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A HISTÓRIA DA LOUCURASEGUNDO FOUCAULT- ALGUNS ELEMENTOS
Revisitando "A HISTÓRIA DA LOUCURA" O contexto e os fundamentos da concepção psiquiátrica  sobre a Loucura  e as origens do pensamento psicopatológico e nosológico. O homem não pode suportar muita realidade. T.S.Eliot
REVISITANDO A HISTÓRIA DA LOUCURA. A exclusão da Loucura – A grande Internação. O paradigma da medicina moderna, a invenção da doença e  contradições da psiquiatria. A internação, o tratamento moral. Contençâo, Disciplina, o lugar da medicação no tratamento moral. Poder, Saber e psiquiatria. A função PSY  A Teoria da Crise e Psquiatria.
Hieronymus Bosch . A nau do Loucos
A exclusão da Loucura – A grande Internação A exclusão da Loucura do concerto civilizatório, a ruptura do diálogo com ela é o elemento central que engendra o SABER e  o contexto terapêutico da psiquiatria, no seu nascimento. Os processos  de segregação e exclusão do louco são anteriores à criação do manicômio, no final do século XVIII. Mas é um fenômeno cuja precedência é muito mais lógica e estrutural do que temporal. Antes do nascimento do Manicômio e da Psiquiatria a Loucura já era, sistematicamente, excluída e “internada”. Não era objeto de um saber e práticas específicas, mas compunha o leque amplo e heterogêneo de  sujeitos “fora da ordem” que sofriam processos de exclusão, por exemplo, na forma da “internação” em estabelecimentos que tinham função, tipicamente,  disciplinar e de controle da ordem social e não  terapêutica. Estas estruturas de natureza semi-jurídica proliferaram na Europa, a partir da segunda metade do século XVII e,  foram o principal mecanismo para lidar com os fora da ordem por cerca de 150 anos. São exemplos históricos deste tipo de dispositivo as “Casas de Correção”, na Alemanha, as “Casas de Trabalho”, na Inglaterra e o Hospital na França.  Nestes locais se confinaram pobres, ociosos, vagabundos, libertinos, loucos, numa proporção tal que se pode falar de uma “Grande Internação”. Um exemplo concreto foi o Hospital Geral de Paris, criado em 1657, o qual pouco tempo depois de sua fundação já abrigava 1% da população daquela cidade, cerca de 6000pessoas*.   Foucault M. A Grande Internação. In: Foucault M. História da Loucura.  São Paulo: Editora Perspectiva; 1978, p. 45-78
Revisitando “História da Loucura” No prefácio do livro História da Loucura*, podemos depreender que Foucault não queria contar a história dos loucos em confronto com os indivíduos racionais, nem a história da Loucura em oposição à Razão. O acento era na constituição de um monólogo da Razão sobre a Loucura, o qual instaura uma região de silêncio, marcando esta divisão incessante, mesmo que sempre modificada, no decorrer do tempo. Não coube à psiquiatria definir os limites entre a razão e a loucura, no entanto, a partir do final do século XVIII, ela se encarregou, ou melhor, lhe foi atribuído o estatuto de guardião desta fronteira. E num esforço combinado de saber/poder construiu os marcos indicativos desses limites, um deles o próprio conceito de doença mental como elemento chave e legitimador de uma prática de divisão e captura do sujeito da Loucura.  *Foucault, Michel. Prefácio ( Folie et déraison ). Em: Foucault, Problematização do Sujeito: Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise. Coleção Ditos & Escritos I. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1999.
Tony Robert-Fleury (1838–1911). 1876 painting: Citizen Pinel Orders Removal of the Chains of the Mad at the Salpêtriére. Image provided by Art Resource. Philippe Pinel Releasing Lunatics from Their Chains at the Salpetriere Asylum in Paris in 1795
Revisitando “História da Loucura” ,[object Object]
Está na raiz das construções teóricas da psiquiatria.
Fundamenta a lógica e a “ética” da Internação como elemento central da prática manicomial.
Sustenta as práticas terapêuticas.
As contradições apontadas por alguns, na prática da psiquiatria, entre um imperativo de controle/ normalização social/resposta à ordem pública e, a suposta intenção terapêutica, que a  psiquiatria reivindica, seria aparente. Talvez  um epifenômeno, na medida em que a intenção terapêutica se subsume àqueles imperativos.,[object Object]
Desde a antiguidade: práticas sociais diversas diante da loucura. A partir do final do século XVIII, na sociedade ocidental: a internação em instituições Psiquiátricas como forma hegemônica de abordagem da loucura
Como se dá esta passagem? A Grande Internação  (século XVII): população  heterogênea (mendigos, vagabundos,   mágicos,  libertinos.....e loucos) mantida em casas de correção e  trabalho, em regime de reclusão.
A HISTÓRIA DA LOUCURA SEGUNDO FOUCAULT- ALGUNS ELEMENTOSCont... Reestruturação do espaço social - Revolução  Francesa  (final do século XVIII): nenhum cidadão pode ser  privado de liberdade arbitrariamente - com exceção do  “louco”.
O nascimento do hospital psiquiátrico:  os ditos  loucos São  internados em instituições especiais  Tratamento moral: cada vez que  se comete um  ato indevido, o paciente  é   punido, para reconhecer seus  erros. Arrependimento=cura!
Algumas contradições: Embora se diga que o louco  não é culpado  de sua doença, ele é tratado para tornar-se  capaz... de sentir culpa!  Embora se diga que a punição foi  substituída  pelo tratamento, a punição passa a  fazer parte  do tratamento!
O nascimento da psiquiatria: com o isolamento dos loucos  nos manicômios, desenvolve-se o trabalho de descrição e  denominação dos diversos tipos de  “doença mental’.  A psiquiatria e sua inscrição problemática na medicina: o  impasse do  ideal da “unidade nosológica natural “,  inaplicável aos transtornos psíquicos.
1.3   REFORMA PSIQUIÁTRICA: BREVE HISTÓRICO As reformas que buscam acoplar serviços extra- hospitalares ao hospital:  a psiquiatria de setor e a psiquiatria preventiva. As reformas que instauram uma ruptura com as  anteriores, questionando o conjunto de saberes e  práticas da psiquiatria vigente:  a antipsiquiatria  e a psiquiatria democrática.
 CONDIÇÕES E PERSPECTIVAS DAS REFORMAS PSIQUIÁTRICAS Condições comuns ao desencadeamento dos   processos mais interessantes de Reforma Psiquiátrica:  Costumam surgir em momentos de efervescência  política e cultural. Ligam-se à conquista de políticas públicas  efetivas  na área social - particularmente, um Sistema  Nacional de Saúde, destinado a toda população
Desvinculam-se de concepções e tendências tecnicistas  e/ou corporativistas Buscam interlocução mais ampla com a sociedade.
Situação nos anos 70: Acentuado crescimento do parque manicomial brasileiro  (cerca de 100.000 leitos em 313 hospitais psiquiátricos, 20% públicos e 80% privados conveniados ao SUS, concentrados principalmente no Rio, São Paulo, Minas Gerais). Os gastos públicos com internações psiquiátricas  ocupavam o 2º lugar entre todos os gastos com  internações do Ministério da Saúde.
Eram raras outras alternativas de assistência - mesmo as  mais simples, como o atendimento ambulatorial.  O poder público não exercia  controle sobre a  justificativa, a qualidade e a duração das internações.
A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA Denúncias e críticas diversas a esta situação no final dos  anos 70, durante a redemocratização do país:  – Surgimento do Movimento de Trabalhadores de Saúde  Mental: trabalhadores da área se organizaram,  apontando os graves problemas do sistema de  assistência psiquiátrica
Interlocução com os movimentos de outros países -   particularmente, com a importante experiência  italiana da psiquiatria democrática.  Denúncias de violações de direitos humanos em  hospitais psiquiátricos  atingiram  a opinião pública  de todo o país.
Situação atual da Reforma Psiquiátrica (anos 2000): Em 2001: aprovação  da Lei  Nacional da Reforma  Psiquiátrica (Lei Paulo Delgado) Em 2002: realização da III CONFERÊNCIA NACIONAL DE  SAÚDE MENTAL. A extinção dos hospitais psiquiátricos e  a construção de uma rede assistencial pautada pelo  respeito à  cidadania foram afirmados como princípios da  Reforma Psiquiátrica Brasileira.
Também em 2002, iniciou-se o  Programa Nacional de  Supervisão e Avaliação Hospitalar- PNASH- versão  psiquiátrica,  que vistoria anualmente os hospitais  psiquiátricos brasileiros. Fechamento progressivo dos hospitais psiquiátricos:  são agora 44.067 leitos psiquiátricos ainda  cadastrados no SUS, em 231 hospitais.
O número de leitos foi reduzido em mais da metade, a  partir dos anos 80  O ritmo desta redução tende a aumentar: de 2003 a  2004 foram fechados 16 hospitais, com 5000 leitos Implantação da rede substitutiva: em 1996, havia 154  CAPS cadastrados junto ao Ministério da Saúde;  atualmente são mais de 600
Há cerca de 300 Serviços Residenciais Terapêuticos (moradias protegidas). O auxílio-reabilitação do Programa De Volta Para Casa  é recebido por mais de 1000 pessoas.
Singularidade  da Reforma Psiquiátrica Brasileira: o  envolvimento da sociedade civil, sobretudo através da  organização de técnicos, familiares e usuários no  movimento da luta antimanicomial. “A participação social,  esta grande ausente dos processos de transformação de  Saúde Mental em todo o mundo, adquire carta de  cidadania aqui no Brasil” (Manoel Desviat

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A história da loucura segundo Foucault

  • 1. A HISTÓRIA DA LOUCURASEGUNDO FOUCAULT- ALGUNS ELEMENTOS
  • 2. Revisitando "A HISTÓRIA DA LOUCURA" O contexto e os fundamentos da concepção psiquiátrica sobre a Loucura e as origens do pensamento psicopatológico e nosológico. O homem não pode suportar muita realidade. T.S.Eliot
  • 3. REVISITANDO A HISTÓRIA DA LOUCURA. A exclusão da Loucura – A grande Internação. O paradigma da medicina moderna, a invenção da doença e contradições da psiquiatria. A internação, o tratamento moral. Contençâo, Disciplina, o lugar da medicação no tratamento moral. Poder, Saber e psiquiatria. A função PSY A Teoria da Crise e Psquiatria.
  • 4. Hieronymus Bosch . A nau do Loucos
  • 5. A exclusão da Loucura – A grande Internação A exclusão da Loucura do concerto civilizatório, a ruptura do diálogo com ela é o elemento central que engendra o SABER e o contexto terapêutico da psiquiatria, no seu nascimento. Os processos de segregação e exclusão do louco são anteriores à criação do manicômio, no final do século XVIII. Mas é um fenômeno cuja precedência é muito mais lógica e estrutural do que temporal. Antes do nascimento do Manicômio e da Psiquiatria a Loucura já era, sistematicamente, excluída e “internada”. Não era objeto de um saber e práticas específicas, mas compunha o leque amplo e heterogêneo de sujeitos “fora da ordem” que sofriam processos de exclusão, por exemplo, na forma da “internação” em estabelecimentos que tinham função, tipicamente, disciplinar e de controle da ordem social e não terapêutica. Estas estruturas de natureza semi-jurídica proliferaram na Europa, a partir da segunda metade do século XVII e, foram o principal mecanismo para lidar com os fora da ordem por cerca de 150 anos. São exemplos históricos deste tipo de dispositivo as “Casas de Correção”, na Alemanha, as “Casas de Trabalho”, na Inglaterra e o Hospital na França. Nestes locais se confinaram pobres, ociosos, vagabundos, libertinos, loucos, numa proporção tal que se pode falar de uma “Grande Internação”. Um exemplo concreto foi o Hospital Geral de Paris, criado em 1657, o qual pouco tempo depois de sua fundação já abrigava 1% da população daquela cidade, cerca de 6000pessoas*. Foucault M. A Grande Internação. In: Foucault M. História da Loucura. São Paulo: Editora Perspectiva; 1978, p. 45-78
  • 6. Revisitando “História da Loucura” No prefácio do livro História da Loucura*, podemos depreender que Foucault não queria contar a história dos loucos em confronto com os indivíduos racionais, nem a história da Loucura em oposição à Razão. O acento era na constituição de um monólogo da Razão sobre a Loucura, o qual instaura uma região de silêncio, marcando esta divisão incessante, mesmo que sempre modificada, no decorrer do tempo. Não coube à psiquiatria definir os limites entre a razão e a loucura, no entanto, a partir do final do século XVIII, ela se encarregou, ou melhor, lhe foi atribuído o estatuto de guardião desta fronteira. E num esforço combinado de saber/poder construiu os marcos indicativos desses limites, um deles o próprio conceito de doença mental como elemento chave e legitimador de uma prática de divisão e captura do sujeito da Loucura. *Foucault, Michel. Prefácio ( Folie et déraison ). Em: Foucault, Problematização do Sujeito: Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise. Coleção Ditos & Escritos I. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1999.
  • 7. Tony Robert-Fleury (1838–1911). 1876 painting: Citizen Pinel Orders Removal of the Chains of the Mad at the Salpêtriére. Image provided by Art Resource. Philippe Pinel Releasing Lunatics from Their Chains at the Salpetriere Asylum in Paris in 1795
  • 8.
  • 9. Está na raiz das construções teóricas da psiquiatria.
  • 10. Fundamenta a lógica e a “ética” da Internação como elemento central da prática manicomial.
  • 11. Sustenta as práticas terapêuticas.
  • 12.
  • 13. Desde a antiguidade: práticas sociais diversas diante da loucura. A partir do final do século XVIII, na sociedade ocidental: a internação em instituições Psiquiátricas como forma hegemônica de abordagem da loucura
  • 14. Como se dá esta passagem? A Grande Internação (século XVII): população heterogênea (mendigos, vagabundos, mágicos, libertinos.....e loucos) mantida em casas de correção e trabalho, em regime de reclusão.
  • 15. A HISTÓRIA DA LOUCURA SEGUNDO FOUCAULT- ALGUNS ELEMENTOSCont... Reestruturação do espaço social - Revolução Francesa (final do século XVIII): nenhum cidadão pode ser privado de liberdade arbitrariamente - com exceção do “louco”.
  • 16. O nascimento do hospital psiquiátrico: os ditos loucos São internados em instituições especiais Tratamento moral: cada vez que se comete um ato indevido, o paciente é punido, para reconhecer seus erros. Arrependimento=cura!
  • 17. Algumas contradições: Embora se diga que o louco não é culpado de sua doença, ele é tratado para tornar-se capaz... de sentir culpa! Embora se diga que a punição foi substituída pelo tratamento, a punição passa a fazer parte do tratamento!
  • 18. O nascimento da psiquiatria: com o isolamento dos loucos nos manicômios, desenvolve-se o trabalho de descrição e denominação dos diversos tipos de “doença mental’. A psiquiatria e sua inscrição problemática na medicina: o impasse do ideal da “unidade nosológica natural “, inaplicável aos transtornos psíquicos.
  • 19. 1.3 REFORMA PSIQUIÁTRICA: BREVE HISTÓRICO As reformas que buscam acoplar serviços extra- hospitalares ao hospital: a psiquiatria de setor e a psiquiatria preventiva. As reformas que instauram uma ruptura com as anteriores, questionando o conjunto de saberes e práticas da psiquiatria vigente: a antipsiquiatria e a psiquiatria democrática.
  • 20.  CONDIÇÕES E PERSPECTIVAS DAS REFORMAS PSIQUIÁTRICAS Condições comuns ao desencadeamento dos processos mais interessantes de Reforma Psiquiátrica: Costumam surgir em momentos de efervescência política e cultural. Ligam-se à conquista de políticas públicas efetivas na área social - particularmente, um Sistema Nacional de Saúde, destinado a toda população
  • 21. Desvinculam-se de concepções e tendências tecnicistas e/ou corporativistas Buscam interlocução mais ampla com a sociedade.
  • 22. Situação nos anos 70: Acentuado crescimento do parque manicomial brasileiro (cerca de 100.000 leitos em 313 hospitais psiquiátricos, 20% públicos e 80% privados conveniados ao SUS, concentrados principalmente no Rio, São Paulo, Minas Gerais). Os gastos públicos com internações psiquiátricas ocupavam o 2º lugar entre todos os gastos com internações do Ministério da Saúde.
  • 23. Eram raras outras alternativas de assistência - mesmo as mais simples, como o atendimento ambulatorial. O poder público não exercia controle sobre a justificativa, a qualidade e a duração das internações.
  • 24. A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA Denúncias e críticas diversas a esta situação no final dos anos 70, durante a redemocratização do país: – Surgimento do Movimento de Trabalhadores de Saúde Mental: trabalhadores da área se organizaram, apontando os graves problemas do sistema de assistência psiquiátrica
  • 25. Interlocução com os movimentos de outros países - particularmente, com a importante experiência italiana da psiquiatria democrática. Denúncias de violações de direitos humanos em hospitais psiquiátricos atingiram a opinião pública de todo o país.
  • 26. Situação atual da Reforma Psiquiátrica (anos 2000): Em 2001: aprovação da Lei Nacional da Reforma Psiquiátrica (Lei Paulo Delgado) Em 2002: realização da III CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL. A extinção dos hospitais psiquiátricos e a construção de uma rede assistencial pautada pelo respeito à cidadania foram afirmados como princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira.
  • 27. Também em 2002, iniciou-se o Programa Nacional de Supervisão e Avaliação Hospitalar- PNASH- versão psiquiátrica, que vistoria anualmente os hospitais psiquiátricos brasileiros. Fechamento progressivo dos hospitais psiquiátricos: são agora 44.067 leitos psiquiátricos ainda cadastrados no SUS, em 231 hospitais.
  • 28. O número de leitos foi reduzido em mais da metade, a partir dos anos 80 O ritmo desta redução tende a aumentar: de 2003 a 2004 foram fechados 16 hospitais, com 5000 leitos Implantação da rede substitutiva: em 1996, havia 154 CAPS cadastrados junto ao Ministério da Saúde; atualmente são mais de 600
  • 29. Há cerca de 300 Serviços Residenciais Terapêuticos (moradias protegidas). O auxílio-reabilitação do Programa De Volta Para Casa é recebido por mais de 1000 pessoas.
  • 30. Singularidade da Reforma Psiquiátrica Brasileira: o envolvimento da sociedade civil, sobretudo através da organização de técnicos, familiares e usuários no movimento da luta antimanicomial. “A participação social, esta grande ausente dos processos de transformação de Saúde Mental em todo o mundo, adquire carta de cidadania aqui no Brasil” (Manoel Desviat
  • 31. Finalidade da Reforma Psiquiátrica: não apenas tratar tecnicamente de maneira mais adequada o portador de sofrimento mental, mas, sobretudo, construir um espaço social onde a loucura encontre algum cabimento.
  • 32.