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Leitura e Produção de Textos

Leitura e Produção de Textos
A metáfora e a metonímia
Conceitos e funcionalidade das
figuras de linguagem.

http://ead.ugf.br/
1
Leitura e Produção de Textos

http://ead.ugf.br/
2
Leitura e Produção de Textos

1.4.1 A metáfora
1.4.2 A metonímia

SUMÁRIO

4
6

Referências	

8

http://ead.ugf.br/
3
Leitura e Produção de Textos

Na prática, faz-se corresponder, como em um mapa em

1.4.1 A METÁFORA

relação ao território que representa, o conhecimento que
se tem do pulmão sobre a função da Floresta Amazônica
na realidade climática do mundo contemporâneo.

Entre os processos que mais amplamente os homens
usam para a expressão de pensamentos em linguagem,
está a metáfora. Na verdade, ela se configura como um

Lakoff e Jonhson (1987/2002) ensinam que o processo

dos mais produtivos processos observáveis nas línguas

de transferência de sentidos na metáfora é feito a partir

humanas.

do mapeamento de entidades com aspectos que se
assemelham entre dois domínios de experiências: um
domínio fonte (ou base) sobre um domínio-alvo.

Metáforas permitem que se fale de abstrações usando
conhecimentos mais concretos advindos de experiências

As correspondências efetuadas estão fundadas na

físicas, psíquicas, sociais e culturais vivenciadas pelos

comparação entre os itens que apresentam aspectos

indivíduos e por suas comunidades.

similares entre os diferentes conhecimentos que se têm
arquivados em domínios de memória.

Elas tornam comunicáveis as realidades mais abstratas,
sobre as quais se pretende falar.

Em

Linguística

Cognitiva,

tais

domínios

de

A palavra metáfora vem do grego metaphora, que

conhecimentos são chamados de Modelos Cognitivos

significa transporte: uma expressão emprega os sentidos

Idealizados (MCI). Um MCI é um artifício teórico usado

vivenciados em experiências mais concretas para significar

para se tratar de arquivos de conhecimentos armazenados

“coisas” mais abstratas. Há um emparelhamento de itens

na memória por áreas temáticas.

que apresentam similaridades: equiparam-se entidades de
Tem-se MCI sobre Saúde, Educação, Transportes,

uma base de experiências mais concretas para significar

Utensílios, enfim, sobre as diferentes experiências que são

outras mais abstratas.

vivenciadas pelos humanos ao longo da vida.
Há uma comparação implícita, ou seja, as partículas
Nesses arquivos, armazenam-se todas as experiências

comparativas (como, tal qual, como tal etc.) não aparecem

vivenciadas e compartilhadas ao longo da vida.

nas expressões metafóricas: sua estrutura fundamental é
[S é P], ou seja, [Sujeito é Predicativo].

Tais arquivos são permanentes, mas parcialmente
estruturados: podem-se adicionar, modificar ou excluir

Em enunciados do tipo “João é um anjo” ou “Ana é uma

conhecimentos dos MCI.

flor”, as características de anjo e flor são transportadas
para os traços físicos e psíquicos das pessoas assim
metaforizadas: as características de anjo e de flor,

Os sentidos agregados aos conhecimentos do domínio

conhecidas pelos usuários da língua, aplicam-se aos que

base são empregados e transferidos nas correspondências

lhe foram equiparados na metáfora.

metafóricas: os itens com aspectos similares são aqueles
comparados nas metáforas.

Quando se diz que “A Amazônia é o pulmão do mundo”
(exemplo de Martins, UEAD), a experiência física de como

Observe-se a representação dos itens que são postos

um pulmão funciona serve para expressar o real papel que

em correspondência no enunciado “A Amazônia é o pulmão

a Região Amazônica exerce na oxigenação do mundo e

do mundo”.

no equilíbrio dos fenômenos climáticos a que a Terra está
sujeita.

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Leitura e Produção de Textos

Quadro 1 – Similaridades em correspondência na

que se processam na mente, e, para ele, a própria

metáfora “A Amazônia é o pulmão do mundo”.

linguagem seria uma grande metáfora do pensamento.
Nos MCI, os arquivos são formados por experiências

MCI domínio-fonte
(+ concreto)

MCI domínio-alvo
(+ abstrato)

Experiência mais concreta
sobre os Pulmões

Experiência mais abstrata
(porque desconhecida)
sobre a Amazônia.

Órgão vital do
organismo humano

Floresta e bacia fluvial muito
ricas em biodiversidade

similaridades entre as entidades comparadas na metáfora,

Responde pelas trocas
respiratórias.

Permite as trocas de
gases na atmosfera.

como, por exemplo, a forma como estão organizadas as
partes de um ovo é semelhante à estrutura organizacional

Purifica o sangue.

Purificação da atmosfera.

de uma célula.

Regulariza as trocas venosas
no sangue dos organismos.

Regulariza os ciclos
climáticos.

Produz energia vital.

Produz um ar mais
limpo para o mundo.

que envolvem aspectos físicos, psíquicos, sociais e culturais
vivenciados pelos indivíduos em suas comunidades.
As

correspondências

efetuadas

baseiam-se

em

Daí são atualizadas expressões metafóricas para
explicar a abstração célula a partir do conhecimento que
os homens têm da constituição de um ovo.

Permite que os demais órgãos Produz energia vital para
do organismo funcionem.
que o mundo se sustente.

Quadro 2 – Similaridades entre itens comparáveis na

Iconicamente, se os pulmões fornecem a energia

metáfora “A célula é um ovo”

necessária para que os órgãos que constituem a máquina

Ovo
(como domínio-fonte)

adoece e morre; da mesma forma, se a Amazônia não
prover à Terra as trocas de carbono e oxigênio com a
vitalidade de sua vegetação, a vida na Terra corre o risco
de ser profundamente prejudicada.

Citoplasma (parte meio
líquida, meio viscosa,
que protege o núcleo

Gema (parte central ou
mais interna que contém
as propriedades do ovo)

a vida. Sem os pulmões exercendo seu papel, o homem

Membrana (parte envolvente
e mais externa da célula)

Clara (parte líquida, meio
viscosa, que protege a gema)

renovação do ar do planeta, ar que promove e sustenta

Célula
(como domínio-alvo)

Casca (parte envolvente
e mais externa do ovo)

humana funcionem, a Amazônia produz naturalmente a

Núcleo: parte mais
interna que contém os
genes das células

Assim, na representação do pensamento em linguagem,
mapeia-se o conhecimento concreto do funcionamento

Neste exemplo, tem-se o emprego de uma expressão

dos pulmões sobre o que, teoricamente, é o papel que

metafórica na linguagem científica: para se entender a

a Amazônia exerce na sustentabilidade da vida na Terra.

célula que não se vê a “olho nu”, emprega-se a constituição
de um ovo que é bem conhecido e mais concreto.

Na literatura tradicional sobre a metáfora, a figura é
vista como o “emprego de uma palavra fora de seu sentido

Assim, as correspondências nas metáforas permitem

normal, por efeito de analogia ou comparação” (Garcia

que o receptor da comunicação ative seu conhecimento

2001). Contudo, desde o final do século XX, essa visão

sobre as experiências-fonte empregadas e as use para

vem sendo modificada.

compreender os conceitos mais abstratos que estão sendo
representados.

A metáfora era conceituada como o uso de uma
expressão fora de seu sentido literal. Lakoff (1993), em

No processo metafórico, são ativados saberes que foram

estudo denominado A teoria da metáfora contemporânea,

armazenados na memória: as entidades emparelhadas

afirma que o sentido literal praticamente não existe. As

apresentam características que se assemelham.

construções linguísticas expressam relações metafóricas
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Leitura e Produção de Textos

Os conhecimentos que se têm das experiências-fonte
Como a metáfora, a metonímia também é uma figura

servem para ampliar a compreensão dos fatos mais

de pensamento.

abstratos que estão sendo representados na metáfora.
Para Lakoff e Johnson (2002:127), o processo

Ela se processa quando se utiliza uma palavra em

metafórico é essencial para a construção dos sentidos na

lugar de outra para designar algum objeto ou aspecto

linguagem.

que se mantém com o termo escolhido uma relação
de contiguidade, de inclusão, de implicação ou de
interdependência.

Com o recurso ao processo metafórico, pode-se dizer
muito mais do que efetivamente se codificou por meio de

Para se compreender a metonímia, entende-se como

palavras: há conhecimentos, saberes, experiências que

se pode usar, por exemplo, a expressão popular pé-sujo.

vêm concorrer para a construção de sentidos.

Empregada

Eles conotam muito mais que denotam. Há um

para

designar

os

antigos

botecos

conhecimento de mundo que vem concorrer para a riqueza

populares, em pés-sujos, as pessoas tomam cafezinhos

de sentidos que as metáforas expressam:

ou cachacinhas em pé, quase sempre em copos, com
colheres dentro ou com xícaras de louça branca bem
grossa.

Argumentamos que a maior parte do nosso sistema
conceptual

é

metaforicamente

estruturado,

isto

é,
Pés-sujos são especialmente comuns nas esquinas do

que os conceitos , na sua maioria, são parcialmente

centro das grandes cidades.

compreendidos em termos de outros conceitos. Isso
levanta uma questão importante sobre os fundamentos do

São estabelecimentos não muito grandes, com balcões

nosso sistema conceptual.

altos, mesas pequenas encostadas nas paredes.
Afinal, há algum conceito que possamos compreender
diretamente sem recorrermos ao processo metafórico? Se

Nas estufas, encontram-se salgadinhos, ovos coloridos,

não há, como podemos compreender as coisas em geral?

sanduíches de pernil ou carne assada; seus frequentadores

( Lakoff E Johnson, 2002:127)

são, preferencialmente, homens que trabalham por perto,
vestidos para o trabalho e, muitos deles, com roupas

1.4.2 A metonímia

humildes.
Muitos trabalhadores não usavam sapatos, mas

Na teoria contemporânea da metáfora, a metonímia

chinelos, e seus pés mostravam o pó que vinha das ruas:

está hierarquicamente dependente dela.

aí estão os pés-sujos.

Na teoria retórica clássica, metáfora e metonímia estão

Vejamos como podemos representar os atributos

entre as principais figuras de retórica.

(partes) que servem para representar o todo (o botequim):

Já na teoria tradicional, a metonímia é conceituada

Quadro 3 – Atributos que servem nas representações

como a substituição de um nome por outro em virtude de

por deslocamentos metonímicos

haver entre eles algum relacionamento.
Um dos exemplos do processo metonímico é quando se
usa o autor pela obra como em “Ler Jorge Amado” ou em
“Ter um Picasso em casa”.

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6
Leitura e Produção de Textos

3.	

Modelo Cognitivo Idealizado (MCI)
de um “Botequim popular”

quando se usa o meio, o motivo ou o instrumento,

a causa pelo efeito, a consequência ou o resultado, como

Estabelecimentos pequenos, com balcões altos, mesas
pequenas de mármore ou com toalhas quadriculadas.

em “Viver de biscate”, por “Viver do produto de trabalhos
esporádicos, biscates”;

Servem-se bebidas como cafezinhos,
cervejas ou cachaças em pé.

4.	 quando se usa o nome do lugar de origem do

Nas estufas, encontram-se salgadinhos, ovos
coloridos, sanduíches de pernil ou carne assada.

prato, da marca ou do inventor pela coisa produzida ou

São bares frequentados, preferencialmente, por homens
que trabalham por perto ou são frequentadores habituais.

uma Napolitana”;

inventada, tal como em “Ligou para o restaurante e pediu

São frequentados, preferencialmente, por
pessoas humildes, muitos trabalhadores de ruas,
que não usavam sapatos, mas chinelos.

5.	 quando se usa o nome do inventor ou da marca
em lugar da invenção ou do produto, como em “Comprei

Por usarem chinelos e andarem nas ruas sujas, seus pés
apresentavam-se sujos de poeira: são pessoas de pés sujos.

uma Gillette” em lugar de “Comprei uma lâmina da marca
Gillette”;

Como esses botecos são frequentados, predominantemente,
por pessoas de pés sujos, passaram a ser chamados pela
característica que se sobressai entre seus frequentadores.

6.	 quando uma característica abstrata de um grupo

* Algo semelhante a chamar o “continente”
pelo “ conteúdo”: o boteco designado por
seus frequentadores, os “pés-sujos”.

de indivíduos é substituta do próprio grupo, como em “A
velhice é sábia” em lugar de “As pessoas mais velhas”,
ou em “A justiça é cega” em lugar de “Os juízes que

Assim, na metonímia, o continente – o botequim

julgam os casos não podem fazer distinções de pessoas”

popular – é designado por um dos seus conteúdos – os

(neste exemplo, vê-se como a metonímia subjaz a

frequentadores de pés-sujos.

uma grande metáfora: a experiência da cegueira – não
fazer distinção de pessoas – focaliza o aspecto de que,

Dessa forma, “Ir a um pé-sujo” é uma expressão

na hora do julgamento – os juízes não são guiados por

idiomática construída a partir do deslocamento de um dos

amizades, prestígios ou histórias pessoais que poderiam

elementos que constituem o conhecimento do todo para

interferir na aplicação da lei; devem se limitar a aplicá-la ,

designar o conjunto.

imparcialmente.

A metonímia é processada a partir da escolha de um

7.	 em “João é meu braço direito” ou “ Steve

dos elementos que compõem o MCI – os pés sujos – para

Jobs era o cérebro da Apple”, têm-se enunciados em

representar o todo – o boteco popular.

que partes concretas do corpo foram utilizadas para
representar qualidades abstratas atribuídas aos indivíduos

Têm-se metonímias nos deslocamentos que ocorrem

referenciados: há o deslocamento do concreto para

entre entidades que compõem um mesmo MCI, um

representar o abstrato, tal como ocorre nas transferências

elemento substituindo o todo. Assim:

metafóricas.

1.	 quando se usa o nome do autor pela obra, como

8.	 em “Marcus não tinha um vintém no bolso”, uma

em “Ler Graciliano Ramos” em vez de “Ler um livro de

parte do capital – um vintém (tipo de moeda antiga) é

Graciliano Ramos” ;

usado para representar o todo ou vice-versa;

2.	 quando se usa o continente pelo conteúdo, como

9.	 em “Ele não vale um tostão furado”, exemplo em

em “Tomar um cálice de vinho” por “Tomar o vinho que

que a matéria – tostão furado – é usada para representar

está servido no cálice”;

um produto;

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7
Leitura e Produção de Textos

10.	 “Tomou umas Brahmas e saiu dirigindo como um
louco”, onde a marca é usada para substituir o tipo de
produto;
11.	 “O brasileiro é, antes de tudo, um forte”, frase na
qual Euclides da Cunha se refere a todos os brasileiros,
usando o singular para representar o plural, ou seja, todos
os brasileiros.

Referências
CHIAVEGATTO,

Valeria

Coelho.

Gramática:

uma

perspectiva sociocognitiva. In: ______. (Org.) Pistas
e Travessias II: bases para o estudo da gramática, da
cognição e da interação. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2002.
p. 131-212.
FAUCONNIER, Gilles. Mental Spaces: aspects of
meaning construction in natural language. Cambridge:
Cambridge University Press, 1994.
GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa
moderna. 18 ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,
2001.
LAKOFF, G. The contemporary theory of metaphor. In:
ORTONY, Andrew (Org.) Metaphor and Thought. Nova
York: Cambridge University Press, 1993. p. 202-51.
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors: We live By.
Chicago: University of Chicago Press, 1987.
______. Metáforas da vida cotidiana. Tradução de
Maria Sofia Zanoto. Campinas: Mercado das Letras; São
Paulo: Educ, 2002.
MARTINS, Eliane. Leitura e produção de Texto I: LET
101. Rio de Janeiro: Universidade
Gama Filho, UEAD. Disponível em: <http://www.
gamavirtual.ugf.br>, p. 22-4.

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  • 3. Leitura e Produção de Textos 1.4.1 A metáfora 1.4.2 A metonímia SUMÁRIO 4 6 Referências 8 http://ead.ugf.br/ 3
  • 4. Leitura e Produção de Textos Na prática, faz-se corresponder, como em um mapa em 1.4.1 A METÁFORA relação ao território que representa, o conhecimento que se tem do pulmão sobre a função da Floresta Amazônica na realidade climática do mundo contemporâneo. Entre os processos que mais amplamente os homens usam para a expressão de pensamentos em linguagem, está a metáfora. Na verdade, ela se configura como um Lakoff e Jonhson (1987/2002) ensinam que o processo dos mais produtivos processos observáveis nas línguas de transferência de sentidos na metáfora é feito a partir humanas. do mapeamento de entidades com aspectos que se assemelham entre dois domínios de experiências: um domínio fonte (ou base) sobre um domínio-alvo. Metáforas permitem que se fale de abstrações usando conhecimentos mais concretos advindos de experiências As correspondências efetuadas estão fundadas na físicas, psíquicas, sociais e culturais vivenciadas pelos comparação entre os itens que apresentam aspectos indivíduos e por suas comunidades. similares entre os diferentes conhecimentos que se têm arquivados em domínios de memória. Elas tornam comunicáveis as realidades mais abstratas, sobre as quais se pretende falar. Em Linguística Cognitiva, tais domínios de A palavra metáfora vem do grego metaphora, que conhecimentos são chamados de Modelos Cognitivos significa transporte: uma expressão emprega os sentidos Idealizados (MCI). Um MCI é um artifício teórico usado vivenciados em experiências mais concretas para significar para se tratar de arquivos de conhecimentos armazenados “coisas” mais abstratas. Há um emparelhamento de itens na memória por áreas temáticas. que apresentam similaridades: equiparam-se entidades de Tem-se MCI sobre Saúde, Educação, Transportes, uma base de experiências mais concretas para significar Utensílios, enfim, sobre as diferentes experiências que são outras mais abstratas. vivenciadas pelos humanos ao longo da vida. Há uma comparação implícita, ou seja, as partículas Nesses arquivos, armazenam-se todas as experiências comparativas (como, tal qual, como tal etc.) não aparecem vivenciadas e compartilhadas ao longo da vida. nas expressões metafóricas: sua estrutura fundamental é [S é P], ou seja, [Sujeito é Predicativo]. Tais arquivos são permanentes, mas parcialmente estruturados: podem-se adicionar, modificar ou excluir Em enunciados do tipo “João é um anjo” ou “Ana é uma conhecimentos dos MCI. flor”, as características de anjo e flor são transportadas para os traços físicos e psíquicos das pessoas assim metaforizadas: as características de anjo e de flor, Os sentidos agregados aos conhecimentos do domínio conhecidas pelos usuários da língua, aplicam-se aos que base são empregados e transferidos nas correspondências lhe foram equiparados na metáfora. metafóricas: os itens com aspectos similares são aqueles comparados nas metáforas. Quando se diz que “A Amazônia é o pulmão do mundo” (exemplo de Martins, UEAD), a experiência física de como Observe-se a representação dos itens que são postos um pulmão funciona serve para expressar o real papel que em correspondência no enunciado “A Amazônia é o pulmão a Região Amazônica exerce na oxigenação do mundo e do mundo”. no equilíbrio dos fenômenos climáticos a que a Terra está sujeita. http://ead.ugf.br/ 4
  • 5. Leitura e Produção de Textos Quadro 1 – Similaridades em correspondência na que se processam na mente, e, para ele, a própria metáfora “A Amazônia é o pulmão do mundo”. linguagem seria uma grande metáfora do pensamento. Nos MCI, os arquivos são formados por experiências MCI domínio-fonte (+ concreto) MCI domínio-alvo (+ abstrato) Experiência mais concreta sobre os Pulmões Experiência mais abstrata (porque desconhecida) sobre a Amazônia. Órgão vital do organismo humano Floresta e bacia fluvial muito ricas em biodiversidade similaridades entre as entidades comparadas na metáfora, Responde pelas trocas respiratórias. Permite as trocas de gases na atmosfera. como, por exemplo, a forma como estão organizadas as partes de um ovo é semelhante à estrutura organizacional Purifica o sangue. Purificação da atmosfera. de uma célula. Regulariza as trocas venosas no sangue dos organismos. Regulariza os ciclos climáticos. Produz energia vital. Produz um ar mais limpo para o mundo. que envolvem aspectos físicos, psíquicos, sociais e culturais vivenciados pelos indivíduos em suas comunidades. As correspondências efetuadas baseiam-se em Daí são atualizadas expressões metafóricas para explicar a abstração célula a partir do conhecimento que os homens têm da constituição de um ovo. Permite que os demais órgãos Produz energia vital para do organismo funcionem. que o mundo se sustente. Quadro 2 – Similaridades entre itens comparáveis na Iconicamente, se os pulmões fornecem a energia metáfora “A célula é um ovo” necessária para que os órgãos que constituem a máquina Ovo (como domínio-fonte) adoece e morre; da mesma forma, se a Amazônia não prover à Terra as trocas de carbono e oxigênio com a vitalidade de sua vegetação, a vida na Terra corre o risco de ser profundamente prejudicada. Citoplasma (parte meio líquida, meio viscosa, que protege o núcleo Gema (parte central ou mais interna que contém as propriedades do ovo) a vida. Sem os pulmões exercendo seu papel, o homem Membrana (parte envolvente e mais externa da célula) Clara (parte líquida, meio viscosa, que protege a gema) renovação do ar do planeta, ar que promove e sustenta Célula (como domínio-alvo) Casca (parte envolvente e mais externa do ovo) humana funcionem, a Amazônia produz naturalmente a Núcleo: parte mais interna que contém os genes das células Assim, na representação do pensamento em linguagem, mapeia-se o conhecimento concreto do funcionamento Neste exemplo, tem-se o emprego de uma expressão dos pulmões sobre o que, teoricamente, é o papel que metafórica na linguagem científica: para se entender a a Amazônia exerce na sustentabilidade da vida na Terra. célula que não se vê a “olho nu”, emprega-se a constituição de um ovo que é bem conhecido e mais concreto. Na literatura tradicional sobre a metáfora, a figura é vista como o “emprego de uma palavra fora de seu sentido Assim, as correspondências nas metáforas permitem normal, por efeito de analogia ou comparação” (Garcia que o receptor da comunicação ative seu conhecimento 2001). Contudo, desde o final do século XX, essa visão sobre as experiências-fonte empregadas e as use para vem sendo modificada. compreender os conceitos mais abstratos que estão sendo representados. A metáfora era conceituada como o uso de uma expressão fora de seu sentido literal. Lakoff (1993), em No processo metafórico, são ativados saberes que foram estudo denominado A teoria da metáfora contemporânea, armazenados na memória: as entidades emparelhadas afirma que o sentido literal praticamente não existe. As apresentam características que se assemelham. construções linguísticas expressam relações metafóricas http://ead.ugf.br/ 5
  • 6. Leitura e Produção de Textos Os conhecimentos que se têm das experiências-fonte Como a metáfora, a metonímia também é uma figura servem para ampliar a compreensão dos fatos mais de pensamento. abstratos que estão sendo representados na metáfora. Para Lakoff e Johnson (2002:127), o processo Ela se processa quando se utiliza uma palavra em metafórico é essencial para a construção dos sentidos na lugar de outra para designar algum objeto ou aspecto linguagem. que se mantém com o termo escolhido uma relação de contiguidade, de inclusão, de implicação ou de interdependência. Com o recurso ao processo metafórico, pode-se dizer muito mais do que efetivamente se codificou por meio de Para se compreender a metonímia, entende-se como palavras: há conhecimentos, saberes, experiências que se pode usar, por exemplo, a expressão popular pé-sujo. vêm concorrer para a construção de sentidos. Empregada Eles conotam muito mais que denotam. Há um para designar os antigos botecos conhecimento de mundo que vem concorrer para a riqueza populares, em pés-sujos, as pessoas tomam cafezinhos de sentidos que as metáforas expressam: ou cachacinhas em pé, quase sempre em copos, com colheres dentro ou com xícaras de louça branca bem grossa. Argumentamos que a maior parte do nosso sistema conceptual é metaforicamente estruturado, isto é, Pés-sujos são especialmente comuns nas esquinas do que os conceitos , na sua maioria, são parcialmente centro das grandes cidades. compreendidos em termos de outros conceitos. Isso levanta uma questão importante sobre os fundamentos do São estabelecimentos não muito grandes, com balcões nosso sistema conceptual. altos, mesas pequenas encostadas nas paredes. Afinal, há algum conceito que possamos compreender diretamente sem recorrermos ao processo metafórico? Se Nas estufas, encontram-se salgadinhos, ovos coloridos, não há, como podemos compreender as coisas em geral? sanduíches de pernil ou carne assada; seus frequentadores ( Lakoff E Johnson, 2002:127) são, preferencialmente, homens que trabalham por perto, vestidos para o trabalho e, muitos deles, com roupas 1.4.2 A metonímia humildes. Muitos trabalhadores não usavam sapatos, mas Na teoria contemporânea da metáfora, a metonímia chinelos, e seus pés mostravam o pó que vinha das ruas: está hierarquicamente dependente dela. aí estão os pés-sujos. Na teoria retórica clássica, metáfora e metonímia estão Vejamos como podemos representar os atributos entre as principais figuras de retórica. (partes) que servem para representar o todo (o botequim): Já na teoria tradicional, a metonímia é conceituada Quadro 3 – Atributos que servem nas representações como a substituição de um nome por outro em virtude de por deslocamentos metonímicos haver entre eles algum relacionamento. Um dos exemplos do processo metonímico é quando se usa o autor pela obra como em “Ler Jorge Amado” ou em “Ter um Picasso em casa”. http://ead.ugf.br/ 6
  • 7. Leitura e Produção de Textos 3. Modelo Cognitivo Idealizado (MCI) de um “Botequim popular” quando se usa o meio, o motivo ou o instrumento, a causa pelo efeito, a consequência ou o resultado, como Estabelecimentos pequenos, com balcões altos, mesas pequenas de mármore ou com toalhas quadriculadas. em “Viver de biscate”, por “Viver do produto de trabalhos esporádicos, biscates”; Servem-se bebidas como cafezinhos, cervejas ou cachaças em pé. 4. quando se usa o nome do lugar de origem do Nas estufas, encontram-se salgadinhos, ovos coloridos, sanduíches de pernil ou carne assada. prato, da marca ou do inventor pela coisa produzida ou São bares frequentados, preferencialmente, por homens que trabalham por perto ou são frequentadores habituais. uma Napolitana”; inventada, tal como em “Ligou para o restaurante e pediu São frequentados, preferencialmente, por pessoas humildes, muitos trabalhadores de ruas, que não usavam sapatos, mas chinelos. 5. quando se usa o nome do inventor ou da marca em lugar da invenção ou do produto, como em “Comprei Por usarem chinelos e andarem nas ruas sujas, seus pés apresentavam-se sujos de poeira: são pessoas de pés sujos. uma Gillette” em lugar de “Comprei uma lâmina da marca Gillette”; Como esses botecos são frequentados, predominantemente, por pessoas de pés sujos, passaram a ser chamados pela característica que se sobressai entre seus frequentadores. 6. quando uma característica abstrata de um grupo * Algo semelhante a chamar o “continente” pelo “ conteúdo”: o boteco designado por seus frequentadores, os “pés-sujos”. de indivíduos é substituta do próprio grupo, como em “A velhice é sábia” em lugar de “As pessoas mais velhas”, ou em “A justiça é cega” em lugar de “Os juízes que Assim, na metonímia, o continente – o botequim julgam os casos não podem fazer distinções de pessoas” popular – é designado por um dos seus conteúdos – os (neste exemplo, vê-se como a metonímia subjaz a frequentadores de pés-sujos. uma grande metáfora: a experiência da cegueira – não fazer distinção de pessoas – focaliza o aspecto de que, Dessa forma, “Ir a um pé-sujo” é uma expressão na hora do julgamento – os juízes não são guiados por idiomática construída a partir do deslocamento de um dos amizades, prestígios ou histórias pessoais que poderiam elementos que constituem o conhecimento do todo para interferir na aplicação da lei; devem se limitar a aplicá-la , designar o conjunto. imparcialmente. A metonímia é processada a partir da escolha de um 7. em “João é meu braço direito” ou “ Steve dos elementos que compõem o MCI – os pés sujos – para Jobs era o cérebro da Apple”, têm-se enunciados em representar o todo – o boteco popular. que partes concretas do corpo foram utilizadas para representar qualidades abstratas atribuídas aos indivíduos Têm-se metonímias nos deslocamentos que ocorrem referenciados: há o deslocamento do concreto para entre entidades que compõem um mesmo MCI, um representar o abstrato, tal como ocorre nas transferências elemento substituindo o todo. Assim: metafóricas. 1. quando se usa o nome do autor pela obra, como 8. em “Marcus não tinha um vintém no bolso”, uma em “Ler Graciliano Ramos” em vez de “Ler um livro de parte do capital – um vintém (tipo de moeda antiga) é Graciliano Ramos” ; usado para representar o todo ou vice-versa; 2. quando se usa o continente pelo conteúdo, como 9. em “Ele não vale um tostão furado”, exemplo em em “Tomar um cálice de vinho” por “Tomar o vinho que que a matéria – tostão furado – é usada para representar está servido no cálice”; um produto; http://ead.ugf.br/ 7
  • 8. Leitura e Produção de Textos 10. “Tomou umas Brahmas e saiu dirigindo como um louco”, onde a marca é usada para substituir o tipo de produto; 11. “O brasileiro é, antes de tudo, um forte”, frase na qual Euclides da Cunha se refere a todos os brasileiros, usando o singular para representar o plural, ou seja, todos os brasileiros. Referências CHIAVEGATTO, Valeria Coelho. Gramática: uma perspectiva sociocognitiva. In: ______. (Org.) Pistas e Travessias II: bases para o estudo da gramática, da cognição e da interação. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2002. p. 131-212. FAUCONNIER, Gilles. Mental Spaces: aspects of meaning construction in natural language. Cambridge: Cambridge University Press, 1994. GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna. 18 ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2001. LAKOFF, G. The contemporary theory of metaphor. In: ORTONY, Andrew (Org.) Metaphor and Thought. Nova York: Cambridge University Press, 1993. p. 202-51. LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors: We live By. Chicago: University of Chicago Press, 1987. ______. Metáforas da vida cotidiana. Tradução de Maria Sofia Zanoto. Campinas: Mercado das Letras; São Paulo: Educ, 2002. MARTINS, Eliane. Leitura e produção de Texto I: LET 101. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho, UEAD. Disponível em: <http://www. gamavirtual.ugf.br>, p. 22-4. http://ead.ugf.br/ 8