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NOÇÕES BÁSICAS DE TOXICOLOGIA OCUPACIONAL
Profa. Rosângela barbosa de Deus
Escola de Farmácia/UFOP
1
I. INTRODUÇÃO
Com a industrialização em crescente expansão, os organismos vivos estão em contato contínuo com
inúmeros agentes tóxicos em todos os ambientes, produtos tóxicos estão na comida que comemos, na água
que bebemos e no ar que respiramos. De acordo com informações da Organização Mundial da Saúde,
estima-se que ocorrem no Brasil cerca de doze mil casos de intoxicação todos os dias. Como a previsão é
de uma morte a cada mil casos, a conclusão é que cerca de doze brasileiros morrem intoxicados por
medicamentos e/ou outras substâncias químicas todos os dias.
Dependendo das propriedades químicas ou físicas, estes produtos podem ser absorvidos principalmente
pelo trato gastrintestinal, pulmões e/ou pele. Felizmente o nosso organismo tem a capacidade de
biotransformar e excretar estes compostos na urina, fezes e ar expirado. Entretanto, quando a capacidade
de absorção excede a capacidade de eliminação, compostos tóxicos podem ser acumulados em
concentrações críticas em um determinado órgão alvo do nosso organismo.
O conhecimento da disposição das substâncias químicas no organismo, bem como de seus produtos de
biotransformação é de grande importância quando é analisada a toxicidade das substâncias que agridem os
organismos vivos.
A Toxicologia vem, portanto nos ajudar a entender os efeitos nocivos causados pelas substâncias
químicas ao interagirem com os organismos vivos, tendo por objetivo a avaliação do risco de intoxicação,
e desta forma estabelecer medidas de segurança na utilização e conseqüentemente prevenir a intoxicação,
antes que ocorram alterações da saúde.
Áreas da Toxicologia, dependendo do campo de atuação:
Toxicologia Ambiental: estuda os efeitos nocivos causados por substâncias químicas presentes no
macroambiente (ar, água, solo);
Toxicologia Forense: estuda os aspectos médicos legais da intoxicação;
Toxicologia Social: estuda os efeitos adversos causados pelo uso de drogas, decorrente da vida em
sociedade;
Toxicologia Clínica: estuda os efeitos nocivos causados pelo uso de medicamentos, drogas, etc.;
Toxicologia de Alimentos: estuda efeitos nocivos decorrentes da utilização de aditivos e da presença de
resíduos de contaminantes em alimentos;
Toxicologia Ocupacional: estuda os efeitos nocivos causados por substâncias químicas presentes no
ambiente de trabalho.
Nos últimos tempos, a Toxicologia Ocupacional tem merecido grande destaque porque se preocupa
com a saúde dos trabalhadores que é a população produtiva de cada país.
A associação de algum efeito tóxico com uma determinada atividade profissional já é conhecida desde
Paracelso e desde esta época procura-se estudar estes efeitos e estabelecer medidas de segurança no
manuseio das inúmeras substâncias tóxicas que o homem é exposto em seus diferentes ambientes de
trabalho.
Com o crescimento acelerado da indústria e o constante aumento do uso de produtos químicos, nem um
tipo de ocupação está inteiramente livre da exposição a uma variedade de substâncias, capazes de
produzirem efeitos indesejáveis sobre os sistemas biológicos. As medidas preventivas destinadas a este fim
são conhecidas como procedimentos de monitoramento.
Está claro que se deve obter, pelo menos, um mínimo de informação a respeito da toxicidade das
substâncias empregadas nas inúmeras ocupações do homem. Os estudos que possibilitam as obtenções
dessas informações são os objetivos da toxicologia ocupacional.
Toxicologia Ocupacional foi definida, pelo comitê misto, que é constituído por: CCE/OSHA/NIOSH,
2
como:
“Atividade sistemática, contínua ou repetitiva, relacionada à saúde e desenvolvida para implantar
medidas corretivas sempre que se façam necessárias”
COMITÊ MISTO
CCE – Comissão da Comunidade Européia
OSHA – Occupational Safety and Health Administration (USA)
NIOSH – National Institute for Occupational Safety and Health (USA)
Essencialmente, a toxicologia ocupacional procura prevenir o desenvolvimento das lesões tóxicas ou
de doença profissional. Para cumprir tal objetivo é necessário um grande conhecimento sobre os agentes
ocupacionais potencialmente tóxicos, especialmente informações sobre a toxicidade das substâncias e a
relação dose/resposta.
Esses dados podem ser obtidos por meio de quatro fontes principais:
- experimentação em animais;
- experimentação em voluntários;
- observação ao acaso no ambiente de trabalho;
- pesquisas epidemiológicas.
Com os dados experimentais e epidemiológicos, torna-se possível definir critérios de segurança para
cada substância (exemplo: as concentrações permissíveis) e adotar medidas de prevenção, que torne
possível respeitar esses critérios. Dessa maneira, é mantida a saúde do trabalhador, ou em outras palavras,
alcançado o objetivo da toxicologia ocupacional.
No mundo, em escala crescente, procura-se estabelecer e controlar os limites permissíveis
(concentrações) de substâncias químicas no ambiente de trabalho, quando a exposição a uma substância
química é inevitável, a fim de prevenir a intoxicação ocupacional. Essa prevenção é feita utilizando dois
métodos de controle, que são complementares, mas que ainda hoje no Brasil, nem sempre são sempre
aplicados.
I.1. Controle ou Monitoramento Ambiental
O monitoramento ambiental visa determinar os níveis de agentes químicos no ambiente ocupacional,
para avaliar uma exposição potencial, isto é a quantidade do agente químico que pode alcançar os
organismos vivos. Assim, com base nos dados obtidos e no conhecimento do risco toxicológico das
substâncias, é possível evitar que a contaminação atinja níveis perigosos.
Pode se definir monitoramento ambiental como:
“A medida e a avaliação, qualitativa e quantitativa, de agentes químicos no ambiente ocupacional
para estimar a exposição ambiental e o risco à saúde, comparando os resultados com referencias
apropriadas”.
Este controle foi por vários anos efetuado como único modo de se prevenir o aparecimento de
alterações nocivas para a saúde decorrentes da exposição ocupacional. Baseia-se na definição, para um
grande número de substancias químicas, como a concentração no ar abaixo da qual nenhum efeito tóxico
deverá ocorrer em pessoas normais e na vigilância para que a exposição ocupacional não ultrapasse esses
limites. Esse controle considera que os agentes tóxicos penetram no organismo por inalação.
Para se estabelecer as concentrações máximas para uma exposição ocupacional uma série de
informações cientificas são exigidas, tais como: os conhecimentos das propriedades físico-químicos;
investigações toxicológicas sobre toxicidade aguda, sub- aguda e crônica pelas diversas vias de introdução;
experimentos em animais e observações no homem. Pode se notar, que os estudos para a fixação dos
limites permissíveis são complexos e dispendiosos, e apenas alguns países os realizam. Assim os EUA,
“URSS”, Alemanha, Suécia e Tchecoslováquia determinam esses limites, enquanto outros paises, como a
3
Inglaterra, Argentina, Peru, Noruega, Brasil etc, adotam os limites dos EUA com as adaptações necessárias
as condições de trabalho em cada país.
No Brasil estas adaptações são feitas de acordo com a área, podendo ser do Ministério do Trabalho, da
Saúde, etc. A NR-15 (Norma Regulamentadora nº 15, 1978, Ministério do Trabalho, utiliza os valores
adaptados da ACGIH-USA de 1977. Estes valores foram reduzidos em 78% em virtude da jornada semanal
no Brasil ser de 48 horas, naquela época (até 1989), com relação às 40h preconizadas pela ACGIH).
Os Limites de Exposição Ocupacional – LEO, propostos pela ACGIH - USA (American Conference of
Governamental Industrial Hygienist), são os chamados TLV’s onde:
TLV (THERESOLD LIMIT VALUE) “referem-se às concentrações das substâncias dispersas na
atmosfera que representam as condições sob as quais se acredita, que quase todos os trabalhadores possam
estar expostos continua e diariamente, sem apresentar efeitos adversos à saúde”.
“Os valores de TLV são calculados para um período de 7 a 8h por dia, num total de 40h semanais, sem que
isso traga danos para a sua saúde. O TLV é uma média que permite flutuações em torno dela, desde que
no final da jornada de trabalho o valor médio tenha sido mantido.”
Os principais tipos de TLV são:
 TLV – TWA (Time Weight Average) – È a concentração média ponderada pelo tempo de
exposição para a jornada de 8h/dia, 40h/semana, à qual praticamente todos os trabalhadores podem
se expor, repetidamente, sem apresentar efeitos nocivos.
 TLV –STEL ((Short Time Exposure Limit) – É a concentração na qual os trabalhadores podem
se expor, por um curto período, sem apresentar efeitos adversos. O tempo máximo de exposição
aos valores do TLV- STEL é de 15 minutos, podendo ocorrer, no máximo, 4 vezes durante a
jornada, sendo o intervalo de tempo entre cada ocorrência de pelo menos 60 minutos. O TLV –
TWA não pode ser ultrapassado ao fim da jornada.
Os valores de TLV – STEL devem ser vistos como complementos dos valores de TLV – TWA. Na
verdade servem para controlar flutuações das concentrações das substâncias acima dos valores de TWA
estabelecidos. Os valores de TLV – STEL são determinados para substâncias que apresentam efeitos
nocivos agudos, prioritariamente aos efeitos crônicos.
 TLV – C (Ceiling) – É a concentração máxima permitida que não pode ser ultrapassada em
momento algum durante a jornada de trabalho. Normalmente é indicado para substâncias de alta
toxicidade e baixo limite de exposição.
“Contudo devido a grande variação na suscetibilidade individual uma pequena % de trabalho pode sentir
desconforto diante de certas substâncias em concentrações permissíveis segundo os LTs, ou mesmo abaixo
deles: um número menor pode ser mais seriamente afetado pelo agravamento de uma condição pré-
existente ou pelo desenvolvimento de uma doença ocupacional”, absoluto e não pode ser em nenhum
momento. Nos EUA esse valor máximo é adotado para algumas substâncias com sigla TLVc
,como foi
visto acima.
Esquematicamente tem –se
4
Insalubridade
Salubridade
Risco Grave
TLV-TWA
TLV – C
TLV – STEL
Concentração
Tempo (horas)
1 2 4 6 8
LT - Os limites de exposição ocupacional da NR-15, no Brasil, são chamados de Limites de Tolerância
(LT) e são compilados das tabelas dos valores de TLV-TWA e se referem às concentrações médias
máximas que não devem ser ultrapassadas numa jornada de 8h/dia, 48 horas/semana. É também uma
média que permite flutuação ao longo da jornada de trabalho. Os LT brasileiros são extrapolados dos TLV
através de uma média aritmética.
Nos EUA é calculado periodicamente o chamado nível de ação (NA), ou seja, a concentração a partir da
qual os controles médicos e periódicos devem ser iniciados. De acordo com a legislação Brasileria e
recomendações internacionais o NA corresponde a uma concentração igual a metade das concentrações
máximas permitidas.
Onde:
NA = Nível de Ação
LEO = Limite de Exposição Ocupacional
Esquematicamente têm-se:
HISTÓRICO DOS LIMITES DE TOLERÂNCIA
1933-38- União soviética regulamenta os primeiros limites
1941- “Maximum Allowable Concentratinos” (MACs) American National Strandards Institute (ANSI)
1943 - “Hvglene Guides” American Industrial Hygiene Association (AHIA)
1947 – “Threshold limit Values” (TLVs),
American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH)
1968 - Hygiene Standars British Factory Inspectorate
1969 - Maximale Arbeitdplatzkonzetration (MAK), Alemanha
1970 - Permissible Exposure Limits (PELS), OSHA/ EUA
1970 - Recommended Exposure Limits (RELS), NIOSH/ EUA
1978 - Limites de Tolerância MTPS/ Brasil
1982 - Valeurs Limites D’ Exposition Professionnalle, França
O monitoramento ambiental, entretanto, ao estimar a intensidade da exposição, não é inteiramente
satisfatório para evitar o risco decorrente da exposição ocupacional a xenobióticos. Existem inúmeras
variáveis que prejudicam a associação direta entre a exposição e os efeitos nocivos. Os indivíduos diferem
quanto a duração e a intensidade da exposição aos contaminantes da atmosfera, aos hábitos alimentares,
hábitos próprios no trabalho e no macroambiente. O monitoramento ambiental não considera, por exemplo,
o trabalho extra ou o trabalho pesado, quando pode ocorrer até 20 vezes mais inalação de ar por minuto do
que no trabalho leve. Além disso, as características individuais tais como sexo, idade, raça, estados
nutricionais, entre outros, resultam em uma série de respostas diferentes dos diversos organismos, frente a
uma mesma concentração do agente tóxico ocupacional. No entanto, para vários xenobióticos, como por
5
TLV
NA
Não exposição
Exposição
2
LEO
NA =
exemplo aqueles que apresentam ação tóxica local (vapores de ácidos, NO, NO2, SO2 etc.), o
monitoramento ambiental é o único meio de prevenir o aparecimento de intoxicações.
I.2. Controle ou Monitoramento Biológico
Existe uma série de vantagens e limitações para que seja realizado o monitoramento biológico ele é de
uso limitado a poucos agentes químicos e também não pode ser utilizado para a prevenção de efeitos
carcinogênicos, mutagênicos ou alergênicos, para os quais não são conhecidas as doses onde não são
observados efeitos nocivos.
Dentre as vantagens do monitoramento biológico em relação ao ambiental, podemos citar:
1. Exposição relativa a um período de tempo prolongado;
2. Exposição como resultado da movimentação do trabalhador no ambiente de trabalho;
3. Absorção de uma substância, através de várias vias de introdução e, não apenas, através do sistema
respiratório;
4. Exposição global, decorrentes de várias fontes de exposição, seja ocupacional, seja ambiental;
5. Quantidade da substância absorvida pelo trabalhador, em função de outros fatores (atividade física
no trabalho e fatores climáticos);
6. Quantidade da substância absorvida pelo trabalhador, em função de fatores individuais (idade,
sexo, características genéticas, condições funcionais dos órgãos relacionados com a
biotransformação e eliminação do agente tóxico).
Quando o monitoramento biológico é realizado é considerado o fato de que o próprio homem é a
melhor indicação das condições do seu local de trabalho. No monitoramento biológico é estimado o risco
para a saúde dos indivíduos expostos a substâncias químicas com base na exposição interna do organismo
(dose interna) todos os trabalhadores são examinados, individualmente, procurando detectar precocemente
uma exposição excessiva (antes que alterações biológicas significativas ocorram) ou então, algum distúrbio
biológico reversível (antes que tenham causado algum prejuízo à saúde) têm-se então dois tipos de
monitoramento biológico:
1.2.1. Monitoramento Biológico propriamente dito ou de dose interna.
O monitoramento biológico de dose interna foi definido como: “A medida e avaliação de agentes
químicos ou de seus produtos de biotransformação em tecidos, secreções, excreções, ar exalado ou alguma
combinação desses, para estimar a exposição ou o risco à saúde quando comparados com uma referência
apropriada”.
Ele visa estimar a quantidade biodisponível do agente químico (dose interna). O objetivo desse
procedimento é de assegurar que a exposição do indivíduo não alcance níveis nocivos.
A dose interna pode representar :
a) a quantidade do agente químico recentemente absorvida.(exposição recente), como por exemplo o
fenol urinário na exposição ao benzeno;
b) a quantidade do agente químico ligada aos sítios de ação (dose no órgão crítico) como, por
exemplo, o cádmio no tecido renal
c) a quantidade armazenada num ou vários compartimentos do organismo (dose total integrada ou
dose especifica num órgão) como, por exemplo, o chumbo nos ossos.
1.2.2. – Monitoramento biológico de efeito
6
Uma vez que o monitoramento biológico envolve prioritariamente a prevenção, o monitoramento
biológico de efeito seria conceitualmente contraditório com o primeiro. Todavia, deve-se considerar que o
efeito no qual esse monitoramento está baseado é o não nocivo.
O monitoramento de um efeito precoce, não nocivo, produzido por um agente químico pode, em
principio, ser adequado para prevenir efeitos nocivos à saúde. Assim, o monitoramento biológico de efeito
é definido como: “a medida e avaliação de efeitos biológicos precoces, para os quais não foi ainda
estabelecida relação com prejuízos à saúde, em trabalhadores expostos, para estimar a exposição e/ou os
riscos para saúde quando comparados com referência apropriada”.
Um efeito biológico pode ser definido como uma alteração bioquímica, funcional ou estrutural que
resulta da reação do organismo à exposição. Essa alteração é considerada não nociva quando:
 ao serem produzidas numa exposição prolongada não resultem em transtornos da capacidade
funcional nem da capacidade do organismo para compensar nova sobrecarga;
 são reversíveis e não diminuem perceptivamente a capacidade do organismo de manter sua
homeostasia;
 não aumentam as suscetibilidades do organismo aos efeitos indesejáveis de outros fatores ambientais
tais como os químicos, os físicos, os biológicos ou sociais.
A vantagem dos testes que medem os efeitos biológicos não nocivos é que fornecem melhor
informação sobre a quantidade do agente químico que interage com o sitio de ação.
Como exemplos de efeitos considerados não nocivos, temos a depressão da desidratase do ácido delta-
aminolevulínico no sangue (delta- ala D) e o aumento da zinco protoporfirina no eritrócito (zn-pp) na
exposição ao chumbo.
Assim, o objetivo principal do monitoramento biológico, seja ele de dose interna ou de efeito, é,
essencialmente o mesmo do monitoramento ambiental, ou seja, prevenir a exposição excessiva aos agentes
químicos que podem provocar efeitos nocivos, agudos ou crônicos, nos indivíduos expostos. Nos três casos
o risco à saúde é avaliado comparando o valor medido, com um padrão de segurança.
1.2.3. Indicador biológico de exposição ou Indicadores biológicos de intoxicação ou
biomarcadores
Conceito: Indicador Biológico de Exposição é uma substância química, elemento químico, atividade
enzimática ou constituintes dos organismos, cuja concentração (ou atividade) em fluido biológico (sangue,
urina, ar exalado) ou em tecidos, possui relação com a exposição ambiental a determinado agente tóxico. A
substância ou elemento químico determinado pode ser produto de uma biotransformação ou alteração
bioquímica precoce decorrente da introdução deste agente tóxico, no organismo. Para os agentes químicos
preconizados na NR-7, é definido o Índice Biológico Máximo Permitido (IBMP) que é “O valor máximo
do indicador biológico para o qual se supõe que a maioria das pessoas ocupacionalmente expostas não
corre risco de dano à saúde. A ultrapassagem deste valor significa exposição excessiva”. Este Valor
(IBMP) deve ter correlação com a concentração do agente químico no ambiente de trabalho e é definida
como limite de tolerância ou limite de exposição ocupacional.
Para realizar o monitoramento biológico é preciso ter o indicador biológico, que pode ser definido como
todo agente tóxico inalterado e/ou seu produto de biotransformação, determinado em amostras
representativas do organismo dos trabalhadores expostos (sangue, urina e ar expirados) assim como a
identificação de alterações biológicas precoces decorrentes da exposição.
Dentre os fatores que podem influenciar os níveis dos indicadores biológicos, podemos citar os seguintes:
fatores não ocupacionais:
• Hábitos pessoais (por ex., álcool, fumo)
• Fármacos (por ex., aspirina)
7
• Fatores constitucionais (por ex., espécie, sexo, idade)
• Fatores patológicos (por ex., pessoas anêmicas expostas a metais – Cd, Pb, Hg – terão seus níveis
mais baixos)
• Fatores ligados às características dos fluídos biológicos (densidade da urina, correção pela
creatinina urinária )
Dentre os fatores ocupacionais podemos citar as interações metabólicas, decorrentes de exposições
múltiplas a vários agentes industriais. Alguns itens devem ser observados para uma boa "performance" dos
exames toxicológicos
• Momento da amostragem (padronização pela NR-7 em função da permanência dos indicadores
biológicos no organismo).
• Utilização de frascos adequados para coleta (evitar contaminação, principalmente nas análises de
metais).
• Observar que a coleta seja realizada em local afastado do local de trabalho (evitar contaminação
exógena).
• Evitar urinas muito diluídas (comprometem o resultado em função da correção pela creatinina
urinária)
Os resultados obtidos dos exames dos indicadores biológicos são comparados com referências
apropriadas. Aqui no Brasil a legislação que estabelece estas referências é regulamentada pela NR –7
Portaria nº 24 de 29/12/94 da Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho, onde são definidos os
parâmetros para o controle biológico de exposição a alguns agentes químicos.
1.2.4. Vigilância a saúde
É necessário estabelecer claramente, a diferença entre monitoramento biológico e vigilância a saúde.
Esta ultima é definida pelo Comitê misto CCE/OSHA/NIOSH como: ”exames médico fisiológicos
periódicos de trabalhadores expostos, com o objetivo de proteger a saúde de detectar precocemente a
doença”. A detecção da doença instalada esta fora do propósito desta definição. Então a vigilância à saúde
utiliza indicadores sensíveis que auxiliam na detecção, porém não na prevenção de sinais precoces de
alterações orgânicas provocadas pela interação do agente químico com o organismo.
A vigilância à saúde é um procedimento médico no qual se recombinam os diversos elementos,
obtidos a partir do exame clínico do trabalhador, aos quais se somam os do monitoramento biológico, para
se obter um quadro geral da condição e saúde do trabalhador, relacionando-a com uma atividade
específica.
Em programas de vigilância à saúde são utilizados os indicadores do efeito nocivo que revela a fase
inicial, reversível, da intoxicação. Os exames podem necessitar de especificidade com relação à exposição.
Como exemplos, podem ser citadas as provas de função hepática, que poderão estar alteradas em muitas
moléstias do fígado e com o resultado do hábito de ingerir álcool. O quadro hematológico altera-se não
somente na exposição ao benzeno, mas também em uma variedade de outros agentes químicos, além de
numerosas moléstias originadas por microorganismos. Assim a validação das provas, a serem usadas na
vigilância a saúde para determinar efeitos precoces produzidos por agentes químicos é um processo difícil,
pois a sensibilidade e a especificidade dos exames devem ser conhecidas. De fato, programas de vigilância
a saúde utiliza o monitoramento biológico e o monitoramento de efeito como um de seus critérios mais
valiosos na detecção precoce de doenças decorrentes na exposição humana as substâncias químicas.
Deve-se sempre levar em consideração que somente os indicadores altamente específicos, para uma
determinada patologia do órgão, é que podem ser considerados como instrumentos úteis para o diagnóstico
precoce de uma doença em processo de instalação.
8
A vigilância à saúde procura dar ênfase as características da exposição, especialmente tempo e
duração, associando-se ao estado de saúde, podendo ser aplicada com os seguintes objetivos:
 Comprovar a ausência de um efeito nocivo numa exposição considerada aceitável ou a eficiência
das medidas ambientais adotadas;
 Dar atenção às alterações precoces do estado de saúde para poder interferir, preventivamente, em
relação a doença.
As alterações do estado de saúde ocorrem com as seguintes características:
 Uma fase de indução, isto é, aquela em que decorre um certo tempo para se iniciar o processo de
morbidade, após alcançar uma certa dose do agente químico no organismo
 Uma fase de latência, que corresponde ao período compreendido entre o início do processo de
morbidade e o aparecimento das alterações funcionais que ainda não permitem a sua
individualização.
A aplicação da vigilância a saúde, a exemplo do que acontece com o monitoramento biológico, não
pode ser confundida com os procedimentos que visam o diagnóstico.
É importante enfatizar que a manifestação de deterioração da saúde não ocorre necessariamente no
momento do reconhecimento médico. A ocorrência de certas alterações biológicas pode, desde que
evidenciada em tempo hábil, advertir que se não forem modificadas as condições de trabalho ocorrerão os
transtornos funcionais.
A figura abaixo mostra a evolução das alterações clínicas e subclínicas relacionadas com o tempo, em
uma determinada exposição.
9Sem Efeito
Efeitos Metabólicos
Efeitos na Saúde
A
B
C
D
Infaustos
Declarados
Precoces
Críticos
Subcríticos
s
Monitoramento
Vigilância
Diagnóstico
Tempo
Agente químico MONITORAMENTO
no ambiente AMBIENTAL
Absorção
Agente químico no organismo
Distribuição
Biotransformação
Produtos produtos
Ativos inativos
MONITORAMENTO
BIOLÓGICO
Distribuição
Fixação em fixação em sítios
Sítios críticos não críticos
Produtos de Efeitos não nocivos MONITORAMENTO
Degradação BIOLÓGICO DE EFEITO
Efeitos tóxicos
Lesões pré-clínicas VIGILÂNCIA A SAÚDE
10
Esquema representando a transferência do agente químico até os sítios de ação e programas de
monitoramento e vigilância correspondentes as diferentes fases do processo (LAUWERYS &
BERNARD).
Referências bibliográficas
ARIENS, E.J; LEHMANN, P.A; SIMONIS, A.M- Introduccion a la Toxicologia general. Editora
Diana, México, 1978
AZEVEDO, F.A & DELLA ROSA, H.V –Apostilas de Toxicologia Ocupacional, vol. 1 e 2, São
Paulo, 1980
BERNARD, A & LAUWERYS, R – Assessment of human exposure to chemical through
biological monitoring. In.: KOPFLER, F.C. & CRAUN, g f (eds) Environmental Epidemiology.
Lewis Publ. Inc. Chelsea, 1986, p. 17-28.
BÜLOW, J – Toxicologia texto publicado
CASARETT AND DOULL’S- Toxicology – The basic science of posions – 3ª ed, MacMillian
Publishing Company, New York, 1986
CASARETT AND DOULL’S- Toxicology – The basic science of poisons – 4ª ed, MacMillian
Publishing Company, New York, 1996
DJURIE, D- Molecular – Cellular aspects of Toxicology –Who collaborating Institue for
ocupacional Health, beogrado, 1979.
FERNICOLA,N.A.G.G.; JAUGE, P – Nociones Basicas de Toxicologia, ECO/OPAS, Médico,
1985
LAUWERYS, R – Precis de Toxicologie Industrielle et des Intoxicacions Professionnelles,
Editions, J. Duculot, Gemblouse, 1972.
MENDELSON, ML; PEETERS, JP & NORMANDY, MJ – Biomarkers and Occupational Health,
Progress and Perspectives. 1995
MINISTÉRIO DA SAÚDE/NORMA DE VIGILÂNCIA DOS TRABALHADORES EXPOSTOS
AO BENZENO – JULHO 2003
OGA, S – Fundamentos de Toxicologia, Ed. Atheneu – São Paulo, 1996
SIQUEIRA, M.E.P.B.; DELLA ROSA, H.V.; FERNICOLA, N.A.G.G Monitoramento Biológica
da Exposição Ocupacional, MOS, 1989
WEIL, E. – Eléments de Toxicologie industrielle, Masson et cie, éditeurs, Paris, 1975
11

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Toxicologia

  • 1. NOÇÕES BÁSICAS DE TOXICOLOGIA OCUPACIONAL Profa. Rosângela barbosa de Deus Escola de Farmácia/UFOP 1
  • 2. I. INTRODUÇÃO Com a industrialização em crescente expansão, os organismos vivos estão em contato contínuo com inúmeros agentes tóxicos em todos os ambientes, produtos tóxicos estão na comida que comemos, na água que bebemos e no ar que respiramos. De acordo com informações da Organização Mundial da Saúde, estima-se que ocorrem no Brasil cerca de doze mil casos de intoxicação todos os dias. Como a previsão é de uma morte a cada mil casos, a conclusão é que cerca de doze brasileiros morrem intoxicados por medicamentos e/ou outras substâncias químicas todos os dias. Dependendo das propriedades químicas ou físicas, estes produtos podem ser absorvidos principalmente pelo trato gastrintestinal, pulmões e/ou pele. Felizmente o nosso organismo tem a capacidade de biotransformar e excretar estes compostos na urina, fezes e ar expirado. Entretanto, quando a capacidade de absorção excede a capacidade de eliminação, compostos tóxicos podem ser acumulados em concentrações críticas em um determinado órgão alvo do nosso organismo. O conhecimento da disposição das substâncias químicas no organismo, bem como de seus produtos de biotransformação é de grande importância quando é analisada a toxicidade das substâncias que agridem os organismos vivos. A Toxicologia vem, portanto nos ajudar a entender os efeitos nocivos causados pelas substâncias químicas ao interagirem com os organismos vivos, tendo por objetivo a avaliação do risco de intoxicação, e desta forma estabelecer medidas de segurança na utilização e conseqüentemente prevenir a intoxicação, antes que ocorram alterações da saúde. Áreas da Toxicologia, dependendo do campo de atuação: Toxicologia Ambiental: estuda os efeitos nocivos causados por substâncias químicas presentes no macroambiente (ar, água, solo); Toxicologia Forense: estuda os aspectos médicos legais da intoxicação; Toxicologia Social: estuda os efeitos adversos causados pelo uso de drogas, decorrente da vida em sociedade; Toxicologia Clínica: estuda os efeitos nocivos causados pelo uso de medicamentos, drogas, etc.; Toxicologia de Alimentos: estuda efeitos nocivos decorrentes da utilização de aditivos e da presença de resíduos de contaminantes em alimentos; Toxicologia Ocupacional: estuda os efeitos nocivos causados por substâncias químicas presentes no ambiente de trabalho. Nos últimos tempos, a Toxicologia Ocupacional tem merecido grande destaque porque se preocupa com a saúde dos trabalhadores que é a população produtiva de cada país. A associação de algum efeito tóxico com uma determinada atividade profissional já é conhecida desde Paracelso e desde esta época procura-se estudar estes efeitos e estabelecer medidas de segurança no manuseio das inúmeras substâncias tóxicas que o homem é exposto em seus diferentes ambientes de trabalho. Com o crescimento acelerado da indústria e o constante aumento do uso de produtos químicos, nem um tipo de ocupação está inteiramente livre da exposição a uma variedade de substâncias, capazes de produzirem efeitos indesejáveis sobre os sistemas biológicos. As medidas preventivas destinadas a este fim são conhecidas como procedimentos de monitoramento. Está claro que se deve obter, pelo menos, um mínimo de informação a respeito da toxicidade das substâncias empregadas nas inúmeras ocupações do homem. Os estudos que possibilitam as obtenções dessas informações são os objetivos da toxicologia ocupacional. Toxicologia Ocupacional foi definida, pelo comitê misto, que é constituído por: CCE/OSHA/NIOSH, 2
  • 3. como: “Atividade sistemática, contínua ou repetitiva, relacionada à saúde e desenvolvida para implantar medidas corretivas sempre que se façam necessárias” COMITÊ MISTO CCE – Comissão da Comunidade Européia OSHA – Occupational Safety and Health Administration (USA) NIOSH – National Institute for Occupational Safety and Health (USA) Essencialmente, a toxicologia ocupacional procura prevenir o desenvolvimento das lesões tóxicas ou de doença profissional. Para cumprir tal objetivo é necessário um grande conhecimento sobre os agentes ocupacionais potencialmente tóxicos, especialmente informações sobre a toxicidade das substâncias e a relação dose/resposta. Esses dados podem ser obtidos por meio de quatro fontes principais: - experimentação em animais; - experimentação em voluntários; - observação ao acaso no ambiente de trabalho; - pesquisas epidemiológicas. Com os dados experimentais e epidemiológicos, torna-se possível definir critérios de segurança para cada substância (exemplo: as concentrações permissíveis) e adotar medidas de prevenção, que torne possível respeitar esses critérios. Dessa maneira, é mantida a saúde do trabalhador, ou em outras palavras, alcançado o objetivo da toxicologia ocupacional. No mundo, em escala crescente, procura-se estabelecer e controlar os limites permissíveis (concentrações) de substâncias químicas no ambiente de trabalho, quando a exposição a uma substância química é inevitável, a fim de prevenir a intoxicação ocupacional. Essa prevenção é feita utilizando dois métodos de controle, que são complementares, mas que ainda hoje no Brasil, nem sempre são sempre aplicados. I.1. Controle ou Monitoramento Ambiental O monitoramento ambiental visa determinar os níveis de agentes químicos no ambiente ocupacional, para avaliar uma exposição potencial, isto é a quantidade do agente químico que pode alcançar os organismos vivos. Assim, com base nos dados obtidos e no conhecimento do risco toxicológico das substâncias, é possível evitar que a contaminação atinja níveis perigosos. Pode se definir monitoramento ambiental como: “A medida e a avaliação, qualitativa e quantitativa, de agentes químicos no ambiente ocupacional para estimar a exposição ambiental e o risco à saúde, comparando os resultados com referencias apropriadas”. Este controle foi por vários anos efetuado como único modo de se prevenir o aparecimento de alterações nocivas para a saúde decorrentes da exposição ocupacional. Baseia-se na definição, para um grande número de substancias químicas, como a concentração no ar abaixo da qual nenhum efeito tóxico deverá ocorrer em pessoas normais e na vigilância para que a exposição ocupacional não ultrapasse esses limites. Esse controle considera que os agentes tóxicos penetram no organismo por inalação. Para se estabelecer as concentrações máximas para uma exposição ocupacional uma série de informações cientificas são exigidas, tais como: os conhecimentos das propriedades físico-químicos; investigações toxicológicas sobre toxicidade aguda, sub- aguda e crônica pelas diversas vias de introdução; experimentos em animais e observações no homem. Pode se notar, que os estudos para a fixação dos limites permissíveis são complexos e dispendiosos, e apenas alguns países os realizam. Assim os EUA, “URSS”, Alemanha, Suécia e Tchecoslováquia determinam esses limites, enquanto outros paises, como a 3
  • 4. Inglaterra, Argentina, Peru, Noruega, Brasil etc, adotam os limites dos EUA com as adaptações necessárias as condições de trabalho em cada país. No Brasil estas adaptações são feitas de acordo com a área, podendo ser do Ministério do Trabalho, da Saúde, etc. A NR-15 (Norma Regulamentadora nº 15, 1978, Ministério do Trabalho, utiliza os valores adaptados da ACGIH-USA de 1977. Estes valores foram reduzidos em 78% em virtude da jornada semanal no Brasil ser de 48 horas, naquela época (até 1989), com relação às 40h preconizadas pela ACGIH). Os Limites de Exposição Ocupacional – LEO, propostos pela ACGIH - USA (American Conference of Governamental Industrial Hygienist), são os chamados TLV’s onde: TLV (THERESOLD LIMIT VALUE) “referem-se às concentrações das substâncias dispersas na atmosfera que representam as condições sob as quais se acredita, que quase todos os trabalhadores possam estar expostos continua e diariamente, sem apresentar efeitos adversos à saúde”. “Os valores de TLV são calculados para um período de 7 a 8h por dia, num total de 40h semanais, sem que isso traga danos para a sua saúde. O TLV é uma média que permite flutuações em torno dela, desde que no final da jornada de trabalho o valor médio tenha sido mantido.” Os principais tipos de TLV são:  TLV – TWA (Time Weight Average) – È a concentração média ponderada pelo tempo de exposição para a jornada de 8h/dia, 40h/semana, à qual praticamente todos os trabalhadores podem se expor, repetidamente, sem apresentar efeitos nocivos.  TLV –STEL ((Short Time Exposure Limit) – É a concentração na qual os trabalhadores podem se expor, por um curto período, sem apresentar efeitos adversos. O tempo máximo de exposição aos valores do TLV- STEL é de 15 minutos, podendo ocorrer, no máximo, 4 vezes durante a jornada, sendo o intervalo de tempo entre cada ocorrência de pelo menos 60 minutos. O TLV – TWA não pode ser ultrapassado ao fim da jornada. Os valores de TLV – STEL devem ser vistos como complementos dos valores de TLV – TWA. Na verdade servem para controlar flutuações das concentrações das substâncias acima dos valores de TWA estabelecidos. Os valores de TLV – STEL são determinados para substâncias que apresentam efeitos nocivos agudos, prioritariamente aos efeitos crônicos.  TLV – C (Ceiling) – É a concentração máxima permitida que não pode ser ultrapassada em momento algum durante a jornada de trabalho. Normalmente é indicado para substâncias de alta toxicidade e baixo limite de exposição. “Contudo devido a grande variação na suscetibilidade individual uma pequena % de trabalho pode sentir desconforto diante de certas substâncias em concentrações permissíveis segundo os LTs, ou mesmo abaixo deles: um número menor pode ser mais seriamente afetado pelo agravamento de uma condição pré- existente ou pelo desenvolvimento de uma doença ocupacional”, absoluto e não pode ser em nenhum momento. Nos EUA esse valor máximo é adotado para algumas substâncias com sigla TLVc ,como foi visto acima. Esquematicamente tem –se 4 Insalubridade Salubridade Risco Grave TLV-TWA TLV – C TLV – STEL Concentração Tempo (horas) 1 2 4 6 8
  • 5. LT - Os limites de exposição ocupacional da NR-15, no Brasil, são chamados de Limites de Tolerância (LT) e são compilados das tabelas dos valores de TLV-TWA e se referem às concentrações médias máximas que não devem ser ultrapassadas numa jornada de 8h/dia, 48 horas/semana. É também uma média que permite flutuação ao longo da jornada de trabalho. Os LT brasileiros são extrapolados dos TLV através de uma média aritmética. Nos EUA é calculado periodicamente o chamado nível de ação (NA), ou seja, a concentração a partir da qual os controles médicos e periódicos devem ser iniciados. De acordo com a legislação Brasileria e recomendações internacionais o NA corresponde a uma concentração igual a metade das concentrações máximas permitidas. Onde: NA = Nível de Ação LEO = Limite de Exposição Ocupacional Esquematicamente têm-se: HISTÓRICO DOS LIMITES DE TOLERÂNCIA 1933-38- União soviética regulamenta os primeiros limites 1941- “Maximum Allowable Concentratinos” (MACs) American National Strandards Institute (ANSI) 1943 - “Hvglene Guides” American Industrial Hygiene Association (AHIA) 1947 – “Threshold limit Values” (TLVs), American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH) 1968 - Hygiene Standars British Factory Inspectorate 1969 - Maximale Arbeitdplatzkonzetration (MAK), Alemanha 1970 - Permissible Exposure Limits (PELS), OSHA/ EUA 1970 - Recommended Exposure Limits (RELS), NIOSH/ EUA 1978 - Limites de Tolerância MTPS/ Brasil 1982 - Valeurs Limites D’ Exposition Professionnalle, França O monitoramento ambiental, entretanto, ao estimar a intensidade da exposição, não é inteiramente satisfatório para evitar o risco decorrente da exposição ocupacional a xenobióticos. Existem inúmeras variáveis que prejudicam a associação direta entre a exposição e os efeitos nocivos. Os indivíduos diferem quanto a duração e a intensidade da exposição aos contaminantes da atmosfera, aos hábitos alimentares, hábitos próprios no trabalho e no macroambiente. O monitoramento ambiental não considera, por exemplo, o trabalho extra ou o trabalho pesado, quando pode ocorrer até 20 vezes mais inalação de ar por minuto do que no trabalho leve. Além disso, as características individuais tais como sexo, idade, raça, estados nutricionais, entre outros, resultam em uma série de respostas diferentes dos diversos organismos, frente a uma mesma concentração do agente tóxico ocupacional. No entanto, para vários xenobióticos, como por 5 TLV NA Não exposição Exposição 2 LEO NA =
  • 6. exemplo aqueles que apresentam ação tóxica local (vapores de ácidos, NO, NO2, SO2 etc.), o monitoramento ambiental é o único meio de prevenir o aparecimento de intoxicações. I.2. Controle ou Monitoramento Biológico Existe uma série de vantagens e limitações para que seja realizado o monitoramento biológico ele é de uso limitado a poucos agentes químicos e também não pode ser utilizado para a prevenção de efeitos carcinogênicos, mutagênicos ou alergênicos, para os quais não são conhecidas as doses onde não são observados efeitos nocivos. Dentre as vantagens do monitoramento biológico em relação ao ambiental, podemos citar: 1. Exposição relativa a um período de tempo prolongado; 2. Exposição como resultado da movimentação do trabalhador no ambiente de trabalho; 3. Absorção de uma substância, através de várias vias de introdução e, não apenas, através do sistema respiratório; 4. Exposição global, decorrentes de várias fontes de exposição, seja ocupacional, seja ambiental; 5. Quantidade da substância absorvida pelo trabalhador, em função de outros fatores (atividade física no trabalho e fatores climáticos); 6. Quantidade da substância absorvida pelo trabalhador, em função de fatores individuais (idade, sexo, características genéticas, condições funcionais dos órgãos relacionados com a biotransformação e eliminação do agente tóxico). Quando o monitoramento biológico é realizado é considerado o fato de que o próprio homem é a melhor indicação das condições do seu local de trabalho. No monitoramento biológico é estimado o risco para a saúde dos indivíduos expostos a substâncias químicas com base na exposição interna do organismo (dose interna) todos os trabalhadores são examinados, individualmente, procurando detectar precocemente uma exposição excessiva (antes que alterações biológicas significativas ocorram) ou então, algum distúrbio biológico reversível (antes que tenham causado algum prejuízo à saúde) têm-se então dois tipos de monitoramento biológico: 1.2.1. Monitoramento Biológico propriamente dito ou de dose interna. O monitoramento biológico de dose interna foi definido como: “A medida e avaliação de agentes químicos ou de seus produtos de biotransformação em tecidos, secreções, excreções, ar exalado ou alguma combinação desses, para estimar a exposição ou o risco à saúde quando comparados com uma referência apropriada”. Ele visa estimar a quantidade biodisponível do agente químico (dose interna). O objetivo desse procedimento é de assegurar que a exposição do indivíduo não alcance níveis nocivos. A dose interna pode representar : a) a quantidade do agente químico recentemente absorvida.(exposição recente), como por exemplo o fenol urinário na exposição ao benzeno; b) a quantidade do agente químico ligada aos sítios de ação (dose no órgão crítico) como, por exemplo, o cádmio no tecido renal c) a quantidade armazenada num ou vários compartimentos do organismo (dose total integrada ou dose especifica num órgão) como, por exemplo, o chumbo nos ossos. 1.2.2. – Monitoramento biológico de efeito 6
  • 7. Uma vez que o monitoramento biológico envolve prioritariamente a prevenção, o monitoramento biológico de efeito seria conceitualmente contraditório com o primeiro. Todavia, deve-se considerar que o efeito no qual esse monitoramento está baseado é o não nocivo. O monitoramento de um efeito precoce, não nocivo, produzido por um agente químico pode, em principio, ser adequado para prevenir efeitos nocivos à saúde. Assim, o monitoramento biológico de efeito é definido como: “a medida e avaliação de efeitos biológicos precoces, para os quais não foi ainda estabelecida relação com prejuízos à saúde, em trabalhadores expostos, para estimar a exposição e/ou os riscos para saúde quando comparados com referência apropriada”. Um efeito biológico pode ser definido como uma alteração bioquímica, funcional ou estrutural que resulta da reação do organismo à exposição. Essa alteração é considerada não nociva quando:  ao serem produzidas numa exposição prolongada não resultem em transtornos da capacidade funcional nem da capacidade do organismo para compensar nova sobrecarga;  são reversíveis e não diminuem perceptivamente a capacidade do organismo de manter sua homeostasia;  não aumentam as suscetibilidades do organismo aos efeitos indesejáveis de outros fatores ambientais tais como os químicos, os físicos, os biológicos ou sociais. A vantagem dos testes que medem os efeitos biológicos não nocivos é que fornecem melhor informação sobre a quantidade do agente químico que interage com o sitio de ação. Como exemplos de efeitos considerados não nocivos, temos a depressão da desidratase do ácido delta- aminolevulínico no sangue (delta- ala D) e o aumento da zinco protoporfirina no eritrócito (zn-pp) na exposição ao chumbo. Assim, o objetivo principal do monitoramento biológico, seja ele de dose interna ou de efeito, é, essencialmente o mesmo do monitoramento ambiental, ou seja, prevenir a exposição excessiva aos agentes químicos que podem provocar efeitos nocivos, agudos ou crônicos, nos indivíduos expostos. Nos três casos o risco à saúde é avaliado comparando o valor medido, com um padrão de segurança. 1.2.3. Indicador biológico de exposição ou Indicadores biológicos de intoxicação ou biomarcadores Conceito: Indicador Biológico de Exposição é uma substância química, elemento químico, atividade enzimática ou constituintes dos organismos, cuja concentração (ou atividade) em fluido biológico (sangue, urina, ar exalado) ou em tecidos, possui relação com a exposição ambiental a determinado agente tóxico. A substância ou elemento químico determinado pode ser produto de uma biotransformação ou alteração bioquímica precoce decorrente da introdução deste agente tóxico, no organismo. Para os agentes químicos preconizados na NR-7, é definido o Índice Biológico Máximo Permitido (IBMP) que é “O valor máximo do indicador biológico para o qual se supõe que a maioria das pessoas ocupacionalmente expostas não corre risco de dano à saúde. A ultrapassagem deste valor significa exposição excessiva”. Este Valor (IBMP) deve ter correlação com a concentração do agente químico no ambiente de trabalho e é definida como limite de tolerância ou limite de exposição ocupacional. Para realizar o monitoramento biológico é preciso ter o indicador biológico, que pode ser definido como todo agente tóxico inalterado e/ou seu produto de biotransformação, determinado em amostras representativas do organismo dos trabalhadores expostos (sangue, urina e ar expirados) assim como a identificação de alterações biológicas precoces decorrentes da exposição. Dentre os fatores que podem influenciar os níveis dos indicadores biológicos, podemos citar os seguintes: fatores não ocupacionais: • Hábitos pessoais (por ex., álcool, fumo) • Fármacos (por ex., aspirina) 7
  • 8. • Fatores constitucionais (por ex., espécie, sexo, idade) • Fatores patológicos (por ex., pessoas anêmicas expostas a metais – Cd, Pb, Hg – terão seus níveis mais baixos) • Fatores ligados às características dos fluídos biológicos (densidade da urina, correção pela creatinina urinária ) Dentre os fatores ocupacionais podemos citar as interações metabólicas, decorrentes de exposições múltiplas a vários agentes industriais. Alguns itens devem ser observados para uma boa "performance" dos exames toxicológicos • Momento da amostragem (padronização pela NR-7 em função da permanência dos indicadores biológicos no organismo). • Utilização de frascos adequados para coleta (evitar contaminação, principalmente nas análises de metais). • Observar que a coleta seja realizada em local afastado do local de trabalho (evitar contaminação exógena). • Evitar urinas muito diluídas (comprometem o resultado em função da correção pela creatinina urinária) Os resultados obtidos dos exames dos indicadores biológicos são comparados com referências apropriadas. Aqui no Brasil a legislação que estabelece estas referências é regulamentada pela NR –7 Portaria nº 24 de 29/12/94 da Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho, onde são definidos os parâmetros para o controle biológico de exposição a alguns agentes químicos. 1.2.4. Vigilância a saúde É necessário estabelecer claramente, a diferença entre monitoramento biológico e vigilância a saúde. Esta ultima é definida pelo Comitê misto CCE/OSHA/NIOSH como: ”exames médico fisiológicos periódicos de trabalhadores expostos, com o objetivo de proteger a saúde de detectar precocemente a doença”. A detecção da doença instalada esta fora do propósito desta definição. Então a vigilância à saúde utiliza indicadores sensíveis que auxiliam na detecção, porém não na prevenção de sinais precoces de alterações orgânicas provocadas pela interação do agente químico com o organismo. A vigilância à saúde é um procedimento médico no qual se recombinam os diversos elementos, obtidos a partir do exame clínico do trabalhador, aos quais se somam os do monitoramento biológico, para se obter um quadro geral da condição e saúde do trabalhador, relacionando-a com uma atividade específica. Em programas de vigilância à saúde são utilizados os indicadores do efeito nocivo que revela a fase inicial, reversível, da intoxicação. Os exames podem necessitar de especificidade com relação à exposição. Como exemplos, podem ser citadas as provas de função hepática, que poderão estar alteradas em muitas moléstias do fígado e com o resultado do hábito de ingerir álcool. O quadro hematológico altera-se não somente na exposição ao benzeno, mas também em uma variedade de outros agentes químicos, além de numerosas moléstias originadas por microorganismos. Assim a validação das provas, a serem usadas na vigilância a saúde para determinar efeitos precoces produzidos por agentes químicos é um processo difícil, pois a sensibilidade e a especificidade dos exames devem ser conhecidas. De fato, programas de vigilância a saúde utiliza o monitoramento biológico e o monitoramento de efeito como um de seus critérios mais valiosos na detecção precoce de doenças decorrentes na exposição humana as substâncias químicas. Deve-se sempre levar em consideração que somente os indicadores altamente específicos, para uma determinada patologia do órgão, é que podem ser considerados como instrumentos úteis para o diagnóstico precoce de uma doença em processo de instalação. 8
  • 9. A vigilância à saúde procura dar ênfase as características da exposição, especialmente tempo e duração, associando-se ao estado de saúde, podendo ser aplicada com os seguintes objetivos:  Comprovar a ausência de um efeito nocivo numa exposição considerada aceitável ou a eficiência das medidas ambientais adotadas;  Dar atenção às alterações precoces do estado de saúde para poder interferir, preventivamente, em relação a doença. As alterações do estado de saúde ocorrem com as seguintes características:  Uma fase de indução, isto é, aquela em que decorre um certo tempo para se iniciar o processo de morbidade, após alcançar uma certa dose do agente químico no organismo  Uma fase de latência, que corresponde ao período compreendido entre o início do processo de morbidade e o aparecimento das alterações funcionais que ainda não permitem a sua individualização. A aplicação da vigilância a saúde, a exemplo do que acontece com o monitoramento biológico, não pode ser confundida com os procedimentos que visam o diagnóstico. É importante enfatizar que a manifestação de deterioração da saúde não ocorre necessariamente no momento do reconhecimento médico. A ocorrência de certas alterações biológicas pode, desde que evidenciada em tempo hábil, advertir que se não forem modificadas as condições de trabalho ocorrerão os transtornos funcionais. A figura abaixo mostra a evolução das alterações clínicas e subclínicas relacionadas com o tempo, em uma determinada exposição. 9Sem Efeito Efeitos Metabólicos Efeitos na Saúde A B C D Infaustos Declarados Precoces Críticos Subcríticos s Monitoramento Vigilância Diagnóstico
  • 10. Tempo Agente químico MONITORAMENTO no ambiente AMBIENTAL Absorção Agente químico no organismo Distribuição Biotransformação Produtos produtos Ativos inativos MONITORAMENTO BIOLÓGICO Distribuição Fixação em fixação em sítios Sítios críticos não críticos Produtos de Efeitos não nocivos MONITORAMENTO Degradação BIOLÓGICO DE EFEITO Efeitos tóxicos Lesões pré-clínicas VIGILÂNCIA A SAÚDE 10
  • 11. Esquema representando a transferência do agente químico até os sítios de ação e programas de monitoramento e vigilância correspondentes as diferentes fases do processo (LAUWERYS & BERNARD). Referências bibliográficas ARIENS, E.J; LEHMANN, P.A; SIMONIS, A.M- Introduccion a la Toxicologia general. Editora Diana, México, 1978 AZEVEDO, F.A & DELLA ROSA, H.V –Apostilas de Toxicologia Ocupacional, vol. 1 e 2, São Paulo, 1980 BERNARD, A & LAUWERYS, R – Assessment of human exposure to chemical through biological monitoring. In.: KOPFLER, F.C. & CRAUN, g f (eds) Environmental Epidemiology. Lewis Publ. Inc. Chelsea, 1986, p. 17-28. BÜLOW, J – Toxicologia texto publicado CASARETT AND DOULL’S- Toxicology – The basic science of posions – 3ª ed, MacMillian Publishing Company, New York, 1986 CASARETT AND DOULL’S- Toxicology – The basic science of poisons – 4ª ed, MacMillian Publishing Company, New York, 1996 DJURIE, D- Molecular – Cellular aspects of Toxicology –Who collaborating Institue for ocupacional Health, beogrado, 1979. FERNICOLA,N.A.G.G.; JAUGE, P – Nociones Basicas de Toxicologia, ECO/OPAS, Médico, 1985 LAUWERYS, R – Precis de Toxicologie Industrielle et des Intoxicacions Professionnelles, Editions, J. Duculot, Gemblouse, 1972. MENDELSON, ML; PEETERS, JP & NORMANDY, MJ – Biomarkers and Occupational Health, Progress and Perspectives. 1995 MINISTÉRIO DA SAÚDE/NORMA DE VIGILÂNCIA DOS TRABALHADORES EXPOSTOS AO BENZENO – JULHO 2003 OGA, S – Fundamentos de Toxicologia, Ed. Atheneu – São Paulo, 1996 SIQUEIRA, M.E.P.B.; DELLA ROSA, H.V.; FERNICOLA, N.A.G.G Monitoramento Biológica da Exposição Ocupacional, MOS, 1989 WEIL, E. – Eléments de Toxicologie industrielle, Masson et cie, éditeurs, Paris, 1975 11