Numa época em que verosimilmente nenhuma faceta inédita do fascismo pode já ser descoberta e em que a consulta dos arquivos se limita a acumular detalhes, este livro justifica-se apenas na medida em que propuser uma perspectiva diferente de análise ou, pelo menos, na medida em que lançar outros olhares numa perspectiva que poucos têm adoptado. Só assim poderão, com algum fundamento, surgir novas dúvidas e questões e abrirem-se campos a esclarecer. Mas é estranho que o conhecimento dos próprios textos do fascismo falte à maior parte das obras históricas, como se o que os fascistas escreveram e escrevem não fizesse parte daquela mesma realidade. E assim as minhas deambulações pelos factos incluem os escritos, que não são menos factuais. O que deveras me interessa é, seguindo o fio de leituras de muitos anos e rememorando experiências directas, alinhar reflexões francamente contrárias a certos lugares-comuns que, à força de serem repetidos, se apresentam como evidências. Esta não é uma história do fascismo, mas a apresentação histórica de problemas que o fascismo revelou plenamente como tais e que continuam hoje por resolver. É outro, porém, o principal motivo que leva o livro a ser interminável. (João Bernardo)