Este documento apresenta a concepção de poder popular da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB). A CAB vê o poder popular como um objetivo e uma estratégia para fortalecer a intervenção anarquista nas lutas sociais, baseada na auto-organização das classes oprimidas. A concepção de poder popular da CAB se inspira na tradição do especifismo anarquista latino-americano e busca impulsionar a revolução socialista por meio da prática política no contexto histórico brasileiro.
3. SUMÁRIO
Editorial
04
Nossa Concepção de Poder Popular
08
Declaração de Princípios da CAB
20
Organizações que Compõem a CAB
22
Revista Socialismo Libertário
Tiragem: 500 exemplares
Impressão em São Paulo - Junho de 2012
Contato: secfao@riseup.net
4. Editorial População e anarco-sindicalistas comemoram a libertação de prisioneiros na
Espanha em 1936.
H
á 150 anos, homens e mulheres aspiraram movimento operário realizou uma greve geral em
à união e à coordenação internacional vários estados, como São Paulo, Rio de Janeiro e
do incipiente movimento operário, para, Rio Grande do Sul. Tais mobilizações, ocorridas
através do federalismo e da livre associação, em 1917, há 95 anos, também contaram com a
reunir a força necessária para golpear e derrubar o presença da militância anarquista, que ajudou a
capitalismo. Durante esse processo, os anarquistas constituir o que chamamos hoje de luta sindical.
estiveram presentes e constituíram parte significativa Os anarquistas também construíram espaços
específicos para o debate de suas questões, para
desse esforço militante.
estabelecer acordos, analisar a realidade em que
viviam, produzir declarações públicas e planejar
Estivemos nas barricadas da Comuna de Paris,
suas ações. Esse foi o caso dos grupos anarquistas
em 1871, nas experiências comunais das revoltas na
formados no início do século, tais como a Aliança
Macedônia, em 1903, nas lutas e nos sonhos criados
Anarquista do Rio de Janeiro, em 1918 – que teve
pela Revolução Mexicana de 1911, nos combates
vida curta, atingida duramente pela repressão
encarniçados da Revolução Russa, de 1917. Aspiramos
– e o Partido Comunista (libertário), de 1919.
e construímos nossos sonhos libertários durante a
Esta iniciativa organizacionista, recorrente,
Revolução na Manchúria (1929-1931), a Revolução
jamais foi apagada pelo tempo. No contexto
Espanhola (1936-1939) e a Revolução Cubana, de
da redemocratização (depois do Estado Novo
1959. Mais tardiamente, estivemos nas universidades e
getulista), os anarquistas brasileiros, após anos
fábricas nos acontecimentos do Maio de 68 e nas lutas
de ditadura, tentaram, apesar das dificuldades,
contra as ditaduras da América Latina. Fizemos parte
reorganizar-se numa Federação Anarquista de
da Primeira Internacional (1864-1877), da Segunda
âmbito nacional. Atuam neste período, de 1946 a
Internacional (1889-1916) e da Internacional Anarco-
1959, a União Anarquista de São Paulo, a União
Sindicalista, de 1922. Impulsionamos sindicatos de
Anarquista do Rio de Janeiro, o grupo anarquista
intenção revolucionária e organizações anarquistas
Ácratas do Rio Grande do Sul e individualidades
nas Américas, na Europa, na Ásia, na África e na
de outros estados.
Oceania. Temos mantido permanentemente, desde o
Nesse processo, há 55 anos foi realizada
surgimento do anarquismo, nossa presença em meio
às lutas sociais nos cinco continentes. a Conferência Anarquista Americana, em
Em solo nacional, nos misturamos, desde Montevidéu, no Uruguai, contando com a
a Primeira República, aos combates classistas nos presença de delegados do Brasil, da Argentina,
bairros, nas ruas e nas fábricas, sempre com a utopia dos Estados Unidos, do Paraguai, do México e
da transformação radical sublinhando nossas ações. do próprio país sede, servindo como um desses
Há 100 anos, no estado de São Paulo, militantes espaços para a articulação e o fortalecimento do
operários decidiram dar um basta à educação anarquismo.
vigente, elitizada, restrita e a serviço do pensamento Todas essas iniciativas demonstram a
dominante; unindo pensamento e ação, plantaram as vontade histórica dos anarquistas de se organizar
sementes das escolas modernas. Cinco anos depois, o para intervir com maior vigor no terreno da luta
5. Socialismo Libertário [edição 01] p. 5
Rebeldes magonistas libertam a cidade de Tijuana, no México, em 1911, do
controle da ditadura federal.
de classes: se há luta, há resistência; se há dominação, de organizações específicas anarquistas inseridas
há organização e vontade de transformação social. socialmente, que contribuísse com a construção de
Hoje, neste pedaço de terra da América um horizonte de auto-organização e emancipação
Latina chamado Brasil, no décimo aniversário do das classes oprimidas.
Fórum do Anarquismo Organizado (FAO), nós, O contato que, em 1994, foi travado com
organizações anarquistas que constituímos parte a Federação Anarquista Uruguaia (FAU) e, conse-
do FAO, humildemente damos continuidade às qüentemente, com toda sua história – desde 1956,
aspirações, aos sonhos e às lutas de milhares de a FAU atuou ininterruptamente, parando apenas
mulheres e homens que viveram para aportar grãos quando boa parte de seus militantes foram presos,
de areia na construção de outra sociedade, socialista mortos, seqüestrados ou desaparecidos –, foi mar-
e libertária. São 10 anos de uma caminhada que, cante neste processo. As relações políticas com a
ainda que modesta, julgamos conseqüente, com FAU foram decisivas para a opção que fizemos em
todas as dificuldades e desafios que implicam relação ao modelo de organização especificamente
tal intento. Temos buscado a construção de uma anarquista que hoje adotamos.
organização nacional, desde baixo, construída pela Por razão dessas relações, a Federação
base, de forma sólida e madura, nesse imenso e Anarquista Gaúcha (FAG), do Rio Grande do
diverso território, sem nunca perder do horizonte o Sul, foi fundada, em novembro de 1995; e, desde
objetivo da revolução social. então, o intento conjunto se fortaleceu com outras
No Brasil, parte de nossa geração, privada organizações posteriormente fundadas. O projeto de
do contato com os nossos “velhos” combatentes, construção de uma organização nacional anarquista,
teve de se apoiar, em grande medida, em suas fundamentada no modelo organizativo da FAU, foi
próprias realizações. Somos fruto de anos de impulsionado no Brasil por um processo que ficou
debates e articulações que visaram reorganizar o conhecido como Construção Anarquista Brasileira.
anarquismo brasileiro, para que ele pudesse incidir A primeira tentativa nesse sentido foi a fundação, em
nas lutas de seu tempo. Somos fruto das iniciativas 1997, da Organização Socialista Libertária (OSL),
que buscaram formas distintas de associação e com núcleos no Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio
organização de classe, experimentos e experiências de Janeiro e Pará, que terminou se revelando uma
de contracultura, com todas suas contradições e iniciativa precipitada.
limites. A depender da região, somos fruto do contato Em 2002, uma nova tentativa, pautada
direto com gerações mais antigas do anarquismo, em grande medida no acúmulo das experiências
cujo esforço jamais pode ser esquecido. Somos, anteriores, decidiu criar um fórum, o FAO. Era
enfim, uma geração de jovens que começou a militar um passo inicial, que tinha por objetivo permitir
entre os anos 1980 e 1990 e que, a partir de então, o acúmulo necessário de debates, de acordos e
assumiu para si a tarefa de atualizar o anarquismo, de experiências práticas, para a fundação de uma
visando constituir uma ferramenta de luta, a partir organização anarquista nacional. A lição dos
6. Socialismo Libertário [edição 01] p. 6
Operários e anarquistas marcham portando bandeiras negras pela cidade de São
Paulo na greve de 1917.
anos 1990 tinha sido aprendida: não podíamos últimos anos, se torna a Coordenação Anarquista
começar a “construir uma casa pelo telhado”. Brasileira (CAB). Assim, maiores esforços se fazem
Desde a fundação do FAO, algumas or- necessários, e a responsabilidade que assumimos com
ganizações deixaram de existir e outras se con- esse passo também é grande. No entanto, as aspirações,
solidaram e vêm sendo decisivas para esse esforço os sonhos e a vontade que temos de construir outra
coletivo: o Coletivo Anarquista Zumbi dos Pal- sociedade, em que nós, classes oprimidas, sejamos
mares (CAZP), de Alagoas, que comemorou em donas de nossos próprios destinos, é tamanha, que não
abril seus 10 anos; a Federação Anarquista do Rio nos intimidamos.
de Janeiro (FARJ), que já vai para seus 9 anos e É por isso que, nesse 10º aniversário do
a Organização Anarquista Socialismo Libertário FAO, data do congresso de fundação da CAB,
(OASL), de São Paulo, que vai para seu 3º ano de reafirmamos nosso compromisso militante de nos
atividades. somar na construção de um povo forte, que ponha
Outras organizações vêm aos poucos se abaixo o sistema de dominação capitalista a partir
somando ao processo e mantendo proximidade da luta direta, pela base, da construção federativa de
com o FAO, estreitando os laços orgânicos: o nossas próprias instâncias de auto-organização, de
Coletivo Anarquista Bandeira Negra (Santa autogestão e de democracia direta. Amparados nas
Catarina), o Coletivo Anarquista Luta de Classe experiências históricas daqueles que nos precederam,
(Paraná), o Coletivo Mineiro Popular Anarquista comemoramos a fundação da CAB como mais um
(Minas Gerais), a Organização Resistência importante passo na presença do anarquismo nas lutas
Libertária (Ceará), o Coletivo Anarquista Núcleo sociais contemporâneas.
Negro (Pernambuco), o Coletivo Libertário Neste primeiro número da revista Socialismo
Delmirense (Alagoas) e outras iniciativas, Libertário, apresentamos um texto com nossas
que estão em processo de nucleamento ou de concepções sobre o poder popular, tema que julgamos
articulação. essencial. Esperamos ter condições de, nos próximos
O aniversário de 10 anos do FAO é números, aprofundar questões teóricas, estratégicas
especial para nós, já que, há mais de um ano, e conjunturais, de maneira a estimular esse processo
temos debatido e apontado a necessidade de nacional.
darmos um passo a mais na direção do nosso
projeto nacional. Queremos avançar, porém, sem Em memória aos milhares de militantes anarquistas
tirar o pé do chão, no sentido de proporcionar que fizeram história!
uma maior organicidade entre as organizações Em memória aos oprimidos e às oprimidas, de
e de responsabilidades e compromissos mais ontem, hoje e sempre!
profundos. Para isso, decidimos passar de um Viva a revolução social! Viva a anarquia!
fórum para uma coordenação: o FAO, por razão Rumo à organização nacional!
desse ganho de organicidade conquistado nos
7.
8. NOSSA CONCEPÇÃO DE
PODER POPULAR
“Uma concepção e uma prática de autogestão têm,
em sua produção específica, seu próprio discurso.
Têm sua própria produção de poder que,
nesse caso, é de poder popular.”
Federação Anarquista Uruguaia (FAU)
O
especifismo, nossa corrente do inseridos, e é nesse sentido que concebemos
anarquismo, em especial na América nossa proposta de poder popular, pautada em
Latina, vem se preocupando há mais uma estratégia determinada de intervenção
de meio século com a problemática social, de uma prática política, que possa
do poder popular. Nesse texto, tratamos de impulsionar nosso objetivo revolucionário e
formalizar elementos relevantes dessa discussão, socialista.
que hoje são compartilhados pelas organizações
que constituem a CAB. Nossa concepção de poder O anarquismo e o poder popular
popular constitui, simultaneamente, um objetivo e
uma estratégia, ambos os quais fornecem as bases O anarquismo surge durante o século
para uma prática política ancorada no contexto XIX como uma forma de socialismo, ou seja,
histórico e geográfico em que estamos inseridos, como uma de suas correntes, a qual conta,
de maneira a fortalecer nossa intervenção no hoje, com uma longa história na luta dos
conjunto de forças em jogo. Não se trata, dessa oprimidos, envolvendo embates, conquistas,
maneira, de uma discussão puramente teórica derrotas, prazeres, sofrimentos e martírios.
ou filosófica, que visa tão-somente conhecer a
realidade ou refletir abstratamente sobre ela. Para “Há sacrifícios, lutas, sangue e sonhos no
nós, o anarquismo é uma ideologia: um “conjunto interior desse conceito de socialismo. Há
de idéias, motivações, aspirações, valores, uma longa história de resistências. É uma
estrutura ou sistema de conceitos que possuem produção histórica vinculada aos anseios
uma conexão direta com a ação – o que chamamos dos de baixo. Não é uma ciência, mas uma
de prática política”. [FARJ. Anarquismo Social e aspiração, uma esperança do ser humano,
Organização] das classes, coletivos e povos oprimidos.”
Pensamos que o anarquismo deve, [FAU/FAG. Wellington Gallarza e Malvina
necessariamente, conceber essa prática política no Tavares: trabalho FAU-FAG por uma teoria
intuito de transformar a realidade em que estamos política libertária]
9. Socialismo Libertário [edição 01] p. 9
Essa longa história do anarquismo, entendemos que o anarquismo sempre esteve
inseparável das lutas que ocorreram e ainda pautado, desde seu surgimento, em estratégias
ocorrem no sistema de dominação em que nos de poder popular. Quando Bakunin, por
inserimos, constitui uma intensa memória, sobre exemplo, propunha um programa para a
a qual constituímos nossas certezas ideológicas, intervenção dos anarquistas na Associação
pautadas nos princípios que vêm fundamentando Internacional dos Trabalhadores, não fazia
a ideologia anarquista. A longa história do outra coisa senão propor um projeto de
anarquismo acumulou saberes, em mais de um poder popular, que pudesse transformar
século de intensas batalhas, vividos e construídos a sociedade por meio de uma prática
coletivamente, a partir de um conjunto riquíssimo revolucionária dos trabalhadores. Podemos
de experiências que buscaram um mesmo afirmar, diferentemente do que vêm sendo
objetivo finalista: promover a revolução social afirmado, que o anarquismo nunca foi contra
e consolidar um sistema socialista e libertário, o poder, mas desenvolveu, ao mesmo tempo,
chamado historicamente de socialismo libertário, críticas de um determinado tipo de poder
comunismo libertário ou simplesmente anarquia. (dominação) e proposições de um outro tipo
“O objetivo finalista originário do projeto socialista de poder.
é o estabelecimento de uma sociedade igualitária, Todas as práticas anarquistas forjadas
uma sociedade [...] sem classes”. [CAZP. Alagoas em meio às classes oprimidas e que tiveram
e o Poder Popular] Esse objetivo prevê o fim da e têm por objetivo torná-las protagonistas
dominação de maneira geral, tanto da exploração de suas lutas e de seu próprio processo
econômica, quanto os outros tipos de dominação. de emancipação e libertação foram, e são,
Para nós, é fundamental ultrapassar as discussões para nós, projetos de poder popular. Há
de forma, dos termos em questão, e realizar uma germes de propostas de poder popular em
abordagem que leve em conta os conteúdos lutas populares do passado e do presente.
fundamentais da proposta anarquista. Por isso, Portanto, não compreendemos que a idéia
10. Socialismo Libertário [edição 01] p. 10
não se tornar forças sociais. Dessa maneira,
distinguimos esses dois conceitos: “uma
“Há sacrifícios, lutas, sangue e sonhos no força social tem determinada capacidade
interior desse conceito de socialismo. Há uma de realização. Capacidade de realização
longa história de resistências. É uma produção
pode ser entendida, como a possibilidade
histórica vinculada aos anseios dos de baixo.
Não é uma ciência, mas uma aspiração, uma de produzir de determinada força social,
esperança do ser humano, das classes, coletivos quando colocada em ação pelo agente que
e povos oprimidos.” a detém”. [Fábio López. Poder e Domínio]
Assim, a capacidade de realização coloca-se
no campo das possibilidades; um agente, um
agrupamento pode ter uma capacidade de
realização, mas transformará essa capacidade
de poder popular seja algo novo; o anarquismo,
em força social no momento em que intervier
conforme enfatizamos, em sua longa história,
nas forças em jogo. A força social implica que
desenvolveu alguns projetos de poder popular,
a capacidade saia do campo da possibilidade
sempre situados dentro dos marcos caracterizados
e passe a fazer parte do campo da realidade.
pelos seus princípios.
Não se pode, também, confundir
Quando refletimos sobre a questão do
força social com poder. “Poder não pode ser
poder popular, em realidade, retomamos parte
mero sinônimo de força social, pois para ter
significativa das teorias e práticas desenvolvidas
poder é necessário fazer uso de sua força e
pelos anarquistas ao longo da história mas, ao
ela ter efeito – ou ao menos poder fazer uso
mesmo tempo, optamos por algumas delas em
desta força (quando lhe convier) e isto ser
detrimento de outras. Além disso, desenvolvemos
o suficiente para conseguir o efeito”. [Fábio
posições próprias, no intuito de revitalizar questões
López. Poder e Domínio] O poder existe, de
que julgamos fundamentais, para uma prática
fato, quando há uma imposição de vontade de
política adequada com o contexto em que estamos
um agente ou conjunto de agentes por meio
inseridos.
da força social que consegue mobilizar para
sobrepor as forças mobilizadas por aqueles
O conceito de poder
que se opõem.
São distintos os entendimentos do concei-
Poder e dominação
to de poder no campo da esquerda, e pela nossa
própria defesa do conceito de poder popular, en-
Falar que qualquer sociedade possui
tendemos ser necessário definir com algum rigor o
relações de poder não significa, entretanto,
nosso conceito de poder.
afirmar que todas as sociedades, e todas
Concebemos o poder como uma relação
as relações sociais, fundamentam-se na
social estabelecida a partir do enfrentamento entre
dominação. É por isso que consideramos
diversas forças sociais, quando uma ou mais forças
fundamental distinguir os conceitos de poder
se impõem às outras.
e de dominação.
Qualquer sociedade possui uma relação
A dominação é um tipo de poder, que
dinâmica e permanente entre as forças que estão em
caracterizamos como um poder autoritário,
jogo. Por isso, qualquer sociedade possui relações
contra o qual temos nos mobilizado
de poder. Indivíduos, grupos, classes sociais
historicamente. A dominação é uma relação
possuem capacidade de realização, que podem ou
11. Socialismo Libertário [edição 01] p. 11
generalizada implica a substituição de um
sistema de dominação por uma sociedade
igualitária/libertária.
“Podemos dizer que autogestão seria, em
termos gerais, o poder efetivo de decisão sobre
o conjunto das questões políticas, econômicas,
sociais; não realizado de cima para baixo, a
partir da cúpula, mas de baixo para cima, a
partir da base. Definição que abrange diversos
campos: formas de organização política,
organização dos processos de produção
e serviços, educação, aspectos culturais e
ideológicos. A autogestão, assim concebida,
com a amplitude que acreditamos estar nela
implicada, é toda uma concepção que precisa
de elementos coerentes para um autêntico
de poder hierárquica que pode se institucionalizar desenvolvimento. Implica uma transformação
com uns decidindo aquilo que diz respeito a radical, não apenas econômica – como, de
outros e/ou a todos. Ela explica as desigualdades forma limitada, é tratada muitas vezes –, mas
estruturais, envolve relação de mando/obediência também política e ideológica. A autogestão
entre dominador/dominado, alienação do não disciplina corpos para a submissão, para
dominado, entre outros aspectos. É o fundamento a obediência e para o mando, mas tende a
básico das relações de classes, ainda que não se destruir, a descontinuar a noção atual de
possa reduzir dominação à dominação de classe. política como algo reservado a uma casta,
[Alfredo Errandonea. Sociologia de la Dominación] dando um outro conteúdo a esse conceito:
O anarquismo, desde seu surgimento, vem lutando a tomada, pelas próprias mãos, dos diversos
contra as distintas relações de dominação: entre as organismos sociais, em todos os níveis e
classes sociais, de gênero, de raça, imperialistas etc. sem intermediários, dos assuntos que lhe
Portanto, o anarquismo é contra um tipo de poder competem, visando construir uma ordem
caracterizado pela dominação que, infelizmente, social sobre essas bases. O que também
caracteriza o modelo de poder hegemônico no implica socializar a política; não desconstruir
capitalismo. seu espaço específico, mas concebê-lo de uma
Em oposição à dominação e ao modelo outra maneira.” [FAU. Poder, Autogestão e
de poder que a caracteriza, o poder dominador, Luta de Classes: uma aproximação do tema]
defendemos a autogestão e o federalismo
libertário, caracterizados por um modelo de poder Conforme buscaremos demonstrar,
autogestionário e federalista, chamado por nós de nossa concepção de poder popular está
poder popular. A autogestão e o federalismo são fundamentada nas noções de autogestão
o oposto da dominação e implicam a participação e de federalismo libertário em oposição à
no planejamento e nos processos decisórios, dominação. Por isso diferenciamos poder
proporcionalmente ao quanto se é afetado por eles, de dominação; o poder que defendemos,
pessoal, grupal ou coletivamente. Sua aplicação construído a partir da idéia de autogestão
12. Socialismo Libertário [edição 01] p. 12
e de federalismo, constitui as bases de nosso e estabelecido pelas classes oprimidas em
conceito de poder popular e se opõe radicalmente relação às classes dominantes, o qual fornece
à dominação. as bases para uma nova sociedade. O poder
popular, assim concebido, visa a supressão
O conceito de poder popular do capitalismo, do Estado e das relações de
dominação de maneira geral, substituindo-os
Como já enfatizamos, compreendemos que por uma nova estrutura de poder, estabelecida
“o poder não é algo necessariamente antipopular”; a partir dos locais de trabalho e de moradia; só
“o poder popular legítimo deve existir para oprimir pode consolidar-se, portanto, por meio de um
os planos de tirania, que sempre surgem nas processo revolucionário.
cabeças de alguns agentes”. [Fábio López. Poder e Opor nosso projeto de poder popular
Domínio] Assim, nosso projeto de poder popular à dominação implica, obrigatoriamente,
torna-se uma ferramenta, um tipo de contrapoder um combate árduo contra as forças sociais
ao poder existente, caracterizado pela dominação. mobilizadas, fundamentalmente, pelas classes
Em termos macro-sociais, podemos dizer dominantes. Em meio à luta de classes, que
que concebemos o poder popular como um modelo caracteriza o sistema de dominação em que
generalizado de poder pautado na autogestão estamos inseridos, temos uma posição muito
13. Socialismo Libertário [edição 01] p. 13
clara de, como parte das classes oprimidas – já O projeto estratégico de
que compreendemos o anarquismo como uma nossa corrente
ideologia das classes oprimidas –, impulsionar
um processo que conforme a capacidade de A coerência estratégica que marca
realização dessas classes em força social e, a partir a intervenção anarquista na realidade
de sua intervenção como movimentos populares, fundamenta-se na noção, para nós bastante
consiga impor nossa força às classes dominantes, óbvia, de que o objetivo deve condicionar a
acabar com a dominação e estabelecer esse poder estratégia e esta a tática. Ou seja, os meios que
popular, pautado na autogestão generalizada. O utilizarmos conduzirão, necessariamente,
poder popular deve, portanto, ser edificado pela a fins condizentes com eles. Se colocamos
força dos oprimidos, a partir da comunhão de
certos princípios, irmanados solidariamente em
sua diversidade e com um mesmo objetivo.
“Ainda que o poder popular seja um
“Não se trata de colocar o nome de poder popular projeto de longo prazo (quando a força
às velhas e conhecidas formas de ação política e de das classes oprimidas supera as forças
representação que excluem o povo de toda instância das classes dominantes), ele começa a
de decisão fundamental. Portanto, não se trata desenvolver-se e se fortalece a partir das
simplesmente se tomar das classes dominantes o experiências de mobilização e luta de
atual poder político centralizado, e sim de difundi- curto prazo, forjadas sobre necessidades
lo, descentralizá-lo nos organismos populares, de imediatas da população. Portanto,
transformá-lo em outra coisa. De transformá-lo em construir o poder popular exige uma
uma nova estrutura político-social. Tomar o poder atuação imediata e não de espera em
é tomar o poder nas fábricas, nos campos, nas relação a outros fatores que possam
minas, nas oficinas, nas escolas, nos hospitais, nas trazê-lo sem maiores esforços, pois é na
centrais elétricas, nos meios de comunicação, nas sociedade presente que se desenvolve o
universidades, e o poder é dos trabalhadores e do embrião da sociedade futura.”
povo quando são organismos por eles controlados,
amplamente democráticos e participativos, onde
os que os assumem, apropriam-se das funções
tutelares exercidas desde a esfera estatal.” [FAG. o poder popular como um objetivo
Declaração de Princípios] estratégico a ser atingido por um processo
revolucionário de mobilização e luta, não
O poder popular é, portanto, ao mesmo há como não conceber estratégias e táticas
tempo um objetivo e uma estratégia defendidos condizentes com esse objetivo e que nos
pelo anarquismo especifista. Ele aproxima façam caminhar rumo a eles. Esse projeto
nosso ideal libertário de um projeto de poder estratégico do anarquismo especifista
imprescindível para levar a cabo as rupturas que caracteriza-se basicamente pelo que temos
implicam o alcance de nosso objetivo finalista e chamado de construção do poder popular e
não possui relação com as concepções vigentes da criação de um povo forte. É nesse sentido
de “tomada do poder” a partir das instituições que o poder popular ganha, também, uma
de dominação, como no caso do Estado, seja de função estratégica fundamental.
maneira revolucionária ou reformista.
14. Socialismo Libertário [edição 01] p. 14
que as emancipará e libertará complemente.
“Ainda que o poder popular seja um projeto
de longo prazo (quando a força das classes
oprimidas supera as forças das classes
dominantes), ele começa a desenvolver-se
e se fortalece a partir das experiências de
mobilização e luta de curto prazo, forjadas
sobre necessidades imediatas da população.
Portanto, construir o poder popular exige uma
atuação imediata e não de espera em relação
a outros fatores que possam trazê-lo sem
maiores esforços, pois é na sociedade presente
que se desenvolve o embrião da sociedade
futura.” [OASL. Anarquismo especifista e
poder popular]
Por isso, sustentamos que o poder
popular tem de começar a ser edificado na luta
popular, organizada e protagonizada pelos
diversos setores das classes oprimidas, em
torno das questões mais imediatas, visando
os processos de ruptura mais profundos.
Construir o poder popular e criar um povo
forte implicam, além de fazer as lutas de
curto prazo, avançar para lutas de médio e
longo prazo e, por isso, temos defendido a
organização popular em uma frente de classes
oprimidas, que pode fortalecer permanente a
força social das classes dominadas, colocado-
Afirmamos que a base do poder popular é
as em oposição direta às forças mobilizadas
a autogestão e o federalismo libertário; portanto,
pelas classes dominantes. Tal processo de
nesse processo estratégico de mobilização e luta,
organização popular, deve ser forjado “como
compreendemos que a autogestão e o federalismo
resultado de um processo de convergência
devem fundamentar a base de nosso programa
de diversas organizações sociais e diferentes
de intervenção na criação e na participação
movimentos populares, que são fruto da
de movimentos populares. Dentre as distintas
luta de classes”. [FARJ. Anarquismo Social
estratégias defendidas historicamente pelos
e Organização] Trata-se de rearticular os
anarquistas, nossa estratégia de poder popular
oprimidos em torno de um projeto comum de
caracteriza-se por constituir uma estratégia de
transformação social.
massas. Isso significa que queremos contribuir
Dentre as várias ferramentas
com a organização das massas de maneira que elas
existentes para a ampliação de força social
possam ser protagonistas de suas lutas, de curto e
está a organização. Quando nos propomos a
longo prazo, responsabilizando-se tanto por suas
organizar movimentos populares e participar
conquistas e melhorias do dia-a-dia, como também
deles com um programa determinado,
pelo processo de transformação revolucionária,
acreditamos que estamos potencializando
15. Socialismo Libertário [edição 01] p. 15
as forças das classes oprimidas a partir dessa entendemos poder estimular o fortalecimento
importante ferramenta. “Construir o poder popular de maneira a criar os sujeitos capazes de
popular implica, assim, desde já, organizar novos realizar essa transformação social de bases tão
movimentos sociais e integrar movimentos amplas. Organizar as diferentes expressões de
já existentes, defendendo uma posição de luta popular segundo nossos princípios é criar
fortalecimento permanente. E ele só poderá um povo forte; um fator imprescindível para o
surgir e realizar-se com e pelo povo, enquanto sucesso de nossa estratégia.
classe.” [OASL. Anarquismo Especifista e Os sujeitos revolucionários não estão
Poder Popular] Em nossa intervenção no dados historicamente por uma posição histórica
sentido de criar movimentos populares e determinista e mecanicista; nem chegarão à
neles ingressar, nos apoiamos em princípios consciência e à luz por meio da atuação de auto-
que permitam impulsionar lutas de massas reivindicadas vanguardas.
que possam contribuir no fortalecimento do
nosso projeto de poder popular; independência “Para construir povo forte e poder popular
e solidariedade de classe, combatividade e é preciso construir os sujeitos da mudança,
ação direta, democracia direta, autogestão pois estes não são dados a priori. [...] Quanto
e federalismo. Tais princípios, defendidos aos sujeitos revolucionários a estrutura
historicamente pelos anarquistas no seio das econômica-política é um ponto de partida, mas
lutas populares, nos servem de inspiração e não define mecanicamente os agentes sociais
de guia para a organização autogestionária no transformadores. [...] Todavia, os trabalhadores
sentido de construir o poder popular.
Construir o poder popular significa
construir outras relações de poder que coloquem
em xeque os poderes dominantes, suas estruturas
e instituições econômicas, políticas, jurídicas,
militares, ideológicas, culturais; enfim, o status
quo. Trata-se de ousar derrotar o sistema de
dominação e realizar, na plena solidariedade
da luta popular, o acúmulo de força social
necessário para desequilibrar as relações sociais
impostas pelas classes dominantes e, por meio do
conflito social, avançar, acumular, potencializar
e romper com as estruturas sistêmicas atuais.
Essa estratégia só poderá contribuir com esse
processo de acumulação de forças e rupturas
se estiver funcionando em nossas próprias
práticas políticas, que devem demonstrar uma
consonância entre discursos e ações.
Compreendemos que a criação
de um povo forte só poderá ocorrer se as
lutas dos movimentos populares estiverem
fundamentadas na autogestão. É somente por
mecanismos ampliados de participação, que
implicam meios libertários e igualitários, que
16. Socialismo Libertário [edição 01] p. 16
enquanto não se reconhecem e enquanto não mundo novo, com outra forma de organização
possuem vontade própria, continuam a ser peças social, e que ele é capaz de empoderar-se,
reprodutoras da engrenagem do sistema. Criar protagonizar e transformar a realidade em que
capacidade política no povo é desenvolver seu está inserido.
potencial organizativo e prático, potenciais estes
que o próprio povo já possui em estado latente O papel da organização
uma vez que lida diariamente com as situações de específica anarquista
trabalho e dos problemas da vida social cotidiana.”
[CAZP. Alagoas e o Poder Popular] Ainda que estejamos defendendo
o poder popular como uma estratégia de
O novo sujeito, capaz de construir o massas, isso não significa abrir mão de um
projeto de poder popular que defendemos, deve, outro elemento imprescindível, a nosso ver,
portanto, necessariamente ser (re)construído. A na construção do poder popular; trata-se da
intervenção que temos por meio de nossa prática organização específica anarquista.
política busca essa reconstrução na luta contra a
fragmentação do tecido social, completamente “O problema do poder, decisivo em uma
transformação social profunda, só pode
ser resolvido a nível político, através da luta
política. E esta requer uma forma específica
“O problema do poder, decisivo em uma de organização: a organização política
transformação social profunda, só pode ser revolucionária. Só através de sua ação,
resolvido a nível político, através da luta enraizada nas massas, é possível se conseguir
política. E esta requer uma forma específica a destruição do aparato estatal burguês e
de organização: a organização política sua substituição por mecanismos de poder
revolucionária. Só através de sua ação, popular.” [FAU. A Organização Política
enraizada nas massas, é possível se conseguir Anarquista]
a destruição do aparato estatal burguês e
sua substituição por mecanismos de poder A organização específica anarquista,
popular.” esse organismo político revolucionário,
constitui, portanto, um elemento central
em nossa estratégia de poder popular. Não
no sentido autoritário e substituísta, que
subjuga a capacidade das classes oprimidas
esgarçado pelas práticas de dominação, e pelo no processo de transformação social, ou as
acúmulo das lutas cotidianas, que geram saberes e quer substituir nessa luta. A organização
práticas relevantes, com potencial transformador. anarquista é por nós compreendida como
“É, portanto, no seio das lutas que se constrói o um agente que funciona como fermento ou
poder popular e, por conseqüência outro sujeito motor das lutas populares: “a organização
histórico, tanto no pessoal como coletivo. Um política não é direção, mas, antes de tudo, um
sujeito que não é determinado a priori, mas motor das lutas”. [CAZP. Alagoas e o Poder
historicamente, no seio das lutas dos movimentos Popular] Trata-se de uma diferenciação entre
sociais.” [OASL. Anarquismo Especifista e Poder o caráter de minoria ativa, que atribuímos às
Popular] Devemos estar convictos de que esse nossas organizações políticas (nível político),
novo sujeito deve levar consigo a idéia de um e o caráter de vanguarda das organizações
17. Socialismo Libertário [edição 01] p. 17
políticas autoritárias, naquilo que diz respeito às Trata-se, portanto, de sustentar
suas relações com os movimentos populares (nível uma relação de complementaridade, em
social). que a organização anarquista potencializa
os movimentos populares e estes, por sua
“Diferentemente da organização de vanguarda, o vez, constituem o campo privilegiado para
nível político organizado como minoria ativa, que a prática política anarquista. Nessa relação
atua com ética, não possui relação de hierarquia autogestionária entre organização anarquista
e nem de domínio em relação ao nível social. e movimentos, impulsiona-se o programa
Para nós, como enfatizamos, os níveis político e anarquista, pautado em seus princípios
social são complementares. [...] O nível político fundamentais e em sua estratégia, de maneira
complementa o nível social, assim como o nível a reconstruir o tecido social, organizar as
social complementa o político. Ao contrário do que classes oprimidas, estimular entre elas as
propõem os autoritários, a ética da horizontalidade práticas autogestionárias e caminhar para a
que funciona dentro da organização específica construção do poder popular.
anarquista se reproduz em sua relação com os Para nós, anarquistas especifistas,
movimentos sociais. Quando em contato com o construir o poder popular implica, portanto,
nível social, a organização específica anarquista uma prática dupla: como membros das
atua com ética e não busca posições de privilégio, classes oprimidas, nos organizarmos
não impõe sua vontade, não domina, não engana, nos movimentos populares em torno de
não aliena, não se julga superior, não luta pelos associações amplas, que agregam militantes de
movimentos sociais ou à frente deles. [...] O diferentes ideologias; ao mesmo tempo, como
objetivo da minoria ativa é, com ética, estimular, anarquistas, nos organizarmos, pautados em
estar junto ombro a ombro.” [FARJ. Anarquismo nossas posições ideológicas, para intervir na
Social e Organização] realidade de maneira mais adequada. Para
18. Socialismo Libertário [edição 01] p. 18
suprimidas. Temos o dever de analisar e criticar
as realidades, as forças em jogo, os agentes em
“O nível político complementa o nível social, questão, nossos inimigos, aliados concretos e em
assim como o nível social complementa o potencial. Essa análise, juntamente com nosso
político. Ao contrário do que propõem os objetivo finalista e nosso conjunto de estratégias
autoritários, a ética da horizontalidade que e táticas, constitui nosso projeto estratégico para
funciona dentro da organização específica intervenção e transformação da sociedade.
anarquista se reproduz em sua relação com Acreditamos que, enquanto houver
os movimentos sociais. Quando em contato um sistema de dominação, haverá lutas pela
com o nível social, a organização esp emancipação dos oprimidos, que possuem
ecífica anarquista atua com ética e não ensinamentos genuínos ao nosso projeto de
busca posições de privilégio, não impõe poder popular. É em meio a essas resistências
sua vontade, não domina, não engana, não que acreditamos que o anarquismo deve
aliena, não se julga superior, não luta pelos estar, contanto com toda a diversidade que
movimentos sociais ou à frente deles. [...] caracteriza os diferentes terrenos populares nos
O objetivo da minoria ativa é, com ética, quais atuamos; devemos fortalecer os valores
estimular, estar junto ombro a ombro.” libertários que ideologicamente viabilizam a
existência desse projeto.
As dominações econômicas, caracteriza-
das pela exploração capitalista; as dominações
isso, defendemos ser fundamental a afinidade políticas, caracterizadas pela divisão da sociedade
ideológica, teórica, estratégica e prática dessas em governantes e governados e pelas opressões
organizações anarquistas, que possuem como levadas a cabo pela força bruta, pela coerção,
fundamento a responsabilidade e a disciplina ambas impulsionadas pelo Estado; as dominações
de seus membros, sempre pautadas na ética de ordem cultural e ideológica, fundamentadas
anarquista. pelas idéias que circulam e fortalecem esse
sistema – todas essas dominações devem ser
O sistema de dominação e o combatidas por nós. A cultura e a ideologia
projeto anarquista de poder produzidas pelos sistemas de dominação criam
popular sujeitos individualistas, sem identidades que lhes
vinculem às classes oprimidas, completamente
A luta contra a dominação implica incorporados ao sistema capitalista; esse é
métodos de análise e teorias para a compreensão também um problema relevante, que também
crítica da realidade em que atuamos. devemos enfrentar.
Caracterizamos o sistema de dominação O projeto de poder popular anarquista
contemporâneo como uma estrutura contrapõe, em todos esses níveis de dominação,
dominadora, fundamentada nas relações alternativas autogestionárias de luta, “gerando
sociais das distintas esferas, e que possui na espaços e estímulos para a participação em
luta entre classes com interesses antagônicos sindicatos, cooperativas, centros comunitários
sua expressão mais relevante. e estudantis, nas organizações de protesto e nas
O capitalismo, o Estado e as diferentes reivindicações: por trabalho, saúde, teto, terra”.
estruturas e instituições que contribuem para [FAU. Poder, Autogestão e Luta de Classes]
o estabelecimento desse sistema devem ser Nessas distintas práticas, é fundamental
que sustentemos a retomada da economia e da
19. Socialismo Libertário [edição 01] p. 19
política por parte das classes oprimidas, assim
como o estímulo ao desenvolvimento das
identidades e culturas de classe dos distintos
oprimidos, e também a difusão de uma ética
pautada em valores; meios que devem sustentar
nosso projeto de poder popular.
A CAB e a construção do
poder popular
Nossa proposta de anarquismo, como
fermento e motor capaz de impulsionar as
lutas populares, a nível nacional e continental,
torna-se, portanto, completamente vinculada a
esse projeto de poder popular que continuamos
a impulsionar; uma estratégia e um objetivo
que julgamos ser coerentes para o tempo e o
lugar em que atuamos.
A ideologia anarquista constitui, para
nós, a base fundamental de nossa prática
política; concebemos, portanto, que nossas
idéias transformadoras possuem, a partir
de nossa intervenção prática na realidade,
a materialidade necessária para intervir no
jogo de forças que caracteriza o sistema de
dominação em que estamos inseridos e buscar
transformá-lo com as práticas de intenção
revolucionária que nos são características.
Não basta apenas desejar a utopia
socialismo libertário; precisamos caminhar
em sua direção. Nosso projeto de poder
popular parece adequado para enfrentar esse
desafio, fundamentando nossas incansáveis
intervenções, desde as questões mais comuns,
cotidianas, de curto prazo, até aquelas que
envolvem planejamentos estratégicos de médio
e longo prazo.
A CAB tem por objetivo impulsionar
um projeto de poder popular nas localidades
em que atua, fazendo do anarquismo a centelha
que deve incendiar os movimentos populares,
rumo ao nosso ideal de socialismo e liberdade.
Lutar, criar, poder popular!
20. Nossa concepção
organizativa do anarquismo
Todos os grupos e organizações da
CAB, assim como aqueles interessados em ser
seus membros, devem concordar, defender e
aplicar esta concepção de anarquismo, que
consideramos o mínimo necessário para o
início dos trabalhos conjuntos. O anarquismo
defendido pela CAB é compreendido a partir
dos princípios político-ideológicos e pela sua
estratégia geral colocados a seguir.
o que é a Princípios políticos e
ideológicos
CAB? A compreensão, a defesa e a aplicação
dos seguintes pontos:
a) Do anarquismo como ideologia e, assim,
como um sistema de idéias, motivações e
aspirações que possuem necessariamente
uma conexão com a ação no sentido de
A
transformação social, a prática política.
Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) b) De um anarquismo em permanente
é um espaço organizativo fundado em 2012 contato com a luta de classes dos movimentos
que articula nacionalmente organizações populares de nosso tempo e funcionando
e grupos anarquistas que trabalham com base como ferramenta de luta e não como pura
nos princípios e na estratégia do anarquismo filosofia ou em pequenos grupos isolados e
especifista. A CAB surge como resultado dos dez sectários.
anos do processo de organização, iniciado em c) De um conceito de classe que inclui todas
2002, com o Fórum do Anarquismo Organizado as parcelas de explorados, dominados e
(FAO). Durante essa década, avança em termos oprimidos da nossa sociedade.
político-ideológicos e em relação aos trabalhos d) Da necessidade do anarquismo retomar
nos movimentos populares. A fundação da seu protagonismo social e de buscar os
CAB marca a passagem de um fórum para uma melhores espaços de trabalho.
coordenação nacional, evidenciando um aumento e) Da revolução social e do socialismo
de organicidade e fundamentando as bases para libertário como objetivos finalistas de longo
o avanço rumo a uma organização anarquista prazo.
brasileira.
21. Socialismo Libertário [edição 01] p. 21
f) Da organização como algo imprescindível e q) Do compromisso militante e da
contrária ao individualismo e ao espontaneísmo. responsabilidade coletiva. Uma organização
g) Da organização específica anarquista como com membros responsáveis, que não é
fator imprescindível para a atuação nas mais complacente com a falta de compromisso e a
diversas manifestações da luta de classes. Ou irresponsabilidade. Da mesma forma, a defesa
seja, a separação entre os níveis político (da de um modelo em que os militantes sejam
organização específica anarquista) e social (dos responsáveis pela organização, assim como a
movimentos sociais, sindicatos, etc.). organização seja responsável pelos militantes.
h) Da organização anarquista como uma r) Os militantes que compõem a organização
organização de minoria ativa, diferindo-se esta têm, necessariamente, de estar inseridos em
da vanguarda autoritária por não se considerar um trabalho social, bem como se ocupar de
superior às organizações do nível social. O atividades internas da organização (secretarias,
nível político é complementar ao nível social e etc.)
vice-versa.
i) De que a principal atividade da organização
anarquista é o trabalho/inserção social em Estratégia geral
meio às manifestações de luta do povo.
j) De que a ética é um pilar fundamental da
organização anarquista e que ela norteia toda A estratégia geral do anarquismo
a sua prática. que defendemos baseia-se nos movimentos
k) Da necessidade de propaganda e de ela ter populares, em sua organização, acúmulo
de ser realizada nos terrenos férteis. de força, e na aplicação de formas de luta
l) Da lógica dos círculos concêntricos de avançada, visando chegar à revolução e ao
funcionamento, dando corpo a uma forma socialismo libertário. Processo este que
de organização em que o compromisso se dá conjuntamente com a organização
está diretamente associado com o poder específica anarquista que, funcionando como
de deliberação. Da mesma maneira, uma fermento/motor, atua conjuntamente com
organização que proporcione uma interação os movimentos populares e proporciona as
eficiente com os movimentos populares. condições de transformação. Estes dois níveis
m) De que a organização deve possuir critérios (dos movimentos populares e da organização
claros de entrada e posições bem determinadas anarquista) podem ainda ser complementados
para todos que queiram ajudar (níveis de apoio por um terceiro, o da tendência, que agrega
/colaborador). um setor afim dos movimentos populares.
n) Da autogestão e do federalismo para a Essa estratégia, portanto, tem por objetivo
tomada de decisões e articulações necessárias, criar e participar de movimentos populares
utilizando a democracia direta. defendendo determinadas concepções
o) A busca permanente do consenso, mas, metodológicas e programáticas em seu seio, de
não sendo possível, a adoção da votação como forma que possam apontar para um objetivo de
método decisório. tipo finalista, que se consolida na construção
p) Do trabalho com unidade teórica, ideológica da nova sociedade.
e programática (estratégica / de ação). A
organização constrói coletivamente uma
linha teórica e ideológica e da mesma forma,
determina e segue com rigor os caminhos
definidos, todos remando o barco no mesmo
sentido, rumo aos objetivos estabelecidos.
22. ORGANIZAÇÕES QUE COMPÕEM A CAB:
Federação Anarquista Gaúcha (FAG)
Rio Grande do Sul
Fundação: 18 de novembro de 1995
A
Federação Anarquista Gaúcha (FAG) contra a ALCA e o FMI e também de uma série
é uma organização política anarquista de lutas com movimentos como o Movimento
fundada em 18 de novembro de 1995, dos Trabalhadores Desempregados (MTD) e
fruto de um contexto de dispersão de diversos o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
grupos libertários espalhados por diferentes Terra (MST).
regiões do Rio Grande do Sul – Juventude Além de nossa inserção social,
Libertária, que reunia militantes de Porto Alegre, mantivemos, de 2001 até 2010, nossa antiga
Canoas, Guaíba e Gravataí; Grupo Ativista sede federal, como local de reunião, oficina
Libertário (GAL), de Alegrete, e Coletivo de Ação de propaganda, debates de formação, cultura
Libertária (CALIBRE), de São Leopoldo – que, e encontro. Nas dependências da sede,
em meio a um ambiente de discussões e procura mantínhamos a biblioteca A Conquista do
de alternativas de organização para a militância Pão, hoje instalada em nossa nova sede, o
anarquista, acabam por se reunir e fundar a FAG. Ateneu Libertário A Batalha da Várzea. Desde
A experiência histórica da Federação Anarquista o início, não perdemos de vista o trabalho de
Uruguaia e seu modelo de organização, o propaganda, com cartazes, murais de rua e
especifismo, tiveram peso em nossa formação. campanhas diversas. Sempre apostamos na
Nesses mais de 15 anos, estivemos presentes construção do anarquismo nacionalmente
e inseridos num conjunto de experiências da e, por isso, militamos em 1996 no Processo
luta popular. Contribuímos modestamente na da Construção Anarquista Brasileira, com
formação do Movimento Nacional dos Catadores diversos grupos, que acabou se mostrando
de Materiais Recicláveis (MNCR); na construção precipitado e não tendo continuidade.
de diversos Comitês de Resistência Popular Hoje, a FAG tem militância nas frentes
nas periferias de Porto Alegre; organizando os sindical, estudantil, de comunicação (rádios
estudantes em conjunto com a companheirada comunitárias) e do campo (MST), atuando
da Tendência Libertária Mobilização cotidianamente na defesa da organização
Direta (TLMD) nas universidades e escolas de base, da democracia e da ação direta, da
secundaristas, e militando por outro modelo de independência e solidariedade de classe,
universidade nas vilas da grande Porto Alegre tendo como horizonte a construção do Poder
através do Coletivo pela Universidade Popular Popular.
(COLUP); participamos ombro a ombro das lutas
23. Coletivo Anarquista Zumbi do Palmares (CAZP)
Alagoas
Fundação: 2 de março de 2002
O
Coletivo Anarquista Zumbi dos da tendência Resistência Popular, fato fundamental
Palmares (CAZP) teve como berço de para a abertura das frentes sindical e comunitária.
sua militância a atuação no movimento No âmbito político, ingressamos no FAO em
estudantil; ao longo desta experiência, 2005, momento que nos permitiu dar saltos tanto
militou na base do movimento, em entidades na militância social, quanto no nível político-
e agrupações estudantis. Praticando também organizativo, gradativamente passando a assumir
a solidariedade de classe, sempre buscamos os contornos de uma organização especifista.
estar junto às lutas dos movimentos sociais Inseridos no processo de construção nacional da
em Alagoas. militância anarquista de matriz especifista desde
Hoje, além da presença nas lutas as terras alagoanas, temos como norte contribuir
estudantis, também estamos organizados nas para que a força política e social do anarquismo
frentes sindical e comunitária. A primeira, encontre ressonância nas lutas das classes
junto a trabalhadores da educação e da saúde, oprimidas por justiça e liberdade.
buscando resgatar uma prática sindical com
protagonismo e democracia de base. Na
comunitária, buscamos o empoderamento
popular através de atividades que têm
envolvido cultura e comunicação, em especial.
No ano de 2008, junto a outros companheiros,
participamos da fundação, em nosso estado,
24. de 2009, quando resolvemos dar prioridade
a outras frentes de atuação. Essa mudança de
prioridade implicou o nosso foco na construção
de uma luta mais combativa no bairro Parque
Geórgia, onde construímos a sede do Centro
de Cultura Popular/Resistência Popular, com
as nossas próprias mãos, e desenvolvemos uma
rádio comunitária e outras atividades no espaço.
Outros companheiros foram atuar na construção
de uma frente sindical na área da educação, na
Rusga Libertária qual estão até os dias de hoje, em atuação como
Mato Grosso oposição da atual direção do SINTEP; em 2012,
estamos trabalhando na construção de uma
Fundação: 2006 chapa de oposição.
Desde 2011, com novos ingressos na
A
militância, pudemos voltar à luta na frente
Rusga Libertária (RL) é uma estudantil, atuando no Centro Acadêmico do
organização anarquista com os curso de Ciências Sociais e também em uma
princípios de ação direta, democracia Frente de Esquerda, realizando uma aliança
direta, federalismo, internacio-nalismo, tática com outras correntes de esquerda da
classismo e ética libertária, que foi fundada universidade, com as quais temos construído
no início do ano de 2006 como fruto de um algumas lutas conjuntamente nos últimos anos.
longo processo de discussão e reflexão entre Estivemos também na luta contra a privatização
os anarquistas cuiabanos que têm como da SANECAP (empresa de distribuição de água
intenção retomar o anarquismo social e na capital que foi privatizada) e também contra a
militante que tanto impulsionou a luta do privatização da saúde pública.
povo oprimido no passado. Atuamos em Nos últimos três meses de 2012,
Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso. estivemos atuando na luta por moradia e contra
Antes mesmo de atuar como a desocupação de aproximadamente 300 famílias
organização política, já existia militância de um terreno próximo do bairro Parque Geórgia;
em um bairro na periferia de Cuiabá, com parte de um projeto de “limpeza” dos centros
a construção sendo feita por companheiros urbanos por razão da Copa de 2014. A luta foi
que viriam construir a RL; esse trabalho, árdua, agitada e, no final, contou com uma grande
iniciado há mais de 10 anos, existe até os vitória, que há vários anos os movimentos sociais
dias de hoje. não presenciavam na cidade. Uma luta que
Atuamos na luta pelo transporte trouxe, além de um forte espírito de solidariedade
público, com as bandeiras do passe livre e em grande parte dos moradores dessa ocupação,
contra o aumento abusivo da passagem, atualmente transformada em um bairro, que,
uma luta que teve grandes movimentações hoje em dia, está pronta para atuar em outros
na cidade em um determinado período. bairros que irão passar por resistências similares.
Depois disso, nos dividimos em frentes de Essa vitória, juntamente com a dos moradores do
atuação. Assentamento Canaã, é um marco histórico para
Tínhamos militantes atuando na a luta popular combativa de Cuiabá e do próprio
frente estudantil, no período das ocupações estado do Mato Grosso.
de reitorias e da luta contra a reforma
universitária, trabalho que durou até o ano
25. Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)
Rio de Janeiro
Fundação: 30 de agosto de 2003
A
FARJ possui três frentes de luta social. A A mais nova é a Frente Anarquismo
mais antiga é a Frente Comunitária, cuja e Natureza (FAN), antes denominada Frente
principal atuação se concentra no Centro Agroecológica. A FAN foi formada no final
de Cultura Social (CCS), localizado no bairro de 2007 com objetivo de fortalecer, apoiar e
de Vila Isabel. Ali, são desenvolvidos diversos desenvolver junto aos movimentos sociais
trabalhos de inserção junto à comunidade, sendo rurais um trabalho político que busque
o mais importante o Pré-Vestibular Comunitário intensificar a luta de classes em torno da
Solidariedade, organizado em conjunto com agroecologia, do trabalho de base cooperado
companheiros do Núcleo Complexo dos Macacos e da educação integral sob a perspectiva
do Movimento dos Trabalhadores Desempregados da educação do campo. Após importantes
“Pela Base!”, militantes da Organização Popular e avanços organizativos com a fundação do
apoiadores, como ex-alunos e alguns professores. Núcleo de Saúde e Alimentação Germinal
No CCS-RJ funciona, desde 2001, a Biblioteca (extinto no Rio de Janeiro) e da Cooperativa
Social Fábio Luz e, desde 2004, o Núcleo de de Trabalhadores em Agroecologia Floreal.
Pesquisa Marques da Costa, ambos vinculados à Atualmente, os membros da FAN atuam
organização. no Movimento dos Trabalhadores Sem-
A Frente de Movimentos Sociais Urbanos Terra (MST-RJ) e na coordenação político-
(FMSU, antes denominada Frente de Ocupações) pedagógica de cursos de Licenciatura em
iniciou sua atuação junto ao movimento de Educação do Campo da UFRuRJ.
ocupações no Rio de Janeiro, tendo participado Os militantes da FARJ, a partir de suas
da fundação da Frente Internacionalista dos Sem- inserções de base, também contribuíram com
Teto (FIST) em 2005. Após ter se afastado da FIST, a construção da Organização Popular (OP),
no final de 2007, a frente ampliou seus trabalhos um agrupamento de tendência reunindo
de inserção, passando a integrar o MTD-RJ e, diferentes militantes sociais que defendem
posteriormente, constituindo o MTD “Pela Base!”, um método de se organizar, nas lutas e nas
cuja luta central se dá a partir das demandas dos reivindicações populares, que fortaleça o
desempregados e precarizados. A FMSU também protagonismo das bases e a proposta do
atua no Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro poder popular, com atuação no movimento
II (SINDSCOPE) construindo um sindicalismo estudantil, sindical e popular.
pela base e articulado com os movimentos
populares, no Pré-Vestibular Solidariedade, na
favela da Maré (Baixa do Sapateiro) e com o Linha
Cultural, atividade que trabalha o Hip Hop como
ferramenta de contestação.
26. Organização Anarquista Socialismo Libertário (OASL)
São Paulo
Fundação: 18 de novembro de 2009
E
m um processo que teve início nos primeiros sendo realizados a partir da participação da
meses de 2008, a OASL organizou encontros militância da OASL na Organização Popular
amplos para discutir o anarquismo Aymberê (OPA), um agrupamento de
especifista, visando rearticular o anarquismo na tendência que esteve à frente da organização
cidade. Com significativa influência da Federação do IX Encontro Latino-Americano de
Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ), o processo Organizações Populares Autônomas
de dois anos culminou na fundação, nos fins de (ELAOPA).
2009, da Federação Anarquista de São Paulo, No nível político, a OASL tem
posteriormente chamada de OASL. A FARJ participado do FAO desde 2010, e,
participou dos grandes encontros de 2008 e 2009 organicamente, a partir de 2011, quando
e a Federação Anarquista Gaúcha (FAG) do de recebeu, em São Paulo, o encontro anual
2009, constituindo um suporte fundamental para do FAO e as Jornadas Anarquistas, com a
a formação da organização. participação de militantes de vários países
Desde seu surgimento, a OASL, em nível latinos. Trabalhando a organicidade interna,
social, vem trabalhando com a participação e a a OASL vem constituindo suas secretarias,
tentativa de criação de movimentos populares seus documentos orgânicos e programáticos,
na área metropolitana da cidade. O trabalho e articulado as relações, que incluem visitas
que possui mais tempo se dá no Movimento dos a outras organizações anarquistas. Tem
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por meio realizado formações políticas internas,
da regional Grande São Paulo, com o trabalho de debates, palestras e atividades públicas,
base em assentamentos, com foco na formação para aproximação de pessoas. Juntamente
política e na educação; há também iniciativas na com a FARJ, desenvolveu um programa de
produção, com a venda de produtos dos assentados. formação política sobre anarquismo. Na
Distintos trabalhos no nível comunitário foram propaganda, tem distribuído as publicações
realizados desde o início do processo: na Zona do FAO e livros da Faísca Publicações,
Leste da cidade, no centro e, mais recentemente, elaborado material para o site e para o
na Zona Sul, com a participação na Rede Extremo Anarkismo.net, além de panfletos e materiais
Sul. Houve experiências sindicais nos bancários específicos, como “Anarquismo Especifista e
e, mais recentemente, tem se desenvolvido um Poder Popular”. Tem impulsionado a criação
trabalho com professores da rede pública, na de núcleos da organização em outras regiões
APEOESP. Entre os estudantes, também, houve do estado.
algumas iniciativas. Todos os trabalhos vêm
27. Coletivo Anarquista Bandeira Negra (CABN)
Santa Catarina
Fundação: Agosto de 2011
O
Coletivo Anarquista Bandeira Negra Na cidade de Joinville, o CABN atua também
(CABN) surgiu na cidade de Florianópolis, junto ao Centro de Direitos Humanos (CDH) e
estabelecendo posteriormente um núcleo na em Chapecó possui atuação sindical, presente
cidade de Joinville e um pró-núcleo em Chapecó, no SINASEFE-SC (cuja base de trabalhadores
na perspectiva de formar uma organização é do Instituto Federal/SC) e na construção
estadual. O CABN nasce inspirado pelo de uma seção sindical do ANDES para os
anarquismo especifista, na tradição da Federação trabalhadores da Universidade Federal da
Anarquista Uruguaia (FAU) e das organizações que Fronteira Sul.
compunham o Fórum do Anarquismo Organizado Além dessas frentes de atuação,
(FAO), atual Coordenação Anarquista Brasileira o CABN organiza o Círculo de Estudos
(CAB), a qual integramos. Libertários em Florianópolis, que vem
O CABN defende um anarquismo em agregando pessoas e incentivando debates sob
contato direto com as lutas populares, no seio a perspectiva libertária, além de outros eventos
da classe trabalhadora. Desde o início, participa como o realizado no 1º de Maio, reivindicando
dos movimentos sociais urbanos, especialmente um Dia do Trabalhador classista e combativo,
nas lutas pelo transporte coletivo, tanto em frente ao esquecimento da data. Em Joinville,
Florianópolis quanto em Joinville, além de atuar o CABN também constrói o Grupo de Estudos
em grupos de mídia independente noticiando das Idéias e Práticas Anarquistas (GEIPA).
as lutas sociais. Em Florianópolis, estamos
iniciando trabalhos na frente comunitária e com
a perspectiva de iniciar uma tendência libertária
no movimento estudantil, onde já atuamos em
algumas pautas como a construção do EIV-SC,
estágio com os movimentos sociais do campo.
28. Organização Resistência Libertária (ORL)
Ceará
Fundação: 2008
(MLDM), que articula em rede comunidades
impactadas por esse mega-evento. No
A
momento, a organização intensifica suas
Organização Resistência Libertária (ORL) ações junto à luta destas comunidades,
foi fundada no final de 2008, a partir da contribuindo com sua militância em
articulação de estudantes anarquistas, que várias atividades, sempre no sentido de
no ano anterior participaram de lutas estudantis que a luta assuma o caráter mais libertário
(pela ampliação da isenção do vestibular da UFC possível, para que o movimento desenvolva
e da ocupação da reitoria da mesma universidade autonomia, combatividade, autogestão e
contra o REUNI), e ex-membros dos extintos se paute por relações horizontais em suas
Coletivo Ruptura e Comuna Libertária, que há decisões.
algum tempo vinham acumulando discussões em No último ano, iniciamos atuação
torno da necessidade de uma atuação organizada na luta sindical, tentando impulsionar
dos anarquistas junto às lutas e movimentos com nossa modesta militância a luta do
sociais. Foi exatamente este o ponto inicial que magistério público estadual, contra os
possibilitou a convergência entre essas duas levas ataques do governo à educação pública e
de militantes e a formação de uma organização em enfrentando a burocracia sindical instalada
torno de objetivos políticos, métodos de atuação e no sindicato do magistério estadual há
forma organizacional comuns. décadas. Nossa prática política tem se
Atualmente, a ORL desenvolve sua pautado pelo fortalecimento da autonomia
militância em duas frentes de trabalho: comunitária e da organização do magistério em oposição
e sindical. Há mais de dois anos a organização à estrutura parasitária mantida pela direção
atua na frente de trabalho comunitário, junto a sindical, colaborando na construção de
comunidades atingidas pelas obras da Copa do estruturas organizativas de base como a
Mundo de 2014. Contribuímos desde o início Rede de Zonais, que teve papel fundamental
desta luta popular, que desembocou na criação e impulsionou as ações mais radicalizadas
do Movimento de Luta em Defesa da Moradia na última greve estadual dos professores.
29. Coletivo Anarquista Luta de Classe (CALC)
Paraná
Fundação: Outubro de 2010
O
CALC organiza seus trabalhos em frentes combativa. Essa frente vem iniciando dois
e núcleos; neste momento, em uma frente trabalhos sociais, a organização de um pré-
comunitária e outra estudantil, constituindo vestibular comunitário junto aos estudantes
apenas um único núcleo (centro). Além do do Colégio Estadual Hildebrando de Araújo
desenvolvimento dos trabalhos sociais, também se (Jardim Botânico), e uma formação política
encontra nas suas atribuições a revenda de livros no Colégio Estadual Manoel Ribas voltado aos
de editoras libertárias uma vez ao mês, a realização jovens da escola (Vila Torres).
do Círculo de Estudos Libertários (CEL), espaço A frente comunitária também
de estudo e formação e a edição de seu informativo concentra sua atuação na Vila Torres. Até ano
No Batente. passado, atuava através do Germinal, mas
A frente estudantil tem sua militância no em função da desarticulação deste último
Coletivo Quebrando Muros (CQM), no movimento e uma aproximação com o CQM, passou a
estudantil universitário, organizado por curso atuar em uma frente comunitária que este
na UFPR, e que agora também possui trabalhos coletivo constituiu. Vem desenvolvendo desde
iniciados junto à comunidade da Vila Torres e aos outubro de 2008 trabalhos de inserção junto à
estudantes secundaristas da rede pública de ensino. escola e a comunidade, como o apoio a horta
O CQM deixou de ser apenas uma tendência agroecológica do Colégio Estadual Manoel
estudantil, tal como fora constituída em meados de Ribas e a participação na rede de grupos
2009, passando a constituir, em 2012, novas frentes comunitários. Também vem participando de
sociais, caso da frente comunitária, que integrou espaços como as Jornadas de Agroecologia e o
os ex-militantes do Germinal em seu coletivo, sem Grito dos Excluídos.
deixar de manter seus núcleos por local de estudo
em sua frente estudantil. Ao contrário, seu trabalho
estudantil vem se consolidando nos núcleos
Politécnico, Psicologia, Ciências Sociais, História
e Direito, acumulando forças para a esquerda
30. Coletivo Anarquista Núcleo Negro (CANN)
Pernambuco
Fundação: 2012
O
Coletivo Anarquista Núcleo Negro possui
uma breve existência e surge de uma
prática junto a movimentos por moradia,
a ocupações urbanas, em um agrupamento que à
época tinha o nome de Coletivo Autonomia.
Precisávamos avançar para um modelo
de organização que desse suporte para nossas
intenções dentro de um campo claramente
anarquista, afinal, aqueles que faziam parte do
coletivo, identificavam-se com esta ideologia. Foi
desta maneira que nos encontramos com o modelo
de organização especifista, reivindicado por alguns
dos agrupamentos já com alguma história no país,
ligados ao FAO. Hoje, o Núcleo Negro atua no
movimento sindical e comunitário através de duas
frentes de trabalho.
31. 10 anos do Fórum do Anarquismo Organizado
Rumo à Coordenação Anarquista Brasileira!
No início de 2002 recomeçava de forma mais lúcida um processo de articulação nacional para o anarquismo
organizado e com inserção social no Brasil. Há dez anos foi criado o Fórum do Anarquismo Organizado – FAO
com o objetivo de articular grupos regionais e também lutar pela construção de uma organização anarquista
brasileira dotada de projeto político comum. De lá pra cá conseguimos fazer avançar este processo com a
consolidação de Organização Especificamente Anarquistas em alguns estados.
Modestamente contribuímos para colocar o anarquismo no terreno da luta de classes formando parte de
importantes lutas na cidade e no campo com presença em diversos lugares no país. Atualmente, contando
com a participação e incidência em mais de dez estados brasileiros, decidimos dar uma passo à frente no
processo nacional com a criação da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB). Não estamos criando uma mera
sigla ou uma aparência sem correspondência com a realidade. Pelo contrário, decidimos pela coordenação
de organizações anarquistas especifistas, pois necessitamos de uma organicidade que seja correspondente a
nossa capacidade e necessidade de intervir na realidade brasileira com perspectivas de mudança em prol do
projeto socialista e libertário.
Estaremos realizando neste ano de 2012 um Congresso Anarquista com delegações das organizações regionais
que irão fundar a CAB e fazemos um convite às organizações anarquistas internacionais para participarem das
seguintes atividades na cidade do Rio de Janeiro:
- 9 de Junho - Debate sobre a Organização Específica Anarquista com os companheiros da Federação Anarquista
Uruguaia e da Coordenação Anarquista Brasileira.
(inscrições: secfao@riseup.net)
- 10 de junho - Ato Público de lançamento da Coordenação Anarquista Brasileira
CRIAR UM POVO FORTE!