafísica
Implicações onto-antropológicas
IV. A profunda unidade do corpo. A alma move-se “de qualquer modo”
com o corpo; isso significa que o eu, como polo idêntico de todos os atos,
é onde o corpo é considerado como totalidade.
V. O corpo humano denota melhor que qualquer outra coisa o estado de
finitude, Contingência e indigência para que tende o ser humano, não só
pela necessidade de ser nutrido, protegido e defendido, mas também
pela sua própria estrutura.
“Somos bípedes e bímanos por causa de nossa indigência; temos
necessidade de explorar o mundo, conquistá-lo, dominá-lo.
VI. Além de ser indício e causa da nossa finitude e indigência, o corpo é
também motivo de ambiguidade e dissimulação.
Ele opõe sempre certa resistência ao espírito; não é apenas espírito e
Expressão do homem mas também o seu escondimento e
impenetrabilidade”.
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ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA
Antropologia e metafísica
Implicações onto-antropológicas
A somaticidade humana é efetivamente “fenômeno”, ou seja, manifestação
de alguma coisa que a ultrapassa; é símbolo de uma realidade mais
profunda, que a permeabiliza e transforma totalmente, à qual nós damos
o nome de alma.
É dessa realidade íntima e profunda que ela ao mesmo tempo esconde e
revela, que a somaticidade manifesta as condições e o estado definitivos.
É no corpo que lemos a bondade, a malícia, o prazer, a serenidade, a astúcia,
a preguiça, a luxúria, a avareza etc. de um homem.
43. ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA
Antropologia e metafísica
In
O homem, quem é ele?: elementos de
antropologia filosófica
Battista Monfin,
11ª ed. – São Paulo: Paulus, 2003
16/08/14 Profº. Esp. Mário Correia/José Ivan 43
BONS ESTUDOS!