2. MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE
neoclassicismo português
a poesia lírica
influências
camonianas
aventuras
amorosas
a poesia satírica
habitantes
das
colônias
portuguesas
absolu7smo
polí7co
outros
poetas
3. MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE
neoclassicismo português
convencionalismo amoroso
despersonalização
do
amor
pastor,
riacho,
natureza
um poeta pré-romântico
rompe
com
o
convencionalismo
amoroso
subje7vidade
e
sen7mentalismo
visão
pessimista
e
fatalista
da
existência
imagens
fúnebres
e
sen7mentos
nega7vos
4. CAMÕES, GRANDE CAMÕES...
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Camões,
grande
Camões,
quão
semelhante
Acho
teu
fado
ao
meu,
quando
os
cotejo!
Igual
causa
nos
fez
perdendo
o
Tejo
Arrostar
co
sacrílego
gigante:
Como
tu,
junto
ao
Ganges
sussurrante
Da
penúria
cruel
no
horror
me
vejo;
Como
tu,
gostos
vãos,
que
em
vão
desejo,
Também
carpindo
estou,
saudoso
amante:
Ludíbrio,
como
tu,
da
sorte
dura
Meu
fim
demando
ao
Céu,
pela
certeza
De
que
só
terei
paz
na
sepultura:
Modelo
meu
tu
és...
Mas,
oh
tristeza!...
Se
te
imito
nos
transes
da
ventura,
Não
te
imito
nos
dons
da
Natureza.
lirismo
filosófico/metalinguís3co:
locutor
compara
sua
vida/poesia
à
de
Camões;
semelhanças
biográficas:
Cabo
da
Boa
Esperança,
foram
soldados,
boêmios
e
briguentos;
diferenças
es3lís3cas:
modestamente
o
locutor
considera-‐se
inferior
ao
autor
de
Os
lusíadas.
forma:
soneto
decassílabo.
5. FIEI-ME NOS SORRISOS DA VENTURA
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Fiei-‐me
nos
sorrisos
de
ventura
Em
mimos
femininos
,como
fui
louco!
Vi
raiar
o
prazer,
porém
tão
pouco
Momentâneo
relâmpago
não
dura:
No
meio
agora
desta
selva
escura,
Dentro
deste
penedo
húmido
e
ouço,
Pareço,
até
no
tom
lúgubre,
e
rouco
Triste
sombra
a
carpir
na
sepultura:
Que
estância
para
mim
tão
própria
é
esta!
Causais-‐me
um
doce,
e
fúnebre
transporte,
Áridos
matos,
lôbrega
floresta!
Ah!
Não
me
roubou
tudo
a
negra
sorte:
Inda
tenho
este
abrigo,
inda
me
resta
O
pranto,
a
queixa,
a
solidão
e
a
morte.
lirismo
filosófico/amoroso:
reflexão
sobre
a
efemeridade
dos
mimos
femininos;
caráter
neoclássico:
consciência
crí7ca
do
caráter
passageiro
das
graças
da
mulher;
soneto
decassílabo;
imagens
árcades;
linguagem
clara
e
simples.
6. CHOROSOS VERSOS MEUS...
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Chorosos
versos
meus
desentoados,
Sem
arte,
sem
beleza,
e
sem
brandura,
Urdidos
pela
mão
da
Desventura,
Pela
baça
Tristeza
envenenados:
Vede
a
luz,
não
busqueis,
desesperados,
No
mudo
esquecimento
a
sepultura;
Se
os
ditosos
vos
lerem
sem
ternura,
Ler-‐vos-‐ão
com
ternura
os
desgraçados:
Não
vos
inspire,
ó
versos,
cobardia
Da
sá7ra
mordaz
o
furor
louco,
Da
maldizente
voz
a
7rania:
Desculpa
tendes,
se
valeis
tão
pouco;
Que
não
pode
cantar
com
melodia
Um
peito,
de
gemer
cansado
e
rouco.
lirismo
metalinguís3co:
o
locutor
fala
que
seus
versos
não
possuem
arte,
beleza
e
brandura;
fala-‐se
que
os
versos
foram
construídos
pela
desventura
e
pela
tristeza;
os
leitores
desafortunados
[tristes,
que
sofrem]
se
iden7ficarão
com
os
versos
do
locutor;
a
explicação
para
o
tom
dos
versos
é
o
fato
de
saírem
de
um
peito
cansado
de
sofrer;
caráter
pré-‐român3co:
sofrimento,
tristeza
x
caráter
neoclássico:
soneto
decassílabo.
7. INCULTAS PRODUÇÕES DA MOCIDADE
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Incultas
produções
da
mocidade
Exponho
a
vossos
olhos,
ó
leitores;
Vede-‐as
com
mágoa,
vede-‐as
com
piedade;
Que
elas
buscam
piedade,
e
não
louvores;
Ponderai
da
Fortuna
a
variedade
Nos
meus
suspiros,
lágrimas
e
amores;
Notai
dos
males
seus
a
imensidade,
A
curta
duração
dos
seus
favores;
E
se
entre
versos
mil
de
sen7mento
Encontrardes
alguns,
cuja
aparência
Indique
fes7val
contentamento,
Crede,
ó
mortais,
que
foram
com
violência
Escritos
pela
mão
do
Fingimento,
Cantados
pela
voz
da
Dependência.
lirismo
amoroso/metalinguís3co
as
produções
da
mocidade,
afetadas
pela
Fortuna,
não
merecem
louvor,
mas
piedade;
[os
versos
alegres
que
escrevera
eram
apenas
fingimento]
caráter
paradoxal:
segue
convenção
árcade
[Fortuna,
deusa
responsável
pelo
Des7no];
caráter
paradoxal:
contraria
a
convenção
árcade,
pois
escreve
levado
pela
tristeza,
pelo
sofrer.
8. A FROUXIDÃO NO AMOR É UMA OFENSA
Manuel Maria Barbosa du Bocage
A
frouxidão
no
amor
é
uma
ofensa,
Ofensa
que
se
eleva
a
grau
supremo;
Paixão
requer
paixão;
fervor,
e
extremo;
Com
extremo
e
fervor
se
recompensa.
Vê
qual
sou,
vê
qual
és,
vê
que
dif(e)rença!
Eu
descoro,
eu
praguejo,
eu
ardo,
eu
gemo;
Eu
choro,
eu
desespero,
eu
clamo,
eu
tremo;
Em
sombras
a
razão
se
me
condensa.
Tu
só
tens
gra7dão,
só
tens
brandura,
E
antes
que
um
coração
pouco
amoroso
Quisera
ver-‐te
uma
alma
ingrata
e
dura.
Talvez
me
enfadaria
aspecto
iroso;
Mas
de
teu
peito
a
lânguida
ternura
Tem-‐se
ca7vo,
e
não
me
faz
ditoso.
lirismo
amoroso:
o
locutor
afirma
que
não
gosta
de
quem
não
sente
com
intensidade;
o
locutor
deseja
que
a
amada
se
torne
ou
intensa
ou
desamante;
caráter
paradoxal
poeta
pré-‐român3co:
é
movido
por
sen7mentos,
intensidades,
emoções;
caráter
neoclássico:
aproxima-‐se
de
Camões,
pois
trata
o
Amor
como
Ideia.
9. JÁ BOCAGE NÃO SOU...
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Já
Bocage
não
sou!...
À
cova
escura
Meu
estro
vai
parar
desfeito
em
vento...
Eu
aos
Céus
ultrajei!
O
meu
tormento
Leve
me
torne
sempre
a
terra
dura.
Conheço
agora
já
quão
vã
figura
Em
prosa
e
verso
fez
meu
louco
intento;
Musa!...
Tivera
algum
merecimento
Se
um
raio
de
razão
seguisse
pura!
Eu
me
arrependo;
a
língua
quase
fria
Brade
em
alto
pregão
à
mocidade,
Que
atrás
do
som
fantás7co
corria.
Outro
Are7no
fui...
A
san7dade
Manchei
–
...
Oh!
Se
me
creste,
gente
ímpia,
Rasga
meus
versos,
crê
na
eternidade!
lirismo
meta?sico:
reflexão
de
cunho
existencial;
nos
quartetos:
o
locutor
declara
que
levou
uma
vida
que
contrariou
os
mandamentos
divinos;
nos
tercetos:
arrependido,
o
locutor
pensa
em
voltar
à
mocidade
e
apagar
tudo
o
que
fez;
tom
árcades:
forma
[soneto
decassílabo],
vocabulário
[Musa],
caráter
racional;
tom
pré-‐român3cos:
confessional,
pontuação
expressiva,
abordagem
dos
sen7mentos.
10. MEU SER EVAPOREI NA LIDA INSANA
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Meu
ser
evaporei
na
lida
insana
Do
tropel
de
paixões,
que
me
arrastava;
Ah!
Cego
eu
cria,
ah!
mísero
eu
sonhava
Em
mim
quase
imortal
a
essência
humana:
De
que
inúmeros
sóis
a
mente
ufana
Existência
falaz
me
não
dourava!
Mas
eis
sucumbe
Natureza
escrava
Ao
mal,
que
a
vida
em
sua
orgia
dana.
Prazeres,
sócios
meus,
e
meus
7ranos!
Esta
alma,
que
sedenta
em
si
não
coube,
No
abismo
vos
sumiu
dos
desenganos:
Deus,
oh
Deus!...
Quando
a
morar
à
luz
me
roube
Ganhe
um
momento
o
que
perderam
anos,
Saiba
morrer
o
que
viver
não
soube.
lirismo
meta?sico:
reflexão
de
cunho
existencial;
consciente
de
que
dedicou
a
vida
aos
prazeres
e
aos
amores,
o
locutor
invoca
Deus,
revela-‐se
arrependido
–
mostra-‐se
reconciliado
com
a
religião
e
revela
esperar
o
perdão
divino;
caráter
neoclássico:
forma
[soneto
decassílabo],
vocabulário
[Musa],
caráter
racional;
tom
pré-‐român3cos:
caráter
confessional.
11. NARIZ, NARIZ E NARIZ
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Nariz,
nariz,
e
nariz,
Nariz,
que
nunca
se
acaba;
Nariz,
que
se
ele
desaba,
Fará
o
mundo
infeliz;
Nariz,
que
Newton
não
quis
Descrever-‐lhe
a
diagonal;
Nariz
de
massa
infernal,
Que,
se
o
cálculo
não
erra,
Posto
entre
o
Sol
e
a
Terra,
Faria
eclipse
total!
lirismo
meta?sico:
poema
sakrico
de
caráter
popular;
as
imagens
hiperbólicas
superdimensionam
a
parte
que
o
poeta
quer
cri7car;
caráter
popular:
décima
com
versos
heptassílabos.
12. É PAU, É REI DE PAUS...
Manuel Maria Barbosa du Bocage
É
pau,
e
rei
de
paus,
não
marmeleiro,
Bem
que
duas
gamboas
lhe
lobrigo;
Dá
leite,
sem
ser
árvore
de
figo,
Da
glande
o
fruto
tem,
sem
ser
sobreiro:
Verga,
e
não
quebra,
como
o
zambujeiro;
Oco,
qual
sabugueiro,
tem
o
embigo;
Brando
às
vezes,
qual
vime,
está
consigo;
Outras
vezes
mais
rijo
que
um
pinheiro:
À
roda
da
raiz
produz
carqueja:
Todo
o
resto
do
tronco
é
calvo
e
nu;
Nem
cedro,
nem
pau-‐santo
mais
negreja!
Para
carvalho
ser
falta-‐lhe
um
u;
Adivinhem
agora
que
pau
seja,
E
quem
adivinhar
meta-‐o
no
cu.
poesia
eró3co-‐irônica
ní7da
influência
medieval
[imagens
naturalistas
do
amor];
tema:
caráter
burlesco,
fascenino
e
popular;
forma:
[neo]clássica
[soneto
decassílabo].
13. CAGANDO ESTAVA A DAMA...
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Cagando
estava
a
dama
mais
formosa,
E
nunca
se
viu
cu
de
tanta
alvura;
Mas
ver
cagar,
contudo,
a
formosura,
Mete
nojo
à
vontade
mais
gulosa!
Eis
a
massa
expulsou
feden7nosa
Com
algum
custo,
porque
estava
dura:
Um
carta
d’amor
de
alimpadura
Serviu
àquela
parte
mal
cheirosa:
Ora
mandem
à
moça
mais
bonita
Um
escrito
d’amor
que
lisonjeiro
Afetos
move,
corações
incita;
Para
o
ir
ver
servir
de
reposteiro
À
porta,
onde
o
fedor
e
a
trampa
habita,
Do
sombrio
palácio
do
alcatreiro!
poesia
eró3co-‐irônica
ní7da
influência
medieval
[imagens
naturalistas
do
amor];
tema:
caráter
burlesco,
fascenino
e
popular;
forma:
[neo]clássica
[soneto
decassílabo].
14. APRE! NÃO METAS TODO...
Manuel Maria Barbosa du Bocage
"Apre!
Não
metas
todo...
Eu
mais
não
posso..."
Assim
Márcia
formosa
me
dizia;
-‐Não
sou
bárbaro
(à
moça
eu
respondia)
Brandamente
verás
como
te
coço:
"Ai!
por
Deus,
não...
não
mais,
que
é
grande
e
grosso!"
Quem
resis7r
ao
seu
falar
podia!
Meigamente
o
coninho
lhe
ba7a,
Ela
diz:
"Ah,
meu
bem!
meu
peito
é
vosso!"
O
rebolar
do
cu
(ah!)
não
te
esqueça...
Como
és
bela,
meu
bem!
(então
lhe
digo)
Ela
em
suspiros
mil
a
ardência
expressa:
Por
te
unir
faze
muito
ao
meu
embigo;
Assim,
assim...
menina,
mais
depressa!...
Eu
me
venho...
ai
Jesus!...
vem-‐te
comigo!
poesia
eró3co-‐irônica
ní7da
influência
medieval
[imagens
naturalistas
do
amor];
tema:
caráter
burlesco,
fascenino
e
popular;
forma:
[neo]clássica
[soneto
decassílabo].
15. MAGRO, DE OLHOS AZUIS, ...
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Magro,
de
olhos
azuis,
carão
moreno,
Bem
servido
de
pés,
meão
na
altura,
Triste
de
facha,
o
mesmo
de
figura,
Nariz
alto
no
meio,
e
não
pequeno:
Incapaz
de
assis7r
num
só
terreno,
Mais
propenso
ao
furor
do
que
à
ternura;
Bebendo
em
níveas
mãos
por
taça
escura
De
zelos
infernais
letal
veneno:
Devoto
incensador
de
mil
deidades
(Digo,
de
moças
mil)
num
só
momento
E
somente
no
altar
amando
os
frades:
Eis
Bocage,
em
quem
luz
algum
talento;
Saíram
dele
mesmo
estas
verdades
Num
dia
em
que
se
achou
mais
pachorrento.
lirismo
meta?sico:
locutor
traça
seu
perfil
biográfico
caráter
sakrico:
visão
cínica
de
suas
desventuras
[instabilidade
do
poeta]
o
locutor
revela-‐se
incapaz
de
morar
em
um
só
terreno;
forma:
[neo]clássica
[soneto
decassílabo].
16. LÁ QUANDO EM MIM PERDER...
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Lá
quando
em
mim
perder
a
humanidade
Mais
um
daqueles,
que
não
fazem
falta,
Verbi-‐gra7a?
o
teólogo,
o
peralta,
Algum
duque,
ou
marquês,
ou
conde,
ou
frade:
Não
quero
funeral
comunidade,
que
engrole
sob-‐venites
em
voz
alta;
Pingados
gatarrões,
gente
de
malta,
Eu
também
vos
dispenso
a
caridade:
Mas
quando
ferrugenta
enxada
idosa
Sepulcro
me
cavar
em
ermo
outeiro,
Lavre-‐me
este
epitáfio
mão
piedosa:
Aqui
dorme
Bocage,
o
putanheiro:
Passou
a
vida
folgada,
e
milagrosa:
Comeu,
bebeu,
fodeu
sem
ter
dinheiro.
lirismo
meta?sico:
locutor
traça
seu
perfil
biográfico
o
locutor
fala
que,
após
sua
morte,
não
deseja
homenagens
nem
do
povo
nem
da
aristocracia:
quer
apenas
que
lhe
narrem
as
aventuras
picarescas
em
um
epitáfio;
forma:
[neo]clássica
[soneto
decassílabo].