SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 13
O CORVO Edgar AllanPoe 1
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste, Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais, E já quase adormecia, ouvi o que parecia O som de alguém que batia levemente a meus umbrais. "Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais. É só isto, e nada mais." Ah, que bem disso me lembro! Era no frio Dezembro E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais. Como eu queria a madrugada, toda a noite aos livros dada Para esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais - Essa cujo nome sabem as hostes celestiais, Mas sem nome aqui jamais! 2
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais! Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo: "É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais; Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais. É só isto, e nada mais." 3
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante, "Senhor", eu disse, "ou senhora, de certo me desculpais; Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo Tão levemente, batendo, batendo por meus umbrais, Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais. Noite, noite e nada mais. A treva enorme fitando, fiquei perdido receando, Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais. Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita, E a única palavra dita foi um nome cheio de ais - Eu o disse, o nome dela, e o eco disse os meus ais, Isto só e nada mais. 4
Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo, Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais. "Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela. Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais. Meu coração se distraia pesquisando estes sinais. É o vento, e nada mais." 5
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça, Entrou grave e nobre um Corvo dos bons tempos ancestrais. Não fez nenhum cumprimento, não parou nenhum momento, Mas com ar sereno e lento pousou sobre os meus umbrais, Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais. Foi, pousou, e nada mais. E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura Com o solene decoro de seus ares rituais. "Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado, Ó velho Corvo emigrado lá das trevas infernais! Diz-me qual o teu nome lá nas trevas infernais." Disse o Corvo, "Nunca mais". 6
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro, Inda que pouco sentido tivessem palavras tais. Mas deve ser concedido que ninguém terá havido Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais, Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais, Com o nome "Nunca mais". 7
Mas o Corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto, Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais. Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento, Perdido murmurei lento. "Amigos, sonhos - mortais Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais." Disse o Corvo, "Nunca mais". A alma súbito movida por frase tão bem cabida, "Por certo", disse eu, "são estas suas vozes usuais. Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono Seguiram até que o entorno da alma se quebrou em ais, E o bordão de desesperança de seu canto cheio de ais Era este "Nunca mais". 8
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura, Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais; E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais, Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais, Com aquele "Nunca mais". 9
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo À ave que na minha alma cravava os olhos fatais, Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais, Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais, Reclinar-se-á nunca mais! Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais. "Maldito", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais, O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!" Disse o Corvo, "nunca mais". 10
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demónio ou ave preta! - Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais, A este luto e este degredo, e esta noite e este segredo A esta casa de ânsia e medo, diz a esta alma a quem atrais Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!" Disse o Corvo, "Nunca mais". 11
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demónio ou ave preta! - Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais, Rize a esta alma entristecida, se no Éden de outra vida, Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais, Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!" Disse o Corvo, "Nunca mais". "Que esse grito nos aparte, ave ou diabo", eu disse. "Parte! Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais! Não deixes pena que ateste a mentira que disseste! Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais! Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!" Disse o Corvo, "Nunca mais". 12
E o Corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda, No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais. Seu olhar tem a medonha dor de um demónio que sonha, E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais. E a minh'alma dessa sombra que no chão há de mais e mais, Libertar-se-á... nunca mais!   Edgar AllanPoe Tradução de Fernando Pessoa (1924) 13

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto
Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo NetoMorte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto
Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo NetoRafael Leite
 
Linhas de análise ela canta pobre ceifeira
Linhas de análise ela canta pobre ceifeiraLinhas de análise ela canta pobre ceifeira
Linhas de análise ela canta pobre ceifeiraAna Isabel Falé
 
Fernando Pessoa Nostalgia da infancia
Fernando Pessoa Nostalgia da infanciaFernando Pessoa Nostalgia da infancia
Fernando Pessoa Nostalgia da infanciaSamuel Neves
 
Carlos Drummond de Andrade - 4ª fase (Memorialista)
Carlos Drummond de Andrade - 4ª fase (Memorialista)Carlos Drummond de Andrade - 4ª fase (Memorialista)
Carlos Drummond de Andrade - 4ª fase (Memorialista)Marynara Barros
 
EstóRia Da Galinha E Do Ovo, Luandino Vieira
EstóRia Da Galinha E Do Ovo, Luandino VieiraEstóRia Da Galinha E Do Ovo, Luandino Vieira
EstóRia Da Galinha E Do Ovo, Luandino Vieiracatiasgs
 
Os lusiadas - camões
Os lusiadas - camõesOs lusiadas - camões
Os lusiadas - camõesjulykathy
 
"Mensagem" de Fernando Pessoa: "O Infante D. Henrique"
"Mensagem" de Fernando Pessoa: "O Infante D. Henrique""Mensagem" de Fernando Pessoa: "O Infante D. Henrique"
"Mensagem" de Fernando Pessoa: "O Infante D. Henrique"CatarinaSilva1000
 
Viag11 poesia quental- semana leitura cartas
Viag11 poesia quental- semana leitura cartasViag11 poesia quental- semana leitura cartas
Viag11 poesia quental- semana leitura cartasIsabelPereira2010
 
Trabalho sobre o poema trigésimo nono de alberto caeiro
Trabalho sobre o poema trigésimo nono de alberto caeiroTrabalho sobre o poema trigésimo nono de alberto caeiro
Trabalho sobre o poema trigésimo nono de alberto caeiroMiguelavRodrigues
 
A nostalgia da infância
A nostalgia da infânciaA nostalgia da infância
A nostalgia da infânciaPaulo Portelada
 
"50 invenções que mudaram a nossa vida"
"50 invenções que mudaram a nossa vida""50 invenções que mudaram a nossa vida"
"50 invenções que mudaram a nossa vida"MUNICÍPIO DE LOURES
 

Mais procurados (20)

Arte: pintura e poesia
Arte: pintura e poesiaArte: pintura e poesia
Arte: pintura e poesia
 
"O Tesouro"
"O Tesouro""O Tesouro"
"O Tesouro"
 
Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto
Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo NetoMorte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto
Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto
 
Linhas de análise ela canta pobre ceifeira
Linhas de análise ela canta pobre ceifeiraLinhas de análise ela canta pobre ceifeira
Linhas de análise ela canta pobre ceifeira
 
Fernando Pessoa Nostalgia da infancia
Fernando Pessoa Nostalgia da infanciaFernando Pessoa Nostalgia da infancia
Fernando Pessoa Nostalgia da infancia
 
Carlos Drummond de Andrade - 4ª fase (Memorialista)
Carlos Drummond de Andrade - 4ª fase (Memorialista)Carlos Drummond de Andrade - 4ª fase (Memorialista)
Carlos Drummond de Andrade - 4ª fase (Memorialista)
 
Macunaíma
MacunaímaMacunaíma
Macunaíma
 
EstóRia Da Galinha E Do Ovo, Luandino Vieira
EstóRia Da Galinha E Do Ovo, Luandino VieiraEstóRia Da Galinha E Do Ovo, Luandino Vieira
EstóRia Da Galinha E Do Ovo, Luandino Vieira
 
Arcadismo 2010
Arcadismo 2010Arcadismo 2010
Arcadismo 2010
 
Deslumbramentos
DeslumbramentosDeslumbramentos
Deslumbramentos
 
Os lusiadas - camões
Os lusiadas - camõesOs lusiadas - camões
Os lusiadas - camões
 
"Mensagem" de Fernando Pessoa: "O Infante D. Henrique"
"Mensagem" de Fernando Pessoa: "O Infante D. Henrique""Mensagem" de Fernando Pessoa: "O Infante D. Henrique"
"Mensagem" de Fernando Pessoa: "O Infante D. Henrique"
 
A linguagem na Ode Triunfal-Exp12
A linguagem na Ode Triunfal-Exp12A linguagem na Ode Triunfal-Exp12
A linguagem na Ode Triunfal-Exp12
 
Viag11 poesia quental- semana leitura cartas
Viag11 poesia quental- semana leitura cartasViag11 poesia quental- semana leitura cartas
Viag11 poesia quental- semana leitura cartas
 
Os Lusíadas
Os LusíadasOs Lusíadas
Os Lusíadas
 
Trabalho sobre o poema trigésimo nono de alberto caeiro
Trabalho sobre o poema trigésimo nono de alberto caeiroTrabalho sobre o poema trigésimo nono de alberto caeiro
Trabalho sobre o poema trigésimo nono de alberto caeiro
 
Folclore Brasileiro
Folclore BrasileiroFolclore Brasileiro
Folclore Brasileiro
 
A nostalgia da infância
A nostalgia da infânciaA nostalgia da infância
A nostalgia da infância
 
"50 invenções que mudaram a nossa vida"
"50 invenções que mudaram a nossa vida""50 invenções que mudaram a nossa vida"
"50 invenções que mudaram a nossa vida"
 
Frei Luís de Souza - 2ª A - 2011
Frei Luís de Souza  -  2ª A - 2011Frei Luís de Souza  -  2ª A - 2011
Frei Luís de Souza - 2ª A - 2011
 

Semelhante a O Corvo de Edgar Allan Poe (20)

O corvo POE, Edgar Allan
O corvo POE, Edgar AllanO corvo POE, Edgar Allan
O corvo POE, Edgar Allan
 
28
2828
28
 
Poemas traduzidos fernando pessoa
Poemas traduzidos  fernando pessoaPoemas traduzidos  fernando pessoa
Poemas traduzidos fernando pessoa
 
Ocidentais
OcidentaisOcidentais
Ocidentais
 
Edgar Allan Poe CoraçãO Denunciador
Edgar Allan Poe   CoraçãO DenunciadorEdgar Allan Poe   CoraçãO Denunciador
Edgar Allan Poe CoraçãO Denunciador
 
Coração denunciador
Coração denunciadorCoração denunciador
Coração denunciador
 
Alceste
AlcesteAlceste
Alceste
 
Mestres da Poesia
Mestres da PoesiaMestres da Poesia
Mestres da Poesia
 
Mestres Da Poesia
Mestres Da PoesiaMestres Da Poesia
Mestres Da Poesia
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetas
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas An
Poetas AnPoetas An
Poetas An
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 

Mais de Maria Oliveira

Escrita criativa em língua inglesa
Escrita criativa em língua inglesaEscrita criativa em língua inglesa
Escrita criativa em língua inglesaMaria Oliveira
 
Noções de versificação
Noções de versificaçãoNoções de versificação
Noções de versificaçãoMaria Oliveira
 
Área de Projecto 12º ano
Área de Projecto 12º anoÁrea de Projecto 12º ano
Área de Projecto 12º anoMaria Oliveira
 
Exposição Artes Visuais
Exposição Artes VisuaisExposição Artes Visuais
Exposição Artes VisuaisMaria Oliveira
 
Exposição "A floresta não é só paisagem" - Resumo
Exposição "A  floresta não é só paisagem" - ResumoExposição "A  floresta não é só paisagem" - Resumo
Exposição "A floresta não é só paisagem" - ResumoMaria Oliveira
 
Exposição de História
Exposição de HistóriaExposição de História
Exposição de HistóriaMaria Oliveira
 
Apresentação florestas final
Apresentação florestas finalApresentação florestas final
Apresentação florestas finalMaria Oliveira
 
Gato Malhado: Sistematização
Gato Malhado: SistematizaçãoGato Malhado: Sistematização
Gato Malhado: SistematizaçãoMaria Oliveira
 
Jogar super tmatik quiz língua portuguesa
Jogar super tmatik quiz língua portuguesaJogar super tmatik quiz língua portuguesa
Jogar super tmatik quiz língua portuguesaMaria Oliveira
 

Mais de Maria Oliveira (15)

Escrita criativa em língua inglesa
Escrita criativa em língua inglesaEscrita criativa em língua inglesa
Escrita criativa em língua inglesa
 
25 de abril
25 de abril25 de abril
25 de abril
 
Texto poético
Texto poéticoTexto poético
Texto poético
 
Noções de versificação
Noções de versificaçãoNoções de versificação
Noções de versificação
 
Área de Projecto 12º ano
Área de Projecto 12º anoÁrea de Projecto 12º ano
Área de Projecto 12º ano
 
Exposição Artes Visuais
Exposição Artes VisuaisExposição Artes Visuais
Exposição Artes Visuais
 
Exposição "A floresta não é só paisagem" - Resumo
Exposição "A  floresta não é só paisagem" - ResumoExposição "A  floresta não é só paisagem" - Resumo
Exposição "A floresta não é só paisagem" - Resumo
 
Exposição de História
Exposição de HistóriaExposição de História
Exposição de História
 
Poesia visual
Poesia visualPoesia visual
Poesia visual
 
Imagens
ImagensImagens
Imagens
 
Apresentação florestas final
Apresentação florestas finalApresentação florestas final
Apresentação florestas final
 
Gato Malhado: Sistematização
Gato Malhado: SistematizaçãoGato Malhado: Sistematização
Gato Malhado: Sistematização
 
Chafarizes de Lisboa
Chafarizes de LisboaChafarizes de Lisboa
Chafarizes de Lisboa
 
Leitura
LeituraLeitura
Leitura
 
Jogar super tmatik quiz língua portuguesa
Jogar super tmatik quiz língua portuguesaJogar super tmatik quiz língua portuguesa
Jogar super tmatik quiz língua portuguesa
 

Último

Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfWagnerCamposCEA
 
atividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdf
atividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdfatividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdf
atividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdfLuizaAbaAba
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdfLeloIurk1
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTailsonSantos1
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdfPROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdfHELENO FAVACHO
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfmaurocesarpaesalmeid
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfHELENO FAVACHO
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaHELENO FAVACHO
 
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxApresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxLusGlissonGud
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfEmanuel Pio
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfcomercial400681
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfFrancisco Márcio Bezerra Oliveira
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAHELENO FAVACHO
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 

Último (20)

Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
 
atividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdf
atividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdfatividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdf
atividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdf
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdfPROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxApresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 

O Corvo de Edgar Allan Poe

  • 1. O CORVO Edgar AllanPoe 1
  • 2. Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste, Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais, E já quase adormecia, ouvi o que parecia O som de alguém que batia levemente a meus umbrais. "Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais. É só isto, e nada mais." Ah, que bem disso me lembro! Era no frio Dezembro E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais. Como eu queria a madrugada, toda a noite aos livros dada Para esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais - Essa cujo nome sabem as hostes celestiais, Mas sem nome aqui jamais! 2
  • 3. Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais! Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo: "É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais; Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais. É só isto, e nada mais." 3
  • 4. E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante, "Senhor", eu disse, "ou senhora, de certo me desculpais; Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo Tão levemente, batendo, batendo por meus umbrais, Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais. Noite, noite e nada mais. A treva enorme fitando, fiquei perdido receando, Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais. Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita, E a única palavra dita foi um nome cheio de ais - Eu o disse, o nome dela, e o eco disse os meus ais, Isto só e nada mais. 4
  • 5. Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo, Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais. "Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela. Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais. Meu coração se distraia pesquisando estes sinais. É o vento, e nada mais." 5
  • 6. Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça, Entrou grave e nobre um Corvo dos bons tempos ancestrais. Não fez nenhum cumprimento, não parou nenhum momento, Mas com ar sereno e lento pousou sobre os meus umbrais, Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais. Foi, pousou, e nada mais. E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura Com o solene decoro de seus ares rituais. "Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado, Ó velho Corvo emigrado lá das trevas infernais! Diz-me qual o teu nome lá nas trevas infernais." Disse o Corvo, "Nunca mais". 6
  • 7. Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro, Inda que pouco sentido tivessem palavras tais. Mas deve ser concedido que ninguém terá havido Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais, Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais, Com o nome "Nunca mais". 7
  • 8. Mas o Corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto, Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais. Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento, Perdido murmurei lento. "Amigos, sonhos - mortais Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais." Disse o Corvo, "Nunca mais". A alma súbito movida por frase tão bem cabida, "Por certo", disse eu, "são estas suas vozes usuais. Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono Seguiram até que o entorno da alma se quebrou em ais, E o bordão de desesperança de seu canto cheio de ais Era este "Nunca mais". 8
  • 9. Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura, Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais; E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais, Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais, Com aquele "Nunca mais". 9
  • 10. Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo À ave que na minha alma cravava os olhos fatais, Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais, Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais, Reclinar-se-á nunca mais! Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais. "Maldito", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais, O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!" Disse o Corvo, "nunca mais". 10
  • 11. "Profeta", disse eu, "profeta - ou demónio ou ave preta! - Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais, A este luto e este degredo, e esta noite e este segredo A esta casa de ânsia e medo, diz a esta alma a quem atrais Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!" Disse o Corvo, "Nunca mais". 11
  • 12. "Profeta", disse eu, "profeta - ou demónio ou ave preta! - Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais, Rize a esta alma entristecida, se no Éden de outra vida, Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais, Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!" Disse o Corvo, "Nunca mais". "Que esse grito nos aparte, ave ou diabo", eu disse. "Parte! Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais! Não deixes pena que ateste a mentira que disseste! Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais! Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!" Disse o Corvo, "Nunca mais". 12
  • 13. E o Corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda, No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais. Seu olhar tem a medonha dor de um demónio que sonha, E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais. E a minh'alma dessa sombra que no chão há de mais e mais, Libertar-se-á... nunca mais!   Edgar AllanPoe Tradução de Fernando Pessoa (1924) 13