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TÍTULO
AUTOR
EDITOR
SUPERVISOR EDITORIAL
REVISÃO
CAPA
MIOLO
IMPRESSÃO E PRÉ-IMPRESSÃO
FORMATO
NÚMERO DE PÁGINAS
ISBN
Parábolas Terapêuticas
- Uma Abordagem
Psicológica Transpessoal
das Parábolas e Outros
Ensinamentos de Jesus
Alírio de Cerqueira Filho
Miguel de Jesus Sardano
Tiago Minoru Kamei
Rosemarie Giudilli Cordioli
Thamara Fraga
e aqora? desiqn
www.eagoradesign.com.br
Jorge Godoy
Assahi Gráfica e Editora Ltda
14 x 21 cm
320
978-85-87011-25-1
COMPRE AO INVÉS DE FOTOCOPIAR. Cada real que você dá por um livro
possibilita mais qualidade na publicação de outras obras sobre o assunto e paga
aos livreiros por estocar e levar até você livros para seu crescimento cultural
e espiritual. Além disso, contribui para a geração de empregos, impostos e,
consequentemente, bem-estar social. Por outro lado, cada real que você dá pela
fotocópia não autorizada de um livro financia um crime e ajuda a matar a produção
intelectual.
Parábolas
Terapêuticas
Uma Abordagem Psicológica
Transpessoal das Parábolas e
Outros Ensinamentos de Jesus
Alírio de Cerqueira Filho
APRESENTAÇÃO
As parábolas de Jesus são ensinamentos cujo
valor a Humanidade começa a compreender com
maior eficiência. As lições exaradas nelas são tão
essenciais para a nossa vida, que se constituem um
conjunto com valor terapêutico para todos aqueles
que se aprofundem nessa fonte de água viva como,
certo dia fez a samaritana junto ao poço de Jacó.
Toda parábola, na verdade, é um conjunto simbó-
lico. As palavras ocultam o significado real do que se
quer dizer. Das parábolas que se conhecem, as de Je-
sus são as mais ricas em simbologia.
Podemos interpretar uma parábola de várias
maneiras, superficial ou profundamente. Neste livro
utilizamos, como referencial teórico para interpretar
as parábolas, a moderna ciência da psicologia trans-
pessoal, cuja visão de homem integral, corpo, men-
te e espírito nos auxilia amplamente a interpretar os
conceitos exarados no Evangelho de Jesus.
Por isso, a interpretação que fazemos a respeito
das parábolas cristãs neste livro em muitos aspectos
é diferente daquelas exaradas em outras obras de
cunho interpretativo.
O objetivo principal desta obra é possibilitar aos
estudantes do Evangelho uma visão psicológica
transpessoal, com finalidade autoterapêutica das pa-
rábolas e outros ensinamentos de Jesus.
Um outro propósito que temos é o de fornecer
aos expositores dos Centros Espíritas um substrato
de pesquisa, pois antes de cada parábola disponibi-
lizamos uma lista com as respectivas temáticas de
cada uma e as referências em outro manancial de
água viva que temos à disposição, o Pentateuco Kar-
dequiano.
Várias parábolas aqui compiladas estão presen-
tes em outras obras por nós publicadas, em diferen-
tes capítulos, dos quais fizemos uma síntese, am-
pliando alguns conceitos. Outras estão sendo publi-
cadas pela primeira vez.
Em razão de sua riqueza, não colocamos todas as
parábolas de Jesus nesta primeira obra, o que a tor-
naria por demais volumosa. Oportunamente, publica-
remos um 2º volume de Parábolas Terapêuticas com
as parábolas que não foram contempladas nesta obra.
Desejamos a todos um excelente estudo.
Muita paz!
O autor.
Cuiabá, junho de 2008.
SUMÁRIO
1
PARÁBOLA DOS DOIS FILHOS (FILHO PRÓDIGO)
13
2
PARÁBOLA DO JOIO E DO TRIGO
95
3
PARÁBOLA DA CASA
115
4
PARÁBOLA DA CONCILIAÇÃO COM OS ADVERSÁRIOS
131
5
PARÁBOLA DO SERVO MALVADO
143
6
PARÁBOLA DA PORTA ESTREITA
161
1
PARÁBOLA DOS DOIS
FILHOS (FILHO PRÓDIGO)
7
PARÁBOLA DOS TALENTOS
173
8
PARÁBOLA DO FARISEU E DO PUBLICANO
209
9
PARÁBOLA DO FESTIM DE NÚPCIAS
235
10
PARÁBOLA DO SEMEADOR
253
11
BEM-AVENTURANÇAS
271
12
ÍNDICE REMISSIVO DE TEMAS ESTUDADOS
295
TEMAS ESTUDADOS
ABUNDÂNCIA
AMOR
ARREPENDIMENTO
AUTOAMOR
AUTOCONHECIMENTO
AUTOCONSCIÊNCIA
AUTOENCONTRO
AUTOPERDÃO
AUTOTRANSFORMAÇÃO
AVAREZA
BENS DIVINOS
BONDADE DIVINA
CARÊNCIA
CIÚME
COBIÇA
COMPAIXÃO
COMUNHÃO COM DEUS
CONFLITO NECESSÁRIO
CONFLITO DESNECESSÁRIO
CORRUPÇÃO
CRIAÇÃO DIVINA
CULPA
DESAMOR
DESCULPA
DESIGUALDADE SOCIAL
DESPEITO
DESPERTAR
DEUS
DEVER CONSCIENCIAL
DOR
EGO
EGOCENTRISMO/EGOÍSMO
EQUANIMIDADE DIVINA
ESPÍRITO
ESSÊNCIA DIVINA
EVOLUÇÃO ESPIRITUAL
EXPIAÇÃO
FALSA BONDADE
FALSA DEDICAÇÃO
FALSA HUMILDADE
FELICIDADE
HIPOCRISIA
HUMILDADE
IDEALIZAÇÃO
IGNORÂNCIA
IGUALDADE
INDIGNAÇÃO
INDIGNIDADE
INVEJA
JUSTIÇA DIVINA
LEI DE CAUSA E EFEITO
LIVRE-ARBÍTRIO
MAGNANIMIDADE
MANDAMENTO
MARTIRIZAÇÃO
MÁSCARAS DO EGO
MATERIALISMO
MISERICÓRDIA
MOTIVAÇÃO
ONISCIÊNCIA
ORGULHO
PARECER
PATERNIDADE DIVINA
Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas
1716
PECADO/ERRO
POSSIBILIDADE
POTENCIALIDADE
PRAZERES EGOICOS
PREVIDÊNCIA HUMANA
PROJEÇÃO
PROVIDÊNCIA DIVINA
PSEUDOAMOR
PUNIÇÃO
PURITANISMO
REABILITAÇÃO
REALIZAÇÃO
REENCARNAÇÃO
REPARAÇÃO
SIMPLICIDADE
SOFRIMENTO
TRABALHO NO BEM
USO E ABUSO
VITIMIZAÇÃO
VONTADE
REFERÊNCIA NAS OBRAS BÁSICAS
DOS TEMAS ESTUDADOS
O Livro dos Espíritos – Questões: 1 a 13, 37, 38,
78 a 81, 114 a 131, 132 a 133-a, 166 a 171, 189 a
196, 216, 222, 258 a 273, 361 a 366, 373, 392, 393,
399, 487, 540, 607 a 609, 612, 613, 614 a 648, 674,
677, 707, 708, 711 a 717, 719, 726, 776 a 785, 799,
803, 804, 806, 808, 811 a 812, 814, 835, 843 a 850,
872, 873 a 885, 895 a 897-b, 900, 901, 906, 907 a
919-a, 920 a 933, 963, 964, 975, 980, 983, 984, 987,
990 a 1009, 1019.
O Livro dos Médiuns – Itens: 1 A 6, 132 1ª, 268 21ª.
O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo I
itens 3,4; Capítulo II itens 5 a 8; Capítulo III item
6; Capítulo IV; Capítulo V itens 1 a 13, 18 a 20, 24
a 26; Capítulo VI; Capítulo VII itens 1 a 6, 11 a 13;
Capítulo VIII item 7; Capítulo IX itens 6 a 8; Capí-
tulo X itens 9 a 21; Capítulo XI itens 1 a 4, 8 a 13;
Capítulo XIII item 17; Capítulo XVI itens 3, 7 a 15;
Capítulo XVII item 1 a 3, 7, 8, 10; Capítulo XX item
3; Capítulo XXV; Capítulo XXVII itens 5 a 7.
O Céu e o Inferno – 1ª parte: Capítulo I; Capítu-
lo V item 4; Capítulo VI; Capítulo VII; Capítulo VIII
itens 13 e 15; Capítulo IX item 3. 2ª parte: Capítu-
lo IV caso Lisbeth item 2, caso Príncipe Ouran,
caso François Riquier, caso Claire; Capítulo V
caso Um ateu, caso Antoine Bell item 6; Capítulo
VI caso Benoist; Capítulo VII item 3, caso Um Es-
pírito aborrecido.
A Gênese - Capítulo I; Capítulo II; Capítulo III
itens 1 a 10; Capítulo XI itens 1 a 9, 17 a 34.
Parábolas Terapêuticas
19
A Parábola dos dois Filhos, mais conhecida como
Parábola do Filho Pródigo, é narrada por Lucas no
Capítulo 15, vv. 11 a 32.
E disse: Um certo homem tinha dois filhos. E o mais
moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fa-
zenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fa-
zenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajun-
tando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali des-
perdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente. E,
havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma
grande fome, e começou a padecer necessidades. E
foi e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o
qual o mandou para os seus campos a apascentar
porcos. E desejava encher o seu estômago com as
bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava
nada. E, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores
de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço
de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-
-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não
sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como
um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para
seu pai e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e
se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-
-se-lhe ao pescoço, e o beijou. E o filho lhe disse:
Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou
digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos
seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-
-lho, e ponde-lhe um anel na mão e sandálias nos
pés, e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos
e alegremo-nos, porque este meu filho estava mor-
to e reviveu; tinha se perdido e foi achado. E come-
Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas
2120
çaram a alegrar-se. E o seu filho mais velho estava
no campo; e, quando veio e chegou perto de casa,
ouviu a música e as danças. E, chamando um dos
servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse:
Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado,
porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou
e não queria entrar. E, saindo o pai, instava com ele.
Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo
há tantos anos, sem nunca transgredir o teu manda-
mento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me
com os meus amigos. Vindo, porém, este teu filho,
que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes,
mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe disse: Filho,
tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas
são tuas. Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-
-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu;
tinha se perdido e achou-se.1
Esta é uma parábola que durante muito tempo foi
vista de maneira superficial, tanto que é conhecida
como Parábola do filho pródigo, em razão da sua
superficialidade interpretativa.
Essa parábola, analisada superficialmente, refere-
-se à parábola do filho ingrato que solicita a herança
do pai, sai de casa, perde tudo e depois volta arrepen-
dido pura e simplesmente, para os braços do pai, que
o recebe muito bem.
A maioria das pessoas interpreta essa parábola
como se, em sua linha temática, estivesse presente
1 | LUCAS: 15, 11-22.
Deus nos recebendo de braços abertos anulando
todos os nossos erros, simplesmente por termos
nos arrependido de tê-los cometido. Muitos líderes
religiosos a utilizam para exemplificar como os fiéis
devem se comportar. Basta se arrepender e tudo es-
tará resolvido. Essa interpretação é muito superficial
e não condiz com os ensinamentos de Jesus.
Estudaremos a seguir a interpretação psicológica
transpessoal dessa parábola. A psicologia transpes-
soal oportuniza uma reflexão profunda dos símbolos.
A superficialidade interpretativa toma assento,
como dissemos, no próprio título pelo qual essa pa-
rábola tornou-se conhecida: Parábola do filho pró-
digo. Jesus diz claramente no seu início: “Um certo
homem tinha dois filhos”. Um dos filhos é comple-
tamente ignorado, propositalmente, conforme vere-
mos posteriormente.
Esta parábola repleta de símbolos fala-nos do
autoencontro, do encontro da criatura com a sua
própria essência e, por consequência, com o Cria-
dor. Percebamos que o filho mais moço solicita do
pai a sua herança e sai pelo mundo para gozar a
vida, gastando com isso todo o patrimônio que o pai
lhe legou, até que, sem recursos, encontra-se em
uma situação de penúria, a passar fome, sofrendo
as consequências de suas ações.
Quando cai em si, lembra-se que na Casa do Pai
nem os empregados eram tratados da forma como
vinha sendo tratado. Ele retorna, então, para solici-
Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas
2322
tar ao pai abrigo, como um de seus empregados. O
Pai o recebe com todo amor e compaixão, tratando-
-o como filho que estava perdido e que retorna aos
seus cuidados.
O irmão mais velho enciumado admoesta o Pai,
tomado de inveja pelas regalias que o Pai estava
concedendo ao seu irmão, o qual no seu entendi-
mento não era merecedor daquela deferência. É
convidado, porém, pelo Pai a se alegrar com o re-
torno do irmão que estava perdido e achara-se, fato
que ele não aceita de maneira alguma por causa de
sua aparente dedicação ao Pai.
O objetivo da Parábola dos dois filhos é chamar a
atenção para os diferentes tipos de caráter das pes-
soas. O homem representa Deus e os dois filhos, a
Humanidade.
As características desses dois filhos existem na
Humanidade inteira. Temos tanto características do
filho mais novo, quanto do filho mais velho. Existem
pessoas mais próximas do filho mais novo em sua
primeira fase, outras se identificam mais com ele na
segunda fase, e outras, ainda têm características
que se aproximam mais do filho mais velho.
Jesus aborda, em um enfoque transpessoal, a tra-
jetória de evolução do Ser Humano. Vejamos os princi-
pais símbolos utilizados:
• Filho Pródigo – representa as Negatividades
do Ego;
• Filho Mais Velho – representa as Máscaras do Ego;
• Casa do Pai – Essência Divina que todos nós
somos;
• Pai – Deus nosso Pai Criador.
Em nosso processo de desenvolvimento ora nos
identificamos com as negatividades do ego (desa-
mor), ora com as máscaras do ego (pseudoamor). O
objetivo da vida é nos identificarmos com a nossa pró-
pria Essência Divina, desidentificando-nos do Ego.
O Ego é uma energia densa formada de ignorân-
cia que envolve a nossa Essência Divina. Origina-se
da simplicidade e ignorância, da ausência do saber
que caracteriza o Ser em seu princípio. Segundo a
mentora Joanna de Ângelis o Ego “[...] é herança do
primarismo animal, a ser direcionado...”.2
O Ego vai se constituindo lentamente no proces-
so de evolução do Ser que começa no átomo, con-
forme atesta a questão 540, de O Livro dos Espíri-
tos3
, passando pelo mineral, vegetal e animal antes
de chegar ao reino hominal, conforme as questões
607 e 607a:
Dissestes que o estado da alma do homem, na sua
origem, corresponde ao estado da infância na vida
corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e
se ensaia para a vida. Onde passa o Espírito essa
2 | Divaldo P.FRANCO, Momentos de meditação. - Joanna De Ângelis - cap.4.
Salvador: Leal, 1988.
3 | Allan, KARDEC, O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1944.
Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas
2524
primeira fase do seu desenvolvimento? Numa série
de existências que precedem o período a que cha-
mais Humanidade. Parece que, assim, se pode con-
siderar a alma como tendo sido o princípio inteligente
dos seres inferiores da criação, não? Já não disse-
mos que tudo em a Natureza se encadeia e tende
para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais
longe de conhecer, é que o princípio inteligente se
elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia
para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de certo
modo, um trabalho preparatório, como o da germi-
nação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre
uma transformação e se torna Espírito. Entra então
no período da humanização, começando a ter cons-
ciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem
do mal e a responsabilidade dos seus atos. Assim, à
fase da infância se segue a da adolescência, vindo
depois a da juventude e da madureza. Nessa origem,
coisa alguma há de humilhante para o homem. Sen-
tir-se-ão humilhados os grandes gênios por terem
sido fetos informes nas entranhas que os geraram?
Se alguma coisa há que lhes seja humilhante, é a sua
inferioridade perante Deus e sua impotência para lhe
sondar a profundeza dos desígnios e para apreciar a
sabedoria das leis que regem a harmonia do Univer-
so. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável
harmonia, mediante a qual tudo é solidário na Nature-
za. Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem
um fim, e criado seres inteligentes sem futuro, fora
blasfemar da sua bondade, que se estende por sobre
todas as suas criaturas.
Quando o princípio inteligente inicia o seu estágio
no reino hominal traz como herança toda uma carga
de energias instintivas, relacionadas à sua sobrevi-
vência, energias estas que culminarão na formação
do Ego do Ser Humano. Portanto, o ego em si mes-
mo não é negativo, é simplesmente ignorância a ser
gradativamente transformada em nós pelo proces-
so do autoencontro, caminho através do qual che-
gamos progressivamente à perfeição, pelo conhe-
cimento da verdade, para nos aproximar de Deus,
conforme nos ensina a questão 115 de O Livro dos
Espíritos (1944).
Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros
maus? Deus criou todos os Espíritos simples e igno-
rantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada
missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer che-
gar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento
da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição
é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Pas-
sando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Es-
píritos adquirem aquele conhecimento. Uns, aceitam
submissos essas provas e chegam mais depressa
à meta que lhes foi assinada. Outros, só a suportam
murmurando e, pela falta em que desse modo incor-
rem, permanecem afastados da perfeição e da prome-
tida felicidade.
Percebamos que essa ‘simplicidade’ e ‘ignorân-
cia’ significam sem nenhum qualificativo: nem bom,
nem ruim, honesto ou desonesto, ou seja, pronto
para se lançar às experiências. É ignorância no sen-
Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas
2726
tido de não se ter conhecimento de nada, do que
pode ou não pode, do que deve ou não deve. Até
esse momento as experiências são apenas instinti-
vas, como empréstimo da Divindade para a criatura.
A partir daí a criatura vai alargando as suas possibi-
lidades como fruto do seu livre-arbítrio. Nesse instante
ela só tem duas coisas: o livre-arbítrio e a perfectibili-
dade. Ela é simples e ignorante no sentido de não ter
tido experiências anteriores na qual exerceu escolhas,
agindo apenas instintivamente. Agora tem a liberdade
de agir e uma destinação, a perfectibilidade.
O grande problema em relação ao Ego, é que
muitas vezes, ao invés de transformá-lo, no proces-
so evolutivo natural, escolhemos através do livre-
-arbítrio, cultivar as suas negatividades ou as suas
máscaras.
Quando nos identificamos com as negatividades
do ego agimos como o filho pródigo, esquecemos
temporariamente de nossa condição Divina e afasta-
mo-nos da Casa do Pai, isto é, da nossa própria Es-
sência e de Deus. Nesse movimento nós queremos
gozar os chamados prazeres da vida.
Utilizamos, muitas vezes, a oportunidade bendi-
ta da reencarnação para usufruir prazeres egoicos
os mais diversos, que nos aprisionam em energias
grosseiras, perturbadoras. Quanto mais cultivamos
a energia egoica mais consequências nós obtemos,
gerando dessa forma, sofrimento para nós mesmos
como vemos com relação ao filho pródigo.
Quando o indivíduo busca cultivar as negativida-
des do ego realiza uma ação semelhante a do filho
pródigo, faz isso motivado pela busca do prazer que
o ego proporciona em razão do primarismo animal
que ainda o caracteriza. Esse prazer egoico assume
variadas formas de manifestação.
Existem pessoas que buscam o prazer ligado às
questões biológicas instintivas. São aqueles que as-
sumem funções puramente fisiológicas: comem, fazem
sexo, dormem, usam drogas estimulantes ou aneste-
siantes conforme o momento, divertem-se e trabalham
apenas para auferir os recursos a fim de manter essas
atividades e não pelo prazer de serem úteis, etc. O seu
comportamento assemelha-se ao dos animais; o que o
diferencia desses é o livre-arbítrio.
Outros já nutrem paixões e o ego se manifesta,
além de tais práticas, também através de negativida-
des como o orgulho, o egoísmo, a vaidade, a vingan-
ça, a inveja, dentre outras. O prazer que sentem vai
se manifestar, por exemplo, na bajulação que ado-
ram receber, no sofrimento que um desafeto passa
para aqueles que o estão perseguindo por vingança,
na queda de alguém que é alvo de um caluniador
invejoso, etc. O prazer, além da simples satisfação
dos sentidos como o caso anterior, está ligado nes-
ses casos, aos sofrimentos que são impingidos aos
outros, ou à submissão que se impõe a outrem.
O cultivo das negatividades do ego, não obs-
tante gerar um prazer momentâneo exaure o Ser,
Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas
2928
pois diferentemente do prazer essencial portador de
energias sutis refazedoras, as energias egoicas são
demasiado grosseiras e acabam por desvitalizar e
danificar o perispírito, bem como o corpo físico.
É claro que agir assim gera muito sofrimento.
Após experimentar o sofrimento proporcionado pelo
distanciamento do amor a que nos colocamos vo-
luntariamente, em razão de nossa ignorância, mais
cedo ou mais tarde nós vamos nos tornar conscien-
tes de que a vida é muito mais do que os prazeres
grosseiros ligados ao ego. Lembramos que a nossa
destinação é o amor e a felicidade e que existe uma
Essência Divina amorosa a ser cultivada em nós
mesmos, e que somos filhos de Deus, momento no
qual o Ser cai em si e busca o autoencontro, o retor-
no à Casa Paterna, ao amor do qual se distanciou.
Quando nos identificamos com as máscaras do
ego agimos como o filho mais velho que, de dedica-
ção só tem a aparência. Percebemos pela parábola
que ao retornar o irmão, ele o renega e as negati-
vidades como o egoísmo, o orgulho, a vaidade, o
ciúme, a inveja, a revolta, a cobiça, etc. se revelam,
pois estavam ocultos pela sua aparente bondade
(pseudoamor). Ele permaneceu com o pai por obri-
gação e não por escolha, conforme fez mais tarde o
filho pródigo arrependido.
Façamos agora a exegese de cada versículo da
parábola.
Jesus diz: “E o mais moço deles disse ao pai: Pai,
dá-me a parte da fazenda que me pertence”.
Podemos interpretar o filho mais moço como o
menos experiente, o menos vivido, com capacidade
menor de discernimento.
Aqui temos a representação dos recursos – as
dádivas da Vida que Deus nos concede a cada reen-
carnação – para evoluirmos (parte da fazenda que
me pertence), e o livre-arbítrio, para usar esses re-
cursos como nos aprouver.
O que é a fazenda? A fazenda representa todos os
bens que Deus nos oferece para evoluirmos, a come-
çar por nosso corpo. Tudo o que existe no Universo
pertence a Deus. Até os nossos corpos pertencem a
Deus porque não fomos nós quem os criamos. Quan-
do renascemos no mundo, o fazemos através de um
pai e de uma mãe, que vão doar duas células que,
após se unirem irão se reproduzir e formarão o nosso
corpo, a partir de leis biológicas criadas por Deus.
O corpo físico, a cada reencarnação, é uma fa-
zenda que recebemos para usar bem. Teremos tam-
bém por empréstimo divino o ar para respirar, a água
para saciar a nossa sede, os alimentos, os bens
materiais, etc., enfim tudo o que necessitamos para
evoluir durante a experiência reencarnatória, bens
que muitas vezes malbaratamos, agindo com prodi-
galidade, perdendo momentaneamente, a oportuni-
dade de evoluir.
Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas
3130
Portanto, trazemos como doação divina todos os
recursos necessários à nossa evolução, e somos
responsáveis pelo uso que fazemos desses recur-
sos. Temos todos os bens do Universo à nossa dis-
posição para evoluir. Esses bens todos pertencem a
Deus, nós somos apenas usufrutuários.
“E ele repartiu por eles a fazenda”.
Deus é equânime. A equanimidade divina fica
muito clara neste versículo. Quem é que pediu a fa-
zenda? Foram os dois filhos? Não, só o mais novo
pediu, mas o pai repartiu por eles a fazenda. Seria
justo se ele desse apenas para um e para outro não?
Não seria justo. Então, deu para os dois, apesar de
um só ter pedido. O que Jesus está querendo dizer é
que Deus é equânime. O que parece ser desigualda-
de para nós, na verdade é uma interpretação equivo-
cada do seu real significado.
Às vezes renascemos em situações de carência
várias: afetiva, falta de uma família, um pai ou uma
mãe que abandona o filho; falta de saúde; carentes
de bens materiais, etc., para aprendermos a valori-
zar os bens que detínhamos e malbaratamos, con-
forme estudaremos mais tarde na parábola. Assim,
a carência de hoje é resultado do abuso de ontem.
Portanto, Deus é sempre equânime. Se alguma
coisa falta em nossa vida nós podemos ter a certeza,
não é porque Deus nos escolheu para sofrermos, ou
nos escolheu para sermos pobres, infelizes, a fim de
provarmos a nossa fé, como dizem as pessoas não
reencarnacionistas. Se nós nascemos nessas con-
dições é porque em algum momento de nossa vida
espiritual abusamos dos bens. Tomamos a fazenda,
símbolo de todos os bens divinos e usurpamos, seja
usando de forma egoísta, ou subtraindo os bens de
outras pessoas, por exemplo, para ficar conosco de
maneira egoística e egocêntrica, e naturalmente,
como é da Lei, aquilo que usamos mal ou tiramos
dos outros retorna para nós sob a forma de carência.
Consequentemente, o que vemos como diferen-
ças de recursos entre as criaturas, na realidade é
aparência, pois para aqueles cujos recursos estão
em carência por algum motivo, é porque, dentro do
princípio da lei de causa e efeito, malbarataram em
algum momento os bens e por isso estão experimen-
tando a escassez, em uma situação expiatória.
“E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajun-
tando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali des-
perdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente”.
O filho mais novo apropria-se de todos os bens
e parte para uma terra longínqua. Qual o significa-
do de uma terra longínqua? Significa afastamento
da Casa do Pai, isto é, dos ideais de espiritualidade
e religiosidade. Como a Casa do Pai representa a
nossa Essência Divina, estar em casa significa estar
em comunhão conosco mesmos em essência e com
Deus (o Pai na parábola).

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  • 1. TÍTULO AUTOR EDITOR SUPERVISOR EDITORIAL REVISÃO CAPA MIOLO IMPRESSÃO E PRÉ-IMPRESSÃO FORMATO NÚMERO DE PÁGINAS ISBN Parábolas Terapêuticas - Uma Abordagem Psicológica Transpessoal das Parábolas e Outros Ensinamentos de Jesus Alírio de Cerqueira Filho Miguel de Jesus Sardano Tiago Minoru Kamei Rosemarie Giudilli Cordioli Thamara Fraga e aqora? desiqn www.eagoradesign.com.br Jorge Godoy Assahi Gráfica e Editora Ltda 14 x 21 cm 320 978-85-87011-25-1 COMPRE AO INVÉS DE FOTOCOPIAR. Cada real que você dá por um livro possibilita mais qualidade na publicação de outras obras sobre o assunto e paga aos livreiros por estocar e levar até você livros para seu crescimento cultural e espiritual. Além disso, contribui para a geração de empregos, impostos e, consequentemente, bem-estar social. Por outro lado, cada real que você dá pela fotocópia não autorizada de um livro financia um crime e ajuda a matar a produção intelectual. Parábolas Terapêuticas Uma Abordagem Psicológica Transpessoal das Parábolas e Outros Ensinamentos de Jesus Alírio de Cerqueira Filho
  • 3. As parábolas de Jesus são ensinamentos cujo valor a Humanidade começa a compreender com maior eficiência. As lições exaradas nelas são tão essenciais para a nossa vida, que se constituem um conjunto com valor terapêutico para todos aqueles que se aprofundem nessa fonte de água viva como, certo dia fez a samaritana junto ao poço de Jacó. Toda parábola, na verdade, é um conjunto simbó- lico. As palavras ocultam o significado real do que se quer dizer. Das parábolas que se conhecem, as de Je- sus são as mais ricas em simbologia. Podemos interpretar uma parábola de várias maneiras, superficial ou profundamente. Neste livro utilizamos, como referencial teórico para interpretar as parábolas, a moderna ciência da psicologia trans- pessoal, cuja visão de homem integral, corpo, men- te e espírito nos auxilia amplamente a interpretar os conceitos exarados no Evangelho de Jesus. Por isso, a interpretação que fazemos a respeito das parábolas cristãs neste livro em muitos aspectos é diferente daquelas exaradas em outras obras de cunho interpretativo.
  • 4. O objetivo principal desta obra é possibilitar aos estudantes do Evangelho uma visão psicológica transpessoal, com finalidade autoterapêutica das pa- rábolas e outros ensinamentos de Jesus. Um outro propósito que temos é o de fornecer aos expositores dos Centros Espíritas um substrato de pesquisa, pois antes de cada parábola disponibi- lizamos uma lista com as respectivas temáticas de cada uma e as referências em outro manancial de água viva que temos à disposição, o Pentateuco Kar- dequiano. Várias parábolas aqui compiladas estão presen- tes em outras obras por nós publicadas, em diferen- tes capítulos, dos quais fizemos uma síntese, am- pliando alguns conceitos. Outras estão sendo publi- cadas pela primeira vez. Em razão de sua riqueza, não colocamos todas as parábolas de Jesus nesta primeira obra, o que a tor- naria por demais volumosa. Oportunamente, publica- remos um 2º volume de Parábolas Terapêuticas com as parábolas que não foram contempladas nesta obra. Desejamos a todos um excelente estudo. Muita paz! O autor. Cuiabá, junho de 2008. SUMÁRIO 1 PARÁBOLA DOS DOIS FILHOS (FILHO PRÓDIGO) 13 2 PARÁBOLA DO JOIO E DO TRIGO 95 3 PARÁBOLA DA CASA 115 4 PARÁBOLA DA CONCILIAÇÃO COM OS ADVERSÁRIOS 131 5 PARÁBOLA DO SERVO MALVADO 143 6 PARÁBOLA DA PORTA ESTREITA 161
  • 5. 1 PARÁBOLA DOS DOIS FILHOS (FILHO PRÓDIGO) 7 PARÁBOLA DOS TALENTOS 173 8 PARÁBOLA DO FARISEU E DO PUBLICANO 209 9 PARÁBOLA DO FESTIM DE NÚPCIAS 235 10 PARÁBOLA DO SEMEADOR 253 11 BEM-AVENTURANÇAS 271 12 ÍNDICE REMISSIVO DE TEMAS ESTUDADOS 295
  • 6. TEMAS ESTUDADOS ABUNDÂNCIA AMOR ARREPENDIMENTO AUTOAMOR AUTOCONHECIMENTO AUTOCONSCIÊNCIA AUTOENCONTRO AUTOPERDÃO AUTOTRANSFORMAÇÃO AVAREZA BENS DIVINOS BONDADE DIVINA CARÊNCIA CIÚME COBIÇA COMPAIXÃO COMUNHÃO COM DEUS CONFLITO NECESSÁRIO CONFLITO DESNECESSÁRIO CORRUPÇÃO CRIAÇÃO DIVINA CULPA DESAMOR DESCULPA DESIGUALDADE SOCIAL DESPEITO DESPERTAR DEUS DEVER CONSCIENCIAL DOR EGO EGOCENTRISMO/EGOÍSMO EQUANIMIDADE DIVINA ESPÍRITO ESSÊNCIA DIVINA EVOLUÇÃO ESPIRITUAL EXPIAÇÃO FALSA BONDADE FALSA DEDICAÇÃO FALSA HUMILDADE FELICIDADE HIPOCRISIA HUMILDADE IDEALIZAÇÃO IGNORÂNCIA IGUALDADE INDIGNAÇÃO INDIGNIDADE INVEJA JUSTIÇA DIVINA LEI DE CAUSA E EFEITO LIVRE-ARBÍTRIO MAGNANIMIDADE MANDAMENTO MARTIRIZAÇÃO MÁSCARAS DO EGO MATERIALISMO MISERICÓRDIA MOTIVAÇÃO ONISCIÊNCIA ORGULHO PARECER PATERNIDADE DIVINA
  • 7. Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas 1716 PECADO/ERRO POSSIBILIDADE POTENCIALIDADE PRAZERES EGOICOS PREVIDÊNCIA HUMANA PROJEÇÃO PROVIDÊNCIA DIVINA PSEUDOAMOR PUNIÇÃO PURITANISMO REABILITAÇÃO REALIZAÇÃO REENCARNAÇÃO REPARAÇÃO SIMPLICIDADE SOFRIMENTO TRABALHO NO BEM USO E ABUSO VITIMIZAÇÃO VONTADE REFERÊNCIA NAS OBRAS BÁSICAS DOS TEMAS ESTUDADOS O Livro dos Espíritos – Questões: 1 a 13, 37, 38, 78 a 81, 114 a 131, 132 a 133-a, 166 a 171, 189 a 196, 216, 222, 258 a 273, 361 a 366, 373, 392, 393, 399, 487, 540, 607 a 609, 612, 613, 614 a 648, 674, 677, 707, 708, 711 a 717, 719, 726, 776 a 785, 799, 803, 804, 806, 808, 811 a 812, 814, 835, 843 a 850, 872, 873 a 885, 895 a 897-b, 900, 901, 906, 907 a 919-a, 920 a 933, 963, 964, 975, 980, 983, 984, 987, 990 a 1009, 1019. O Livro dos Médiuns – Itens: 1 A 6, 132 1ª, 268 21ª. O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo I itens 3,4; Capítulo II itens 5 a 8; Capítulo III item 6; Capítulo IV; Capítulo V itens 1 a 13, 18 a 20, 24 a 26; Capítulo VI; Capítulo VII itens 1 a 6, 11 a 13; Capítulo VIII item 7; Capítulo IX itens 6 a 8; Capí- tulo X itens 9 a 21; Capítulo XI itens 1 a 4, 8 a 13; Capítulo XIII item 17; Capítulo XVI itens 3, 7 a 15; Capítulo XVII item 1 a 3, 7, 8, 10; Capítulo XX item 3; Capítulo XXV; Capítulo XXVII itens 5 a 7. O Céu e o Inferno – 1ª parte: Capítulo I; Capítu- lo V item 4; Capítulo VI; Capítulo VII; Capítulo VIII itens 13 e 15; Capítulo IX item 3. 2ª parte: Capítu- lo IV caso Lisbeth item 2, caso Príncipe Ouran, caso François Riquier, caso Claire; Capítulo V caso Um ateu, caso Antoine Bell item 6; Capítulo VI caso Benoist; Capítulo VII item 3, caso Um Es- pírito aborrecido. A Gênese - Capítulo I; Capítulo II; Capítulo III itens 1 a 10; Capítulo XI itens 1 a 9, 17 a 34.
  • 8. Parábolas Terapêuticas 19 A Parábola dos dois Filhos, mais conhecida como Parábola do Filho Pródigo, é narrada por Lucas no Capítulo 15, vv. 11 a 32. E disse: Um certo homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fa- zenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fa- zenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajun- tando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali des- perdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente. E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades. E foi e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir- -lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou- -se-lhe ao pescoço, e o beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti- -lho, e ponde-lhe um anel na mão e sandálias nos pés, e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava mor- to e reviveu; tinha se perdido e foi achado. E come-
  • 9. Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas 2120 çaram a alegrar-se. E o seu filho mais velho estava no campo; e, quando veio e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou e não queria entrar. E, saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu manda- mento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos. Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas. Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo- -nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha se perdido e achou-se.1 Esta é uma parábola que durante muito tempo foi vista de maneira superficial, tanto que é conhecida como Parábola do filho pródigo, em razão da sua superficialidade interpretativa. Essa parábola, analisada superficialmente, refere- -se à parábola do filho ingrato que solicita a herança do pai, sai de casa, perde tudo e depois volta arrepen- dido pura e simplesmente, para os braços do pai, que o recebe muito bem. A maioria das pessoas interpreta essa parábola como se, em sua linha temática, estivesse presente 1 | LUCAS: 15, 11-22. Deus nos recebendo de braços abertos anulando todos os nossos erros, simplesmente por termos nos arrependido de tê-los cometido. Muitos líderes religiosos a utilizam para exemplificar como os fiéis devem se comportar. Basta se arrepender e tudo es- tará resolvido. Essa interpretação é muito superficial e não condiz com os ensinamentos de Jesus. Estudaremos a seguir a interpretação psicológica transpessoal dessa parábola. A psicologia transpes- soal oportuniza uma reflexão profunda dos símbolos. A superficialidade interpretativa toma assento, como dissemos, no próprio título pelo qual essa pa- rábola tornou-se conhecida: Parábola do filho pró- digo. Jesus diz claramente no seu início: “Um certo homem tinha dois filhos”. Um dos filhos é comple- tamente ignorado, propositalmente, conforme vere- mos posteriormente. Esta parábola repleta de símbolos fala-nos do autoencontro, do encontro da criatura com a sua própria essência e, por consequência, com o Cria- dor. Percebamos que o filho mais moço solicita do pai a sua herança e sai pelo mundo para gozar a vida, gastando com isso todo o patrimônio que o pai lhe legou, até que, sem recursos, encontra-se em uma situação de penúria, a passar fome, sofrendo as consequências de suas ações. Quando cai em si, lembra-se que na Casa do Pai nem os empregados eram tratados da forma como vinha sendo tratado. Ele retorna, então, para solici-
  • 10. Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas 2322 tar ao pai abrigo, como um de seus empregados. O Pai o recebe com todo amor e compaixão, tratando- -o como filho que estava perdido e que retorna aos seus cuidados. O irmão mais velho enciumado admoesta o Pai, tomado de inveja pelas regalias que o Pai estava concedendo ao seu irmão, o qual no seu entendi- mento não era merecedor daquela deferência. É convidado, porém, pelo Pai a se alegrar com o re- torno do irmão que estava perdido e achara-se, fato que ele não aceita de maneira alguma por causa de sua aparente dedicação ao Pai. O objetivo da Parábola dos dois filhos é chamar a atenção para os diferentes tipos de caráter das pes- soas. O homem representa Deus e os dois filhos, a Humanidade. As características desses dois filhos existem na Humanidade inteira. Temos tanto características do filho mais novo, quanto do filho mais velho. Existem pessoas mais próximas do filho mais novo em sua primeira fase, outras se identificam mais com ele na segunda fase, e outras, ainda têm características que se aproximam mais do filho mais velho. Jesus aborda, em um enfoque transpessoal, a tra- jetória de evolução do Ser Humano. Vejamos os princi- pais símbolos utilizados: • Filho Pródigo – representa as Negatividades do Ego; • Filho Mais Velho – representa as Máscaras do Ego; • Casa do Pai – Essência Divina que todos nós somos; • Pai – Deus nosso Pai Criador. Em nosso processo de desenvolvimento ora nos identificamos com as negatividades do ego (desa- mor), ora com as máscaras do ego (pseudoamor). O objetivo da vida é nos identificarmos com a nossa pró- pria Essência Divina, desidentificando-nos do Ego. O Ego é uma energia densa formada de ignorân- cia que envolve a nossa Essência Divina. Origina-se da simplicidade e ignorância, da ausência do saber que caracteriza o Ser em seu princípio. Segundo a mentora Joanna de Ângelis o Ego “[...] é herança do primarismo animal, a ser direcionado...”.2 O Ego vai se constituindo lentamente no proces- so de evolução do Ser que começa no átomo, con- forme atesta a questão 540, de O Livro dos Espíri- tos3 , passando pelo mineral, vegetal e animal antes de chegar ao reino hominal, conforme as questões 607 e 607a: Dissestes que o estado da alma do homem, na sua origem, corresponde ao estado da infância na vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e se ensaia para a vida. Onde passa o Espírito essa 2 | Divaldo P.FRANCO, Momentos de meditação. - Joanna De Ângelis - cap.4. Salvador: Leal, 1988. 3 | Allan, KARDEC, O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1944.
  • 11. Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas 2524 primeira fase do seu desenvolvimento? Numa série de existências que precedem o período a que cha- mais Humanidade. Parece que, assim, se pode con- siderar a alma como tendo sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação, não? Já não disse- mos que tudo em a Natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germi- nação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter cons- ciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos. Assim, à fase da infância se segue a da adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza. Nessa origem, coisa alguma há de humilhante para o homem. Sen- tir-se-ão humilhados os grandes gênios por terem sido fetos informes nas entranhas que os geraram? Se alguma coisa há que lhes seja humilhante, é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para lhe sondar a profundeza dos desígnios e para apreciar a sabedoria das leis que regem a harmonia do Univer- so. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia, mediante a qual tudo é solidário na Nature- za. Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem um fim, e criado seres inteligentes sem futuro, fora blasfemar da sua bondade, que se estende por sobre todas as suas criaturas. Quando o princípio inteligente inicia o seu estágio no reino hominal traz como herança toda uma carga de energias instintivas, relacionadas à sua sobrevi- vência, energias estas que culminarão na formação do Ego do Ser Humano. Portanto, o ego em si mes- mo não é negativo, é simplesmente ignorância a ser gradativamente transformada em nós pelo proces- so do autoencontro, caminho através do qual che- gamos progressivamente à perfeição, pelo conhe- cimento da verdade, para nos aproximar de Deus, conforme nos ensina a questão 115 de O Livro dos Espíritos (1944). Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus? Deus criou todos os Espíritos simples e igno- rantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer che- gar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Pas- sando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Es- píritos adquirem aquele conhecimento. Uns, aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinada. Outros, só a suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incor- rem, permanecem afastados da perfeição e da prome- tida felicidade. Percebamos que essa ‘simplicidade’ e ‘ignorân- cia’ significam sem nenhum qualificativo: nem bom, nem ruim, honesto ou desonesto, ou seja, pronto para se lançar às experiências. É ignorância no sen-
  • 12. Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas 2726 tido de não se ter conhecimento de nada, do que pode ou não pode, do que deve ou não deve. Até esse momento as experiências são apenas instinti- vas, como empréstimo da Divindade para a criatura. A partir daí a criatura vai alargando as suas possibi- lidades como fruto do seu livre-arbítrio. Nesse instante ela só tem duas coisas: o livre-arbítrio e a perfectibili- dade. Ela é simples e ignorante no sentido de não ter tido experiências anteriores na qual exerceu escolhas, agindo apenas instintivamente. Agora tem a liberdade de agir e uma destinação, a perfectibilidade. O grande problema em relação ao Ego, é que muitas vezes, ao invés de transformá-lo, no proces- so evolutivo natural, escolhemos através do livre- -arbítrio, cultivar as suas negatividades ou as suas máscaras. Quando nos identificamos com as negatividades do ego agimos como o filho pródigo, esquecemos temporariamente de nossa condição Divina e afasta- mo-nos da Casa do Pai, isto é, da nossa própria Es- sência e de Deus. Nesse movimento nós queremos gozar os chamados prazeres da vida. Utilizamos, muitas vezes, a oportunidade bendi- ta da reencarnação para usufruir prazeres egoicos os mais diversos, que nos aprisionam em energias grosseiras, perturbadoras. Quanto mais cultivamos a energia egoica mais consequências nós obtemos, gerando dessa forma, sofrimento para nós mesmos como vemos com relação ao filho pródigo. Quando o indivíduo busca cultivar as negativida- des do ego realiza uma ação semelhante a do filho pródigo, faz isso motivado pela busca do prazer que o ego proporciona em razão do primarismo animal que ainda o caracteriza. Esse prazer egoico assume variadas formas de manifestação. Existem pessoas que buscam o prazer ligado às questões biológicas instintivas. São aqueles que as- sumem funções puramente fisiológicas: comem, fazem sexo, dormem, usam drogas estimulantes ou aneste- siantes conforme o momento, divertem-se e trabalham apenas para auferir os recursos a fim de manter essas atividades e não pelo prazer de serem úteis, etc. O seu comportamento assemelha-se ao dos animais; o que o diferencia desses é o livre-arbítrio. Outros já nutrem paixões e o ego se manifesta, além de tais práticas, também através de negativida- des como o orgulho, o egoísmo, a vaidade, a vingan- ça, a inveja, dentre outras. O prazer que sentem vai se manifestar, por exemplo, na bajulação que ado- ram receber, no sofrimento que um desafeto passa para aqueles que o estão perseguindo por vingança, na queda de alguém que é alvo de um caluniador invejoso, etc. O prazer, além da simples satisfação dos sentidos como o caso anterior, está ligado nes- ses casos, aos sofrimentos que são impingidos aos outros, ou à submissão que se impõe a outrem. O cultivo das negatividades do ego, não obs- tante gerar um prazer momentâneo exaure o Ser,
  • 13. Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas 2928 pois diferentemente do prazer essencial portador de energias sutis refazedoras, as energias egoicas são demasiado grosseiras e acabam por desvitalizar e danificar o perispírito, bem como o corpo físico. É claro que agir assim gera muito sofrimento. Após experimentar o sofrimento proporcionado pelo distanciamento do amor a que nos colocamos vo- luntariamente, em razão de nossa ignorância, mais cedo ou mais tarde nós vamos nos tornar conscien- tes de que a vida é muito mais do que os prazeres grosseiros ligados ao ego. Lembramos que a nossa destinação é o amor e a felicidade e que existe uma Essência Divina amorosa a ser cultivada em nós mesmos, e que somos filhos de Deus, momento no qual o Ser cai em si e busca o autoencontro, o retor- no à Casa Paterna, ao amor do qual se distanciou. Quando nos identificamos com as máscaras do ego agimos como o filho mais velho que, de dedica- ção só tem a aparência. Percebemos pela parábola que ao retornar o irmão, ele o renega e as negati- vidades como o egoísmo, o orgulho, a vaidade, o ciúme, a inveja, a revolta, a cobiça, etc. se revelam, pois estavam ocultos pela sua aparente bondade (pseudoamor). Ele permaneceu com o pai por obri- gação e não por escolha, conforme fez mais tarde o filho pródigo arrependido. Façamos agora a exegese de cada versículo da parábola. Jesus diz: “E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence”. Podemos interpretar o filho mais moço como o menos experiente, o menos vivido, com capacidade menor de discernimento. Aqui temos a representação dos recursos – as dádivas da Vida que Deus nos concede a cada reen- carnação – para evoluirmos (parte da fazenda que me pertence), e o livre-arbítrio, para usar esses re- cursos como nos aprouver. O que é a fazenda? A fazenda representa todos os bens que Deus nos oferece para evoluirmos, a come- çar por nosso corpo. Tudo o que existe no Universo pertence a Deus. Até os nossos corpos pertencem a Deus porque não fomos nós quem os criamos. Quan- do renascemos no mundo, o fazemos através de um pai e de uma mãe, que vão doar duas células que, após se unirem irão se reproduzir e formarão o nosso corpo, a partir de leis biológicas criadas por Deus. O corpo físico, a cada reencarnação, é uma fa- zenda que recebemos para usar bem. Teremos tam- bém por empréstimo divino o ar para respirar, a água para saciar a nossa sede, os alimentos, os bens materiais, etc., enfim tudo o que necessitamos para evoluir durante a experiência reencarnatória, bens que muitas vezes malbaratamos, agindo com prodi- galidade, perdendo momentaneamente, a oportuni- dade de evoluir.
  • 14. Alírio de Cerqueira Filho Parábolas Terapêuticas 3130 Portanto, trazemos como doação divina todos os recursos necessários à nossa evolução, e somos responsáveis pelo uso que fazemos desses recur- sos. Temos todos os bens do Universo à nossa dis- posição para evoluir. Esses bens todos pertencem a Deus, nós somos apenas usufrutuários. “E ele repartiu por eles a fazenda”. Deus é equânime. A equanimidade divina fica muito clara neste versículo. Quem é que pediu a fa- zenda? Foram os dois filhos? Não, só o mais novo pediu, mas o pai repartiu por eles a fazenda. Seria justo se ele desse apenas para um e para outro não? Não seria justo. Então, deu para os dois, apesar de um só ter pedido. O que Jesus está querendo dizer é que Deus é equânime. O que parece ser desigualda- de para nós, na verdade é uma interpretação equivo- cada do seu real significado. Às vezes renascemos em situações de carência várias: afetiva, falta de uma família, um pai ou uma mãe que abandona o filho; falta de saúde; carentes de bens materiais, etc., para aprendermos a valori- zar os bens que detínhamos e malbaratamos, con- forme estudaremos mais tarde na parábola. Assim, a carência de hoje é resultado do abuso de ontem. Portanto, Deus é sempre equânime. Se alguma coisa falta em nossa vida nós podemos ter a certeza, não é porque Deus nos escolheu para sofrermos, ou nos escolheu para sermos pobres, infelizes, a fim de provarmos a nossa fé, como dizem as pessoas não reencarnacionistas. Se nós nascemos nessas con- dições é porque em algum momento de nossa vida espiritual abusamos dos bens. Tomamos a fazenda, símbolo de todos os bens divinos e usurpamos, seja usando de forma egoísta, ou subtraindo os bens de outras pessoas, por exemplo, para ficar conosco de maneira egoística e egocêntrica, e naturalmente, como é da Lei, aquilo que usamos mal ou tiramos dos outros retorna para nós sob a forma de carência. Consequentemente, o que vemos como diferen- ças de recursos entre as criaturas, na realidade é aparência, pois para aqueles cujos recursos estão em carência por algum motivo, é porque, dentro do princípio da lei de causa e efeito, malbarataram em algum momento os bens e por isso estão experimen- tando a escassez, em uma situação expiatória. “E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajun- tando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali des- perdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente”. O filho mais novo apropria-se de todos os bens e parte para uma terra longínqua. Qual o significa- do de uma terra longínqua? Significa afastamento da Casa do Pai, isto é, dos ideais de espiritualidade e religiosidade. Como a Casa do Pai representa a nossa Essência Divina, estar em casa significa estar em comunhão conosco mesmos em essência e com Deus (o Pai na parábola).