Este documento discute a importância da honestidade intelectual para a filosofia. A filosofia usa métodos argumentativos em vez de experimentais para desenvolver conhecimento. A honestidade intelectual significa adquirir, analisar e transmitir ideias honestamente, reconhecendo fraquezas nos argumentos e estando aberto a considerar outras perspectivas. A honestidade intelectual, juntamente com a disposição para questionar noções comuns, constitui a "atitude filosófica" necessária para a filosofia.
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A honestidade intelectual e a filosofia
1. A honestidade intelectual e a filosofia
A filosofia é diferente das outras disciplinas porque seu método é argumentativo: para desenvolver o
conhecimento filosófico, não é adequado propor experimentos, nem é adequado demonstrar uma tese por meio
de um método lógico-matemático formal.
A filosofia é um campo do conhecimento que trata de conceitos que usamos no dia-a-dia, nas ciências, na
literatura; esses conceitos só podem ser analisados e desenvolvidos, ou o conhecimento desses conceitos só
pode ser aprofundado e avançado, por meio do debate entre pessoas que tenham coragem para questionar todas
as noções previamente tidas como certas e sejam intelectualmente honestas.
A honestidade intelectual, pré-requisito para a filosofia, é uma atitude que significa, de modo geral, a
honestidade na aquisição, na análise e na transmissão de ideias.
Uma pessoa honesta intelectualmente:
não exagera a força dos seus argumentos; reconhece que os argumentos geralmente têm fraquezas, pois
argumentamos usando a linguagem comum, que não permite uma descrição perfeita da realidade –
afinal, o signo não é idêntico ao significado.
demonstra a disposição de aceitar a existência de teses diferentes ou opostas também justificáveis
racionalmente; embora a princípio uma pessoa necessariamente pense que sua tese é melhor do que as
outras, é necessário reconhecer que outras teses são possíveis e dignas de discussão.
demonstra a disposição de aceitar discutir suas próprias teses, seus pressupostos e seus princípios; se
uma pessoa não aceita discutir sua própria perspectiva, não tem o direito de exigir que a do outro seja
discutida.
admite as fraquezas apontadas pelos outros em seu argumento; se a pessoa não é capaz de aceitar que há
pontos fracos em sua argumentação, mesmo quando esses pontos fracos são indicados, então não quer
realmente debater o tema: quer somente impor sua tese ao outro.
aceita a possibilidade de estar errada; como ninguém conhece integralmente a realidade, mas somente a
conhece a partir de uma perspectiva extremamente limitada, a pessoa não pode admitir a priori que
esteja absolutamente certa.
reconhece quando um argumento ou uma crítica do outro é bom; se a pessoa não consegue aceitar
quando o outro apresenta um bom argumento ou uma crítica procedente, mostra que não está preparada
para um debate sério.
aceita as conseqüências das teses que defende até as últimas circunstâncias e com rigor; é preciso
reconhecer que uma tese tem um alcance tão universal quanto o de sua formulação, e que não é razoável
afirmar que uma tese vale em um caso mas não no outro.
não simplifica nem distorce o argumento do outro; é importante mostrar que existe um esforço genuíno
de compreensão da tese e do argumento do outro e, por isso, é preciso sempre argumentar contra o que o
outro efetivamente afirmou, sem tirar frases do adversário do contexto original.
argumenta contra a tese ou o argumento do outro, mas não contra o outro; o argumento ad hominem é
um dos sofismas mais comumente usados, mas também um dos menos respeitáveis.
A honestidade intelectual não é condição suficiente para que se faça filosofia, mas é condição
necessária.
Juntamente com a honestidade intelectual, é preciso ter disposição para questionar coisas que as pessoas
geralmente consideram como óbvias – como, por exemplo, o porquê do mundo ser como é, o porquê da
linguagem existir, o porquê da ciência funcionar, o porquê de considerarmos umas coisas como boas e outras
como más, ou umas como certas e outras erradas, etc.
Com a conciliação entre a vontade de questionar o senso comum e a atitude de ser honesto nesse
questionamento, temos o que podemos chamar de “atitude filosófica”.