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A INFLUÊNCIA DE GIL VICENTE NO TEATRO DE
JOÃO CABRAL DE MELO NETO
Universidade Paulista – UNIP Campus: Vergueiro
Carolina Maria Iria de Almeida Moreira R.A.: B96iJD-0
Joselane de Sousa Leão R.A.: B96875-3
Tatiana Gomes Fuza R.A.: B920GE-6
Graduação Letras (Licenciatura Português / Inglês) Turma: LL2A02
Disciplina: Literatura Portuguesa – Poesia
Blog: http://amantesdeletras.blogspot.com.br/
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo realizar uma análise comparativa entre
as poesias dramáticas de Gil Vicente e João Cabral de Melo Neto, buscando
similaridades e entendendo a evolução do teatro até os dias atuais. Através de
conteúdos teóricos estudados nas disciplinas Teoria Literária e Literatura Portuguesa –
Poesia, serão analisadas as características formais e estéticas das obras dos autores,
além do conteúdo tratado por eles em suas peças.
Palavras-chave: Teatro; Gil Vicente; João Cabral de Melo Neto; Morte e Vida
Severina; O Auto da Barca do Inferno; Poesia Dramática.
1. Introdução
O tema deste trabalho foi determinado a partir de proposta da disciplina
Literatura Portuguesa – Poesia, onde tivemos o conhecimento sobre a introdução do
teatro em Portugal. A partir de conteúdo abordado nessa disciplina, bem como na
disciplina de Teoria Literária, será feita uma análise dos aspectos da poesia dramática
de Gil Vicente, com destaque para sua obra O Auto da Barca do Inferno. Buscaremos
fazer uma comparação entre as características do teatro vicentino com a poesia
dramática de João Cabral de Melo Neto, mais especificamente a obra Morte e Vida
Severina.
A influência do autor português no teatro atual é inegável e mesmo se tratando
de obras de muitos séculos atrás, é possível encontrarmos aspectos contemporâneos.
Entender a evolução dessa arte e as mudanças enfrentadas no decorrer do tempo é a
proposta desse trabalho.
2. Gil Vicente
A biografia de Gil Vicente é incerta. Informações como sua data de nascimento
e morte, cidade natal e profissão divergem entre os estudiosos. Acredita-se que tenha
nascido entre 1465 e 1470 e morrido entre 1536 e 1540. Apesar de ser um poeta do
Renascimento, Gil Vicente ainda conservava muito do pensamento medieval,
marcando a transição entre os dois períodos.
Seu primeiro trabalho a ser conhecido foi o Auto da Visitação, encenado em
1502 nos aposentos da rainha D. Maria em celebração ao nascimento de seu filho e
inspirado na história do nascimento de Cristo. Além de escrever a peça, Gil Vicente
também atuou. Passou então a ser protegido por Dona Leonor, viúva de D. João II, e
ficou responsável pela organização de eventos no palácio.
É considerado o introdutor do teatro em Portugal, com grande influência do
espanhol Juan del Encina. Além da composição de autos, Gil Vicente também
escreveu farsas, mistérios, comédias e tragicomédias, por vezes sendo possível
encontrar mais de um estilo na mesma peça.
O teatro vicentino é considerado realista, já que mostra situações com pessoas
comuns, social, por ser acessível a todos os públicos, e de ideias, por não se tratar
apenas de entretenimento, mas passar um conteúdo social e moral à plateia. Também
é poético, por ser escrito em versos. Seus personagens costumam representar os
vícios e virtudes da sociedade, de uma classe específica, raramente assumem
aspecto individual, como aconteceu com a romântica e sonhadora Inês Pereira,
personagem mais moderna de Gil Vicente.
Segundo Rosenfeld (1965, pg.47) “muitas de suas peças são moralidades em
que, por exemplo, o mundo é apresentado como uma grande feira, cujas mercadorias
são as virtudes e os vícios que se vendem a bom dinheiro. Ou então o mundo vira
floresta em que os personagens se caçam mutuamente. Seus autos, contudo, não têm
a rigidez das moralidades da época; as alegorias transformam-se em vida, em
personagens saborosos”.
Através de sua visão crítica da sociedade, expondo, satirizando e criticando os
vícios da sociedade, mas poupando suas instituições, o autor aborda temas que ainda
hoje continuam atuais. Muito religioso, Gil Vicente opunha-se a certas práticas de
clérigos, mas nunca à própria Igreja Católica, e expressa bem em suas peças seu
pensamento de exaltação das virtudes e oposição aos vícios.
O humor, seja no caráter dos personagens, na linguagem da peça ou mesmo
na situação abordada, é uma das características mais importantes em seus trabalhos,
destacando sua originalidade. Em suas obras, Gil Vicente mostrou bem o perfil da
sociedade portuguesa do início do século XVI e continua a influenciar o teatro
contemporâneo, como afirma Rosenfeld (1965, pg.48), “essa maneira paradoxal de
julgar cria certo efeito de distanciamento, do qual, ao que tudo indica, Gil Vicente é um
predecessor remoto e eficaz. Na linha da obra vicentina encontra-se uma peça
moderna como o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, que nela uniu à
temática universal o elemento regional, oriundo de fontes folclóricas nordestinas”.
O Auto da Barca do Inferno
Esta peça de Gil Vicente foi representada pela primeira vez em 1917 e é a
primeira de sua Trilogia das Barcas, seguida de O Auto da Barca do Purgatório e O
Auto da Barca da Glória. Apesar da proximidade com o gênero farsa, essa obra é
classificada como auto de moralidade. O enredo consiste basicamente no julgamento
das almas, a exposição de seus pecados e a condenação da maior parte delas ao
Inferno.
Por se tratar de um auto (composição teatral de apenas um ato), a peça é
dividida em cenas conforme o aparecimento dos personagens. O movimento comum a
quase todos é o de falar ao Diabo, tentar convencer o Anjo a irem para o Céu e
depois, aceitando sua condenação, retornar à barca do Inferno.
Em O Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente critica os costumes dos indivíduos
com o intuito de “educar” ou “moralizar” a sociedade. Os personagens nos são
apresentados e através de cenas cômicas têm de aceitar seu destino junto ao Diabo
na barca que tem como destino o Inferno. Cada personagem representa uma classe
na sociedade ou uma profissão e seus pecados são revelados para justificar sua
condenação, fazendo um paralelo com alguns pecados capitais. Cada um aparece em
cena trazendo algo que simbolize seus pecados e tentam persuadir o Diabo para não
embarcarem para o Inferno, mas sim para o Céu.
Com exceção do Parvo e dos Cavaleiros, todos os demais personagens têm o
mesmo destino: o Inferno. O Parvo é o elemento cômico da peça, comentando e
satirizando o Diabo, usando uma linguagem simples e por vezes obscena, mas sua
inocência e ingenuidade lhe garante um lugar na barca da Glória. Os Quatro
Cavaleiros representam na peça aqueles que morreram nas Cruzadas, a religiosidade.
3. João Cabral de Melo Neto
Nascido em 1920 em Recife, Pernambuco, João Cabral de Melo Neto é
considerado um dos maiores poetas brasileiros.
Seu primeiro livro, Pedra do sono, foi lançado em 1942 em edição particular.
Em 1945 ingressou no Itamaraty, onde exerceu a carreira diplomática em vários
países, até se aposentar em 1990.
Em 1956 é lançado Duas águas, contendo todos os seus livros lançados até
então e os inéditos Morte e vida severina, Paisagens com figuras e Uma faca só
lâmina.
Morte e vida severina é encenada em 1966, com música de Chico Buarque, no
teatro da Universidade Católica de São Paulo (Tuca), sendo posteriormente
apresentada em outras cidades do país e em Portugal e França.
Em 1968, com a morte de Assis Chateaubriand, é eleito para ocupar a cadeira
de número 37 na Academia Brasileira de Letras. Também fez parte da Academia
Pernambucana de Letras e ao longo de sua carreira recebeu vários prêmios
importantes, dentre eles o Prêmio Camões, em 1990, considerado um dos mais
importantes da literatura em língua portuguesa. Faleceu em 9 de Outubro de 1999, no
Rio de Janeiro, aos 79 anos.
Com uma sintaxe única, João Cabral obriga o leitor a despertar e usar sua
inteligência e razão. Em seus versos, é predominantemente utilizada a primeira
pessoa do singular, narrando experiências e sentimentos. Também podemos
encontrar a fusão entre sujeito e objeto, unidos em um só. O uso de formas
interrogativas de linguagem também é uma forte característica do autor.
A poesia cabralina utiliza uma linguagem simples e despretensiosa, apesar de
por vezes utilizar uma sintaxe complexa, e busca poesia nas coisas simples do dia a
dia.
Apesar de ter pertencido à Geração 45, João Cabral seguiu uma linha diferente
dos demais poetas da época, negando o confessionalismo, o transcendentalismo e o
subjetivismo enfático, assumindo um estilo particular e único na poesia nacional.
O realismo social se inicia em sua carreira com a trilogia O cão sem plumas, O
rio e Morte e vida severina, com a presença da imagem da viagem simbolizando uma
peregrinação. Essa identificação poética de João Cabral com a paisagem do sertão
nordestino e com o retirante estabelece em sua obra uma visão mais humana e
pessoal.
Morte e Vida Severina
Escrito em 1955, foi um pedido de Maria Clara Machado para seu teatro. Tem
como subtítulo “Auto de Natal Pernambucano” e já nasceu como poema dramático,
com inspiração dos autos de Natal de tradição pastoril, com a predominância de
versos em redondilha maior, que permite uma fácil assimilação, presentes tanto na
tradição medieval quanto na cultura popular nordestina.
O enredo consiste na história de um migrante nordestino em sua jornada rumo
ao litoral, em busca de melhores condições de vida. Passando por várias paisagens,
onde são introduzidos muitos personagens, o poema narra o percurso de Severino,
seu sofrimento, suas desilusões. Além da conversa direta com o leitor, o diálogo entre
personagens dão vida à obra. A presença constante no poema é do Rio Capibaribe,
que serve como guia de Severino ao seu destino.
A obra pode ser dividida em duas partes, a primeira anterior à chegada ao
Recife, o caminho percorrido pelo personagem, a fuga da morte. A segunda é em sua
chegada ao seu destino, o encontro com a vida.
O título da obra mostra um significado social. A ordem invertida de “vida e
morte” é uma referência ao sofrimento de um povo, em uma vida onde a morte possui
presença constante. A palavra severina, aqui, é utilizada como adjetivo. Essa
adjetivação de substantivos é comum nas obras de João Cabral e, nesse caso,
podemos pensar que o protagonista, Severino, representa na verdade toda uma
classe, a de retirantes nordestinos em busca de uma vida melhor. Severino insiste no
caráter comum de seu nome, passando de substantivo próprio à comum.
Encenado pela primeira vez em 1966 no Teatro da Universidade Católica de
São Paulo, ganhou destaque internacional ao ser encenado em Portugal e França.
Essa receptividade, tanto ao poema quanto ao espetáculo, difundiu e popularizou o
nome de João Cabral de Melo Neto no mundo todo.
É interessante perceber a contemporaneidade da obra, já que o assunto
abordado em seus versos continua sendo comum em parte de nosso país. Uma
realidade triste e dura que inspirou esse maravilhoso poeta, além de muitos outros
grandes nomes de nossa literatura.
4. Análise Comparativa
Analisando as duas obras, a primeira e mais notável característica em comum
que encontramos é o fato de serem escritas em versos. A poesia dramática existe
desde a Antiguidade Clássica, apesar de hoje em dia ser menos comum. Segundo
Moisés (2012, p.657) “o sincretismo do diálogo dramático ainda derrama luz sobre
uma característica fundamental do texto teatral: o de suas relações com a poesia. Em
primeiro lugar, esse aspecto do diálogo se amolda perfeitamente à essência da
poesia, marcada pelo máximo de concentração verbal e de efeito semântico: o mínimo
de palavras e o máximo de sentido, decorrente da utilização regular da metáfora”.
Sobre Morte e vida severina, podemos atentar ao subtítulo, “Auto de Natal
Pernambucano”. O termo “auto” liga a obra ao teatro da Idade Média, principalmente
Ibérico, de Gil Vicente. Há também uma mistura de elementos contemporâneos e
medievais.
A linguagem utilizada em ambas as obras também possui traços de
semelhança. Na peça de Gil Vicente, a posição social dos personagens fica evidente
através dos diálogos, alguns deles próximos à língua falada, em tom coloquial, outros
mais rebuscados, representando a condição social mais elevada do personagem. Da
mesma forma, no poema de João Cabral é utilizada uma linguagem simples que
evidencia a situação social vivida pelos personagens. Assim como o teatro de Gil
Vicente é popular, acessível a todos, podemos dizer o mesmo com relação à Morte e
vida severina. Seu conteúdo é de fácil assimilação e nos identificamos com a história.
Em Morte e vida severina, a maior parte do poema é narrada pelo protagonista,
em forma de diálogo com outros personagens ou mesmo com o leitor. Já Gil Vicente
escreve em terceira pessoa, com a predominância dos diálogos entre personagens.
Os versos na obra de João Cabral são estruturados em redondilhas maiores,
comuns na Literatura de Cordel. Em O Auto da Barca do Inferno, apesar de não
possuir estrutura definida, a predominância também é da redondilha maior.
Outra semelhança clara entre as duas obras está em seu conteúdo social. O
retrato do sofrimento e da busca por melhores condições de vida dos retirantes
nordestinos é o tema tratado por João Cabral, problema comum até os dias de hoje.
Em O Auto da Barca do Inferno, dado como sátira social, é clara a intenção do autor
em expor os grandes vícios humanos. Isso é feito através dos personagens, almas
que se apresentam em busca de transporte para seus respectivos destinos.
Assim como Gil Vicente usa seus personagens para simbolizar instituições,
profissões e seus vícios, na obra de João Cabral o personagem principal, Severino,
também é usado para simbolizar toda a classe dos retirantes e as dificuldades que
encontram. Nas duas obras as personagens são pessoas comuns.
É interessante notar a mudança de paisagens que ocorre em Morte e vida
severina, acompanhada da mudança pessoal do próprio Severino ao percorrer o
Sertão, o Agreste, a Zona da Mata até chegar ao litoral de Recife. Na obra de Gil
Vicente, não há alterações de cenário, apenas o desfile dos personagens.
Como podemos notar, é clara a influência de Gil Vicente no trabalho de João
Cabral de Melo Neto, mesmo separados por mais de quatro séculos, uma herança rica
e que encanta e engrandece a literatura e dramaturgia nacional.
5. Conclusão
Através desse trabalho, pudemos reconhecer toda a importância de Gil Vicente
para a dramaturgia até os dias de hoje. Suas obras influenciaram grandes autores e
mesmo tanto tempo após sua criação, continuam atuais.
Apesar de, a princípio, não apresentarem semelhanças além de o fato de
serem classificadas como autos e escritas em versos, pudemos reconhecer muitas
características comuns às duas obras. A riqueza na retratação do aspecto social é o
que as torna mais atraentes na atualidade.
Assim como a peça de Gil Vicente, Morte e vida severina também é uma obra
que continua atual e que ainda encanta a todos. As duas peças ainda são encenadas
e apreciadas, pois o tempo só as torna mais significativas e valorizadas.
Apesar de não ser mais comum a criação de peças teatrais escritas em versos,
a encenação de clássicos como esses mantém viva na cultura mundial a essência da
origem do teatro. Nomes como Gil Vicente, João Cabral de Melo Neto, William
Shakespeare, Almeida Garrett, entre outros, ajudam a manter a tradição teatral e
levam grandes públicos a conhecerem suas obras não só por meio de encenações
modernas, mas também registros escritos de sua arte.
A história humana é contada através da arte, e valorizar e preservar suas
origens nos ajuda a entender nosso passado e nos inspira a construir nossa própria
identidade artística, representando nosso presente.
6. Referências Bibliográficas
ACHCAR, Francisco. ANDRADE, Fernando Teixeira de. Os livros da FUVEST – I. São
Paulo: Editora Sol, 1999.
D’ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto 2 – teoria da lírica e do drama. São Paulo:
Ática, 2005.
MOISÉS, Massaud. A análise literária. São Paulo: Cultrix, 2007.
_____. A criação literária: poesia e prosa. São Paulo: Cultrix, 2012.
NETO, João Cabral de Melo. Morte e Vida Severina e outros poemas. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2007.
ROSENFELD, Anatol. O teatro épico. São Paulo: São Paulo Editora, 1965.
VICENTE, Gil. Auto da barca do inferno, Farsa de Inês Pereira, Auto da Índia. São
Paulo: Ática, 2011.
Sites Consultados (26.05.2014)
http://pt.slideshare.net/antonius3/auto-da-barca-do-inferno-analise-total-da-ob
http://poesiaeescrita.blogspot.com.br/2013/05/analise-morte-e-vida-severina-de-joao.html
http://www.passeiweb.com/estudos/livros/auto_da_barca_do_inferno

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  • 2. 2. Gil Vicente A biografia de Gil Vicente é incerta. Informações como sua data de nascimento e morte, cidade natal e profissão divergem entre os estudiosos. Acredita-se que tenha nascido entre 1465 e 1470 e morrido entre 1536 e 1540. Apesar de ser um poeta do Renascimento, Gil Vicente ainda conservava muito do pensamento medieval, marcando a transição entre os dois períodos. Seu primeiro trabalho a ser conhecido foi o Auto da Visitação, encenado em 1502 nos aposentos da rainha D. Maria em celebração ao nascimento de seu filho e inspirado na história do nascimento de Cristo. Além de escrever a peça, Gil Vicente também atuou. Passou então a ser protegido por Dona Leonor, viúva de D. João II, e ficou responsável pela organização de eventos no palácio. É considerado o introdutor do teatro em Portugal, com grande influência do espanhol Juan del Encina. Além da composição de autos, Gil Vicente também escreveu farsas, mistérios, comédias e tragicomédias, por vezes sendo possível encontrar mais de um estilo na mesma peça. O teatro vicentino é considerado realista, já que mostra situações com pessoas comuns, social, por ser acessível a todos os públicos, e de ideias, por não se tratar apenas de entretenimento, mas passar um conteúdo social e moral à plateia. Também é poético, por ser escrito em versos. Seus personagens costumam representar os vícios e virtudes da sociedade, de uma classe específica, raramente assumem aspecto individual, como aconteceu com a romântica e sonhadora Inês Pereira, personagem mais moderna de Gil Vicente. Segundo Rosenfeld (1965, pg.47) “muitas de suas peças são moralidades em que, por exemplo, o mundo é apresentado como uma grande feira, cujas mercadorias são as virtudes e os vícios que se vendem a bom dinheiro. Ou então o mundo vira floresta em que os personagens se caçam mutuamente. Seus autos, contudo, não têm a rigidez das moralidades da época; as alegorias transformam-se em vida, em personagens saborosos”. Através de sua visão crítica da sociedade, expondo, satirizando e criticando os vícios da sociedade, mas poupando suas instituições, o autor aborda temas que ainda hoje continuam atuais. Muito religioso, Gil Vicente opunha-se a certas práticas de clérigos, mas nunca à própria Igreja Católica, e expressa bem em suas peças seu pensamento de exaltação das virtudes e oposição aos vícios. O humor, seja no caráter dos personagens, na linguagem da peça ou mesmo na situação abordada, é uma das características mais importantes em seus trabalhos,
  • 3. destacando sua originalidade. Em suas obras, Gil Vicente mostrou bem o perfil da sociedade portuguesa do início do século XVI e continua a influenciar o teatro contemporâneo, como afirma Rosenfeld (1965, pg.48), “essa maneira paradoxal de julgar cria certo efeito de distanciamento, do qual, ao que tudo indica, Gil Vicente é um predecessor remoto e eficaz. Na linha da obra vicentina encontra-se uma peça moderna como o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, que nela uniu à temática universal o elemento regional, oriundo de fontes folclóricas nordestinas”. O Auto da Barca do Inferno Esta peça de Gil Vicente foi representada pela primeira vez em 1917 e é a primeira de sua Trilogia das Barcas, seguida de O Auto da Barca do Purgatório e O Auto da Barca da Glória. Apesar da proximidade com o gênero farsa, essa obra é classificada como auto de moralidade. O enredo consiste basicamente no julgamento das almas, a exposição de seus pecados e a condenação da maior parte delas ao Inferno. Por se tratar de um auto (composição teatral de apenas um ato), a peça é dividida em cenas conforme o aparecimento dos personagens. O movimento comum a quase todos é o de falar ao Diabo, tentar convencer o Anjo a irem para o Céu e depois, aceitando sua condenação, retornar à barca do Inferno. Em O Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente critica os costumes dos indivíduos com o intuito de “educar” ou “moralizar” a sociedade. Os personagens nos são apresentados e através de cenas cômicas têm de aceitar seu destino junto ao Diabo na barca que tem como destino o Inferno. Cada personagem representa uma classe na sociedade ou uma profissão e seus pecados são revelados para justificar sua condenação, fazendo um paralelo com alguns pecados capitais. Cada um aparece em cena trazendo algo que simbolize seus pecados e tentam persuadir o Diabo para não embarcarem para o Inferno, mas sim para o Céu. Com exceção do Parvo e dos Cavaleiros, todos os demais personagens têm o mesmo destino: o Inferno. O Parvo é o elemento cômico da peça, comentando e satirizando o Diabo, usando uma linguagem simples e por vezes obscena, mas sua inocência e ingenuidade lhe garante um lugar na barca da Glória. Os Quatro Cavaleiros representam na peça aqueles que morreram nas Cruzadas, a religiosidade.
  • 4. 3. João Cabral de Melo Neto Nascido em 1920 em Recife, Pernambuco, João Cabral de Melo Neto é considerado um dos maiores poetas brasileiros. Seu primeiro livro, Pedra do sono, foi lançado em 1942 em edição particular. Em 1945 ingressou no Itamaraty, onde exerceu a carreira diplomática em vários países, até se aposentar em 1990. Em 1956 é lançado Duas águas, contendo todos os seus livros lançados até então e os inéditos Morte e vida severina, Paisagens com figuras e Uma faca só lâmina. Morte e vida severina é encenada em 1966, com música de Chico Buarque, no teatro da Universidade Católica de São Paulo (Tuca), sendo posteriormente apresentada em outras cidades do país e em Portugal e França. Em 1968, com a morte de Assis Chateaubriand, é eleito para ocupar a cadeira de número 37 na Academia Brasileira de Letras. Também fez parte da Academia Pernambucana de Letras e ao longo de sua carreira recebeu vários prêmios importantes, dentre eles o Prêmio Camões, em 1990, considerado um dos mais importantes da literatura em língua portuguesa. Faleceu em 9 de Outubro de 1999, no Rio de Janeiro, aos 79 anos. Com uma sintaxe única, João Cabral obriga o leitor a despertar e usar sua inteligência e razão. Em seus versos, é predominantemente utilizada a primeira pessoa do singular, narrando experiências e sentimentos. Também podemos encontrar a fusão entre sujeito e objeto, unidos em um só. O uso de formas interrogativas de linguagem também é uma forte característica do autor. A poesia cabralina utiliza uma linguagem simples e despretensiosa, apesar de por vezes utilizar uma sintaxe complexa, e busca poesia nas coisas simples do dia a dia. Apesar de ter pertencido à Geração 45, João Cabral seguiu uma linha diferente dos demais poetas da época, negando o confessionalismo, o transcendentalismo e o subjetivismo enfático, assumindo um estilo particular e único na poesia nacional. O realismo social se inicia em sua carreira com a trilogia O cão sem plumas, O rio e Morte e vida severina, com a presença da imagem da viagem simbolizando uma peregrinação. Essa identificação poética de João Cabral com a paisagem do sertão nordestino e com o retirante estabelece em sua obra uma visão mais humana e pessoal.
  • 5. Morte e Vida Severina Escrito em 1955, foi um pedido de Maria Clara Machado para seu teatro. Tem como subtítulo “Auto de Natal Pernambucano” e já nasceu como poema dramático, com inspiração dos autos de Natal de tradição pastoril, com a predominância de versos em redondilha maior, que permite uma fácil assimilação, presentes tanto na tradição medieval quanto na cultura popular nordestina. O enredo consiste na história de um migrante nordestino em sua jornada rumo ao litoral, em busca de melhores condições de vida. Passando por várias paisagens, onde são introduzidos muitos personagens, o poema narra o percurso de Severino, seu sofrimento, suas desilusões. Além da conversa direta com o leitor, o diálogo entre personagens dão vida à obra. A presença constante no poema é do Rio Capibaribe, que serve como guia de Severino ao seu destino. A obra pode ser dividida em duas partes, a primeira anterior à chegada ao Recife, o caminho percorrido pelo personagem, a fuga da morte. A segunda é em sua chegada ao seu destino, o encontro com a vida. O título da obra mostra um significado social. A ordem invertida de “vida e morte” é uma referência ao sofrimento de um povo, em uma vida onde a morte possui presença constante. A palavra severina, aqui, é utilizada como adjetivo. Essa adjetivação de substantivos é comum nas obras de João Cabral e, nesse caso, podemos pensar que o protagonista, Severino, representa na verdade toda uma classe, a de retirantes nordestinos em busca de uma vida melhor. Severino insiste no caráter comum de seu nome, passando de substantivo próprio à comum. Encenado pela primeira vez em 1966 no Teatro da Universidade Católica de São Paulo, ganhou destaque internacional ao ser encenado em Portugal e França. Essa receptividade, tanto ao poema quanto ao espetáculo, difundiu e popularizou o nome de João Cabral de Melo Neto no mundo todo. É interessante perceber a contemporaneidade da obra, já que o assunto abordado em seus versos continua sendo comum em parte de nosso país. Uma realidade triste e dura que inspirou esse maravilhoso poeta, além de muitos outros grandes nomes de nossa literatura.
  • 6. 4. Análise Comparativa Analisando as duas obras, a primeira e mais notável característica em comum que encontramos é o fato de serem escritas em versos. A poesia dramática existe desde a Antiguidade Clássica, apesar de hoje em dia ser menos comum. Segundo Moisés (2012, p.657) “o sincretismo do diálogo dramático ainda derrama luz sobre uma característica fundamental do texto teatral: o de suas relações com a poesia. Em primeiro lugar, esse aspecto do diálogo se amolda perfeitamente à essência da poesia, marcada pelo máximo de concentração verbal e de efeito semântico: o mínimo de palavras e o máximo de sentido, decorrente da utilização regular da metáfora”. Sobre Morte e vida severina, podemos atentar ao subtítulo, “Auto de Natal Pernambucano”. O termo “auto” liga a obra ao teatro da Idade Média, principalmente Ibérico, de Gil Vicente. Há também uma mistura de elementos contemporâneos e medievais. A linguagem utilizada em ambas as obras também possui traços de semelhança. Na peça de Gil Vicente, a posição social dos personagens fica evidente através dos diálogos, alguns deles próximos à língua falada, em tom coloquial, outros mais rebuscados, representando a condição social mais elevada do personagem. Da mesma forma, no poema de João Cabral é utilizada uma linguagem simples que evidencia a situação social vivida pelos personagens. Assim como o teatro de Gil Vicente é popular, acessível a todos, podemos dizer o mesmo com relação à Morte e vida severina. Seu conteúdo é de fácil assimilação e nos identificamos com a história. Em Morte e vida severina, a maior parte do poema é narrada pelo protagonista, em forma de diálogo com outros personagens ou mesmo com o leitor. Já Gil Vicente escreve em terceira pessoa, com a predominância dos diálogos entre personagens. Os versos na obra de João Cabral são estruturados em redondilhas maiores, comuns na Literatura de Cordel. Em O Auto da Barca do Inferno, apesar de não possuir estrutura definida, a predominância também é da redondilha maior. Outra semelhança clara entre as duas obras está em seu conteúdo social. O retrato do sofrimento e da busca por melhores condições de vida dos retirantes nordestinos é o tema tratado por João Cabral, problema comum até os dias de hoje. Em O Auto da Barca do Inferno, dado como sátira social, é clara a intenção do autor em expor os grandes vícios humanos. Isso é feito através dos personagens, almas que se apresentam em busca de transporte para seus respectivos destinos.
  • 7. Assim como Gil Vicente usa seus personagens para simbolizar instituições, profissões e seus vícios, na obra de João Cabral o personagem principal, Severino, também é usado para simbolizar toda a classe dos retirantes e as dificuldades que encontram. Nas duas obras as personagens são pessoas comuns. É interessante notar a mudança de paisagens que ocorre em Morte e vida severina, acompanhada da mudança pessoal do próprio Severino ao percorrer o Sertão, o Agreste, a Zona da Mata até chegar ao litoral de Recife. Na obra de Gil Vicente, não há alterações de cenário, apenas o desfile dos personagens. Como podemos notar, é clara a influência de Gil Vicente no trabalho de João Cabral de Melo Neto, mesmo separados por mais de quatro séculos, uma herança rica e que encanta e engrandece a literatura e dramaturgia nacional. 5. Conclusão Através desse trabalho, pudemos reconhecer toda a importância de Gil Vicente para a dramaturgia até os dias de hoje. Suas obras influenciaram grandes autores e mesmo tanto tempo após sua criação, continuam atuais. Apesar de, a princípio, não apresentarem semelhanças além de o fato de serem classificadas como autos e escritas em versos, pudemos reconhecer muitas características comuns às duas obras. A riqueza na retratação do aspecto social é o que as torna mais atraentes na atualidade. Assim como a peça de Gil Vicente, Morte e vida severina também é uma obra que continua atual e que ainda encanta a todos. As duas peças ainda são encenadas e apreciadas, pois o tempo só as torna mais significativas e valorizadas. Apesar de não ser mais comum a criação de peças teatrais escritas em versos, a encenação de clássicos como esses mantém viva na cultura mundial a essência da origem do teatro. Nomes como Gil Vicente, João Cabral de Melo Neto, William Shakespeare, Almeida Garrett, entre outros, ajudam a manter a tradição teatral e levam grandes públicos a conhecerem suas obras não só por meio de encenações modernas, mas também registros escritos de sua arte. A história humana é contada através da arte, e valorizar e preservar suas origens nos ajuda a entender nosso passado e nos inspira a construir nossa própria identidade artística, representando nosso presente.
  • 8. 6. Referências Bibliográficas ACHCAR, Francisco. ANDRADE, Fernando Teixeira de. Os livros da FUVEST – I. São Paulo: Editora Sol, 1999. D’ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto 2 – teoria da lírica e do drama. São Paulo: Ática, 2005. MOISÉS, Massaud. A análise literária. São Paulo: Cultrix, 2007. _____. A criação literária: poesia e prosa. São Paulo: Cultrix, 2012. NETO, João Cabral de Melo. Morte e Vida Severina e outros poemas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. ROSENFELD, Anatol. O teatro épico. São Paulo: São Paulo Editora, 1965. VICENTE, Gil. Auto da barca do inferno, Farsa de Inês Pereira, Auto da Índia. São Paulo: Ática, 2011. Sites Consultados (26.05.2014) http://pt.slideshare.net/antonius3/auto-da-barca-do-inferno-analise-total-da-ob http://poesiaeescrita.blogspot.com.br/2013/05/analise-morte-e-vida-severina-de-joao.html http://www.passeiweb.com/estudos/livros/auto_da_barca_do_inferno