Projeto de extensão Unidos pela histórias: poster Conpeex 2021
Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul
1. ISSN 1677-0943
Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - v.5, n. 10, jul.-dez./2006
Apresentação
Um design contemporâneo
Wilton Garcia
O projeto gráfico de revistas: uma análise dos dez anos da revista
capricho
Ana Cláudia Gruszynski e Sophia Seibel Chassot
Linguagem visual em design gráfico impresso e digital
Gisela Belluzzo de Campos
Tinindo, trincando: o design gráfico no tempo do desbunde
Jorge Luís Caê Rodrigues
A São Paulo do Art Déco: a memória em cartaz
Nara Sílvia Marcondes Martins
A roupa do moderno: representações da moda na década de 20
(Pelotas/RS)
Francisca Ferreira Michelon e Denise Ondina Morroni dos Santos
O design de moda como potência de um experimento
Rosane Preciosa
Caminho para a gestão integrada da identidade corporativa
Lígia Cristina Fascioni
A gramática da forma como metodologia de análise e síntese em
arquitetura
Gabriela Celani, Débora Cypriano, Giovana de Godoi e Carlos Eduardo V. Vaz DESIGN
Design ergonômico: uma revisão dos seus aspectos metodológicos
Luis Carlos Paschoarelli e José Carlos Plácido da Silva
CONEXÃO - ARTIGOS
Análise de discurso: uma abordagem dialética
EDUCS
Roberto Ramos EDUCS
Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - v.5, n. 10, jul.-dez./2006
EDUCS
3. CONEXÃO
COMUNICAÇÃO E CULTURA
Conselho Editorial
Prof. Dr. Antonio Hohlfeldt (PUC/RS)
Prof. Dr. Bernard Miège (ICM - Institut de la Communication et des Médias. Université Stendhal
Grenoble 3)
Prof. Dr. César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS/SE)
Profa. Dr. Cida Golin (UFRGS)
Profa. Dra. Cicilia Maria Krohling Peruzzo (UMESP/SP)
Prof. Dr. Dênis Moraes (UFF)
Profa. Dra. Doris Fagundes Haussen (PUC/RS)
Profa. Dra. Heloísa Pedroso de Moraes Feltes (UCS)
Profa. Dra. Kenia Maria Menegotto Pozenato (UCS)
Profa. Dra. Lúcia Santaella (PUC/SP)
Profa. Dra. Margarida Maria Krohling Kunsch (USP/SP)
Prof. Dr. Muniz Sodré (UFRJ)
Prof. Dr. Pierre Fayard (Poitiers - França)
Profa. Dra. Solange Medina Ketzer (PUC/RS)
Profa. Dra. Vania Beatriz Merlotti Herédia (UCS)
Editor
Revista de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - v.5, n. 10, jul.-dez./2006
Profa. Ms. Marlene Branca Sólio (UCS)
Colaboração: André Fontana (Mestrando em Letras e Cultura Regional – UCS) www.ucs.br/cchc/deco/conexao
5. 124 | A ROUPA DO MODERNO: REPRESENTAÇÕES DA MODA NA
DÉCADA DE 20 (PELOTAS/RS) APRESENTAÇÃO
Francisca Ferreira Michelon e Denise Ondina Morroni dos
Santos
144 | O DESIGN DE MODA COMO POTÊNCIA DE UM EXPERIMENTO
Rosane Preciosa
A sociedade contemporânea elegeu, como norteadores de seu desenvolvimento, de
154 | CAMINHO PARA A GESTÃO INTEGRADA DA IDENTIDADE sua própria evolução, sistemas de informação prioritariamente centrados na
imagem. Tudo o que se pode captar por meio do olhar acaba constituindo uma
CORPORATIVA comunicação visual, intencional ou não. Assim, o apelo visual, de design, numa
Lígia Cristina Fascioni peça gráfica/produto é fundamental.
Paralelamente, o estudo dos processos de comunicação tem contemplado, cada vez
180 | A GRAMÁTICA DA FORMA COMO METODOLOGIA DE ANÁLISE E 1
mais, vieses polissêmicos e inter/transdisciplinares de análise. Falar em
SÍNTESE EM ARQUITETURA comunicação e design é falar em expressão gráfica, mas também em marketing e
Gabriela Celani, Débora Cypriano, Giovana de Godoi e Carlos design de produto, em engenharia. Daí, a “mistura de autores e áreas” que
Eduardo V. Vaz buscamos nesta edição da Revista Conexão. Olhares vindos de diferentes
perspectivas são enriquecedores, sempre. Parece-nos impossível pensar o mundo
“em compartimentos” estanques.
198 | DESIGN ERGONÔMICO: UMA REVISÃO DOS SEUS ASPECTOS Globalização, chip, saturação, niilismo, simulacro, hiper-real, digital, desconstrução,
METODOLÓGICOS são palavras-chave deste momento. O movimento chamado pós-moderno por
Luis Carlos Paschoarelli e José Carlos Plácido da Silva alguns autores desfaz princípios, regras, valores, práticas e realidades. Ele revisita
todos os conceitos, agrega, transforma, como uma usina recicladora. O resultado é o
ecletismo de tendências. Nesse contexto, o design estetiza o cotidiano. A moda e a
CONEXÃO - ARTIGOS publicidade erotizam o dia-a-dia, estimulam o consumo e a posse. Assim, o pós-
modernismo é a moeda corrente do capitalismo.
216 | ANÁLISE DE DISCURSO: UMA ABORDAGEM DIALÉTICA A sociedade contemporânea caminha na direção da ênfase ao conhecimento local,
à fragmentação, ao sincretismo, à alteridade e à diferença. Põe em colapso as
Roberto Ramos
1 Por interdisciplinaridade: “Síntese de duas ou várias disciplinas, instaurando um novo nível do discurso (metanível),
caracterizado por uma nova linguagem descritiva e novas relações estruturais” (WEIL et al., 1993, p. 31). Ainda segundo os
autores, “a transdisciplinaridade pode ser definida como um estágio superior da interdisciplinaridade, que não se contentaria
em atingir as interações ou reciprocidades entre pesquisas especializadas, mas situaria essas ligações no interior de um
sistema total sem fronteiras estáveis entre as disciplinas.” (Apud Basarab Nicolescu. Science et tradition. Trosisème
Millènaire, Paris, n. 23, 1992).
6. hierarquias simbólicas rígidas, rompendo a barreira entre a alta-cultura e a cultura Na sociedade contemporânea, assumem valor significativo os aspectos de design,
popular. Atenua os limites entre aparência e realidade. Vale lembrar Baudrillard e quer falemos em produto, quer nos refiramos a mensagens. O design do produto
seu simulacro. Para o pensador, a vida contemporânea foi desmontada e está intimamente ligado ao marketing, ao valor de venda/consumo. O design
reproduzida num escrupuloso fac-símile. A simulação toma a forma de objetos e gráfico, além de sustentar essa intenção com campanhas publicitárias, passa pela
experiências manufaturados, que tentam ser mais reais do que a própria realidade: produção simbólica, pela construção do sentido. Ele vai, mais do que vender aquele
segundo Baudrillard, hiper-reais. determinado produto, “criar”, a partir dele, uma imagem/verdade, e será do
designer gráfico o papel de construir um discurso que “mostre” um produto
O sentido muda permanentemente. É impossível, mesmo para o autor, traduzir o harmonioso.
verdadeiro significado de qualquer texto ou obra. Nenhuma comunicação é
eficiente. Derrida sugere que tudo o que se pode ter são jogos com possibilidades e Ao discurso editorial de qualquer peça associa-se o discurso gráfico,
hipóteses, com suposições fundamentadas e riscos, às vezes calculados, às vezes inteligentemente utilizado, no sentido de reforçar determinada mensagem ou, no
não. sentido de oferecer ao “leitor” recado complementar/subliminar, muitas vezes não
percebido conscientemente.
Se, de um lado, o “estado” de pós-modernidade acena com a liberdade e com o
“tudo se pode”, de outro, traz angústia e incerteza, que abalam profundamente os Traçado esse breve mapa, convidamos nossos leitores a percorrer os caminhos aqui
indivíduos. O modernismo, por sua vez, pensou ter encontrado as respostas para os apontados, na perspectiva de diversos autores, levando todos a um mesmo lugar: o
grandes questionamentos do homem. Levou ao desenvolvimento da ciência e da design.
tecnologia, à supervalorização da informação; dilatou fronteiras; rompeu as
barreiras do tempo e do espaço, legando dúvidas multiplicadas, mais
questionamentos. Marlene Branca Sólio
Editora
Ao contrário da modernidade, a pós-modernidade promove, na comunicação visual,
o jogo, o acaso, a desconstrução, a acumulação, a diversificação e, principalmente,
reintroduz o sujeito na atribuição de significação às mensagens visuais, até então
“engessadas” por fórmulas preestabelecidas. O século XX vai marcar dois
momentos importantes. Seu início aponta a ruptura com a tradição das belas-artes
e, o final, a ruptura com a tradição racionalista que ele havia cultivado.
Na mesma medida que traz o novo, o inaugural, o verdadeiramente inusitado, o
design contemporâneo parece conter em sua gênese uma dualidade paradoxal:
transcende, ao mesmo tempo que continua, o modernismo, pois nada recusa,
agregando tudo. Harvey nos mostra que a sociedade da modernidade quer romper
com o velho, enquanto se apóia na crença do ordenamento universal, na visão do
projeto acabado, na lógica do início, meio e fim, atualizando a vigência do
econômico, do despojado, do funcional (Bauhaus). O pós-moderno vai caracterizar-
se pelo “empilhamento”, pelo ecletismo, pela diversidade. O modernismo buscava
distanciamento do passado, enquanto o pós-modernismo o revisita, aceita a
tradição, potencializa-a e faz combinações entre seus aspectos. Não há projeto
acabado. Há, sim, o inacabado, o contínuo, o instável, o imprevisível, a rede.
8. Resumo
Este texto apresenta uma reflexão crítica 2
Wilton GARCIA
sobre o campo do design contemporâneo,
permeado de aspectos socioculturais e
políticos. Na relação
professor/pesquisador com o contexto de
ensino-aprendizagem, tomo a
sistematização de experiências que
potencializam a discussão corpo/máquina
para explorar o caráter dinâmico do design
e da hipermídia. É preciso pensar o design
contemporâneo acompanhando as Abstract
(trans/de)formações do corpo e os avanços
This text presents a critical reflection on
design
tecnológicos. Nesse caso, imagem,
UM
some conceptual aspects in the field of
tecnologia, experiência e subjetividade são
contemporary design. In the relation
inscrições do corpo no desenvolvimento da
teacher/researcher with the teach-learning
criação no design, hoje. O presente texto
context, I take the systematization of
(atento a temas como arte, informação,
experiences that potencialize the quarrel
política e consumo) aponta e registra
body/machine to explore the dynamic
estudos contemporâneos como eixo
character in design and hypermedia. It is
teórico-metodológico dessa investigação.
necessary to think about contemporary
design following (trans/de)formations of
Palavras-chave
the body and the technological advances.
Design; corpo; imagem; tecnologia; In this case, image, technology, experience
contemporâneo
estudos contemporâneos. and subjectivity are inscriptions of body in
the development of creativity in design,
1
today. The present text (intent to the
subjects as art, information, politic and
consumption) points and to registe the
contemporary studies as axle theoretician- 1 Agradeço ao grupo de pesquisas Design: criação e novas mídias, da Universidade Anhembi Morumbi pelo apoio
institucional no desenvolvimento deste trabalho, que faz parte da minha pesquisa, em processo, Design, corpo, imagem e
methodological of this inquiry. tecnologia: estudos contemporâneos.
2 Artista visual e pesquisador de cinema, fotografia, vídeo e imagem digital investigando sobre o corpo. É Doutor em
Key words Comunicação e Estética do Audiovisual pela ECA/USP e Pós-Doutor em Multimeios pelo IA/Unicamp. Atualmente, é
Design; body; image; technology; pesquisador e professor no Programa de Mestrado em Design, da Universidade Anhembi Morumbi. Autor do livro Corpo,
mídia e representação: estudos contemporâneos (2005), entre outros. E-mail: wgarcia@anhembi.br
contemporary studies.
9. São muitas as variantes que compreendem os aspectos Muito mais que abordar exclusivamente questões
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socioculturais e políticos do campo do design teórico-metodológicas, falo de um design
contemporâneo. Hoje, esses aspectos envolvem o design e elegem a vida social contemporâneo comprometido com questões
como instigante referência para se pensar produção e consumo no mercado socioculturais e políticas. Essas questões
globalizado. É o caso de artefatos, objetos, produtos e imagens, os quais se refazem A inscrição sobrepõem a experiência subjetiva que aproxima
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.
Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006
em abundantes proporções para atender às distintas expectativas dos cenários o design, sua produção, a relação do corpo e a
nacional e internacional. qualidade humana. Insisto em realizar minhas
pesquisas marcando-as com um posicionamento
É claro que o design e suas relações com a sociedade variam de acordo com o que investe uma dinâmica reflexiva sobre o
contexto social, cultural e/ou político no qual estão inseridos em uma profusão de desenvolvimento da qualidade humana.
efeitos intermultitransdisciplinares. (COUTO; OLIVEIRA, 1999). Entre design e (KRIPPENDORFF, 2000).
sociedade, há uma pluralidade de representações que se inscrevem como produtos,
serviços, técnicas, artefatos, objetos e, até mesmo, estratégias – como da A possível preocupação dessa abordagem de cunho sociocultural e político não
arquitetura à decoração, da arte à comunicação, da publicidade à moda. Nesse retira, nem restringe, o caráter criativo no exercício do design contemporâneo. Pelo
entorno de possibilidades, é necessário discutir os parâmetros de uma agenda de contrário, contribui para o rendimento de diversos enfoques, sobretudo na trilha das
debates na arena do design, ainda mais no Brasil. Falo de uma agenda do design novas tecnologias digitais em particular a hipermídia.
contemporâneo (NOJOSA, 2005) que oriente a inclusão social – diferença e
alteridade. A diferença aqui seria enunciar os traços de singularidade que assinam a As transformações provocadas pela hipermídia, cada vez mais, articulam a relação
massificação da produção cultural contemporânea. O que fazer quando tudo é design, corpo e tecnologia diante da arquitetura virtual e do espaço imersivo lotado
muito parecido? de alternativas múltiplas e imprevisíveis. Transformações que alternam as
manifestações das coisas, promulgam desafios conceituais. Essas transformações
O foco deste texto é uma reflexão crítica sobre o campo do design contemporâneo, podem ser vistas/lidas como avatares tecnológicos que promovem,
permeado de aspectos socioculturais e políticos. Assim, o debate inscreve uma estrategicamente, as condições adaptativas dos dispositivos digitais na atualidade.
discussão sobre produção, circulação e consumo do design, atento a aspectos
socioculturais e políticos. Tento expor alguns desafios empíricos e conceituais no Uma cartografia labiríntica aciona vestígios instrumentais da escritura hipermidiática
campo do design. agregada pela avidez dos hipertextos: estruturas maximadoras do texto, que se
auto-extrapolam em seu contexto. Texto que aqui deve ser tomado como unidade
São momentos distintos, que se retroalimentam como proposta expositora de idéias mínima de representação, portanto, reveste-se também de uma dimensão visual,
e visam à urgência de discussões acerca do design, no contemporâneo. Abordo sonora.
algumas inquietações, noções e conceitos que navegam pela produção do saber e
do conhecimento no design, do corpo e da hipermídia, a fim de investigar uma Nessa escritura hipermidiática, o deslocamento do usuário-interator ocorre com a
dimensão crítica nos âmbitos sociocultural e político. experiência da navegação na cibercultura, uma vez que o espaço, em especial o 3D,
dilata e expande as alterações paulatinamente. Ao considerar a remodelação dos
Realizadas tais considerações preliminares, passo a assinalar quatro tópicos objetos em sua extensão representacional diante da expressão hipermidiática,
reflexivos: A inscrição; Brevidades conceituais; O pensar e o fazer; e Design, design. observa-se uma recombinação de dados que legitima a (re)formatação dinâmica da
Tópicos que equacionam, neste momento, minhas impressões sobre o design hipermídia.
contemporâneo, que constitui uma escritura crítica – exemplificada por experiências
e subjetividades – em uma investigação sociocultural e política. Nessa investigação,
tento investir e aproximar a noção de corpo como eixo poético do design que se
atualiza, eminentemente, pela linguagem.
10. Segundo Arlindo Machado: O desejo aparece, nessa citação, como eixo enigmático, que recontextualiza
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“novas/outras” idéias e gera conceitos. É no desdobramento previsto no
Através de suas bifurcações, de suas proposições múltiplas e ambíguas, contemporâneo que se permeiam design, corpo, imagem, tecnologia e,
das ligações móveis e provisórias entre suas partes, a hipermídia permite respectivamente, ocorre o procedimento de elaboração de um objeto, (de)marcado
representar o pensamento não assentado dos espíritos que contendem pelo desejo. Desejo que se reveste da enunciação sociocultural e política, atrelada
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entre si, como a confirmar a máxima de Mikhail Bakthin de que a ao escopo do digital. Um desejo singular que impulsiona a possibilidade criativa,
verdade tem sempre uma expressão polifônica. (1997, p. 148).
pautada pela emergência de debates ao acionar o desenvolvimento da
qualidade humana, atrelado às novas tecnologias. Nesse caso,
Essa articulação explosiva da hipermídia desdobra diferentes possibilidades de evocam-se as circunstâncias da hipermídia.
acolher, armazenar e distribuir informações em forma de texto, imagem, som,
gráficos, etc. Aquilo que ultrapassa a predicação do objeto retraduz um lugar de Design e hipermídia co-existem a partir do momento
propriedade complexa, que, por ora, se intitula hipermídia. em que se obtém a configuração sobre o
encontro corpo/máquina no contemporâneo.
ia
rmíd
Nesse sentido, a noção de hipermídia – um marco transitivo de adequações, Corpo e máquina dialogam suas
ajustes, interesses, sinalizações, enquadramentos e flexibilidade como indicação
e hipeem to potencialidades de acordo com a
signo-exist omen a
tecnológica – pode ser um elo que (inter)media a relação corpo/máquina na possível extensão humana (McLUHAN;
internet. Mais que isso, biotecnologia, hibridismo, robótica, interface e hipertexto de c STAINES, 2005), que caracteriza a
são noções circunstanciais que coabitam a aplicação dinâmica da hipermídia em
ir do m btém estratificação versátil da hipermídia.
diálogo com o corpo ontologizado pela natureza digital da cibercultura. A rede
a partque se oração ro
m onfigu ncont a
mundial de computadores convoca o usuário-interator para realizar uma visita A hipermídia, neste caso, hibridiza
virtual, atualizada pela hipermídia na contemporaneidade. e c e
as fronteiras entre corpo e máquina.
re o/máquinneo máquina como extensão gerativa de
Um interstício imbrica corpo e
A produção de artefatos, a partir da teoria crítica da indústria cultural, vincula-se à sob rpo porâ
ordem sociocultural e política. (DUARTE, 2003). Assim, o design contemporâneo, em
co ontem imagens que camuflam as partes. É
oc
consonância com as diretrizes socioculturais e políticas, amplia uma reflexão crítica uma associação embrionária que a
sobre o compartilhar de uma sensibilidade ética, marcadamente pelo n hipermídia e sua pluralidade manipulam
as extremidades desse contágio
desenvolvimento da qualidade humana.
corpo/máquina. Não se trata de uma metáfora,
Para tratar de aspectos socioculturais e políticos que agenciam/negociam a relação grosso modo, trata-se de uma verificação.
design e corpo, recupero as considerações de Humberto Maturana:
Portanto, parto da premissa de que a arena do design se atualiza quando
ambienta, estrategicamente, sua discursividade em um contato tecnológico com
A questão que nós seres humanos devemos enfrentar não é o que o orgânico. Ainda que esse debate configure-se para além do orgânico úmido a
queremos que nos aconteça, não é uma questão sobre o conhecimento nova ordem do corpo equaciona novas sensibilidades, a partir dos códigos
ou o progresso. A questão que devemos enfrentar não é sobre a relação digitais e suas sintetizações tecnológicas. Elabora-se o panorama mediador do
entre a biologia e a tecnologia, ou sobre a relação entre a arte e a instrumental maquínico articulado nessa relação corpo/máquina que instaura o
tecnologia, nem sobre a relação entre o conhecimento e a realidade, nem
design.
mesmo se o metadesign molda ou não nosso cérebro. Penso que a
questão que precisamos enfrentar nesse momento de nossa história é
sobre nossos desejos e sobre se queremos ou não ser responsáveis por
nossos desejos. (2001, p. 173).
11. De acordo com Luiz Antonio Coelho, E, ainda assim, testemunham-se os efeitos que essas transformações, hoje,
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conferem diferentes anotações no campo do design diante do fazer humano. E,
o fato de a matéria ser ou não orgânica, viva ou inerte, não a impediria nesse fluxo, urge a possibilidade da elaboração de um pensamento criativo em
de ser centrada como objeto para o designer [...]. O corpo humano, nesse favor de um design contemporâneo. Acredito que essas transformações
caso, torna-se um objeto e um meio de comunicação com todo o tecnológicas passam a existir mediante o fazer humano e a sua possível integração
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.
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potencial de constituir um sistema de mídia e de impactar o ambiente híbrida entre corpo/máquina.
social. O corpo humano hoje e passível de projeto e construção nos
mesmos padrões do objeto inanimado. Há inúmeros exemplos em que o
A exposição do produto e do corpo investe uma maquiagem estratégica do
corpo é manipulado como matéria e torna-se objeto de construção para
esteticistas. (2001, p. 100). marketing, capaz de retardar as artimanhas para o consumo.
Jurandir Freire Costa afirma:
As palavras desse pesquisador enfocam o corpo no âmbito do design, ao realizar
uma efetiva comparação que (re)inscreve a comunicação desse corpo como objeto e O aumento da produtividade industrial influiu, de modo decisivo, na
mediação. Não se trata, exclusivamente, de uma substituição do corpo pelo transformação imaginária do trabalho em labor. O avanço tecnológico, a produção
de bens industriais em grande escala, a melhoria das condições de vida dos
artefato, mas sim, de uma aproximação que de forma circunstancial prevalece como
operários e a criação de um mercado de compradores despiram o trabalho de seu
sistema midiático. Entre os dispositivos técnicos e o corpo, associa-se um mapa de caráter artesanal. A velocidade com que os novos bens eram produzidos e
idéias criativas cujo universo do design se apropria de forma direta. vendidos mudou o sentido do ato de fabricar e do de comprar. Quem produzia não
se percebia mais como autor de coisas feitas para atender [às] necessidades reais,
A lógica que expõe diferentes estratificações textuais ampara uma natureza mas para serem vendidas, sendo ou não necessárias. Vender, e não fazer coisas
circunstancial para (inter)mediar design e corpo. É o corpo que inscreve o sujeito úteis, se tornou a meta final da produção. (2004, p. 133).
social na cena do design. “O corpo material é o que compartilhamos de forma mais
significativa com todo o resto da nossa espécie, estendida tanto no nosso tempo Observa-se que o consumo de objeto/produto em larga escala (massificada e
como no espaço.” (EAGLETON, 2005, p. 212). Verifica-se essa associação ao industrial) é algo perene, porém constante na sociedade capitalista. (DUARTE,
observar o desdobramento do design e corpo em sua atualização sociocultural e 2003). Estrategicamente, torna-se necessário ponderar as novas subjetividades da
política com a biotecnologia, as próteses, as cirurgias (plásticas) estéticas. experiência cotidiana artística, mercadológica, midiática, sociocultural e/ou
tecnológica que incorporam dados competentes ao objeto.
Da linha de montagem ao mercado, os produtos de design são, agora, divulgados
pela mídia na frenética intensidade da cultura digital. Observa-se que, No contemporâneo, fórmulas, tendências e fundamentos teóricos se alteram aos
paralelamente, o corpo também é explorado como mecanismo desse discurso poucos sem, necessariamente, operacionalizar alguma síntese. A inscrição do
hipermidiático. Assiste-se a um percurso visceral, em que se perpetua a imanência design (de embalagem, gráfico, produto, moda ou digital) e suas atividades somam
(inter)subjetiva da exibição de marcas na mídia como imagem recorrente de uma um fecundo território multifacetado de criação, muito maior do que a simples
dimensão mercadológica, que muda a vida cotidiana. compreensão de uma leitura crítica possa indicar. Diante desse contexto, imagine a
expansão da imagem corpórea que atualiza a representação do corpo em
Essas mudanças são provocadas por transformações tecnológicas que se contraponto ao design na sociedade de hoje em dia.
dinamizam pelo intenso uso do computador. Modificam-se os parâmetros
referenciais do cotidiano, seguindo a influência das novas tecnologias digitais. Diante desses pressupostos, como elaborar investigações a partir do design, hoje?
Nessa disposição, observa-se que na área do design também seguem Como pensar a prática projetual do design diante das novas tecnologias? Como o
transformações abruptas, que criam novas possibilidades e caminhos para se design se relaciona com a sociedade hipermidiática? Qual a responsabilidade do
pensar a representação e a sociedade. designer neste contexto? Como isso é mediado no território que sistematiza design
e corpo?
12. Mais que uma questão de pesquisa, a força do design elege teoria e prática juntos, complexo que envolve o processo de apreensão do objeto (i)material. Entre design e
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para adentrar no universo da cultura. A cultura, portanto, (re)desenha dados corpo, tento enfocar uma perspectiva reflexiva e conceitual do objeto (i)material. 3
capazes de prenunciar a história dos artefatos. Ao repensar o estatuto do objeto no
ambiente tecnológico da hipermídia, observam-se as práticas culturais atuais e os As anotações reflexivas sobre o objeto (i)material podem ser verificadas nas redes
“novos/outros” paradigmas que diversificam as concepções de mundo. de coordenadas discursivas no contemporâneo. Ao exagerar no uso de prefixos,
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.
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tento reverter a possibilidade de um prisma mais aberto e dinâmico que intenciona
A cultura dilata a percepção humana em uma espiral de infinita predisposição de ainda mais expandir seus efeitos de sentido, trazidos por uma polifonia imagética e
incertezas. O desenvolvimento humano, na verdade, inscreve os princípios que incorporada pelas diretrizes dos artefatos. Essas diretrizes proporcionam as
fazem nascer a sistematização da cultura. (EAGLETON, 2005). Ou seja, relacionar modificações no estatuto do objeto (i)material. Elas existem a partir do momento em
uma atividade projetual do design não é suficiente para representar atribuições que se obtém a dimensão (i)material do objeto, muito além de forma/conteúdo,
específicas dadas pela cultura. A cultura, dessa forma, desperta para diretrizes com a configuração de um hibridismo cultural.
flexíveis e evidencia “novos/outros” resultados.
A composição e a transformação das coisas pelo design implicam repensar,
O design pode e deve ser uma experiência aberta, que aproxima uma estrutura criticamente, apresentação e representação dos objetos (i)materiais em seus
singular em sua complexa realidade cultural. É na cultura que as transformações diferentes estágios: do projeto ao planejamento, da produção à execução: o que
tecnológicas do objeto instauram-se subterfúgios competentes. Isto é, o desenrolar ressalta uma assinatura. Nesse conjunto, há um estado inebriante de possibilidades
da ação do design prioriza suas relevâncias que incrementam o projeto e a criação. de saberes do campo do design que almejam dar forma ao raciocínio cognitivo,
programado para as artimanhas de uma estratégia discursiva: a enunciação do
Existe uma ampliação mais significativa no contexto do design, que demonstra sua objeto (i)material em sua singularidade criativa – o diferencial.
execução e funcionalidade, ao extrapolar a (inter)mediação entre idéia e
planejamento. Nota-se a mudança em sua conceitualização no processo de Desnecessário dizer que não se trata de procurar diretamente análise, interpretação,
investigação e solução projetual no design contemporâneo. (NOJOSA, 2005). significação. Basta estabelecer o convívio com o resultado, tangível em um registro.
Com efeito, o desdobramento conceitual que pretendo apresentar se concretiza
pelos chamados estudos contemporâneos, os quais elegem diferentes abordagens
teórico-metodológicas para fomentar intercâmbios relativos aos estudos culturais
Aqui, a idéia é concentrar a atenção sobre os efeitos (BHABHA, 1998) e suas variantes – multiculturalismo, pós-colonialismo e diás-
que a imagem do artefato produz e expandir suas poras – com o desenvolvimento das tecnologias digitais. (GARCIA, 2005).
(de)marcações outrora fixas, cristalizadas.
Interessa ponderar a superfície imagética, sua Nesse sentido, os estudos contemporâneos mapeiam diferentes conceitos, teorias,
Brevidades representação visual/figural, seu efeito e não o métodos, técnicas e críticas para realizar (inter)mediações de experiências atuais,
Conceituais produto em si. É nessa brevidade conceitual que cujos aspectos sincréticos reforçam as malhas (inter/trans)textuais e revelam um
desafio o encontro design-corpo. registro aberto em constante transformação. Esses estudos atualizam a cooperação
entre globalização, ecologia e novas tecnologias (EAGLETON, 2005), cujo objetivo
Dispor do campo do design, assim, seria organizar concentra-se na prestação de serviço e/ou responsabilidade às sociedades
um olhar flexível que digere os elementos políticas.
projetuais, para ampliar a experiência do design e
sua (inter)subjetividade. Nesse sentido, almejo e qualifico, para mero
3 A expressão – objeto (i)material – é o fio condutor para instaurar o caminho discursivo deste estudo. Portanto, a noção de
entendimento, uma leitura descritiva, hábil na verificação estendida do simples ao
objeto (i)material aqui deve ser ressaltada como articulação estrategicamente comprometida com a manifestação
contemporânea daquilo que possa ser constituído tanto no design de produto quanto no design de hipermídia, respeitando
suas devidas características e diferenças: dos dispositivos à relação tempo-espaço.
13. Evidentemente, as teorias da nova economia e do mercado globalizado, como a contemporâneo tange a atualização da linguagem, ou seja, elabora-se a expectativa
24
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tecnologia da informação, por exemplo, especulam sobre o uso do produto e sua de desenvolvimento das idéias sobre os produtos e a produção em design. Assim,
propriedade, enquanto estado aquisitivo das coisas. De acordo com os estudos também se observa a mudança da relação professor/pesquisador com o contexto
contemporâneos, a relação entre consumidor e usuário passa por surpreendentes de feitura ao ensino-aprendizagem, pois, cada vez mais, os enfrentamentos se
renovam paulatinamente. Incluem aqui os aspectos socioculturais e políticos que
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transformações, às quais todos devem estar atentos, incluindo aí o profissional do
design. Aqui, pretende-se pensar a participação e a interação do público- redimensionam design e corpo.
consumidor.
As atualizações conceituais, efetivamente, esboçam a área dos estudos
Assim, utilizo os estudos contemporâneos como espaço teórico-metodológico contemporâneos em sua intensidade descritiva. Esse movimento meticuloso dos
para inscrever os critérios de uma reflexão teórico-política – para além dos estudos contemporâneos serve para tentar atualizar o desenvolvimento de idéias e
enfrentamentos pós-marxistas e pós-estruturalistas. Claude Lévi-Strauss, conceitos, cujas novas derivativas estão empenhadas na promoção cultural do
Edward Said, Felix Guatari, Gilles Deleuze, Jacques Derrida, Jacques conhecimento. Aciona-se, com isso, um olhar investigativo sobre as inovações
Lacan, Frederic Jameson, Julia Kristeva, Michel Foucault, temáticas em especial aqui atreladas ao campo reflexivo do design em suas
Roland Barthes, Theodor Adorno ou Walter Benjamin são ramificações de redes de coordenadas discursivas da hipermídia, juntamente com o
é pensar e o fazer.
bém campo
nomes que podem ilustrar um pouco mais o panorama
am
m, t rrer aobservar s
que se expande do pensamento pós-moderno ao
assi reco a o eito contemporâneo. Imagine se esses autores
o ar nc estivessem vivendo, hoje, a experiência da
recis esign p dos co tos
p d hipermídia, em particular o universo da internet
do fluênciaedimen rtir dass na atualidade da banda larga. Quais seriam os
a in e proc os a paalizada paradigmas apontados por eles na compreensão
ad tu filosófica de mundo contemporâneo? Quais
taurlogias aternet
Na esteira dos estudos contemporâneos, teço
ins no n
seriam suas contribuições?
O pensar considerações que possam servir de elemento
tec pela ida larga e o fazer norteador para se pensar ensino-aprendizagem
ban
Assim, também é preciso recorrer ao campo do diante do tema design contemporâneo e tendo o
design para observar a influência dos conceitos e corpo como atrativo estratégico, pois é no fazer
procedimentos instaurados a partir das tecnologias que o corpo age, como é no pensar que o corpo
atualizadas pela internet banda larga. Há um espaço para esse sente. (GARCIA, 2005). Nada no design está fora
tipo de debate no âmbito do design? O que o designer produz, atualmente, diante do corpo. Essas intenções entre o pensar e o fazer
dessas novas ferramentas implementadas pela internet de banda larga? O que isso culminam na elaboração de estratégias que
influencia também no consumo? (inter)cambiam a inscrição do design contemporâneo. (COUTO; OLIVEIRA, 1999).
Muito mais do que se possa articular a partir do paradigma da hipermídia, da Particularmente no design, a passagem temporal que mostra a coisa como resultado
manifestação do objeto e/ou da sua recepção, a lógica dos estudos de uma idéia permite refletir acerca do processo de elaboração do projeto e da sua
contemporâneos sistematiza a acoplagem do design e corpo, na relação inteligível- fabricação. Da idéia à sua expressão, há um território subjetivo de tempo-espaço
sensível com o mundo, cuja competência encontra-se na descrição crítica do corpo que o corpo experimenta – seja do designer, na criação ou do usuário/interator, no
expandido. consumo. Nessa malha, a relação tempo-espaço também ajuda na (re)dimensão
crítica do pensar e o fazer.
Dessa forma, este trabalho pesquisa ações emergentes – a base conceitual
(transdisciplinar) dos estudos contemporâneos. Nesse caso, a idéia de
14. Ao compartilhar a transformação da matéria-prima em objeto e/ou serviço, o design Descobrir como fazer para que tudo o que fazemos e pensamos se
26
27
tenta aperfeiçoar o processo de criação, procurando instaurar-se pelo planejamento relacione com tudo o que sentimos e sabemos é a grande chave para o
de idéias e concepções estudadas para o desenvolvimento investigativo. A desenvolvimento de outras dimensões do Design. O Design deve ser
entendido não apenas como uma atividade de dar forma a objetos, mas
investigação, nesse sentido, torna-se uma atividade de busca pelo conhecimento
como um tecido que envereda o designer, o usuário, o desejo, a forma, o
humano, tendo em vista que a descoberta amplia o olhar quando descortina o
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.
Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006
modo de ser e estar no mundo de cada um de nós. (COUTO; OLIVEIRA,
exercício de profundidade entre o pensar e o fazer – traduzidos pela ponte entre a 1999, p. 9).
idéia e a coisa feita.
A inquietação que aponta essa passagem da idéia à coisa confeccionada apresenta
um ato perceptivo/cognitivo que estabelece sua resultante entre o pensar e o fazer, A citação acima, didaticamente, indica as diversas etapas que o
próprios da condição adaptativa de pressupostos humanos. Perceber o mundo é a design perpassa para realizar suas atividades entre o pensar e o
oportunidade de ver/ler os objetos/produtos, denominados pela sua relação com o fazer. O exercício crítico dessa citação faz do design uma
corpo. Do pensar ao fazer, formaliza-se um eixo de composições articuladas em uma arena de debates investigativos que incorpora
metodologia própria das atualizações tanto da percepção quanto da feitura. interdisciplinarmente as aberturas das ciências
humanas para o aproveitamento de
esign taurar
Mas, nesse caso, é relevante ponderar a dinâmica entre pensar e fazer como resultados. “Descobrir como fazer para
d
e aoneo ins s que
extensão gerativa dos produtos, sem, necessariamente, advir uma imagem que tudo o que fazemos e pensamos se
cab orâ
positivista de progresso. É evidente que há um desenvolvimento quando se conclui relacione com tudo o que sentimos e
e
um projeto; no entanto, há também um enlace de subjetividades que assinalam
p ediaçõ inhos sabemos é a grande chave”, cujo
ntemter)m s cam e se
aspectos socioculturais e políticos. embatimento reforça a clareza entre
co (in o u o pensar e o fazer no design. Mais
É preciso enveredar poeticamente – o pensar e o fazer – num modo estratégico de as cerçam rojeto q to, de que isso, também relaciona o corpo.
assegurar que os esforços para beneficiar a sociedade, e que essas manifestações
ali um p produ te. O processo do fazer criativo no
do objeto projetado pelo design estejam em sintonia com a inovação sustentável.
de uz em ficien design, hoje, requer articular uma
trad modo e
Sustentabilidade (de)marca uma importante característica para se pensar o futuro
da sociedade. Assim, a reflexão e a feitura são dois elementos que comportam a estratégia conveniente para enunciar o
articulação entre o pensar e o fazer e estabelecem uma poética aberta, em produto como elemento fundamental ao
constante transformação. sistema; sistema esse pautado pelas
tecnologias digitais da hipermídia. Assim,
O pensar e o fazer fomentam, nesse caso, uma situação extremamente fecunda para pode-se considerar que as (trans/de)formações do
enunciar a criação do projeto, que estratifica a organização operacional e a objeto/produto, implicam, também, a reflexão das
manufatura do objeto mediante a máxima desprendida do sentido polifônico do possibilidades de (re)dimensionar o campo do design em atenção às
conhecimento; projeto que precisa ser bem-estudado para apontar estratégias categorias corpo, imagem e tecnologia, em estágio fronteiriço entre o pensar e
eficientes. o fazer.
Uma fusão de estados cada vez mais hibridizados anuncia a linguagem
contemporânea. Cabe ao design contemporâneo instaurar as
(inter)mediações que alicerçam os caminhos de um projeto que se traduz em
produto, de modo eficiente. (COELHO, 2001; NOJOSA, 2000).
15. isso, o design é um modo de pensar uma ampliação conceitual acerca da
28
29
(re)modelação do objeto/produto, hoje.
As estratégias desse profissional focado em solução criativa e inovadora são de
Vários conceitos dentro de diferentes contextos grande valor sociocultural, por levantar questões coerentes e conceber instrumentos
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.
Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006
Design, abrangem algumas tendências para considerar o possíveis para que as coisas ganhem força e se estabeleçam como objeto da
design campo do design, o que não quer dizer cultura. No entanto, tento acionar a percepção do leitor para lembrar que, em
diretamente que consigam de fato. Portanto, esse design, os imperativos culturais e identitários freqüentemente ressaltam arestas.
texto debate, de forma interdisciplinar, uma rede
de coordenadas discursivas entre cultura,
linguagem e subjetividade, ao observar a
qualidade humana (KRIPPENDORFF, 1999). Entre
elas – cultura, linguagem e subjetividade – emergem o
embatimento de novos saberes na produção do conhecimento, incluindo, assim, os
desafios conceituais da experiência cotidiana.
A noção de design apreendida, aqui, está baseada em uma competência integrada,
Para finalizar, considero que este texto direciona, em seu escopo, alguns caminhos
estrategicamente aos universos sociocultural e político. É nesse veio que submerge
socioculturais e políticos que sistematizam, cada vez mais, os novos procedimentos
uma dimensão sociocultural do design como sustentabilidade inovadora da
de dispositivos hipermidiáticos de design, e corpo, sobretudo com o papel
produção do conhecimento. Em síntese, nesse desafio acerca do design
crescente na cena digital. Nessa mesma onda, os meios tecnológicos (eletrônicos e
contemporâneo, o benefício de indicar os universos sociocultural, ideológico e
digitais) de (re)produção e difusão da informação no contemporâneo sistematizam-
político de uma produção de conhecimento pode legitimar um percurso conceitual
se pela retomada diferencial da teoria crítica na indústria cultural. (DUARTE, 2003).
que pressupõe, eminentemente, um posicionamento, sobretudo com a inscrição do
corpo. (GARCIA, 2005).
Assim, é legítimo apontar que essas reflexões não são de uma ontologia crítica
sobre a inscrição do design contemporâneo, mas acionam alguns vestígios
Há aí a possibilidade de reunir diferentes posturas e olhares para agraciar, em um
circundantes acerca do corpo ao campo, e mais ainda: imagem, tecnologia,
mesmo espaço, estudantes, pesquisadores e profissionais da área de design, com
experiência e subjetividade.
suas variantes discursivas. Nessa proposta, a integração social é um somatório de
valores agregados ao produto e à marca do design, cujos benefícios devem estar
respaldados no desenvolvimento humano. Dito de outra forma, a arena do design
ressalta uma flexibilidade em que corpo, imagem e tecnologia colaboram com esses
valores. Essa colaboração no design deve ressaltar a leitura crítica desses aspectos
socioculturais e políticos. (EAGLETON, 2005).
Dessa forma, o design destaca-se como atividade ampla e complexa que envolve
diferentes fases de pesquisa, pensamento estratégico (aperfeiçoamento técnico),
diante da capacidade de articular e implementar resultados para chegar ao produto
como resultante provisória, pois ainda cabe ser consumida. É evidente que o design
cria produto/marca para ser consumido, embora de forma efêmera. Vale ressaltar
que ele não é algo apenas sobre a criação de coisas ou objetos; muito mais que
16. MATURANA, Humberto. Cognição, ciência e vida cotidiana. Trad. de Cristina Magro e
30
31
Victor Paredes. Belo Horizonte: UFMG, 2001.
McLUHAN, Stephanie; STAINES, David (Org.). Mcluhan por Mcluhan: conferências e
entrevistas. Trad. de Antonio de Pádua Danesi. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.
Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 10, jul./dez. 2006
Referências NOJOSA, Urbano (Org.). Design contemporâneo. São Paulo: Nojosa Edições, 2005.
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Trad. de Myriam Ávila, Eliana L. L. Reis e Gláucia
R. Gonçalves. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
COELHO, Luiz Antonio. Na superfície da mídia. Revista Estudos em Design, Rio de
Janeiro: PUC/RJ, v. 9, n. 1/2, p. 93-106, 2001.
COSTA, Jurandir Freire. O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do
espetáculo. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.
COUTO, Rita Maria de Souza; OLIVEIRA, Alfredo Jefferson de (Org.). Formas do
design: por uma metodologia interdisciplinar. Rio de Janeiro: 2AB, 1999.
DUARTE, Rodrigo. Teoria crítica da indústria cultural. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
EAGLETON, Terry. Depois da teoria: um olhar sobre os estudos culturais e o pós-
modernismo. Trad. de Maria Lúcia Oliveira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2005.
GARCIA, Wilton. Corpo, mídia e representação: estudos contemporâneos. São Paulo:
Thomson Learning, 2005.
KRIPPENDORFF, Klaus. Design centrado no ser humano: uma necessidade cultural.
Trad. de Gabriella Meirelles e Lucy Niemeyer. Revista Estudos em Design, Rio de
Janeiro: PUC/RJ, v. 8, n. 3, p. 85-95, 2000.
MACHADO, Arlindo. Hipermídia: o labirinto como metáfora. In: DOMINGUES, Diana
(Org.). Arte no século XXI: a humanização das tecnologias. São Paulo: Unesp, 1997.
17. 10 OANOS DA
PROJETO
REVISTA
1
ANA CLÁUDIA GRUSZYNSKI
GRÁFICO
SOPHIA SEIBEL CHASSOT
2
UMA ANÁLISE dos DEZ ANOS
da REVISTA CAPRICHO
DE
REVISTAS
1 Doutora em Comunicação Social pela Famecos/PUCRS. Professora-
Adjunta no Curso de Comunicação da Fabico/UFRGS.
E-mail: anagru_fabico@yahoo.com
2 Bacharel em Publicidade e Propaganda pela Fabico/UFRGS.
E-mail: sofichassot@yahoo.com.br
Resumo Palavras-chave Abstract Key words
Este artigo avalia de que maneira o projeto gráfico de uma revista se Revista Capricho; design editorial; This article evaluates how the editorial design of a magazine is related to its Capricho magazine; editorial design;
relaciona com seu projeto editorial, tomando como estudo de caso a revista projeto gráfico. editorial project, analyzing Capricho magazine of the years 1995 to 2005. For graphical project.
Capricho no período de 1995 e 2005. Para isso, apresenta os elementos this, it presents the basic elements of graphical projects of magazines, as
básicos de projetos gráficos de revistas, bem como um histórico da revista well as a description of the magazine itself, concentrating in aspects related
Capricho, detendo-se em aspectos relacionados ao seu público-alvo, os to its target, the teenagers, in order to understand the way that the editorial
adolescentes, a fim de melhor compreender como os projetos editorial e and graphical projects are structuralize in order to dialogue with its readers. It
gráfico se estruturam a fim de dialogar com ele. Analisa e discute as analyzes and argues the different proposals of graphical project throughout
diferentes propostas de projeto gráfico apresentadas ao longo do período the observed period.
observado.
18. 34 O mercado de revistas cresce a cada ano. Segundo a Associação Nacional dos
O PROJETO
GRÁFICO
Editores de Revistas (Aner), esses periódicos movimentam cerca de um milhão de
reais por ano em publicidade no Brasil, por meio da publicação de 388 milhões de
exemplares/ano e 2.296 títulos.3 Dentre esses, a Editora Abril, que publica a revista
Capricho, domina quase 50% do share. 4 Quando a Capricho surgiu, em 1952, era a
Gruszynski, Ana Cláudia. O projeto gráfico de revistas: uma análise dos dez anos da revista Capricho.
única publicação feminina da editora, e seu conteúdo era composto de fotonovelas.
Em 1982, iniciou um processo de mudança que culminou em 1985, quando se design gráfico é o “termo utilizado para definir, genericamente,
a atividade de planejamento e projeto relativos à linguagem visual.
tornou uma revista para adolescentes, dirigindo-se ao que parecia representar um
público consumidor promitente.
Atividade que lida com a articulação de texto e imagem, podendo
REVISTAS
De lá para cá, o mercado passou por uma explosão de títulos que fizeram com que
surgisse a necessidade de, cada vez mais, enfocar públicos bem-específicos. Para
ser desenvolvida sobre os mais variados suportes e situações”
DE
dialogar com eles, os projetos gráficos tornam-se mais marcantes, gerando rápida
identificação, bem como o seu reconhecimento em meio a outras publicações no
ponto-de-venda. Nesse contexto, a revista Capricho conquistou um público cativo:
um grupo de leitores que têm essa publicação como companheira durante parte
significativa da vida de cada um. Líder de vendas no segmento de mercado
direcionado aos adolescentes na atualidade e, portanto, referência para outras
publicações que se dirigem a esses consumidores, a Capricho vem se
transformando, ao longo dos anos, para permanecer companheira de seu público.
O DESIGN EDITORIAL
Levando em conta a importância do design da página para as publicações no que se A Associação de Designers Gráficos do Brasil indica que design gráfico é o “termo
refere a questões de mercado, identidade do produto e conquista de um público utilizado para definir, genericamente, a atividade de planejamento e projeto
cada vez mais disputado por concorrentes, este artigo avalia de que maneira o relativos à linguagem visual. Atividade que lida com a articulação de texto e
projeto gráfico de uma revista se relaciona com seu projeto editorial, tomando como imagem, podendo ser desenvolvida sobre os mais variados suportes e situações”.
estudo de caso a revista Capricho. Selecionamos uma edição por ano – a dedicada (ADG, 2003, p. 175). Projeto gráfico, identidade visual, projetos de sinalização, entre
ao mês dos namorados – nos anos de 1995 a 2005, para comparar a forma gráfica outros, fazem parte de modo amplo – dessa área. Procurando melhor definir os
da Capricho ao longo de 11 anos. Entendemos ser esse o tempo suficiente para que campos de atuação profissionais, essa associação definiu algumas especificações,
o mercado mude e exija novos projetos gráficos, permitindo que avaliemos como denominando design editorial o campo que abrange o projeto de livros, revistas e
esse funciona e como forma um conjunto de elementos que se mantêm em todas as jornais, em que se situa nosso objeto se estudo.
edições, dando unidade gráfica à revista. Nossa hipótese é que esses elementos
que se repetem vêm se tornando mais flexíveis ao longo dos últimos anos e, O design é desenvolvido mediante uma seqüência de etapas – processo – que
notadamente, nas revistas para públicos mais jovens, o design da página vem 5
parte de um briefing e passa pela pesquisa, conceituação/solução, pelo
sendo valorizado e é considerado tão importante para a matéria quanto o conteúdo desenvolvimento, pela produção e pelo balanço. O briefing, no caso de uma
do texto. publicação, está associado a um projeto editorial. Esse é uma linha de conduta
3 Dados de 2003. Disponíveis em: <http://www.aner.org.br>. Fonte IVC-Dinap.
5 Documento resultante, normalmente, de uma reunião entre cliente e designer e funciona como o ponto de partida do
4 Share é a forma abreviada de referir-se a share-of-market, expressão em inglês que se refere à participação no mercado de
projeto. Nele, devem constar todas as informações que possam ser necessárias para a elaboração do projeto sendo elas
determinada empresa. informações limitantes (como verba, prazo, público-alvo, etc.) ou não.