1. O documento discute como a física aplicada pode ajudar atletas brasileiros a melhorarem seu desempenho nos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro.
2. Apresenta a performance brasileira nas Olimpíadas anteriores e sugere um novo índice para classificar os países levando em conta fatores como número de nações e atletas participantes.
3. Discutem como interações físicas nos esportes como posicionamento em curvas de corrida podem ser exploradas para ganhos de performance.
Investimentos no esporte brasileiro visando os jogos olímpicos
Como a física pode melhorar o desempenho de atletas brasileiros nos Jogos Olímpicos de 2016
1. Revista Brasileira de Ensino de F´
ısica, v. 34, n. 1, 2306 (2012)
www.sbfisica.org.br
Como a f´
ısica pode contribuir para melhorar o desempenho de atletas
brasileiros nos XXXI Jogos Ol´ ımpicos de Ver˜o de 2016
a
(How can Physics contribute to improve the performence of Brazilian athletes
at the XXXI Summer Olympics Games of 2016)
e ´
Amaro Jos´ da Silva Filho1 Alvaro Chispino e Jos´ Luiz Fernandes
e
Centro Federal de Educa¸˜o Tecnol´gica Celso Suckow da Fonseca, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
ca o
Recebido em 2/8/2010; Aceito em 23/6/2011; Publicado em 2/6/2012
Visa contribuir com atletas e para-atletas, por meio da F´ ısica Aplicada ao Desporto, de modo que estes pos-
sam mais facilmente conquistar melhores ´ ındices e resultados nos XXXI Jogos Ol´ ımpicos de Ver˜o que ocorrer˜o
a a
na Cidade do Rio de Janeiro, em 2016.
Palavras-chave: f´ ısica aplicada ao desporto, confiabilidade, desporto de alto rendimento, XXXI Jogos Ol´ımpicos
de Ver˜o de 2016.
a
It aims at to contribute with athletes and for-athletes by means of Physics Applied to Sport in such a way
that these can more easily achieve indices and results in XXXI Summer Olympics Games which will occur in
the City of Rio de Janeiro in 2016.
Keywords: physics applied to sport, reliability, sport of high income, XXXI Summer Olympics Games of 2016.
1. Introdu¸˜o
ca como se entende ser poss´ torn´-las vantajosas para
ıvel a
os desportistas do Atletismo como um todo.
Em vista da recente decis˜o tomada pelo COI – Comitˆ
a e
Ol´ ımpico Internacional quanto ` realiza¸˜o dos XXXI
a ca 2. A heran¸a ol´
c ımpica de um passado
Jogos Ol´ ımpicos de Ver˜o da Era Moderna de 2016,
a recente
em ter sua Sede Ol´ ımpica no Brasil, nada mais coe-
rente se pretender tomar parte dos eventos afins. Com Em Pequim, nos XXIX Jogos Ol´ ımpicos de Ver˜o de
a
efeito, dentre as participa¸˜es poss´
co ıveis, h´ de se in-
a 2008, apesar da modesta presen¸a de 2,64% do total de
c
cluir a do pesquisador ´vido por resultados atl´ticos
a e 10.500 atletas ol´
ımpicos, o Brasil bate mais um recorde
de incontrast´vel n´
a ıvel t´cnico e com maior confiabi-
e ao competir com 277 atletas. Agora, as 132 presen¸as c
lidade. Por isso, julgou-se pertinente buscar na F´ ısica femininas totalizam 47,7% da delega¸˜o brasileira, ou-
ca
Aplicada ao Desporto aquelas particularidades que pos- tro recorde, com 6 medalhas no total dentre as quais
sam contribuir para melhorar o desempenho de atle- 2 de ouro. Para os homens, 145 atletas ou 52,3% da
tas e para-atletas brasileiros nos desportos de alto ren- delega¸˜o, 9 foram as medalhas sendo 1 de ouro. Em
ca
dimento (“[...] esporte espet´culo” [1]). De pronto,
a vig´simo segundo lugar entre 204 na¸˜es participantes,
e co
num breve relato, fala-se da heran¸a ol´
c ımpica recente, o Brasil fica dentro do grupo seleto daqueles pa´ que
ıses
incluindo-se a ela um estudo sugestivo de como se deter- conquistaram medalhas de ouro, 87 ao todo. Das 28
minar a classifica¸˜o final dos participantes com menor
ca modalidades em 2004 passou-se agora para 32, ou seja,
grau de causalidade. Nesta sugest˜o, leva-se em conta
a 14,3% a mais, portanto, n˜o restam d´vidas quanto ao
a u
n˜o somente o quantitativo de medalhas de ouro, prata
a crescimento dos ultimos quatro anos [2]. No gr´fico da
´ a
e bronze como tradicionalmente se faz, mas tamb´m o e Fig. 1 a seguir, a Curva de Desempenho do Brasil nos
n´mero de na¸˜es participantes, bem como a totalidade
u co Jogos Ol´ ımpicos de Ver˜o da Era Moderna de 1920 a
a
de atletas competidores, os esportes que comp˜em a re-
o 2008 mostra a rela¸˜o entre o sugerido n´mero adimen-
ca u
ferida edi¸˜o dos Jogos e os eventos esportivos por es-
ca sional IRD - ´Indice Relativo de Desempenho, como se
portes praticados. Por fim, de maneira idˆntica, trata-
e denominou, e as datas em que o Brasil participou en-
se sobre as intera¸˜es f´
co ısicas nos desportos e do modo quanto uma Na¸˜o Ol´
ca ımpica. Esse ´
ındice proposto per-
1 E-mail: amarojs@hotmail.com.
Copyright by the Sociedade Brasileira de F´
ısica. Printed in Brazil.
2. 2306-2 Silva Filho et al.
mitiu classificar a atua¸˜o do pa´ nos Jogos com base
ca ıs esportivos por desporto praticado e o somat´rio indivi-
o
nos fatores a eles relacionados, tais como o n´mero de
u dual das medalhas ouro, prata e bronze de premia¸˜es.
co
na¸˜es participantes, o total de atletas ol´
co ımpicos, os es- Isto, tanto para a entidade Ol´
ımpica quanto para a en-
portes que compuseram a edi¸˜o avaliada, os eventos
ca tidade Brasil.
⌋
Figura 1 - Curva de desempenho do Brasil nos Jogos Ol´
ımpicos de Ver˜o da Era Moderna de 1920 a 2008, com base no IRD.
a
⌈
No c´lculo do IRD correspondente aos anos de par-
a que o Brasil n˜o participou por problemas econˆmicos,
a o
ticipa¸˜o, para um IRD ≥ 1, utilizou-se a Eq. (1) como
ca 1928. Nos anos em que si quer obteve-se classifica¸˜o, ca
descrita a seguir 1924, 1932 e 1936, o ´ ındice relativo de desempenho,
por conven¸˜o, registra o n´mero um. Por outro lado,
ca u
( ) 3× OO +2× 6 B +1× BB
OB P
PO BO
a linha poligonal descreve a tendˆncia do conjunto de
e
Ev O desempenhos.
Es O
IRD = (1) ´
E com este acervo e mais o que adquirir´ nos a
NB
NO × AO × Es B
AB Ev B
pr´ximos XXX Jogos Ol´
o ımpicos de Londres, marcados
onde NB → Na¸˜o Brasileira NO → Na¸˜es Ol´
ca co ımpicas, para 2012, que os atletas e para-atletas brasileiros mar-
AB → Atletas Brasileiros AO → Atletas Ol´ ımpicos, car˜o presen¸a nos XXXI Jogos Ol´
a c ımpicos de 2016, na
Es B → Esportes Brasileiros Es O → Esportes Cidade do Rio de Janeiro. At´ l´, deve-se somar es-
e a
Ol´ ımpicos, Ev B → Eventos Brasileiros Ev O → for¸os inclusive da f´
c ısica.
Eventos Ol´ ımpicos, OB → Ouro Brasileiro OO →
Ouro Ol´ ımpico, PB → Prata Brasileira PO → Prata
3. Intera¸˜es f´
co ısicas nos desportos:
Ol´ ımpica e BB → Bronze Brasileiro BO → Bronze
Ol´ ımpico. como torn´-las vantajosas
a
Com a curva assim tra¸ada procurou-se tirar de cena
c
3.1. A corrida nas curvas e suas particularida-
a conveniente classifica¸˜o por quantidade de medalhas
ca
des
ordenadas do ouro ao bronze e que, como se vˆ pela pre-
e
sen¸a dos numerais ordinais, ´ impr´pria e n˜o real¸a
c e o a c Muito se falou a respeito de Usain Bolt e isto se deve,
o efetivo desempenho dos desportistas. Por outro lado, obviamente, aos bons resultados obtidos por este atleta
dessa forma, reduz-se a causalidade propiciada por fa- nos XXIX Jogos Ol´ ımpicos de Pequim, 2008. N˜o obs-
a
lhas humanas. A curva exibe ainda os anos em que tante, como bem mostra a foto da Fig. 2 [3], observe-se
n˜o ocorreram os Jogos como 1940 e 1944 devido a Se-
a a posi¸˜o do referido corredor ao efetuar a curva numa
ca
gunda Grande Guerra Mundial, bem como o ano em competi¸˜o de 200 metros rasos. Note-se o quanto afas-
ca
3. Como a f´
ısica pode contribuir para melhorar o desempenho de atletas brasileiros nos XXXI Jogos Ol´
ımpicos de 2016 2306-3
tado da borda interna da raia, dado por ∆r, Bolt exe- Para confirmar veemente declara¸˜o, atente-se para
ca
cuta sua prova. Evidentemente um melhor posiciona- as competidoras das raias 3, 4 e 6, enumeradas da di-
mento seria aquele que tangenciasse a curva, sem, con- reita para a esquerda na Fig. 3. Perceba-se como se
tudo, lev´-lo a tocar na linha que delimita as raias.
a posicionam quase no centro das respectivas raias. Raias
Assim, n˜o seria desclassificado como o foram seus ad-
a estas, que a partir de 2004, “Regra 160.4” [5, p. 12],
vers´rios ol´
a ımpicos Wallace Spearmon (americano) e foram reduzidas de (1,25 ± 0,01) metros [6, p. 97]
Churandy Martina (caribenho) na final dos 200 metros para no m´ximo (1,22 ± 0,01) metros, cada uma. En-
a
rasos, corrida no Est´dio Ol´
a ımpico conhecido como “Ni- quanto isto, a atleta da raia 5, em posi¸˜o exemplar
ca
nho de P´ssaro”.
a relativamente ` raia, tangencia a curva numa bela de-
a
monstra¸˜o de aproveitamento deste recurso. Portanto,
ca
ao adotarem semelhante estrat´gia (exclusivamente na
e
curva), deixaram, com isso, de levar em conta o fato
de a linha branca do arco externo da raia em quest˜o,
a
bem como o arco adotado como trajet´ria no percurso,
o
apresentar medidas alg´bricas maiores do que a do arco
e
interno junto ` linha de medi¸˜o, como se demonstra a
a ca
seguir (Fig. 4).
Assim, da rela¸˜o existente entre a medida alg´brica
ca e
de um arco orientado qualquer, AB (ou CD, no caso),
ao longo de uma circunferˆncia de c´
e ırculo de centro em
O, como mostra a Fig. 4, seu respectivo raio vetor,r,
e o ˆngulo vetorial (ou argumento), ϕ (fi), dado pela
a
express˜o: AB = r ϕ, pode-se afirmar que CD > AB,
a
ou seja, que a trajet´ria CD, por hip´tese escolhida
o o
pela maioria das atletas daquela semifinal ol´ ımpica, foi
maior que a trajet´ria AB oficialmente utilizada como
o
a linha de “[...] medi¸˜o da pista”, “Regra 160.2” [7,
ca
8]. Com isto, a princ´ ıpio, as atletas deixaram de con-
quistar resultados mais significativos, fruto de tempos
sem d´vida maiores. Pois, mesmo que as velocidades
u
escalares tenham sido expressivas, houve desperd´ deıcio
Figura 2 - Corrida na curva durante uma prova de 200 metros energia, como no caso da velocista jamaicana Verˆnica o
rasos.
Campbell-Brown que venceu a disputa com o tempo
Mesmo nas Olimp´ ıadas ´ o que muito se vˆ (Fig. 3).2
e e oficial de 22,64 segundos, 1,30 segundos acima do re-
Atletas de alto rendimento deixando de usar, por im- corde mundial [9] de 21,34 segundos da americana Flo-
per´
ıcia, talvez, recursos a eles(as) dispon´
ıveis graciosa- rence Griffith Joyner, conquistado na Coreia do Sul,
mente, os quais, se devidamente aplicados com vistas ` a nos XXIV Jogos Ol´ ımpicos de Seul, em 1988. Por con-
aquisi¸˜o de melhores resultados, decerto contribuiriam
ca seguinte, Campbell correu a prova com a velocidade
para uma evolu¸˜o menos demorada de novas marcas.
ca m´dia de 8,83 m/s (≈ 31,8 km/h) contra os 9,37 m/s
e
(≈ 33,7 km/h) de Griffith, ou ainda com uma veloci-
dade m´dia cerca de apenas 5,76% menor daquela do
e
recorde mundial a qual, segundo o autor, seria desne-
cess´rio por se tratar de eliminat´ria. Ressalte-se que
a o
por vezes, at´ se chega a excelentes resultados ` custa de
e a
um desgaste maior ou muito maior do que o desej´vel, a
mas tudo por conta de extremas capacidades atl´ticas e
ocasionais, por´m sem o rigor das ciˆncias.
e e
Outra maneira de considerar a quest˜o em an´lise
a a
seria utilizar os dados contidos no modelo fornecido pela
CBAt, relativamente a “Pista Oficial de Atletismo” [10]
(Fig. 5). Neste modelo, nas partes central e esquerda
Figura 3 - Eliminat´ria dos 200 metros rasos feminino, Pequim
o da figura est˜o as informa¸˜es valiosas que ajudaram a
a co
2008. levantar os resultados pretendidos.
2 Conforme a Ref. [4].
4. 2306-4 Silva Filho et al.
Figura 4 - Trecho esquem´tico da curva de uma pista oficial de Atletismo.
a
⌈
Figura 5 - Pista oficial de Atletismo.
Figura 6 - Esquema representativo de parte da pista oficial de
Mas como se pode perceber, entretanto, a redu¸˜o ca Atletismo.
da pista trouxe impossibilidade ` leitura dos dados, as-
a
sim, achou-se por bem fazer uso do esquema a seguir, Agora, recorrendo-se a express˜o s = r γ e levando-
a
Fig. 6. Nele observa-se um ˆngulo γ (gama) com o
a se em conta que a linha de medi¸˜o afasta-se da borda
ca
valor de 42,5039◦ (≈ 0,741833 rad). Logo, com base interna da curva em 30 cent´ ımetros na primeira raia,
no ˆngulo raso, a soma dos ˆngulos α (alfa), β (beta)
a a aproximam-se ent˜o da medida deste arco de 27,30 me-
a
e γ (gama), d´ 180 graus, ou seja, α + β + γ = 180◦ .
a tros, com um raio total de 36,80 metros, j´ inclu´
a ıdos os
De fato, se α = γ, chega-se a um valor para β igual a 30 cent´ımetros a mais.
94,9922◦ (≈ 1,65793 rad), ao se considerar a precis˜o a Da´ para o arco relativo ao ˆngulo β e o mesmo
ı, a
mantida pelos seis algarismos significativos em quest˜o.
a raio r de antes, tem-se outro arco s′ medindo cerca de
5. Como a f´
ısica pode contribuir para melhorar o desempenho de atletas brasileiros nos XXXI Jogos Ol´
ımpicos de 2016 2306-5
61,01 metros. Portanto, toda a curva, da tangente B lhe daria, em conclus˜o, um ganho de 11 cent´simos de
a e
a tangente C, no sentido hor´rio, mede nada menos
a segundo ou, em termos porcentuais, 0,4859% (0,5%).
que 115,61 metros, ou seja, 2 x 27,30 m + 61,01 m = Na opini˜o do autor, informa¸˜es como estas n˜o deve-
a co a
115,61 m. Note-se que este mesmo resultado poderia riam ficar a margem do processo de prepara¸˜o de atle-
ca
ser obtido multiplicando-se o raio de 36,80 metros pelo tas de alto rendimento, uma vez que 57,8% da prova
ˆngulo raso de π radianos, equivalente aos 180 graus
a dos 200 metros rasos desenvolvem-se na curva, ficando
do ˆngulo BC. Para conferir este resultado, dobra-se
a para a reta final apenas os 42,2% restantes.
o valor de 115,61 metros devido `s duas curvas e, da
a No Tabela 2 indicam-se as medidas correspondentes
mesma forma, dobra-se o valor de 84,39 metros refe- aos pontos de referˆncia em uma raia gen´rica (Fig. 7)
e e
rente `s duas retas que completam a volta da prova dos
a para as provas de 200 e 400 metros rasos.
400 m rasos e, com efeito, contata-se a identidade, pois
2 x 115,61 m + 2 x 84,39 m = 400,00 metros. 3.1.1. Outra situa¸˜o relevante a se permitir
ca
Por conseguinte, se nesta primeira raia o(a) atleta nas curvas
resolver correr ao longo da linha m´dia, estar´ acrescen-
e a
Dentre todas as for¸as em estudo, a for¸a de press˜o,
c c a
tando ao raio de 36,80 metros, mais 31 cent´ ımetros. Ou
F p (onde |F p | = pA, para p = press˜o (exercida por
a
seja, o novo raio ser´ de 37,11 metros. Com isto, o com-
a
fluido) e A = ´rea da superf´
a ıcie sob press˜o), talvez
a
primento da curva tamb´m aumenta indo agora para
e
seja a unica que possa ser considerada imparcial. Isto
´
116,58 metros, com um incremento de 97 cent´ ımetros
porque, at´ onde se percebe, esta parece n˜o depender
e a
ou em torno de 0,83% da curva. Por extens˜o, paraa
das caracter´ ısticas do(a) atleta quanto ao perfil, se es-
todas as outras raias, a eleva¸˜o chegaria a 1,27 me-
ca
guio ou achaparrado. Portanto, salvo rea¸˜es orgˆnicas
co a
tros ou 1,09% da curva, aproximadamente, j´ que para
a
individuais n˜o tratadas na presente an´lise, bem como
a a
as sete raias externas a linha de medi¸˜o situa-se a 20
ca
eventuais flutua¸˜es pontuais do fluxo atmosf´rico, pas-
co e
cent´ımetros do arco interno das respectivas raias (Ta-
sivas de ocorrerem num Est´dio Ol´
a ımpico, a press˜o do
a
bela 1).
ar atmosf´rico ser´ a mesma para todos(as) os(as) com-
e a
Em virtude de uma conduta semelhantemente sub- petidores(as) locais.
jetiva, causada a princ´ ıpio por erro humano (ne- Por outro lado, o mesmo n˜o se pode dizer quanto ao
a
gligˆncia, imper´
e ıcia, imprudˆncia ou mesmo fortuitos
e peso pr´prio, P (onde P = m g ), do(a) atleta, pois este
o
como, por exemplo, esquecimento de fundamentos), depende da massa, m, de seu corpo e da “acelera¸˜o [lo- ca
o(a) atleta ficaria sujeito a outra consequˆncia. Pois,
e cal] da gravidade” [11, p. 1-4], g , comum a todos(as).
com o aumento n˜o oficial, mas volunt´rio da trajet´ria
a a o Do volume submerso, Vsub , do corpo do(a) competi-
curvil´ınea, e tendo-se em conta a defini¸˜o de velocidade
ca dor(a), al´m de outros parˆmetros e, por consequˆncia,
e a e
escalar m´dia, vm (vm = ∆x , onde ∆x = espa¸o percor-
e ∆t c do peso pr´prio aparente, P + E (onde E = Vsub ρliq
o
rido e ∆t = tempo decorrido ao longo de ∆x ), ou: (1) g , para E = empuxo e ρliq = massa espec´ ıfica do fluido
Aumenta-se a velocidade para se manter o tempo inal- em quest˜o), tamb´m. Assim, igualmente o ´ ` for¸a
a e e a c
terado (o que, a princ´ ıpio, demandaria maior potˆncia,
e de rea¸˜o normal ou “de v´
ca ınculo” [12, p. 238-286], N ,
P , visto que P = F × v); ou (2) tem-se o tempo aumen- enquanto agente equilibrador desse peso pr´prio apa- o
tado por se manter a velocidade constante (medida esta, rente. E mais, sob o mesmo ponto de vista, a “for¸a c
indesej´vel). H´, contudo, um meio termo que tamb´m
a a e de atrito est´tico” [13], F ae (onde 0 ≤ F ae ≤ µe N ,
a
poderia ocorrer, qual seja (3) o de aumentar em con- para µe = coeficiente de atrito est´tico), que depende
a
junto tanto a velocidade quanto o tempo (perder-se-ia da for¸a normal, e por ultimo, de acordo com estudos
c ´
um pouco no tempo, por´m a potˆncia exigida seria
e e realizados [14, 15, p. 115], a for¸a de “resistˆncia do
c e
menor). Portanto, das trˆs hip´teses, parece que a de
e o ar”, F r (onde |F r |= 1/2 C D ρ A v 2 , para CD = “co-
n´mero um ´ a melhor ou, por assim dizer, menos ruim,
u e eficiente de resistˆncia ao arrasto”), por depender da
e
uma vez que a pretens˜o ´ sempre a de supera¸˜o. To-
a e ca a
´rea transversal, A, do corpo do(a) corredor(a), assim
davia, mais arrojado seria (4) aumentar em muito a como de sua velocidade, v .
velocidade (mesmo em detrimento do desgaste), para Com efeito, na curva, uma s´tima for¸a efetivamente
e c
assim superar o tempo com um novo recorde. Com isto, se permite sentir, independentemente do(a) competi-
volta-se ao in´ da proposta, ou seja, basta correr no
ıcio dor(a). Do ponto de vista do(a) atleta, esta for¸a age c
m´ximo, sobre a linha de medi¸˜o.
a ca como se o(a) puxasse para fora da curva, permitindo-
Inegavelmente, o tempo de 22,64 segundos da velo- lhe inclinar-se contrariamente, isto ´, para dentro da
e
cista Verˆnica Campbell-Brown da Jamaica (Fig. 3),
o curva. Esta a¸˜o, justificada com outros argumentos
ca
poderia reduzir-se para 22,53 segundos se ao inv´s de e por um observador inercial ou galeliano,3 se deve a for¸a c
percorrer a curva pela sua linha m´dia, na raia 4, ela a
e centr´ıfuga, F cf (onde F cf = −ma ct , para a ct = ace-
tivesse feito pela linha de medi¸˜o da mesma raia, o que
ca lera¸˜o centr´
ca ıpeta).
3 Conforme a Ref. [16].
6. 2306-6 Silva Filho et al.
Tabela 1 - Rela¸˜o das medidas calculadas para a curva, com 8 raias, de uma pista oficial de atletismo.
ca
Ordem Discrimina¸˜o
ca Medidas (em metro) por raias
A Raias 1 2 3 4 5 6 7 8
B Larguras das raias 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22
C Raios internos das raias 36,50 37,72 38,94 40,16 41,38 42,60 43,82 45,04
D Afastamentos das bordas internas das li- 0,30 0,20 0,20 0,20 0,20 0,20 0,20 0,20
nhas de medi¸˜es da pista, nas raias
co
E Raios das linhas de medi¸˜es da pista,
co 36,80 37,92 39,14 40,36 41,58 42,80 44,02 45,24
nas raias
F Raios das linhas m´dias das raias
e 37,11 38,33 39,55 40,77 41,99 43,21 44,43 45,65
G Comprimentos das curvas, sobre as li- 115,61 119,13 122,96 126,79 130,63 134,46 138,29 142,13
nhas de medi¸˜es da pista
co
H Acr´scimos aos comprimentos das cur-
e 0,00 3,52 7,35 11,18 15,02 18,85 22,68 26,52
vas, devido aos afastamentos laterais (re-
ferˆncia G1)
e
I Comprimentos das raias na curva para a 115,61 115,61 115,61 115,61 115,61 115,61 115,61 115,61
prova dos 200 m rasos, sobre as linhas de
medi¸˜es da pista
co
J Comprimentos das curvas sobre as linhas 116,58 120,42 124,25 128,08 131,92 135,75 139,58 143,41
m´dias das raias
e
K Acr´scimos aos comprimentos das raias
e 0,97 1,29 1,29 1,29 1,29 1,29 1,29 1,29
na curva, devido `s localiza¸˜es das li-
a co
nhas m´dias (J1 - G1)
e
L Acr´scimos aos comprimentos das cur-
e 0,00 3,84 7,67 11,50 15,34 19,17 23,00 26,83
vas, devido aos afastamentos laterais (re-
ferˆncia J1)
e
M Comprimentos das raias na curva para a 116,58 116,58 116,58 116,58 116,58 116,58 116,58 116,58
prova dos 200 m rasos, sobre as linhas
m´dias das raias
e
N Valor utilizado para π na express˜o a 3,141592654
s = r γ, onde γ ´ expresso em radianos
e
Fonte: Dados levantados a partir das informa¸oes contidas no modelo da Pista Oficial de Atletismo divulgado pela CBAt.
c˜
Dispon´ em http://www.cbat.org.br/pistas/pista_oficial_cbat.pdf. Acesso em 18/5/2009.
ıvel
⌈
Tabela 2 - Pontos de referˆncia da raia.
e travam os atletas ao passarem pela curva no instante do
acionamento do disparador das respectivas cˆmeras fo-
a
a b c
200,00 m 200,97 m 201,95 m
togr´ficas. Para o t´cnico Ahylton da Concei¸˜o (1929-
a e ca
400,00 m 401,94 m 403,90 m 2002), neste momento, as inclina¸˜es tanto para o lado
co
da curva quanto para frente, deveriam ser as mais acen-
tuadas poss´ıveis, e bradava: “[...] olhe p’ra dentro da
curva...”. Ao atender o comando, o(a) atleta n˜o s´a o
demonstrava disciplina como aprendia o quanto lhe be-
neficiava esta t´cnica, apesar da dificuldade que sentia
e
em superar o receio de cair.
Figura 8 - Fotos de atletas percorrendo a curva numa pista de
Figura 7 - Detalhes de um trecho da curva da pista oficial de Atletismo.
Atletismo.
E como justificar fisicamente esta pr´tica? Antes de
a
Deste modo, aproveitando as duas fotos acima, avaliar as raz˜es do mando acima, contudo, perceba-
o
Fig. 8, ´ poss´ ilustrar o quanto inclinado se encon-
e ıvel se na “Foto 1” (Fig. 8), relativamente a “Foto 2”,
7. Como a f´
ısica pode contribuir para melhorar o desempenho de atletas brasileiros nos XXXI Jogos Ol´
ımpicos de 2016 2306-7
uma maior inclina¸˜o lateral. Tamb´m, al´m da de-
ca e e resistˆncia do ar, F r , exercida pela a¸˜o do “[...] vento
e ca
termina¸˜o pessoal de cada atleta de assim executar
ca aparente” [17], centr´ ıfuga, F cf , cujo “[...] efeito [...] ´
e
ou n˜o o determinado pelo t´cnico, admita-se, por
a e causado [...] pela in´rcia” [18, p. 144] e do peso pr´prio
e o
hip´tese, como de interesse tal procedimento.
o aparente, P + E , num esfor¸o para dar ao todo um
c
Pois bem, tanto a velocidade escalar (rapidez), v, aspecto tridimensional.
cuja varia¸˜o instantˆnea se d´ por conta da acelera¸˜o
ca a a ca Assim, enquanto a componente normal, F ct , do
tangencial, a tg , devido a equivalente componente do atrito est´tico, impede que o p´ do(a) atleta derrape
a e
atrito est´tico, F ae , situada entre a pista e o p´ ou sa-
a e lateralmente para fora da curva, arrastado por inteiro
patilha do corredor na tangente ` curva, quanto ` ace-
a a pela a¸˜o real da for¸a centr´
ca c ıfuga, F cf , e que o(a) leva
lera¸˜o centr´
ca ıpeta, a ct , gerada pela componente normal a inclinar-se para dentro da curva (somente reprodu-
(radial) do atrito est´tico, F ae , ao longo da reta que
a zida na Fig. 10), tamb´m contribui com a acelera¸˜o
e ca
passa pelo centro, O, da curva, s˜o por assim dizer, em
a normal, a N , incumbida de mudar a dire¸˜o de sua ve-
ca
conjunto, os esteios deste conhecimento usual ilustrado locidade, v . Esta acelera¸˜o, por vezes chamada de
ca
na Fig. 9. acelera¸˜o centr´
ca ıpeta, a ct , tamb´m permite justificar a
e
diferen¸a entre as inclina¸˜es dos atletas na Fig. 8 (ve-
c co
locidade na Foto 1, maior que velocidade na Foto 2).
Da mesma forma, a componente tangencial, F tg , do
atrito est´tico, n˜o permite o escorregamento de seu p´
a a e
para tr´s, como igualmente o faz enquanto a trajet´ria
a o
ınea, e ainda produz a acelera¸˜o tangencial, a tg ,
´ retil´
e ca
respons´vel pela varia¸˜o, aumento no caso, da inten-
a ca
sidade da velocidade, v .
Al´m disso, com base na segunda lei de Newton
e
relacionam-se, na Eq. (2), em m´dulo, a for¸a de atrito,
o c
Ftg , tangente a curva, a massa, m, do(a) atleta e a
acelera¸˜o tangencial, atg , ou a varia¸˜o temporal da
ca ca
velocidade escalar, v, desenvolvida. J´ na Eq. (3), as
a
grandezas velocidade escalar, v, do(a) velocista e sua
Figura 9 - Decomposi¸ao conjunta da for¸a de atrito est´tico,
c˜ c a massa, m, bem como o raio, R (seguimento OP, nas
Fae, e da acelera¸˜o, a, tangente a linha de medi¸˜o.
ca ca
Figs. 8 e 9), da trajet´ria curva e a for¸a centr´
o c ıpeta,
No esquema dessa Fig. 9, arbitrariamente no ponto Fct .
P da linha de medi¸˜o da pista, na curva, pretendeu-se
ca
relacionar as acelera¸˜es produzidas pelas componentes
co
F = m × a = m × dv ,
tg
normal e tangencial da for¸a de atrito, bem como a ve-
c
tg (2)
locidade, v , inerente a uma massa, m (do corpo do(a) dt
atleta), supostamente constante. Adiante, na Fig. 10,
v2
estendeu-se em detalhes ao lan¸ar m˜o das for¸as de
c a c Fct = m × act = m × . (3)
R
Figura 10 - For¸as que atuam no atleta enquanto faz a curva na pista de Atletismo.
c
8. 2306-8 Silva Filho et al.
Em s´ ıntese, entende-se que seja este um legado cronˆmetros utilizados (partida eletrˆnica), com con-
o o
util aos(as) velocistas praticantes, enquadrando-se, por-
´ sistˆncia, os c´lculos levar˜o os ju´
e a a ızes a acusarem a
tanto, dentre todos aqueles conhecimentos que podem mesma “velocidade m´dia” [21] para os dois. Enfim,
e
ser transmitidos aos interessados, com a profundidade empatados.
devida. Mas se o atleta modelo B percorreu um espa¸o maior
c
no mesmo tempo que o atleta modelo A, deveria, por
3.2. Um ziguezague inoportuno para velocistas isso, ter uma velocidade m´dia maior e, por conse-
e
guinte, ganhar a prova. E de fato. S´ que no Atle-
o
Algumas largadas s˜o tensas. Exigem n˜o somente
a a tismo, as metragens j´ est˜o definidas. Sendo assim,
a a
concentra¸˜o (“[...] velocidade de rea¸˜o motora” [19,
ca ca n˜o se computam “doa¸˜es”, pois o que vale, no caso, ´
a co e
p. 339-343]), mas antes de tudo, muito, mais muito o menor tempo. O mesmo ocorre nos saltos em altura
treinamento. Mesmo assim, n˜o raro, atletas de alto
a e com vara, quando os(as) atletas v˜o al´m ou muito
a e
rendimento deixam de se beneficiarem quando, ap´s a o al´m da posi¸˜o dos respectivos sarrafos. S˜o as re-
e ca a
explosiva sa´ do bloco, ziguezagueiam durante os pri-
ıda gras. Injustas ou n˜o, os acr´scimos sobre sarrafos e
a e
meiros segundos tanto na prova dos 100 metros rasos percursos n˜o s˜o registrados, em que pese o est´gio da
a a a
quanto nas provas do salto em distˆncia e salto triplo.
a tecnologia dos dias de hoje (2009).
Contra este comportamento impr´prio, o t´cnico
o e Ent˜o, se argumentos como o de aproveitamento dos
a
Ahylton da Concei¸˜o agia com o rigor da raz˜o. E
ca a acr´scimos sobre os sarrafos dos saltos em altura e com
e
para combatˆ-lo, ele inclu´ nos treinamentos in´meras
e ıa u vara, a partir de dispositivos eletrˆnicos de detec¸˜o,
o ca
repeti¸˜es de sa´ de bloco, com o bloco situado sobre
co ıda n˜o sejam suficientes para alterar as regras, que se passe
a
a linha divis´ria das raias. Com isto, esperava condici-
o rente aos sarrafos. Se pular sobre as barreiras (Fig. 12)
onar seus atletas, inclusive o autor, a correr em linha [22], indo-se muito acima das metragens convenciona-
reta, sem ziguezague, n˜o deixando, assim, que se per-
a das para as provas de 100 e 400 metros com barreiras
dessem os preciosos mil´simos de segundos os quais, um
e (feminino), 110 e 400 metros com barreiras (masculino)
percurso maior decerto encobriria. Deste modo, com ou 3000 metros com obst´culos (masculino e feminino),
a
mais este pequeno detalhe, contribu´ para resultados
ıa amplia os tempos das respectivas provas, que se passe
desej´veis e n˜o depreciativos.
a a ent˜o rente as barreiras ou, como afirma Dyson [23,
a
Sem d´vida isto vale uma demonstra¸˜o. Por isso, a
u ca p. 136]:
fim de esclarecer, a seguir comparam-se os desempenhos
de dois atletas modelos imagin´rios (Fig. 11).
a “[...] Uma inclina¸˜o acentuada ` frente e
ca a
O atleta modelo A, com o melhor tempo brasileiro uma boa sincroniza¸˜o dos movimentos dos
ca
nos 100 metros rasos, 10,00 segundos cravados (tempo bra¸os e pernas permite a passagem sobre
c
eletrˆnico, semelhantemente ao tempo do recordista
o a barreira de forma econˆmica. Com o cen-
o
Robson Caetano da Silva em 1988, no M´xico, segundo
e tro de massa pr´ximo a barreira, pode-se
o
a CBAt [20]), percorre os primeiros 20 metros da prova voltar rapidamente ao ch˜o. Em vez disso,
a
sem ziguezaguear. O segundo atleta, o atleta modelo uma passagem mal feita conduz a perda de
B, no entanto, ao inv´s de correr em linha reta como
e tempo no ar.” (Tradu¸˜o nossa).
ca
o fez o atleta modelo A, inadvertidamente, desloca-se
todo ziguezagueante. Portanto, se correr em ziguezague leva a um per-
Apesar da sa´ ıda impec´vel de ambos, sem des-
a curso maior e reduz as chances de recorde, corra-se em
vios de simultaneidade na precis˜o de cent´simos dos
a e linha reta.
Figura 11 - Corrida em pista reta e plana com e sem ziguezague.
9. Como a f´
ısica pode contribuir para melhorar o desempenho de atletas brasileiros nos XXXI Jogos Ol´
ımpicos de 2016 2306-9
dos retos ser´ menor do que a soma de todos os outros
a
dois. Da´ nas simula¸˜es de triˆngulos seq¨enciados
ı, co a u
∆OAP, ∆PBQ, ∆QCR e ∆RDS (etc.), Figs. 13 e 14 a
seguir, a soma dos lados OP, PQ, QR e RS (etc.), ser´
a
menor que a soma dos lados OA, AP, PB, BQ, QC, CR,
RD e DS (etc.). Nos esquemas I, II e III, simulam-se
as superposi¸˜es das trajet´rias proposta na Fig. 11.
co o
Neles o ziguezague do atleta modelo B, tem amplitude
constante.
J´ na Fig. 14, nos esquemas IV, V, e VI que simu-
a
lam as mesmas superposi¸˜es, o ziguezague apresentado
co
´ proporcional a extens˜o das passadas. Enquanto as
e a
Figura 12 - Prova de barreiras com vistas a Pequim 2008. passadas do atleta modelo B, em IV, foram relativa-
Afinal, em qualquer triˆngulo plano, cada lado ´ me-
a e mente menores daquelas do atleta modelo A, a ampli-
nor do que a soma dos outros dois e maior do que a sua tude do ziguezague reduziu-se; quando as passadas au-
diferen¸a. Assim, afirma o autor, se a corrida em zigue-
c mentaram, em VI, o afastamento lateral ampliou-se.
zague permite sequenciar triˆngulos no plano por seus
a Na sequˆncia, os esquemas II e V, idˆnticos, foram as
e e
v´rtices, de modo a manter o maior lado alinhado, para
e referˆncias. Neles as passadas e as amplitudes dos zi-
e
um n´mero arbitr´rio de triˆngulos, a soma destes la-
u a a guezagues s˜o iguais.
a
Figura 13 - Esquema da superposi¸ao, em trˆs etapas, de corridas em ziguezague e em linha reta.
c˜ e
Figura 14 - Esquema da superposi¸ao, em trˆs etapas, de corridas em ziguezague e em linha reta.
c˜ e
10. 2306-10 Silva Filho et al.
Por conseguinte, percebe-se nos esquemas II e V
que o atleta modelo B perde a corrida exclusivamente
por conta dos ziguezagues, j´ que manteve, no mesmo
a
tempo, igual n´mero de passadas idˆnticas as do atleta
u e
modelo A. Nos esquemas I e IV, al´m dos ziguezagues,
e
somou-se ` derrota do atleta modelo B, o encurtamento
a
das passadas. Entretanto, nos esquemas III e VI, ape-
sar dos ziguezagues, a vit´ria do atleta modelo B se deu
o
por raz˜o do alargamento das passadas, fruto de sua
a
inclina¸˜o ` frente (e n˜o de uma poss´
ca a a ıvel e eventual
perna maior), independentemente da maior amplitude
das oscila¸˜es, mas com o preju´ por ter alcan¸ado
co ızo c
um tempo maior para o trajeto, tempo este que seria
menor n˜o fossem os ziguezagues.
a
Quando do in´ deste imprudente ziguezaguear, se
ıcio Figura 16 - Postura do atleta com inclina¸˜o ` frente.
ca a
a dire¸˜o efetiva do contato do atleta com a pista, por
ca
meio da sapatilha-de-prego ou de seu p´, n˜o apontar
e a Todavia, a postura esbo¸ada nesta figura somente ´
c e
objetivamente na dire¸˜o da corrida, o ˆngulo, θ (teta),
ca a poss´ıvel, sem escorregadelas, mediante o grande atrito
entre estas duas dire¸˜es, se maior que zero, reduzir´
co a (n˜o exibido na figura) existente entre a sapatilha-de-
a
a componente da acelera¸˜o longitudinal, a L (a L =a
ca prego e a piso sint´tico comum nas provas de pista.
e
cosθ), devido o surgimento de uma acelera¸˜o transver-
ca Deste modo, ao lan¸ar o tronco para frente, o(a) atleta
c
sal, a T (a T = a senθ), inconveniente e isto afetar´ aa tende a cair em virtude da linha de a¸˜o de seu peso
ca
velocidade, v , com a qual o percurso deveria ser ex- pr´prio, P, se projetar ortogonalmente fora da base
o
plorado. Sua justificativa pode ser encontrada na se- de sustenta¸˜o de seu corpo. Neste momento, numa
ca
gunda lei de Newton (Eq. (2)), onde a for¸a de atrito
c atitude preventiva, eleva-se o joelho ao m´ximo e na
a
est´tico, F ae , rea¸˜o do solo juntamente com a for¸a
a ca c cadˆncia da rapidez com que se desenvolve o movi-
e
normal, N , divide-se como mostra a Fig. 15 anterior, mento ` frente, empurrando o ch˜o para tr´s enquanto
a a a
mesmo estando na reta. Como afirmava o t´cnico Ahyl-
e distende-se a perna apoiada, flutua-se em seguida, con-
ton da Concei¸˜o, “[...] [a] posi¸˜o do p´ dever´ estar
ca ca e a forme descreve Perelman [26, p. 31-32], por meio da
na dire¸˜o do deslocamento.” [24, p. 4].
ca Fig. 17.
Figura 17 - Esquema do movimento do p´ ao correr.
e
Na Fig. 17, mostra-se as ocasi˜es (em b, d e f ) em
o
que o(a) corredor(a) mant´m ambos os p´s movendo-
e e
Figura 15 - Decomposi¸ao da acelera¸˜o, a, do movimento.
c˜ ca se sem apoio, como que a “flutuar” no pequeno lapso
de tempo. Nisto, acentua Perelman [27, p. 32], “[...]
3.3. A gravidade, o atrito e a amplitude das consiste a diferen¸a entre correr e andar”.
c
passadas
Para este treinamento espec´ ıfico, o t´cnico Ahyl-
e
Nos esquemas III e VI das Figs. 13 e 14, constatou- ton da Concei¸˜o utilizava-se da corrida em diagonal
ca
se vantagem devido ` amplid˜o das passadas man-
a a tanto nas arquibancadas quanto no campo da sede do
tidas durante a competi¸˜o. Semelhante benef´
ca ıcio ´
e Botafogo de Futebol e Regatas em General Severiano,
poss´ quando, durante a corrida, o(a) atleta projeta
ıvel no Rio de Janeiro, numa pretensiosa imita¸˜o dos am-
ca
seu tronco ` frente, de modo a se deixar puxar adiante
a plos saltos dos cangurus australianos, analogamente ao
pela a¸˜o gravitacional (“[...] atra¸˜o gravitacional”
ca ca para-atleta Antˆnio Delfino de Souza,4 Fig. 18. E, in-
o
[25, p. 273-282]), como, ali´s, esta reproduzida a seguir
a cansavelmente, repetia: “[...] vocˆs precisam sair do
e
(Fig. 16). ch˜o”.
a
4 Conforme a Ref. [28].
11. Como a f´
ısica pode contribuir para melhorar o desempenho de atletas brasileiros nos XXXI Jogos Ol´
ımpicos de 2016 2306-11
No entanto, n˜o h´ d´vidas quanto ` busca de meios
a a u a
tecnol´gicos que contribuam efetivamente para os estu-
o
dos da melhoria dos resultados atl´ticos. Acredita-se
e
que a cria¸˜o de um dispositivo baseado na transdu¸˜o
ca ca
dos pulsos el´tricos gerados pelas tens˜es de compress˜o
e o a
exercidas pelo(a) atleta ao longo do corredor de apro-
xima¸˜o, no salto em distˆncia ou em uma corrida ou-
ca a
tra qualquer, seja relevante. Desta maneira, com a uti-
liza¸˜o de sensores piezoel´tricos (“c´lulas de cargas”),
ca e e
poder-se-ia registrar as dura¸˜es e as varia¸˜es da cor-
co co
rente el´trica do arranjo, vindo assim n˜o somente aferir
e a
a impuls˜o do atleta nos saltitar das corridas, sua for¸a
a c
sobre o solo, sua acelera¸˜o, sua velocidade ou outras
ca
grandezas, bem como contribuir com a Biomecˆnica.a
Segundo a “Regra 128. 2” [30, p. 81-82] ou “Regra
129.3” [31, p. 6]:
´
“O Arbitro de Partida dever´ colocar-se de
a
tal maneira que tenha o controle visual de
todos os competidores durante o desenrolar
Figura 18 - Atleta em treinamento de eleva¸˜o de perna.
ca
´
da partida. E recomendado, especialmente
para as sa´
ıdas escalonadas, que alto-falantes
3.4. Considera¸˜es
co
sejam utilizados em raias individuais para
Durante as provas oficiais do Atletismo nos Jogos transmitir os comandos aos participantes.
Ol´ımpicos, algumas medi¸˜es f´
co ısicas s˜o realizadas. Me-
a ´
Nota: O Arbitro de Partida deve posicio-
didas de tempo, distˆncia, altura e velocidade do vento
a nar-se de maneira que todos os participan-
s˜o as mais corriqueiras. Outras, no entanto, para cum-
a tes estejam em seu ˆngulo de vis˜o. Para
a a
primento das regras vigentes poderiam ser solicitadas corridas com sa´ ıdas baixas ´ necess´rio que
e a
ou determinadas pelos ´rbitros, como as medidas das
a ele ent˜o se posicione de modo que possa
a
massas (ou pesos) dos artefatos, tais como o dardo, o verificar que todos os participantes estejam
martelo ou o peso. O centro de massa do dardo e at´ e corretamente posicionados em seus lugares
mesmo, num exagero extremo, a granulometria ou den- antes do disparo da pistola ou do aparelho
sidade da areia contida na caixa de areia dos saltos de partida aprovado. Quando alto-falantes
horizontais. n˜o s˜o usados em corridas escalonadas,
a a
Contudo, ainda na atualidade, depara-se com si- ´
o Arbitro de Partida dever´ posicionar-se
a
tua¸oes adversas como as descritas pelo f´
c˜ ısico P. Kirkpa- de maneira que a distˆncia entre ele e
a
´
trick que, conforme Alvares [29, p. 146-149], com pro- cada competidor seja aproximadamente a
priedade, critica os processos de medi¸˜es, lan¸ando so-
co c mesma. Quando, entretanto, o Arbitro ´
bre estes suspeitas quanto ao nivelamento dos terrenos de Partida n˜o puder se posicionar em tal
a
nas provas de arremesso de peso e similares, martelo, posi¸˜o, o rev´lver ou aparelho de partida
ca o
disco e dardo. Da precis˜o dos cronˆmetros e dos siste-
a o aprovado dever´ ser posicionado na posi¸˜o
a ca
mas eletrˆnicos a eles interligados, quando das largadas
o correta e disparado por controle remoto.”
das provas de pista, particularmente daquelas escalona- (grifo nosso).
das efetuadas nas curvas. Ou ainda, na compara¸˜o de ca
resultados e recordes ol´ ımpicos devido ` varia¸˜o so-
a ca O trecho descrito acima consta das regras oficiais
frida pela gravidade local, g (L, A), mostrada a seguir divulgadas pela IAAF, por´m, tais cuidados n˜o des-
e a
(Eq. (4)) fazem as cr´ıticas de Kirkpatrick, at´ porque, em com-
e
peti¸˜es de “menor importˆncia” n˜o se vˆ alto-falante
co a a e
g = g (L, A) = 978, 0490 + 5, 1723 × sen2 (L) − junto aos blocos nas corridas escalonadas. Outra apre-
( ) cia¸˜o cab´
ca ıvel diz respeito ` ´rea dos arremessos, n˜o
aa a
2×G×M
0, 0058 × sen2 (2 × L) − × A, (4) quanto ao desnivelamento do terreno em que se arre-
R3 messam os pesos e martelos, mas quanto ` resistˆncia
a e
onde L e A s˜o, respectivamente, a latitude e a altitude
a a
` penetra¸˜o que este terreno possa oferecer, uma vez
ca
do lugar e G a constante da gravita¸˜o, com o valor de
ca que na ´rea em uso, pela extens˜o, partes menos resis-
a a
6,670 x 10−7 N cm2 /kg2 ; M a massa da Terra, com o tente permitiriam maior penetra¸˜o do peso, podendo
ca
valor de 5,98 x 1024 kg; e R o raio m´dio da Terra, com
e sobrevir, deste modo, erros grosseiros na aferi¸˜o do
ca
o valor de 6,37 x 108 cm. arremesso como indica a Fig. 19.
12. 2306-12 Silva Filho et al.
Figura 19 - Detalhes do arremesso de peso.
⌈
Nesta Fig. 19, simulou-se um peso de massa igual na¸˜es. J´ para a melhoria do desempenho de atletas
co a
a 7,260 kg, “[...] [peso] m´ ınimo [...] admitido [para] e para-atletas, em particular no Atletismo, analisou-se
competi¸˜o e homologa¸˜o de recordes”, com diˆmetro
ca ca a alguns pontos considerados de importˆncia para a ob-
a
de 120 mil´ ımetros (m´dia entre 110 mm e 130 mm),
e ten¸˜o de resultados t´cnicos relevantes, sem ´ claro,
ca e e
previstos na “Regra 188.5” [32, p. 159]. Neste en- desmerecer com isso aqueles outros pontos n˜o trata-
a
saio, admitiu-se o peso A caindo sobre a parte resistente dos presentemente. Assim, e com a F´ ısica Aplicada
do setor de lan¸amento, enquanto o peso B, caindo na
c ao Desporto, espera-se tornar os bons resultados mais
parte menos resistente. Com isso, observa-se o peso B acess´ıveis.
mais atolado no terreno do que o peso A. O erro ∆r, pas- Note-se, que em momentos distintos da reda¸˜o ca
sivo de ser cometido na aferi¸˜o, ser´ m´ximo quando
ca a a permitiu-se concordar e discordar de textos consagra-
∆r = r. Em s´ ıntese, apesar de os CM (Centro de dos por autores de renome. Em tais oportunidades fi-
Massa) de ambos os pesos estarem sobre o mesmo arco cara ´bvia a escolha adotada. E mais, a n˜o percep¸˜o
o a ca
e, portanto, igualmente afastados do centro do c´ ırculo de correla¸˜es triviais com Biof´
co ısica, Biomecˆnica, Ci-
a
de arremesso dos pesos, a medida alcan¸ada pelo arre-
c nesiologia e Fisiologia, apesar da possibilidade de co-
messador do peso B, ser´ ∆r menor do que a medida
a opera¸˜o m´tua, destacam, sem embargo, as contri-
ca u
alcan¸ada pelo arremessador do peso A. Sendo assim,
c bui¸˜es que a F´
co ısica Aplicada ao Desporto pode adi-
semelhante erro somente ser´ corrigido se a medi¸˜o for
a ca cionar aos Desportos (Esportes) de alto rendimento.
efetuada pelo centro de massa dos pesos em utiliza¸˜o, ca Sem d´vida, esta independˆncia revela-se como uma
u e
ou seja, pelo centro da calota esf´rica moldada no solo e
e necessidade urgente da prepara¸˜o de profissionais cuja
ca
n˜o pelo ponto da circunferˆncia de c´
a e ırculo que tangen- ocupa¸˜o seja a demanda de atletas e para-atletas,
ca
cia horizontalmente o terreno, mais pr´ximo do c´
o ırculo tanto para o desporto de alto rendimento quanto para
de arremesso. o desporto educacional.
A despeito de ser um erro da ordem de, no m´ximo,
a
60 mm (6,0 cm) para o diˆmetro adotado ou de 65 mm
a Por fim, em decorrˆncia das investiga¸˜es, caberia
e co
(6,5 cm) para um peso com 130 mm, o recorde mun- apontar a necessidade de estudos mais aprofundados
dial do americano Randy Barnes [33], de 23,12 metros, sobre o coeficiente de atrito est´tico entre a sapatilha-
a
conquistados em Los Angeles em 20 de maio de 1990 de-prego e a pista sint´tica. Do mesmo modo, o aprovei-
e
estaria prejudicado se tais fatos ocorressem. tamento dos acr´scimos espontˆneos que sobre os sar-
e a
rafos, saltadores em altura com e sem vara, excedem ao
saltarem. Pois no est´gio em que se encontra a atual
a
4. Conclus˜o
a tecnologia, semelhantes registros incorporariam-se aos
j´ obtidos eletronicamente e aceitos no Atletismo pela
a
Com a proposi¸˜o do IRD, buscou-se superar o fi-
ca IAAF. Outra poss´ ıvel aquisi¸˜o poderia vir da minia-
ca
siologismo inerente a classifica¸˜o por quantitativo
ca turiza¸˜o, para as sapatilhas-de-prego, das c´lulas de
ca e
e ordena¸˜o de medalhas por entender n˜o valori-
ca a cargas hoje utilizadas em laborat´rio. Como as tens˜es
o o
zar os esfor¸os dos participantes, sejam eles atletas,
c de compress˜o sobre a pista geram energia, esta servi-
a
para-atletas, t´cnicos, investidores ou incentivadores e
e ria para medir as dura¸˜es e as varia¸˜es da corrente
co co