2. SEGUNDA GERAÇÃO
a poesia de Álvares de Azevedo
SONETO ASPECTOS FORMAIS
Já da morte o palor me cobre o rosto, forma clássica: soneto decassílabo
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece, profusão de exclamações e reticências
E devora meu ser mortal desgosto! ASPECTOS TEMÁTICOS
Do leito embalde no macio encosto
derrotismo
Tento o sono reter!... Já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece [a tristeza/mágoa leva o locutor à prostração]
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!
melancolia
O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive [a tristeza profunda leva à obsessão pela morte]
E tenha os olhos meus na escuridade idealização
Dá-me a esperança com que o seu mantive! [o locutor deseja apenas o olhar da amada]
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive! sofrimento amoroso
3. SEGUNDA GERAÇÃO
a poesia de Álvares de Azevedo
SONETO ASPECTOS FORMAIS
Pálida, à luz da lâmpada sombria, forma clássica: soneto decassílabo
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada, exclamações, reticências, metáforas, antítese
Entre as nuvens do amor ela dormia! ASPECTOS TEMÁTICOS
Era a virgem do mar! Na escuma fria
idealização
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada [mulher morta, dormindo, virgem, anjo, criança]
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
medo de amar
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo... [receio de se envolver afetivamente e sofrer]
Formas nuas no leito resvalando... vocabulário ligado à cor branca [metáfora]
Não te rias de mim, meu anjo lindo! poeta voyeur [compraz-se em olhar]
Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo. mulher idealizada, indisponível
4. SEGUNDA GERAÇÃO
a poesia de Álvares de Azevedo
O POETA MORIBUNDO
Poetas! amanhã ao meu cadáver
Minha tripa cortai mais sonorosa!... ASPECTOS FORMAIS
Façam dela uma corda e cantem nela
Os amores da vida esperançosa! quartetos decassílabos
Coração, por que tremes? Vejo a morte, ASPECTOS TEMÁTICOS
Ali vem lazarenta e desdentada...
Que noiva!... E devo então dormir com ela? byronismo
Se ela ao menos dormisse mascarada! [egocentrismo, narcisismo, boemia]
No inferno estão suavíssimas belezas,
crítica às convenções sociais
Cleópatras, Helenas, Eleonoras;
Lá se namora em boa companhia, [poeta-maldito]
Não pode haver inferno com Senhoras!
carnavalização da morte
Se é verdade que os homens gozadores,
Amigos de no vinho ter consolos, ironia romântica: visão corrosiva do mundo
Foram com Satanás fazer colônia,
Antes lá que do Céu sofrer os tolos!
5. SEGUNDA GERAÇÃO
a poesia de Álvares de Azevedo
SONETO
Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,
Fumando meu cigarro vaporoso;
Nas noites de verão namoro estrelas;
Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso! ASPECTOS FORMAIS
Ando roto, sem bolsos nem dinheiro; quartetos decassílabos
Mas tenho na viola uma riqueza:
Canto à lua de noite serenatas, ASPECTOS TEMÁTICOS
E quem vive de amor não tem pobreza. ironia romântica
Não invejo ninguém, nem ouço a raiva [poeta maldito]
Nas cavernas do peito, sufocante,
Quando à noite na treva em mim se entornam desidealização
Os reflexos do baile fascinante. [a mulher de classe baixa aparece disponível]
Namoro e sou feliz nos meus amores;
Sou garboso e rapaz... Uma criada
Abrasada de amor por um soneto
Já um beijo me deu subindo a escada...
6. SEGUNDA GERAÇÃO
a poesia de Álvares de Azevedo
É ELA! É ELA! É ELA! É ELA!
É ela! é ela! murmurei tremendo,
E o eco ao longe murmurou - é ela!
Eu a vi... minha fada aérea e pura -
A minha lavadeira na janela! ASPECTOS FORMAIS
Esta noite eu ousei mais atrevido quartetos decassílabos
Nas telhas que estalavam nos meus passos
Ir espiar seu venturoso sono, ASPECTOS TEMÁTICOS
Vê-la mais bela de Morfeu nos braços! ironia romântica
Como dormia! que profundo sono!... [a mulher de classe baixa aparece disponível]
Tinha na mão o ferro do engomado...
Como roncava maviosa e pura!... desidealização
Quase caí na rua desmaiado! [lavadeira, ferro de passar roupas, ronco]
Afastei a janela, entrei medroso...
Palpitava-lhe o seio adormecido...
Fui beijá-la... roubei do seio dela
Um bilhete que estava ali metido...
8. SEGUNDA GERAÇÃO
a poesia de Casimiro de Abreu
MEUS OITO ANOS [fragmento]
Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais
ASPECTOS FORMAIS
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras, simplicidade formal: quartetos heptassílabos
A sombra das bananeiras,
ASPECTOS TEMÁTICOS
Debaixo dos laranjais.
Como são belos os dias simplicidade temática
Do despontar da existência [idealização da infância]
Respira a alma inocência,
Como perfume a flor; visão ingênua e sentimental
O mar é lago sereno,
O céu um manto azulado,
O mundo um sonho dourado,
A vida um hino de amor!
9. SEGUNDA GERAÇÃO
a poesia de Bernardo Guimarães
A ORGIA DOS DUENDES[fragmento]
Meia-noite soou na floresta Getirana com todo o sossego
No relógio de sino de pau; A caldeira da sopa adubava
E a velhinha, rainha da festa, Com o sangue de um velho morcego,
Se assentou sobre o grande jirau. Que ali mesmo co’as unhas sangrava.
Lobisome apanhava os gravetos Mamangava frigia nas banhas
E a fogueira no chão acendia, Que tirou do cachaço de um frade
Revirando os compridos espetos, Adubado com pernas de aranha,
Para a ceia da grande folia. Fresco lombo de um frei dom abade.
Junto dele um vermelho diabo Vento sul sobiou na cumbuca,
Que saíra do antro das focas, Galo-Preto na cinza espojou;
Pendurado num pau pelo rabo, Por três vezes zumbiu a mutuca,
No borralho torrava pipocas. No cupim o macuco piou.
Taturana, uma bruxa amarela, E a rainha co’as mãos ressequidas
Resmungando com ar carrancudo, O sinal por três vezes foi dando,
Se ocupava em frigir na panela A corte das almas perdidas
Um menino com tripas e tudo. Desta sorte ao batuque chamando:
10. SEGUNDA GERAÇÃO
a poesia de Bernardo Guimarães
A ORGIA DOS DUENDES[fragmento]
"Vinde, ó filhas do oco do pau, Galo-preto da torre da morte,
Lagartixas do rabo vermelho, Que te aninhas em leito de brasas,
Vinde, vinde tocar marimbau, Vem agora esquecer tua sorte,
Que hoje é festa de grande aparelho Vem-me em torno arrastar tuas asas.
Raparigas do monte das cobras, Sapo-inchado, que moras na cova
Que fazeis lá no fundo da brenha? Onde a mão do defunto enterrei,
Do sepulcro trazei-me as abobras, Tu não sabes que hoje é lua nova,
E do inferno os meus feixes de lenha. Que é o dia das danças da lei?
Ide já procurar-me a bandurra Tu também, ó gentil Crocodilo,
Que me deu minha tia Marselha, Não deplores o suco das uvas;
E que aos ventos da noite sussurra, Vem beber excelente restilo
Pendurada no arco-da-velha. Que eu do pranto extraí das viúvas.
Onde estás, que inda aqui não te vejo, Lobisome, que fazes, meu bem
Esqueleto gamenho e gentil? Que não vens ao sagrado batuque?
Eu quisera acordar-te c’um beijo Como tratas com tanto desdém,
Lá no teu tenebroso covil. Quem a c’roa te deu de grão-duque?”
11. SEGUNDO GERAÇÃO DO ROMANTISMO
“mal do século”, medo de amar, infância, melancolia
AUTORES E OBRAS
Álvares de Azevedo Bernardo Guimarães
[Ariel e Caliban] [sátira e ironia romântica]
Lira dos vinte anos A orgia dos duendes
único livro de poemas A origem do mênstruo
textos mais importantes do mal-do-século brasileiro O elixir do pajé
seu livro é dividido em duas faces: a solar e poemas irônicos
idealizada [Ariel] e a noturna e irônica [Caliban] visão corrosiva [satânica, irônica] da vida e do mundo
12. SEGUNDO GERAÇÃO DO ROMANTISMO
“mal do século”, medo de amar, infância, melancolia
AUTORES E OBRAS
Casimiro de Abreu Fagundes Varela
[leveza e suavidade] [um poeta de transição]
As primaveras Varela escreveu muito. Entretanto, seu poema mais
poemas ternos como “Meus oito anos” fizeram dele conhecido é “Cântico do calvário”, feito por ocasião da
o poeta mais lido da segunda geração em seu tempo morte de seu primeiro filho, aos três meses;
em poemas muito musicais, aborda saudade, infância, sua obra é considerada pela crítica literária como de
natureza e desejo. transição, pois antecipa temas sociais da 3ª. geração