SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 15
1 – Determinismo
OS MITOS DE TÂNTALO, PÉLOPS E NÍOBE
Tântalo
Tântalo era um rei rico e famoso em Sípilo, além de ser um dos filhos de Zeus;
como tal, era amigo dos deuses e sempre era convidado a comer na mesa
deles, no Olimpo. Porém, vaidoso, Tântalo revelou segredos dos deuses aos
mortais, roubou o néctar e a ambrosia dos deuses e entregou-os a seus
amigos mortais, escondeu um cão de ouro em Creta e, para testar a
onisciência dos deuses, cometeu um crime terrível: matou seu próprio filho,
Pélops, serviu sua carne na refeição e esperava que os deuses comessem a
carne humana.
Os deuses perceberam, ressuscitaram Pélops e castigaram Tântalo da
seguinte forma: em um lago, ele ficou preso com o nível da água até o seu
queixo, uma sede muito forte o incomodava, mas ao tentar beber a água, o
nível dela abaixava e ele nunca conseguia bebê-la. Atrás de Tântalo,
belíssimas árvores carregadas de frutas tinham galhos que chegavam sobre
sua cabeça, quando ele movimentava-a para cima, um vento forte afastava os
galhos cheios de frutas para longe, impossibilitando Tântalo de matar sua
fome. Piorando seu sofrimento, ainda havia um rochedo suspenso no ar e
localizado acima de sua cabeça, deixando-o com um terrível medo da morte.
Eis o destino de Tântalo por seu crime. Por mais que ele se esforçasse e
tentasse em tomar água, esta afastava-se; por mais que ele se esforçasse em
tentar comer as frutas, estas também se afastavam; por mais que ele tentasse
esquecer do rochedo, ele estava bem acima de si. A sede, a fome e o medo
sempre venciam – o destino mostrava-se imutável: era impossível alterar a
decisão dos deuses olímpicos.
A vida de Tântalo estava determinada, controlada pelos deuses. Em Filosofia,
denominamos de determinismo a idéia de que somos controlados por algo ou
alguém, a idéia de que temos um destino, de que ele seja inalterável e que
possa estar escrito independentemente de nossa vontade. Tudo o que
acontece conosco pode estar previamente definido.
Pélops
Esta idéia de que nossa vida pode estar traçada anteriormente por algo ou
alguém, é vista com mais clareza na continuidade do mito: Pélops era o filho de
Tântalo, morto por seu pai e ressuscitado pelos deuses, ele apaixonou-se pela
princesa Hipodâmia, de Elice. O rei Enômao ouvira de um oráculo que se sua
filha se casasse, ele morreria. Para evitar o casamento de sua filha, o rei
anunciava uma corrida de carruagem a todos os pretendentes dela: a corrida
acontecia de Pisa até o altar de Poseidon, em Corinto, e enquanto os
pretendentes largavam na frente, o rei oferecia um carneiro a Zeus. Se o rei
alcançasse seu oponente, podia matá-lo com sua lança; caso contrário, o
pretendente poderia casar-se com Hipodâmia – assim, muitos já haviam
morrido, já que os cavalos do rei, Fila e Harpina, corriam mais velozmente que
o vento Norte.
Pélops era mais um concorrente e, antes da corrida, invocou Poseidon, que o
atendeu e ofereceu a ele uma carruagem com cavalos alados e rápidos como
flechas. Na corrida, mesmo com estes cavalos, Pélops foi alcançado por
Enômao. Poseidon soltou as rodas da carruagem do rei, que caiu e morreu
enquanto Pélops alcançava a linha de chegada em Corinto. De volta a Pisa,
Pélops ainda salvou a princesa de um incêndio do castelo real e, enfim, casou-
se com sua amada.
Dizíamos que a idéia de determinismo aparece nesta narrativa mais claramente
que na primeira. Basta verificar que a previsão oracular cumpriu-se com todo o
seu rigor: como perdeu a corrida, o rei seria morto e, no momento que ele cai
da carruagem, a morte apresentou-se fatalmente, tal como
estava determinado. No derminismo, não há como alterar o destino imposto
pelos deuses: uma vez que o destino do rei era a morte, caso sua filha se
casasse, ela mostrou-se fatal, inexorável.
Níobe
Níobe era orgulhosa como seu pai, Tântalo. Como rainha de Tebas, certa vez
proibiu as pessoas de fazerem uma homenagem a Leto, Apolo e Ártemis
alegando que ela é que deveria ser homenageada por ser filha de Tântalo, neta
de Zeus e um de seus antepassados é Atlas. As oferendas foram interrompidas
e todos voltaram para casa.
Leto, a deusa do destino, e seus filhos, Apolo e Ártemis, reagiram aos insultos
de Níobe e prepararam uma terrível vingança: Apolo acertou, com flechas,
cada um dos sete filhos de Níobe, que faziam treinos eqüestres. A notícia se
espalhou e Anfíon, rei de Tebas e marido de Níobe, ao saber da notícia,
suicidou-se com sua espada. Níobe, acompanhada de suas sete filhas, correu
para o campo lamentando a morte de seu marido e de seus filhos; porém,
continuou a gritar contra os deuses e considerando-se mais rica. Assim, novas
flechas voaram em Tebas e mataram também as suas sete filhas. Sentada
diante de seus sete filhos, sete filhas e marido, todos mortos, Níobe ficou
paralisada de tanta dor, o vento já não conseguia fazer seus cabelos oscilarem,
o sangue petrificou em suas veias: Níobe foi transformada em uma rocha, mas
que ainda continuava a chorar. Por fim, uma ventania jogou a pedra pelos ares
e a levou até a Lídia, onde Níobe está até hoje em uma montanha, chorando. A
deusa do destino vingou-se furiosamente do orgulho de Níobe e sua tentativa
de interromper o louvor aos deuses.
Os três mitos acima expressaram algumas características fundamentais da
idéia de determininsmo:
- nossa vida é controlada por algo ou alguém, tal como Tântalo
controlado pelos deuses no lago;
- não há como alterar o nosso destino, tal como o rei Enômao que
não escapou da morte assim que Pélops venceu a corrida de carruagem.
VAMOS FILOSOFAR
1 – Procure no dicionário o significado das palavras abaixo e transcreva-os
para cá.
a) destino
b) determinismo
2 – Qual foi o crime cometido por Tântalo? Qual foi o seu destino imposto pelos
deuses como castigo?
3 – Qual era a previsão oracular que o rei Enômao conhecia? O que ele fazia
para tentar impedi-la? Como a previsão oracular realizou-se no mito de
Pélops?
4 – Como Níobe insultou os deuses? Como estes reagiram? Qual foi
o destino imposto a ela como castigo?
5 – Desenhe o destino que os deuses reservaram a cada uma das
personagens abaixo:
a) Tântalo
b) Enômao
c) Níobe
6 – Os três mitos que estudamos expressaram as características principais da
idéia de determinismo? Quais são elas?
7 – Você acredita no determinismo? Isto é, você pensa que há algo ou alguém
que determina tudo que vai acontecer na sua vida? Explique.
8 – Na música abaixo, da banda Titãs, explique qual é o destino da
personagem Marvin.
TITÃS – MARVIN
Meu pai não tinha educação
Ainda me lembro, era um grande coração
Ganhava a vida com muito suor
E mesmo assim não podia ser pior
Pouco dinheiro pra poder pagar
Todas as contas e despesas do lar
Mas Deus quis vê-lo no chão
Com as mãos levantadas pro céu
Implorando perdão
Chorei, meu pai disse: Boa sorte,
Com a mão no meu ombro
Em seu leito de morte
E disse
Marvin, agora é só você
E não vai adiantar
Chorar vai me fazer sofrer.
Três dias depois de morrer
Meu pai, eu queria saber
Mas não botava nem um pé na escola
Mamãe lembrava disso a toda hora
Todo dia antes do sol sair
Eu trabalhava sem me distrair
Às vezes acho que não vai dar pé
Eu queria fugir, mas onde eu estiver
Eu sei muito bem o que ele quis dizer
Meu pai, eu me lembro, não me deixa esquecer
Ele disse
Marvin, a vida é pra valer
Eu fiz o meu melhor
E o seu destino eu sei de cor
E então um dia uma forte chuva veio
E acabou com o trabalho de um ano inteiro
E aos treze anos de idade eu sentia todo o peso do mundo em
minhas costas
Eu queria jogar mas perdi a aposta.
Trabalhava feito um burro nos campos
Só via carne se roubasse um frango
Meu pai cuidava de toda a família
Sem perceber segui a mesma trilha
Toda noite minha mãe orava
Deus, era em nome da fome que eu roubava
Dez anos passaram, cresceram meus irmãos
E os anjos levaram minha mãe pelas mãos
Chorei, meu pai disse: Boa sorte
Com a mão no meu ombro
Em seu leito de morte
Marvin, agora é só você
E não vai adiantar
Chorar vai me fazer sofrer.
Marvin, a vida é pra valer
Eu fiz o meu melhor o seu destino eu sei de cor
Titãs. Titãs, 1984.
2 – Liberdade segundo Sartre: a escolha
Tântalo e Níobe ficaram impotentes diante dos castigos que receberam. Essa
impotência de mudar a situação significa ausência de liberdade? Quando não
conseguimos conquistar alguma coisa dizemos: “Não somos livres”. Em outras
palavras, quando conseguimos sair da situação de impotência, quando
vencemos as adversidades, declaramo-nos livres; porém, quando não as
vencemos, declaramo-nos não-livres.
Para pensar nesta questão, vejamos o que o filósofo francês Jean-Paul Sartre
escreveu. Segundo ele, se estamos diante de um rochedo e este bloqueia
nossa passagem, nós tentaremos passar por ele com uma série de técnicas,
como a do alpinismo. Mesmo que não consigamos escalar o rochedo, fomos
nós quem escolhemos pela escalada, foi a nossa liberdade que optou em
ultrapassá-lo. O projetoera escalar, mas se não houve a realização da
escalada, não deixamos de ser livres. O que Sartre apontou é que as pessoas
não diferenciam o projeto da realização: o fato de não conseguirem escalar o
rochedo não significa que não sejam livres, significa que são impotentes.
Liberdade não é a obtenção do que se quer, o êxito de uma realização em
nada importa para a liberdade.
Suponhamos que você gostaria de ir à festa de aniversário de seu amigo, mas
no caminho seu carro quebrou e você talvez não consiga chegar a tempo. O
fato de você não conseguir realizar seu projeto (ir à festa) não significa que
você não seja livre; significa, somente, que você não consegue vencer a uma
adversidade. A liberdade manifesta-se na escolha que você realiza em ir à
festa. Em seguida, vocêescolhe em consertar o carro, mas não
sabe; escolhe em procurar um mecânico, mas não encontra. Isto é, escolhe em
escapar da adversidade. A liberdade, segundo Sartre, é esta “autonomia de
escolha”[1] que independe da realização do projeto: “Minha liberdade
deescolher não deve ser confundida com minha liberdade de obter”[2]. Isto é,
como fazemos escolhas a todo momento, somos livres e estamos condenados
à liberdade.
Jean-Paul Sartre, 1905-1980.
VAMOS FILOSOFAR…
1 – Ao não conseguirmos realizar um projeto deixamos de ser livres? Explique.
2 – A liberdade é a obtenção daquilo que queremos, segundo Sartre? Explique.
3 – Para Sartre, como se manifesta nossa liberdade? Explique.
4 – Leia o quadrinho e explique, usando a filosofia de Sartre, se o rato está ou
não livre na situação abaixo:
http://www2.uol.com.br/niquel/bau/shtml
_______________________________________________________________
__________
3 – Liberdade segundo Sartre: a situação, o ser e o nada
O exemplo da festa de aniversário foi significativo: somos livres, mas nossa
liberdade é exercida em meio a uma situação. O desejo é de chegar à festa;
por isso que é doloroso ficar na rua com o carro quebrado, sem utensílios e
sabedoria para consertá-lo, pensando na promessa que fiz a meu amigo de
que estaria em seu aniversário, sem conseguir escapar do estado de coisas
que me foi imposto pelos outros (um carro que não funciona).
A situação, neste caso, é a condição de estar em um lugar que não é a festa, é
o fato de conviver com o problema de não cumprir o que foi prometido
no passado, de não dominar as técnicas (utensílios) que possibilitariam
resolver o problema, de ver o estado de coisas criados por outros não resolver
meus problemas. A liberdade não é abstrata, ela é concreta e a expressão de
sua concretude é asituação – as escolhas que faço para resolver meus
problemas são escolhas situadas, escolhas que têm como objetivo resolver
problemas concretos.
O que me faz falta é estar na festa e o meu objetivo, o meu projeto, o meu fim,
é chegar a tempo nela. Minha liberdade consiste em fazer escolhas que me
levem até a festa, que me tirem do lugar onde estou, com o carro quebrado: o
que eu quero é trocar uma situação por outra, superar uma situação e chegar
até outra, ir além de uma situação que me incomoda e realizar a que
desejo, transcender a atual situação. Em outros termos, o que eu quero é
acabar com a atual situação, nadificá-la. Minha escolha pretende colocar um
ponto final em meus problemas, exterminá-los. Meu projeto é tornar existente
minha presença na festa, torná-la real, enteficá-la, dar ser a ela.
Sartre conseguiu mostrar que nossa liberdade se exerce em situação,
nadificando ou enteficando realidades em nome de um projeto que queremos
realizá-lo: no problema em questão, trata-se de nadificar a situação de ficar
parado com o carro quebrado e dar ser a minha participação na festa – dar fim
a uma situação e iniciar outra: “A liberdade, sendo escolha, é mudança”[3].
SARTRE: A LIBERDADE SE EXERCE, EM SITUAÇÃO, PARA TENTAR
CUMPRIR UM PROJETO:
SER
æ
SITUAÇÃO â ESCOLHA
è NADA
VAMOS FILOSOFAR…
1 – Cite quais são os problemas que a personagem do texto enfrenta na
situação acima.
2 – Segundo Sartre, a liberdade é abstrata ou concreta? Explique.
3 – Segundo Sartre, exercemos nossa liberdade ao fazer escolhas que tentam
cumprir nossos projetos. Qual é o projeto da personagem do texto e o que você
faria para cumpri-lo?
4 – Para Sartre, qual é a relação da liberdade com o ser e o nada?
_______________________________________________________________
__________
5 – Relacionando a filosofia de Sartre sobre a liberdade ao poema da Cecília
Meireles, explique porque a liberdade, ao ser uma escolha, leva algumas
coisas ao nada e outras ao ser.
Ou isto ou aquilo
Cecília Meireles
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o
doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
CECÍLIA MEIRELES. Poesia completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira,
2001.
4 – Liberdade segundo Sartre: o problema da responsabilidade
“A conseqüência essencial de nossas observações anteriores é a de que o
homem, estando condenado a ser livre, carrega nos ombros o peso do mundo
inteiro: é responsável pelo mundo e por si mesmo enquanto maneira de ser”[4].
Tal é a conclusão de Sartre, vejamos como a liberdade desembocou no peso
da responsabilidade sobre nós.
Sabemos que a idéia de determinismo expressa o controle de nossas vidas por
parte de algo ou alguém e a impossibilidade de mudarmos nosso destino.
Sabemos também que Sartre recusou a idéia de determinismo e demonstrou
que somos nós quem escolhemos nossas ações e, assim, tornamo-nos livres,
controlamos nossas vidas e ganhamos a possibilidade de mudá-la. Essa
liberdade, como vimos, é situada, condicionada por questões concretas e, ao
procurarmos resolver os problemas para realizar nosso projeto, nadificamos
uma realidade e tornamos real uma outra.
Como escolhemos, realizamos projetos, acabamos com situações e criamos
outras, somos nós os agentes de nossa história e da história da humanidade.
Não há algo ou alguém movendo nossas vidas, não há determinismo: não há
como responsabilizarmos os deuses por nossos acertos e por nossos erros.
Somos nós os responsáveis pelas nossas vidas, já que somos nós que
fazemos as escolhas. Se escolhemos em ir à festa, lutamos contra as
adversidades e chegamos na mesma, somos os responsáveis por nossa
participação; se escolhemos não ir à festa, somos os responsáveis por nossa
ausência. A responsabilidade acompanha a liberdade e é inseparável dela.
VAMOS FILOSOFAR…
1 – Para Sartre, podemos responsabilizar os deuses por nossos erros e por
nossos acertos? Explique.
2 – Para Sartre, é possível separar a liberdade da responsabilidade? Explique.
3 – Dê dois exemplos de escolhas que você fez, escrevendo as
responsabilidades que precisou assumir.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Determinismo e livre-arbítrio nos mitos gregos

Caminho Das Indias(F)
Caminho Das Indias(F)Caminho Das Indias(F)
Caminho Das Indias(F)William Roge
 
Livro a5 triturador de alicate_wev_int
Livro a5 triturador de alicate_wev_intLivro a5 triturador de alicate_wev_int
Livro a5 triturador de alicate_wev_intbarroscapucho
 
Primeiro livro de poesia.pdf
Primeiro livro de poesia.pdfPrimeiro livro de poesia.pdf
Primeiro livro de poesia.pdfAna Matias
 
Poemas del -portugal
Poemas   del -portugalPoemas   del -portugal
Poemas del -portugalMaria Paredes
 
Semear, Resistir, Colher.
Semear, Resistir, Colher.Semear, Resistir, Colher.
Semear, Resistir, Colher.Sílvio Mendes
 
Gênero textual: Cordel
Gênero textual: CordelGênero textual: Cordel
Gênero textual: CordelMary Alvarenga
 
Tessituras 3ª edição: Se eu me decifro, ninguém me devora... palestra com Cel...
Tessituras 3ª edição: Se eu me decifro, ninguém me devora... palestra com Cel...Tessituras 3ª edição: Se eu me decifro, ninguém me devora... palestra com Cel...
Tessituras 3ª edição: Se eu me decifro, ninguém me devora... palestra com Cel...Ana Paula Cecato
 
Os Novos Meninos do Morro
Os Novos Meninos do MorroOs Novos Meninos do Morro
Os Novos Meninos do MorroJorge Halen
 
EU VOU FICAR AQUI - DERALDO CAMPOS PORTELA
EU VOU FICAR AQUI - DERALDO CAMPOS PORTELAEU VOU FICAR AQUI - DERALDO CAMPOS PORTELA
EU VOU FICAR AQUI - DERALDO CAMPOS PORTELAPortal Iraraense
 
livro rudimentos - download gratuito
livro rudimentos - download gratuitolivro rudimentos - download gratuito
livro rudimentos - download gratuitoPubliki
 

Semelhante a Determinismo e livre-arbítrio nos mitos gregos (20)

Caminho Das Indias(F)
Caminho Das Indias(F)Caminho Das Indias(F)
Caminho Das Indias(F)
 
A pequena flor do campo
A pequena flor do campoA pequena flor do campo
A pequena flor do campo
 
Livro a5 triturador de alicate_wev_int
Livro a5 triturador de alicate_wev_intLivro a5 triturador de alicate_wev_int
Livro a5 triturador de alicate_wev_int
 
Primeiro livro de poesia.pdf
Primeiro livro de poesia.pdfPrimeiro livro de poesia.pdf
Primeiro livro de poesia.pdf
 
Os Cavaleiros
Os CavaleirosOs Cavaleiros
Os Cavaleiros
 
Poesia - aLer+ a Liberdade - Ficheiro A.pdf
Poesia - aLer+ a Liberdade - Ficheiro A.pdfPoesia - aLer+ a Liberdade - Ficheiro A.pdf
Poesia - aLer+ a Liberdade - Ficheiro A.pdf
 
D 11.pptx
D 11.pptxD 11.pptx
D 11.pptx
 
Poemas del -portugal
Poemas   del -portugalPoemas   del -portugal
Poemas del -portugal
 
28 domingo tempo comum
28 domingo tempo comum28 domingo tempo comum
28 domingo tempo comum
 
Semear, Resistir, Colher.
Semear, Resistir, Colher.Semear, Resistir, Colher.
Semear, Resistir, Colher.
 
Oficinas de escrita
Oficinas de escritaOficinas de escrita
Oficinas de escrita
 
éDipo rei
éDipo reiéDipo rei
éDipo rei
 
Gênero textual: Cordel
Gênero textual: CordelGênero textual: Cordel
Gênero textual: Cordel
 
Tessituras 3ª edição: Se eu me decifro, ninguém me devora... palestra com Cel...
Tessituras 3ª edição: Se eu me decifro, ninguém me devora... palestra com Cel...Tessituras 3ª edição: Se eu me decifro, ninguém me devora... palestra com Cel...
Tessituras 3ª edição: Se eu me decifro, ninguém me devora... palestra com Cel...
 
Os Novos Meninos do Morro
Os Novos Meninos do MorroOs Novos Meninos do Morro
Os Novos Meninos do Morro
 
EU VOU FICAR AQUI - DERALDO CAMPOS PORTELA
EU VOU FICAR AQUI - DERALDO CAMPOS PORTELAEU VOU FICAR AQUI - DERALDO CAMPOS PORTELA
EU VOU FICAR AQUI - DERALDO CAMPOS PORTELA
 
Um verso um texto
Um verso um texto Um verso um texto
Um verso um texto
 
Livro Deus Pai
Livro Deus PaiLivro Deus Pai
Livro Deus Pai
 
Poesia do casamento e outras
Poesia do casamento e outrasPoesia do casamento e outras
Poesia do casamento e outras
 
livro rudimentos - download gratuito
livro rudimentos - download gratuitolivro rudimentos - download gratuito
livro rudimentos - download gratuito
 

Determinismo e livre-arbítrio nos mitos gregos

  • 1. 1 – Determinismo OS MITOS DE TÂNTALO, PÉLOPS E NÍOBE Tântalo Tântalo era um rei rico e famoso em Sípilo, além de ser um dos filhos de Zeus; como tal, era amigo dos deuses e sempre era convidado a comer na mesa deles, no Olimpo. Porém, vaidoso, Tântalo revelou segredos dos deuses aos mortais, roubou o néctar e a ambrosia dos deuses e entregou-os a seus amigos mortais, escondeu um cão de ouro em Creta e, para testar a onisciência dos deuses, cometeu um crime terrível: matou seu próprio filho, Pélops, serviu sua carne na refeição e esperava que os deuses comessem a carne humana. Os deuses perceberam, ressuscitaram Pélops e castigaram Tântalo da seguinte forma: em um lago, ele ficou preso com o nível da água até o seu queixo, uma sede muito forte o incomodava, mas ao tentar beber a água, o nível dela abaixava e ele nunca conseguia bebê-la. Atrás de Tântalo, belíssimas árvores carregadas de frutas tinham galhos que chegavam sobre sua cabeça, quando ele movimentava-a para cima, um vento forte afastava os galhos cheios de frutas para longe, impossibilitando Tântalo de matar sua fome. Piorando seu sofrimento, ainda havia um rochedo suspenso no ar e localizado acima de sua cabeça, deixando-o com um terrível medo da morte. Eis o destino de Tântalo por seu crime. Por mais que ele se esforçasse e tentasse em tomar água, esta afastava-se; por mais que ele se esforçasse em tentar comer as frutas, estas também se afastavam; por mais que ele tentasse esquecer do rochedo, ele estava bem acima de si. A sede, a fome e o medo sempre venciam – o destino mostrava-se imutável: era impossível alterar a decisão dos deuses olímpicos.
  • 2. A vida de Tântalo estava determinada, controlada pelos deuses. Em Filosofia, denominamos de determinismo a idéia de que somos controlados por algo ou alguém, a idéia de que temos um destino, de que ele seja inalterável e que possa estar escrito independentemente de nossa vontade. Tudo o que acontece conosco pode estar previamente definido. Pélops Esta idéia de que nossa vida pode estar traçada anteriormente por algo ou alguém, é vista com mais clareza na continuidade do mito: Pélops era o filho de Tântalo, morto por seu pai e ressuscitado pelos deuses, ele apaixonou-se pela princesa Hipodâmia, de Elice. O rei Enômao ouvira de um oráculo que se sua filha se casasse, ele morreria. Para evitar o casamento de sua filha, o rei anunciava uma corrida de carruagem a todos os pretendentes dela: a corrida acontecia de Pisa até o altar de Poseidon, em Corinto, e enquanto os pretendentes largavam na frente, o rei oferecia um carneiro a Zeus. Se o rei alcançasse seu oponente, podia matá-lo com sua lança; caso contrário, o pretendente poderia casar-se com Hipodâmia – assim, muitos já haviam morrido, já que os cavalos do rei, Fila e Harpina, corriam mais velozmente que o vento Norte. Pélops era mais um concorrente e, antes da corrida, invocou Poseidon, que o atendeu e ofereceu a ele uma carruagem com cavalos alados e rápidos como flechas. Na corrida, mesmo com estes cavalos, Pélops foi alcançado por Enômao. Poseidon soltou as rodas da carruagem do rei, que caiu e morreu
  • 3. enquanto Pélops alcançava a linha de chegada em Corinto. De volta a Pisa, Pélops ainda salvou a princesa de um incêndio do castelo real e, enfim, casou- se com sua amada. Dizíamos que a idéia de determinismo aparece nesta narrativa mais claramente que na primeira. Basta verificar que a previsão oracular cumpriu-se com todo o seu rigor: como perdeu a corrida, o rei seria morto e, no momento que ele cai da carruagem, a morte apresentou-se fatalmente, tal como estava determinado. No derminismo, não há como alterar o destino imposto pelos deuses: uma vez que o destino do rei era a morte, caso sua filha se casasse, ela mostrou-se fatal, inexorável. Níobe Níobe era orgulhosa como seu pai, Tântalo. Como rainha de Tebas, certa vez proibiu as pessoas de fazerem uma homenagem a Leto, Apolo e Ártemis alegando que ela é que deveria ser homenageada por ser filha de Tântalo, neta de Zeus e um de seus antepassados é Atlas. As oferendas foram interrompidas e todos voltaram para casa. Leto, a deusa do destino, e seus filhos, Apolo e Ártemis, reagiram aos insultos de Níobe e prepararam uma terrível vingança: Apolo acertou, com flechas, cada um dos sete filhos de Níobe, que faziam treinos eqüestres. A notícia se espalhou e Anfíon, rei de Tebas e marido de Níobe, ao saber da notícia, suicidou-se com sua espada. Níobe, acompanhada de suas sete filhas, correu para o campo lamentando a morte de seu marido e de seus filhos; porém, continuou a gritar contra os deuses e considerando-se mais rica. Assim, novas flechas voaram em Tebas e mataram também as suas sete filhas. Sentada diante de seus sete filhos, sete filhas e marido, todos mortos, Níobe ficou paralisada de tanta dor, o vento já não conseguia fazer seus cabelos oscilarem, o sangue petrificou em suas veias: Níobe foi transformada em uma rocha, mas que ainda continuava a chorar. Por fim, uma ventania jogou a pedra pelos ares e a levou até a Lídia, onde Níobe está até hoje em uma montanha, chorando. A
  • 4. deusa do destino vingou-se furiosamente do orgulho de Níobe e sua tentativa de interromper o louvor aos deuses. Os três mitos acima expressaram algumas características fundamentais da idéia de determininsmo: - nossa vida é controlada por algo ou alguém, tal como Tântalo controlado pelos deuses no lago; - não há como alterar o nosso destino, tal como o rei Enômao que não escapou da morte assim que Pélops venceu a corrida de carruagem. VAMOS FILOSOFAR 1 – Procure no dicionário o significado das palavras abaixo e transcreva-os para cá. a) destino b) determinismo 2 – Qual foi o crime cometido por Tântalo? Qual foi o seu destino imposto pelos deuses como castigo?
  • 5. 3 – Qual era a previsão oracular que o rei Enômao conhecia? O que ele fazia para tentar impedi-la? Como a previsão oracular realizou-se no mito de Pélops? 4 – Como Níobe insultou os deuses? Como estes reagiram? Qual foi o destino imposto a ela como castigo? 5 – Desenhe o destino que os deuses reservaram a cada uma das personagens abaixo: a) Tântalo b) Enômao c) Níobe 6 – Os três mitos que estudamos expressaram as características principais da idéia de determinismo? Quais são elas?
  • 6. 7 – Você acredita no determinismo? Isto é, você pensa que há algo ou alguém que determina tudo que vai acontecer na sua vida? Explique. 8 – Na música abaixo, da banda Titãs, explique qual é o destino da personagem Marvin. TITÃS – MARVIN Meu pai não tinha educação Ainda me lembro, era um grande coração Ganhava a vida com muito suor E mesmo assim não podia ser pior Pouco dinheiro pra poder pagar Todas as contas e despesas do lar Mas Deus quis vê-lo no chão Com as mãos levantadas pro céu Implorando perdão Chorei, meu pai disse: Boa sorte, Com a mão no meu ombro Em seu leito de morte E disse Marvin, agora é só você E não vai adiantar Chorar vai me fazer sofrer. Três dias depois de morrer
  • 7. Meu pai, eu queria saber Mas não botava nem um pé na escola Mamãe lembrava disso a toda hora Todo dia antes do sol sair Eu trabalhava sem me distrair Às vezes acho que não vai dar pé Eu queria fugir, mas onde eu estiver Eu sei muito bem o que ele quis dizer Meu pai, eu me lembro, não me deixa esquecer Ele disse Marvin, a vida é pra valer Eu fiz o meu melhor E o seu destino eu sei de cor E então um dia uma forte chuva veio E acabou com o trabalho de um ano inteiro E aos treze anos de idade eu sentia todo o peso do mundo em minhas costas Eu queria jogar mas perdi a aposta. Trabalhava feito um burro nos campos Só via carne se roubasse um frango Meu pai cuidava de toda a família Sem perceber segui a mesma trilha Toda noite minha mãe orava Deus, era em nome da fome que eu roubava Dez anos passaram, cresceram meus irmãos E os anjos levaram minha mãe pelas mãos Chorei, meu pai disse: Boa sorte Com a mão no meu ombro Em seu leito de morte Marvin, agora é só você E não vai adiantar Chorar vai me fazer sofrer. Marvin, a vida é pra valer Eu fiz o meu melhor o seu destino eu sei de cor Titãs. Titãs, 1984.
  • 8. 2 – Liberdade segundo Sartre: a escolha Tântalo e Níobe ficaram impotentes diante dos castigos que receberam. Essa impotência de mudar a situação significa ausência de liberdade? Quando não conseguimos conquistar alguma coisa dizemos: “Não somos livres”. Em outras palavras, quando conseguimos sair da situação de impotência, quando vencemos as adversidades, declaramo-nos livres; porém, quando não as vencemos, declaramo-nos não-livres. Para pensar nesta questão, vejamos o que o filósofo francês Jean-Paul Sartre escreveu. Segundo ele, se estamos diante de um rochedo e este bloqueia nossa passagem, nós tentaremos passar por ele com uma série de técnicas, como a do alpinismo. Mesmo que não consigamos escalar o rochedo, fomos nós quem escolhemos pela escalada, foi a nossa liberdade que optou em ultrapassá-lo. O projetoera escalar, mas se não houve a realização da escalada, não deixamos de ser livres. O que Sartre apontou é que as pessoas não diferenciam o projeto da realização: o fato de não conseguirem escalar o rochedo não significa que não sejam livres, significa que são impotentes. Liberdade não é a obtenção do que se quer, o êxito de uma realização em nada importa para a liberdade. Suponhamos que você gostaria de ir à festa de aniversário de seu amigo, mas no caminho seu carro quebrou e você talvez não consiga chegar a tempo. O fato de você não conseguir realizar seu projeto (ir à festa) não significa que você não seja livre; significa, somente, que você não consegue vencer a uma adversidade. A liberdade manifesta-se na escolha que você realiza em ir à festa. Em seguida, vocêescolhe em consertar o carro, mas não sabe; escolhe em procurar um mecânico, mas não encontra. Isto é, escolhe em escapar da adversidade. A liberdade, segundo Sartre, é esta “autonomia de escolha”[1] que independe da realização do projeto: “Minha liberdade deescolher não deve ser confundida com minha liberdade de obter”[2]. Isto é, como fazemos escolhas a todo momento, somos livres e estamos condenados à liberdade.
  • 9. Jean-Paul Sartre, 1905-1980. VAMOS FILOSOFAR… 1 – Ao não conseguirmos realizar um projeto deixamos de ser livres? Explique. 2 – A liberdade é a obtenção daquilo que queremos, segundo Sartre? Explique.
  • 10. 3 – Para Sartre, como se manifesta nossa liberdade? Explique. 4 – Leia o quadrinho e explique, usando a filosofia de Sartre, se o rato está ou não livre na situação abaixo: http://www2.uol.com.br/niquel/bau/shtml
  • 11. _______________________________________________________________ __________ 3 – Liberdade segundo Sartre: a situação, o ser e o nada O exemplo da festa de aniversário foi significativo: somos livres, mas nossa liberdade é exercida em meio a uma situação. O desejo é de chegar à festa; por isso que é doloroso ficar na rua com o carro quebrado, sem utensílios e sabedoria para consertá-lo, pensando na promessa que fiz a meu amigo de que estaria em seu aniversário, sem conseguir escapar do estado de coisas que me foi imposto pelos outros (um carro que não funciona). A situação, neste caso, é a condição de estar em um lugar que não é a festa, é o fato de conviver com o problema de não cumprir o que foi prometido no passado, de não dominar as técnicas (utensílios) que possibilitariam resolver o problema, de ver o estado de coisas criados por outros não resolver meus problemas. A liberdade não é abstrata, ela é concreta e a expressão de sua concretude é asituação – as escolhas que faço para resolver meus problemas são escolhas situadas, escolhas que têm como objetivo resolver problemas concretos. O que me faz falta é estar na festa e o meu objetivo, o meu projeto, o meu fim, é chegar a tempo nela. Minha liberdade consiste em fazer escolhas que me levem até a festa, que me tirem do lugar onde estou, com o carro quebrado: o que eu quero é trocar uma situação por outra, superar uma situação e chegar até outra, ir além de uma situação que me incomoda e realizar a que desejo, transcender a atual situação. Em outros termos, o que eu quero é acabar com a atual situação, nadificá-la. Minha escolha pretende colocar um ponto final em meus problemas, exterminá-los. Meu projeto é tornar existente minha presença na festa, torná-la real, enteficá-la, dar ser a ela. Sartre conseguiu mostrar que nossa liberdade se exerce em situação, nadificando ou enteficando realidades em nome de um projeto que queremos realizá-lo: no problema em questão, trata-se de nadificar a situação de ficar parado com o carro quebrado e dar ser a minha participação na festa – dar fim a uma situação e iniciar outra: “A liberdade, sendo escolha, é mudança”[3]. SARTRE: A LIBERDADE SE EXERCE, EM SITUAÇÃO, PARA TENTAR CUMPRIR UM PROJETO: SER æ SITUAÇÃO â ESCOLHA è NADA VAMOS FILOSOFAR…
  • 12. 1 – Cite quais são os problemas que a personagem do texto enfrenta na situação acima. 2 – Segundo Sartre, a liberdade é abstrata ou concreta? Explique. 3 – Segundo Sartre, exercemos nossa liberdade ao fazer escolhas que tentam cumprir nossos projetos. Qual é o projeto da personagem do texto e o que você faria para cumpri-lo? 4 – Para Sartre, qual é a relação da liberdade com o ser e o nada?
  • 13. _______________________________________________________________ __________ 5 – Relacionando a filosofia de Sartre sobre a liberdade ao poema da Cecília Meireles, explique porque a liberdade, ao ser uma escolha, leva algumas coisas ao nada e outras ao ser. Ou isto ou aquilo Cecília Meireles Ou se tem chuva e não se tem sol, ou se tem sol e não se tem chuva! Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva! Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares. É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos dois lugares! Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro. Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo… e vivo escolhendo o dia inteiro! Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranqüilo. Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo. CECÍLIA MEIRELES. Poesia completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.
  • 14. 4 – Liberdade segundo Sartre: o problema da responsabilidade “A conseqüência essencial de nossas observações anteriores é a de que o homem, estando condenado a ser livre, carrega nos ombros o peso do mundo inteiro: é responsável pelo mundo e por si mesmo enquanto maneira de ser”[4]. Tal é a conclusão de Sartre, vejamos como a liberdade desembocou no peso da responsabilidade sobre nós. Sabemos que a idéia de determinismo expressa o controle de nossas vidas por parte de algo ou alguém e a impossibilidade de mudarmos nosso destino. Sabemos também que Sartre recusou a idéia de determinismo e demonstrou que somos nós quem escolhemos nossas ações e, assim, tornamo-nos livres, controlamos nossas vidas e ganhamos a possibilidade de mudá-la. Essa liberdade, como vimos, é situada, condicionada por questões concretas e, ao procurarmos resolver os problemas para realizar nosso projeto, nadificamos uma realidade e tornamos real uma outra. Como escolhemos, realizamos projetos, acabamos com situações e criamos outras, somos nós os agentes de nossa história e da história da humanidade. Não há algo ou alguém movendo nossas vidas, não há determinismo: não há como responsabilizarmos os deuses por nossos acertos e por nossos erros. Somos nós os responsáveis pelas nossas vidas, já que somos nós que fazemos as escolhas. Se escolhemos em ir à festa, lutamos contra as adversidades e chegamos na mesma, somos os responsáveis por nossa participação; se escolhemos não ir à festa, somos os responsáveis por nossa ausência. A responsabilidade acompanha a liberdade e é inseparável dela. VAMOS FILOSOFAR… 1 – Para Sartre, podemos responsabilizar os deuses por nossos erros e por nossos acertos? Explique. 2 – Para Sartre, é possível separar a liberdade da responsabilidade? Explique.
  • 15. 3 – Dê dois exemplos de escolhas que você fez, escrevendo as responsabilidades que precisou assumir.