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Análise de meus poemas preferidos, de manuel bandeira

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Análise de meus poemas preferidos, de manuel bandeira

  1. 1. Meus poemas preferidos, Manuel Bandeira Manoel Neves
  2. 2. TEMÁTICAS poesia e vida morte doença amor erotismo solidão metafísica infância paixão saudade arte poesia modernismo
  3. 3. AS FASES DE BANDEIRA poesia e modernismo PRIMEIRA FASE [neoparnasianismo, neo-simbolismo, modernismo] A cinza das horas [1917] Carnaval [1919] O ritmo dissoluto [1924] SEGUNDA FASE [a cristalização do modernismo] Libertinagem [1930] Estrela da manhã [1936] TERCEIRA FASE [maturidade: a estabilidade criadora] Lira dos cinqu’entanos [1940] Belo belo [1948] Mafuá do malungo [1948] Opus 10 [1930] Estrela da tarde [1960]
  4. 4. A CINZA DAS HORAS 1917, simbolismo [07 poemas] ASPECTOS FORMAIS [influências parnasianas e simbolistas] formas fixas versos [rima, métrica] lirismo tradicional classicizante e medieval ASPECTOS TEMÁTICOS [período inicial da tuberculose do poeta] dor doença morte solidão POEMAS SELECIONADOS [uma poética penumbrista] “Desencanto” “Cartas de meu avô” “Poemeto erótico”
  5. 5. DESENCANTO metalinguagem & lirismo amoroso Eu faço versos como quem chora quase soneto [dois quartetos, um terceto e um verso solto] De desalento... de desencanto... Fecha meu livro, se por agora versos rimados e metrificados [eneassílabos, rimas alternadas] Não tens motivo nenhum de pranto. função catártica [poesia associada a expressão dos sentimentos] Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... visão romântica, tradicional, da poesia [extravasamento subjetividade] Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. representação do leitor E nestes versos de angústia rouca a poesia está associada à expressão da interioridade e à vida Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. lirismo amoroso + fusão do lírico com o biográfico [sofrimento, morte] – Eu faço versos como quem morre. metalinguagem [a poesia fala da poesia]
  6. 6. CARTAS DE MEU AVÔ lirismo amoroso &formas tradicionais A tarde cai, por demais E enquanto anoitece, vou Enternecido sorrio Erma, úmida e silente... Lendo sossegado e só, Do fervor desses carinhos: A chuva, em gotas glaciais, As cartas que meu avô É que os conheci velhinhos, Chora monotonamente Escrevia a minha avó. Quando o fogo era já frio. forma [quadras + heptassílabos + vocabulário seleto] + lirismo amoroso [ternura e sensibilidade] Cartas de antes do noivado... Temendo a cada momento A mão pálida tremia Cartas de amor que começa, Ofendê-la, desgostá-la, Contando o seu grande bem. Inquieto, maravilhado, Quer ler em seu pensamento Mas, como o dele, batia E sem saber o que peça. E balbucia, não fala... Dela o coração também. A paixão, medrosa, dantes, Depois o espinho do ciúme... E eu bendigo, envergonhado, Cresceu, dominou-o todo. A dor... a visão da morte... Esse amor, avô do meu... E as confissões hesitantes Mas, calmado o vento, o lume Do meu – fruto sem cuidado Mudaram logo de modo. Brilhou, mais puro e mais forte. Que inda verde apodreceu. lirismo amoroso [o amor dos avós alimenta o amor do sujeito poético] O meu semblante está enxuto. E a noite vem, por demais E enquanto anoitece, vou Mas a alma, em gotas mansas, Erma, úmida e silente... Lendo, sossegado e só, Chora, abismada no luto A chuva em pingos glaciais, As cartas que meu avô Das minhas desesperanças... Cai melancolicamente. Escrevia a minha avó.
  7. 7. POEMETO ERÓTICO lirismo amoroso & metalinguagem Teu corpo claro e perfeito Teu corpo é chama e flameja Teu corpo de maravilha Como à tarde os horizontes... Quero possuí-lo no leito É puro como nas fontes Estreito da redondilha A água clara que serpeja, Teu corpo é tudo o que cheira... Que em cantigas se derrama Rosa... flor de laranjeira... Volúpia da água e da chama... Teu corpo, branco e macio, A todo momento o vejo... É como um véu de noivado... Teu corpo... a única ilha No oceano do meu desejo... Teu corpo é pomo doirado... Teu corpo é tudo o que brilha, Rosal queimado do estio, Teu corpo é tudo o que cheira... Desfalecido em perfume... Rosa, flor de laranjeira... Teu corpo é a brasa do lume... forma [redondilha maior, irregularidade estrófica] lirismo amoroso [metáforas sucessivas: celebra-se a paixão pelo corpo da amada: elogio + celebra entusiaticamente] caráter sensual [reticências e caráter sinestésico + pomo doirado] metáforas ígneas [rosal queimado no estio, brasa, chama]
  8. 8. CARNAVAL 1918, simbolismo [04 poemas] ASPECTOS FORMAIS [simbolismo, livra-se da influência parnasiana] formas fixas caráter irônico caráter impressionista ASPECTOS TEMÁTICOS [anti-parnasianismo, defesa da liberdade formal] anti-parnasianismo grande volume de símbolos musicalidade POEMAS SELECIONADOS [sapos e símbolos e músicas] “Os sapos” “Alumbramento” “Debussy”
  9. 9. OS SAPOS liberdade poética & metalinguagem Enfunando os papos, Em ronco que aterra, Saem da penumbra, Berra o sapo-boi Aos pulos, os sapos. - "Meu pai foi à guerra!" A luz os deslumbra. - "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!" notem-se as atitudes exibicionistas dos sapos [poetas parnasianos] e seu deslumbre pela luz [gostam de publicidade] O sapo tanoeiro, Vede como primo O meu verso é bom Parnasiano aguado, Em comer os hiatos! Frumento sem joio. Diz: - "Meu cancioneiro Que arte! E nunca rimo Faço rimas com É bem martelado: Os termos cognatos. Consoantes de apoio. metalinguagem irônica [aponta-executa ironicamente recursos]: crítica ao sapo tanoeiro [parnasiano] Vai por cinqüenta anos Clama a saparia Urra o sapo-boi: Que lhes dei a norma: Em críticas céticas: - "Meu pai foi rei!" - "Foi!" Reduzi sem danos Não há mais poesia, - "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!" A formas a forma. Mas há artes poéticas..." apropriação irônica do discurso parnasiano: Não há mais poesia, mas há artes poéticas
  10. 10. OS SAPOS liberdade poética & metalinguagem Brada em um assomo Ou bem de estatuário Outros, sapos-pipas O sapo-tanoeiro: Tudo quanto é belo, (Um mal em si cabe) - "A grande arte é como Tudo quanto é vário, Falam pelas tripas: Lavor de joalheiro. Canta no martelo". - "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!" apropriação paródica do poema “Profissão de Fé”, de Olavo Bilac [Torce, aprimora, alteia, lima a frase] Longe dessa gritaria Lá, fugido ao mundo, Que soluças tu, Lá onde mais densa Sem glória, sem fé, Transido de frio A noite infinita No perau profundo Sapo-cururu Verte a sombra imensa. E solitário é Da beira do rio. sapo cururu: poesia autêntica, despida de artificialismos, moderna e popular [defesa da poesia modernista]
  11. 11. ALUMBRAMENTO sensualidade & lirismo amoroso Eu vi os céus! Eu vi os céus! Nem uma nuvem de amargura Oh, essa angélica brancura Vem a alma desassossegar. Sem tristes pejos e sem véus! E sinto-a bela... e sinto-a pura... Eu vi nevar! Eu vi nevar! Eu vi o mar! Lírios de espuma Oh, cristalizações da bruma Vinham desabrochar à flor A amortalhar a cintilar! Da água que o vento desapruma... Eu vi a estrela do pastor... E vi a Via-Láctea ardente... Vi a licorne alvininente!... Vi comunhões... capela... véus... Vi... vi o rastro do Senhor!... Súbito... alucinadamente... Vi carros triunfais... troféus... Pérolas grandes como a lua... Eu vi os céus! Eu vi os céus! – Eu vi-a nua... toda nua! forma [versos octossilábicos e rimas alternadas] nítida influência simbolista [reiterado uso de símbolos que sugerem o objeto de desejo do sujeito poético] fusão do lírico e do místico [reúne impulso erótico, emoção poética e êxtase místico] o termo alumbramento será retomado mais tarde, em Libertinagem, para se referir à nudez feminina
  12. 12. DEBUSSY musicalidade & liberdade formal Para cá, para lá... Para cá, para lá... Um novelozinho de linha... Para cá, para lá... Para cá, para lá... Oscila no ar pela mão de uma criança (Vem e vai...) Que delicadamente e quase a adormecer o balança – Psiu... – Para cá, para lá... Para cá e... – O novelozinho caiu. forma [versos livres e brancos – antecipa a liberdade formal do modernismo brasileiro] música [repetições + anáfora + homenagem ao compositor francês – caráter simbolista] ternura [presença de uma imagem encantadora + uso de diminutivos]
  13. 13. O RITMO DISSOLUTO 1924, modernismo [09 poemas] ASPECTOS FORMAIS [transição: entre a tradição e a modernidade] métrica e rima simplicidade, coloquialismo prosaísmo versos livres ASPECTOS TEMÁTICOS [uma poesia participante e cotidiana] elementos populares imagens brasileiras aspectos biográficos poesia participante POEMAS SELECIONADOS [um poeta moderno] “Balada de Santa Maria Egipcíaca” “Os sinos” “Gesso” “Berimbau”
  14. 14. BALADA DE SANTA MARIA EGIPCÍACA religiosidade & erotismo fontes [poema inspirado num romance – narrativa – espanhol do século XII] [conta-se a história de Maria do Egito: prostituta que virou santa]c certa feita, ia atravessar o rio e não tinha dinheiro; então, oferece [a pedido do barqueiro] sua nudez forma [versos livres e brancos] antecipa de certa forma a mulher degredada que é redimida pelo olhar do sujeito poético [lirismo social] o lirismo social também está presente em “Meninos carvoeiros”, que denuncia a pobreza e o trabalho infantil
  15. 15. OS SINOS fusão lírico-biográfico & musicalidade Sino de Belém, Sino da Paixão... Sino de Belém, sino [metáfora polissêmica] Sino da Paixão... Sino do Bonfim!... Belém [celebração da vida] Sino do Bonfim!... Sino de Belém, pelos que ainda vêm! Paixão [constatação do poder da morte] Sino de Belém bate bem-bem-bem. Bomfim [antevisão da finitude humana] Sino da Paixão, pelos que lá vão! Sino da Paixão bate bão-bão-bão. notações biográficas Sino do Bonfim, por quem chora assim?... Sino de Belém, que graça ele tem! referências explícitas à morte [pai, mãe, irmã, irmão] Sino de Belém bate bem-bem-bem. angústia ante a constatação da morte iminente Sino da Paixão – pela minha irmã! Sino da Paixão – pela minha mãe! forma [decassílabos, pentassílabos, onomatopéias] Sino do Bonfim, que vai ser de mim? Sino de Belém, como soa bem! a alusão aos aspectos biográficos [tuberculose, morte] Sino de Belém bate bem-bem-bem. também aparece em “Na rua do sabão”, deste livro Sino da Paixão... Por meu pai?... – Não! Não... Sino da Paixão bate bão-bão-bão. Sino do Bonfim, baterás por mim?
  16. 16. GESSO esteticismo & tensão poético-prosaico Esta minha estatuazinha de gesso, quando nova – O gesso muito branco, as linhas muito puras – Mal sugeria imagem de vida (Embora a figura chorasse). Há muitos anos tenho-a comigo. O tempo envelheceu-a, carcomeu-a, manchou-a de pátina amarelo-suja. forma [versos livres e brancos] + metáfora [estátua representa a condição humana – viver é sujar, é murchar] Os olhos, de tanto a ollharem, Impregnaram-na da minha humanidade irônica de tísico. Um dia mão estúpida Inadvertidamente a derrubou e partiu. Então ajoelhei com raiva, recolhi aqueles tristes fragmentos, recompus a figurinha que chorava. E o tempo sobre as feridas escureceu ainda mais o sujo mordente de pátina. fusão do lírico com o biográfico + humanização da estátua + o poético supera o prosaico [micro-narrativa + cotidiano] Hoje este gessozinho comercial É tocante e vive, e me fez agora refletir Que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.
  17. 17. BERIMBAU musicalidade & imagens brasileiras Os aguapés dos aguaçais Nos igapós dos Japurás Bolem, bolem, bolem. Chama o saci: – Si si si si! – Ui ui ui ui ui! uiva a iara nos aguaçais dos igapós Dos Japurás e dos Purus. A mameluca é uma maluca. Saiu sozinha da maloca – O boto bate – bite bite... Quem ofendeu a mameluca? – Foi o boto! O Cussaruim bota quebrantos. Nos aguaçais os aguapés – Cruz, canhoto! – Bolem… Peraus dos Japurás De assombramentos e de espantos!... forma [predomínio de octossílabos] + vocabulário amazonense [aguapés, Japurá, igapós, purus] folclore [saci, iara, cussaruim, boto – peixe que tira a virgindade das mulheres] musicalidade [onomatopéias e paronomásias] + poesia brasileira, versátil e bem-humorada
  18. 18. LIBERTINAGEM 1930, modernismo [15 poemas] ASPECTOS FORMAIS [libertação dos modelos tradicionais] versos brancos simplicidade, coloquialismo prosaísmo versos livres ASPECTOS TEMÁTICOS [cenas e imagens brasileiras] lirismo amoroso imagens brasileiras aspectos biográficos liberdade alucinante POEMAS SELECIONADOS [anseio de liberdade vital] “Pensão familiar” “O cacto” “Pneumotórax” “Poética” “Porquinho da Índia” “Evocação do Recife” “Profundamente” “Vou-me embora pra Pasárgada”
  19. 19. PENSÃO FAMILIAR modernismo & crítica à burguesia Jardins da pensãozinha burguesa. Gatos espapaçados ao sol. A tiririca sitia os canteiros chatos. O sol acaba de crestar as boninas que murcharam. Os girassóis amarelo! resistem. E as dálias, rechonchudas, plebéias, dominicais. Um gatinho fez pipi. Com gestos de garçom de restaurante-Palace Encobre cuidadosamente a mijadinha. Sai vibrando com elegância a patinha direita: – É a única criatura fina da pensãozinha burguesa. pensão: espaço burguês; primeira estrofe: sequências descritivas + assonância + aspecto visual + caráter plástico]; segunda estrofe: sequência narrativa + uso figurado [e ambíguo] do diminutivo; poema prosaico x lirismo social; diminutivo: gatinho, mijadinha, patinha x pensãozinha [afetividade x ironia]: crítica aos costumes burgueses; crítica: não-refinamento da burguesia + à ostentação de aparências + valorização do cotidiano + versos livres e brancos
  20. 20. O CACTO caráter plástico & paisagem brasileira Aquele cacto lembrava os gestos desesperados de estatuária: Laocoonte constrangido pelas serpentes. Ugolino e os filhos esfaimados. Evocava também o seco nordeste, carnaubais, caatingas... Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais. Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz. O cacto tombou atravessado na rua, Quebrou os beirais do casario fronteiro, Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças, Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas [privou a cidade de iluminação e energia. – Era belo, áspero, intratável. poesia extraída do cotidiano [poema inspirado em fato real: um grande cacto, arrastado pelo vento, tombou numa avenida] comparações [Laocoonte: personagem da Eneida: esmagado por serpentes] comparações [Ugolino: personagens da história italiana, aparecem na Divina comédia; morreram de fome numa torre] comparações [Nordeste: aspereza, resistência; desespero, dor do drama humano; vegetal retorcido pela dor, que resiste]
  21. 21. PNEUMOTÓRAX lírico-biográfico & auto-ironia Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: – Diga trinta e três. – Trinta e três... trinta e três... trinta e três. – Respire. ................................................................................................ – O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo [e o pulmão direito infiltrado. – Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? – Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. Neste poema-diagnóstico, o locutor aborda ironicamente seu problema de saúde. Fusão do eu-lírico com o eu-biográfico [destaque verso 2] + ironia ao abordar morte inevitável. último verso: o carpe diem é irônico e desiludido [a iminência da morte não dá origem à auto-comiseração].
  22. 22. POÉTICA metalinguagem & poesia-libertação Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. Diretor. Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis metalinguagem: definição da liberdade temática e lingüística na poesia [defesa da liberdade de expressão poética] crítica ao Parnasianismo [comedido: contenção emocional: impassibilidade] e às formalidades defesa da liberdade [anáfora: terceira estrofe] lingüística e rítmica
  23. 23. POÉTICA metalinguagem & poesia-libertação Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo. De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc. Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbados O lirismo dos clowns de Shakespeare – Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. crítica ao Romantismo [namorador, político, raquítico, sifilítico] e a tudo aquilo que limita a expressão poética defesa da de um lirismo libertário [anáfora: reforço poético]
  24. 24. PORQUINHO-DA-ÍNDIA lirismo & ternura Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia. Que dor no coração me dava Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pra sala Pra os lugares mais bonitos e mais limpinhos Ele não se importava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... – O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada. experiência amorosa [a aprendizagem da desilusão] presença da infância e da ternura [porquinho, limpinho, ternurinhas] aspectos formais [versos livres e brancos + coloquialismos]
  25. 25. EVOCAÇÃO DO RECIFE lírico-biográfico & imagens brasileiras Recife Não a Veneza americana Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais Não o Recife dos Mascates Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois – Recife das revoluções libertárias Mas o Recife sem história nem literatura Recife sem mais nada Recife da minha infância. memória afetiva + a paisagem brasileira [o lírico se sobrepõe ao histórico e ao turístico] A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado e [partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas Totônio Rodrigues era muito velho e botava pincenê [na ponta do nariz. Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com [cadeiras, mexericos, namoros, risadas A gente brincava no meio da rua Os meninos gritavam: fusão do lírico com o biográfico [imagens da infância + mitos familiares + cotidiano do Recife Antigo]
  26. 26. EVOCAÇÃO DO RECIFE lírico-biográfico & imagens brasileiras Coelho sai! Não sai! A distância as vozes macias das meninas palitonavam: Roseira dá-me uma rosa Craveiro me dá um botão (Dessas rosas muita rosa Terá morrido em botão) incorporação de elementos da cultura popular [cantigas de roda] + sinestesia [vozes macias] + engajamento De repente nos longes da noite um sino Uma pessoa grande dizia: fogo em Santo Antônio! Outra contrariava: São José! Totônio Rodrigues achava sempre que era São José. Os homens punham o chapéu saíam fumando E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir [ver o fogo. valorização do espaço em branco da página + valorização das tradições populares nordestinas [festas juninas]
  27. 27. EVOCAÇÃO DO RECIFE lírico-biográfico & imagens brasileiras Rua da União... Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância Rua do Sol (Tenho medo que hoje se chame do Dr. Fulano de Tal) Atrás da casa ficava a rua da Saudade... ... onde se ia fumar escondido Do lado de lá era o cais da rua da Aurora... ... onde se ia pescar escondido nostalgia [a infância aparece como uma época idílica, na qual tudo é permitido] + liberdade formal + coloquialismo Capibaribe – Capiberibe Lá longe o sertãozinho de Caxangá Banheiros de palha Um dia eu vi uma moça nuinha no banho Fiquei parado o coração batendo Ela se riu Foi o meu primeiro alumbramento referência a uma contenda que tivera com o professor de português + intratextualidade
  28. 28. EVOCAÇÃO DO RECIFE lírico-biográfico & imagens brasileiras A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros Vinha da boca do povo na língua errada do povo Língua certa do povo Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil Ao passo que nós O que fazemos É macaquear A sintaxe lusíada A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem. oralidade [defesa dos princípios modernistas]
  29. 29. PROFUNDAMENTE lírico-biográfico & presença da morte Quando ontem adormeci No meio da noite despertei Na noite de São João Não ouvi mais vozes nem risos Havia alegria e rumor Apenas balões passavam errantes Estrondos de bombas luzes de Bengala Silenciosamente Vozes cantigas e risos Apenas de vez em quando Ao pé das fogueiras acesas. O ruído de um bonde No meio da noite despertei Não ouvi mais vozes nem risos Apenas balões Passavam errantes Silenciosamente Apenas de vez em quando O ruído de um bonde Cortava o silêncio Como um túnel. Onde estavam os que há pouco Dançavam Cantavam E riam Ao pé das fogueiras acesas? poema de caráter prosaico [micro-fábula sobre a morte e a recordação do período da infância] + liberdade formal
  30. 30. PROFUNDAMENTE lírico-biográfico & presença da morte – Estavam todos dormindo Estavam todos deitados Dormindo Profundamente Quando eu tinha seis anos Não pude ver o fim da festa de São João Porque adormeci Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Minha avó Meu avô Totônio Rodrigues Tomásia Rosa Onde estão todos eles? – Estão todos dormindo Estão todos deitados Dormindo Profundamente. sono: metáfora da morte [inevitabilidade] + mitos familiares
  31. 31. VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA utopia & aspectos biográficos Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconseqüente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive utopia: projeto de natureza irrealizável; idéia generosa, porém impraticável; quimera, fantasia por que utopia?: o locutor encontra-se em uma situação privilegiada [amigo do rei], de exceção Pasárgada: espaço de realização amorosa; lugar de aventuras inconsequentes [segunda estrofe] Pasárgada: espaço em que o locutor tem proximidade com o poder [segunda estrofe] intertexto: sutil alusão à “Canção do exílio” [aqui eu não sou feliz; lá a existência é uma aventura]
  32. 32. VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA utopia & aspectos biográficos E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d’água Pra me contar histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada TERCEIRA ESTROFE [a apresentação do espaço utópico] verbos no futuro: situam a vivência da utopia num tempo posterior ao vivido a utopia: realização de atividades físicas, ligação com a cultura popular, volta da infância aspectos biográficos: nota-se sutil alusão à doença de Bandeira, que o impossibilitava de realizar atividades físicas, por isso torna-se necessário fugir do presente e partir em busca do sonho
  33. 33. VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA utopia & aspectos biográficos Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone à vontade Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar QUARTA ESTROFE [a apresentação do espaço utópico] a utopia bandeiriana evidencia ao leitor a incompatibilidade entre os anseios do sujeito poético e a situação de impotência vivenciada e mostra porque é necessário partir para outra civilização a utopia: sexo livre e despreocupação com filhos; tecnologia; drogas-remédio; sequência anafórica
  34. 34. VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA utopia & aspectos biográficos E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar – Lá sou amigo do rei – Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. QUINTA ESTROFE [a metafísica bandeiriana] Encontra-se, na quinta estrofe, novamente, uma sutil alusão aos elementos que motivam a fuga do sujeito poético do presente trágico. A morte [sempre presente na obra de Bandeira] aparece como consequência de uma incontornável e e angustiante tristeza. Essa tristeza emerge da situação de impotência em que se encontra o sujeito poético, entretanto, reflete a fragilidade da condição existencial de todo ser humano, que, dado às múltiplas impossibilidades do presente, acaba por sonhar com um mundo no qual a realização de seus desejos não encontrará obstáculos. [heranças barroca, romântica e simbolista]
  35. 35. ESTRELA DA MANHÃ 1936, modernismo [19 poemas] POEMAS SELECIONADOS [a plenitude poética] “Estrela da manhã” “Tragédia brasileira” “Poema do beco” “Momento num café” “Trem de ferro”
  36. 36. ESTRELA DA MANHÃ pecado & ternura & lirismo Eu quero a estrela da manhã Pecai com os malandros Onde está a estrela da manhã? Pecai com os sargentos Meus amigos meus inimigos Pecai com os fuzileiros navais Procurem a estrela da manhã Pecai de todas as maneiras Ela desapareceu ia nua Com os gregos e com os troianos Desapareceu com quem? Com o padre e com o sacristão Procurem por toda a parte Com o leproso de Pouso Alto Digam que sou um homem sem orgulho Depois comigo Um homem que aceita tudo Te esperarei com mafuás novenas Que me importa? […] comerei terra e direi coisas de uma Eu quero a estrela da manhã ternura tão simples que tu desfalecerás Três dias e três noites Procurem por toda parte Fui assassino e suicida Pura ou degredada até a última baixeza Ladrão, pulha,falsário Eu quero a estrela da manhã Virgem mal-sexuada Atribuladora dos aflitos Girafa de duas cabeças Pecai por todos pecai com todos estrela da manhã: metáfora da poesia bandeiriana [poesia, alumbramento, idéia de plenitude] + Vênus [deusa, planeta] busca apaixonada por uma figura feminina capaz de revelar diversas facetas
  37. 37. POEMA DO BECO lirismo social & forma sugere conteúdo Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? – O que eu vejo é o beco. primeiro verso: remete a espaços abertos [sugestão fônica: sons abertos + grande extensão] segundo verso: remete a espaço fechado [sugestão fônica: sons fechados + pequena extensão] opção por uma poética que focaliza as coisas simples do cotidiano e que denuncia problemas sociais aspecto biográfico [Beco das Carmelitas: logradouro onde o poeta viveu durante 13 anos: Lapa: Carmelitas x Prostitutas] intratextualidade [o tema do beco volta em “Segunda canção do beco” e em “Última canção do beco”]
  38. 38. TRAGÉDIA BRASILEIRA intertextualidade inter-gêneros Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria Elvira na Lapa – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa. Toda vez que Maria Elvira arranjava um amante, Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos... Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul. épico [texto em prosa + elementos da narrativa] + lírico [lirismo amoroso + linguagem] + dramático [título + assassinato] texto elaborado a partir de uma notícia de jornal [trabalho poético: lugares + organdi azul + desencontro dos amantes]
  39. 39. MOMENTO NUM CAFÉ morte & lirismo metafísico Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida. Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado Olhando o esquife longamente Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade Que a vida é traição E saudava a matéria que passava Liberta para sempre da alma extinta. forma [estrofes irregulares com versos livres e brancos] poesia extraída do cotidiano [uma simples cena de rua se transforma em poesia + compreensão dolorosa e resignada] paradoxo-materialismo [saudava a matéria que passava liberta para sempre da alma extinta] respingos do biográfico [temática recorrente + celebração da matéria liberta]
  40. 40. TREM DE FERRO poesia e invenção Café com pão Café com pão Café com pão Virge Maria que foi isto maquinista? Agora sim Café com pão Agora sim Voa, fumaça Corre, cerca Ai seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força primeira estrofe: a repetição do trecho “café com pão” imita onomatopaicamente os sons produzidos pelo trem de ferro segunda estrofe: a repetição da vogal /i/ [Virge Maria que foi isto maquinista] sugere o som produzido pela campainha terceira estrofe: o metro de 4 sílabas [muito curto] sugere que o trem se desloca rapidamente pela estrada
  41. 41. TREM DE FERRO poesia e invenção Ôô... Foge, bicho Foge, povo Passa povo Passa ponte Passa poste Passa pasto Passa boi Passa boiada Passa galho De ingazeira Debruçada No riacho Que vontade De cantar o predomínio dos versos de três sílabas sugere um aumento de velocidade no deslocamento do trem; aliteração sugere os estouros na fornalha: passa povo/ passa ponte/ passa poste/ passa pasto/ passa boi/ passa boiada
  42. 42. TREM DE FERRO poesia e invenção Ôô... Quando me prendero No canaviá Cada pé de cana Era um oficiá Ôô... Menina bonita Do vestido verde Me dá tua boca Pra matá minha sede Ôô... Vou mimbora vou mimbora Não gosto daqui Nasci no sertão Sou de Ouricuri Ôô... O uso do metro pentassílabo indica a diminuição do ritmo O uso do coloquialismo indica o lugar por onde passa o trem [zona rural]
  43. 43. TREM DE FERRO poesia e invenção Vou depressa Vou correndo Vou na toda Que só levo Pouca gente Pouca gente Pouca gente Se na estrofe anterior, havia a presença do metro de cinco sílabas, na última estrofe do poema, usa-se o metro de três sílabas = aumento da velocidade [do trem] repetição da forma verbal “vou” = reforço de sentido repetição do verso “pouca gente” = onomatopéia [barulho produzido pelo trem]
  44. 44. LIRA DOS CINQÜENT’ANOS 1940, modernismo [20 poemas] POEMAS SELECIONADOS [retomada de algumas formas fixas] “Maçã” “Belo belo”
  45. 45. A MAÇÃ lirismo amoroso & lirismo metafísico Por um lado te vejo como um seio murcho Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão [placentário És vermelha como o coração do amor divino. Dento de ti em pequenas pevides Palpita a vida prodigiosa Infinitamente. E quedas tão simples Ao lado de um talher Num quarto pobre de hotel. natureza morta [maçã ou prostituta dentro de um quarto de hotel] o quadro é composto por justaposição [cena prosaica de uma refeição rápida] a cena constrói num espaço de intimidade [quarto] e mostra uma mulher decaída, associada à cor vermelha cor vermelha [sexualidade + religiosidade: proposta de resgate poético da mulher caída] seio murcho X cordão placentário, pevides [sementes]
  46. 46. BELO BELO intratextualidade & lirismo metafísico Há dois poemas com este título [intratextualidade]: no primeiro, o locutor afirma ter tudo o que quer [fogo das constelações, lágrimas da aurora, segredo da noite] recusa êxtases e tormentos, o penar dos trabalhos e a dádiva dos anjos, diz não querer amar nem ser amado, apenas a delícia de poder sentir as coisas simples o segundo poema é uma espécie de retratação, em que o locutor afirma ter tudo o que não quer [não quer óculos, tosse e obrigação de voto], mas deseja coisas inatingíveis ao final do poema, o locutor reflete ironicamente: Mas basta de lero-lero: vida, noves fora zero.
  47. 47. BELO BELO 1948, modernismo [13 poemas] POEMAS SELECIONADOS [metáforas da aceitação da vida] “O bicho” “Neologismo” “A realidade e a imagem”
  48. 48. O BICHO poesia participante & lirismo social Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos Quando encontrava alguma coisa, Não examinava nem cheirava Engolia com voracidade O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. indignação do sujeito poético diante de uma cena de exclusão social [suspense: gradação]
  49. 49. NEOLOGISMO lirismo amoroso Beijo pouco, falo menos ainda, Mas invento palavras Que traduzem a ternura mais funda E mais cotidiana. Inventei, por exemplo, o verbo teadorar Intransitivo: Teadoro, Teodora.
  50. 50. A REALIDADE E A IMAGEM a metafísica do biográfico O arranha-céu sobe no ar puro lavado pela chuva e desce refletido na poça de lama do pátio. Entre a realidade e a imagem, no chão seco que as separa, quatro pombas passeiam. o locutor observa a paisagem da janela de seu apartamento: cena prosaica [poesia extraída do cotidiano] na qual se insere o poético [pombas que passeiam] e o biográfico [quarto]
  51. 51. OPUS 10 1952, modernismo [09 poemas] POEMAS SELECIONADOS [poemas de circunstância] “Boi morto” “Consoada”
  52. 52. BOI MORTO lirismo metafísico Como em turvas águas de enchente, Me sinto a meio submergido Entre destroços do presente Dividido, subdividido, Onde rola, enorme, o boi morto. boi [metáfora] Boi morto, boi morto, boi morto. [reflexão sobre o destino do corpo humano no tempo] Árvores da paisagem calma, Convosco – altas, tão marginais! – retomada do metro octossilábico + repetição [boi: 16 vezes] Fica a alma, a atônita alma, Atônita para jamais. metáfora Que o corpo, esse vai como boi morto. [entre os destroços do presente, o sujeito poético] Boi morto, boi morto, boi morto. [sente-se esfacelado: seu corpo é como o boi morto] Boi morto, boi descomedido, repetição [fixa a idéia do fluxo do tempo q leva o homem e o boi] Boi espantosamente, boi Morto, sem forma ou sentido Ou significado. O que foi Ninguém sabe. Agora é boi morto, Boi morto, boi morto, boi morto!
  53. 53. CONSOADA lirismo metafísico & enfrentando a morte Quando a Indesejada das gentes chegar (Não sei se dura ou caroável), Talvez, eu tenha medo. Talvez eu sorria e diga: – Alô, iniludível! O meu dia foi bom, pode a noite descer, (A noite com os seus sortilégios) Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, A mesa posta Cada coisa em seu lugar. apenas do nome [consoada: pequena refeição noturna], trata-se de um poema que fala da preparação para a morte o tom do poema é de apaziguamento, de aceitação [o locutor se mostra familiarizado com a morte] intertexto [A desejada das gentes, conto de Machado de Assis]
  54. 54. ESTRELA DA TARDE 1960, modernismo [19 poemas] POEMAS SELECIONADOS [a volta de Vésper] “Preparação para a morte”
  55. 55. PREPARAÇÃO PARA A MORTE lirismo metafísico & enfrentando a morte A vida é um milagre, Cada flor, Com sua forma, sua cor, seu aroma, Cada flor é um milagre, Cada pássaro, Com sua plumagem, seu vôo, seu canto, Cada pássaro é um milagre, O espaço, infinito, O espaço é um milagre. O tempo, infinito, O tempo é um milagre. A memória é um milagre. A consciência é um milagre. Tudo é milagre. Tudo, menos a morte. – Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.

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