Versão integral da edição n.º 2 do mensário “Jornal da Universidade de Coimbra”, que se publicou em Coimbra. Director: Jorge Castilho. Foram publicados quatro números. Abril de 2006.
Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt).
Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747
Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa,
www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 ,
http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal
Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ ,
http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm ,
http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm ,
http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ ,
http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html
1. EXEMPLO SUCESSO DEDICAÇÃO
PATRÍCIA SEMANA CASA
AMENDOEIRA CULTURAL DO PESSOAL
BRILHA ATRAIU 11 MIL PRESERVA
NA GINÁSTICA PESSOAS TRADIÇÕES
PAGINA 20 PAGINAS 12 e 13 PAGINA 6
DESTAQUES
UC lidera
em estudantes
UC
Número 2
estrangeiros 3 Abril 2006
Monstros
Jornal
na Biblioteca Geral 10
As Fans dão música 21
da Universidade DIRECTOR: JoRGE CASTILHO
DIRECTORES-ADJUNTOS: DINIS MANUEL ALVES E MÁRIO MARTINS
CONTUNDENTE ENTREVISTA DO NOVO PRESIDENTE DO I. I. I.
“FCT desrespeita
trabalho
dos cientistas”
- Estrutura da UC é única no País
com 40 centros e 1.600 investigadores PAGINAS 4 e 5
ALERTA DO PRESIDENTE FERNANDO GONÇALVES
“AAC está a rebentar
pelas costuras!” PAGINA 7
REITOR DENUNCIA O “RANKING DO DISPARATE”
Em Portugal há cerca
de 1.800 licenciaturas
com 825 designações PAGINA 16
2. 2 Abril 2006
Jornal da Universidade
I N I C I AT I VA S
DE 27 A 29 DE ABRIL NA FACULDADE DE DIREITO
COLÓQUIO PROMOVIDO
Património Mundial de Origem Portuguesa PELA FACULDADE DE LETRAS
tema de inédito Encontro Internacional “Turismo, Cultura
Vai decorrer em Coimbra, no Auditório da
Haroldo Carneiro e Recursos
Faculdade de Direito da UC, entre os próxi- Humanos”
mos dias 27 e 29 do corrente mês de Abril,
o I Encontro Internacional sobre Património Vai efectuar-se no dia 20 de Abril,
Mundial de Origem Portuguesa. A reunião é no Auditório da Reitoria da Univer-
promovida pela Universidade de Coimbra, sidade de Coimbra, o I Colóquio “Tu-
pelo Instituto Português do Património Arqui- rismo, Cultura e Recursos Humanos”,
tectónico e pela Comissão Nacional da para o qual estão abertas inscrições.
UNESCO, na sequência de uma proposta da A iniciativa propõe-se mostrar a
Comissão Nacional Portuguesa do ICOMOS importância do turismo como factor
apoiada pelo Centro do Património Mundial de desenvolvimento e demonstrar co-
da UNESCO. mo é decisiva a qualificação dos re-
O significado e a influência cultural do pa- cursos humanos para a promoção
trimónio de origem portuguesa disperso pelo deste sector chave nas economias lo-
mundo como resultado das grandes viagens cais, regionais e nacional.
de descoberta, que propiciaram o contacto No colóquio serão debatidas algu-
entre diferentes povos e civilizações, são lar-
mas das preocupações e reflexões
gamente reconhecidos. Não só a língua por-
desenvolvidas, quer pela comunida-
tuguesa conta hoje com 200 milhões de fa-
de científica, quer por diversas insti-
lantes, como a própria Lista do Património
tuições e operadores turísticos no
Mundial estabelecida pela UNESCO inclui, a
sentido de promover o desenvolvi-
par dos 13 bens localizados em Portugal, ou-
mento turístico nacional. A Escola
tros 21 de origem portuguesa, distribuídos
Superior de Turismo e Hotelaria do
por quinze países e três continentes. Existem,
Diamantina é uma das cidades património mundial de origem portuguesa Estoril, a Região de Turismo do Cen-
além destes, muitos outros bens com a
tro, a Agência de Viagens Abreu, o
mesma origem que, por condicionalismos di- O principal objectivo deste Encontro é o de ção e salvaguarda e ainda melhorar o acesso
Instituto de Formação Turística, o Par-
versos, ainda não puderam aceder àquela contribuir para a criação de uma rede de co- desses países à Lista do Património Mundial,
que Natural de Montesinho e a Câ-
Lista. Uma vez confirmado o seu carácter ex- operação internacional entre especialistas de através de Listas Indicativas e Candidaturas
mara Municipal de Portel são algu-
cepcional, os novos bens que venham a ser todos os países com património de origem devidamente fundamentadas.
mas das entidades que estarão re-
considerados Património Mundial poderão portuguesa, que permita articular diferentes Programa, ficha de inscrição, informação
modos de gestão e de valorização dos sítios complementar e contactos podem ser consul- presentadas nas mesas-redondas.
contribuir para reequilibrar a representativida-
classificados, aprofundar práticas de protec- tados em http://www.uc.pt/whpo/home.html Procurar-se-á demonstrar a impor-
de geográfica da Lista.
tância da qualificação dos recursos
FICHA TÉCNICA O peso das Mulheres humanos em áreas tão diversas, mas
complementares, como o turismo, o
Director:
JORGE CASTILHO
no funcionalismo da UC património cultural e natural, o lazer,
o desporto, o termalismo, a museo-
logia, entre muitas outras – áreas de
Directores Adjuntos: FUNCIONÁRIOS
DINIS MANUEL ALVES formação da recém-criada licenciatu-
MÁRIO MARTINS ra em Turismo, Lazer e Património da
506
Concepção e edição gráfica: Faculdade de Letras da Universidade
AUDIMPRENSA de Coimbra (FLUC), que promove o
E-mail: Colóquio, em colaboração com o
jornal.universidade@gmail.com
Instituto de Estudos Geográficos da
Telefone: 842
FLUC.
239 854 150
Na anterior edição do “Jornal da Universi- das fatias de homens e mulheres, os respec- Para inscrições ou informações adi-
Fax:
239 854 154 dade” publicámos os gráficos corresponden- tivos números saíram errados (repetindo, por cionais estão disponíveis o número
tes ao número de homens e mulheres que lamentável falha técnica, os números corres- de telefone 239 859 967 e o e-mail
Impressão
CORAZE - OLIVEIRA DE AZEMEIS compõem os corpos de Alunos, Docentes e pondentes aos Professores). Por isso repeti- tlp@fl.uc.pt. O preço da inscrição é
ISSN: 1646-4133 Funcionários que integram a UC. Contudo, no mos hoje esse gráfico, com os números de- de 12,50 euros para estudantes e de
que respeita aos Funcionários, apesar do grá- vidamente corrigidos (e pedindo desculpa 30 euros para o público em geral.
Depósito Legal n.º 241489/06
fico estar correcto em termos da dimensão pelo involuntário erro).
3. Abril 2006
E N T R E V I S TA
Jornal da Universidade 3
DIRECTORA DA DIVISÃO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS, IMAGEM E COMUNICAÇÃO
DESTACA SERVIÇO DE QUALIDADE E PERSONALIZADO
“Queremos os nossos clientes satisfeitos”
JOÃO PAULO HENRIQUES criados, sobretudo, pelas acessibilidades. lidade. Provenientes dos mais variados paí-
“É um bocado difícil cá chegar, mas, ses do mundo, agradar a todos assume-se
As estatísticas colocam a Universidade de quando tudo estiver a funcionar, as como um desafio constante. “Prestamos
Coimbra (UC) na liderança dos estabeleci- pessoas vão gostar, já que se um serviço de qualidade e personalizado.
mentos de ensino portugueses que rece- trata de um espaço simpático”, Para além do mais, avaliamos o grau de sa-
Filomena
bem o maior número de estudantes estran- acrescenta satisfeita com as Marques tisfação dos clientes com recurso a inquéri-
geiros ao abrigo de programas de mobilida- condições físicas que tem de Carvalho tos e corrigimos os aspectos que os estu-
de. A Divisão de Relações Internacionais, para desenvolver o seu dantes acham que devemos melhorar”,
Imagem e Comunicação (DRIIC) estabelece trabalho. confidencia, reconhecendo, de pronto, que
a ponte entre os alunos e a instituição, as- A falta de pessoal é “o nome e o prestígio da UC cativam mui-
sumindo um papel fundamental no aconse- apontada, pela maioria tos estudantes”.
lhamento e na integração num meio desco- das instituições, como “Os processos de mobilidade são
nhecido. um problema de compli-
complexos, porque são muito personali-
Criada em 1986, a DRIIC tornou-se no pri- cada resolução.
zados e temos essa preocupação. Que-
meiro serviço do género a funcionar em remos que a pessoa fique satisfeita e
universidades portuguesas. Segundo responder de acordo com as suas preo-
Filomena Marques de Carvalho, escolhida cupações”, destaca a coordenadora da
pelo Reitor Rui Alarcão para fundar o servi-
DRIIC, que explica a existência de “ca-
ço, “veio de encontro às necessidades de-
nais muito simples de contacto, onde
tectadas pela UC, que, desde cedo, teve a
não há grandes formalismos e a eficiên-
consciência que ou profissionalizava esta
cia está presente”.
área ou não conseguia estar no com-
Os acordos com diversos países da
boio europeu”.
Europa e outros como, por exemplo, a
Após 20 anos à frente dos des-
China, o Japão, a Austrália, os Es-
tinos da DRIIC, Filomena Marques
tados Unidos e o Brasil permitem
de Carvalho fala de um projecto
que a mobilidade, ao nível de pro-
de “grande envergadura, que
gramas institucionais como é o
abrange e serve toda a UC”, su-
caso do Sócrates/Erasmus - só para
blinhando tratar-se de um “de-
falar do mais conhecido -, de estu-
safio permanente lidar com
pessoas de todo o mundo”. dantes portugueses e estrangeiros
Sem perder o raciocínio, a se assuma como um dos aspectos
directora destaca o contacto mais relevantes ao nível da troca de
diário com o mais variado experiências do dia-a-dia universitá-
tipo de situações, que são rio actual.
sempre resolvidas com a Preocupada com os estudantes
intenção de “deixar os nossos clientes, Ainda assim, a responsável pela DRIIC con- plorar. Há um trabalho importante a fazer. que optam por estudar fora do país de ori-
neste caso os estudantes, satisfeitos”. sidera estar, até certo ponto, bem servida Se vier a ter as condições que necessito, gem durante um determinado período de
A visão economicista da relação entre a de recursos humanos. “São os suficientes e vamos em frente”, realça a responsável, tempo, a UC disponibiliza todas as informa-
DRIIC e os estudantes pode parecer deslo- adequados para as actividades desenvolvi- que prefere estar rodeada de “menos cola- ções on-line, em português e inglês, através
cada do contexto em que se integra. das”, refere, antes de concluir o pensamen- boradores, mas bons e que trabalhem dos seguintes endereços: www.uc.pt (informa-
Contudo, Filomena Marques de Carvalho to: “Agora, para desenvolver outras activi- bem”. ções gerais da UC), www.uc.pt/ects (informa-
considera essencial a manutenção deste dades, que são necessárias e estão identi- Em 2006, a UC prevê receber 600 estu- ções sobre os cursos da UC) e www.uc.pt/sri
tipo de envolvimento, uma vez que “a sa- ficadas, precisamos de ter mais gente. As dantes integrados em programas de mobi- (informações acerca da DRIIC).
tisfação de quem servimos assume-se pessoas estão no limite da actividade e tra-
como a nossa principal meta, razão pela balham muito e bem”.
qual temos sempre a preocupação de pres- Actualmente, com 12 pessoas a trabalhar,
Natural do Porto, Filomena Marques de
P E R F I L
tar um bom serviço aos nossos clientes”. a DRIIC acaba sempre por ter uma popula-
Carvalho veio estudar para a Universidade
Instalada no Colégio de São Jerónimo, ção móvel de funcionários, onde os estagi-
de Coimbra em 1970. Licenciada em Filo-
onde, depois da mudança de instalações, ários – “nesta altura, são três, mas é um
logia Germânica pela Faculdade de Letras,
funciona há poucas semanas, a DRIIC tem caso excepcional”, reconhece Filomena
a responsável pela Divisão de Relações
um horário de funcionamento entre segun- Marques de Carvalho – se integram sem
Internacionais, Imagem e Comunicação
da e sexta-feira, das 09H00 às 12h00 e das problemas, garantindo tratar-se de um ser-
(DRIIC) esteve em Lisboa, onde teve fun-
14H00 às 17H30, disponibilizando o seguin- viço que se pode considerar como um ções de assessora de mais do que um mi-
te horário de atendimento ao público: se- “exemplo de profissionalismo”. nistro. Entre as várias actividades exerci-
gunda e quarta-feira, das 14H30 às 17H00, O desenvolvimento de novos projectos das encontram-se a de professora do En-
e terça e sexta-feira, das 09H30 às 12H00. integra a lista de objectivos futuros da sino Secundário e de Relações Públicas.
Filomena Marques de Carvalho não se DRIIC. “Estou a pensar na criação de um Em 1986, fundou e assumiu os destinos
queixa das instalações, reconhecendo, no centro de mobilidade pós-graduados, onde do DRIIC da Universidade de Coimbra.
entanto, a existência de alguns problemas considero existir um nicho de mercado a ex-
4. 4 Abril 2006
Jornal da Universidade
E N T R E V I S TA
RUI FAUSTO LOURENÇO PRESIDE A INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO INTERDISCIIPLINAR
Instituição única a nível nac
- Estrutura engloba 40 Centros e 1.600 investigadores
JOÂO PAULO HENRIQUES logo e junção de interesses, ideias e valores
dos nossos centros de investigação científica.
Assume-se um crítico em relação à forma JU – Há quantos anos existe?
como o financiamento à investigação cientí- RFL – Tem cinco anos de existência. É uma
fica é feito em Portugal e à excessiva buro- instituição leve e que se pretende posicionar
cracia. Eleito Presidente para um mandato também numa óptica de não complicar. Sa-
de dois anos do Instituto de Investigação bemos que as estruturas, muitas vezes,
Interdisciplinar (III) da Universidade de Coim- quando atingem determinada dimensão, co-
bra (UC), Rui Fausto Lourenço coloca os in- meçam a emaranhar-se em teias burocráti-
vestigadores nacionais entre os melhores do cas, que acabam por retirar eficiência. A in-
mundo. A falta de alternativa à Fundação tenção do Instituto é conseguir que isso não
para a Ciência e Tecnologia (FCT) complica a aconteça e afirmar-se pela diferença nesta
missão de quem, muitas vezes, é obrigado a matéria.
escolher o estrangeiro para fazer carreira. JU – Qual é a importância da interdiscipli-
Ainda assim, não duvida que a UC é uma re- naridade?
ferência nacional e tem prestígio internacio- RFL – Uma das dificuldades que sobressai
nal ao nível da investigação. quando falamos de conhecimento em geral
é o cruzamento de saberes que é sempre
Jornal da Universidade (JU) – Como funcio- potenciador do alcance daquilo que se faz a
na o III? esse nível. Se nos isola- Rui Fausto Lourenço no seu ambiente de trabalho
Rui Fausto Lourenço mos, temos uma visão
(RFL) - É uma unidade
A FCT preocupa-se com detalhes menos concreta e alar- à escala europeia teve um desenvolvimento RFL – As estruturas de apoio à investiga-
orgânica da UC, o que
inacreditáveis, que obrigam os gada dos desafios e súbito e permitiu que os nossos jovens cien- ção científica em Portugal começaram a lidar
significa que tem um
cientistas mais creditados a ocupar dos problemas e so- tistas fossem para o estrangeiro e que jo- com quantidades de informação para as
estatuto equivalente
um tempo incrível. No entanto, mos menos capazes de vens cientistas estrangeiros viessem para quais não estavam dimensionadas, nem pre-
ao de uma Faculdade.
não faz a menor avaliação científica os enfrentar e resolver. Portugal num número e escala que nunca paradas. Nos últimos anos, apesar da produ-
Nesta altura, o Institu-
e isto parece que é completamente JU – Portugal está antes tinha acontecido. tividade científica ter aumentado extraordi-
to está voltado para a
irrelevante. Em minha opinião, entre os primeiros no JU – Mas houve mais? nariamente, da qualidade dos investigadores
área da investigação
é um desrespeito pelo trabalho mundo da investigação? RFL – A globalização surgiu nessa altura ter melhorado muito e do reconhecimento
científica, que se en-
dos cientistas RFL – A investigação com uma dimensão acentuada e a comuni- internacional se ter solidificado, os melhores
tende num conceito científica em Portugal cação de toda a informação científica tornou- cientistas portugueses são confrontados no
mais largo, abarcando as ciências sociais e, atingiu uma dimensão que começou a poder se muito mais simples, leve e eficaz. Houve seu dia-a-dia com uma excessiva carga buro-
em particular, as humanidades, que normal- comparar-se com os países mais desenvolvi- um pequeno boom da crática.
mente são colocadas numa esfera diferente. dos. Evidentemente à nossa escala, porque investigação científica. Em Portugal, no domínio JU – Pode explicar?
JU – Quantos centros de investigação o in- tudo tem de ser ponderado pela população Os laboratórios inter- da investigação científica, temos RFL – Resulta de exi-
tegram? do país e pelas pessoas envolvidas na acti- nacionalizaram-se pro- apenas uma instituição do Estado gências de toda a or-
RFL – É uma instituição única a nível naci- vidade. Começámos a ter um nível compatí- gressivamente e atingi- que serve de entidade financiadora. dem, mas, em particu-
onal, uma vez que engloba 40 centros avali- vel ou semelhante ao dos países mais de- ram dimensões que Não há alternativas. Se calhar, lar, de exigências de
ados pela FCT. Nos 40 centros, trabalham senvolvidos a partir dos anos 80. permitiram competir e, era bom que este monopólio controlo administrati-
cerca de 1600 investigadores. É uma estrutu- JU – Há justificações para que tal tenha em alguns domínios, deixasse de existir vo/financeiro por parte
ra que tem uma dimensão que lhe confere acontecido? estar bem posiciona- das entidades financia-
particularidades especiais, porque resulta de RFL – Nessa altura começaram a formar-se dos. Os equipamentos disponíveis eram, em doras do país. Infelizmente, em Portugal,
uma força de trabalho na área da produção investigadores em maior número e houve al- alguns casos, de excelente qualidade e a ci- existe uma única instituição pública – a FCT
científica. gumas apostas como o Programa Ciência, ência em Portugal estava melhor do que –, que serve de entidade financiadora da ci-
JU – Serve como factor de união? que permitiu equipar os nossos laboratórios nunca. ência e se preocupa fundamentalmente com
RFL – Coimbra tem, nesta altura, uma pro- e ter condições para trabalhar. A mobilidade JU – Os problemas também apareceram? as questões da gestão financeira.
jecção reconhecida a nível internacional em JU – Devia ter cuidado com outros aspec-
muitas áreas da ciência e da produção do tos?
saber em geral. O Instituto afirma-se como
“BOLONHA NÃO É PARA MARCAR PASSO” RFL – Não faz a avaliação dos resultados
elemento aglutinador, que pretende aprovei- do investimento, porque não é possível fazer
tar sinergias no sentido de articulação das JU – O que pensa do Processo de Bolonha? uma avaliação financeira se não se avalia o
várias áreas do saber. É uma missão que RFL – A declaração de Bolonha foi feita, principalmente, com o objectivo de potenciar resultado da produtividade científica. Existe
queremos levar muito a sério. a mobilidade, articular níveis de formação entre os diferentes países da Europa e uma obsessão absoluta com o formalismo do
JU – Que papel pode desempenhar o III? permitir que as pessoas possam circular, apresentando-se nos diferentes países como tratamento administrativo/financeiro dos
RFL – Pode apresentar-se como uma voz e pessoas habilitadas para o desempenho de determinada tarefa. projectos. As auditorias às contas sucedem-
uma força junto de quem define as políticas JU – É uma oportunidade? se, mas não são feitas verdadeiras avalia-
de investigação científica em Portugal. É ne- RFL – A necessidade de olhar para as coisas, pensar nelas e tentar reestruturar em ções da produção científica.
cessário dinamizar o Instituto no sentido em moldes diferentes é uma oportunidade que não se pode perder. É um desafio grande JU – Pode dar exemplos?
que os centros têm de estar mais próximos que implica muito empenho dos diferentes agentes e que não pode ser feito à pressa. RFL – O Estado faz um contrato com uma
da direcção. Precisamos de promover o diá- Tem de ser pensado, mas tem de ser feito e não podemos ficar a marcar passo. Bolonha empresa de construção civil para construir
logo e vamos fazer um grande investimento não foi feito para marcar passo, mas para avançar serenamente. uma ponte. Financia o projecto e a empresa,
nessa área. Queremos ser um fórum de diá- no final, apresenta um relatório com os do-
5. Abril 2006
E N T R E V I S TA
Jornal da Universidade 5
Rui Fausto Lourenço, que nasceu em
P E R F I L
Coimbra, no dia 7 de Janeiro de 1961, ti-
ional rou a licenciatura em Química (ramo
científico), em 1984. Quatro anos mais
tarde, concluiu o doutoramento em Ciên-
cias (especialidade Química – Estrutura
Molecular). Professor associado, com
agregação a partir de 2004, em Química,
na Faculdade de Ciências e Tecnologia da
cumentos comprovativos das despesas. Des- bém não posso dizer que o investimento na Universidade de Coimbra (FCTUC), assu-
de o momento que a empresa apresente fac- ciência é suficiente. Não é. Era preciso mais miu este ano as funções de Presidente
turas com os carimbos todos, eventuais au- e aplicar melhor o dinheiro. Não é possível do Instituto de Investigação Interdiscipli-
ditorias que o Estado fizesse diriam que tu- investir bem o dinheiro quando não se faz a nar (foi empossado no passado dia 2 de
do estava bem e não ia verificar se a ponte avaliação rigorosa da produção científica. Março) e de senador. Com diversos car-
estava lá ou não. Haver ponte ou não era ir- JU – Uma parte dos investigadores portu- gos ao nível da FCTUC e da Universidade,
relevante. O que interessava era que as fac- gueses tem de ir para o estrangeiro? é membro de vários organismos internacionais e nacionais ligados
turas tivessem os carimbos. RFL – Hoje em dia, é uma realidade cres-
à Química e efectuou estágios no Canadá, Brasil e Roménia.
JU – É o que está a acontecer com a inves- cente. Continuamos a formar pessoas de ele-
Recebeu o prémio “Estímulo à Excelência” da Fundação para a
tigação científica em Portugal? vadíssima craveira e não temos lugar para
Ciência e Tecnologia em 2004/2005 e foi distinguido pela Royal
RFL – Hoje em dia, a lhes oferecer nos nos-
Society of Chemistry Journals Grant for International Authors em
FCT preocupa-se com Perdemos parte dos nossos melhores sos centros de investi-
detalhes inacreditá- jovens cientistas porque não somos gação e nas nossas 2002. Com cerca de duas centenas de artigos publicados em
veis, que obrigam os capazes de fornecer um emprego universidades. O mer- revistas conceituadas e livros da especialidade, assume o papel de
cientistas mais credita- estável (...) e não somos capazes cado da produção ci- investigador responsável em vários projectos de investigação.
dos, que são quem, de segurar os estrangeiros porque entífica é, em Portugal,
por norma, dirigem os não temos condições mínimas ainda o mercado das dia-a-dia. Foi com alguma surpresa que ouvi RFL – Nesta altura, a UC é uma referên-
projectos, a ocupar um de estabilidade para oferecer. universidades e dos la- o Primeiro-Ministro fazer, recentemente, um cia a nível nacional nas várias áreas do
tempo incrível. No en- É preciso uma aposta séria e firme boratórios do Estado. discurso a estimular a internacionalização saber e é, em termos de prestígio interna-
tanto, não faz a menor na carreira de investigador JU – O que se devia das nossas universidades e centros de in- cional, a instituição portuguesa que tem
avaliação científica e fazer para segurar os vestigação, o que demonstra uma total igno- mais créditos a este nível. O quadro de in-
isto parece que é completamente irrelevan- investigadores? rância em relação à nossa realidade concre- vestigadores que dispomos é altamente
te. Em minha opinião, é um desrespeito pelo RFL – Era preciso avançar com uma carrei- ta. A internacionalização existe. Temos é de qualificado e está à altura das exigências
trabalho dos cientistas. ra de investigação privilegiada, que fosse reter as pessoas e ainda não fomos capazes que cada vez mais são feitas. Temos ao
JU – Quais são os detalhes inacreditáveis avaliada, mas que permitisse criar alguma de dar esse passo. nosso dispor bases de dados internacio-
a que se refere? estabilidade, aproveitando os recursos que JU – Está preocupado com a falta de inves- nais que permitem estabelecer rankings
RFL – Não faz sentido que uma auditoria formamos e mandamos formar no estrangei- timento na investigação? nas várias áreas do saber e temos áreas
analise um projecto onde foram produzidos ro. Temos de ser capazes de importar e RFL – Entendo que numa altura em que onde Portugal está bem colocado e a UC
50 e tal artigos em dois anos em revistas in- aproveitar os melhores temos todas as condi- assume papel destacado.
ternacionais prestigiadas e a única preocu- que nos queiram procu- Foi com alguma surpresa que ouvi ções para subir no JU – Se mandasse, o que mudava no in-
pação que o auditor tem é saber onde está rar. Devemos apostar o Primeiro-Ministro fazer um discurso ranking dos países vestimento na investigação?
um rato de computador que teria sido ad- numa política em que a estimular a internacionalização mais desenvolvidos RFL – Era mais selectivo e tinha muito cui-
quirido a mais e não constava na proposta deixemos de ser emi- das nossas universidades e centros ao nível da investiga- dado na avaliação. Quem deu provas que é
inicial do projecto. É a situação em que vive- grantes da ciência e pas- de investigação, o que demonstra ção científica e em capaz de fazer bem tem de ter dinheiro para
mos. semos a ser um país de uma total ignorância em relação que o país precisa de continuar a fazer bem. Apostaria nos jovens.
JU – Tem um discurso bastante crítico em imigração. à nossa realidade concreta. um grande investi- Sei que investir em pessoas que ainda não
relação à FCT? JU – Como é que se A internacionalização existe. Temos mento na tecnologia, deram provas é capital de risco, mas é ca-
RFL – Em Portugal, no domínio da investi- pode fazer isso? é de reter as pessoas e ainda não há recursos que estão pital de risco indispensável e os jovens teri-
gação científica, temos apenas uma institui- RFL – Perdemos parte fomos capazes de dar esse passo a ser mal gastos por am de ter oportunidades e financiamento
ção do Estado que serve de entidade finan- dos nossos melhores jo- quem faz a gestão ci- específico. Revia ainda o financiamento plu-
ciadora. Não há alternativas. Se calhar, era vens cientistas porque não somos capazes entífica em Portugal. rianual das unidades de investigação, que,
bom que este monopólio deixasse de exis- de fornecer um emprego estável ainda que JU – A investigação na UC está no bom ca- hoje em dia, permite apenas cobrir as des-
tir. Não estou a propor a divisão da FCT rigorosamente avaliado e não somos capa- minho? pesas correntes.
numa maioria de pequenas ou médias insti- zes de segurar os estrangeiros porque não
tuições, mas estou convencido que ter o mo- temos condições mínimas de estabilidade
nopólio da direcção das políticas científicas para oferecer. É preciso uma aposta séria e “PLANO TECNOLÓGICO NÃO PODE SER SÓ SHOW-OFF”
não é nada bom. firme na carreira de investigador.
JU – Faz-se investigação de qualidade em JU – A política científica não existe em JU – Não acredita no Plano Tecnológico?
Portugal? Portugal? RFL – Ainda não vi nada. Vi uma visita de um ilustre homem da informática, Bill Gates,
RFL – Apesar das dificuldades de natureza RFL – Grande parte das políticas ou pseu- que se for bem aproveitada pode dar alguns frutos. O Plano Tecnológico não pode ser
burocrática, estamos a competir com os me- do-políticas científicas são desarticuladas, só show-off, não pode ser só aparecer na televisão a dizer que vamos contribuir para
lhores em bastantes áreas do saber. Tam- não têm estratégia, não se cumprem prazos, o aumento da internacionalização das nossas universidades, não pode ser só afirmar
os regulamentos são incompreensíveis ou que vamos importar instituições de prestígio para cá para aprender com elas.
Grande parte das políticas mudados a meio do percurso. Assim é muito JU – O que falta fazer para se poder falar em Plano Tecnológico?
ou pseudo-políticas científicas são difícil para quem faz investigação, porque RFL – A verdadeira revolução tecnológica faz-se criando condições para que os nossos
desarticuladas, não têm estratégia, para ter uma produção equiparada aos paí- melhores cientistas não precisem dedicar 70 por cento do seu tempo a responder a
não se cumprem prazos, os ses onde estas coisas já foram resolvidas é perguntas inacreditáveis que são feitas por quem faz a gestão da política científica em
regulamentos são incompreensíveis preciso gastar muito mais tempo. Portugal. Quando tivermos tempo para investigar, um bom corpo de funcionários que
ou mudados a meio do percurso. JU – O intercâmbio entre cientistas existe nos auxilie nas tarefas que não nos deveriam competir e estruturas leves, teremos um
Assim é muito difícil... em Portugal? verdadeiro Plano Tecnológico.
RFL – Esse intercâmbio faz parte do nosso
6. 6 Abril 2006
Jornal da Universidade
R E P O R TA G E M
CASA DO PESSOAL DA UC COM INTENSA ACTIVIDADE
Projecto de Lar
Grupo Folclórico reconstitui para os mais idosos
A Casa do Pessoal está a trabalhar pa-
memória de Coimbra
ra a criação de um Lar para a terceira ida-
de. Uma estrutura que deverá ter capaci-
dade para 25 pessoas e que poderá ficar
instalada no Pólo II. O projecto tem como
objectivo central responder às “carências
dos sócios”, explica Maurício Lebreiro,
Presidente da Casa do Pessoal da Univer-
sidade de Coimbra, recordando que mes-
mo depois de aposentados os funcioná-
rios da Universidade continuam como as-
sociados.
Para o Presidente da instituição, “o fu-
turo da Casa do Pessoal passa essencial-
mente pela vertente social”. A primeira
ideia consistia na “instalação de um Lar
em conjunto com um infantário”, mas o
espaço encontrado não possibilita essa
solução.
O Lar será destinado “prioritariamente
a sócios da Casa do Pessoal” e depois a
familiares, caso ainda exista disponibili-
dade. A ideia surge depois da tentativa
de criar um Centro de Dia, que acabou
por ter pouca receptividade por arte dos
associados.
“O projecto já existe”, acrescenta Mau-
rício Lebreiro, estando agora a ser realiza-
do o estudo económico para determinar
a viabilidade financeira da estrutura. Um
trabalho que o Presidente da Casa do
Imagens da actuação do Grupo Folclórico da Casa do Pessoal da UC durante a recente Semana Cultural da Universidade
Pessoal não se cansa de recordar que
NELSON MATEUS tudantes. “O povo cantava as suas melodias, te”, mas que se situava próximo do Largo D. está a ser desenvolvido em estreita cola-
os estudante cantavam as deles”, resume. E Dinis, onde o grupo folclórico tem anualmen- boração com a Reitoria.
Nasceu na Universidade mas dedica-se, são as melodias do povo que o grupo folcló- te recriado a antiga feira. É, aliás, na complementaridade entre
sobretudo, à outra Coimbra, a dos Futricas e rico tem vindo a tentar recuperar. Preci- As fogueiras de S. João são outra tradição os vários organismos que existem dentro
das Tricanas, as pessoas que sempre viram samente um exemplo desse trabalho foi apre- que o grupo recuperou. Já nos anos 80 co- da Universidade que Maurício Lebreiro
encontra a razão de existir da instituição
os jovens chegarem à cidade ainda moços e sentado durante a recente Semana Cultural meçaram a ser feitas as fogueiras “à moda
a que preside. “Somos uma forma de co-
de cá saírem já doutores. É nessas tradições da Universidade de Coimbra, em que o gru- antiga”, precisa Manuel Dias. Tudo em torno
laborar para responder às necessidades”
que o Grupo Folclórico da Casa do Pessoal po organizou um Serão de Arte Popular que a um “Palanque” em que a música dá o mo-
que surgem no seio da comunidade uni-
da Universidade de Coimbra tem trabalhado. incluiu uma Serenata Futrica com canções do te para a festa. Nos últimos anos o grupo
versitária.
É extenso o leque dos projectos que se início do século XX. não tem conseguido fazer as fogueiras na
desenvolvem na Casa do Pessoal, mas o O trabalho do grupo tem passado pela Alta da cidade e tem colaborado na recriação
grupo folclórico tem vindo assumir particular pesquisa e divulgação das tradições popula- da tradição no Bairro de Celas. CASA DE TODO O PESSOAL
visibilidade. Já com mais de 20 anos de exis- res, a partir de finais do século XVIII, em par- Com as antigas melodias a dar o mote para A ideia de que a Casa do Pessoal é a
tência, o grupo tem conseguido, pouco a ticular no que diz respeito às danças e can- a festa, Manuel Dias sublinha que as foguei- associação dos funcionários não docen-
pouco, recriar várias das mais antigas tradi- tares, mas também aos trajes. Consequência ras são um momento sempre muito aguarda- tes da Universidade é rejeitada pelo Pre-
ções da cidade, ajudando Coimbra a reen- natural dessa investigação é o empenho em do. “As pessoas gostam de cantar danças po- sidente da instituição. “Num universo de
contrar-se com o seu próprio passado. recriar as tradições que marcavam os princi- pulares de roda, características das fogueiras mais de três mil sócios, mais de dois mil
“O grupo tem-se dedicado a recuperar a pais momentos da vida da população da ci- de S. João de Coimbra”, acrescenta. são docentes”, explica. Reconhece, no en-
vertente popular de Coimbra” – explica Ma- dade e dos arredores. É por isso que nos úl- Na quinta-feira da Espiga o grupo tem ha- tanto, que “na generalidade dos docen-
nuel Dias, responsável do grupo e Vice-Pre- timos anos têm sido revitalizadas várias fes- bitualmente feito a reposição dessa festa tra- tes existe uma adesão afectiva e talvez
sidente da Casa do Pessoal. Um trabalho tas perdidas no esquecimento. dicional no Largo da Sé Nova, com a distri- menos próxima do que acontece com os
que procura remediar o grande peso da Uni- buição do pão que se deve guardar ao longo restantes funcionários”.
versidade que fez que “com os anos a ver- DOS LÁZAROS ÀS JANEIRAS de todo o ano, e ainda com uma merenda O distanciamento dos professores é jus-
tente estudantil tenha apagado a vertente no fim da missa. Este ano, o grupo folclóri- tificado quer pelo pouco tempo livre, quer
popular”, considera Manuel Dias. A próxima reconstituição que se poderá co muda de local e vai estar junto à Igreja pelas possibilidades económicas. Isto por-
O Vice-Presidente da Casa do Pessoal não ver é a da Feira dos Lázaros que decorre no de Santa Cruz a recriar a mesma festa. que um dos pontos de encontro dos só-
esconde o incómodo pelo que será a confu- O amplo trabalho de revitalização das tra- cios é o refeitório e o bar da Casa do Pes-
dia 2 do corrente mês de Abril (domingo),
soal, que oferecem preços muito acessí-
são entre as tradições de Coimbra e as tra- das 10 às 18 horas, no Largo D. Dinis. A festa dições de Coimbra tem passado também pe-
veis. Os sócios têm, aliás, igualmente aces-
dições dos estudantes. É o caso do que é desenrolava-se em torno do antigo Hospital la ida à Romaria do Espírito Santo, que se rea-
so a apoio médico com consultas gratui-
frequentemente classificado como “Canção e “era uma feira para a juventude”, explica liza em Santo António dos Olivais, e por can-
tas de clínica geral, estando a ser estabe-
de Coimbra”. Segundo Manuel Dias, “a Can- Manuel Dias, em que os brinquedos e a do- tar as Janeiras. Tudo formas de mostrar às
lecidos protocolos com vários médicos pa-
ção de Coimbra é a canção das fogueiras çaria estavam entre os elementos centrais. De- novas gerações o vasto património de tradi-
ra consultas de especialidade.
que o povo cantava” e não a canção dos es- corria “no largo do Castelo, que já não exis- ções populares que Coimbra possui.
7. Abril 2006
E N T R E V I S TA
Jornal da Universidade 7
PRESIDENTE DA DIRECÇÃO-GERAL REVELA QUE HÁ PROJECTO DE REMODELAÇÃO DA SEDE
E ADMITE CONSTRUÇÃO DE NOVO EDIFÍCIO NO PÓLO II
AAC a “rebentar pelas costuras”
– Fernando Gonçalves quer sair com todos os litígios resolvidos
JOÃO PAULO HENRIQUES Apesar de defender uma participação e co-
munhão de valores em projectos europeus de
A Associação Académica de Coimbra (AAC), ideias, culturas e pessoas, a AAC considera
a mais antiga, a maior e a mais prestigiada que “não basta dizer que queremos ser euro-
associação de estudantes do País, está a peus, temos de ter condições para o ser”.
“rebentar pelas costuras”. O edifício-sede é Segundo o líder estudantil, “o Estado não tem
pequeno para acolher toda a actividade da uma estratégia de desenvolvimento no sector
AAC, o que obriga a ter secções espalhadas da Educação e do Ensino Superior a médio ou
pelo Estádio Universitário e outras que não longo prazo”. As críticas estendem-se ao
têm sítio para desenvolver as suas activida- Governo e às Universidades, uma vez que con-
des. Fernando Gonçalves, o reeleito Presi- sidera estar a assistir-se a “uma preocupante
dente da AAC, refere a necessidade de cria- passividade” na abordagem ao Processo de
ção de espaços polivalentes, que permitam Bolonha.
às secções culturais ter os ensaios e as actu- A formação das pessoas – “a nossa grande
ações, mas também espaços que proporcio- potencialidade” – poder estar em causa assus-
nassem melhor prática desportiva, afigura-se ta Fernando Gonçalves, que entende que se
como fundamental para o futuro da activida- não houver uma inversão rápida da “lógica de
de da AAC. passividade”, corre “um sério risco”. Para in-
A solução podia passar pela construção de verter este quadro, que considera de aparente
um novo edifício? letargia, a AAC tem realizado acções de luta e
Fernando Gonçalves explica que “há um reuniões com eurodeputados, deputados e
projecto de remodelação da actual sede, que grupos parlamentares da Assembleia da
pode vir a ajudar muito a AAC através de cri- República, assumindo, ainda, “uma postura in-
ação de espaços polivalentes”. terventiva nas reuniões que tem solicitado ao
“Estádio Universitário está a cair”, afirma Fernando Gonçalves
O líder dos estudantes conimbricenses Ministro da Ciência e Tecnologia e ao Secre-
acrescenta ter em mente, a curto prazo, a cri- tos, choca o líder estudantil, que já assis- O PROCESSO DE BOLONHA tário de Estado e dentro dos órgãos de gestão
ação de um edifício no Pólo II, que podia tiu a “situações inacreditáveis”. da Universidade”.
“ajudar muito no desenvolvimento da activi- “A cidade viveu muito da exploração O Presidente da Direcção-Geral da AAC faz A concretização de algumas das propostas
dade cultural e desportiva e de intervenção dos estudantes, oferecendo, muitas ve- questão de sublinhar que os estudantes da que os estudantes fizeram relativamente ao
da Academia”. zes, quartos em condições pouco dignas Universidade de Coimbra estão preocupados acompanhamento do processo de Bolonha
Até ao final do mandato, Fernando Gon- e a preços exorbitantes. Há uma grande com o Processo de Bolonha, que consideram na Universidade de Coimbra (UC), a existência
çalves, que cumpre o segundo ano como exploração dos inquilinos. Algumas “uma incógnita que se está a tornar cada vez de uma calendarização de aplicação, a criação
Presidente e não se vai recandidatar ao car- casas são oferecidas com quartos por mais negativa pela forma como Portugal se de uma comissão ad-hoc e a realização de re-
go, pretende “garantir a estabilidade finan- baixo de vãos de escada, que não têm está a adaptar”. Fernando Gonçalves diz que latórios em todas as Faculdades para conhe-
ceira da AAC, deixar resolvidos todos os lití- acesso a casa de banho e qualquer con- falta discussão sobre a integração dos portu- cer como está a decorrer o processo de apli-
gios jurídicos pendentes e saldar as dívidas dição para uma pessoa poder viver”, la- gueses numa área europeia do Ensino cação, foram iniciativas que os estudantes to-
anteriores”. O estudante de Direito, a quem menta Fernando Gonçalves, que faz Superior, acrescentando que a qualificação e a maram em prol de “uma Universidade mais
faltam quatro cadeiras para terminar o curso, questão de lembrar: “Temos tentado com- formação dos portugueses, que devia ser “um informada e consciente, porque, ao entrar no
quer dedicar-se, nos próximos anos, a estu- bater esta situação e esperamos que seja desígnio nacional”, está a passar “ao lado da projecto comum de Ensino Superior, não de-
dar Direito e à profissão de advogado que é alterada, já que os estudantes são a vida discussão pública e de qualquer estratégia”. vemos continuar fechados no nosso canto”.
o que gostava de ser. de Coimbra e não deviam merecer o tra-
tamento de exploração, que, muitas ve-
SENHORIOS EXPLORAM zes, recebem”. Fernando Gonçalves nasceu em Viseu há
P E R F I L
ESTUDANTES A falta de instalações desportivas acaba 24 anos. O finalista do curso de Direito in-
por significar um problema complicado de tegrou o Conselho Directivo da Faculdade
Abordando outro tema, Fernando Gon- ultrapassar, tendo em conta os 6000 des- de Direito da Universidade de Coimbra e
çalves refere que a AAC disponibiliza um portistas que representam a AAC. “Temos foi fundador do Núcleo de Estudantes de
certificado de habitabilidade a quem vem um Estádio Universitário que está a cair, Direito, a que presidiu durante dois anos.
estudar para Coimbra. Um grupo de estu- ainda não conseguimos acabar as obras Actualmente exerce os cargos de represen-
dantes voluntários corre a cidade, tenta do Campo de Santa Cruz e não existem tante dos estudantes das universidades
fazer face aos pedidos de vistoria e infor- muitas instalações desportivas ao serviço públicas portuguesas no Conselho Nacio-
ma os caloiros dos quartos disponíveis, da cidade de Coimbra”, refere o Pre- nal de Avaliação do Ensino Superior e de
dos preços e das localizações. Trata-se de sidente da Direcção Geral da AAC, que Presidente do Conselho Fiscal da Fede-
“um serviço de extraordinária utilidade”, destaca ainda, entre os problemas de ur- ração Académica de Desporto Universi-
que, para Fernando Gonçalves, “minora as gente resolução, a falta de residências uni- tário. ‘Guterres’, alcunha atribuída pelos
dificuldades de quem tem de procurar ca- versitárias: “Temos mil camas para mais doutores no antigo Pratas, devido às semelhanças físicas com o an-
sa”. A exploração a que os estudantes des- de uma dezena de milhar de estudantes tigo Primeiro-Ministro, é militante da Juventude Socialista.
locados estiveram, desde sempre, sujei- deslocados”.
8. 8 Abril 2006
Jornal da Universidade
R E P O R TA G E M
TEUC E CITAC – DOIS GRUPOS MARCANTES NA ACADEMIA DE COIMBRA
Em busca do elixir da ete
PAULA CARDOSO ALMEIDA
Mónica Martins frequentou o curso de for-
mação teatral há dois anos. Joana Maia fê-lo
há apenas um ano. As duas estudantes uni-
versitárias integram as Direcções do TEUC
(Teatro dos Estudantes da Universidade de
Coimbra) e do CITAC (Círculo de Iniciação
Teatral da Academia de Coimbra). Separa-as
um corredor. Une-as a paixão pelo teatro e o
desprendimento com que prescindem do seu
tempo a favor dos palcos.
A única porta de entrada para estes dois
organismos autónomos da Associação Aca-
démica de Coimbra é a frequência nos cur-
sos de iniciação teatral que, bianualmente e
alternadamente, cada um deles organiza. “É
uma forma de dar continuidade ao grupo”,
sublinha Mónica Martins, elemento da
Direcção do TEUC.
Este ano cabe ao TEUC assegurar a reno-
vação. Mas o CITAC começou já a delinear o
curso de iniciação teatral do próximo ano. A Confraternização de antigos membros do CITAC
formação é primordial para cada um destes
organismos. É a melhor ferramenta para im- existe também quem veja nesta arte uma estudante. “É preciso rentabilizar o tempo. sagarrar. Custa muito tomar essa decisão.”
buir os novos elementos num sentimento formação paralela muito boa. Serão várias e Há quem consiga fazer isso e há quem não Mónica sabe isso muito bem. Faltam apenas
de coesão. difíceis de enumerar as motivações de cada consiga”, explica Mónica Martins, 24 anos, alguns meses para concluir a licenciatura.
Soa a anúncio publicitário: “Procura-se um. finalista de Matemática. Quer arranjar um estágio em Coimbra. “Por
novas pessoas, com novas ideias, mentali- Em Abril, o TEUC apresenta o “exercício causa do TEUC”, explica. Cotovelos em cima
dades e projectos, que se juntem aos ele- final”, altura em que cairá o pano sobre o A IMPORTÂNCIA da mesa, mão na testa, tristeza no olhar.
mentos mais antigos num acto de perma- curso de formação. “Antígona”, de Sófocles, DA FORMAÇÃO “Torna-se viciante”, suspira.
nente renovação e dinamismo.” Mas não é foi o clássico escolhido. Após a estreia, os Mónica Martins receia mal-entendidos e
publicidade. Lembra apenas aquilo que até 20 novos elementos são votados em as- Os subsídios atribuídos aos dois grupos explica de novo: “Os estudantes que são de
os próprios “teuquianos” e “citaquianos” sembleia-geral e aprovados, ou não, como de teatro (designadamente pelo Ministério fora da cidade passam mais tempo aqui do
por vezes esquecem: que são estudantes sócios efectivos. da Cultura, Reitoria, Fundação Gulbenkian e que com a família. Trabalhamos em conjun-
universitários e que estão ali de passagem. A disponibilidade para se entregarem, físi- outros) são totalmente investidos na forma- to, zangamo-nos, mas, no final, assistimos
Mas o que os traz até cá? Há quem che- ca e psicologicamente, é fundamental. Os ção. Trazem-se sempre os melhores. “Acon- ao fruto do nosso trabalho.”
gue sem nunca ter sentido o “nervoso miu- ensaios decorrem das 20,30 horas até à tece, muitas vezes, trabalharmos com pes- Carla Fino é um desses antigos sócios que
dinho” de pisar um palco. Outros mantive- meia-noite. Um compromisso pesado para soas que já passaram por cá”. Mónica sorri, regressa sempre que pode. O gosto pelo te-
ram adormecido o culto pelo teatro. Mas quem quer cumprir também os deveres de orgulhosa. Nicolau Lima Antunes, mais co- atro e a vontade de aprender mais fizeram
nhecido por Nicolau dos Mares, é um des- com que se inscrevesse, há 13 anos, no
ses casos. Iniciou, há 15 anos, o seu percur- curso de formação. Desde aí que assumiu a
so teatral no CITAC e no TEUC. Este ano foi responsabilidade de dar continuidade à
convidado a integrar o grupo de formadores História do grupo, que, com o passar do
do curso de iniciação e a realizar um tempo, “deixa de ser apenas o sítio onde
workshop sobre a “preparação do actor”. Um vamos fazendo umas peças e arranjamos
outro “filho pródigo”, Manuel Sardinha, re- amigos fixes, para passar a ser visto como
gressou, em 2004, para encenar “Rino- algo com uma identidade própria e indepen-
cerontes”, peça alicerçada n’ “O Rinoce- dente das pessoas que no momento ali tra-
ronte” de Ionesco. balham.”
Muitos, como Manuel Sardinha e Nicolau Já lá vão cinco anos desde que esta pro-
dos Mares, redescobrem a sua vocação. fessora de Biologia deixou a Universidade,
Mónica conta um episódio recente em que mas preservou o cordão umbilical que a liga
uma aluna de Medicina congelou a matrícu- ao teatro universitário. Integrou a direcção
la para estudar teatro. Mas, depois, há a do TEUC durante três anos e foi Presidente
pressão dos pais. A grande maioria opta por da mesa da Assembleia-Geral durante dois.
terminar o curso para enveredar, posterior- Para trás ficaram “muitas horas de trabalho,
mente, e à sua custa, pelo mundo do tea- que implicaram noites de sono mais curtas,
tro. fins-de-semana sem sair de Coimbra. Mas
Todos acabam por voltar. “O TEUC é uma nada de que me arrependa…”
“O Teatro Ambulante” de Chopalovitch, pelo TEUC
espécie de segunda casa. Custa muito a de- Não deve haver, na já longa existência
9. Abril 2006
R E P O R TA G E M
Jornal da Universidade 9
rna juventude
dos dois organismos autónomos, quem se sigo. Não esperamos nunca que elas fi-
arrependa de por ali ter passado. Exige-se o quem.”
mesmo a cada um dos sócios: que contri- Recorda, sem nostalgia, o tempo em que
bua para a concretização das actividades e fez a formação. “Assumi os dois compromis-
que assegure o funcionamento interno, inte- sos: a Universidade e o curso de iniciação
grando os corpos dirigentes ou colaborando teatral.” Mas não foi fácil. Aliás, não é tare-
com estes no trabalho de expediente, plane- fa simples para um estudante conciliar o es-
amento de actividade, organização dos ar- tudo e as aulas com a disponibilidade que
quivos, arrumação ou limpeza. O tempo é o os dois organismos exigem dos seus sócios.
que de mais precioso podem oferecer a uma “Nalguns casos, promove o insucesso esco-
“casa” que os acolhe e proporciona experi- lar.”
ências únicas. Confessa que falta ao CITAC a organiza-
ção do TEUC. Sorri. Considera que a desor-
ENTRE A IRREVERÊNCIA ganização faz parte da traça dos “citaquia-
E O TER DE PARTIR nos”. Conta que há gente, cerca de uma
dúzia, que aparece sempre para as reuni-
O fascínio de Joana Maia pelo mundo do ões. Depois, existem os “satélites”, que por
CITAC começou muito cedo. Teria 15 anos ali passam de vez em quando.
quando assistiu à primeira peça e, desde Os valores de esquerda regeram, desde
logo, se sentiu atraída pela linha irreverente sempre, o grupo. Há algumas décadas atrás,
e experimental daquele grupo. as linhas mestras eram claras. Hoje estão Pormenor de um espectáculo do CITAC
A mãe fez parte do TEUC, mas a filha viria um pouco mais diluídas, mas o CITAC conti-
a integrar o “rival”: o CITAC nasceu pelas nua a assumir-se como uma escola demo- “Singapura”, com texto e encenação de missão é sempre a mesma: experimentar. O
mãos de alguns “dissidentes” do TEUC, de crática e de cidadania, a fazer lembrar os Paulo Castro, apresentava, num teatro cru, único receio é que a instituição, que este
alguns elementos que estavam desconten- tempos em que os seus membros desempe- violento, naturalista e com algum cariz sexu- ano assinala meio século de vida, não con-
tes com a vertente clássica e ambicionavam nhavam um importante papel em Assem- al, a desumanização do Homem na socieda- siga assegurar a sua continuidade.
fazer-se ao palco do teatro experimental. bleias Magnas e manifestações estudantis. de moderna. Para o festival de Casablanca “Se há uns anos era uma mais valia pas-
“Faz parte da minha vida, mas não quero Irreverência que lhe valeu o encerramento estavam agendadas duas apresentações: sar mais um ano em Coimbra para se dedi-
fazer do teatro vida. Quando sair, levo esta pela PIDE durante quatro longos anos, até “Na primeira, a sala esvaziou-se; na segun- car ao CITAC, hoje isso não acontece. São
experiência comigo”. Com um ar descontra- 1974. da, fomos contactados pela organização poucos os que estão dispostos a tomar
ído, Joana Maia, 22 anos, natural de Longe vão esses tempos. Continua, contu- para reajustar o espectáculo.” Joana conta conta do grupo”, lamenta Joana, que, tal co-
Coimbra, quase licenciada em Psicologia, do, a inquietar. No ano passado, no Festival que sentiu a excitação dos anos 70. mo muitos outros “citaquianos”, está tam-
fala já com algum distanciamento. Internacional de Teatro Universitário, que “Percebi a bomba que o CITAC deve ter sido bém de saída.
Aceita com naturalidade que tenha de decorreu em Casablanca, Marrocos, o CITAC naquele tempo.” O Círculo espera lançar, até ao final deste
abandonar o grupo: “Sentimo-nos felizes foi aconselhado pela organização a “reajus- Neste momento, o CITAC está a preparar ano, um livro que reúna memórias e peda-
por dar algo para as pessoas levarem con- tar o carácter pornográfico” da sua peça. um espectáculo na área do Novo Circo. A ços da sua vida.
HISTÓRIA
TEUC CITAC
A primeira apresentação pública do TEUC aconteceu há quase 68 anos (a 27 de Julho O CITAC assinala, este ano, meio século de vida. No entanto, “não é algo que se
de 1938). O perfil do grupo não ficaria completo sem referir o nome daquele que foi possa medir por anos ou que se deixe encerrar por números, mas existe nas fotogra-
um dos fundadores e seu director artístico durante três décadas: Paulo Quintela, cate- fias, nas palavras decoradas e tantas vezes proferidas, nos figurinos habitados, nos car-
drático da Faculdade de Letras, que exerceu ali um autêntico magistério cultural. Os di- tazes e nos mundos de cenário” – como se lerá no livro que vai ser publicado.
fíceis anos 40, 50 e 60 foram marcados pelas suas encenações, designadamente de O desejo de criar um novo grupo de teatro de estudantes da Universidade de
textos do “pai” do teatro português, Gil Vicente; autores do teatro clássico grego Coimbra surgiu em 1954, mas a primeira aparição do CITAC viria a ser feita apenas a
(Eurípides, Sófocles e Ésquilo); e clássicos do teatro mundial, como Molière, Goethe e 13 de Maio de 1956, com a “Nau Catrineta”, de Almeida Garrett. Orgulham-se de resis-
Calderón de La Barca. tir a moldes pré-concebidos e de fazerem uma selecção eclética de textos.
Após o 25 de Abril, peças como “Portugal com P de Povo”, “Arraia Miúda” e “A Por ali passaram nomes como António Pedro, Carlos Oviedo, Carlos Avillez, Vítor
Excepção e a Regra”, levaram à cena escritores polémicos como Brecht e Dário Fo e Garcia, Ricardo Salvat e, mais recentemente, Andrezj Kowalski, Carlos Curto e Paulo
deram início a um novo ciclo: ao teatro de intervenção social. Castro.
Os anos 80 seriam dedicados ao experimentalismo. “Índia Song”, de Marguerite Destaque, no seu longo currículo, para as adaptações de obras como “Manufactura
Duras, viria a ser um espectáculo muito bem recebido na década de 90, enquanto Universal de Autómatos”, de Karel Chapek; “Tartufo”, de Molière; “Bodas de Sangue”,
que a apresentação de “Sonho de Uma Noite de Verão”, de Shakespeare, encena- de Garcia Lorca; “Fausto”, de Goethe; “O Processo”, de Kafka; “O Arranca Corações”,
da por António Mercado, assinalaria a entrada no século XXI, esgotando todas as de Boris Vian; e “Macbeth”, de Shakespeare. Paralelamente, desenvolvem ainda os
sessões. Círculos de Poesia em Noites de Lua Cheia e performances de rua.
10. 10 Abril 2006
Jornal da Universidade
C U LT U R A
EXPOSIÇÃO A NÃO PERDER NA BIBLIOTECA-GERAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
Os monstros do nosso imaginário
António Maia do Amaral
PAULA CARDOSO ALMEIDA turalistas Conrad Gesner, Ambroise Paré, entidades marinhas, devido, sobretudo, ao sibilidade, até agora impossibilitada pelo
Cavazzi e Ulisses Aldovandri, que deixaram facto da Igreja ter excluído, da arte religiosa, facto de o espaço estar em obras. Entre-
Dragões, sereias monstruosas, golfinhos ma- um legado de admiráveis volumes ilustrados estas figuras. No século XIX, os monstros ma- tanto, a estrutura estará encerrada até ao
lévolos, lulas gigantes e serpentes marinhas com gravuras em madeira. rinhos dão lugar aos dragões, mas, nos dois dia 17 de Abril, altura em que Maia Amaral
são alguns dos seres (sobre)naturais que po- Os mitos medievais povoaram o mar de séculos seguintes, o cinema (sobretudo o ja- (licenciado em História e Arqueologia e
dem ser admirados em “O mar é sempre te- monstros, mas já antes, na civilização clás- ponês), a banda desenhada e os desenhos pós-graduado em Ciências Documentais)
nebroso”, uma exposição de livros, dedica- sica, se encontram referências a estes se- animados viriam a colocar todas estas bestas acredita poder estar em condições de dar o
dos à temática dos monstros marinhos, do res maléficos. Nessa época, o aparecimen- no imaginário infantil. merecido relevo aos “seus” monstros anti-
acervo da Biblioteca Geral da Universidade to de monstros marinhos representava um É esta história, este “amor dos monstros”, gos e modernos.
de Coimbra (BGUC). castigo enviado pelos deuses. Daí resultou que a exposição calcorreia. Mas, por enquan- “Era importante que pudéssemos dar outro
A mostra – ideia de Carlos Fiolhais, Director uma infinidade de lendas – da morte de to, permanece, de alguma forma, escondida enquadramento a estas obras. Talvez desdo-
da Biblioteca, para a recente Semana Cultural Hipólito por um monstro marinho ao sal- na Sala São Pedro da BGUC – construída, na brar em painéis várias páginas, para que os
da Universidade de Coimbra – traz ao olhar vamento de Adrómeda, feito por Perseu, década de 50, para conservar o espólio da bi- livros possam ser mostrados em maior pro-
do visitante quase todos os “clássicos da es- das garras de um malvado animal dos blioteca do Colégio de S. Pedro. fundidade”, adianta ainda o Director-Adjunto
pecialidade”, destacando-se cinco “valiosas mares. António Maia do Amaral, recentemente da BGUC, sublinhando o valor incalculável
raridades” do século XVI, a que só falta o li- O Adamastor foi, em Portugal, o monstro empossado Director-Adjunto da Biblioteca daquele acervo bibliográfico. “Muitos destes
vro dos peixes estranhos do francês Pierre mais conhecido dos Descobrimentos. Os sé- Geral, espera que, depois da Páscoa, a exemplares só nós e a Biblioteca Nacional é
Belon. Sobressai, todavia, o trabalho dos na- culos seguintes viriam a desvalorizar estas mostra bibliográfica possa ganhar outra vi- que os temos.”
11. Abril 2006
ACADEMIA
Jornal da Universidade 11
QUEIMA DAS FITAS ESTÁ À PORTA
Contenção nas despesas mas não na qualidade
JOANA MARTINS áreas da cultura, des-
porto e actividades
tradicionais.
Um cartaz “informático”
A cerca de um mês
do início da Queima Por seu turno, Da- Uma serenata vista de dentro de uma casa é a ideia principal do cartaz da
das Fitas de Coimbra niel Rocha, Secretário- Queima das Fitas deste ano. Laurentino Reis, o autor, é estudante do segundo
(decorrerá de 5 a 12 -Geral da Comissão ano de Engenharia Informática em
de Maio), a Comissão da Queima das Fitas Coimbra. Mas foi do trabalho que faz
responsável pela or- 2006, afirma-nos que desde 1999, na área de Design e
ganização da maior ainda não há bandas Desenho Gráfico, e do gosto por esta
festa de estudantes confirmadas para ac- área, que surgiu a vontade de concor-
Ricardo Duarte Daniel Rocha
do ano não tem mãos tuar na festa dos estu- rer com uma obra sua.
a medir. Apesar de o essencial já estar resol- dantes, mas estão já a ser ponderadas várias Entre os 32 projectos concorren-
vido, houve alguns atrasos devido às contin- hipóteses, entre grupos nacionais e estrangei- tes, o júri viria a escolher o de Lau-
gências resultantes dos prejuízos provenientes ros, de forma a “fazer o melhor cartaz possível”. rentino Reis.
deste evento no ano passado. Uma das grandes apostas deste ano é de- Segundo ele próprio confessou
A Comissão assume que esteve desde sem- volver ao já tradicional Chá Dançante, a impor- ao “Jornal da Universidade”, a ideia
pre ciente da sua responsabilidade em assumir tância de outros tempos. Para que tal aconte- para a proposta de cartaz que elabo-
todos os compromissos de Queimas das Fitas ça, os estudantes ponderam contratar artistas rou surgiu numa tarde em que passa-
realizadas em anos anteriores. É nesta medida prestigiados para actuar no evento, cativando va pela Rua da Matemática. E em
que estão a ser definidas prioridades no que desta forma um maior número de pessoas. apenas uma semana Laurentino con-
respeita aos investimentos. Assim, como salien- O Presidente da Comissão sublinha a res- cebeu e criou o cartaz que este ano
ta o Presidente da Comissão da Queima das ponsabilidade que cabe aos organizadores ilustra a Queima das Fitas. Janelas e
Fitas, Ricardo Duarte, em declarações ao “jornal desta “festa dotada de história e tradição na candeeiros típicos, ao som da serena-
da Universidade”, “é importante investir em coi- cidade de Coimbra”. No entanto, mostra-se ta, desenham-se pelas ruas de Coim-
sas relevantes e cortar nos acessórios”. O estu- bastante optimista e promete novidades – a bra, anunciando a chegada da festa estudantil mais esperada do ano.
dante reitera que não serão descuradas as serem anunciadas nos próximos dias.