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ISSN 1677-0943




                                                                                      Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - v.5, n. 10, jul.-dez./2006
        Apresentação

        Um design contemporâneo
        Wilton Garcia

        O projeto gráfico de revistas: uma análise dos dez anos da revista
        capricho
        Ana Cláudia Gruszynski e Sophia Seibel Chassot

        Linguagem visual em design gráfico impresso e digital
        Gisela Belluzzo de Campos

        Tinindo, trincando: o design gráfico no tempo do desbunde
        Jorge Luís Caê Rodrigues

        A São Paulo do Art Déco: a memória em cartaz
        Nara Sílvia Marcondes Martins

        A roupa do moderno: representações da moda na década de 20
        (Pelotas/RS)
        Francisca Ferreira Michelon e Denise Ondina Morroni dos Santos

        O design de moda como potência de um experimento
        Rosane Preciosa

        Caminho para a gestão integrada da identidade corporativa
        Lígia Cristina Fascioni

        A gramática da forma como metodologia de análise e síntese em
        arquitetura
        Gabriela Celani, Débora Cypriano, Giovana de Godoi e Carlos Eduardo V. Vaz                                                                                           DESIGN
        Design ergonômico: uma revisão dos seus aspectos metodológicos
        Luis Carlos Paschoarelli e José Carlos Plácido da Silva

        CONEXÃO - ARTIGOS
        Análise de discurso: uma abordagem dialética
EDUCS
        Roberto Ramos                                                                                                                                                        EDUCS


                                                                                                                                                                                     Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - v.5, n. 10, jul.-dez./2006
                                                                                     EDUCS
Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - v.5, n. 10, jul.-dez./2006
CONEXÃO
COMUNICAÇÃO E CULTURA

Conselho Editorial

Prof. Dr. Antonio Hohlfeldt (PUC/RS)

Prof. Dr. Bernard Miège (ICM - Institut de la Communication et des Médias. Université Stendhal
Grenoble 3)

Prof. Dr. César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS/SE)

Profa. Dr. Cida Golin (UFRGS)

Profa. Dra. Cicilia Maria Krohling Peruzzo (UMESP/SP)

Prof. Dr. Dênis Moraes (UFF)

Profa. Dra. Doris Fagundes Haussen (PUC/RS)

Profa. Dra. Heloísa Pedroso de Moraes Feltes (UCS)

Profa. Dra. Kenia Maria Menegotto Pozenato (UCS)

Profa. Dra. Lúcia Santaella (PUC/SP)

Profa. Dra. Margarida Maria Krohling Kunsch (USP/SP)

Prof. Dr. Muniz Sodré (UFRJ)

Prof. Dr. Pierre Fayard (Poitiers - França)

Profa. Dra. Solange Medina Ketzer (PUC/RS)

Profa. Dra. Vania Beatriz Merlotti Herédia (UCS)




Editor
                                                                                                 Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - v.5, n. 10, jul.-dez./2006
Profa. Ms. Marlene Branca Sólio (UCS)

Colaboração: André Fontana (Mestrando em Letras e Cultura Regional – UCS)                                                                   www.ucs.br/cchc/deco/conexao
© dos autores
Projeto Gráfico: Perverte Design
Revisão: Ivone J. Polidoro Franco
                                                                                                        SUMÁRIO
Foto da Capa: Gustavo Pozza



                  Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
                              Universidade de Caxias do Sul
                           UCS - BICE - Processamento Técnico



          C747       Conexão – comunicação e cultura / Universidade de Caxias do                         09 |   APRESENTAÇÃO
                      Sul. Vol. 1, n. 1 (jan. 2002). – Caxias do Sul, RS: Educs, 2006.


                       Vol. 5, n. 10 (Jul./Dez. 2006) -                                                  14 |   UM DESIGN CONTEMPORÂNEO
                          Semestral                                                                             Wilton Garcia
                          ISSN 1677-0943

                          1. Comunicação. I. Universidade de Caxias do Sul.
                                                                                                         32 |   O PROJETO GRÁFICO DE REVISTAS: UMA ANÁLISE DOS DEZ
                                                                                                                ANOS DA REVISTA CAPRICHO
                                                                                  CDU: 659.3
                                                                                                                Ana Cláudia Gruszynski e Sophia Seibel Chassot

Índice para o catálogo sistemático:
1. Comunicação                                                                            659.3          60 |   LINGUAGEM VISUAL EM DESIGN GRÁFICO IMPRESSO E DIGITAL
                                                                                                                Gisela Belluzzo de Campos

                         Catalogação na fonte elaborada pela Bibliotecária
                                 Rose Elga Beber - CRB 10/1369.                                          72 |   TININDO, TRINCANDO: O DESIGN GRÁFICO NO TEMPO DO
                                                                                                                DESBUNDE
                                                                                                                Jorge Luís Caê Rodrigues
Os dados apresentados nesta obra são de inteira responsabilidade dos autores pesquisadores e de suas
fontes, incluindo: fidelidade à ortografia dos nomes de pessoas e de localidades, precisão de datas e
 outros números.
                                                                                                        104 |   A SÃO PAULO DO ART DÉCO: A MEMÓRIA EM CARTAZ
                                                                                                                Nara Sílvia Marcondes Martins
           EDUCS - Editora da Universidade de Caxias do Sul
           Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 - CEP 95070-560 - Caxias do Sul - RS - Brasil
           Ou: Caixa Postal 1352 - CEP 95001-970 - Caxias do Sul - RS - Brasil
           Telefone / Telefax: (54) 3218.2100 - Ramais 2197 e 2281 - DDR: (54) 3218.2197
EDUCS      Home-Page: www.ucs.br
124 |   A ROUPA DO MODERNO: REPRESENTAÇÕES DA MODA NA
        DÉCADA DE 20 (PELOTAS/RS)                                     APRESENTAÇÃO
        Francisca Ferreira Michelon e Denise Ondina Morroni dos
        Santos


144 |   O DESIGN DE MODA COMO POTÊNCIA DE UM EXPERIMENTO
        Rosane Preciosa
                                                                      A sociedade contemporânea elegeu, como norteadores de seu desenvolvimento, de

154 |   CAMINHO PARA A GESTÃO INTEGRADA DA IDENTIDADE                 sua própria evolução, sistemas de informação prioritariamente centrados na
                                                                      imagem. Tudo o que se pode captar por meio do olhar acaba constituindo uma
        CORPORATIVA                                                   comunicação visual, intencional ou não. Assim, o apelo visual, de design, numa
        Lígia Cristina Fascioni                                       peça gráfica/produto é fundamental.

                                                                      Paralelamente, o estudo dos processos de comunicação tem contemplado, cada vez
180 |   A GRAMÁTICA DA FORMA COMO METODOLOGIA DE ANÁLISE E                                                                   1
                                                                      mais, vieses polissêmicos e inter/transdisciplinares de análise. Falar em
        SÍNTESE EM ARQUITETURA                                        comunicação e design é falar em expressão gráfica, mas também em marketing e
        Gabriela Celani, Débora Cypriano, Giovana de Godoi e Carlos   design de produto, em engenharia. Daí, a “mistura de autores e áreas” que
        Eduardo V. Vaz                                                buscamos nesta edição da Revista Conexão. Olhares vindos de diferentes
                                                                      perspectivas são enriquecedores, sempre. Parece-nos impossível pensar o mundo
                                                                      “em compartimentos” estanques.

198 |   DESIGN ERGONÔMICO: UMA REVISÃO DOS SEUS ASPECTOS              Globalização, chip, saturação, niilismo, simulacro, hiper-real, digital, desconstrução,
        METODOLÓGICOS                                                 são palavras-chave deste momento. O movimento chamado pós-moderno por
        Luis Carlos Paschoarelli e José Carlos Plácido da Silva       alguns autores desfaz princípios, regras, valores, práticas e realidades. Ele revisita
                                                                      todos os conceitos, agrega, transforma, como uma usina recicladora. O resultado é o
                                                                      ecletismo de tendências. Nesse contexto, o design estetiza o cotidiano. A moda e a
        CONEXÃO - ARTIGOS                                             publicidade erotizam o dia-a-dia, estimulam o consumo e a posse. Assim, o pós-
                                                                      modernismo é a moeda corrente do capitalismo.


216 |   ANÁLISE DE DISCURSO: UMA ABORDAGEM DIALÉTICA                  A sociedade contemporânea caminha na direção da ênfase ao conhecimento local,
                                                                      à fragmentação, ao sincretismo, à alteridade e à diferença. Põe em colapso as
        Roberto Ramos

                                                                      1 Por interdisciplinaridade: “Síntese de duas ou várias disciplinas, instaurando um novo nível do discurso (metanível),
                                                                      caracterizado por uma nova linguagem descritiva e novas relações estruturais” (WEIL et al., 1993, p. 31). Ainda segundo os
                                                                      autores, “a transdisciplinaridade pode ser definida como um estágio superior da interdisciplinaridade, que não se contentaria
                                                                      em atingir as interações ou reciprocidades entre pesquisas especializadas, mas situaria essas ligações no interior de um
                                                                      sistema total sem fronteiras estáveis entre as disciplinas.” (Apud Basarab Nicolescu. Science et tradition. Trosisème
                                                                      Millènaire, Paris, n. 23, 1992).
hierarquias simbólicas rígidas, rompendo a barreira entre a alta-cultura e a cultura   Na sociedade contemporânea, assumem valor significativo os aspectos de design,
popular. Atenua os limites entre aparência e realidade. Vale lembrar Baudrillard e     quer falemos em produto, quer nos refiramos a mensagens. O design do produto
seu simulacro. Para o pensador, a vida contemporânea foi desmontada e                  está intimamente ligado ao marketing, ao valor de venda/consumo. O design
reproduzida num escrupuloso fac-símile. A simulação toma a forma de objetos e          gráfico, além de sustentar essa intenção com campanhas publicitárias, passa pela
experiências manufaturados, que tentam ser mais reais do que a própria realidade:      produção simbólica, pela construção do sentido. Ele vai, mais do que vender aquele
segundo Baudrillard, hiper-reais.                                                      determinado produto, “criar”, a partir dele, uma imagem/verdade, e será do
                                                                                       designer gráfico o papel de construir um discurso que “mostre” um produto
O sentido muda permanentemente. É impossível, mesmo para o autor, traduzir o           harmonioso.
verdadeiro significado de qualquer texto ou obra. Nenhuma comunicação é
eficiente. Derrida sugere que tudo o que se pode ter são jogos com possibilidades e    Ao discurso editorial de qualquer peça associa-se o discurso gráfico,
hipóteses, com suposições fundamentadas e riscos, às vezes calculados, às vezes        inteligentemente utilizado, no sentido de reforçar determinada mensagem ou, no
não.                                                                                   sentido de oferecer ao “leitor” recado complementar/subliminar, muitas vezes não
                                                                                       percebido conscientemente.
Se, de um lado, o “estado” de pós-modernidade acena com a liberdade e com o
“tudo se pode”, de outro, traz angústia e incerteza, que abalam profundamente os       Traçado esse breve mapa, convidamos nossos leitores a percorrer os caminhos aqui
indivíduos. O modernismo, por sua vez, pensou ter encontrado as respostas para os      apontados, na perspectiva de diversos autores, levando todos a um mesmo lugar: o
grandes questionamentos do homem. Levou ao desenvolvimento da ciência e da             design.
tecnologia, à supervalorização da informação; dilatou fronteiras; rompeu as
barreiras do tempo e do espaço, legando dúvidas multiplicadas, mais
questionamentos.                                                                                                                                    Marlene Branca Sólio
                                                                                                                                                    Editora
Ao contrário da modernidade, a pós-modernidade promove, na comunicação visual,
o jogo, o acaso, a desconstrução, a acumulação, a diversificação e, principalmente,
reintroduz o sujeito na atribuição de significação às mensagens visuais, até então
“engessadas” por fórmulas preestabelecidas. O século XX vai marcar dois
momentos importantes. Seu início aponta a ruptura com a tradição das belas-artes
e, o final, a ruptura com a tradição racionalista que ele havia cultivado.

Na mesma medida que traz o novo, o inaugural, o verdadeiramente inusitado, o
design contemporâneo parece conter em sua gênese uma dualidade paradoxal:
transcende, ao mesmo tempo que continua, o modernismo, pois nada recusa,
agregando tudo. Harvey nos mostra que a sociedade da modernidade quer romper
com o velho, enquanto se apóia na crença do ordenamento universal, na visão do
projeto acabado, na lógica do início, meio e fim, atualizando a vigência do
econômico, do despojado, do funcional (Bauhaus). O pós-moderno vai caracterizar-
se pelo “empilhamento”, pelo ecletismo, pela diversidade. O modernismo buscava
distanciamento do passado, enquanto o pós-modernismo o revisita, aceita a
tradição, potencializa-a e faz combinações entre seus aspectos. Não há projeto
acabado. Há, sim, o inacabado, o contínuo, o instável, o imprevisível, a rede.
DESIGN
Resumo
Este texto apresenta uma reflexão crítica                                                                                                                                                                                   2




                                                                                                                                                                                                                 Wilton GARCIA
sobre o campo do design contemporâneo,
permeado de aspectos socioculturais e
políticos. Na relação
professor/pesquisador com o contexto de
ensino-aprendizagem, tomo a
sistematização de experiências que
potencializam a discussão corpo/máquina
para explorar o caráter dinâmico do design
e da hipermídia. É preciso pensar o design
contemporâneo acompanhando as                 Abstract
(trans/de)formações do corpo e os avanços
                                              This text presents a critical reflection on




                                                                                                      design
tecnológicos. Nesse caso, imagem,

                                                                                                                                   UM
                                              some conceptual aspects in the field of
tecnologia, experiência e subjetividade são
                                              contemporary design. In the relation
inscrições do corpo no desenvolvimento da
                                              teacher/researcher with the teach-learning
criação no design, hoje. O presente texto
                                              context, I take the systematization of
(atento a temas como arte, informação,
                                              experiences that potencialize the quarrel
política e consumo) aponta e registra
                                              body/machine to explore the dynamic
estudos contemporâneos como eixo
                                              character in design and hypermedia. It is
teórico-metodológico dessa investigação.
                                              necessary to think about contemporary
                                              design following (trans/de)formations of
Palavras-chave
                                              the body and the technological advances.
Design; corpo; imagem; tecnologia;            In this case, image, technology, experience


                                                                                             contemporâneo
estudos contemporâneos.                       and subjectivity are inscriptions of body in
                                              the development of creativity in design,
                                                                                                                                                                                 1
                                              today. The present text (intent to the
                                              subjects as art, information, politic and
                                              consumption) points and to registe the
                                              contemporary studies as axle theoretician-     1 Agradeço ao grupo de pesquisas Design: criação e novas mídias, da Universidade Anhembi Morumbi pelo apoio
                                                                                             institucional no desenvolvimento deste trabalho, que faz parte da minha pesquisa, em processo, Design, corpo, imagem e
                                              methodological of this inquiry.                tecnologia: estudos contemporâneos.

                                                                                             2 Artista visual e pesquisador de cinema, fotografia, vídeo e imagem digital investigando sobre o corpo. É Doutor em
                                              Key words                                      Comunicação e Estética do Audiovisual pela ECA/USP e Pós-Doutor em Multimeios pelo IA/Unicamp. Atualmente, é
                                              Design; body; image; technology;               pesquisador e professor no Programa de Mestrado em Design, da Universidade Anhembi Morumbi. Autor do livro Corpo,
                                                                                             mídia e representação: estudos contemporâneos (2005), entre outros. E-mail: wgarcia@anhembi.br
                                              contemporary studies.
São muitas                          as variantes que compreendem os aspectos                                           Muito mais que abordar exclusivamente questões
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                                                                                                                                                                                                                             17
                                                                               socioculturais e políticos do campo do design                                        teórico-metodológicas, falo de um design
                                           contemporâneo. Hoje, esses aspectos envolvem o design e elegem a vida social                                              contemporâneo comprometido com questões
                                           como instigante referência para se pensar produção e consumo no mercado                                                    socioculturais e políticas. Essas questões
                                           globalizado. É o caso de artefatos, objetos, produtos e imagens, os quais se refazem          A inscrição                  sobrepõem a experiência subjetiva que aproxima
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.




                                                                                                                                                                                                                             Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006
                                           em abundantes proporções para atender às distintas expectativas dos cenários                                               o design, sua produção, a relação do corpo e a
                                           nacional e internacional.                                                                                                  qualidade humana. Insisto em realizar minhas
                                                                                                                                                                     pesquisas marcando-as com um posicionamento
                                           É claro que o design e suas relações com a sociedade variam de acordo com o                                               que investe uma dinâmica reflexiva sobre o
                                           contexto social, cultural e/ou político no qual estão inseridos em uma profusão de                                        desenvolvimento da qualidade humana.
                                           efeitos intermultitransdisciplinares. (COUTO; OLIVEIRA, 1999). Entre design e                                           (KRIPPENDORFF, 2000).
                                           sociedade, há uma pluralidade de representações que se inscrevem como produtos,
                                           serviços, técnicas, artefatos, objetos e, até mesmo, estratégias – como da               A possível preocupação dessa abordagem de cunho sociocultural e político não
                                           arquitetura à decoração, da arte à comunicação, da publicidade à moda. Nesse             retira, nem restringe, o caráter criativo no exercício do design contemporâneo. Pelo
                                           entorno de possibilidades, é necessário discutir os parâmetros de uma agenda de          contrário, contribui para o rendimento de diversos enfoques, sobretudo na trilha das
                                           debates na arena do design, ainda mais no Brasil. Falo de uma agenda do design           novas tecnologias digitais em particular a hipermídia.
                                           contemporâneo (NOJOSA, 2005) que oriente a inclusão social – diferença e
                                           alteridade. A diferença aqui seria enunciar os traços de singularidade que assinam a     As transformações provocadas pela hipermídia, cada vez mais, articulam a relação
                                           massificação da produção cultural contemporânea. O que fazer quando tudo é               design, corpo e tecnologia diante da arquitetura virtual e do espaço imersivo lotado
                                           muito parecido?                                                                          de alternativas múltiplas e imprevisíveis. Transformações que alternam as
                                                                                                                                    manifestações das coisas, promulgam desafios conceituais. Essas transformações
                                           O foco deste texto é uma reflexão crítica sobre o campo do design contemporâneo,         podem ser vistas/lidas como avatares tecnológicos que promovem,
                                           permeado de aspectos socioculturais e políticos. Assim, o debate inscreve uma            estrategicamente, as condições adaptativas dos dispositivos digitais na atualidade.
                                           discussão sobre produção, circulação e consumo do design, atento a aspectos
                                           socioculturais e políticos. Tento expor alguns desafios empíricos e conceituais no       Uma cartografia labiríntica aciona vestígios instrumentais da escritura hipermidiática
                                           campo do design.                                                                         agregada pela avidez dos hipertextos: estruturas maximadoras do texto, que se
                                                                                                                                    auto-extrapolam em seu contexto. Texto que aqui deve ser tomado como unidade
                                           São momentos distintos, que se retroalimentam como proposta expositora de idéias         mínima de representação, portanto, reveste-se também de uma dimensão visual,
                                           e visam à urgência de discussões acerca do design, no contemporâneo. Abordo              sonora.
                                           algumas inquietações, noções e conceitos que navegam pela produção do saber e
                                           do conhecimento no design, do corpo e da hipermídia, a fim de investigar uma             Nessa escritura hipermidiática, o deslocamento do usuário-interator ocorre com a
                                           dimensão crítica nos âmbitos sociocultural e político.                                   experiência da navegação na cibercultura, uma vez que o espaço, em especial o 3D,
                                                                                                                                    dilata e expande as alterações paulatinamente. Ao considerar a remodelação dos
                                           Realizadas tais considerações preliminares, passo a assinalar quatro tópicos             objetos em sua extensão representacional diante da expressão hipermidiática,
                                           reflexivos: A inscrição; Brevidades conceituais; O pensar e o fazer; e Design, design.   observa-se uma recombinação de dados que legitima a (re)formatação dinâmica da
                                           Tópicos que equacionam, neste momento, minhas impressões sobre o design                  hipermídia.
                                           contemporâneo, que constitui uma escritura crítica – exemplificada por experiências
                                           e subjetividades – em uma investigação sociocultural e política. Nessa investigação,
                                           tento investir e aproximar a noção de corpo como eixo poético do design que se
                                           atualiza, eminentemente, pela linguagem.
Segundo Arlindo Machado:                                                                     O desejo aparece, nessa citação, como eixo enigmático, que recontextualiza
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                                                                                                                                        “novas/outras” idéias e gera conceitos. É no desdobramento previsto no
                                                Através de suas bifurcações, de suas proposições múltiplas e ambíguas,                  contemporâneo que se permeiam design, corpo, imagem, tecnologia e,
                                                das ligações móveis e provisórias entre suas partes, a hipermídia permite               respectivamente, ocorre o procedimento de elaboração de um objeto, (de)marcado
                                                representar o pensamento não assentado dos espíritos que contendem                      pelo desejo. Desejo que se reveste da enunciação sociocultural e política, atrelada
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.




                                                                                                                                                                                                                              Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006
                                                entre si, como a confirmar a máxima de Mikhail Bakthin de que a                         ao escopo do digital. Um desejo singular que impulsiona a possibilidade criativa,
                                                verdade tem sempre uma expressão polifônica. (1997, p. 148).
                                                                                                                                                     pautada pela emergência de debates ao acionar o desenvolvimento da
                                                                                                                                                        qualidade humana, atrelado às novas tecnologias. Nesse caso,
                                           Essa articulação explosiva da hipermídia desdobra diferentes possibilidades de                                 evocam-se as circunstâncias da hipermídia.
                                           acolher, armazenar e distribuir informações em forma de texto, imagem, som,
                                           gráficos, etc. Aquilo que ultrapassa a predicação do objeto retraduz um lugar de                                          Design e hipermídia co-existem a partir do momento
                                           propriedade complexa, que, por ora, se intitula hipermídia.                                                                    em que se obtém a configuração sobre o
                                                                                                                                                                             encontro corpo/máquina no contemporâneo.
                                                                                                                                                        ia
                                                                                                                                                    rmíd
                                           Nesse sentido, a noção de hipermídia – um marco transitivo de adequações,                                                            Corpo e máquina dialogam suas
                                           ajustes, interesses, sinalizações, enquadramentos e flexibilidade como indicação
                                                                                                                                            e  hipeem to                          potencialidades de acordo com a

                                                                                                                                       signo-exist omen a
                                           tecnológica – pode ser um elo que (inter)media a relação corpo/máquina na                                                               possível extensão humana (McLUHAN;
                                           internet. Mais que isso, biotecnologia, hibridismo, robótica, interface e hipertexto      de c                                           STAINES, 2005), que caracteriza a
                                           são noções circunstanciais que coabitam a aplicação dinâmica da hipermídia em
                                                                                                                                            ir do m btém                             estratificação versátil da hipermídia.
                                           diálogo com o corpo ontologizado pela natureza digital da cibercultura. A rede
                                                                                                                                      a partque se oração ro
                                                                                                                                         m onfigu ncont a
                                           mundial de computadores convoca o usuário-interator para realizar uma visita                                              A hipermídia, neste caso, hibridiza
                                           virtual, atualizada pela hipermídia na contemporaneidade.                                    e c          e
                                                                                                                                                                     as fronteiras entre corpo e máquina.

                                                                                                                                                re o/máquinneo máquina como extensão gerativa de
                                                                                                                                                                     Um interstício imbrica corpo e
                                           A produção de artefatos, a partir da teoria crítica da indústria cultural, vincula-se à         sob rpo porâ
                                           ordem sociocultural e política. (DUARTE, 2003). Assim, o design contemporâneo, em
                                                                                                                                             co ontem              imagens que camuflam as partes. É

                                                                                                                                              oc
                                           consonância com as diretrizes socioculturais e políticas, amplia uma reflexão crítica                                  uma associação embrionária que a
                                           sobre o compartilhar de uma sensibilidade ética, marcadamente pelo                               n                   hipermídia e sua pluralidade manipulam
                                                                                                                                                              as extremidades desse contágio
                                           desenvolvimento da qualidade humana.
                                                                                                                                                                          corpo/máquina. Não se trata de uma metáfora,
                                           Para tratar de aspectos socioculturais e políticos que agenciam/negociam a relação                                        grosso modo, trata-se de uma verificação.
                                           design e corpo, recupero as considerações de Humberto Maturana:
                                                                                                                                           Portanto, parto da premissa de que a arena do design se atualiza quando
                                                                                                                                           ambienta, estrategicamente, sua discursividade em um contato tecnológico com
                                                A questão que nós seres humanos devemos enfrentar não é o que                              o orgânico. Ainda que esse debate configure-se para além do orgânico úmido a
                                                queremos que nos aconteça, não é uma questão sobre o conhecimento                          nova ordem do corpo equaciona novas sensibilidades, a partir dos códigos
                                                ou o progresso. A questão que devemos enfrentar não é sobre a relação                      digitais e suas sintetizações tecnológicas. Elabora-se o panorama mediador do
                                                entre a biologia e a tecnologia, ou sobre a relação entre a arte e a                       instrumental maquínico articulado nessa relação corpo/máquina que instaura o
                                                tecnologia, nem sobre a relação entre o conhecimento e a realidade, nem
                                                                                                                                           design.
                                                mesmo se o metadesign molda ou não nosso cérebro. Penso que a
                                                questão que precisamos enfrentar nesse momento de nossa história é
                                                sobre nossos desejos e sobre se queremos ou não ser responsáveis por
                                                nossos desejos. (2001, p. 173).
De acordo com Luiz Antonio Coelho,                                                   E, ainda assim, testemunham-se os efeitos que essas transformações, hoje,
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                                                                                                                                                                                                                          21
                                                                                                                                conferem diferentes anotações no campo do design diante do fazer humano. E,
                                                o fato de a matéria ser ou não orgânica, viva ou inerte, não a impediria        nesse fluxo, urge a possibilidade da elaboração de um pensamento criativo em
                                                de ser centrada como objeto para o designer [...]. O corpo humano, nesse        favor de um design contemporâneo. Acredito que essas transformações
                                                caso, torna-se um objeto e um meio de comunicação com todo o                    tecnológicas passam a existir mediante o fazer humano e a sua possível integração
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.




                                                                                                                                                                                                                          Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006
                                                potencial de constituir um sistema de mídia e de impactar o ambiente            híbrida entre corpo/máquina.
                                                social. O corpo humano hoje e passível de projeto e construção nos
                                                mesmos padrões do objeto inanimado. Há inúmeros exemplos em que o
                                                                                                                                A exposição do produto e do corpo investe uma maquiagem estratégica do
                                                corpo é manipulado como matéria e torna-se objeto de construção para
                                                esteticistas. (2001, p. 100).                                                   marketing, capaz de retardar as artimanhas para o consumo.

                                                                                                                                Jurandir Freire Costa afirma:
                                           As palavras desse pesquisador enfocam o corpo no âmbito do design, ao realizar
                                           uma efetiva comparação que (re)inscreve a comunicação desse corpo como objeto e           O aumento da produtividade industrial influiu, de modo decisivo, na
                                           mediação. Não se trata, exclusivamente, de uma substituição do corpo pelo                 transformação imaginária do trabalho em labor. O avanço tecnológico, a produção
                                                                                                                                     de bens industriais em grande escala, a melhoria das condições de vida dos
                                           artefato, mas sim, de uma aproximação que de forma circunstancial prevalece como
                                                                                                                                     operários e a criação de um mercado de compradores despiram o trabalho de seu
                                           sistema midiático. Entre os dispositivos técnicos e o corpo, associa-se um mapa de        caráter artesanal. A velocidade com que os novos bens eram produzidos e
                                           idéias criativas cujo universo do design se apropria de forma direta.                     vendidos mudou o sentido do ato de fabricar e do de comprar. Quem produzia não
                                                                                                                                     se percebia mais como autor de coisas feitas para atender [às] necessidades reais,
                                           A lógica que expõe diferentes estratificações textuais ampara uma natureza                mas para serem vendidas, sendo ou não necessárias. Vender, e não fazer coisas
                                           circunstancial para (inter)mediar design e corpo. É o corpo que inscreve o sujeito        úteis, se tornou a meta final da produção. (2004, p. 133).
                                           social na cena do design. “O corpo material é o que compartilhamos de forma mais
                                           significativa com todo o resto da nossa espécie, estendida tanto no nosso tempo      Observa-se que o consumo de objeto/produto em larga escala (massificada e
                                           como no espaço.” (EAGLETON, 2005, p. 212). Verifica-se essa associação ao            industrial) é algo perene, porém constante na sociedade capitalista. (DUARTE,
                                           observar o desdobramento do design e corpo em sua atualização sociocultural e        2003). Estrategicamente, torna-se necessário ponderar as novas subjetividades da
                                           política com a biotecnologia, as próteses, as cirurgias (plásticas) estéticas.       experiência cotidiana artística, mercadológica, midiática, sociocultural e/ou
                                                                                                                                tecnológica que incorporam dados competentes ao objeto.
                                           Da linha de montagem ao mercado, os produtos de design são, agora, divulgados
                                           pela mídia na frenética intensidade da cultura digital. Observa-se que,              No contemporâneo, fórmulas, tendências e fundamentos teóricos se alteram aos
                                           paralelamente, o corpo também é explorado como mecanismo desse discurso              poucos sem, necessariamente, operacionalizar alguma síntese. A inscrição do
                                           hipermidiático. Assiste-se a um percurso visceral, em que se perpetua a imanência    design (de embalagem, gráfico, produto, moda ou digital) e suas atividades somam
                                           (inter)subjetiva da exibição de marcas na mídia como imagem recorrente de uma        um fecundo território multifacetado de criação, muito maior do que a simples
                                           dimensão mercadológica, que muda a vida cotidiana.                                   compreensão de uma leitura crítica possa indicar. Diante desse contexto, imagine a
                                                                                                                                expansão da imagem corpórea que atualiza a representação do corpo em
                                           Essas mudanças são provocadas por transformações tecnológicas que se                 contraponto ao design na sociedade de hoje em dia.
                                           dinamizam pelo intenso uso do computador. Modificam-se os parâmetros
                                           referenciais do cotidiano, seguindo a influência das novas tecnologias digitais.     Diante desses pressupostos, como elaborar investigações a partir do design, hoje?
                                           Nessa disposição, observa-se que na área do design também seguem                     Como pensar a prática projetual do design diante das novas tecnologias? Como o
                                           transformações abruptas, que criam novas possibilidades e caminhos para se           design se relaciona com a sociedade hipermidiática? Qual a responsabilidade do
                                           pensar a representação e a sociedade.                                                designer neste contexto? Como isso é mediado no território que sistematiza design
                                                                                                                                e corpo?
Mais que uma questão de pesquisa, a força do design elege teoria e prática juntos,    complexo que envolve o processo de apreensão do objeto (i)material. Entre design e
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                                                                                                                                                                                                                                                                23
                                           para adentrar no universo da cultura. A cultura, portanto, (re)desenha dados          corpo, tento enfocar uma perspectiva reflexiva e conceitual do objeto (i)material. 3
                                           capazes de prenunciar a história dos artefatos. Ao repensar o estatuto do objeto no
                                           ambiente tecnológico da hipermídia, observam-se as práticas culturais atuais e os     As anotações reflexivas sobre o objeto (i)material podem ser verificadas nas redes
                                           “novos/outros” paradigmas que diversificam as concepções de mundo.                    de coordenadas discursivas no contemporâneo. Ao exagerar no uso de prefixos,
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.




                                                                                                                                                                                                                                                                Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006
                                                                                                                                 tento reverter a possibilidade de um prisma mais aberto e dinâmico que intenciona
                                           A cultura dilata a percepção humana em uma espiral de infinita predisposição de       ainda mais expandir seus efeitos de sentido, trazidos por uma polifonia imagética e
                                           incertezas. O desenvolvimento humano, na verdade, inscreve os princípios que          incorporada pelas diretrizes dos artefatos. Essas diretrizes proporcionam as
                                           fazem nascer a sistematização da cultura. (EAGLETON, 2005). Ou seja, relacionar       modificações no estatuto do objeto (i)material. Elas existem a partir do momento em
                                           uma atividade projetual do design não é suficiente para representar atribuições       que se obtém a dimensão (i)material do objeto, muito além de forma/conteúdo,
                                           específicas dadas pela cultura. A cultura, dessa forma, desperta para diretrizes      com a configuração de um hibridismo cultural.
                                           flexíveis e evidencia “novos/outros” resultados.
                                                                                                                                 A composição e a transformação das coisas pelo design implicam repensar,
                                           O design pode e deve ser uma experiência aberta, que aproxima uma estrutura           criticamente, apresentação e representação dos objetos (i)materiais em seus
                                           singular em sua complexa realidade cultural. É na cultura que as transformações       diferentes estágios: do projeto ao planejamento, da produção à execução: o que
                                           tecnológicas do objeto instauram-se subterfúgios competentes. Isto é, o desenrolar    ressalta uma assinatura. Nesse conjunto, há um estado inebriante de possibilidades
                                           da ação do design prioriza suas relevâncias que incrementam o projeto e a criação.    de saberes do campo do design que almejam dar forma ao raciocínio cognitivo,
                                                                                                                                 programado para as artimanhas de uma estratégia discursiva: a enunciação do
                                           Existe uma ampliação mais significativa no contexto do design, que demonstra sua      objeto (i)material em sua singularidade criativa – o diferencial.
                                           execução e funcionalidade, ao extrapolar a (inter)mediação entre idéia e
                                           planejamento. Nota-se a mudança em sua conceitualização no processo de                Desnecessário dizer que não se trata de procurar diretamente análise, interpretação,
                                           investigação e solução projetual no design contemporâneo. (NOJOSA, 2005).             significação. Basta estabelecer o convívio com o resultado, tangível em um registro.

                                                                                                                                 Com efeito, o desdobramento conceitual que pretendo apresentar se concretiza
                                                                                                                                 pelos chamados estudos contemporâneos, os quais elegem diferentes abordagens
                                                                                                                                 teórico-metodológicas para fomentar intercâmbios relativos aos estudos culturais
                                                                        Aqui, a idéia é concentrar a atenção sobre os efeitos    (BHABHA, 1998) e suas variantes – multiculturalismo, pós-colonialismo e diás-
                                                                         que a imagem do artefato produz e expandir suas         poras – com o desenvolvimento das tecnologias digitais. (GARCIA, 2005).
                                                                          (de)marcações outrora fixas, cristalizadas.
                                                                           Interessa ponderar a superfície imagética, sua        Nesse sentido, os estudos contemporâneos mapeiam diferentes conceitos, teorias,
                                                Brevidades                 representação visual/figural, seu efeito e não o      métodos, técnicas e críticas para realizar (inter)mediações de experiências atuais,
                                                Conceituais                produto em si. É nessa brevidade conceitual que       cujos aspectos sincréticos reforçam as malhas (inter/trans)textuais e revelam um
                                                                           desafio o encontro design-corpo.                      registro aberto em constante transformação. Esses estudos atualizam a cooperação
                                                                                                                                 entre globalização, ecologia e novas tecnologias (EAGLETON, 2005), cujo objetivo
                                                                           Dispor do campo do design, assim, seria organizar     concentra-se na prestação de serviço e/ou responsabilidade às sociedades
                                                                           um olhar flexível que digere os elementos             políticas.
                                                                        projetuais, para ampliar a experiência do design e
                                           sua (inter)subjetividade. Nesse sentido, almejo e qualifico, para mero
                                                                                                                                 3 A expressão – objeto (i)material – é o fio condutor para instaurar o caminho discursivo deste estudo. Portanto, a noção de
                                           entendimento, uma leitura descritiva, hábil na verificação estendida do simples ao
                                                                                                                                 objeto (i)material aqui deve ser ressaltada como articulação estrategicamente comprometida com a manifestação
                                                                                                                                 contemporânea daquilo que possa ser constituído tanto no design de produto quanto no design de hipermídia, respeitando
                                                                                                                                 suas devidas características e diferenças: dos dispositivos à relação tempo-espaço.
Evidentemente, as teorias da nova economia e do mercado globalizado, como a             contemporâneo tange a atualização da linguagem, ou seja, elabora-se a expectativa
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                                                                                                                                                                                        25
           tecnologia da informação, por exemplo, especulam sobre o uso do produto e sua           de desenvolvimento das idéias sobre os produtos e a produção em design. Assim,
           propriedade, enquanto estado aquisitivo das coisas. De acordo com os estudos            também se observa a mudança da relação professor/pesquisador com o contexto
           contemporâneos, a relação entre consumidor e usuário passa por surpreendentes           de feitura ao ensino-aprendizagem, pois, cada vez mais, os enfrentamentos se
                                                                                                   renovam paulatinamente. Incluem aqui os aspectos socioculturais e políticos que




                                                                                                                                                                                        Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006
           transformações, às quais todos devem estar atentos, incluindo aí o profissional do
           design. Aqui, pretende-se pensar a participação e a interação do público-               redimensionam design e corpo.
           consumidor.
                                                                                                   As atualizações conceituais, efetivamente, esboçam a área dos estudos
               Assim, utilizo os estudos contemporâneos como espaço teórico-metodológico           contemporâneos em sua intensidade descritiva. Esse movimento meticuloso dos
                 para inscrever os critérios de uma reflexão teórico-política – para além dos      estudos contemporâneos serve para tentar atualizar o desenvolvimento de idéias e
                   enfrentamentos pós-marxistas e pós-estruturalistas. Claude Lévi-Strauss,        conceitos, cujas novas derivativas estão empenhadas na promoção cultural do
                            Edward Said, Felix Guatari, Gilles Deleuze, Jacques Derrida, Jacques   conhecimento. Aciona-se, com isso, um olhar investigativo sobre as inovações
                                 Lacan, Frederic Jameson, Julia Kristeva, Michel Foucault,         temáticas em especial aqui atreladas ao campo reflexivo do design em suas
                                     Roland Barthes, Theodor Adorno ou Walter Benjamin são         ramificações de redes de coordenadas discursivas da hipermídia, juntamente com o
                     é                                                                             pensar e o fazer.
                bém campo
                                       nomes que podem ilustrar um pouco mais o panorama
            am
        m, t rrer aobservar s
                                          que se expande do pensamento pós-moderno ao

   assi reco a o eito                      contemporâneo. Imagine se esses autores
      o        ar      nc                   estivessem vivendo, hoje, a experiência da
 recis esign p dos co tos
p d                                          hipermídia, em particular o universo da internet
  do fluênciaedimen rtir dass                na atualidade da banda larga. Quais seriam os

  a in e proc os a paalizada                 paradigmas apontados por eles na compreensão
             ad      tu                      filosófica de mundo contemporâneo? Quais
         taurlogias aternet
                                                                                                                                    Na esteira dos estudos contemporâneos, teço
     ins no         n
                                            seriam suas contribuições?
                                                                                                          O pensar                   considerações que possam servir de elemento
       tec pela ida larga                                                                                 e o fazer                  norteador para se pensar ensino-aprendizagem

               ban
                                Assim, também é preciso recorrer ao campo do                                                         diante do tema design contemporâneo e tendo o
                              design para observar a influência dos conceitos e                                                     corpo como atrativo estratégico, pois é no fazer
                                   procedimentos instaurados a partir das tecnologias                                               que o corpo age, como é no pensar que o corpo
                              atualizadas pela internet banda larga. Há um espaço para esse                                         sente. (GARCIA, 2005). Nada no design está fora
           tipo de debate no âmbito do design? O que o designer produz, atualmente, diante                                         do corpo. Essas intenções entre o pensar e o fazer
           dessas novas ferramentas implementadas pela internet de banda larga? O que isso                                       culminam na elaboração de estratégias que
           influencia também no consumo?                                                           (inter)cambiam a inscrição do design contemporâneo. (COUTO; OLIVEIRA, 1999).

           Muito mais do que se possa articular a partir do paradigma da hipermídia, da            Particularmente no design, a passagem temporal que mostra a coisa como resultado
           manifestação do objeto e/ou da sua recepção, a lógica dos estudos                       de uma idéia permite refletir acerca do processo de elaboração do projeto e da sua
           contemporâneos sistematiza a acoplagem do design e corpo, na relação inteligível-       fabricação. Da idéia à sua expressão, há um território subjetivo de tempo-espaço
           sensível com o mundo, cuja competência encontra-se na descrição crítica do corpo        que o corpo experimenta – seja do designer, na criação ou do usuário/interator, no
           expandido.                                                                              consumo. Nessa malha, a relação tempo-espaço também ajuda na (re)dimensão
                                                                                                   crítica do pensar e o fazer.
           Dessa forma, este trabalho pesquisa ações emergentes – a base conceitual
           (transdisciplinar) dos estudos contemporâneos. Nesse caso, a idéia de
Ao compartilhar a transformação da matéria-prima em objeto e/ou serviço, o design           Descobrir como fazer para que tudo o que fazemos e pensamos se
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                                                                                                                                                                                                                          27
                                           tenta aperfeiçoar o processo de criação, procurando instaurar-se pelo planejamento          relacione com tudo o que sentimos e sabemos é a grande chave para o
                                           de idéias e concepções estudadas para o desenvolvimento investigativo. A                    desenvolvimento de outras dimensões do Design. O Design deve ser
                                                                                                                                       entendido não apenas como uma atividade de dar forma a objetos, mas
                                           investigação, nesse sentido, torna-se uma atividade de busca pelo conhecimento
                                                                                                                                       como um tecido que envereda o designer, o usuário, o desejo, a forma, o
                                           humano, tendo em vista que a descoberta amplia o olhar quando descortina o
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.




                                                                                                                                                                                                                          Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006
                                                                                                                                       modo de ser e estar no mundo de cada um de nós. (COUTO; OLIVEIRA,
                                           exercício de profundidade entre o pensar e o fazer – traduzidos pela ponte entre a          1999, p. 9).
                                           idéia e a coisa feita.

                                           A inquietação que aponta essa passagem da idéia à coisa confeccionada apresenta
                                           um ato perceptivo/cognitivo que estabelece sua resultante entre o pensar e o fazer,                      A citação acima, didaticamente, indica as diversas etapas que o
                                           próprios da condição adaptativa de pressupostos humanos. Perceber o mundo é a                             design perpassa para realizar suas atividades entre o pensar e o
                                           oportunidade de ver/ler os objetos/produtos, denominados pela sua relação com o                                 fazer. O exercício crítico dessa citação faz do design uma
                                           corpo. Do pensar ao fazer, formaliza-se um eixo de composições articuladas em uma                                       arena de debates investigativos que incorpora
                                           metodologia própria das atualizações tanto da percepção quanto da feitura.                                                  interdisciplinarmente as aberturas das ciências
                                                                                                                                                                           humanas para o aproveitamento de

                                                                                                                                              esign taurar
                                           Mas, nesse caso, é relevante ponderar a dinâmica entre pensar e fazer como                                                        resultados. “Descobrir como fazer para
                                                                                                                                             d
                                                                                                                                         e aoneo ins s que
                                           extensão gerativa dos produtos, sem, necessariamente, advir uma imagem                                                              que tudo o que fazemos e pensamos se

                                                                                                                                     cab orâ
                                           positivista de progresso. É evidente que há um desenvolvimento quando se conclui                                                      relacione com tudo o que sentimos e
                                                                                                                                                    e
                                           um projeto; no entanto, há também um enlace de subjetividades que assinalam
                                                                                                                                         p ediaçõ inhos                            sabemos é a grande chave”, cujo

                                                                                                                                   ntemter)m s cam e se
                                           aspectos socioculturais e políticos.                                                                                                     embatimento reforça a clareza entre
                                                                                                                                 co (in       o       u                             o pensar e o fazer no design. Mais
                                           É preciso enveredar poeticamente – o pensar e o fazer – num modo estratégico de        as cerçam rojeto q to, de                         que isso, também relaciona o corpo.
                                           assegurar que os esforços para beneficiar a sociedade, e que essas manifestações
                                                                                                                                    ali um p produ te.                          O processo do fazer criativo no
                                           do objeto projetado pelo design estejam em sintonia com a inovação sustentável.
                                                                                                                                      de uz em ficien                          design, hoje, requer articular uma

                                                                                                                                      trad modo e
                                           Sustentabilidade (de)marca uma importante característica para se pensar o futuro
                                           da sociedade. Assim, a reflexão e a feitura são dois elementos que comportam a                                                    estratégia conveniente para enunciar o
                                           articulação entre o pensar e o fazer e estabelecem uma poética aberta, em                                                       produto como elemento fundamental ao
                                           constante transformação.                                                                                                      sistema; sistema esse pautado pelas
                                                                                                                                                                      tecnologias digitais da hipermídia. Assim,
                                           O pensar e o fazer fomentam, nesse caso, uma situação extremamente fecunda para                                        pode-se considerar que as (trans/de)formações do
                                           enunciar a criação do projeto, que estratifica a organização operacional e a                                     objeto/produto, implicam, também, a reflexão das
                                           manufatura do objeto mediante a máxima desprendida do sentido polifônico do                  possibilidades de (re)dimensionar o campo do design em atenção às
                                           conhecimento; projeto que precisa ser bem-estudado para apontar estratégias                  categorias corpo, imagem e tecnologia, em estágio fronteiriço entre o pensar e
                                           eficientes.                                                                                  o fazer.

                                                                                                                                        Uma fusão de estados cada vez mais hibridizados anuncia a linguagem
                                                                                                                                        contemporânea. Cabe ao design contemporâneo instaurar as
                                                                                                                                        (inter)mediações que alicerçam os caminhos de um projeto que se traduz em
                                                                                                                                        produto, de modo eficiente. (COELHO, 2001; NOJOSA, 2000).
isso, o design é um modo de pensar uma ampliação conceitual acerca da
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                                                                                                                                                                                                                          29
                                                                                                                                  (re)modelação do objeto/produto, hoje.

                                                                                                                                  As estratégias desse profissional focado em solução criativa e inovadora são de
                                                                             Vários conceitos dentro de diferentes contextos      grande valor sociocultural, por levantar questões coerentes e conceber instrumentos
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.




                                                                                                                                                                                                                          Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006
                                                   Design,                   abrangem algumas tendências para considerar o        possíveis para que as coisas ganhem força e se estabeleçam como objeto da
                                                   design                    campo do design, o que não quer dizer                cultura. No entanto, tento acionar a percepção do leitor para lembrar que, em
                                                                             diretamente que consigam de fato. Portanto, esse     design, os imperativos culturais e identitários freqüentemente ressaltam arestas.
                                                                            texto debate, de forma interdisciplinar, uma rede
                                                                            de coordenadas discursivas entre cultura,
                                                                            linguagem e subjetividade, ao observar a
                                                                           qualidade humana (KRIPPENDORFF, 1999). Entre
                                                                     elas – cultura, linguagem e subjetividade – emergem o
                                           embatimento de novos saberes na produção do conhecimento, incluindo, assim, os
                                           desafios conceituais da experiência cotidiana.

                                           A noção de design apreendida, aqui, está baseada em uma competência integrada,
                                                                                                                                  Para finalizar, considero que este texto direciona, em seu escopo, alguns caminhos
                                           estrategicamente aos universos sociocultural e político. É nesse veio que submerge
                                                                                                                                  socioculturais e políticos que sistematizam, cada vez mais, os novos procedimentos
                                           uma dimensão sociocultural do design como sustentabilidade inovadora da
                                                                                                                                  de dispositivos hipermidiáticos de design, e corpo, sobretudo com o papel
                                           produção do conhecimento. Em síntese, nesse desafio acerca do design
                                                                                                                                  crescente na cena digital. Nessa mesma onda, os meios tecnológicos (eletrônicos e
                                           contemporâneo, o benefício de indicar os universos sociocultural, ideológico e
                                                                                                                                  digitais) de (re)produção e difusão da informação no contemporâneo sistematizam-
                                           político de uma produção de conhecimento pode legitimar um percurso conceitual
                                                                                                                                  se pela retomada diferencial da teoria crítica na indústria cultural. (DUARTE, 2003).
                                           que pressupõe, eminentemente, um posicionamento, sobretudo com a inscrição do
                                           corpo. (GARCIA, 2005).
                                                                                                                                  Assim, é legítimo apontar que essas reflexões não são de uma ontologia crítica
                                                                                                                                  sobre a inscrição do design contemporâneo, mas acionam alguns vestígios
                                           Há aí a possibilidade de reunir diferentes posturas e olhares para agraciar, em um
                                                                                                                                  circundantes acerca do corpo ao campo, e mais ainda: imagem, tecnologia,
                                           mesmo espaço, estudantes, pesquisadores e profissionais da área de design, com
                                                                                                                                  experiência e subjetividade.
                                           suas variantes discursivas. Nessa proposta, a integração social é um somatório de
                                           valores agregados ao produto e à marca do design, cujos benefícios devem estar
                                           respaldados no desenvolvimento humano. Dito de outra forma, a arena do design
                                           ressalta uma flexibilidade em que corpo, imagem e tecnologia colaboram com esses
                                           valores. Essa colaboração no design deve ressaltar a leitura crítica desses aspectos
                                           socioculturais e políticos. (EAGLETON, 2005).

                                           Dessa forma, o design destaca-se como atividade ampla e complexa que envolve
                                           diferentes fases de pesquisa, pensamento estratégico (aperfeiçoamento técnico),
                                           diante da capacidade de articular e implementar resultados para chegar ao produto
                                           como resultante provisória, pois ainda cabe ser consumida. É evidente que o design
                                           cria produto/marca para ser consumido, embora de forma efêmera. Vale ressaltar
                                           que ele não é algo apenas sobre a criação de coisas ou objetos; muito mais que
MATURANA, Humberto. Cognição, ciência e vida cotidiana. Trad. de Cristina Magro e
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                                                                                                                                                                                                                        31
                                                                                                                                    Victor Paredes. Belo Horizonte: UFMG, 2001.

                                                                                                                                    McLUHAN, Stephanie; STAINES, David (Org.). Mcluhan por Mcluhan: conferências e
                                                                                                                                    entrevistas. Trad. de Antonio de Pádua Danesi. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.




                                                                                                                                                                                                                        Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006
                                                 Referências                                                                        NOJOSA, Urbano (Org.). Design contemporâneo. São Paulo: Nojosa Edições, 2005.




                                           BHABHA, Homi K. O local da cultura. Trad. de Myriam Ávila, Eliana L. L. Reis e Gláucia
                                           R. Gonçalves. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

                                           COELHO, Luiz Antonio. Na superfície da mídia. Revista Estudos em Design, Rio de
                                           Janeiro: PUC/RJ, v. 9, n. 1/2, p. 93-106, 2001.

                                           COSTA, Jurandir Freire. O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do
                                           espetáculo. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.

                                           COUTO, Rita Maria de Souza; OLIVEIRA, Alfredo Jefferson de (Org.). Formas do
                                           design: por uma metodologia interdisciplinar. Rio de Janeiro: 2AB, 1999.

                                           DUARTE, Rodrigo. Teoria crítica da indústria cultural. Belo Horizonte: UFMG, 2003.

                                           EAGLETON, Terry. Depois da teoria: um olhar sobre os estudos culturais e o pós-
                                           modernismo. Trad. de Maria Lúcia Oliveira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
                                           2005.
                                           GARCIA, Wilton. Corpo, mídia e representação: estudos contemporâneos. São Paulo:
                                           Thomson Learning, 2005.

                                           KRIPPENDORFF, Klaus. Design centrado no ser humano: uma necessidade cultural.
                                           Trad. de Gabriella Meirelles e Lucy Niemeyer. Revista Estudos em Design, Rio de
                                           Janeiro: PUC/RJ, v. 8, n. 3, p. 85-95, 2000.

                                           MACHADO, Arlindo. Hipermídia: o labirinto como metáfora. In: DOMINGUES, Diana
                                           (Org.). Arte no século XXI: a humanização das tecnologias. São Paulo: Unesp, 1997.
10 OANOS DA
      PROJETO
REVISTA
                                                                                                                                                                               1

                                                                                                                                                                               ANA CLÁUDIA GRUSZYNSKI



 GRÁFICO
                                                                                                                                                                               SOPHIA SEIBEL CHASSOT
                                                                                                                                                                               2




                                                                                                                    UMA ANÁLISE dos DEZ ANOS
                                                                                                                    da REVISTA CAPRICHO
  DE
     REVISTAS
                                                                                                                                                                               1 Doutora em Comunicação Social pela Famecos/PUCRS. Professora-
                                                                                                                                                                               Adjunta no Curso de Comunicação da Fabico/UFRGS.
                                                                                                                                                                               E-mail: anagru_fabico@yahoo.com



                                                                                                                                                                               2 Bacharel em Publicidade e Propaganda pela Fabico/UFRGS.
                                                                                                                                                                               E-mail: sofichassot@yahoo.com.br




 Resumo                                                                       Palavras-chave                        Abstract                                                                               Key words
 Este artigo avalia de que maneira o projeto gráfico de uma revista se        Revista Capricho; design editorial;   This article evaluates how the editorial design of a magazine is related to its        Capricho magazine; editorial design;
 relaciona com seu projeto editorial, tomando como estudo de caso a revista   projeto gráfico.                      editorial project, analyzing Capricho magazine of the years 1995 to 2005. For          graphical project.
 Capricho no período de 1995 e 2005. Para isso, apresenta os elementos                                              this, it presents the basic elements of graphical projects of magazines, as
 básicos de projetos gráficos de revistas, bem como um histórico da revista                                         well as a description of the magazine itself, concentrating in aspects related
 Capricho, detendo-se em aspectos relacionados ao seu público-alvo, os                                              to its target, the teenagers, in order to understand the way that the editorial
 adolescentes, a fim de melhor compreender como os projetos editorial e                                             and graphical projects are structuralize in order to dialogue with its readers. It
 gráfico se estruturam a fim de dialogar com ele. Analisa e discute as                                              analyzes and argues the different proposals of graphical project throughout
 diferentes propostas de projeto gráfico apresentadas ao longo do período                                           the observed period.
 observado.
34                                                                                                      O mercado de revistas cresce a cada ano. Segundo a Associação Nacional dos




                                                                                                                                                                                                                                        O PROJETO
                                                                                                                                                                                                                                      GRÁFICO
                                                                                                        Editores de Revistas (Aner), esses periódicos movimentam cerca de um milhão de
                                                                                                        reais por ano em publicidade no Brasil, por meio da publicação de 388 milhões de
                                                                                                        exemplares/ano e 2.296 títulos.3 Dentre esses, a Editora Abril, que publica a revista
                                                                                                        Capricho, domina quase 50% do share. 4 Quando a Capricho surgiu, em 1952, era a
Gruszynski, Ana Cláudia. O projeto gráfico de revistas: uma análise dos dez anos da revista Capricho.




                                                                                                        única publicação feminina da editora, e seu conteúdo era composto de fotonovelas.
                                                                                                        Em 1982, iniciou um processo de mudança que culminou em 1985, quando se                                                       design gráfico é o “termo utilizado para definir, genericamente,
                                                                                                                                                                                                                                      a atividade de planejamento e projeto relativos à linguagem visual.
                                                                                                        tornou uma revista para adolescentes, dirigindo-se ao que parecia representar um
                                                                                                        público consumidor promitente.

                                                                                                                                                                                                                                      Atividade que lida com a articulação de texto e imagem, podendo




                                                                                                                                                                                                                                          REVISTAS
                                                                                                        De lá para cá, o mercado passou por uma explosão de títulos que fizeram com que
                                                                                                        surgisse a necessidade de, cada vez mais, enfocar públicos bem-específicos. Para
                                                                                                                                                                                                                                      ser desenvolvida sobre os mais variados suportes e situações”

                                                                                                                                                                                                                                       DE
                                                                                                        dialogar com eles, os projetos gráficos tornam-se mais marcantes, gerando rápida
                                                                                                        identificação, bem como o seu reconhecimento em meio a outras publicações no
                                                                                                        ponto-de-venda. Nesse contexto, a revista Capricho conquistou um público cativo:
                                                                                                        um grupo de leitores que têm essa publicação como companheira durante parte
                                                                                                        significativa da vida de cada um. Líder de vendas no segmento de mercado
                                                                                                        direcionado aos adolescentes na atualidade e, portanto, referência para outras
                                                                                                        publicações que se dirigem a esses consumidores, a Capricho vem se
                                                                                                        transformando, ao longo dos anos, para permanecer companheira de seu público.
                                                                                                                                                                                                                                      O DESIGN EDITORIAL
                                                                                                        Levando em conta a importância do design da página para as publicações no que se                                              A Associação de Designers Gráficos do Brasil indica que design gráfico é o “termo
                                                                                                        refere a questões de mercado, identidade do produto e conquista de um público                                                 utilizado para definir, genericamente, a atividade de planejamento e projeto
                                                                                                        cada vez mais disputado por concorrentes, este artigo avalia de que maneira o                                                 relativos à linguagem visual. Atividade que lida com a articulação de texto e
                                                                                                        projeto gráfico de uma revista se relaciona com seu projeto editorial, tomando como                                           imagem, podendo ser desenvolvida sobre os mais variados suportes e situações”.
                                                                                                        estudo de caso a revista Capricho. Selecionamos uma edição por ano – a dedicada                                               (ADG, 2003, p. 175). Projeto gráfico, identidade visual, projetos de sinalização, entre
                                                                                                        ao mês dos namorados – nos anos de 1995 a 2005, para comparar a forma gráfica                                                 outros, fazem parte de modo amplo – dessa área. Procurando melhor definir os
                                                                                                        da Capricho ao longo de 11 anos. Entendemos ser esse o tempo suficiente para que                                              campos de atuação profissionais, essa associação definiu algumas especificações,
                                                                                                        o mercado mude e exija novos projetos gráficos, permitindo que avaliemos como                                                 denominando design editorial o campo que abrange o projeto de livros, revistas e
                                                                                                        esse funciona e como forma um conjunto de elementos que se mantêm em todas as                                                 jornais, em que se situa nosso objeto se estudo.
                                                                                                        edições, dando unidade gráfica à revista. Nossa hipótese é que esses elementos
                                                                                                        que se repetem vêm se tornando mais flexíveis ao longo dos últimos anos e,                                                    O design é desenvolvido mediante uma seqüência de etapas – processo – que
                                                                                                        notadamente, nas revistas para públicos mais jovens, o design da página vem                                                                           5
                                                                                                                                                                                                                                      parte de um briefing e passa pela pesquisa, conceituação/solução, pelo
                                                                                                        sendo valorizado e é considerado tão importante para a matéria quanto o conteúdo                                              desenvolvimento, pela produção e pelo balanço. O briefing, no caso de uma
                                                                                                        do texto.                                                                                                                     publicação, está associado a um projeto editorial. Esse é uma linha de conduta


                                                                                                        3 Dados de 2003. Disponíveis em: <http://www.aner.org.br>. Fonte IVC-Dinap.
                                                                                                                                                                                                                                      5 Documento resultante, normalmente, de uma reunião entre cliente e designer e funciona como o ponto de partida do
                                                                                                        4 Share é a forma abreviada de referir-se a share-of-market, expressão em inglês que se refere à participação no mercado de
                                                                                                                                                                                                                                      projeto. Nele, devem constar todas as informações que possam ser necessárias para a elaboração do projeto sendo elas
                                                                                                        determinada empresa.                                                                                                          informações limitantes (como verba, prazo, público-alvo, etc.) ou não.
Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul
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Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul

  • 1. ISSN 1677-0943 Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - v.5, n. 10, jul.-dez./2006 Apresentação Um design contemporâneo Wilton Garcia O projeto gráfico de revistas: uma análise dos dez anos da revista capricho Ana Cláudia Gruszynski e Sophia Seibel Chassot Linguagem visual em design gráfico impresso e digital Gisela Belluzzo de Campos Tinindo, trincando: o design gráfico no tempo do desbunde Jorge Luís Caê Rodrigues A São Paulo do Art Déco: a memória em cartaz Nara Sílvia Marcondes Martins A roupa do moderno: representações da moda na década de 20 (Pelotas/RS) Francisca Ferreira Michelon e Denise Ondina Morroni dos Santos O design de moda como potência de um experimento Rosane Preciosa Caminho para a gestão integrada da identidade corporativa Lígia Cristina Fascioni A gramática da forma como metodologia de análise e síntese em arquitetura Gabriela Celani, Débora Cypriano, Giovana de Godoi e Carlos Eduardo V. Vaz DESIGN Design ergonômico: uma revisão dos seus aspectos metodológicos Luis Carlos Paschoarelli e José Carlos Plácido da Silva CONEXÃO - ARTIGOS Análise de discurso: uma abordagem dialética EDUCS Roberto Ramos EDUCS Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - v.5, n. 10, jul.-dez./2006 EDUCS
  • 2. Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - v.5, n. 10, jul.-dez./2006
  • 3. CONEXÃO COMUNICAÇÃO E CULTURA Conselho Editorial Prof. Dr. Antonio Hohlfeldt (PUC/RS) Prof. Dr. Bernard Miège (ICM - Institut de la Communication et des Médias. Université Stendhal Grenoble 3) Prof. Dr. César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS/SE) Profa. Dr. Cida Golin (UFRGS) Profa. Dra. Cicilia Maria Krohling Peruzzo (UMESP/SP) Prof. Dr. Dênis Moraes (UFF) Profa. Dra. Doris Fagundes Haussen (PUC/RS) Profa. Dra. Heloísa Pedroso de Moraes Feltes (UCS) Profa. Dra. Kenia Maria Menegotto Pozenato (UCS) Profa. Dra. Lúcia Santaella (PUC/SP) Profa. Dra. Margarida Maria Krohling Kunsch (USP/SP) Prof. Dr. Muniz Sodré (UFRJ) Prof. Dr. Pierre Fayard (Poitiers - França) Profa. Dra. Solange Medina Ketzer (PUC/RS) Profa. Dra. Vania Beatriz Merlotti Herédia (UCS) Editor Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - v.5, n. 10, jul.-dez./2006 Profa. Ms. Marlene Branca Sólio (UCS) Colaboração: André Fontana (Mestrando em Letras e Cultura Regional – UCS) www.ucs.br/cchc/deco/conexao
  • 4. © dos autores Projeto Gráfico: Perverte Design Revisão: Ivone J. Polidoro Franco SUMÁRIO Foto da Capa: Gustavo Pozza Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Universidade de Caxias do Sul UCS - BICE - Processamento Técnico C747 Conexão – comunicação e cultura / Universidade de Caxias do 09 | APRESENTAÇÃO Sul. Vol. 1, n. 1 (jan. 2002). – Caxias do Sul, RS: Educs, 2006. Vol. 5, n. 10 (Jul./Dez. 2006) - 14 | UM DESIGN CONTEMPORÂNEO Semestral Wilton Garcia ISSN 1677-0943 1. Comunicação. I. Universidade de Caxias do Sul. 32 | O PROJETO GRÁFICO DE REVISTAS: UMA ANÁLISE DOS DEZ ANOS DA REVISTA CAPRICHO CDU: 659.3 Ana Cláudia Gruszynski e Sophia Seibel Chassot Índice para o catálogo sistemático: 1. Comunicação 659.3 60 | LINGUAGEM VISUAL EM DESIGN GRÁFICO IMPRESSO E DIGITAL Gisela Belluzzo de Campos Catalogação na fonte elaborada pela Bibliotecária Rose Elga Beber - CRB 10/1369. 72 | TININDO, TRINCANDO: O DESIGN GRÁFICO NO TEMPO DO DESBUNDE Jorge Luís Caê Rodrigues Os dados apresentados nesta obra são de inteira responsabilidade dos autores pesquisadores e de suas fontes, incluindo: fidelidade à ortografia dos nomes de pessoas e de localidades, precisão de datas e outros números. 104 | A SÃO PAULO DO ART DÉCO: A MEMÓRIA EM CARTAZ Nara Sílvia Marcondes Martins EDUCS - Editora da Universidade de Caxias do Sul Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 - CEP 95070-560 - Caxias do Sul - RS - Brasil Ou: Caixa Postal 1352 - CEP 95001-970 - Caxias do Sul - RS - Brasil Telefone / Telefax: (54) 3218.2100 - Ramais 2197 e 2281 - DDR: (54) 3218.2197 EDUCS Home-Page: www.ucs.br
  • 5. 124 | A ROUPA DO MODERNO: REPRESENTAÇÕES DA MODA NA DÉCADA DE 20 (PELOTAS/RS) APRESENTAÇÃO Francisca Ferreira Michelon e Denise Ondina Morroni dos Santos 144 | O DESIGN DE MODA COMO POTÊNCIA DE UM EXPERIMENTO Rosane Preciosa A sociedade contemporânea elegeu, como norteadores de seu desenvolvimento, de 154 | CAMINHO PARA A GESTÃO INTEGRADA DA IDENTIDADE sua própria evolução, sistemas de informação prioritariamente centrados na imagem. Tudo o que se pode captar por meio do olhar acaba constituindo uma CORPORATIVA comunicação visual, intencional ou não. Assim, o apelo visual, de design, numa Lígia Cristina Fascioni peça gráfica/produto é fundamental. Paralelamente, o estudo dos processos de comunicação tem contemplado, cada vez 180 | A GRAMÁTICA DA FORMA COMO METODOLOGIA DE ANÁLISE E 1 mais, vieses polissêmicos e inter/transdisciplinares de análise. Falar em SÍNTESE EM ARQUITETURA comunicação e design é falar em expressão gráfica, mas também em marketing e Gabriela Celani, Débora Cypriano, Giovana de Godoi e Carlos design de produto, em engenharia. Daí, a “mistura de autores e áreas” que Eduardo V. Vaz buscamos nesta edição da Revista Conexão. Olhares vindos de diferentes perspectivas são enriquecedores, sempre. Parece-nos impossível pensar o mundo “em compartimentos” estanques. 198 | DESIGN ERGONÔMICO: UMA REVISÃO DOS SEUS ASPECTOS Globalização, chip, saturação, niilismo, simulacro, hiper-real, digital, desconstrução, METODOLÓGICOS são palavras-chave deste momento. O movimento chamado pós-moderno por Luis Carlos Paschoarelli e José Carlos Plácido da Silva alguns autores desfaz princípios, regras, valores, práticas e realidades. Ele revisita todos os conceitos, agrega, transforma, como uma usina recicladora. O resultado é o ecletismo de tendências. Nesse contexto, o design estetiza o cotidiano. A moda e a CONEXÃO - ARTIGOS publicidade erotizam o dia-a-dia, estimulam o consumo e a posse. Assim, o pós- modernismo é a moeda corrente do capitalismo. 216 | ANÁLISE DE DISCURSO: UMA ABORDAGEM DIALÉTICA A sociedade contemporânea caminha na direção da ênfase ao conhecimento local, à fragmentação, ao sincretismo, à alteridade e à diferença. Põe em colapso as Roberto Ramos 1 Por interdisciplinaridade: “Síntese de duas ou várias disciplinas, instaurando um novo nível do discurso (metanível), caracterizado por uma nova linguagem descritiva e novas relações estruturais” (WEIL et al., 1993, p. 31). Ainda segundo os autores, “a transdisciplinaridade pode ser definida como um estágio superior da interdisciplinaridade, que não se contentaria em atingir as interações ou reciprocidades entre pesquisas especializadas, mas situaria essas ligações no interior de um sistema total sem fronteiras estáveis entre as disciplinas.” (Apud Basarab Nicolescu. Science et tradition. Trosisème Millènaire, Paris, n. 23, 1992).
  • 6. hierarquias simbólicas rígidas, rompendo a barreira entre a alta-cultura e a cultura Na sociedade contemporânea, assumem valor significativo os aspectos de design, popular. Atenua os limites entre aparência e realidade. Vale lembrar Baudrillard e quer falemos em produto, quer nos refiramos a mensagens. O design do produto seu simulacro. Para o pensador, a vida contemporânea foi desmontada e está intimamente ligado ao marketing, ao valor de venda/consumo. O design reproduzida num escrupuloso fac-símile. A simulação toma a forma de objetos e gráfico, além de sustentar essa intenção com campanhas publicitárias, passa pela experiências manufaturados, que tentam ser mais reais do que a própria realidade: produção simbólica, pela construção do sentido. Ele vai, mais do que vender aquele segundo Baudrillard, hiper-reais. determinado produto, “criar”, a partir dele, uma imagem/verdade, e será do designer gráfico o papel de construir um discurso que “mostre” um produto O sentido muda permanentemente. É impossível, mesmo para o autor, traduzir o harmonioso. verdadeiro significado de qualquer texto ou obra. Nenhuma comunicação é eficiente. Derrida sugere que tudo o que se pode ter são jogos com possibilidades e Ao discurso editorial de qualquer peça associa-se o discurso gráfico, hipóteses, com suposições fundamentadas e riscos, às vezes calculados, às vezes inteligentemente utilizado, no sentido de reforçar determinada mensagem ou, no não. sentido de oferecer ao “leitor” recado complementar/subliminar, muitas vezes não percebido conscientemente. Se, de um lado, o “estado” de pós-modernidade acena com a liberdade e com o “tudo se pode”, de outro, traz angústia e incerteza, que abalam profundamente os Traçado esse breve mapa, convidamos nossos leitores a percorrer os caminhos aqui indivíduos. O modernismo, por sua vez, pensou ter encontrado as respostas para os apontados, na perspectiva de diversos autores, levando todos a um mesmo lugar: o grandes questionamentos do homem. Levou ao desenvolvimento da ciência e da design. tecnologia, à supervalorização da informação; dilatou fronteiras; rompeu as barreiras do tempo e do espaço, legando dúvidas multiplicadas, mais questionamentos. Marlene Branca Sólio Editora Ao contrário da modernidade, a pós-modernidade promove, na comunicação visual, o jogo, o acaso, a desconstrução, a acumulação, a diversificação e, principalmente, reintroduz o sujeito na atribuição de significação às mensagens visuais, até então “engessadas” por fórmulas preestabelecidas. O século XX vai marcar dois momentos importantes. Seu início aponta a ruptura com a tradição das belas-artes e, o final, a ruptura com a tradição racionalista que ele havia cultivado. Na mesma medida que traz o novo, o inaugural, o verdadeiramente inusitado, o design contemporâneo parece conter em sua gênese uma dualidade paradoxal: transcende, ao mesmo tempo que continua, o modernismo, pois nada recusa, agregando tudo. Harvey nos mostra que a sociedade da modernidade quer romper com o velho, enquanto se apóia na crença do ordenamento universal, na visão do projeto acabado, na lógica do início, meio e fim, atualizando a vigência do econômico, do despojado, do funcional (Bauhaus). O pós-moderno vai caracterizar- se pelo “empilhamento”, pelo ecletismo, pela diversidade. O modernismo buscava distanciamento do passado, enquanto o pós-modernismo o revisita, aceita a tradição, potencializa-a e faz combinações entre seus aspectos. Não há projeto acabado. Há, sim, o inacabado, o contínuo, o instável, o imprevisível, a rede.
  • 8. Resumo Este texto apresenta uma reflexão crítica 2 Wilton GARCIA sobre o campo do design contemporâneo, permeado de aspectos socioculturais e políticos. Na relação professor/pesquisador com o contexto de ensino-aprendizagem, tomo a sistematização de experiências que potencializam a discussão corpo/máquina para explorar o caráter dinâmico do design e da hipermídia. É preciso pensar o design contemporâneo acompanhando as Abstract (trans/de)formações do corpo e os avanços This text presents a critical reflection on design tecnológicos. Nesse caso, imagem, UM some conceptual aspects in the field of tecnologia, experiência e subjetividade são contemporary design. In the relation inscrições do corpo no desenvolvimento da teacher/researcher with the teach-learning criação no design, hoje. O presente texto context, I take the systematization of (atento a temas como arte, informação, experiences that potencialize the quarrel política e consumo) aponta e registra body/machine to explore the dynamic estudos contemporâneos como eixo character in design and hypermedia. It is teórico-metodológico dessa investigação. necessary to think about contemporary design following (trans/de)formations of Palavras-chave the body and the technological advances. Design; corpo; imagem; tecnologia; In this case, image, technology, experience contemporâneo estudos contemporâneos. and subjectivity are inscriptions of body in the development of creativity in design, 1 today. The present text (intent to the subjects as art, information, politic and consumption) points and to registe the contemporary studies as axle theoretician- 1 Agradeço ao grupo de pesquisas Design: criação e novas mídias, da Universidade Anhembi Morumbi pelo apoio institucional no desenvolvimento deste trabalho, que faz parte da minha pesquisa, em processo, Design, corpo, imagem e methodological of this inquiry. tecnologia: estudos contemporâneos. 2 Artista visual e pesquisador de cinema, fotografia, vídeo e imagem digital investigando sobre o corpo. É Doutor em Key words Comunicação e Estética do Audiovisual pela ECA/USP e Pós-Doutor em Multimeios pelo IA/Unicamp. Atualmente, é Design; body; image; technology; pesquisador e professor no Programa de Mestrado em Design, da Universidade Anhembi Morumbi. Autor do livro Corpo, mídia e representação: estudos contemporâneos (2005), entre outros. E-mail: wgarcia@anhembi.br contemporary studies.
  • 9. São muitas as variantes que compreendem os aspectos Muito mais que abordar exclusivamente questões 16 17 socioculturais e políticos do campo do design teórico-metodológicas, falo de um design contemporâneo. Hoje, esses aspectos envolvem o design e elegem a vida social contemporâneo comprometido com questões como instigante referência para se pensar produção e consumo no mercado socioculturais e políticas. Essas questões globalizado. É o caso de artefatos, objetos, produtos e imagens, os quais se refazem A inscrição sobrepõem a experiência subjetiva que aproxima Garcia, Wilton. Um design contemporâneo. Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006 em abundantes proporções para atender às distintas expectativas dos cenários o design, sua produção, a relação do corpo e a nacional e internacional. qualidade humana. Insisto em realizar minhas pesquisas marcando-as com um posicionamento É claro que o design e suas relações com a sociedade variam de acordo com o que investe uma dinâmica reflexiva sobre o contexto social, cultural e/ou político no qual estão inseridos em uma profusão de desenvolvimento da qualidade humana. efeitos intermultitransdisciplinares. (COUTO; OLIVEIRA, 1999). Entre design e (KRIPPENDORFF, 2000). sociedade, há uma pluralidade de representações que se inscrevem como produtos, serviços, técnicas, artefatos, objetos e, até mesmo, estratégias – como da A possível preocupação dessa abordagem de cunho sociocultural e político não arquitetura à decoração, da arte à comunicação, da publicidade à moda. Nesse retira, nem restringe, o caráter criativo no exercício do design contemporâneo. Pelo entorno de possibilidades, é necessário discutir os parâmetros de uma agenda de contrário, contribui para o rendimento de diversos enfoques, sobretudo na trilha das debates na arena do design, ainda mais no Brasil. Falo de uma agenda do design novas tecnologias digitais em particular a hipermídia. contemporâneo (NOJOSA, 2005) que oriente a inclusão social – diferença e alteridade. A diferença aqui seria enunciar os traços de singularidade que assinam a As transformações provocadas pela hipermídia, cada vez mais, articulam a relação massificação da produção cultural contemporânea. O que fazer quando tudo é design, corpo e tecnologia diante da arquitetura virtual e do espaço imersivo lotado muito parecido? de alternativas múltiplas e imprevisíveis. Transformações que alternam as manifestações das coisas, promulgam desafios conceituais. Essas transformações O foco deste texto é uma reflexão crítica sobre o campo do design contemporâneo, podem ser vistas/lidas como avatares tecnológicos que promovem, permeado de aspectos socioculturais e políticos. Assim, o debate inscreve uma estrategicamente, as condições adaptativas dos dispositivos digitais na atualidade. discussão sobre produção, circulação e consumo do design, atento a aspectos socioculturais e políticos. Tento expor alguns desafios empíricos e conceituais no Uma cartografia labiríntica aciona vestígios instrumentais da escritura hipermidiática campo do design. agregada pela avidez dos hipertextos: estruturas maximadoras do texto, que se auto-extrapolam em seu contexto. Texto que aqui deve ser tomado como unidade São momentos distintos, que se retroalimentam como proposta expositora de idéias mínima de representação, portanto, reveste-se também de uma dimensão visual, e visam à urgência de discussões acerca do design, no contemporâneo. Abordo sonora. algumas inquietações, noções e conceitos que navegam pela produção do saber e do conhecimento no design, do corpo e da hipermídia, a fim de investigar uma Nessa escritura hipermidiática, o deslocamento do usuário-interator ocorre com a dimensão crítica nos âmbitos sociocultural e político. experiência da navegação na cibercultura, uma vez que o espaço, em especial o 3D, dilata e expande as alterações paulatinamente. Ao considerar a remodelação dos Realizadas tais considerações preliminares, passo a assinalar quatro tópicos objetos em sua extensão representacional diante da expressão hipermidiática, reflexivos: A inscrição; Brevidades conceituais; O pensar e o fazer; e Design, design. observa-se uma recombinação de dados que legitima a (re)formatação dinâmica da Tópicos que equacionam, neste momento, minhas impressões sobre o design hipermídia. contemporâneo, que constitui uma escritura crítica – exemplificada por experiências e subjetividades – em uma investigação sociocultural e política. Nessa investigação, tento investir e aproximar a noção de corpo como eixo poético do design que se atualiza, eminentemente, pela linguagem.
  • 10. Segundo Arlindo Machado: O desejo aparece, nessa citação, como eixo enigmático, que recontextualiza 18 19 “novas/outras” idéias e gera conceitos. É no desdobramento previsto no Através de suas bifurcações, de suas proposições múltiplas e ambíguas, contemporâneo que se permeiam design, corpo, imagem, tecnologia e, das ligações móveis e provisórias entre suas partes, a hipermídia permite respectivamente, ocorre o procedimento de elaboração de um objeto, (de)marcado representar o pensamento não assentado dos espíritos que contendem pelo desejo. Desejo que se reveste da enunciação sociocultural e política, atrelada Garcia, Wilton. Um design contemporâneo. Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006 entre si, como a confirmar a máxima de Mikhail Bakthin de que a ao escopo do digital. Um desejo singular que impulsiona a possibilidade criativa, verdade tem sempre uma expressão polifônica. (1997, p. 148). pautada pela emergência de debates ao acionar o desenvolvimento da qualidade humana, atrelado às novas tecnologias. Nesse caso, Essa articulação explosiva da hipermídia desdobra diferentes possibilidades de evocam-se as circunstâncias da hipermídia. acolher, armazenar e distribuir informações em forma de texto, imagem, som, gráficos, etc. Aquilo que ultrapassa a predicação do objeto retraduz um lugar de Design e hipermídia co-existem a partir do momento propriedade complexa, que, por ora, se intitula hipermídia. em que se obtém a configuração sobre o encontro corpo/máquina no contemporâneo. ia rmíd Nesse sentido, a noção de hipermídia – um marco transitivo de adequações, Corpo e máquina dialogam suas ajustes, interesses, sinalizações, enquadramentos e flexibilidade como indicação e hipeem to potencialidades de acordo com a signo-exist omen a tecnológica – pode ser um elo que (inter)media a relação corpo/máquina na possível extensão humana (McLUHAN; internet. Mais que isso, biotecnologia, hibridismo, robótica, interface e hipertexto de c STAINES, 2005), que caracteriza a são noções circunstanciais que coabitam a aplicação dinâmica da hipermídia em ir do m btém estratificação versátil da hipermídia. diálogo com o corpo ontologizado pela natureza digital da cibercultura. A rede a partque se oração ro m onfigu ncont a mundial de computadores convoca o usuário-interator para realizar uma visita A hipermídia, neste caso, hibridiza virtual, atualizada pela hipermídia na contemporaneidade. e c e as fronteiras entre corpo e máquina. re o/máquinneo máquina como extensão gerativa de Um interstício imbrica corpo e A produção de artefatos, a partir da teoria crítica da indústria cultural, vincula-se à sob rpo porâ ordem sociocultural e política. (DUARTE, 2003). Assim, o design contemporâneo, em co ontem imagens que camuflam as partes. É oc consonância com as diretrizes socioculturais e políticas, amplia uma reflexão crítica uma associação embrionária que a sobre o compartilhar de uma sensibilidade ética, marcadamente pelo n hipermídia e sua pluralidade manipulam as extremidades desse contágio desenvolvimento da qualidade humana. corpo/máquina. Não se trata de uma metáfora, Para tratar de aspectos socioculturais e políticos que agenciam/negociam a relação grosso modo, trata-se de uma verificação. design e corpo, recupero as considerações de Humberto Maturana: Portanto, parto da premissa de que a arena do design se atualiza quando ambienta, estrategicamente, sua discursividade em um contato tecnológico com A questão que nós seres humanos devemos enfrentar não é o que o orgânico. Ainda que esse debate configure-se para além do orgânico úmido a queremos que nos aconteça, não é uma questão sobre o conhecimento nova ordem do corpo equaciona novas sensibilidades, a partir dos códigos ou o progresso. A questão que devemos enfrentar não é sobre a relação digitais e suas sintetizações tecnológicas. Elabora-se o panorama mediador do entre a biologia e a tecnologia, ou sobre a relação entre a arte e a instrumental maquínico articulado nessa relação corpo/máquina que instaura o tecnologia, nem sobre a relação entre o conhecimento e a realidade, nem design. mesmo se o metadesign molda ou não nosso cérebro. Penso que a questão que precisamos enfrentar nesse momento de nossa história é sobre nossos desejos e sobre se queremos ou não ser responsáveis por nossos desejos. (2001, p. 173).
  • 11. De acordo com Luiz Antonio Coelho, E, ainda assim, testemunham-se os efeitos que essas transformações, hoje, 20 21 conferem diferentes anotações no campo do design diante do fazer humano. E, o fato de a matéria ser ou não orgânica, viva ou inerte, não a impediria nesse fluxo, urge a possibilidade da elaboração de um pensamento criativo em de ser centrada como objeto para o designer [...]. O corpo humano, nesse favor de um design contemporâneo. Acredito que essas transformações caso, torna-se um objeto e um meio de comunicação com todo o tecnológicas passam a existir mediante o fazer humano e a sua possível integração Garcia, Wilton. Um design contemporâneo. Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006 potencial de constituir um sistema de mídia e de impactar o ambiente híbrida entre corpo/máquina. social. O corpo humano hoje e passível de projeto e construção nos mesmos padrões do objeto inanimado. Há inúmeros exemplos em que o A exposição do produto e do corpo investe uma maquiagem estratégica do corpo é manipulado como matéria e torna-se objeto de construção para esteticistas. (2001, p. 100). marketing, capaz de retardar as artimanhas para o consumo. Jurandir Freire Costa afirma: As palavras desse pesquisador enfocam o corpo no âmbito do design, ao realizar uma efetiva comparação que (re)inscreve a comunicação desse corpo como objeto e O aumento da produtividade industrial influiu, de modo decisivo, na mediação. Não se trata, exclusivamente, de uma substituição do corpo pelo transformação imaginária do trabalho em labor. O avanço tecnológico, a produção de bens industriais em grande escala, a melhoria das condições de vida dos artefato, mas sim, de uma aproximação que de forma circunstancial prevalece como operários e a criação de um mercado de compradores despiram o trabalho de seu sistema midiático. Entre os dispositivos técnicos e o corpo, associa-se um mapa de caráter artesanal. A velocidade com que os novos bens eram produzidos e idéias criativas cujo universo do design se apropria de forma direta. vendidos mudou o sentido do ato de fabricar e do de comprar. Quem produzia não se percebia mais como autor de coisas feitas para atender [às] necessidades reais, A lógica que expõe diferentes estratificações textuais ampara uma natureza mas para serem vendidas, sendo ou não necessárias. Vender, e não fazer coisas circunstancial para (inter)mediar design e corpo. É o corpo que inscreve o sujeito úteis, se tornou a meta final da produção. (2004, p. 133). social na cena do design. “O corpo material é o que compartilhamos de forma mais significativa com todo o resto da nossa espécie, estendida tanto no nosso tempo Observa-se que o consumo de objeto/produto em larga escala (massificada e como no espaço.” (EAGLETON, 2005, p. 212). Verifica-se essa associação ao industrial) é algo perene, porém constante na sociedade capitalista. (DUARTE, observar o desdobramento do design e corpo em sua atualização sociocultural e 2003). Estrategicamente, torna-se necessário ponderar as novas subjetividades da política com a biotecnologia, as próteses, as cirurgias (plásticas) estéticas. experiência cotidiana artística, mercadológica, midiática, sociocultural e/ou tecnológica que incorporam dados competentes ao objeto. Da linha de montagem ao mercado, os produtos de design são, agora, divulgados pela mídia na frenética intensidade da cultura digital. Observa-se que, No contemporâneo, fórmulas, tendências e fundamentos teóricos se alteram aos paralelamente, o corpo também é explorado como mecanismo desse discurso poucos sem, necessariamente, operacionalizar alguma síntese. A inscrição do hipermidiático. Assiste-se a um percurso visceral, em que se perpetua a imanência design (de embalagem, gráfico, produto, moda ou digital) e suas atividades somam (inter)subjetiva da exibição de marcas na mídia como imagem recorrente de uma um fecundo território multifacetado de criação, muito maior do que a simples dimensão mercadológica, que muda a vida cotidiana. compreensão de uma leitura crítica possa indicar. Diante desse contexto, imagine a expansão da imagem corpórea que atualiza a representação do corpo em Essas mudanças são provocadas por transformações tecnológicas que se contraponto ao design na sociedade de hoje em dia. dinamizam pelo intenso uso do computador. Modificam-se os parâmetros referenciais do cotidiano, seguindo a influência das novas tecnologias digitais. Diante desses pressupostos, como elaborar investigações a partir do design, hoje? Nessa disposição, observa-se que na área do design também seguem Como pensar a prática projetual do design diante das novas tecnologias? Como o transformações abruptas, que criam novas possibilidades e caminhos para se design se relaciona com a sociedade hipermidiática? Qual a responsabilidade do pensar a representação e a sociedade. designer neste contexto? Como isso é mediado no território que sistematiza design e corpo?
  • 12. Mais que uma questão de pesquisa, a força do design elege teoria e prática juntos, complexo que envolve o processo de apreensão do objeto (i)material. Entre design e 22 23 para adentrar no universo da cultura. A cultura, portanto, (re)desenha dados corpo, tento enfocar uma perspectiva reflexiva e conceitual do objeto (i)material. 3 capazes de prenunciar a história dos artefatos. Ao repensar o estatuto do objeto no ambiente tecnológico da hipermídia, observam-se as práticas culturais atuais e os As anotações reflexivas sobre o objeto (i)material podem ser verificadas nas redes “novos/outros” paradigmas que diversificam as concepções de mundo. de coordenadas discursivas no contemporâneo. Ao exagerar no uso de prefixos, Garcia, Wilton. Um design contemporâneo. Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006 tento reverter a possibilidade de um prisma mais aberto e dinâmico que intenciona A cultura dilata a percepção humana em uma espiral de infinita predisposição de ainda mais expandir seus efeitos de sentido, trazidos por uma polifonia imagética e incertezas. O desenvolvimento humano, na verdade, inscreve os princípios que incorporada pelas diretrizes dos artefatos. Essas diretrizes proporcionam as fazem nascer a sistematização da cultura. (EAGLETON, 2005). Ou seja, relacionar modificações no estatuto do objeto (i)material. Elas existem a partir do momento em uma atividade projetual do design não é suficiente para representar atribuições que se obtém a dimensão (i)material do objeto, muito além de forma/conteúdo, específicas dadas pela cultura. A cultura, dessa forma, desperta para diretrizes com a configuração de um hibridismo cultural. flexíveis e evidencia “novos/outros” resultados. A composição e a transformação das coisas pelo design implicam repensar, O design pode e deve ser uma experiência aberta, que aproxima uma estrutura criticamente, apresentação e representação dos objetos (i)materiais em seus singular em sua complexa realidade cultural. É na cultura que as transformações diferentes estágios: do projeto ao planejamento, da produção à execução: o que tecnológicas do objeto instauram-se subterfúgios competentes. Isto é, o desenrolar ressalta uma assinatura. Nesse conjunto, há um estado inebriante de possibilidades da ação do design prioriza suas relevâncias que incrementam o projeto e a criação. de saberes do campo do design que almejam dar forma ao raciocínio cognitivo, programado para as artimanhas de uma estratégia discursiva: a enunciação do Existe uma ampliação mais significativa no contexto do design, que demonstra sua objeto (i)material em sua singularidade criativa – o diferencial. execução e funcionalidade, ao extrapolar a (inter)mediação entre idéia e planejamento. Nota-se a mudança em sua conceitualização no processo de Desnecessário dizer que não se trata de procurar diretamente análise, interpretação, investigação e solução projetual no design contemporâneo. (NOJOSA, 2005). significação. Basta estabelecer o convívio com o resultado, tangível em um registro. Com efeito, o desdobramento conceitual que pretendo apresentar se concretiza pelos chamados estudos contemporâneos, os quais elegem diferentes abordagens teórico-metodológicas para fomentar intercâmbios relativos aos estudos culturais Aqui, a idéia é concentrar a atenção sobre os efeitos (BHABHA, 1998) e suas variantes – multiculturalismo, pós-colonialismo e diás- que a imagem do artefato produz e expandir suas poras – com o desenvolvimento das tecnologias digitais. (GARCIA, 2005). (de)marcações outrora fixas, cristalizadas. Interessa ponderar a superfície imagética, sua Nesse sentido, os estudos contemporâneos mapeiam diferentes conceitos, teorias, Brevidades representação visual/figural, seu efeito e não o métodos, técnicas e críticas para realizar (inter)mediações de experiências atuais, Conceituais produto em si. É nessa brevidade conceitual que cujos aspectos sincréticos reforçam as malhas (inter/trans)textuais e revelam um desafio o encontro design-corpo. registro aberto em constante transformação. Esses estudos atualizam a cooperação entre globalização, ecologia e novas tecnologias (EAGLETON, 2005), cujo objetivo Dispor do campo do design, assim, seria organizar concentra-se na prestação de serviço e/ou responsabilidade às sociedades um olhar flexível que digere os elementos políticas. projetuais, para ampliar a experiência do design e sua (inter)subjetividade. Nesse sentido, almejo e qualifico, para mero 3 A expressão – objeto (i)material – é o fio condutor para instaurar o caminho discursivo deste estudo. Portanto, a noção de entendimento, uma leitura descritiva, hábil na verificação estendida do simples ao objeto (i)material aqui deve ser ressaltada como articulação estrategicamente comprometida com a manifestação contemporânea daquilo que possa ser constituído tanto no design de produto quanto no design de hipermídia, respeitando suas devidas características e diferenças: dos dispositivos à relação tempo-espaço.
  • 13. Evidentemente, as teorias da nova economia e do mercado globalizado, como a contemporâneo tange a atualização da linguagem, ou seja, elabora-se a expectativa 24 25 tecnologia da informação, por exemplo, especulam sobre o uso do produto e sua de desenvolvimento das idéias sobre os produtos e a produção em design. Assim, propriedade, enquanto estado aquisitivo das coisas. De acordo com os estudos também se observa a mudança da relação professor/pesquisador com o contexto contemporâneos, a relação entre consumidor e usuário passa por surpreendentes de feitura ao ensino-aprendizagem, pois, cada vez mais, os enfrentamentos se renovam paulatinamente. Incluem aqui os aspectos socioculturais e políticos que Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006 transformações, às quais todos devem estar atentos, incluindo aí o profissional do design. Aqui, pretende-se pensar a participação e a interação do público- redimensionam design e corpo. consumidor. As atualizações conceituais, efetivamente, esboçam a área dos estudos Assim, utilizo os estudos contemporâneos como espaço teórico-metodológico contemporâneos em sua intensidade descritiva. Esse movimento meticuloso dos para inscrever os critérios de uma reflexão teórico-política – para além dos estudos contemporâneos serve para tentar atualizar o desenvolvimento de idéias e enfrentamentos pós-marxistas e pós-estruturalistas. Claude Lévi-Strauss, conceitos, cujas novas derivativas estão empenhadas na promoção cultural do Edward Said, Felix Guatari, Gilles Deleuze, Jacques Derrida, Jacques conhecimento. Aciona-se, com isso, um olhar investigativo sobre as inovações Lacan, Frederic Jameson, Julia Kristeva, Michel Foucault, temáticas em especial aqui atreladas ao campo reflexivo do design em suas Roland Barthes, Theodor Adorno ou Walter Benjamin são ramificações de redes de coordenadas discursivas da hipermídia, juntamente com o é pensar e o fazer. bém campo nomes que podem ilustrar um pouco mais o panorama am m, t rrer aobservar s que se expande do pensamento pós-moderno ao assi reco a o eito contemporâneo. Imagine se esses autores o ar nc estivessem vivendo, hoje, a experiência da recis esign p dos co tos p d hipermídia, em particular o universo da internet do fluênciaedimen rtir dass na atualidade da banda larga. Quais seriam os a in e proc os a paalizada paradigmas apontados por eles na compreensão ad tu filosófica de mundo contemporâneo? Quais taurlogias aternet Na esteira dos estudos contemporâneos, teço ins no n seriam suas contribuições? O pensar considerações que possam servir de elemento tec pela ida larga e o fazer norteador para se pensar ensino-aprendizagem ban Assim, também é preciso recorrer ao campo do diante do tema design contemporâneo e tendo o design para observar a influência dos conceitos e corpo como atrativo estratégico, pois é no fazer procedimentos instaurados a partir das tecnologias que o corpo age, como é no pensar que o corpo atualizadas pela internet banda larga. Há um espaço para esse sente. (GARCIA, 2005). Nada no design está fora tipo de debate no âmbito do design? O que o designer produz, atualmente, diante do corpo. Essas intenções entre o pensar e o fazer dessas novas ferramentas implementadas pela internet de banda larga? O que isso culminam na elaboração de estratégias que influencia também no consumo? (inter)cambiam a inscrição do design contemporâneo. (COUTO; OLIVEIRA, 1999). Muito mais do que se possa articular a partir do paradigma da hipermídia, da Particularmente no design, a passagem temporal que mostra a coisa como resultado manifestação do objeto e/ou da sua recepção, a lógica dos estudos de uma idéia permite refletir acerca do processo de elaboração do projeto e da sua contemporâneos sistematiza a acoplagem do design e corpo, na relação inteligível- fabricação. Da idéia à sua expressão, há um território subjetivo de tempo-espaço sensível com o mundo, cuja competência encontra-se na descrição crítica do corpo que o corpo experimenta – seja do designer, na criação ou do usuário/interator, no expandido. consumo. Nessa malha, a relação tempo-espaço também ajuda na (re)dimensão crítica do pensar e o fazer. Dessa forma, este trabalho pesquisa ações emergentes – a base conceitual (transdisciplinar) dos estudos contemporâneos. Nesse caso, a idéia de
  • 14. Ao compartilhar a transformação da matéria-prima em objeto e/ou serviço, o design Descobrir como fazer para que tudo o que fazemos e pensamos se 26 27 tenta aperfeiçoar o processo de criação, procurando instaurar-se pelo planejamento relacione com tudo o que sentimos e sabemos é a grande chave para o de idéias e concepções estudadas para o desenvolvimento investigativo. A desenvolvimento de outras dimensões do Design. O Design deve ser entendido não apenas como uma atividade de dar forma a objetos, mas investigação, nesse sentido, torna-se uma atividade de busca pelo conhecimento como um tecido que envereda o designer, o usuário, o desejo, a forma, o humano, tendo em vista que a descoberta amplia o olhar quando descortina o Garcia, Wilton. Um design contemporâneo. Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006 modo de ser e estar no mundo de cada um de nós. (COUTO; OLIVEIRA, exercício de profundidade entre o pensar e o fazer – traduzidos pela ponte entre a 1999, p. 9). idéia e a coisa feita. A inquietação que aponta essa passagem da idéia à coisa confeccionada apresenta um ato perceptivo/cognitivo que estabelece sua resultante entre o pensar e o fazer, A citação acima, didaticamente, indica as diversas etapas que o próprios da condição adaptativa de pressupostos humanos. Perceber o mundo é a design perpassa para realizar suas atividades entre o pensar e o oportunidade de ver/ler os objetos/produtos, denominados pela sua relação com o fazer. O exercício crítico dessa citação faz do design uma corpo. Do pensar ao fazer, formaliza-se um eixo de composições articuladas em uma arena de debates investigativos que incorpora metodologia própria das atualizações tanto da percepção quanto da feitura. interdisciplinarmente as aberturas das ciências humanas para o aproveitamento de esign taurar Mas, nesse caso, é relevante ponderar a dinâmica entre pensar e fazer como resultados. “Descobrir como fazer para d e aoneo ins s que extensão gerativa dos produtos, sem, necessariamente, advir uma imagem que tudo o que fazemos e pensamos se cab orâ positivista de progresso. É evidente que há um desenvolvimento quando se conclui relacione com tudo o que sentimos e e um projeto; no entanto, há também um enlace de subjetividades que assinalam p ediaçõ inhos sabemos é a grande chave”, cujo ntemter)m s cam e se aspectos socioculturais e políticos. embatimento reforça a clareza entre co (in o u o pensar e o fazer no design. Mais É preciso enveredar poeticamente – o pensar e o fazer – num modo estratégico de as cerçam rojeto q to, de que isso, também relaciona o corpo. assegurar que os esforços para beneficiar a sociedade, e que essas manifestações ali um p produ te. O processo do fazer criativo no do objeto projetado pelo design estejam em sintonia com a inovação sustentável. de uz em ficien design, hoje, requer articular uma trad modo e Sustentabilidade (de)marca uma importante característica para se pensar o futuro da sociedade. Assim, a reflexão e a feitura são dois elementos que comportam a estratégia conveniente para enunciar o articulação entre o pensar e o fazer e estabelecem uma poética aberta, em produto como elemento fundamental ao constante transformação. sistema; sistema esse pautado pelas tecnologias digitais da hipermídia. Assim, O pensar e o fazer fomentam, nesse caso, uma situação extremamente fecunda para pode-se considerar que as (trans/de)formações do enunciar a criação do projeto, que estratifica a organização operacional e a objeto/produto, implicam, também, a reflexão das manufatura do objeto mediante a máxima desprendida do sentido polifônico do possibilidades de (re)dimensionar o campo do design em atenção às conhecimento; projeto que precisa ser bem-estudado para apontar estratégias categorias corpo, imagem e tecnologia, em estágio fronteiriço entre o pensar e eficientes. o fazer. Uma fusão de estados cada vez mais hibridizados anuncia a linguagem contemporânea. Cabe ao design contemporâneo instaurar as (inter)mediações que alicerçam os caminhos de um projeto que se traduz em produto, de modo eficiente. (COELHO, 2001; NOJOSA, 2000).
  • 15. isso, o design é um modo de pensar uma ampliação conceitual acerca da 28 29 (re)modelação do objeto/produto, hoje. As estratégias desse profissional focado em solução criativa e inovadora são de Vários conceitos dentro de diferentes contextos grande valor sociocultural, por levantar questões coerentes e conceber instrumentos Garcia, Wilton. Um design contemporâneo. Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006 Design, abrangem algumas tendências para considerar o possíveis para que as coisas ganhem força e se estabeleçam como objeto da design campo do design, o que não quer dizer cultura. No entanto, tento acionar a percepção do leitor para lembrar que, em diretamente que consigam de fato. Portanto, esse design, os imperativos culturais e identitários freqüentemente ressaltam arestas. texto debate, de forma interdisciplinar, uma rede de coordenadas discursivas entre cultura, linguagem e subjetividade, ao observar a qualidade humana (KRIPPENDORFF, 1999). Entre elas – cultura, linguagem e subjetividade – emergem o embatimento de novos saberes na produção do conhecimento, incluindo, assim, os desafios conceituais da experiência cotidiana. A noção de design apreendida, aqui, está baseada em uma competência integrada, Para finalizar, considero que este texto direciona, em seu escopo, alguns caminhos estrategicamente aos universos sociocultural e político. É nesse veio que submerge socioculturais e políticos que sistematizam, cada vez mais, os novos procedimentos uma dimensão sociocultural do design como sustentabilidade inovadora da de dispositivos hipermidiáticos de design, e corpo, sobretudo com o papel produção do conhecimento. Em síntese, nesse desafio acerca do design crescente na cena digital. Nessa mesma onda, os meios tecnológicos (eletrônicos e contemporâneo, o benefício de indicar os universos sociocultural, ideológico e digitais) de (re)produção e difusão da informação no contemporâneo sistematizam- político de uma produção de conhecimento pode legitimar um percurso conceitual se pela retomada diferencial da teoria crítica na indústria cultural. (DUARTE, 2003). que pressupõe, eminentemente, um posicionamento, sobretudo com a inscrição do corpo. (GARCIA, 2005). Assim, é legítimo apontar que essas reflexões não são de uma ontologia crítica sobre a inscrição do design contemporâneo, mas acionam alguns vestígios Há aí a possibilidade de reunir diferentes posturas e olhares para agraciar, em um circundantes acerca do corpo ao campo, e mais ainda: imagem, tecnologia, mesmo espaço, estudantes, pesquisadores e profissionais da área de design, com experiência e subjetividade. suas variantes discursivas. Nessa proposta, a integração social é um somatório de valores agregados ao produto e à marca do design, cujos benefícios devem estar respaldados no desenvolvimento humano. Dito de outra forma, a arena do design ressalta uma flexibilidade em que corpo, imagem e tecnologia colaboram com esses valores. Essa colaboração no design deve ressaltar a leitura crítica desses aspectos socioculturais e políticos. (EAGLETON, 2005). Dessa forma, o design destaca-se como atividade ampla e complexa que envolve diferentes fases de pesquisa, pensamento estratégico (aperfeiçoamento técnico), diante da capacidade de articular e implementar resultados para chegar ao produto como resultante provisória, pois ainda cabe ser consumida. É evidente que o design cria produto/marca para ser consumido, embora de forma efêmera. Vale ressaltar que ele não é algo apenas sobre a criação de coisas ou objetos; muito mais que
  • 16. MATURANA, Humberto. Cognição, ciência e vida cotidiana. Trad. de Cristina Magro e 30 31 Victor Paredes. Belo Horizonte: UFMG, 2001. McLUHAN, Stephanie; STAINES, David (Org.). Mcluhan por Mcluhan: conferências e entrevistas. Trad. de Antonio de Pádua Danesi. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. Garcia, Wilton. Um design contemporâneo. Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006 Referências NOJOSA, Urbano (Org.). Design contemporâneo. São Paulo: Nojosa Edições, 2005. BHABHA, Homi K. O local da cultura. Trad. de Myriam Ávila, Eliana L. L. Reis e Gláucia R. Gonçalves. Belo Horizonte: UFMG, 1998. COELHO, Luiz Antonio. Na superfície da mídia. Revista Estudos em Design, Rio de Janeiro: PUC/RJ, v. 9, n. 1/2, p. 93-106, 2001. COSTA, Jurandir Freire. O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. COUTO, Rita Maria de Souza; OLIVEIRA, Alfredo Jefferson de (Org.). Formas do design: por uma metodologia interdisciplinar. Rio de Janeiro: 2AB, 1999. DUARTE, Rodrigo. Teoria crítica da indústria cultural. Belo Horizonte: UFMG, 2003. EAGLETON, Terry. Depois da teoria: um olhar sobre os estudos culturais e o pós- modernismo. Trad. de Maria Lúcia Oliveira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. GARCIA, Wilton. Corpo, mídia e representação: estudos contemporâneos. São Paulo: Thomson Learning, 2005. KRIPPENDORFF, Klaus. Design centrado no ser humano: uma necessidade cultural. Trad. de Gabriella Meirelles e Lucy Niemeyer. Revista Estudos em Design, Rio de Janeiro: PUC/RJ, v. 8, n. 3, p. 85-95, 2000. MACHADO, Arlindo. Hipermídia: o labirinto como metáfora. In: DOMINGUES, Diana (Org.). Arte no século XXI: a humanização das tecnologias. São Paulo: Unesp, 1997.
  • 17. 10 OANOS DA PROJETO REVISTA 1 ANA CLÁUDIA GRUSZYNSKI GRÁFICO SOPHIA SEIBEL CHASSOT 2 UMA ANÁLISE dos DEZ ANOS da REVISTA CAPRICHO DE REVISTAS 1 Doutora em Comunicação Social pela Famecos/PUCRS. Professora- Adjunta no Curso de Comunicação da Fabico/UFRGS. E-mail: anagru_fabico@yahoo.com 2 Bacharel em Publicidade e Propaganda pela Fabico/UFRGS. E-mail: sofichassot@yahoo.com.br Resumo Palavras-chave Abstract Key words Este artigo avalia de que maneira o projeto gráfico de uma revista se Revista Capricho; design editorial; This article evaluates how the editorial design of a magazine is related to its Capricho magazine; editorial design; relaciona com seu projeto editorial, tomando como estudo de caso a revista projeto gráfico. editorial project, analyzing Capricho magazine of the years 1995 to 2005. For graphical project. Capricho no período de 1995 e 2005. Para isso, apresenta os elementos this, it presents the basic elements of graphical projects of magazines, as básicos de projetos gráficos de revistas, bem como um histórico da revista well as a description of the magazine itself, concentrating in aspects related Capricho, detendo-se em aspectos relacionados ao seu público-alvo, os to its target, the teenagers, in order to understand the way that the editorial adolescentes, a fim de melhor compreender como os projetos editorial e and graphical projects are structuralize in order to dialogue with its readers. It gráfico se estruturam a fim de dialogar com ele. Analisa e discute as analyzes and argues the different proposals of graphical project throughout diferentes propostas de projeto gráfico apresentadas ao longo do período the observed period. observado.
  • 18. 34 O mercado de revistas cresce a cada ano. Segundo a Associação Nacional dos O PROJETO GRÁFICO Editores de Revistas (Aner), esses periódicos movimentam cerca de um milhão de reais por ano em publicidade no Brasil, por meio da publicação de 388 milhões de exemplares/ano e 2.296 títulos.3 Dentre esses, a Editora Abril, que publica a revista Capricho, domina quase 50% do share. 4 Quando a Capricho surgiu, em 1952, era a Gruszynski, Ana Cláudia. O projeto gráfico de revistas: uma análise dos dez anos da revista Capricho. única publicação feminina da editora, e seu conteúdo era composto de fotonovelas. Em 1982, iniciou um processo de mudança que culminou em 1985, quando se design gráfico é o “termo utilizado para definir, genericamente, a atividade de planejamento e projeto relativos à linguagem visual. tornou uma revista para adolescentes, dirigindo-se ao que parecia representar um público consumidor promitente. Atividade que lida com a articulação de texto e imagem, podendo REVISTAS De lá para cá, o mercado passou por uma explosão de títulos que fizeram com que surgisse a necessidade de, cada vez mais, enfocar públicos bem-específicos. Para ser desenvolvida sobre os mais variados suportes e situações” DE dialogar com eles, os projetos gráficos tornam-se mais marcantes, gerando rápida identificação, bem como o seu reconhecimento em meio a outras publicações no ponto-de-venda. Nesse contexto, a revista Capricho conquistou um público cativo: um grupo de leitores que têm essa publicação como companheira durante parte significativa da vida de cada um. Líder de vendas no segmento de mercado direcionado aos adolescentes na atualidade e, portanto, referência para outras publicações que se dirigem a esses consumidores, a Capricho vem se transformando, ao longo dos anos, para permanecer companheira de seu público. O DESIGN EDITORIAL Levando em conta a importância do design da página para as publicações no que se A Associação de Designers Gráficos do Brasil indica que design gráfico é o “termo refere a questões de mercado, identidade do produto e conquista de um público utilizado para definir, genericamente, a atividade de planejamento e projeto cada vez mais disputado por concorrentes, este artigo avalia de que maneira o relativos à linguagem visual. Atividade que lida com a articulação de texto e projeto gráfico de uma revista se relaciona com seu projeto editorial, tomando como imagem, podendo ser desenvolvida sobre os mais variados suportes e situações”. estudo de caso a revista Capricho. Selecionamos uma edição por ano – a dedicada (ADG, 2003, p. 175). Projeto gráfico, identidade visual, projetos de sinalização, entre ao mês dos namorados – nos anos de 1995 a 2005, para comparar a forma gráfica outros, fazem parte de modo amplo – dessa área. Procurando melhor definir os da Capricho ao longo de 11 anos. Entendemos ser esse o tempo suficiente para que campos de atuação profissionais, essa associação definiu algumas especificações, o mercado mude e exija novos projetos gráficos, permitindo que avaliemos como denominando design editorial o campo que abrange o projeto de livros, revistas e esse funciona e como forma um conjunto de elementos que se mantêm em todas as jornais, em que se situa nosso objeto se estudo. edições, dando unidade gráfica à revista. Nossa hipótese é que esses elementos que se repetem vêm se tornando mais flexíveis ao longo dos últimos anos e, O design é desenvolvido mediante uma seqüência de etapas – processo – que notadamente, nas revistas para públicos mais jovens, o design da página vem 5 parte de um briefing e passa pela pesquisa, conceituação/solução, pelo sendo valorizado e é considerado tão importante para a matéria quanto o conteúdo desenvolvimento, pela produção e pelo balanço. O briefing, no caso de uma do texto. publicação, está associado a um projeto editorial. Esse é uma linha de conduta 3 Dados de 2003. Disponíveis em: <http://www.aner.org.br>. Fonte IVC-Dinap. 5 Documento resultante, normalmente, de uma reunião entre cliente e designer e funciona como o ponto de partida do 4 Share é a forma abreviada de referir-se a share-of-market, expressão em inglês que se refere à participação no mercado de projeto. Nele, devem constar todas as informações que possam ser necessárias para a elaboração do projeto sendo elas determinada empresa. informações limitantes (como verba, prazo, público-alvo, etc.) ou não.