1. As formas de crença
Capítulo 5 – As formas de crença
FILOSOFAR COM TEXTOS:
TEMAS E HISTÓRIA DA
FILOSOFIA
2. As crenças
Este capítulo, no qual apresentamos um leque plural de
experiências religiosas, trata de filosofia da religião.
O fundamento da religião é a fé de um grupo e de cada
um, que sempre recorrem a argumentos com que
buscam justificá-la.
Crença é um conceito extenso, que permeia nosso
cotidiano e está relacionado à adesão a uma proposição
tomada por verdadeira, mesmo que não possa ser
fundamentada totalmente em razões.
A crença religiosa se refere ao sentido estrito de
confiança na existência do sobrenatural, naquilo que
ultrapassa as leis da natureza. Trata-se da dimensão do
sagrado e do mistério.
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3. O mito é a forma mais remota de crença, ao buscar
explicações para o desconhecido (fenômenos da natureza,
aspectos gerais da condição humana). Nas sociedades mais
complexas, constitui-se a separação dos espaços do
sagrado e do profano.
As crenças
O surgimento da mandioca,
base da alimentação indígena,
é explicado por um mito Tupi-
-guarani, segundo o qual uma
planta nasceu onde fora
enterrada uma criança
chamada Mandi. Na foto,
indígenas da aldeia Rouxinol,
em Manaus, peneirando a
farinha do beiju, à base de
mandioca (AM, 2008).
FABIOCOLOMBINI
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4. A compreensão do divino
De modo geral, identificam-se duas tendências para
compreender o posicionamento das pessoas diante de
Deus: a das pessoas que se baseiam na crença em Deus
e a das que são alheias à divindade.
Entre as expressões de crença destacamos:
• Teísmo: corresponde à maioria das religiões e se baseia
na crença em um Deus transcendente. O teísmo pode ser
politeísta ou monoteísta.
• Panteísmo: Deus está em tudo; ele e o mundo
são um e a mesma coisa. É a ideia de um Deus
imanente ao mundo.
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5. A compreensão do divino
• Deísmo: é um tipo de religião natural. Deus, criador
do mundo, não “cuida” da criatura, nem esta tem vínculo
com o divino: não há livros sagrados nem culto.
• Agnosticismo: não há afirmação de que Deus existe ou
não, em razão da impossibilidade racional de conhecê-lo
(pode ser que exista, pode ser que não).
• Ateísmo: o ateu crê que Deus não existe; trata-se de uma
crença, de uma opinião sem provas.
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6. Deus existe?
Vários teólogos e filósofos se debruçaram sobre os
argumentos para provar racionalmente a existência
de Deus utilizando diferentes argumentos. No entanto,
segundo outros, os argumentos podem fortalecer a fé
de quem a tem, mas não convencem os que não creem:
• O argumento ontológico, elaborado por Anselmo no
século XI, foi retomado por Descartes e Leibniz no século XVII.
Trata-se de um argumento a priori, porque, da ideia de Deus,
conclui-se sua existência: se Deus é perfeito, deve ter a
perfeição da existência. Esse argumento foi criticado por Kant.
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7. • O argumento cosmológico é a posteriori porque parte
de dados da experiência. Um dos mais famosos se
fundamenta na relação de causa e efeito: se tudo tem
uma causa, não se pode levar isso ao infinito, então,
deve haver uma causa incausada, Deus. Variantes do
argumento: movimento (Deus seria imóvel e causa do
movimento); contingência (apenas Deus é um ser
necessário).
• O argumento do desígnio baseia-se na analogia:
assim como uma bela obra tem seu criador, também
o Universo, com sua ordem e complexidade, só poderia
ter sido criado por Deus.
Deus existe?
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8. O mal
O problema do mal é relevante em religião e decorre
da dificuldade em conciliar a bondade e a onipotência de
Deus com o mal moral e os males naturais, como os
sofrimentos e as catástrofes que nos assolam. Vejamos
algumas explicações:
• A crença em “anjos caídos” ou demônios que corrompem
o ser humano; outros explicam o mal
como ato de livre arbítrio; há ainda as teorias
dos dois princípios (do bem e do mal).
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9. Do ponto de vista filosófico, há várias teorias sobre o mal.
• Agostinho de Hipona defende a teoria do mal como “não
ser”: trata-se de uma carência, da ausência do bem, já que
todas as coisas são boas.
• Kant conclui ser impossível resolver essa contradição
entre bondade e maldade: nós é que devemos reconhecer que
o mal existe e buscar maneiras de evitá-lo, quando possível.
• Para Paul Ricoeur (século XX), cabe ao crente “espiritualizar”
a lamentação, ou seja, descobrir que a crença em Deus não
exige a explicação da origem do sofrimento.
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O mal
10. Religião e democracia
A democracia é por excelência pluralista: aceita a
participação dos cidadãos e respeita as diferenças entre seus
membros. Por isso é o oposto da autocracia, o governo de um
só, bem como da imposição de um só credo. Constatamos na
história as tiranias de governos e as perseguições àqueles
considerados hereges.
A existência de um Estado laico é importante para a
democracia, por manter-se neutro e evitar o fortalecimento
de um credo em detrimento de outros.
Mesmo no seio da sociedade civil há o risco de
fundamentalismo, representado por grupos radicais que
desejam impor sua verdade a outros, às vezes pela violência.
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11. Religião e democracia
Em uma sociedade democrática, todos – crentes e
descrentes – devem ter seu espaço de liberdade
de expressão e respeitar-se mutuamente.
O arcebispo de
Canterbury, Rowan
Williams, o Patriarca de
Constantinopla e principal
bispo da Igreja Ortodoxa,
Bartolomeu I, o papa
Bento XVI, o rabino David
Rosen e o fundador do
Instituto de Patrimônio
Ifá da Nigéria, Wande
Abimbola, assistem à
“Oração para a Paz",
um culto ecumênico na
cidade italiana de Assis,
em 27 de outubro
de 2011.
GIAMPIEROSPOSITO/REUTERS/LATINSTOCK
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