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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO
                  RIO GRANDE DO SUL




                    SIMONE DRUNN




     A MEMÓRIA POLÍTICA DE AMAURY MULLER




                  Ijuí, RS, janeiro de 2010
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                SIMONE DRUNN




A MEMÓRIA POLÍTICA DE AMAURY MULLER



                         Monografia apresentada ao Curso de História,
                         da Universidade Regional do Noroeste do
                         Estado do Rio Grande do Sul, como requisito
                         parcial à obtenção do título de Licenciada em
                         História.




      Orientador: Drª. Sandra Maria do Amaral




             Ijuí, RS, janeiro de 2010
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Dedico este trabalho a minha irmã Carla Drum (in memorian),
                         pelo carinho, admiração e amor que

   tinha por mim e dedicação a tudo que fazia. Também foi um
                                      exemplo a ser seguido.

              Mana me ilumine de onde quer que você esteja.

                                  Mana te amo, eternamente.
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                                   AGRADECIMENTO



             Primeiramente quero agradecer a Deus, por ter me dado o direito à vida e
inteligência para seguir o meu caminho, as dificuldades impostas servem para me fortalecer e
ver que sou capaz, muitas vezes pensei em desistir, mas refleti, pensei e ao final você me
guiou e deu-me luz para seguir. Agradeço profundamente por ter proporcionado essa vitória,
essa conquista, que do projeto, sonho, tornou-se realidade. Muito obrigada.

             A meus pais José Camaçol Drunn e Assunta Orsolim Drunn, que apesar de
distantes, sempre me fortaleceram, mandando energias positivas e me incentivando a seguir
em frente.

             Ao meu amigo/namorado e marido Marcelo Frota, pelas palavras de incentivo,
carinho e paciência nesse período de conclusão. E por ter me dado força e não me deixar
desistir.

             Aos meus chefes Bertiele Balke Muller e Evandro Balke, por nunca terem me
impedido ou dificultado quando eu precisei sair para estudar e pesquisar. Sempre me
incentivando e apoiando.

             Aos meus colegas de trabalho também meu agradecimento, pela compreensão e
incentivo nesses anos de estudo.

             Aos colegas de turma pelo companheirismo e amizade conquistada e que com
certeza a amizade verdadeira será eterna.

             Aos familiares de Amaury, que não mediram esforços em disponibilizar materiais
e entrevista para que esta pesquisa fosse feita.

             À minha professora e orientadora Sandra Maria do Amaral, a ela um carinho
especial, pois foi também peça chave, na hora em que eu quis desistir. Incentivou-me, deu
força, me aconselhou. Pelas excelentes leituras e orientações que foram de muita importância
para meu trabalho de conclusão. Muito obrigada.
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“Um patriota deve estar sempre pronto a defender seu país do governo.”
                                                       Edward Abbey
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                                                    LISTA DE FOTOS

FOTO 1: Amaury na Infância .............................................................................................11
FOTO 2: Amaury com colegas militantes em 1962 ........................................................... 13
FOTO 3: Amaury e o irmão Erani na campanha de 1983 ................................................. 18
FOTO 4: Com amigos em Ijuí, 1964. ................................................................................. 19
FOTO 5/ 6: Casamento ....................................................................................................... 20
FOTO 7: Com os filhos na praia ........................................................................................ 23
FOTO 8: Em Orlando (Florida) .......................................................................................... 38
FOTO 9: No México. ......................................................................................................... 38
FOTO 10: Na China. .......................................................................................................... 39
FOTO 11: Na Austrália....................................................................................................... 39
FOTO 12: No Paraguai. ..................................................................................................... 39
FOTO 13: Em Cuba. ...........................................................................................................40
FOTO 14: Com o embaixador do Kuwait. ......................................................................... 40
FOTO 15: Com o líder palestino Yasser Arafat ................................................................. 41
FOTO 16: Com o presidente da Africa do Sul, Nelson Mandela. ..................................... 41
Foto 17/18: Recebendo diploma e condecoração. .............................................................. 42
FOTO 19: No gabinete com amigos e eleitores. ................................................................ 43
FOTO 20: Convenção do PDT ........................................................................................... 43
FOTO 21: Encontro nacional do PDT ................................................................................ 43
FOTO 22: Campanha de Brizola para presidente. ..............................................................44
FOTO 23: Amaury na tribuna do Congresso Nacional ...................................................... 44
FOTO 24: Amaury na Bancada do Congresso Nacional ....................................................45
FOTO 25: Comissão de Trabalhos da Câmara. .................................................................. 45
FOTO 26: Na Tribuna com Ulysses Guimarães. ...............................................................46
FOTO 27: Com Tancredo Neves e a filha Fernanda. ........................................................ 46
FOTO 28: Amaury com o cantor Aguinaldo Timóteo ...................................................... 47
FOTO 29: Amaury assinando a Constituição de 1988. ...................................................... 50
FOTO 30: Amaury com a família em Porto Alegre, Natal de 2000. ..................................61
FOTO 31: Amaury com a família no Revellion de 200. .................................................... 62
FOTO 32: Simone Drunn e Samira El Ammar Muller, durante a entrevista para a pesquisa
biográfica. .......................................................................................................................... 63
7




                                                            SUMÁRIO


INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 08


1 A FAMÍLIA DE AMAURY .......................................................................................... 11
        1.1 Infância ................................................................................................................11
        1.2 Escolaridade ........................................................................................................ 13
        1.3 Vínculo Partidário ............................................................................................... 16
        1.4 Expulsão da PUC e Prisão .................................................................................. 16
        1.5 Ijuí ....................................................................................................................... 18
        1.6 Casamento ........................................................................................................... 20
        1.7 Campanha para o 1º Mandato ............................................................................. 21
        1.8 Política nas Veias ................................................................................................ 22
        1.9 Filhos ................................................................................................................... 23


2 VIDA PÚBLICA ........................................................................................................... 24
        2.1 Chegada em Brasília ........................................................................................... 24
        2.2 Parlamentares progressistas ................................................................................ 24
        2.3 Reuniões dos Parlamentares ................................................................................25
        2.4 O que foi o Grupo dos Autênticos do Movimento Democrático Brasileiro....... 25
        2.5 Luta Armada ....................................................................................................... 27
        2.6 Como foi lançar um Anticandidato...................................................................... 27
        2.7 Desintegração do Grupo ......................................................................................29
        2.8 Os Neo-Autênticos .............................................................................................. 30
        2.9 Discurso da Cassação...........................................................................................30
        2.10 A Cassação ........................................................................................................ 31
        2.11 Vida pós-cassação ............................................................................................. 33
        2.12 Revista o Espelho .............................................................................................. 34
        2.13 Lei da Anistia .................................................................................................... 35
        2.14 Volta ao Plenário em 1983 ................................................................................ 35


3 VIDA PÓS-DITADURA .............................................................................................37
8



3.1 Motivo de ciumeira entre os colegas ...................................................................37
3.2 Diretas Já ............................................................................................................. 46
3.3 Dever Cumprido .................................................................................................. 48
3.4 Constituição ........................................................................................................ 49
3.5 Último Mandato................................................................................................... 52
3.6 Diagnóstico do câncer ......................................................................................... 57
3.7 Homenagens Póstumas ....................................................................................... 63


CONCLUSÃO ........................................................................................................ 65


REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 68


ANEXOS ................................................................................................................. 70
9




                                     INTRODUÇÃO



           Desde a Proclamação da República em 1889, a história política brasileira
mostrou-se por muitas vezes instável e incerta. Esse quadro de incertezas e instabilidades
acabou por culminar no período mais negro da história política do Brasil, que foi a ditadura
militar iniciada com a derrubada do presidente João Goulart em 1964. O regime militar tolheu
vidas, cerceou direitos, brutalizou e bestificou pessoas durante seus longos 30 anos de
existência, mergulhando o país em dívida externa e sucateando o Estado.

           Muitos daqueles que ergueram suas vozes para protestar contra tal infâmia foram
caçados, perseguidos, presos, interrogados, torturados e, em muitos casos, mortos. Muitos
foram aqueles que tiveram de atravessar os anos de chumbo da ditadura no exílio. Políticos
como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador do estado do Rio
Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola tiveram de viver exilados.

           Músicos como Caetano Veloso e Gilberto Gil, diversos intelectuais, artistas, e
tantos outros tiveram de deixar seu país sem direito de escolha. Lá fora, longe das garras dos
generais, lutaram contra a ditadura usando o que há de melhor na cultura brasileira,
participando de movimentos políticos internacionais, e lembrando o mundo de que o Brasil
era um país que mantinha seu povo como refém do próprio governo.

           Muitos brasileiros, porém, permaneceram aqui no Brasil travando uma luta contra
a ditadura, anulando suas profissões, suas famílias e suas vidas para que hoje possamos viver
em um Estado realmente democrático.

           O presente trabalho pretende focar a vida de um homem, um brasileiro entre
muito outros que teve a coragem de erguer sua voz contra os generais, políticos, simpatizantes
e torturadores, que lutou na arena política com as únicas armas disponíveis naqueles tempos
de insanidade, que eram seu patriotismo, seu amor pela causa da liberdade, sua determinação
de livrar o Brasil do totalitarismo em que o mesmo estava mergulhado. Um brasileiro que foi
perseguido, preso e torturado, mas que, ao contrário de muitos de seus companheiros de luta,
sobreviveu para continuar sua luta pelos direitos humanos e tornar-se parte da história política
10



do Brasil. Este homem, este brasileiro, um entre tantos Davis que se ergueu contra o
imponente Golias foi o deputado federal Amaury Muller.

            A pesquisa biográfica que realizei teve como foco a vida do deputado Amaury
Muller, sua trajetória na política brasileira, sua participação e importância na época da
ditadura, no período de 1964 a 1985. O recorte temporal para análise teórica teve início em
1964 (ano do golpe militar, até 1979, quando foi promulgada a anistia).

            A palavra biografia vem do grego βιογραφία, de βíος - bíos, vida e γραφή –
gráphein, escrever. É um gênero literário em que o autor narra a história da vida de uma
pessoa ou de várias pessoas. Geralmente as biografias contam a vida de alguém depois de sua
morte. Em alguns casos a biografia inclui aspectos da obra dos biografados, como por
exemplo Eric Clapton em sua biografia Clapton, numa abordagem muitas vezes de um ponto
de vista crítico e não apenas historiográfico. A biografia, na maioria das vezes, de pessoas
públicas como políticos, cientistas, esportistas, escritores ou pessoas, que através de suas
atividades deixaram uma importante contribuição para a sociedade.

            Meu interesse nessa biografia em particular é por gostar de política, por ter acesso
à familia como fonte de pesquisa e principalmente saber o que tudo isso causou e custou para
essas pessoas que viveram naquela época, qual a sua contribuição para a história do Brasil,
como a imprensa e a sociedade via seu envolvimento na luta contra a ditadura.

            Como foi a formação do Grupo dos Autênticos do Movimento Democrático
(MDB), qual motivo levou 23 deputados federais a fazer política de oposição, em um
momento tão adverso, em plena ditadura militar, que ficou conhecido como Semeadores da
Democracia e quais foram as contribuições do grupo para acabar com a ditadura?

            Essa pesquisa foi baseada em documentos escritos (jornal/carta), depoimentos de
amigos e colegas (Jorge Martins, dep. estadual Gerson Burmann) e familiares (esposa, Samira
El Ammar Müller, filhos Márcio Müller e Alexandre Müller). Também utilizei recortes de
jornais, fotografias, entrevistas, bem como leituras sugeridas referentes ao tema da ditadura
militar e sua repercussão.

            O presente trabalho está dividido em três capítulos que enfocam a vida do
deputado Amaury Muller. O primeiro capítulo é sobre a família de Amaury Muller, sua
infância, escolaridade, vínculo partidário, casamento e primeiro mandato. O segundo aborda a
11



vida pública de Amaury, a chegada em Brasília, o reconhecimento dos parlamentares
progressistas, a formação do Grupo dos Autênticos do Movimento Democrático Brasileiro
(MDB), sua cassação, vida pós-cassação, até sua volta ao plenário da Câmara. O terceiro
capítulo discorre sobre sua vida pós-ditadura, a lei da anistia, o movimento das Diretas Já, a
Assembléia Constituinte, sua participação na Constituição de 1988, o último mandato e sua
morte em 2001.
12



1 A FAMILIA DE AMAURY MÜLLER



1.1 Infância




FOTO 1: Amaury com os irmãos Darcy, Erani, Lori, Marli e os pais Virginia Martins Campos e Henrique Muller
no monumento a Duque de Caxias em Cruz Alta nos anos 40. (foto do acervo da família, cedida por Samira El
Ammar Muller).



             Amaury Müller nasceu no município de Cruz Alta, na localidade de Colônia São
João, no dia 17 de janeiro de 1936. Filho de Henrique Müller (descendente de alemão com
polonês) e Virginia Martins Campos (uma mistura de português, negro, índio e espanhol).
Seus pais possuíam um pequeno pedaço de terra de onde tiravam o sustento para dez pessoas,
13



pois possuíam oito filhos, (cinco homens e três mulheres), Darci, Ary, Amaury, Erani, Lori,
Marli, Maria, um dos irmãos não se sabe o nome, pois faleceu ainda pequeno. Era difícil
manter um alto padrão de vida, mesmo assim sempre procuraram não deixar faltar nada aos
seus filhos. Mas quando a idade escolar chegou seu pai sentiu-se na obrigação de mudar-se
para a cidade já que não havia escola no interior e também não havia transporte escolar, como
existem hoje em dia. Com isso todos foram morar na cidade, onde os dois filhos mais velhos
já moravam, na casa de um tio militar para estudar.

           O pai de Amaury não quis que ele também fosse morar com o tio, pois isso iria
pesar ainda mais no orçamento do mesmo. Assim, decide arrendar os 25 hectares de terra e
mudar-se para a cidade. Ele que originalmente era guarda-livros (uma espécie de contabilista),
decide abrir uma pequeno deposito de madeira, já que tinha madeira abundante na época
nessa região, o pinho, mas não se saiu muito bem. Com isso colocou seu outro conhecimento
em prática, foi trabalhar como contador onde era muito requisitado e também dava aulas (não
se sabe do que, nem a esposa e nem a irmã de Amaury, souberam dizer de que). Era um ramo
em que os lucros também não eram muito altos, mas na medida do possível e de suas
limitações, conseguiu proporcionar a todos os filhos uma vida digna. (NADER, Ana Beatriz -
Autênticos do MDB Semeadores da Democracia História Oral de Vida política, p.66).

           Enquanto morou no interior, Amaury ajudava seu pai nas lidas da terra, arava,
gradeava, semeava, colhia. Era uma espécie de pequeno agricultor. Seus irmãos já não
tiveram a mesma experiência do campo, já que eram mais novos quando migraram para a
cidade e duas de suas irmãs nasceram na cidade. (NADER, 1998, p.66).

           No ambiente urbano, tiveram algumas dificuldades, tanto financeiras quanto de
adaptação. As pessoas na cidade são mais desconfiadas, ainda que naquele tempo as pessoas
honrassem seus compromissos com o “fio do bigode”, tanto que nas propriedades rurais não
existia cerca, o gado era marcado na paleta. Mas conseguiram se adaptar à cidade sem
maiores problemas. (NADER, 1998, p.66).
14



1.2 Escolaridade




FOTO 2: Amaury com colegas militantes em 1962 em Porto Alegre. (foto do acervo da família, cedida por
Samira El Ammar Muller).



            Na cidade, todos trabalhavam e estudavam. Amaury cursou o jardim de infância
no Grupo Escolar Margarida Pardelha (1942-1943), o primário concluiu também no Grupo
Escolar Margarida Pardelha (1944-1948), no Ginásio, ele passou a estudar na Escola Normal
Annes Dias (1949-1952) e por fim o Científico no Ginásio Estadual Antônio Sepp, sempre se
destacando como estudante. Nesse período ele sempre esteve entre os três melhores alunos.
Erani e Amaury concluíram o terceiro grau, duas de suas irmãs também se formaram em
cursos superiores.

            Amaury sempre gostou de ler e escrever, por conta disso foi trabalhar numa Rádio
local, a Rádio Cruz Alta no período de 1952-1954. (Entrevista com Samira El Ammar Muller,
no dia 03/11/2009).

            Desde adolescente, Amaury demonstrou certa liderança entre seus amigos, por
exemplo, nas brincadeiras de criança era ele quem comandava, era tido como um líder de
turma. Com o passar do tempo, essa liderança foi aflorando, se consolidando entre os amigos
15



e colegas, levando-o a ser orador em diversas ocasiões, nos cursos ginasial e científico e mais
tarde nos dois cursos de graduação superior. (NADER, 1998, p.66).

             Já nessa época demonstrou interesse pela vida pública; nos fins da década de 40 e
início dos anos 50, conviveu com a campanha “o petróleo é nosso”, pois como dirigente
secundarista teve acesso a debates e discussões sobre o tema. Foi nessa época que ele sentiu
acender o sentido de patriotismo, algo racional e consciente, nada passivo. Juntamente com
alguns colegas secundaristas, Amaury se engajou na luta pelo monopólio estatal do petróleo;
eram vistos como “instrumentos dóceis” do comunismo internacional. Mas isso não fez com
que eles desistissem de seus ideais e princípios. Essa participação nos movimentos de rua
enquanto secundarista rendeu-lhe um caminho muito importante na militância universitária.
Como podemos observar na foto acima, juntamente com outros colegas de militância,
Amaury participou do XXVº Congresso Nacional dos Estudantes no ano de 1962 em Porto
Alegre. (NADER, 1998, p.66).

             Em 1955, foi para Porto Alegre cursar Arquitetura na UFRGS, nesse mesmo ano
foi eleito presidente da sala, mas como seus pais não tinham condições de sustentar-lhe na
capital, foi obrigado a desistir da faculdade. Esse ano também foi marcado por duas perdas
dolorosas.

             Primeiro, a desistência de um curso que tanto gostava, mas que com o passar dos
anos sentiu que havia agindo mais pela ânsia e impulso de adolescente do que gosto pelo
curso, pois se fosse um curso que realmente lhe fosse sonho e desejo teria retomado mais
tarde, como conta sua esposa em entrevista. Amaury não era de desistir tão fácil de seus
objetivos, portanto, foi mais uma coisa de momento, com certeza.

             O segundo fato foi a perda da mãe. Amaury sempre foi muito apegado à mãe,
tinha muito orgulho do lado brasileiro dela, da pessoa morena que ela era. E sempre procurou
cultivar, manter vivos os costumes, a comida, os hábitos desse lado brasileiro que o ligava à
mãe. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

             E como teve de desistir do curso de arquitetura, viu-se obrigado a trabalhar
durante o dia e estudar à noite. O único curso noturno oferecido na época era a Faculdade de
Ciências Políticas e Econômicas na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUC). Escolheu esse curso por achar que ampliaria seus horizontes, e por sentir a
necessidade de mudanças políticas, econômicas e sociais do país. Era um curso de grande
16



influência, através dele passou a entender mais sobre socialismo, as necessidades do país, os
problemas e as soluções, enfim entender melhor sobre política, tornando-se uma base
fundamental para ele mais tarde. Essa atitude e necessidade de Amaury em trabalhar durante o
dia e estudar a noite tornou-se exemplo para outros jovens que queriam continuar seus
estudos. Com isso, logo se elegeu presidente do Centro Acadêmico Visconde de Mauá.
Quebrando um velho tabu se reelegeu no ano subseqüente, coisa que não acontecia. (NADER,
1998, p.67).

           No terceiro ano da PUC, chegou à vice-presidência do Diretório Central de
Estudantes. Antes de concluir o curso de Ciências Políticas e Econômicas, fez vestibular e
passou, para um novo curso que estava sendo oferecido, Jornalismo. Também exerceu a
presidência do Centro Acadêmico Arlindo Pasqualini. Em 1961, já formado em Economia e
terminando Jornalismo, decide fazer um novo curso e presta vestibular para Direito, e sua
ativa participação nas militâncias, sua identificação com os avanços que o meio estudantil
experimentava no sentido de incrementar as então chamadas “reformas de base” e não
diferente dos outros tempos, novamente é eleito presidente do Centro Acadêmico “Mauricio
Cardoso”. (NADER, 1998, p.68).

           Nesses nove anos de participação nos centros acadêmicos, nos movimentos
universitários, sempre participou de todos os congressos da UNE livre, antes do golpe de
1964. Em um desses congressos José Serra foi eleito presidente da entidade (UNE) em uma
composição da Ação Popular com o velho “partidão” (PCB - Partido Comunista Brasileiro, o
PCB que foi fundado em 1922, e com o fim do bipartidarismo começou a de desfragmentar,
dividindo-o em partidos menores com ideologias diferentes) e outras correntes progressistas.
(NADER, 1998, p.68).

           A razão para fazer tantos cursos, não era acumular diplomas, mas sim
conhecimentos em vários campos e permanecer na militância estudantil, participando dos
movimentos populares.

               Na UNE havia o Centro Popular de Cultura, grupo que fazia teatro despojado,
informal, com um único objetivo de politizar o povo. Foram tempos importantes, pois
mostrava aos cidadãos seus direitos, os quais deveriam ser respeitados. Para Amaury, foi um
tempo muito bom e importante, em que viveu intensamente e ampliou muito sua visão de
mundo. Foi um período de permanente aprendizado. (NADER, 1998, p.68).
17




1.3 Vínculo Partidário



            Amaury começou sentir e ver a necessidade de um vínculo partidário, apesar da
origem conservadora do pai que era do Partido Liberal (PL), ingressou na militância do
antigo PTB. Escolheu esse partido por que ele já simpatizava com a causa trabalhista de
Getúlio, já era simpatizante desse partido deste a época da campanha “o petróleo é nosso”.
Foi um partido que deu direito a quase, se não todas, as causas trabalhistas. O direito de
salário mínimo à mulher, ao voto feminino, décimo terceiro salário, praticamente todos os
direitos trabalhistas foram implantados na época de Getúlio. (NADER, 1998, p.68).

            Amaury simpatizava com isso, buscava uma luta mais justa para os populares e
viu nesse partido uma idéia reformadora e nacionalista, a mesma de Getúlio Vargas dos anos
50, que abrigava as correntes da esquerda, do processo político. Partido esse que militou por
pouco tempo devido a divergências operacionais, mas continuou a votar em seus melhores
candidatos. (NADER, ANA Beatriz - Autênticos do MDB Semeadores da Democracia
História Oral de Vida política, p.68).

            Brizola tornou-se muito rápido numa espécie de mito, e com isso atraiu centenas
de bajuladores, e infelizmente na chamada “ala moça” do PTB. Os oportunistas e parasitas
passaram a ditar regras de conduta e isso fez Amaury romper com o partido. Nessa curta
militância, teve a oportunidade de conhecer figuras de extremo senso de humanidade, de uma
cultura sólida, como por exemplo, Julio Teixeira e Lauro Hagemann e além, claro, de adquirir
mais experiência, aprendendo muito. (NADER, 1998, p.69), (Entrevista concedida à autora no
dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).



1.4 Expulsão da PUC e Prisão



            Em 1964, ano do golpe militar, estava no quarto ano do curso de Direito na PUC-
RS e era o presidente do DCE. Esse golpe já estava sendo organizado, preparado há muito
tempo, era para ser contra Getúlio, mas com seu suicídio, a situação tomou outro rumo e
quem sabe proporção. Amaury e mais três colegas, inconformados com o sucesso do golpe e a
18



inexistência de reação ou quem sabe com uma visão equivocada das razões que levaram
Jango e Brizola ao exílio, resolveram iniciar uma pequena movimentação popular onde
invadiram o DCE da PUC-RS utilizando alto-falantes. Procuravam com isso provocar uma
reação no povo, mas isso custou caro para eles, ambos foram expulsos da universidade sem
direito à defesa. (NADER, 1998, p.69).

           Em razão da expulsão, Amaury não concluiu o curso, pois como o reitor da época
gostava de confirmar, foi excluído da PUC-RS no dia 28 de abril de 1964. Nessa data
específica, à noite, explodiram alguns petardos de efeito apenas moral nos banheiros da PUC-
RS, e como Amaury foi o único dos excluídos visto por lá, isso antes da noite, acusaram-no do
atentado, embora sua culpa nunca pudesse ser provada. Como os militares pressionaram a
reitoria exigindo que o autor fosse expulso, decidiram por expulsar Amaury, mesmo sem
provas, apenas por ele ser claramente contra o regime e por ocupar a liderança do Diretório
Central de Estudantes (DCE) naquela época. . (NADER, 1998, p.69).

           Isso causou, além de sua expulsão, prisão e violência física. Em entrevista com
sua esposa, ela deixou-me claro que essa prisão foi algo que ele sempre procurou deixar bem
guardado no seu passado, nunca comentou com seus familiares e estes também achavam um
assunto muito desagradável e procuravam fazê-lo esquecer, embora o trauma e a revolta com
a prisão o tivessem perseguido por muitos anos. Ela disse-me que nunca entrou em detalhes
de como foi, quantas vezes foram, onde foi, quais dias foram, evitavam o assunto para deixá-
lo mais feliz e ver se o acontecido caísse no esquecimento, pois era algo que lhe deixava
muito triste. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar)

           Do departamento de tortura do antigo DOPS, foi retirado por um delegado de
polícia, Heitor Gralha Bonorino, conhecido da família. O mesmo era casado com uma senhora
de Cruz Alta, ficando responsável de apresentá-lo as autoridades durante o inquérito policial
instaurado em torno da explosão. Ficou em sua residência por algum tempo, e como não tinha
provas suficientes, o inquérito foi arquivado. (entrevista concedida à autora no dia
01/11/2009, por Samira El Ammar) e (NADER, 1998, p.69).

           Em junho de 1964, vários companheiros ocuparam-se de fazer a localização de
colegas presos, a fim de poderem prestar alguma assistência. Todos os esforços foram inúteis,
pois presos políticos ficavam à margem da lei, não recebiam visitas e muito menos apoio
19



jurídico. Nesse mesmo ano, Amaury foi preso novamente e levado para um prédio inacabado
do SESME (Serviço Social do Menor), onde se encontravam vários presos políticos.

            Lá permaneceu cerca de um mês, mas por influência do então senador e líder do
governo, Daniel Krieger, foi posto em liberdade. Krieger era padrinho da então noiva de
Amaury. No SESME, não sofreu nenhum tipo de tortura. E como teve que deixar a faculdade
de Direito e as portas se fecharam profissionalmente, neste mesmo ano de 1964, no final do
mês de agosto, decide fixar residência em Ijui, onde já se encontrava um dos irmãos, mais
moço. Assim começou a trabalhar na Rádio Progresso. (NADER, 1998, p.69).



1.5 Ijuí




            FOTO 3: Com o irmão Erani na campanha de 1982.




 FOTO 3: Com o irmão Erani na campanha de 1982. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar
 Muller).
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FOTO 4: Com um grupo de amigos em Ijuí em 1964. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar
Muller).




             Na Rádio Progresso de Ijuí exerceu a função de Redator-Chefe e, aos domingos,
na hora do almoço, José Eriberto Krycszum (locutor da RPI) lia uma crônica, de autoria do
Amaury, no espaço chamado “Ponto Crítico". Todo mundo esperava a crônica do domingo,
com muita expectativa. Sucesso este que mais tarde tornou-se livro, com o mesmo título,
editado pelo Conselho Municipal de Cultura Artística Ijuí-1970. (entrevista concedida à
autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

             Foi na cidade de Ijuí que reiniciou sua atividade política, embora os áulicos do
regime militar rotulassem-no como homem subversivo ou o homem que quis destruir a PUC,
e tentassem de todos os modos tolher sua modesta ação. Nesse período com o fim do
pluripartidarismo e a criação do MDB, partido esse de oposição tolerado pelos donos do
poder, ingressou como fundador e logo começou seu trabalho como secretário-geral.
(NADER, 1998, p.70).

             Em 1968 foi candidato em uma sublegenda1 como vice-prefeito de Francisco de
Assis Costa, para dar suporte à eleição de Sadi Strapazzon e Wanderlei Burmam. Graças aos
seus 1500 votos é que Sadi Strapazzon se elegeu, pois a diferença para seu opositor foi de
apenas 290 votos. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).




1
 Naquela época cada partido poderia indicar três duplas de candidatos ao Executivo e os votos eram somados
entre os candidatos de cada partido.
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1.6 Casamento




FOTOS 5/6: Casamento de Amaury Muller e Samira El Ammar no dia 3 de Janeiro de 1970, na Igreja Matriz
Nossa Senhora da Natividade e recepção na Sociedade Ginástica de Ijuí. (fotos do acervo da família, cedida por
Samira El Ammar Muller).



             Em junho de 1967, conheceu sua futura esposa num baile da SOGI, Samira El
Ammar, então com 17 anos. E como o interesse foi mútuo, logo começaram a flertar, como
disse ela em entrevista (um termo usado na época); Amaury era noivo de uma professora que
havia ficado em Porto Alegre trabalhando enquanto ele veio para Ijuí, pois temiam que ele
fosse preso se continuasse na política estudantil. (entrevista concedida à autora no dia
01/11/2009, por Samira El Ammar).
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           O noivado já estava desgastado, devido à distância, mas ele precisava regularizar
essa situação para começar um novo relacionamento, coisa que ocorreu no mesmo ano. O Sr.
Salim El Ammar, pai de Samira, logo no começo do namoro teve uma espécie de resistência
em relação ao seu envolvimento com ele, por Amaury ser 10 anos mais velho, mais experiente
e pelo fato de as pessoas dizerem que ele era comunista por causa de suas idéias progressistas.
E naquela época era moda chamarem comunistas de “comedores de criancinhas”, como disse
sua esposa. Mas o Sr. Salim concordava, gostava e admirava as idéias progressistas de
Amaury. O pai de Samira estava na verdade preocupado, pois conhecia aquele episódio na
PUC e o fato de Amaury ser rotulado como o homem que quis explodir a PUC certamente o
incomodava. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Amaury, mesmo sendo observado por comparsas que apoiavam a ditadura, não
deixou intimidar-se e continuou seu trabalho mais modestamente. E então seu sogro percebeu
que estava entregando sua filha a uma pessoa com idéias mais progressistas, a uma pessoa que
queria o melhor para seu país e não ficava calado perante tantas injustiças que estavam
acontecendo. Assim, Amaury conseguiu conquistar a confiança e apoio de seu sogro.
(entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Amaury e Samira namoraram por um ano, no início de 1969 ficaram noivos e
casaram-se em três de Janeiro de 1970 na Igreja Matriz Nossa Senhora da Natividade aqui de
Ijuí e recepcionaram seus parentes e amigos na Sociedade Ginástica de Ijui (SOGI).
(entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).



1.7 Campanha para o 1º mandato



           Nesse mesmo ano, foi indicado por um grupo de amigos a disputar uma vaga na
Câmara de Deputados e o partido MDB fez questão que ele concorresse, pois precisavam de
candidatos novos, vigorosos para fazer frente às cassações que haviam ocorrido em 69, ano
esse que ocorreu o maior número de cassações, e com isso eles precisavam repor, ocupar
esses lugares. Então o MDB de Ijuí decidiu que ele seria a pessoa ideal, pela sua militância,
pela sua atividade, para representar Ijuí e a região na Câmara Federal e como alternativa
ideológica ao então representante da região, Antônio Bresolin. (NADER, Ana Beatriz -
Autênticos do MDB Semeadores da Democracia História Oral de Vida política, p.70).
23



           Foi algo novo, uma novidade para ambos, era a primeira vez que concorria a uma
cadeira na Câmara de Deputados. Sem condições nenhuma, estrutura zero, foi definitivamente
uma aventura, e tudo aconteceu muito rápido, o casamento e logo em seguida a campanha,
depois a vitória, tudo num curto espaço de tempo. Ele fez a campanha por toda a região com
uma ruralzinha, praticamente caindo aos pedaços, doada por membros do partido, a qual o seu
irmão Erani dirigia, e distribuição de santinhos branco e preto. Esta foi a sua campanha.
(entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Com apenas três meses de campanha e sem nenhum apoio financeiro, se elegeu
pela primeira vez Deputado Federal. Favorecido pela sorte e certamente pelas circunstâncias
favoráveis, elegeu-se com trinta mil votos, considerada uma votação acima da média para os
padrões da época. Claro que Amaury além de sua campanha e da ajuda dos companheiros do
MDB da região Noroeste do Rio Grande do Sul, teve o apoio decisivo de boa parte do antigo
“partidão” e uma pequena parcela de votos de ex-colegas das faculdades que freqüentou.
(NADER, 1998, p.70; e Eentrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El
Ammar).

           Teve nesta eleição um grande apoio da classe estudantil e operária devido às suas
propostas inovadoras para a época e devido a sua clara postura de oposição ao regime
totalitário e ditatorial imposto pelo golpe de 1964. (NADER, 1998, p.70).



1.8 Política nas Veias



           Amaury trazia nas veias a vocação pela política, pois o ramo Campos está na
própria origem de Cruz Alta e teve alguns descendentes com vida pública ativa. Aristides
Basílio de Campos, primo de sua mãe, foi prefeito em Cruz Alta e deputado estadual em duas
ocasiões, Heitor Campos, também primo de sua mãe, foi prefeito de Santa Maria e se elegeu
uma vez para a Assembléia Legislativa do Estado, outro primo de sua mãe, mais distante um
pouco, Múcio Castro, pai do jornalista Tarso de Castro (criador do Pasquim) também foi
Deputado Estadual. Assim, de alguma forma, o lado materno de sua família tinha relação
intensa com a atividade política, não surpreendendo que Amaury e seu irmão mais novo Erani
tenham abraçados a vida pública. Mesmo com esses parentes envolvidos na política, jamais
puderam ajudá-lo, pois quando concorreu a Câmara de Deputados em 1970, estes já haviam
24



morrido. (NADER, Ana Beatriz - Autênticos do MDB Semeadores da Democracia História
Oral de Vida política, p.65).



1.9 Filhos




FOTO 7: Amaury com os filhos Márcio, Alexandre e Fernanda, curtindo férias em abril de 1981, na praia de
Atlanta. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).



             Em Janeiro de 1971, já grávida do primeiro filho, o recém casal foi fixar
residência em Brasília, para Amaury cumprir seu primeiro mandato de Deputado Federal. Em
28 de julho nasce Márcio, o primeiro filho do casal, em 28 de julho de 1974 nasce Alexandre,
o segundo filho e em 14 de dezembro de 1976 nasce Fernanda, a caçula, todos eles nasceram
em Ijuí. Como podemos perceber na foto, Amaury sempre foi um pai muito zeloso, embora
não estivesse muito presente, devido a sua carreira política, mas não se descuidava da
educação e do lazer dos filhos, procurando participar sempre que possível. (entrevista
concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).
25



2 VIDA PÚBLICA



2.1 Chegada em Brasília




           Em janeiro de 1971, Amaury Müller muda-se para Brasília, levando sua esposa
Samira já grávida do primeiro filho. Tudo ainda era novidade, pois as coisas aconteceram de
uma forma muito rápida. Em um ano eles se casaram, logo em seguida a indicação para
concorrer à vaga de Deputado, a campanha, a eleição, a vitória e a mudança para Brasília.
Amaury foi para o planalto central com duas idéias fixas, uma era combater a ditadura dentro
dos limites possíveis e preconizar a necessidade de uma Assembléia Nacional Constituinte,
que devolvesse o Estado do Direito ao país e rasgasse perspectivas de profundas reformas
estruturais em seu organismo econômico-social. (entrevista concedida à autora no dia
01/11/2009, por Samira El Ammar).




2.2 Parlamentares Progressistas




           Chegando em Brasília, logo no início dos trabalhos na Câmara, sobretudo na
tribuna, os parlamentares progressistas foram se identificando. Era um grupo de idealistas:
Chico Pinto, Lysâneas Maciel, JG de Araújo Jorge, Alencar Furtado, Fernando Lyra,
Fernando Cunha, Marcondes Gadelha, Getúlio Dias, Nadyr Rossetti e muitos outros. E assim
foram fazendo amizades.

           Dessa identificação inicial, porém tímida, porque ninguém sabia nada de ninguém
e sempre havia um temor de ter alguém infiltrado, nasceu a idéia de reuniões e troca de
opiniões. Chico Pinto foi quem deu a sugestão. (NADER, 1998, p.70).
26



2.3 Reuniões dos Parlamentares



           As primeiras reuniões, limitadas a uns dez ou doze deputados, aconteceram nos
apartamentos de Paes de Andrade e Marcondes Gadelha. Mais tarde, desse grupo de
deputados nasceria o Grupo dos Autênticos: a oposição contundente, sem fronteiras ou limites
à ditadura militar e a tudo o que ela representava de nocivo à democracia, à liberdade, à
justiça social e à própria soberania do país. (NADER, 1998, p.70).



2.4 O que foi o Grupo dos Autênticos do Movimento Democrático Brasileiro (MDB)



           Esse grupo surgiu porque os colegas sentiram que dentro do próprio MDB havia
os mais moderados, condescendentes com a ditadura, que não queriam muita encrenca, não
queriam confusão, não queriam ser cassados, pois tinham conquistado aquele mandato e
queriam desfrutar dele, e então aceitavam as coisas. Tinham receio de perder o mandato e
com isso passavam a mão por cima dos acontecimentos, ficando muitas vezes negligentes aos
fatos ocorridos com a ditadura. O grupo então sentiu que faziam parte de uma ala mais
rigorosa, mais radical, mais autêntica, e assim formaram o Grupo Autêntico do MDB.
(entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Era formado por 23 deputados federais, que fizeram política de oposição, em
momento tão adverso, em plena ditadura militar. O Grupo elaborou e assinou um documento
de Anticandidatura de Ulysses Guimarães, na sessão da Câmara que elegeu o general Ernesto
Geisel, Presidente do Brasil, em 15 de janeiro de 1973. Nesse documento, os Autênticos
devolviam o voto, o qual consideravam uma farsa, ao grande ausente, o povo brasileiro.
(NADER, 1998, p.15).

           Expressavam também contrariedade em relação ao comportamento de Ulysses
Guimarães, que descumpriu o acordo com o grupo e compareceu àquela sessão na condição
de candidato. (NADER, 1998, p.15).

           O Grupo sentiu necessidade de ter uma reação mais radical, mais positiva, mais
forte no combate a ditadura diante do que estava acontecendo. A principal luta do Grupo era
contra a ditadura, e quanto ao projeto de sociedade pretendido por ela. Situava-se no apoio ao
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povo, consubstanciado em projetos sociais. Amizade e compromisso com o povo e não puxa-
saquismo à revolução, precisava de deputados legítimos, que fossem autenticamente amigos
do Brasil e do povo brasileiro. Os Autênticos caracterizavam-se como verdadeira oposição no
Congresso Nacional, principalmente na Câmara. Era o Grupo que fazia oposição de forma
declarada, franca, aberta, induvidosa, sendo em síntese as finalidades de sua existência.
(entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Faziam parte desse grupo os parlamentares mais ousados, mais corajosos, que
apresentavam projetos mais arrojados, e que não tinham receio de denunciar as
particularidades da ditadura, tais como as cassações, as mortes e as prisões. Fatos esses que
ocorriam muito nesse período, como o caso do jornalista Vladimir Herzog, que foi convocado
para depor e apareceu enforcado em sua cela. Sua esposa Clarice Herzog desde então
participou de vários movimentos, a vida toda, não largou mais, não parou, lutou pela anistia,
pelas eleições diretas. Ela participou de todos os movimentos sociais, sempre
lembrando/denunciando a morte do marido. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009,
por Samira El Ammar).

           Outro caso que chocou muito foi o do deputado Rubens Paiva, que teve seu corpo
jogado de um avião em alto mar pelo DOPS. Sua esposa Eunice Paiva também passou a vida
lutando, correndo atrás de justiça, cobrando da ditadura a morte do marido que foi depor e não
apareceu mais. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Isso sem esquecer o caso de Stuart Edgard Angel Jones, cuja mãe, Zuzu Angel,
morreu tentando encontrar o corpo do filho e lutando contra a ditadura. Procurou denunciar a
ditadura em seus desfiles, pois era uma modista de renome internacional. Até hoje dizem que
o acidente que a matou foi forjado, levando a crer que foi assassinada por ter furado a
segurança e entregado uma carta a Henry Kissinger, Secretário do Estado Norte Americano
que estava no Brasil em visita oficial. Essa carta denunciava as torturas da ditadura, e esse
episódio deixou muitos militares irritados, deixado-a marcada. Casos como este tiveram
grande repercussão nacional, e são apenas alguns, entre tantos outros. (Entrevista concedida à
autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).
28



2.5 Luta Armada



           Em depoimento a Ana Beatriz Nader, Amaury relatou o que achava da luta
armada, qual era sua opinião.

                       [...] Em razão do agravamento da repressão política, nos anos amargos do governo
                       Médici, muitos do Grupo dos Autênticos consideravam que a luta armada, embora
                       justa e desejável, oferecia forte pretexto para o regime prender, torturar e assassinar,
                       encurralando cada vez mais os direitos humanos no país. Não era uma crítica aos
                       movimentos em si e menos ainda aos que deles participavam. Muitos dos que se
                       exilaram, fizeram autocrítica no exterior. Nas atividades cotidianas temiam         que
                       essas questões, pudessem diminuir a disposição de outros brasileiros de manter
                       acesa a luta contra o regime autoritário [...]. (NADER, 1998, p.71).



           O grupo, por um período, defendeu a luta armada, pois na época não havia outra
solução, para poder fazer frente à ditadura, porque cada um fazia o que queria. Eles achavam
que a solução era essa, no vigor da juventude, no auge do idealismo, o grupo achava que seria
necessária a luta armada por uma época, por um período. Depois eles começaram a lutar pelos
direitos dos cidadãos, dos trabalhadores, para acabar com a injustiça social e se detiveram
mais a esse tipo de trabalho que trazia benefícios concretos para a população. (Entrevista
concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

            Amaury fala, em depoimento, sobre por que os parlamentares precisavam
defender suas posições no parlamento, pelo menos para poder denunciar as injustiças.

                       [...] Em outras palavras, o grupo achava que o mandato parlamentar, mesmo sujeito
                       a violências de toda a ordem, tinha certa importância, no mínimo para denunciar as
                       violações dos direitos humanos, o empobrecimento da população e a entrega
                       despudorada de nossas riquezas ao capital estrangeiro [...]. (NADER, 1998, p.71).



2.6 Como foi lançar um Anticandidato



           E com base nisso tiveram a idéia de lançar um anticandidato, uma espécie de
contraponto ao nome que o regime militar imporia ao Congresso Nacional para a presidência
da República. Sabiam que a candidatura não era para valer, mas o que desejavam era espaço
no rádio, na televisão para, mesmo correndo o risco de cortes da censura fardada, denunciar
todas as mazelas do regime e a farsa da eleição indireta, por um Colégio Eleitoral, sem a
menor representatividade. Assim o Grupo lançou Ulysses Guimarães como candidato de
29



protesto. No processo de Anticandidatura tinham a finalidade de denunciar a ditadura no
exterior, que devido ao controle, a mordaça na imprensa da época, em especial em relação ao
MDB, era algo difícil de fazer. Dessa maneira lançaram Ulysses Guimarães como candidato
do Grupo aproveitando os veículos de comunicação do governo para colocar o nome do
candidato da oposição em evidência na mídia e mostrar no exterior que havia resistência.
(NADER, 1998, p.71).

           De certa forma, o grupo alcançou seus objetivos, não plenamente, mas foi uma
maneira de denunciar, de colocar um anticandidato para mexer com a população, para sacudir
o sistema. Sabiam que não tinham nenhuma chance, mas foi uma forma de protestar, de
marcar posição. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Era raro o Grupo se reunir para estabelecer formalmente alguma meta de atuação.
O objetivo central era combater a ditadura. Com a cassação do deputado Marcelo Gatto em
fevereiro de 1976, o Grupo passou a se reunir mais frequentemente, a fim de fixar uma linha
de comportamento que, sem embargo do combate ao regime, evitasse qualquer pretexto para
novas cassações. Contudo, a idéia não prosperou. A conduta parlamentar do Grupo era
incontrolável fora do Congresso Nacional. Se lá, devido ao poder de polícia da mesa diretora,
a censura podava quaisquer alusões mais contundentes ao regime, nos comícios, o discurso
inflamado, denunciador, das mazelas da ditadura, era mais solto e sem nenhum controle.
Nenhum dos integrantes do Grupo ignorava que os donos eventuais do poder ansiavam por
qualquer pretexto para desfigurar e desfibrar o Grupo. Era difícil estabelecer regras para
parlamentares que com razões de sobra, expunham seus mandatos e sua própria integridade
física na luta contra o inimigo comum. No âmbito congressual, em que pese à censura da
mesa, era comum ocuparem a tribuna para denunciar violências, torturas e assassinatos, como
foi o caso da guerrilha do Araguaia (Xambioá). (NADER, 1998, p.72).

           O discurso uniforme, articulado, no sentido de execrar o regime de exceção e o
empobrecimento de setores majoritários da população, produziu resultados surpreendentes. O
MDB passou a gozar de respeito e credibilidade perante a opinião pública. As eleições
parlamentares de 1974 provaram isso. O partido aumentou consideravelmente o número de
deputados estaduais e federais e obteve 16 vitórias em 23 disputas para o Senado Federal. Foi
o auge do Grupo Autêntico. (NADER, 1998, p.72).
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2.7 Desintegração do Grupo



           Essa maiúscula vitória começou a marcar a decomposição do grupo. Alguns
integrantes imaginavam ser impossível galgar postos de comando, inclusive na mesa diretora
da Câmara. Com o crescimento do MDB, chegaram ao Congresso Nacional vários outros
parlamentares que, espelhados na conduta do Grupo, pretendiam ampliá-lo e transformá-lo
em um instrumento ainda mais poderoso de combate ao regime militar. Com a explosão de
algumas vaidades pessoais, esses novos parlamentares tiveram certa decepção e assim criaram
por eles chamados o Grupo Neo-Autênticos. Em 1978, houve uma renovação muito grande na
câmara. Com essa renovação, muita gente que então fazia parte do grupo não se elegeu, e
muita gente nova entrou. Então o Grupo começou a aumentar, diversificar e acabou se
desintegrando. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Em 1977 começou o movimento pela anistia, o qual cresceu exponencialmente no
ano de 1978. Esse era o sonho de todos que lutavam contra a ditadura, e o Grupo aderiu a esse
movimento, para poder trazer os presos políticos de volta. Essa lei era o sonho dourado de
todo político, pois era o único jeito de acabar com a ditadura no país. (Entrevista concedida à
autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Então, naturalmente, o grupo foi se afastando, até mesmo porque a ditadura ficava
em cima. Houve casos em que eles perseguiram muito e as pessoas acabaram por ficar
receosas, outros se deixaram influenciar pela família. Havia amigos de Amaury cujas esposas
imploravam de joelhos para não irem à tribuna, prestar solidariedade, apoio aos colegas
cassados, pois corriam o mesmo risco de serem cassados. Como é que iria se manter, se
sustentar. Com isso começaram a se afastar e automaticamente o grupo foi se desintegrando.
(Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Outros integrantes do grupo achavam que a dissolução teve três inimigos: o PT, o
Arraes e o Brizola. Consideravam inimigos porque a partir da anistia o grupo se subdividiu,
alguns seguiram Brizola, outros o Arraes e alguns o PT. (NADER, 1998, p.332).
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2.8 Os Neo – Autênticos



           Os Neo-Autênticos queriam na verdade pertencer ao Grupo dos Autênticos, mas
não dava mais, pois o Grupo dos Autênticos já tinha sido feito; entretanto, chegaram a se
integrar. Mas para ocorrer essa integração havia uma necessidade de identificar quem estava
chegando, quem queria participar do Grupo começou a ser chamado de Neo-Autêntico.
(Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Na verdade o que motivava essas pessoas era uma admiração pelo Grupo dos
Autênticos, pois foram para Brasília já conhecendo esse Grupo de nome e seus trabalhos.
(Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           O sujeito, para ser Autêntico, tinha que ser contra o golpe militar, combater os
generais do governo. Isso era fundamental. A partir desse ponto, os próprios deputados não-
Autênticos procuraram ser Autênticos deputados em seus discursos. Tinham medo de não se
identificarem como Autênticos em seus pronunciamentos, colocando em risco as eleições
posteriores e, por isto, adequavam seus discursos ao Grupo dos Autênticos. (NADER, 1998,
p.344).

           No plenário ou mesmo fora dele, mas sem a menor articulação, a conduta de
ambos era idêntica. Como sempre acontece, uns se expunham mais que os outros não por
valentia ou por brio, mas por temperamento. (NADER, 1998, p.72).



2.9 Discurso da Cassação



           Em 1976, no início da campanha municipal, Nadyr Rossetti e Amaury Muller, em
um dos comícios na cidade de Palmeiras das Missões, ultrapassaram os limites que a ditadura
fixou para a oposição. Os discursos, proferidos em momentos bem diferentes do comício,
foram considerados insultuosos às Forças Armadas. Em entrevista à esposa de Amaury, pedi
qual foi o conteúdo desse discurso, e ela me disse que não estava presente, mas foi algo que
repercutiu muito na imprensa. Basicamente o discurso condenava a ditadura, pregando a
queda do regime e instigando a volta dos exilados para o país, entre eles Leonel Brizola,
Miguel Arrais, e muitos outros que estavam espalhados pelo mundo. Foi uma das coisas que
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mais influenciaram na cassação de ambos, pois o governo militar tinha horror ao Brizola
devido à sua posição contra a ditadura, temendo que ele voltasse para acabar com o regime.
(NADER, 1998, p.72) e (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El
Ammar).

            No dia seguinte ao comício, os jornais de Porto Alegre publicaram manchetes do
tipo ”MBD homenageia Brizola e prega queda do regime”. Alguns deputados gaúchos como
Fernando Gonçalves e Hugo Mardini, entre outros, intimamente ligados à ditadura,
expressavam suas inquietações com o que chamavam de “agressões aos militares” e mal
ocultavam suas preocupações para com o fato de que tais manifestações pudessem criar
obstáculos à “abertura lenta e gradual”, proposta pelo general Geisel. Durante a semana que
seguiu ao comício, os meios de comunicação, em serviço deplorável ao poder, criticaram a
conduta de Amaury e Nadyr, insinuando que a inquietação dos quartéis só terminaria se os
deputados que ousassem ofender a elite militar fossem punidos, isso quer dizer se tivessem
seus mandados cassados. Fernando Gonçalves, deputado federal por Palmeiras das Missões,
exigiu da emissora que transmitiu o comício a entrega das fitas. De posse das mesmas, o
adulador cuidou de entregá-las ao comando do IV exército, sediado em Porto Alegre, outra
copia foi levada a Brasília e entregue ao SNI. A partir daí a cobrança da mídia foi diária.

            Dois dias depois, já ao anoitecer, os telejornais, em edições extraordinárias,
anunciavam a cassação de Amaury e Nadyr, sem dar-lhes a chance de irem à tribuna para
contestar as acusações de agitadores, e se despedir dos colegas. A data de 28 de março de
1976 foi considerada por Amaury um dos episódios mais traumáticos de sua vida. (NADER,
1998, p.72).




2.10 A Cassação



            Na época tinha dois filhos pequenos, Márcio com cinco anos incompletos e
Alexandre, com pouco mais de um ano e meio. Como sempre foi um homem de poucos
recursos, que jamais se preocupou com coisas materiais, a cassação transformou-se em
pesadelo. Seu pai, tão mais pobre que ele, não podia ajudá-lo materialmente, a família da
esposa, embora financeiramente melhor estabilizada, tampouco tinha condições de auxiliá-los.
Foi uma espécie de inferno terrestre. (NADER, 1998, p.73)
33



           Perante sua esposa, tentou demonstrar tranqüilidade, procurou não se desesperar
para passar mais segurança a ela, que se encontrava indignada, revoltada com a situação.
Segurou muito bem o episódio da cassação, com dignidade. Foi à Câmara, conversou com
colegas, deu as declarações que precisava para a imprensa:

                       Eu não, rodei a baiana mesmo! Xinguei todo mundo, entrei na Câmara, no
                       congresso, berrei, esperneei, briguei, cobrei dos colegas também, os chamados
                       moderados que estavam de conchavo com a ditadura, de se calarem diante da
                       situação, frente a indiferença de alguns colegas de tribuna e até então julgando-se
                       amigos. Até hoje em Brasília o pessoal da Câmara comenta que eu botei o líder do
                       MDB que se chamava Laerte Vieira, de Santa Catarina, para correr do gabinete, a
                       gente tava lá, o Amaury foi levado para a câmara assim que saiu a notícia às seis
                       horas da tarde. Anunciaram na imprensa, “reunido o conselho nacional de
                       segurança, baseado no AI-5, decide que Amaury Muller e Nadyr Rosseti, foram
                       cassados e tiveram seus direitos políticos suspensos por dez anos”. Aí foi lido na
                       tribuna e foi aquela gritaria, os mais corajosos foram lá protestar, como o Lysâneas
                       Maciel, esse sim foi corajoso, sabendo que poderia ser cassado também, foi para a
                       tribuna em defesa a Amaury e Nadyr Rosseti; em seu discurso, referiu-se à questão
                       do medo. Em primeiro de abril, quando discursava sem microfone e sem mesa
                       diretora, por volta das seis e meia da tarde, alguém lhe disse: - “Você acaba de ser
                       cassado.” Ao que imediatamente respondeu sob aplausos: - “cassados estamos
                       todos”. Isso sim que é um cara corajoso, que é um companheiro, sabendo que ali não
                       tinha mais volta para ele, não ficou calado diante dos acontecimentos. Então se
                       reunindo no gabinete de Amaury, apareceu o Laerte Vieira, sugerindo ao Amaury
                       que fosse se despedir do presidente da Câmara Célio Borges, que era da ARENA.
                       Eu enlouqueci literalmente, eu tava magoada e com isso fiquei histérica, disse: o
                       que? Se despedir, numa hora dessas, de injustiça, vai se despedir coisa nenhuma,
                       suma daqui, desapareça, se Célio Borges quer se despedir que venha aqui, que é o
                       que deveria fazer como presidente da Câmara, prestar sua solidariedade a um
                       membro da Câmara. Noutro dia estava em todos os jornais e todos comentavam na
                       Câmara, cuidado com a mulher do Amaury, tá botando todo mundo pra correr, tinha
                       uns que ligavam pra saber se poderiam ir fazer uma visita, dar um abraço, prestar
                       solidariedade a ele [...].(trecho da entrevista concedida a autora no dia 03/11/2009,
                       por Samira El Ammar).



           Com o tempo, a violência da cassação acabou sendo assimilada, não obstante seu
impedimento de trabalhar no mercado formal, não foi aceito num instituto, mantido pela
Câmara que produzia discursos e trabalhos de pesquisa para os parlamentares, embora fosse
dirigido por colegas deputados. Essa negativa teve como fulcro o medo de desafiar a ditadura.
Mesmo assim, durante um período, ele realizou trabalhos para essa entidade com o nome de
sua esposa. (NADER, 1998, p.73).

           Um fato curioso e triste que também marcou a vida de Amaury nesse ano de 1976,
no período da cassação, foi que seu pai ficou sabendo da cassação pelo Jornal Nacional do dia
28 de março de 1976, decidiu então ir até a igreja matriz de Cruz Alta rezar pelo seu filho
Amaury, e, mais tarde, no mesmo dia, foi encontrado pelos seus outros filhos, passando mal
na Igreja matriz. Foi levado ao hospital e constataram que ele havia sofrido um AVC
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(Acidente Vascular Cerebral), mais conhecido como derrame. A partir daí ficou paraplégico e
com dificuldades de falar, vindo a falecer dois anos depois de complicações das seqüelas do
AVC. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).



2.11 Vida pós-cassação



           A vida pós-cassação mudou muito, trabalhava em casa, fazendo artigos, trabalhos
de colegas, pesquisas, projetos, discursos, pois tem deputado que não redige uma linha, o
assessor que redige, o assessor é que faz tudo, com Amaury era diferente, ele não admitia que
alguém redigisse seus discursos, seus telegramas, ele não admitia que alguém fizesse isso por
ele, era muito perfeccionista, ele que fazia tudo. Ele sempre teve muita habilidade, facilidade,
vocação para pesquisar, escrever, tendo publicado alguns livros: Ponto Crítico, Teatro do
Absurdo, A Luta Continua volumes 1 ao 6. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009,
por Samira El Ammar).

           No começo foi muita mágoa, muita revolta, até assimilar, acostumar-se com a
idéia da cassação, foi triste, doloroso. Ele procurou não demonstrar seu desespero, mostrando-
se forte perante sua esposa, que era mais passional, mais emotiva, mais transparente. Ele se
segurava mais, mas não deixava de ficar nervoso, irritado, preocupado com a situação.
(Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Na época o cassado político era uma espécie de hanseniano, do qual muitas
pessoas fugiam ou guardavam prudente distância. E Amaury afirma em seu depoimento:

                        [...] Cabe aqui dizer que nem todos agiam dessa maneira. Alguns deputados, como
                        Fernando Cunha, JG de Araújo Jorge, Marcondes Gadelha, Getulio Dias e Álvaro
                        Dias, foram extraordinariamente solidários. Fernando Cunha merece um destaque,
                        por ter sido especialmente solidário tornou-se duplamente compadre de Amaury, e
                        sua filha mais nova leva o nome de Fernanda em virtude de homenageá-lo também.
                        Outro destaque para o jornalista Josélio Gondim da Paraíba, pela sua atitude
                        solidária, tido por alguns como um homem esperto, boa vida e oportunista. Ele havia
                        fundado uma revista em Brasília, com o nome O Espelho, e convidou-o para
                        trabalhar junto com ele [...] (NADER, 1998, p.74).
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2.12 Revista o Espelho



           Mesmo sabendo das dificuldades político-profissionais de Amaury, Josélio
Gondim o acolheu, deu-lhe um espaço na revista e nunca censurou nenhum texto por ele
produzido. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Ele publicava artigos sobre economia, e isso rendeu-lhe o cargo de diretor
econômico, não ligado à política, porque a revista também não queria gente que radicalizasse
muito, pois tinham medo de não conseguir o patrocínio, a publicidade oficial que
necessitavam para se manter. Então algumas vezes ele chegava e pedia para Amaury dar uma
“maneirada”, se segurar, por isso seu cargo era na área de economia, pois tinha essa
preocupação de ele começar a expor muito a revista, ficando claro então que ele não tinha
uma liberdade total de expressão. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por
Samira El Ammar).

           Ele começou falando sobre economia, pois tinha muita coisa para se falar nessa
área, nesse período da ditadura. Não era só na política que as coisas não estavam certas, a
economia do país também vivia num caos, tinha muita coisa errada. Mas Amaury era
inteligente (e teimoso), passado um tempo começou a misturar política junto na sua coluna.
Ele sentiu um pouco mais de coragem, liberdade para se expressar, pois já havia começado
alguns movimentos para criação da lei de anistia e isso possibilitava essa coragem. Já se
falava na anistia, no exterior já havia movimentos pela anistia no Brasil, tinha exilados no
lado de fora. Pessoas ligadas à cultura, jornalistas, escritores, prêmio Nobel disso e daquilo,
preocupados com a ditadura da América do Sul, já se manifestavam que isso tinha que acabar.
O movimento começou vindo com toda falta de mídia, de globalização, não tinha nada disso
na época, mesmo assim a TV já dava dicas. A TV Globo foi uma das que apoiou a ditadura,
foi quando Roberto Marinho pôde se instalar na TV Globo e conseguir a concessão do canal e
todas as regalias. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).

           Amaury tinha um grande apreço pelo jornalista Josélio Gondim. Em sua
avaliação, achava-o um homem de bem, justo e solidário, ignorando o que outros achavam.
Por vários meses, manteve a coluna assinada na revista. O pagamento mensal sempre era um
problema, mas ainda assim conseguiu sobreviver dignamente, e sempre lhe foi grato por tudo
isso. (NADER, 1998, p.74).
36




2.13 Lei da Anistia



           Em 1977 começou a se desenhar no horizonte a possibilidade da anistia,
começaram a ganhar expressão os movimentos pela anistia. Terezinha Zerbini fundou em São
Paulo o Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA). E esse embrião deu lugar a outros CBA’s, que
se espalharam rapidamente por todo o país. Em Brasília, com apoio de vários setores da
sociedade e em especial da OAB, os deputados criaram um CBA, cujas reuniões cada vez
mais concorridas, eram vigiadas de perto pelos órgãos de repressão. Apesar disso ninguém foi
preso ou molestado. (NADER, 1998, p.74).

           Depoimento proferido por Amaury em relação à anistia.

                       [...] Com a ascensão de João Baptista Figueiredo ao poder, a idéia cresceu e
                       encontrou eco no próprio plantonista do regime militar. Foi ele que, em 29 de
                       Agosto de 1979 , assinou a lei da anistia, uma anistia capenga, míope, que jamais foi
                       ampla e irrestrita, mas que acabou contemplando varias lideranças políticas, então
                       exiladas no exterior. Amaury também foi beneficiado por ela, embora sempre
                       criticasse seu caráter limitado, pois tanto ele como outros colegas anistiados em
                       1979 foram impedidos de concorrer às eleições de 1978. Tiveram que aguardar o
                       pleito de 1982, quando Brizola, Arraes, Lysâneas, Nadyr e Amaury receberam a
                       unção das urnas e voltaram à vida pública [...]. (NADER, 1998, p.74).



2.14 Volta ao Plenário em 1983



           A volta ao plenário, em 1983, foi cheia de muita emoção, porém agora os
deputados que outrora foram cassados, queriam mostrar mais trabalho, havia uma
preocupação em desempenhar bem o mandato, atender aos eleitores. A eleição de 1982 já fora
no pluripartidarismo. O governo extinguiu o bipartidarismo (Arena/MDB), para enfraquecer a
oposição que era muito forte, e já tinham conquistado a anistia, assim liberou o bipartidarismo
para poder dividir o MDB. (NADER, 1998, p.74).

           Diante disso, Amaury voltou ao congresso, mas já não era o mesmo grupo, não
eram todos do mesmo lado dos antigos companheiros, do mesmo partido, parte somente, a
outra parte pertencia a outros partidos, com ideologias afinadas, mas adversários. Começou
uma luta para poder se manter no poder, pois na hora do voto a voto, o que importa é a
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legenda e não o pensamento igualitário. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por
Samira El Ammar).

           Os projetos que Amaury tinha antes da anistia voltaram a ser representados
novamente, projetos trabalhistas, da aposentadoria da mulher rural. Novas estratégias, novas
medidas para poder se manter no congresso, para poder manter o esquema todo. Era mais
complicado, mais trabalho, mais cuidado, mais preocupação com as lideranças do interior, do
seu Estado. Era necessário manterem contatos permanentes. Os deputados passaram a não
ficar mais morando permanentemente em Brasília, iam toda semana para os seus Estados,
porque lá estavam os eleitores e estava cheio de gente querendo conquistá-los, de todos os
partidos na sua base, eu vou lá para poder garantir meus votos. Deputados de São Paulo, Rio
de Janeiro, Minas Gerais que já não eram de ficar em Brasília, aí que começaram a não ficar
mesmo, na sexta-feira iam embora, depois começou na quinta e hoje então nem se fala, na
quinta-feira já não tem votação na câmara. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009,
por Samira El Ammar).

           Amaury, aos poucos começou a considerar que o Congresso Nacional tinha
perdido sua perspectiva histórica e não era a caixa de ressonância das mais legítimas
aspirações populares e muito menos representava a maioria dos brasileiros. O custo das
eleições assumiu proporções gigantescas.

           Com a volta ao plenário, Amaury deixa claro sua decepção, em discurso proferido
por ele a Ana Beatriz Nader:

                        [...] Hoje, no ritmo que as coisas vão, só os ricos e alguns cooperativistas reúnem
                        condições materiais de disputar mandados. Há um processo de degeneração das
                        eleições, uma espécie de metástase que vai corroendo as entranhas da dignidade e da
                        honradez do eleitorado. Uns poucos ainda mantém viva a chama do idealismo. A
                        maioria, infelizmente, só vota se receber favores em troca. Ora, como voto não é
                        mercadoria, nego-me a participar dessa farsa. De resto, não possuo recursos
                        financeiros para enfrentar o poder econômico. Mas, mesmo que os tivesse não
                        concordo em participar de um processo sabidamente espúrio e prostituído. Isso não
                        quer dizer que todo parlamentar escorregue para o pântano da dissolução dos
                        costumes políticos. Em absoluto. Remanescem alguns, talvez uma centena, que
                        repudiam esse tipo de escambo imoral. A maioria, porem, compra votos e
                        comercializa a própria consciência. Sempre digo a meus filhos, que minha herança e
                        minha coerência... É a minha coerência, e não mais que minha, a minha coerência,
                        meu grande legado [...]. (NADER, 1998, p.75).
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3 VIDA PÓS-DITADURA



3.1 Motivo de ciumeira entre os colegas




           Amaury e alguns colegas do Grupo Autênticos voltaram para Câmara, como
Lysâneas Maciel, Chico Pinto e Fernando Cunha, esses cumpriram apenas um mandato e
decidiram deixar a vida pública. JG de Araújo Jorge e Nadyr Rosseti não conseguiram a
reeleição em 1986, para a Assembléia Nacional Constituinte, Fernando Lyra, que não havia
sido cassado parecia ser o único que tinha sobrado do Grupo além de Amaury. (NADER,
1998, p.75).

           Com a volta para Câmara de Deputados em 1982, Amaury cumpria seu quinto
mandato e não havia mudado suas antigas posições políticas. Na verdade, isso fez com que ele
amadurecesse e aprendesse muito, não tinha também idade para os mesmos arroubos de antes.
Esse amadurecimento, no entanto, não alterou sua visão de uma sociedade socialista, mais
livre, mais igualitária e mais humana. E declara:

                        [...] Mantenho inabaláveis minhas convicções nacionalistas, profundamente
                        enraizadas desde os tempos de adolescência quando participei da histórica campanha
                        pelo monopólio estatal do petróleo e pelo controle de setores estratégicos da
                        economia. Hoje, porém, o quadro é diferente, não temos uma ditadura militar, mas,
                        pior, temos um neoliberalismo selvagem, ancorado na parafernália do
                        desenvolvimento tecnológico e na idéia de que a competitividade, em um mundo
                        globalizado, é que move o progresso [...]. (NADER, 1998, p.76).



           Os agentes tinham uma admiração muito grande pelo Amaury, e era muito
conhecido por todos, pelos funcionários, pela imprensa por ter pertencido ao grupo dos
deputados mais recentes a serem cassados, pois a pouco tempo ainda estava militando, ao
contrário dos deputados cassados em 1967/1969 que estavam afastados do congresso há mais
tempo. Todos estavam contentes com sua volta, causando inclusive muita ciumeira entre os
cassados antigos. Eis o que declarou Samira em relação a isso:

                        [...] Amaury era muito ligado às embaixadas. Na cassação, ao contrário do que pode
                        se supor, o cassado político que tem prestígio, respeitabilidade continua sendo
                        prestigiado. As embaixadas, embora instaladas no Brasil, legalmente não devem
                        satisfação ao governo brasileiro em termos de prestigiar as pessoas e exilá-las, é um
                        direito internacional desde que não fira o governo e ofenda o mesmo. Essas
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                          embaixadas procuravam muito o Amaury, depois de ele cassado. Não era só pelo
                          prestigio dele como parlamentar, mas pela pessoa, pela luta, pelo trabalho e até para
                          prestar solidariedade, muitas embaixadas eram contra a ditadura. Eram países
                          democráticos, mas estavam ali trabalhando então precisavam respeitar, não podiam
                          dar palpites.

                          Amaury sempre era convidado, por pessoas que trabalhavam na embaixada, para
                          festas e eventos, criando um vínculo muito grande depois da cassação. Quando ele
                          retornou para a Câmara, todas as embaixadas queriam fazer festa, homenagear essa
                          vitória, despertando então um pouco de inveja entre seus colegas parlamentares. [...]
                          (trecho da entrevista concedida a autora no dia 03/11/2009, por Samira El Ammar).



             Todos falavam no nome de Amaury. Pela sua grande respeitabilidade, recebia
muitos convites dos Parlamentos e de Governos dos mais variados países, para dar palestras
ou participar em congressos, como Finlândia, Londres, México, Austrália, Paraguai, Cuba,
etc..., e isso acabava gerando ciúmes em seus colegas. (Entrevista concedida à autora no dia
01/11/2009, por Samira El Ammar).




FOTO 8: Em Orlando (na Disney). (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).




FOTO 9: No México (28/02/1993). (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
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FOTO 10: Na China . (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).




FOTO 11: Na Austrália (21/11/1992). (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).




FOTO 12: No Paraguai. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
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FOTO 13: Em Cuba. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).




FOTO 14: Com o Embaixador do Kuwait (25/02/1989, data nacional do Kuwait). (foto do acervo da família,
cedida por Samira El Ammar Muller).
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FOTO 15: Com Yasser Arafat, Presidente da causa Palestina. (foto do acervo da família, cedida por Samira El
Ammar Muller).




FOTO 16: Com o Presidente da África, Nelson Mandela. (foto do acervo da família, cedida por Samira El
Ammar Muller).
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             Todos os anos, Amaury recebia Diploma do Presidente do Departamento
Intersindical de Acessória Parlamentar (DIAP), por figurar entre os melhores “cabeças” do
Congresso Nacional. Recebeu também várias condecorações ao decorrer de sua carreira.
(Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).




FOTOS 17/18: Recebendo Diploma do presidente do DIAP e sendo condecorado pelo seu trabalho em prol dos
trabalhadores. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).


             Amaury estava quase que diariamente na Tribuna Plenário da Câmara,
defendendo os seus projetos de interesse social. Sempre participava dos seminários e eventos
do partido. Foi 4º Secretário da Câmara de Deputados e presidente durante anos na Comissão
de Trabalho, seu trabalho foi pacifico, conseguindo excelentes melhorias para os
trabalhadores. Frequentemente recebia amigos e eleitores em seu gabinete. (Entrevista
concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).
44




FOTO 19: Amaury em seu gabinete com amigos e eleitores. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El
Ammar Muller).




FOTO 20: Convenção do PDT. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).




FOTO 21: Encontro Nacional do PDT. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
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FOTO 22: Campanha de Leonel Brizola para presidente. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El
Ammar Muller).




FOTO 23: Amaury na Tribuna. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
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FOTO 24: Amaury na Bancada. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).




FOTO 25: Comissão de Trabalho da Câmara com o Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. (fotos do acervo
da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
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FOTO 26: Na Tribuna com Ulysses Guimarães. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar
Muller). (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).




FOTO 27: Com o Presidente Tancredo Neves e a filha Fernanda, em sua residência, em Brasília, quando recebeu
delegação de vereadores de Ijuí. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).




3.2. Diretas Já




             João Baptista Figueiredo, eleito pelo colégio eleitoral, assume a presidência com a
finalidade de restaurar, devolver a democracia ao país. O presidente decreta lei de anistia,
devolvendo o direito para políticos, artistas e demais brasileiros que se encontravam exilados
48



e condenados por crimes políticos, de regressarem a seu país. Seria o último presidente
militar. (Wikipédia Livre).

             Dessa maneira inicia o processo de redemocratização do país. João Figueiredo em
dezembro de 1979 modificou a legislação, restabelecendo o pluripartidarismo do país.
(Wikipédia Livre).

             João Figueiredo enfrentou uma grande crise econômica desde que assumiu seu
governo, isso fez com que os partidos de oposição ao regime crescessem e os sindicados e as
entidades de classe se fortalecessem.

             Em 1984, o povo começa a se organizar e surge um movimento pelas Diretas Já,
foi um ato de mobilização dos civis, que queriam a volta de eleições diretas pra presidente.
Isso tudo teve início com a ementa constitucional Dante de Oliveira pelo congresso, mas não
teve sucesso, perdeu por 22 votos. (site: Nova República).

             Esse movimento pelas Diretas Já tomou proporções gigantescas, foi além das
organizações partidárias, acontece grandes comícios, o povo foi pras ruas em passeatas,
tornado-se uma mobilização nacional. A população contava que com a vitória das Diretas Já,
colocando todas suas expectativas e esperanças, pois esperavam que pudessem ser
representados com maior autenticidade e a resolução de muitos problemas como: salários
baixos, segurança, inflação, entre outros problemas, que só encontrariam se pudessem
escolher seus representantes. (FAUSTO, 2003, p.509).




FOTO 28: Amaury percorreu o país nas Diretas Já. Nessa foto com o cantor Agnaldo Timóteo, que participou do
comício em Ijuí e região. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
49



           A derrota das eleições diretas causou um grande desânimo e frustração na
população, mas os adeptos ao movimento sentiram uma esperança parcial e julgaram-se
vitoriosos quando um de seus líderes, Tancredo Neves, foi eleito presidente da república, pelo
colégio eleitoral. Iniciaria aí uma transição para a democracia no Brasil. (FAUSTO, 2003,
p.510).

           Tancredo Neves, ao ser eleito, já começou com intensas atividades de contatos no
país e também uma viagem ao exterior. Já se encontrava doente, mas resolveu deixar a doença
para depois da posse. Não teve tempo, pois na véspera de assumir o cargo de presidente da
república foi internado as pressas por complicações de sua doença. Passou por várias
cirurgias. José Sarney, que era seu vice, assumiu como presidente interino. (FAUSTO, 2003,
p.514).

           No dia 21 de abril de 1985, morre Tancredo Neves num hospital de São Paulo,
depois de ter adquirido infecção hospitalar. A população se comoveu, foi para as ruas
acompanhar o cortejo com o corpo do presidente. Tinha-se a sensação de que o país acabara
de perder um político muito importante num momento tão delicado. (FAUSTO, 2003, p.515).

           Essa sensação tinha tal fundamento, pois Tancredo tinha qualidades que eram
raras de se encontrar no meio político, era considerado um político honesto, com equilíbrio e
coerência de posição e isso era maior do que suas preferências ideológicas. (FAUSTO, 2003,
p.515).

           José Sarney assume como presidente em exercício pleno no dia 15 de março de
1985 e dando fim aos 21 anos de Regime Militar. A redemocratização só foi completa em
1988 com a promulgação da constituição de 1988. (site: Nova República).




3.3 Dever Cumprido




           Amaury sentiu-se contente e com uma sensação de dever cumprido com a eleição
de Tancredo, tanto ele como outros idealistas e companheiros de luta. E Samira disse:

                       [...] Foi muito gratificante, ele estava inteiramente a favor dessa eleição, tanto que
                       em um determinado período, o Brizola andou ameaçando, sugerindo que não
50


                        votassem no colégio eleitoral, discutiu com o Tancredo por um motivo qualquer que
                        ele inventou na época. Disse pro Amaury: nem pensar que o Brizola vai impedir
                        essa eleição. Nós estávamos numa luta ferrenha na época, era como se fosse uma
                        eleição direta, o colégio eleitoral acabou sendo praticamente uma eleição direta,
                        porque mobilizou a população toda. Mesmo uma coisa aparentemente ilegal,
                        diferente do que tinha sido até então dos costumes, passou a ser legal porque o povo
                        legalizou, o povo avalizou. Estava todo mundo lutando por isso. A eleição de
                        Tancredo foi considerada como se fosse uma eleição direta. Foi uma vitória nossa,
                        nós vibramos demais, demais, demais [...]. (trecho da entrevista concedida à autora
                        no dia 03/11/2009, por Samira El Ammar).




3.4 Constituição




            Sarney assume a presidência com algumas restrições, pois até ser indicado pra ser
vice de Tancredo, ele pertencia à ala de oposição, não tinha muita ligação com a
democratização que o PMDB buscava. O Partido Frente Popular (PFL), não abria mão de seu
nome na chapa então o PMDB acabou por ceder. (FAUSTO, 2003, p.511).

            Sarney fixou sua atenção em dois pontos, que seria a revogação das leis que
vinham do regime. O chamado entulho autoritário e na eleição de uma Assembléia
Constituinte, encarregada de elaborar uma nova constituição. Uma reunião foi marcada para
novembro de 1986. (FAUSTO, 2003, p.520).

            No dia 5 de outubro de 1988 inicia-se um novo ciclo no país, a constituição é
promulgada instaurando um regime democrático sob a forma de governo presidencialista,
onde a população votou no dia 21 de abril de 1993, escolhendo sob qual forma queria ser
regida. (site: Wikipédia).

            Em 1988, ano em que foi promulgada a constituição, Amaury recebeu o título de
parlamentar nota 10 pela sua atuação na elaboração da Carta Magna. (Entrevista concedida à
autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).
51




FOTO 29: Amaury assinando a Constituição de 1988, fato que lhe rendeu o titulo cidadão nota 10. (foto do
acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).




         Fonte: Wikipedia Livre.
52



            Amaury foi muito atuante em relação à constituinte, mas achou que no final não
tinha sido totalmente satisfatório, deixou muita coisa a desejar. Samira disse que:

                        [...] ele tava todo dia na TV, assim no noticiário, porque focava o plenário todo dia
                        tinha noticiário da constituinte. Foi muito atuante na área da agricultura, dos direitos
                        do trabalhador, ele esteve muito envolvido, a comissão de trabalho, ficava até de
                        madrugada, muitas vezes fazíamos carreteiro na liderança pro pessoal comer lá pela
                        meia noite. Eles não tinham tempo pra nada devido as votações, discussões das
                        matérias relativas a constituinte. O congresso sempre lotado de pessoas de todo o
                        país, grupos, entidades reunidas que iam pra lá ou mandavam seus representantes,
                        pra também entrarem na reforma da constituinte, para serem incluídos seus planos,
                        seus projetos.

                        Amaury achou que a reforma da constituinte ficou muito a desejar, teve muita coisa
                        boa que se conquistou e muita coisa ficou pendente, que não deu pra acrescentar,
                        que não aceitaram a maioria não quis, alguns avanços mais sociais mais arrojados.
                        Tentaram achar um meio termo. Não foi totalmente satisfatório, mas por hora foi o
                        que conseguiram fazer [...]. (trecho da entrevista concedida à autora no dia
                        03/11/2009, por Samira El Ammar).



            Amaury, em depoimento a Ana Beatriz Nader, fez o seguinte comentário em
relação à Constituição de 1988.

                        [...] Gostaria de fazer um breve comentário sobre a nova Constituição. No início dos
                        anos 70, quando Chico Pinto, Alencar Furtato, Lysâneas Maciel, JG de Araújo
                        Jorge, Marcos Freire, Paes de Andrade e tantos outros formavam a linha de frente na
                        luta contra a ditadura, o próprio Grupo Autêntico lançou a idéia de uma Assembléia
                        Nacional Constituinte. Foi na cidade de Recife, em 1971. Lá militava, entre outros, o
                        deputado Jarbas Vasconcellos, nosso anfitrião. O documento tirado à época sugeria
                        uma grande mobilização nacional em torno da idéia, a fim de tornar vulnerável a
                        ditadura e apressar seu fim. Foi exatamente o que aconteceu. Os CBA’s pregaram
                        simultaneamente a anistia e a convocação da Assembléia Nacional Constituinte.
                        Mas, mesmo antes deles, o Grupo dos Autênticos pautou sua atuação, em boa
                        parcela, tendo como mote a implantação de um Estado de Direito e de uma ordem
                        econômico-social mais justa, a partir de uma nova Constituição.

                        Quinze anos mais tarde ela veio. Fui constituinte e participei, direta e ativamente,
                        das articulações dos setores progressistas no sentido de textualizar avanços e
                        conquistas sociais, tidas como indispensáveis para assegurar plenamente os direitos
                        da cidadania. Sem embargo desses avanços, que hoje estão sendo destruídos pela
                        fúria neoliberal, lutamos para impor uma ordem econômica protetora dos interesses
                        nacionais, aí incluímos o monopólio de setores estratégicos (petróleo,
                        telecomunicações) e a implementação de uma reforma agrária massiva, radical e
                        profunda. Foi o grito do Grupo Autêntico que ecoou nas consciências dos
                        constituintes. Foi a experiência, acumulada por antigos militantes do Grupo, que
                        deslanchou conquistas extraordinárias, não obstante a tresloucada oposição das áreas
                        conservadoras, notadamente no capitulo referente a questão agrária. Creio, mesmo,
                        que parte apreciável do atual texto é uma espécie de herança política e ideológica do
                        Grupo Autentico.

                        Por derradeiro, quero dizer que, ao participar desse bivaque verdadeiramente
                        oposicionista, realizei-me como cidadão e como homem público. Claro, fui
                        personagem menor do processo, mas nem por isso, porém, sinto-me diminuído
                        perante os demais companheiros [...]. (NADER, 1998, p.77).
53



3.5 Último Mandato



            O último mandato de Amaury foi em 1991-1995 pelo PDT. A essa altura da
carreira política, ele encontrava-se desgostoso, não tinha o mesmo encanto do começo pela
política, com o rumo que ela tinha tomado; com as atitudes dos políticos, com a corrupção na
política, com o uso do dinheiro para compra de votos, para fazer os esquemas eleitorais em
Ijuí e na região. Samira disse que:

                        [...] ele já estava muito chateado no último mandato que exerceu. Ele saiu em 1995 e
                        não tava mais querendo seguir carreira política. Achava que a política tinha mudado
                        muito, não era mais aquela coisa, não tinha mais graça. Era uma compra, quem tem
                        mais arruma mais voto. Mas ele continuou trabalhando, até o fim, nunca deixou de
                        pleitear, de falar, mesmo estando fora da câmara é como se estivesse diariamente na
                        tribuna, pois continuou dando sua opinião. Mas intimamente estava desencantado
                        [...]. (trecho da entrevista concedida à autora no dia 03/11/2009, por Samira El
                        Ammar).



            Ficha de seus mandatos, licenças, perdas de mandato, filiações partidárias,
atividades partidárias, estudos e graus universitários, seminários, conferências e congressos,
atividades parlamentares, atividades sindicais, representativas de classe e associativas,
condecorações, obras publicadas, missões oficiais, outras informações. (ficha biográfica
retirada do site da Câmara dos Deputados).

            AMAURY MULLER - PDT




            Amaury Muller
            Nascimento: 17/1/1936
            Profissões: Economista e Jornalista
            Filiação: Henrique Muller e Virginia Martins Muller
            Legislaturas: 1971-1975, 1975-1979, 1983-1987, 1987-1991 e 1991-1995.
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A memória política de Amaury Muller

  • 1. 1 UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SIMONE DRUNN A MEMÓRIA POLÍTICA DE AMAURY MULLER Ijuí, RS, janeiro de 2010
  • 2. 2 SIMONE DRUNN A MEMÓRIA POLÍTICA DE AMAURY MULLER Monografia apresentada ao Curso de História, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciada em História. Orientador: Drª. Sandra Maria do Amaral Ijuí, RS, janeiro de 2010
  • 3. 3 Dedico este trabalho a minha irmã Carla Drum (in memorian), pelo carinho, admiração e amor que tinha por mim e dedicação a tudo que fazia. Também foi um exemplo a ser seguido. Mana me ilumine de onde quer que você esteja. Mana te amo, eternamente.
  • 4. 4 AGRADECIMENTO Primeiramente quero agradecer a Deus, por ter me dado o direito à vida e inteligência para seguir o meu caminho, as dificuldades impostas servem para me fortalecer e ver que sou capaz, muitas vezes pensei em desistir, mas refleti, pensei e ao final você me guiou e deu-me luz para seguir. Agradeço profundamente por ter proporcionado essa vitória, essa conquista, que do projeto, sonho, tornou-se realidade. Muito obrigada. A meus pais José Camaçol Drunn e Assunta Orsolim Drunn, que apesar de distantes, sempre me fortaleceram, mandando energias positivas e me incentivando a seguir em frente. Ao meu amigo/namorado e marido Marcelo Frota, pelas palavras de incentivo, carinho e paciência nesse período de conclusão. E por ter me dado força e não me deixar desistir. Aos meus chefes Bertiele Balke Muller e Evandro Balke, por nunca terem me impedido ou dificultado quando eu precisei sair para estudar e pesquisar. Sempre me incentivando e apoiando. Aos meus colegas de trabalho também meu agradecimento, pela compreensão e incentivo nesses anos de estudo. Aos colegas de turma pelo companheirismo e amizade conquistada e que com certeza a amizade verdadeira será eterna. Aos familiares de Amaury, que não mediram esforços em disponibilizar materiais e entrevista para que esta pesquisa fosse feita. À minha professora e orientadora Sandra Maria do Amaral, a ela um carinho especial, pois foi também peça chave, na hora em que eu quis desistir. Incentivou-me, deu força, me aconselhou. Pelas excelentes leituras e orientações que foram de muita importância para meu trabalho de conclusão. Muito obrigada.
  • 5. 5 “Um patriota deve estar sempre pronto a defender seu país do governo.” Edward Abbey
  • 6. 6 LISTA DE FOTOS FOTO 1: Amaury na Infância .............................................................................................11 FOTO 2: Amaury com colegas militantes em 1962 ........................................................... 13 FOTO 3: Amaury e o irmão Erani na campanha de 1983 ................................................. 18 FOTO 4: Com amigos em Ijuí, 1964. ................................................................................. 19 FOTO 5/ 6: Casamento ....................................................................................................... 20 FOTO 7: Com os filhos na praia ........................................................................................ 23 FOTO 8: Em Orlando (Florida) .......................................................................................... 38 FOTO 9: No México. ......................................................................................................... 38 FOTO 10: Na China. .......................................................................................................... 39 FOTO 11: Na Austrália....................................................................................................... 39 FOTO 12: No Paraguai. ..................................................................................................... 39 FOTO 13: Em Cuba. ...........................................................................................................40 FOTO 14: Com o embaixador do Kuwait. ......................................................................... 40 FOTO 15: Com o líder palestino Yasser Arafat ................................................................. 41 FOTO 16: Com o presidente da Africa do Sul, Nelson Mandela. ..................................... 41 Foto 17/18: Recebendo diploma e condecoração. .............................................................. 42 FOTO 19: No gabinete com amigos e eleitores. ................................................................ 43 FOTO 20: Convenção do PDT ........................................................................................... 43 FOTO 21: Encontro nacional do PDT ................................................................................ 43 FOTO 22: Campanha de Brizola para presidente. ..............................................................44 FOTO 23: Amaury na tribuna do Congresso Nacional ...................................................... 44 FOTO 24: Amaury na Bancada do Congresso Nacional ....................................................45 FOTO 25: Comissão de Trabalhos da Câmara. .................................................................. 45 FOTO 26: Na Tribuna com Ulysses Guimarães. ...............................................................46 FOTO 27: Com Tancredo Neves e a filha Fernanda. ........................................................ 46 FOTO 28: Amaury com o cantor Aguinaldo Timóteo ...................................................... 47 FOTO 29: Amaury assinando a Constituição de 1988. ...................................................... 50 FOTO 30: Amaury com a família em Porto Alegre, Natal de 2000. ..................................61 FOTO 31: Amaury com a família no Revellion de 200. .................................................... 62 FOTO 32: Simone Drunn e Samira El Ammar Muller, durante a entrevista para a pesquisa biográfica. .......................................................................................................................... 63
  • 7. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 08 1 A FAMÍLIA DE AMAURY .......................................................................................... 11 1.1 Infância ................................................................................................................11 1.2 Escolaridade ........................................................................................................ 13 1.3 Vínculo Partidário ............................................................................................... 16 1.4 Expulsão da PUC e Prisão .................................................................................. 16 1.5 Ijuí ....................................................................................................................... 18 1.6 Casamento ........................................................................................................... 20 1.7 Campanha para o 1º Mandato ............................................................................. 21 1.8 Política nas Veias ................................................................................................ 22 1.9 Filhos ................................................................................................................... 23 2 VIDA PÚBLICA ........................................................................................................... 24 2.1 Chegada em Brasília ........................................................................................... 24 2.2 Parlamentares progressistas ................................................................................ 24 2.3 Reuniões dos Parlamentares ................................................................................25 2.4 O que foi o Grupo dos Autênticos do Movimento Democrático Brasileiro....... 25 2.5 Luta Armada ....................................................................................................... 27 2.6 Como foi lançar um Anticandidato...................................................................... 27 2.7 Desintegração do Grupo ......................................................................................29 2.8 Os Neo-Autênticos .............................................................................................. 30 2.9 Discurso da Cassação...........................................................................................30 2.10 A Cassação ........................................................................................................ 31 2.11 Vida pós-cassação ............................................................................................. 33 2.12 Revista o Espelho .............................................................................................. 34 2.13 Lei da Anistia .................................................................................................... 35 2.14 Volta ao Plenário em 1983 ................................................................................ 35 3 VIDA PÓS-DITADURA .............................................................................................37
  • 8. 8 3.1 Motivo de ciumeira entre os colegas ...................................................................37 3.2 Diretas Já ............................................................................................................. 46 3.3 Dever Cumprido .................................................................................................. 48 3.4 Constituição ........................................................................................................ 49 3.5 Último Mandato................................................................................................... 52 3.6 Diagnóstico do câncer ......................................................................................... 57 3.7 Homenagens Póstumas ....................................................................................... 63 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 65 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 68 ANEXOS ................................................................................................................. 70
  • 9. 9 INTRODUÇÃO Desde a Proclamação da República em 1889, a história política brasileira mostrou-se por muitas vezes instável e incerta. Esse quadro de incertezas e instabilidades acabou por culminar no período mais negro da história política do Brasil, que foi a ditadura militar iniciada com a derrubada do presidente João Goulart em 1964. O regime militar tolheu vidas, cerceou direitos, brutalizou e bestificou pessoas durante seus longos 30 anos de existência, mergulhando o país em dívida externa e sucateando o Estado. Muitos daqueles que ergueram suas vozes para protestar contra tal infâmia foram caçados, perseguidos, presos, interrogados, torturados e, em muitos casos, mortos. Muitos foram aqueles que tiveram de atravessar os anos de chumbo da ditadura no exílio. Políticos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador do estado do Rio Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola tiveram de viver exilados. Músicos como Caetano Veloso e Gilberto Gil, diversos intelectuais, artistas, e tantos outros tiveram de deixar seu país sem direito de escolha. Lá fora, longe das garras dos generais, lutaram contra a ditadura usando o que há de melhor na cultura brasileira, participando de movimentos políticos internacionais, e lembrando o mundo de que o Brasil era um país que mantinha seu povo como refém do próprio governo. Muitos brasileiros, porém, permaneceram aqui no Brasil travando uma luta contra a ditadura, anulando suas profissões, suas famílias e suas vidas para que hoje possamos viver em um Estado realmente democrático. O presente trabalho pretende focar a vida de um homem, um brasileiro entre muito outros que teve a coragem de erguer sua voz contra os generais, políticos, simpatizantes e torturadores, que lutou na arena política com as únicas armas disponíveis naqueles tempos de insanidade, que eram seu patriotismo, seu amor pela causa da liberdade, sua determinação de livrar o Brasil do totalitarismo em que o mesmo estava mergulhado. Um brasileiro que foi perseguido, preso e torturado, mas que, ao contrário de muitos de seus companheiros de luta, sobreviveu para continuar sua luta pelos direitos humanos e tornar-se parte da história política
  • 10. 10 do Brasil. Este homem, este brasileiro, um entre tantos Davis que se ergueu contra o imponente Golias foi o deputado federal Amaury Muller. A pesquisa biográfica que realizei teve como foco a vida do deputado Amaury Muller, sua trajetória na política brasileira, sua participação e importância na época da ditadura, no período de 1964 a 1985. O recorte temporal para análise teórica teve início em 1964 (ano do golpe militar, até 1979, quando foi promulgada a anistia). A palavra biografia vem do grego βιογραφία, de βíος - bíos, vida e γραφή – gráphein, escrever. É um gênero literário em que o autor narra a história da vida de uma pessoa ou de várias pessoas. Geralmente as biografias contam a vida de alguém depois de sua morte. Em alguns casos a biografia inclui aspectos da obra dos biografados, como por exemplo Eric Clapton em sua biografia Clapton, numa abordagem muitas vezes de um ponto de vista crítico e não apenas historiográfico. A biografia, na maioria das vezes, de pessoas públicas como políticos, cientistas, esportistas, escritores ou pessoas, que através de suas atividades deixaram uma importante contribuição para a sociedade. Meu interesse nessa biografia em particular é por gostar de política, por ter acesso à familia como fonte de pesquisa e principalmente saber o que tudo isso causou e custou para essas pessoas que viveram naquela época, qual a sua contribuição para a história do Brasil, como a imprensa e a sociedade via seu envolvimento na luta contra a ditadura. Como foi a formação do Grupo dos Autênticos do Movimento Democrático (MDB), qual motivo levou 23 deputados federais a fazer política de oposição, em um momento tão adverso, em plena ditadura militar, que ficou conhecido como Semeadores da Democracia e quais foram as contribuições do grupo para acabar com a ditadura? Essa pesquisa foi baseada em documentos escritos (jornal/carta), depoimentos de amigos e colegas (Jorge Martins, dep. estadual Gerson Burmann) e familiares (esposa, Samira El Ammar Müller, filhos Márcio Müller e Alexandre Müller). Também utilizei recortes de jornais, fotografias, entrevistas, bem como leituras sugeridas referentes ao tema da ditadura militar e sua repercussão. O presente trabalho está dividido em três capítulos que enfocam a vida do deputado Amaury Muller. O primeiro capítulo é sobre a família de Amaury Muller, sua infância, escolaridade, vínculo partidário, casamento e primeiro mandato. O segundo aborda a
  • 11. 11 vida pública de Amaury, a chegada em Brasília, o reconhecimento dos parlamentares progressistas, a formação do Grupo dos Autênticos do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), sua cassação, vida pós-cassação, até sua volta ao plenário da Câmara. O terceiro capítulo discorre sobre sua vida pós-ditadura, a lei da anistia, o movimento das Diretas Já, a Assembléia Constituinte, sua participação na Constituição de 1988, o último mandato e sua morte em 2001.
  • 12. 12 1 A FAMILIA DE AMAURY MÜLLER 1.1 Infância FOTO 1: Amaury com os irmãos Darcy, Erani, Lori, Marli e os pais Virginia Martins Campos e Henrique Muller no monumento a Duque de Caxias em Cruz Alta nos anos 40. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). Amaury Müller nasceu no município de Cruz Alta, na localidade de Colônia São João, no dia 17 de janeiro de 1936. Filho de Henrique Müller (descendente de alemão com polonês) e Virginia Martins Campos (uma mistura de português, negro, índio e espanhol). Seus pais possuíam um pequeno pedaço de terra de onde tiravam o sustento para dez pessoas,
  • 13. 13 pois possuíam oito filhos, (cinco homens e três mulheres), Darci, Ary, Amaury, Erani, Lori, Marli, Maria, um dos irmãos não se sabe o nome, pois faleceu ainda pequeno. Era difícil manter um alto padrão de vida, mesmo assim sempre procuraram não deixar faltar nada aos seus filhos. Mas quando a idade escolar chegou seu pai sentiu-se na obrigação de mudar-se para a cidade já que não havia escola no interior e também não havia transporte escolar, como existem hoje em dia. Com isso todos foram morar na cidade, onde os dois filhos mais velhos já moravam, na casa de um tio militar para estudar. O pai de Amaury não quis que ele também fosse morar com o tio, pois isso iria pesar ainda mais no orçamento do mesmo. Assim, decide arrendar os 25 hectares de terra e mudar-se para a cidade. Ele que originalmente era guarda-livros (uma espécie de contabilista), decide abrir uma pequeno deposito de madeira, já que tinha madeira abundante na época nessa região, o pinho, mas não se saiu muito bem. Com isso colocou seu outro conhecimento em prática, foi trabalhar como contador onde era muito requisitado e também dava aulas (não se sabe do que, nem a esposa e nem a irmã de Amaury, souberam dizer de que). Era um ramo em que os lucros também não eram muito altos, mas na medida do possível e de suas limitações, conseguiu proporcionar a todos os filhos uma vida digna. (NADER, Ana Beatriz - Autênticos do MDB Semeadores da Democracia História Oral de Vida política, p.66). Enquanto morou no interior, Amaury ajudava seu pai nas lidas da terra, arava, gradeava, semeava, colhia. Era uma espécie de pequeno agricultor. Seus irmãos já não tiveram a mesma experiência do campo, já que eram mais novos quando migraram para a cidade e duas de suas irmãs nasceram na cidade. (NADER, 1998, p.66). No ambiente urbano, tiveram algumas dificuldades, tanto financeiras quanto de adaptação. As pessoas na cidade são mais desconfiadas, ainda que naquele tempo as pessoas honrassem seus compromissos com o “fio do bigode”, tanto que nas propriedades rurais não existia cerca, o gado era marcado na paleta. Mas conseguiram se adaptar à cidade sem maiores problemas. (NADER, 1998, p.66).
  • 14. 14 1.2 Escolaridade FOTO 2: Amaury com colegas militantes em 1962 em Porto Alegre. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). Na cidade, todos trabalhavam e estudavam. Amaury cursou o jardim de infância no Grupo Escolar Margarida Pardelha (1942-1943), o primário concluiu também no Grupo Escolar Margarida Pardelha (1944-1948), no Ginásio, ele passou a estudar na Escola Normal Annes Dias (1949-1952) e por fim o Científico no Ginásio Estadual Antônio Sepp, sempre se destacando como estudante. Nesse período ele sempre esteve entre os três melhores alunos. Erani e Amaury concluíram o terceiro grau, duas de suas irmãs também se formaram em cursos superiores. Amaury sempre gostou de ler e escrever, por conta disso foi trabalhar numa Rádio local, a Rádio Cruz Alta no período de 1952-1954. (Entrevista com Samira El Ammar Muller, no dia 03/11/2009). Desde adolescente, Amaury demonstrou certa liderança entre seus amigos, por exemplo, nas brincadeiras de criança era ele quem comandava, era tido como um líder de turma. Com o passar do tempo, essa liderança foi aflorando, se consolidando entre os amigos
  • 15. 15 e colegas, levando-o a ser orador em diversas ocasiões, nos cursos ginasial e científico e mais tarde nos dois cursos de graduação superior. (NADER, 1998, p.66). Já nessa época demonstrou interesse pela vida pública; nos fins da década de 40 e início dos anos 50, conviveu com a campanha “o petróleo é nosso”, pois como dirigente secundarista teve acesso a debates e discussões sobre o tema. Foi nessa época que ele sentiu acender o sentido de patriotismo, algo racional e consciente, nada passivo. Juntamente com alguns colegas secundaristas, Amaury se engajou na luta pelo monopólio estatal do petróleo; eram vistos como “instrumentos dóceis” do comunismo internacional. Mas isso não fez com que eles desistissem de seus ideais e princípios. Essa participação nos movimentos de rua enquanto secundarista rendeu-lhe um caminho muito importante na militância universitária. Como podemos observar na foto acima, juntamente com outros colegas de militância, Amaury participou do XXVº Congresso Nacional dos Estudantes no ano de 1962 em Porto Alegre. (NADER, 1998, p.66). Em 1955, foi para Porto Alegre cursar Arquitetura na UFRGS, nesse mesmo ano foi eleito presidente da sala, mas como seus pais não tinham condições de sustentar-lhe na capital, foi obrigado a desistir da faculdade. Esse ano também foi marcado por duas perdas dolorosas. Primeiro, a desistência de um curso que tanto gostava, mas que com o passar dos anos sentiu que havia agindo mais pela ânsia e impulso de adolescente do que gosto pelo curso, pois se fosse um curso que realmente lhe fosse sonho e desejo teria retomado mais tarde, como conta sua esposa em entrevista. Amaury não era de desistir tão fácil de seus objetivos, portanto, foi mais uma coisa de momento, com certeza. O segundo fato foi a perda da mãe. Amaury sempre foi muito apegado à mãe, tinha muito orgulho do lado brasileiro dela, da pessoa morena que ela era. E sempre procurou cultivar, manter vivos os costumes, a comida, os hábitos desse lado brasileiro que o ligava à mãe. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). E como teve de desistir do curso de arquitetura, viu-se obrigado a trabalhar durante o dia e estudar à noite. O único curso noturno oferecido na época era a Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC). Escolheu esse curso por achar que ampliaria seus horizontes, e por sentir a necessidade de mudanças políticas, econômicas e sociais do país. Era um curso de grande
  • 16. 16 influência, através dele passou a entender mais sobre socialismo, as necessidades do país, os problemas e as soluções, enfim entender melhor sobre política, tornando-se uma base fundamental para ele mais tarde. Essa atitude e necessidade de Amaury em trabalhar durante o dia e estudar a noite tornou-se exemplo para outros jovens que queriam continuar seus estudos. Com isso, logo se elegeu presidente do Centro Acadêmico Visconde de Mauá. Quebrando um velho tabu se reelegeu no ano subseqüente, coisa que não acontecia. (NADER, 1998, p.67). No terceiro ano da PUC, chegou à vice-presidência do Diretório Central de Estudantes. Antes de concluir o curso de Ciências Políticas e Econômicas, fez vestibular e passou, para um novo curso que estava sendo oferecido, Jornalismo. Também exerceu a presidência do Centro Acadêmico Arlindo Pasqualini. Em 1961, já formado em Economia e terminando Jornalismo, decide fazer um novo curso e presta vestibular para Direito, e sua ativa participação nas militâncias, sua identificação com os avanços que o meio estudantil experimentava no sentido de incrementar as então chamadas “reformas de base” e não diferente dos outros tempos, novamente é eleito presidente do Centro Acadêmico “Mauricio Cardoso”. (NADER, 1998, p.68). Nesses nove anos de participação nos centros acadêmicos, nos movimentos universitários, sempre participou de todos os congressos da UNE livre, antes do golpe de 1964. Em um desses congressos José Serra foi eleito presidente da entidade (UNE) em uma composição da Ação Popular com o velho “partidão” (PCB - Partido Comunista Brasileiro, o PCB que foi fundado em 1922, e com o fim do bipartidarismo começou a de desfragmentar, dividindo-o em partidos menores com ideologias diferentes) e outras correntes progressistas. (NADER, 1998, p.68). A razão para fazer tantos cursos, não era acumular diplomas, mas sim conhecimentos em vários campos e permanecer na militância estudantil, participando dos movimentos populares. Na UNE havia o Centro Popular de Cultura, grupo que fazia teatro despojado, informal, com um único objetivo de politizar o povo. Foram tempos importantes, pois mostrava aos cidadãos seus direitos, os quais deveriam ser respeitados. Para Amaury, foi um tempo muito bom e importante, em que viveu intensamente e ampliou muito sua visão de mundo. Foi um período de permanente aprendizado. (NADER, 1998, p.68).
  • 17. 17 1.3 Vínculo Partidário Amaury começou sentir e ver a necessidade de um vínculo partidário, apesar da origem conservadora do pai que era do Partido Liberal (PL), ingressou na militância do antigo PTB. Escolheu esse partido por que ele já simpatizava com a causa trabalhista de Getúlio, já era simpatizante desse partido deste a época da campanha “o petróleo é nosso”. Foi um partido que deu direito a quase, se não todas, as causas trabalhistas. O direito de salário mínimo à mulher, ao voto feminino, décimo terceiro salário, praticamente todos os direitos trabalhistas foram implantados na época de Getúlio. (NADER, 1998, p.68). Amaury simpatizava com isso, buscava uma luta mais justa para os populares e viu nesse partido uma idéia reformadora e nacionalista, a mesma de Getúlio Vargas dos anos 50, que abrigava as correntes da esquerda, do processo político. Partido esse que militou por pouco tempo devido a divergências operacionais, mas continuou a votar em seus melhores candidatos. (NADER, ANA Beatriz - Autênticos do MDB Semeadores da Democracia História Oral de Vida política, p.68). Brizola tornou-se muito rápido numa espécie de mito, e com isso atraiu centenas de bajuladores, e infelizmente na chamada “ala moça” do PTB. Os oportunistas e parasitas passaram a ditar regras de conduta e isso fez Amaury romper com o partido. Nessa curta militância, teve a oportunidade de conhecer figuras de extremo senso de humanidade, de uma cultura sólida, como por exemplo, Julio Teixeira e Lauro Hagemann e além, claro, de adquirir mais experiência, aprendendo muito. (NADER, 1998, p.69), (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). 1.4 Expulsão da PUC e Prisão Em 1964, ano do golpe militar, estava no quarto ano do curso de Direito na PUC- RS e era o presidente do DCE. Esse golpe já estava sendo organizado, preparado há muito tempo, era para ser contra Getúlio, mas com seu suicídio, a situação tomou outro rumo e quem sabe proporção. Amaury e mais três colegas, inconformados com o sucesso do golpe e a
  • 18. 18 inexistência de reação ou quem sabe com uma visão equivocada das razões que levaram Jango e Brizola ao exílio, resolveram iniciar uma pequena movimentação popular onde invadiram o DCE da PUC-RS utilizando alto-falantes. Procuravam com isso provocar uma reação no povo, mas isso custou caro para eles, ambos foram expulsos da universidade sem direito à defesa. (NADER, 1998, p.69). Em razão da expulsão, Amaury não concluiu o curso, pois como o reitor da época gostava de confirmar, foi excluído da PUC-RS no dia 28 de abril de 1964. Nessa data específica, à noite, explodiram alguns petardos de efeito apenas moral nos banheiros da PUC- RS, e como Amaury foi o único dos excluídos visto por lá, isso antes da noite, acusaram-no do atentado, embora sua culpa nunca pudesse ser provada. Como os militares pressionaram a reitoria exigindo que o autor fosse expulso, decidiram por expulsar Amaury, mesmo sem provas, apenas por ele ser claramente contra o regime e por ocupar a liderança do Diretório Central de Estudantes (DCE) naquela época. . (NADER, 1998, p.69). Isso causou, além de sua expulsão, prisão e violência física. Em entrevista com sua esposa, ela deixou-me claro que essa prisão foi algo que ele sempre procurou deixar bem guardado no seu passado, nunca comentou com seus familiares e estes também achavam um assunto muito desagradável e procuravam fazê-lo esquecer, embora o trauma e a revolta com a prisão o tivessem perseguido por muitos anos. Ela disse-me que nunca entrou em detalhes de como foi, quantas vezes foram, onde foi, quais dias foram, evitavam o assunto para deixá- lo mais feliz e ver se o acontecido caísse no esquecimento, pois era algo que lhe deixava muito triste. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar) Do departamento de tortura do antigo DOPS, foi retirado por um delegado de polícia, Heitor Gralha Bonorino, conhecido da família. O mesmo era casado com uma senhora de Cruz Alta, ficando responsável de apresentá-lo as autoridades durante o inquérito policial instaurado em torno da explosão. Ficou em sua residência por algum tempo, e como não tinha provas suficientes, o inquérito foi arquivado. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar) e (NADER, 1998, p.69). Em junho de 1964, vários companheiros ocuparam-se de fazer a localização de colegas presos, a fim de poderem prestar alguma assistência. Todos os esforços foram inúteis, pois presos políticos ficavam à margem da lei, não recebiam visitas e muito menos apoio
  • 19. 19 jurídico. Nesse mesmo ano, Amaury foi preso novamente e levado para um prédio inacabado do SESME (Serviço Social do Menor), onde se encontravam vários presos políticos. Lá permaneceu cerca de um mês, mas por influência do então senador e líder do governo, Daniel Krieger, foi posto em liberdade. Krieger era padrinho da então noiva de Amaury. No SESME, não sofreu nenhum tipo de tortura. E como teve que deixar a faculdade de Direito e as portas se fecharam profissionalmente, neste mesmo ano de 1964, no final do mês de agosto, decide fixar residência em Ijui, onde já se encontrava um dos irmãos, mais moço. Assim começou a trabalhar na Rádio Progresso. (NADER, 1998, p.69). 1.5 Ijuí FOTO 3: Com o irmão Erani na campanha de 1982. FOTO 3: Com o irmão Erani na campanha de 1982. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
  • 20. 20 FOTO 4: Com um grupo de amigos em Ijuí em 1964. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). Na Rádio Progresso de Ijuí exerceu a função de Redator-Chefe e, aos domingos, na hora do almoço, José Eriberto Krycszum (locutor da RPI) lia uma crônica, de autoria do Amaury, no espaço chamado “Ponto Crítico". Todo mundo esperava a crônica do domingo, com muita expectativa. Sucesso este que mais tarde tornou-se livro, com o mesmo título, editado pelo Conselho Municipal de Cultura Artística Ijuí-1970. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Foi na cidade de Ijuí que reiniciou sua atividade política, embora os áulicos do regime militar rotulassem-no como homem subversivo ou o homem que quis destruir a PUC, e tentassem de todos os modos tolher sua modesta ação. Nesse período com o fim do pluripartidarismo e a criação do MDB, partido esse de oposição tolerado pelos donos do poder, ingressou como fundador e logo começou seu trabalho como secretário-geral. (NADER, 1998, p.70). Em 1968 foi candidato em uma sublegenda1 como vice-prefeito de Francisco de Assis Costa, para dar suporte à eleição de Sadi Strapazzon e Wanderlei Burmam. Graças aos seus 1500 votos é que Sadi Strapazzon se elegeu, pois a diferença para seu opositor foi de apenas 290 votos. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). 1 Naquela época cada partido poderia indicar três duplas de candidatos ao Executivo e os votos eram somados entre os candidatos de cada partido.
  • 21. 21 1.6 Casamento FOTOS 5/6: Casamento de Amaury Muller e Samira El Ammar no dia 3 de Janeiro de 1970, na Igreja Matriz Nossa Senhora da Natividade e recepção na Sociedade Ginástica de Ijuí. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). Em junho de 1967, conheceu sua futura esposa num baile da SOGI, Samira El Ammar, então com 17 anos. E como o interesse foi mútuo, logo começaram a flertar, como disse ela em entrevista (um termo usado na época); Amaury era noivo de uma professora que havia ficado em Porto Alegre trabalhando enquanto ele veio para Ijuí, pois temiam que ele fosse preso se continuasse na política estudantil. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).
  • 22. 22 O noivado já estava desgastado, devido à distância, mas ele precisava regularizar essa situação para começar um novo relacionamento, coisa que ocorreu no mesmo ano. O Sr. Salim El Ammar, pai de Samira, logo no começo do namoro teve uma espécie de resistência em relação ao seu envolvimento com ele, por Amaury ser 10 anos mais velho, mais experiente e pelo fato de as pessoas dizerem que ele era comunista por causa de suas idéias progressistas. E naquela época era moda chamarem comunistas de “comedores de criancinhas”, como disse sua esposa. Mas o Sr. Salim concordava, gostava e admirava as idéias progressistas de Amaury. O pai de Samira estava na verdade preocupado, pois conhecia aquele episódio na PUC e o fato de Amaury ser rotulado como o homem que quis explodir a PUC certamente o incomodava. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Amaury, mesmo sendo observado por comparsas que apoiavam a ditadura, não deixou intimidar-se e continuou seu trabalho mais modestamente. E então seu sogro percebeu que estava entregando sua filha a uma pessoa com idéias mais progressistas, a uma pessoa que queria o melhor para seu país e não ficava calado perante tantas injustiças que estavam acontecendo. Assim, Amaury conseguiu conquistar a confiança e apoio de seu sogro. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Amaury e Samira namoraram por um ano, no início de 1969 ficaram noivos e casaram-se em três de Janeiro de 1970 na Igreja Matriz Nossa Senhora da Natividade aqui de Ijuí e recepcionaram seus parentes e amigos na Sociedade Ginástica de Ijui (SOGI). (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). 1.7 Campanha para o 1º mandato Nesse mesmo ano, foi indicado por um grupo de amigos a disputar uma vaga na Câmara de Deputados e o partido MDB fez questão que ele concorresse, pois precisavam de candidatos novos, vigorosos para fazer frente às cassações que haviam ocorrido em 69, ano esse que ocorreu o maior número de cassações, e com isso eles precisavam repor, ocupar esses lugares. Então o MDB de Ijuí decidiu que ele seria a pessoa ideal, pela sua militância, pela sua atividade, para representar Ijuí e a região na Câmara Federal e como alternativa ideológica ao então representante da região, Antônio Bresolin. (NADER, Ana Beatriz - Autênticos do MDB Semeadores da Democracia História Oral de Vida política, p.70).
  • 23. 23 Foi algo novo, uma novidade para ambos, era a primeira vez que concorria a uma cadeira na Câmara de Deputados. Sem condições nenhuma, estrutura zero, foi definitivamente uma aventura, e tudo aconteceu muito rápido, o casamento e logo em seguida a campanha, depois a vitória, tudo num curto espaço de tempo. Ele fez a campanha por toda a região com uma ruralzinha, praticamente caindo aos pedaços, doada por membros do partido, a qual o seu irmão Erani dirigia, e distribuição de santinhos branco e preto. Esta foi a sua campanha. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Com apenas três meses de campanha e sem nenhum apoio financeiro, se elegeu pela primeira vez Deputado Federal. Favorecido pela sorte e certamente pelas circunstâncias favoráveis, elegeu-se com trinta mil votos, considerada uma votação acima da média para os padrões da época. Claro que Amaury além de sua campanha e da ajuda dos companheiros do MDB da região Noroeste do Rio Grande do Sul, teve o apoio decisivo de boa parte do antigo “partidão” e uma pequena parcela de votos de ex-colegas das faculdades que freqüentou. (NADER, 1998, p.70; e Eentrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Teve nesta eleição um grande apoio da classe estudantil e operária devido às suas propostas inovadoras para a época e devido a sua clara postura de oposição ao regime totalitário e ditatorial imposto pelo golpe de 1964. (NADER, 1998, p.70). 1.8 Política nas Veias Amaury trazia nas veias a vocação pela política, pois o ramo Campos está na própria origem de Cruz Alta e teve alguns descendentes com vida pública ativa. Aristides Basílio de Campos, primo de sua mãe, foi prefeito em Cruz Alta e deputado estadual em duas ocasiões, Heitor Campos, também primo de sua mãe, foi prefeito de Santa Maria e se elegeu uma vez para a Assembléia Legislativa do Estado, outro primo de sua mãe, mais distante um pouco, Múcio Castro, pai do jornalista Tarso de Castro (criador do Pasquim) também foi Deputado Estadual. Assim, de alguma forma, o lado materno de sua família tinha relação intensa com a atividade política, não surpreendendo que Amaury e seu irmão mais novo Erani tenham abraçados a vida pública. Mesmo com esses parentes envolvidos na política, jamais puderam ajudá-lo, pois quando concorreu a Câmara de Deputados em 1970, estes já haviam
  • 24. 24 morrido. (NADER, Ana Beatriz - Autênticos do MDB Semeadores da Democracia História Oral de Vida política, p.65). 1.9 Filhos FOTO 7: Amaury com os filhos Márcio, Alexandre e Fernanda, curtindo férias em abril de 1981, na praia de Atlanta. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). Em Janeiro de 1971, já grávida do primeiro filho, o recém casal foi fixar residência em Brasília, para Amaury cumprir seu primeiro mandato de Deputado Federal. Em 28 de julho nasce Márcio, o primeiro filho do casal, em 28 de julho de 1974 nasce Alexandre, o segundo filho e em 14 de dezembro de 1976 nasce Fernanda, a caçula, todos eles nasceram em Ijuí. Como podemos perceber na foto, Amaury sempre foi um pai muito zeloso, embora não estivesse muito presente, devido a sua carreira política, mas não se descuidava da educação e do lazer dos filhos, procurando participar sempre que possível. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).
  • 25. 25 2 VIDA PÚBLICA 2.1 Chegada em Brasília Em janeiro de 1971, Amaury Müller muda-se para Brasília, levando sua esposa Samira já grávida do primeiro filho. Tudo ainda era novidade, pois as coisas aconteceram de uma forma muito rápida. Em um ano eles se casaram, logo em seguida a indicação para concorrer à vaga de Deputado, a campanha, a eleição, a vitória e a mudança para Brasília. Amaury foi para o planalto central com duas idéias fixas, uma era combater a ditadura dentro dos limites possíveis e preconizar a necessidade de uma Assembléia Nacional Constituinte, que devolvesse o Estado do Direito ao país e rasgasse perspectivas de profundas reformas estruturais em seu organismo econômico-social. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). 2.2 Parlamentares Progressistas Chegando em Brasília, logo no início dos trabalhos na Câmara, sobretudo na tribuna, os parlamentares progressistas foram se identificando. Era um grupo de idealistas: Chico Pinto, Lysâneas Maciel, JG de Araújo Jorge, Alencar Furtado, Fernando Lyra, Fernando Cunha, Marcondes Gadelha, Getúlio Dias, Nadyr Rossetti e muitos outros. E assim foram fazendo amizades. Dessa identificação inicial, porém tímida, porque ninguém sabia nada de ninguém e sempre havia um temor de ter alguém infiltrado, nasceu a idéia de reuniões e troca de opiniões. Chico Pinto foi quem deu a sugestão. (NADER, 1998, p.70).
  • 26. 26 2.3 Reuniões dos Parlamentares As primeiras reuniões, limitadas a uns dez ou doze deputados, aconteceram nos apartamentos de Paes de Andrade e Marcondes Gadelha. Mais tarde, desse grupo de deputados nasceria o Grupo dos Autênticos: a oposição contundente, sem fronteiras ou limites à ditadura militar e a tudo o que ela representava de nocivo à democracia, à liberdade, à justiça social e à própria soberania do país. (NADER, 1998, p.70). 2.4 O que foi o Grupo dos Autênticos do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) Esse grupo surgiu porque os colegas sentiram que dentro do próprio MDB havia os mais moderados, condescendentes com a ditadura, que não queriam muita encrenca, não queriam confusão, não queriam ser cassados, pois tinham conquistado aquele mandato e queriam desfrutar dele, e então aceitavam as coisas. Tinham receio de perder o mandato e com isso passavam a mão por cima dos acontecimentos, ficando muitas vezes negligentes aos fatos ocorridos com a ditadura. O grupo então sentiu que faziam parte de uma ala mais rigorosa, mais radical, mais autêntica, e assim formaram o Grupo Autêntico do MDB. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Era formado por 23 deputados federais, que fizeram política de oposição, em momento tão adverso, em plena ditadura militar. O Grupo elaborou e assinou um documento de Anticandidatura de Ulysses Guimarães, na sessão da Câmara que elegeu o general Ernesto Geisel, Presidente do Brasil, em 15 de janeiro de 1973. Nesse documento, os Autênticos devolviam o voto, o qual consideravam uma farsa, ao grande ausente, o povo brasileiro. (NADER, 1998, p.15). Expressavam também contrariedade em relação ao comportamento de Ulysses Guimarães, que descumpriu o acordo com o grupo e compareceu àquela sessão na condição de candidato. (NADER, 1998, p.15). O Grupo sentiu necessidade de ter uma reação mais radical, mais positiva, mais forte no combate a ditadura diante do que estava acontecendo. A principal luta do Grupo era contra a ditadura, e quanto ao projeto de sociedade pretendido por ela. Situava-se no apoio ao
  • 27. 27 povo, consubstanciado em projetos sociais. Amizade e compromisso com o povo e não puxa- saquismo à revolução, precisava de deputados legítimos, que fossem autenticamente amigos do Brasil e do povo brasileiro. Os Autênticos caracterizavam-se como verdadeira oposição no Congresso Nacional, principalmente na Câmara. Era o Grupo que fazia oposição de forma declarada, franca, aberta, induvidosa, sendo em síntese as finalidades de sua existência. (entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Faziam parte desse grupo os parlamentares mais ousados, mais corajosos, que apresentavam projetos mais arrojados, e que não tinham receio de denunciar as particularidades da ditadura, tais como as cassações, as mortes e as prisões. Fatos esses que ocorriam muito nesse período, como o caso do jornalista Vladimir Herzog, que foi convocado para depor e apareceu enforcado em sua cela. Sua esposa Clarice Herzog desde então participou de vários movimentos, a vida toda, não largou mais, não parou, lutou pela anistia, pelas eleições diretas. Ela participou de todos os movimentos sociais, sempre lembrando/denunciando a morte do marido. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Outro caso que chocou muito foi o do deputado Rubens Paiva, que teve seu corpo jogado de um avião em alto mar pelo DOPS. Sua esposa Eunice Paiva também passou a vida lutando, correndo atrás de justiça, cobrando da ditadura a morte do marido que foi depor e não apareceu mais. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Isso sem esquecer o caso de Stuart Edgard Angel Jones, cuja mãe, Zuzu Angel, morreu tentando encontrar o corpo do filho e lutando contra a ditadura. Procurou denunciar a ditadura em seus desfiles, pois era uma modista de renome internacional. Até hoje dizem que o acidente que a matou foi forjado, levando a crer que foi assassinada por ter furado a segurança e entregado uma carta a Henry Kissinger, Secretário do Estado Norte Americano que estava no Brasil em visita oficial. Essa carta denunciava as torturas da ditadura, e esse episódio deixou muitos militares irritados, deixado-a marcada. Casos como este tiveram grande repercussão nacional, e são apenas alguns, entre tantos outros. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).
  • 28. 28 2.5 Luta Armada Em depoimento a Ana Beatriz Nader, Amaury relatou o que achava da luta armada, qual era sua opinião. [...] Em razão do agravamento da repressão política, nos anos amargos do governo Médici, muitos do Grupo dos Autênticos consideravam que a luta armada, embora justa e desejável, oferecia forte pretexto para o regime prender, torturar e assassinar, encurralando cada vez mais os direitos humanos no país. Não era uma crítica aos movimentos em si e menos ainda aos que deles participavam. Muitos dos que se exilaram, fizeram autocrítica no exterior. Nas atividades cotidianas temiam que essas questões, pudessem diminuir a disposição de outros brasileiros de manter acesa a luta contra o regime autoritário [...]. (NADER, 1998, p.71). O grupo, por um período, defendeu a luta armada, pois na época não havia outra solução, para poder fazer frente à ditadura, porque cada um fazia o que queria. Eles achavam que a solução era essa, no vigor da juventude, no auge do idealismo, o grupo achava que seria necessária a luta armada por uma época, por um período. Depois eles começaram a lutar pelos direitos dos cidadãos, dos trabalhadores, para acabar com a injustiça social e se detiveram mais a esse tipo de trabalho que trazia benefícios concretos para a população. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Amaury fala, em depoimento, sobre por que os parlamentares precisavam defender suas posições no parlamento, pelo menos para poder denunciar as injustiças. [...] Em outras palavras, o grupo achava que o mandato parlamentar, mesmo sujeito a violências de toda a ordem, tinha certa importância, no mínimo para denunciar as violações dos direitos humanos, o empobrecimento da população e a entrega despudorada de nossas riquezas ao capital estrangeiro [...]. (NADER, 1998, p.71). 2.6 Como foi lançar um Anticandidato E com base nisso tiveram a idéia de lançar um anticandidato, uma espécie de contraponto ao nome que o regime militar imporia ao Congresso Nacional para a presidência da República. Sabiam que a candidatura não era para valer, mas o que desejavam era espaço no rádio, na televisão para, mesmo correndo o risco de cortes da censura fardada, denunciar todas as mazelas do regime e a farsa da eleição indireta, por um Colégio Eleitoral, sem a menor representatividade. Assim o Grupo lançou Ulysses Guimarães como candidato de
  • 29. 29 protesto. No processo de Anticandidatura tinham a finalidade de denunciar a ditadura no exterior, que devido ao controle, a mordaça na imprensa da época, em especial em relação ao MDB, era algo difícil de fazer. Dessa maneira lançaram Ulysses Guimarães como candidato do Grupo aproveitando os veículos de comunicação do governo para colocar o nome do candidato da oposição em evidência na mídia e mostrar no exterior que havia resistência. (NADER, 1998, p.71). De certa forma, o grupo alcançou seus objetivos, não plenamente, mas foi uma maneira de denunciar, de colocar um anticandidato para mexer com a população, para sacudir o sistema. Sabiam que não tinham nenhuma chance, mas foi uma forma de protestar, de marcar posição. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Era raro o Grupo se reunir para estabelecer formalmente alguma meta de atuação. O objetivo central era combater a ditadura. Com a cassação do deputado Marcelo Gatto em fevereiro de 1976, o Grupo passou a se reunir mais frequentemente, a fim de fixar uma linha de comportamento que, sem embargo do combate ao regime, evitasse qualquer pretexto para novas cassações. Contudo, a idéia não prosperou. A conduta parlamentar do Grupo era incontrolável fora do Congresso Nacional. Se lá, devido ao poder de polícia da mesa diretora, a censura podava quaisquer alusões mais contundentes ao regime, nos comícios, o discurso inflamado, denunciador, das mazelas da ditadura, era mais solto e sem nenhum controle. Nenhum dos integrantes do Grupo ignorava que os donos eventuais do poder ansiavam por qualquer pretexto para desfigurar e desfibrar o Grupo. Era difícil estabelecer regras para parlamentares que com razões de sobra, expunham seus mandatos e sua própria integridade física na luta contra o inimigo comum. No âmbito congressual, em que pese à censura da mesa, era comum ocuparem a tribuna para denunciar violências, torturas e assassinatos, como foi o caso da guerrilha do Araguaia (Xambioá). (NADER, 1998, p.72). O discurso uniforme, articulado, no sentido de execrar o regime de exceção e o empobrecimento de setores majoritários da população, produziu resultados surpreendentes. O MDB passou a gozar de respeito e credibilidade perante a opinião pública. As eleições parlamentares de 1974 provaram isso. O partido aumentou consideravelmente o número de deputados estaduais e federais e obteve 16 vitórias em 23 disputas para o Senado Federal. Foi o auge do Grupo Autêntico. (NADER, 1998, p.72).
  • 30. 30 2.7 Desintegração do Grupo Essa maiúscula vitória começou a marcar a decomposição do grupo. Alguns integrantes imaginavam ser impossível galgar postos de comando, inclusive na mesa diretora da Câmara. Com o crescimento do MDB, chegaram ao Congresso Nacional vários outros parlamentares que, espelhados na conduta do Grupo, pretendiam ampliá-lo e transformá-lo em um instrumento ainda mais poderoso de combate ao regime militar. Com a explosão de algumas vaidades pessoais, esses novos parlamentares tiveram certa decepção e assim criaram por eles chamados o Grupo Neo-Autênticos. Em 1978, houve uma renovação muito grande na câmara. Com essa renovação, muita gente que então fazia parte do grupo não se elegeu, e muita gente nova entrou. Então o Grupo começou a aumentar, diversificar e acabou se desintegrando. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Em 1977 começou o movimento pela anistia, o qual cresceu exponencialmente no ano de 1978. Esse era o sonho de todos que lutavam contra a ditadura, e o Grupo aderiu a esse movimento, para poder trazer os presos políticos de volta. Essa lei era o sonho dourado de todo político, pois era o único jeito de acabar com a ditadura no país. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Então, naturalmente, o grupo foi se afastando, até mesmo porque a ditadura ficava em cima. Houve casos em que eles perseguiram muito e as pessoas acabaram por ficar receosas, outros se deixaram influenciar pela família. Havia amigos de Amaury cujas esposas imploravam de joelhos para não irem à tribuna, prestar solidariedade, apoio aos colegas cassados, pois corriam o mesmo risco de serem cassados. Como é que iria se manter, se sustentar. Com isso começaram a se afastar e automaticamente o grupo foi se desintegrando. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Outros integrantes do grupo achavam que a dissolução teve três inimigos: o PT, o Arraes e o Brizola. Consideravam inimigos porque a partir da anistia o grupo se subdividiu, alguns seguiram Brizola, outros o Arraes e alguns o PT. (NADER, 1998, p.332).
  • 31. 31 2.8 Os Neo – Autênticos Os Neo-Autênticos queriam na verdade pertencer ao Grupo dos Autênticos, mas não dava mais, pois o Grupo dos Autênticos já tinha sido feito; entretanto, chegaram a se integrar. Mas para ocorrer essa integração havia uma necessidade de identificar quem estava chegando, quem queria participar do Grupo começou a ser chamado de Neo-Autêntico. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Na verdade o que motivava essas pessoas era uma admiração pelo Grupo dos Autênticos, pois foram para Brasília já conhecendo esse Grupo de nome e seus trabalhos. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). O sujeito, para ser Autêntico, tinha que ser contra o golpe militar, combater os generais do governo. Isso era fundamental. A partir desse ponto, os próprios deputados não- Autênticos procuraram ser Autênticos deputados em seus discursos. Tinham medo de não se identificarem como Autênticos em seus pronunciamentos, colocando em risco as eleições posteriores e, por isto, adequavam seus discursos ao Grupo dos Autênticos. (NADER, 1998, p.344). No plenário ou mesmo fora dele, mas sem a menor articulação, a conduta de ambos era idêntica. Como sempre acontece, uns se expunham mais que os outros não por valentia ou por brio, mas por temperamento. (NADER, 1998, p.72). 2.9 Discurso da Cassação Em 1976, no início da campanha municipal, Nadyr Rossetti e Amaury Muller, em um dos comícios na cidade de Palmeiras das Missões, ultrapassaram os limites que a ditadura fixou para a oposição. Os discursos, proferidos em momentos bem diferentes do comício, foram considerados insultuosos às Forças Armadas. Em entrevista à esposa de Amaury, pedi qual foi o conteúdo desse discurso, e ela me disse que não estava presente, mas foi algo que repercutiu muito na imprensa. Basicamente o discurso condenava a ditadura, pregando a queda do regime e instigando a volta dos exilados para o país, entre eles Leonel Brizola, Miguel Arrais, e muitos outros que estavam espalhados pelo mundo. Foi uma das coisas que
  • 32. 32 mais influenciaram na cassação de ambos, pois o governo militar tinha horror ao Brizola devido à sua posição contra a ditadura, temendo que ele voltasse para acabar com o regime. (NADER, 1998, p.72) e (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). No dia seguinte ao comício, os jornais de Porto Alegre publicaram manchetes do tipo ”MBD homenageia Brizola e prega queda do regime”. Alguns deputados gaúchos como Fernando Gonçalves e Hugo Mardini, entre outros, intimamente ligados à ditadura, expressavam suas inquietações com o que chamavam de “agressões aos militares” e mal ocultavam suas preocupações para com o fato de que tais manifestações pudessem criar obstáculos à “abertura lenta e gradual”, proposta pelo general Geisel. Durante a semana que seguiu ao comício, os meios de comunicação, em serviço deplorável ao poder, criticaram a conduta de Amaury e Nadyr, insinuando que a inquietação dos quartéis só terminaria se os deputados que ousassem ofender a elite militar fossem punidos, isso quer dizer se tivessem seus mandados cassados. Fernando Gonçalves, deputado federal por Palmeiras das Missões, exigiu da emissora que transmitiu o comício a entrega das fitas. De posse das mesmas, o adulador cuidou de entregá-las ao comando do IV exército, sediado em Porto Alegre, outra copia foi levada a Brasília e entregue ao SNI. A partir daí a cobrança da mídia foi diária. Dois dias depois, já ao anoitecer, os telejornais, em edições extraordinárias, anunciavam a cassação de Amaury e Nadyr, sem dar-lhes a chance de irem à tribuna para contestar as acusações de agitadores, e se despedir dos colegas. A data de 28 de março de 1976 foi considerada por Amaury um dos episódios mais traumáticos de sua vida. (NADER, 1998, p.72). 2.10 A Cassação Na época tinha dois filhos pequenos, Márcio com cinco anos incompletos e Alexandre, com pouco mais de um ano e meio. Como sempre foi um homem de poucos recursos, que jamais se preocupou com coisas materiais, a cassação transformou-se em pesadelo. Seu pai, tão mais pobre que ele, não podia ajudá-lo materialmente, a família da esposa, embora financeiramente melhor estabilizada, tampouco tinha condições de auxiliá-los. Foi uma espécie de inferno terrestre. (NADER, 1998, p.73)
  • 33. 33 Perante sua esposa, tentou demonstrar tranqüilidade, procurou não se desesperar para passar mais segurança a ela, que se encontrava indignada, revoltada com a situação. Segurou muito bem o episódio da cassação, com dignidade. Foi à Câmara, conversou com colegas, deu as declarações que precisava para a imprensa: Eu não, rodei a baiana mesmo! Xinguei todo mundo, entrei na Câmara, no congresso, berrei, esperneei, briguei, cobrei dos colegas também, os chamados moderados que estavam de conchavo com a ditadura, de se calarem diante da situação, frente a indiferença de alguns colegas de tribuna e até então julgando-se amigos. Até hoje em Brasília o pessoal da Câmara comenta que eu botei o líder do MDB que se chamava Laerte Vieira, de Santa Catarina, para correr do gabinete, a gente tava lá, o Amaury foi levado para a câmara assim que saiu a notícia às seis horas da tarde. Anunciaram na imprensa, “reunido o conselho nacional de segurança, baseado no AI-5, decide que Amaury Muller e Nadyr Rosseti, foram cassados e tiveram seus direitos políticos suspensos por dez anos”. Aí foi lido na tribuna e foi aquela gritaria, os mais corajosos foram lá protestar, como o Lysâneas Maciel, esse sim foi corajoso, sabendo que poderia ser cassado também, foi para a tribuna em defesa a Amaury e Nadyr Rosseti; em seu discurso, referiu-se à questão do medo. Em primeiro de abril, quando discursava sem microfone e sem mesa diretora, por volta das seis e meia da tarde, alguém lhe disse: - “Você acaba de ser cassado.” Ao que imediatamente respondeu sob aplausos: - “cassados estamos todos”. Isso sim que é um cara corajoso, que é um companheiro, sabendo que ali não tinha mais volta para ele, não ficou calado diante dos acontecimentos. Então se reunindo no gabinete de Amaury, apareceu o Laerte Vieira, sugerindo ao Amaury que fosse se despedir do presidente da Câmara Célio Borges, que era da ARENA. Eu enlouqueci literalmente, eu tava magoada e com isso fiquei histérica, disse: o que? Se despedir, numa hora dessas, de injustiça, vai se despedir coisa nenhuma, suma daqui, desapareça, se Célio Borges quer se despedir que venha aqui, que é o que deveria fazer como presidente da Câmara, prestar sua solidariedade a um membro da Câmara. Noutro dia estava em todos os jornais e todos comentavam na Câmara, cuidado com a mulher do Amaury, tá botando todo mundo pra correr, tinha uns que ligavam pra saber se poderiam ir fazer uma visita, dar um abraço, prestar solidariedade a ele [...].(trecho da entrevista concedida a autora no dia 03/11/2009, por Samira El Ammar). Com o tempo, a violência da cassação acabou sendo assimilada, não obstante seu impedimento de trabalhar no mercado formal, não foi aceito num instituto, mantido pela Câmara que produzia discursos e trabalhos de pesquisa para os parlamentares, embora fosse dirigido por colegas deputados. Essa negativa teve como fulcro o medo de desafiar a ditadura. Mesmo assim, durante um período, ele realizou trabalhos para essa entidade com o nome de sua esposa. (NADER, 1998, p.73). Um fato curioso e triste que também marcou a vida de Amaury nesse ano de 1976, no período da cassação, foi que seu pai ficou sabendo da cassação pelo Jornal Nacional do dia 28 de março de 1976, decidiu então ir até a igreja matriz de Cruz Alta rezar pelo seu filho Amaury, e, mais tarde, no mesmo dia, foi encontrado pelos seus outros filhos, passando mal na Igreja matriz. Foi levado ao hospital e constataram que ele havia sofrido um AVC
  • 34. 34 (Acidente Vascular Cerebral), mais conhecido como derrame. A partir daí ficou paraplégico e com dificuldades de falar, vindo a falecer dois anos depois de complicações das seqüelas do AVC. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). 2.11 Vida pós-cassação A vida pós-cassação mudou muito, trabalhava em casa, fazendo artigos, trabalhos de colegas, pesquisas, projetos, discursos, pois tem deputado que não redige uma linha, o assessor que redige, o assessor é que faz tudo, com Amaury era diferente, ele não admitia que alguém redigisse seus discursos, seus telegramas, ele não admitia que alguém fizesse isso por ele, era muito perfeccionista, ele que fazia tudo. Ele sempre teve muita habilidade, facilidade, vocação para pesquisar, escrever, tendo publicado alguns livros: Ponto Crítico, Teatro do Absurdo, A Luta Continua volumes 1 ao 6. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). No começo foi muita mágoa, muita revolta, até assimilar, acostumar-se com a idéia da cassação, foi triste, doloroso. Ele procurou não demonstrar seu desespero, mostrando- se forte perante sua esposa, que era mais passional, mais emotiva, mais transparente. Ele se segurava mais, mas não deixava de ficar nervoso, irritado, preocupado com a situação. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Na época o cassado político era uma espécie de hanseniano, do qual muitas pessoas fugiam ou guardavam prudente distância. E Amaury afirma em seu depoimento: [...] Cabe aqui dizer que nem todos agiam dessa maneira. Alguns deputados, como Fernando Cunha, JG de Araújo Jorge, Marcondes Gadelha, Getulio Dias e Álvaro Dias, foram extraordinariamente solidários. Fernando Cunha merece um destaque, por ter sido especialmente solidário tornou-se duplamente compadre de Amaury, e sua filha mais nova leva o nome de Fernanda em virtude de homenageá-lo também. Outro destaque para o jornalista Josélio Gondim da Paraíba, pela sua atitude solidária, tido por alguns como um homem esperto, boa vida e oportunista. Ele havia fundado uma revista em Brasília, com o nome O Espelho, e convidou-o para trabalhar junto com ele [...] (NADER, 1998, p.74).
  • 35. 35 2.12 Revista o Espelho Mesmo sabendo das dificuldades político-profissionais de Amaury, Josélio Gondim o acolheu, deu-lhe um espaço na revista e nunca censurou nenhum texto por ele produzido. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Ele publicava artigos sobre economia, e isso rendeu-lhe o cargo de diretor econômico, não ligado à política, porque a revista também não queria gente que radicalizasse muito, pois tinham medo de não conseguir o patrocínio, a publicidade oficial que necessitavam para se manter. Então algumas vezes ele chegava e pedia para Amaury dar uma “maneirada”, se segurar, por isso seu cargo era na área de economia, pois tinha essa preocupação de ele começar a expor muito a revista, ficando claro então que ele não tinha uma liberdade total de expressão. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Ele começou falando sobre economia, pois tinha muita coisa para se falar nessa área, nesse período da ditadura. Não era só na política que as coisas não estavam certas, a economia do país também vivia num caos, tinha muita coisa errada. Mas Amaury era inteligente (e teimoso), passado um tempo começou a misturar política junto na sua coluna. Ele sentiu um pouco mais de coragem, liberdade para se expressar, pois já havia começado alguns movimentos para criação da lei de anistia e isso possibilitava essa coragem. Já se falava na anistia, no exterior já havia movimentos pela anistia no Brasil, tinha exilados no lado de fora. Pessoas ligadas à cultura, jornalistas, escritores, prêmio Nobel disso e daquilo, preocupados com a ditadura da América do Sul, já se manifestavam que isso tinha que acabar. O movimento começou vindo com toda falta de mídia, de globalização, não tinha nada disso na época, mesmo assim a TV já dava dicas. A TV Globo foi uma das que apoiou a ditadura, foi quando Roberto Marinho pôde se instalar na TV Globo e conseguir a concessão do canal e todas as regalias. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Amaury tinha um grande apreço pelo jornalista Josélio Gondim. Em sua avaliação, achava-o um homem de bem, justo e solidário, ignorando o que outros achavam. Por vários meses, manteve a coluna assinada na revista. O pagamento mensal sempre era um problema, mas ainda assim conseguiu sobreviver dignamente, e sempre lhe foi grato por tudo isso. (NADER, 1998, p.74).
  • 36. 36 2.13 Lei da Anistia Em 1977 começou a se desenhar no horizonte a possibilidade da anistia, começaram a ganhar expressão os movimentos pela anistia. Terezinha Zerbini fundou em São Paulo o Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA). E esse embrião deu lugar a outros CBA’s, que se espalharam rapidamente por todo o país. Em Brasília, com apoio de vários setores da sociedade e em especial da OAB, os deputados criaram um CBA, cujas reuniões cada vez mais concorridas, eram vigiadas de perto pelos órgãos de repressão. Apesar disso ninguém foi preso ou molestado. (NADER, 1998, p.74). Depoimento proferido por Amaury em relação à anistia. [...] Com a ascensão de João Baptista Figueiredo ao poder, a idéia cresceu e encontrou eco no próprio plantonista do regime militar. Foi ele que, em 29 de Agosto de 1979 , assinou a lei da anistia, uma anistia capenga, míope, que jamais foi ampla e irrestrita, mas que acabou contemplando varias lideranças políticas, então exiladas no exterior. Amaury também foi beneficiado por ela, embora sempre criticasse seu caráter limitado, pois tanto ele como outros colegas anistiados em 1979 foram impedidos de concorrer às eleições de 1978. Tiveram que aguardar o pleito de 1982, quando Brizola, Arraes, Lysâneas, Nadyr e Amaury receberam a unção das urnas e voltaram à vida pública [...]. (NADER, 1998, p.74). 2.14 Volta ao Plenário em 1983 A volta ao plenário, em 1983, foi cheia de muita emoção, porém agora os deputados que outrora foram cassados, queriam mostrar mais trabalho, havia uma preocupação em desempenhar bem o mandato, atender aos eleitores. A eleição de 1982 já fora no pluripartidarismo. O governo extinguiu o bipartidarismo (Arena/MDB), para enfraquecer a oposição que era muito forte, e já tinham conquistado a anistia, assim liberou o bipartidarismo para poder dividir o MDB. (NADER, 1998, p.74). Diante disso, Amaury voltou ao congresso, mas já não era o mesmo grupo, não eram todos do mesmo lado dos antigos companheiros, do mesmo partido, parte somente, a outra parte pertencia a outros partidos, com ideologias afinadas, mas adversários. Começou uma luta para poder se manter no poder, pois na hora do voto a voto, o que importa é a
  • 37. 37 legenda e não o pensamento igualitário. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Os projetos que Amaury tinha antes da anistia voltaram a ser representados novamente, projetos trabalhistas, da aposentadoria da mulher rural. Novas estratégias, novas medidas para poder se manter no congresso, para poder manter o esquema todo. Era mais complicado, mais trabalho, mais cuidado, mais preocupação com as lideranças do interior, do seu Estado. Era necessário manterem contatos permanentes. Os deputados passaram a não ficar mais morando permanentemente em Brasília, iam toda semana para os seus Estados, porque lá estavam os eleitores e estava cheio de gente querendo conquistá-los, de todos os partidos na sua base, eu vou lá para poder garantir meus votos. Deputados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais que já não eram de ficar em Brasília, aí que começaram a não ficar mesmo, na sexta-feira iam embora, depois começou na quinta e hoje então nem se fala, na quinta-feira já não tem votação na câmara. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). Amaury, aos poucos começou a considerar que o Congresso Nacional tinha perdido sua perspectiva histórica e não era a caixa de ressonância das mais legítimas aspirações populares e muito menos representava a maioria dos brasileiros. O custo das eleições assumiu proporções gigantescas. Com a volta ao plenário, Amaury deixa claro sua decepção, em discurso proferido por ele a Ana Beatriz Nader: [...] Hoje, no ritmo que as coisas vão, só os ricos e alguns cooperativistas reúnem condições materiais de disputar mandados. Há um processo de degeneração das eleições, uma espécie de metástase que vai corroendo as entranhas da dignidade e da honradez do eleitorado. Uns poucos ainda mantém viva a chama do idealismo. A maioria, infelizmente, só vota se receber favores em troca. Ora, como voto não é mercadoria, nego-me a participar dessa farsa. De resto, não possuo recursos financeiros para enfrentar o poder econômico. Mas, mesmo que os tivesse não concordo em participar de um processo sabidamente espúrio e prostituído. Isso não quer dizer que todo parlamentar escorregue para o pântano da dissolução dos costumes políticos. Em absoluto. Remanescem alguns, talvez uma centena, que repudiam esse tipo de escambo imoral. A maioria, porem, compra votos e comercializa a própria consciência. Sempre digo a meus filhos, que minha herança e minha coerência... É a minha coerência, e não mais que minha, a minha coerência, meu grande legado [...]. (NADER, 1998, p.75).
  • 38. 38 3 VIDA PÓS-DITADURA 3.1 Motivo de ciumeira entre os colegas Amaury e alguns colegas do Grupo Autênticos voltaram para Câmara, como Lysâneas Maciel, Chico Pinto e Fernando Cunha, esses cumpriram apenas um mandato e decidiram deixar a vida pública. JG de Araújo Jorge e Nadyr Rosseti não conseguiram a reeleição em 1986, para a Assembléia Nacional Constituinte, Fernando Lyra, que não havia sido cassado parecia ser o único que tinha sobrado do Grupo além de Amaury. (NADER, 1998, p.75). Com a volta para Câmara de Deputados em 1982, Amaury cumpria seu quinto mandato e não havia mudado suas antigas posições políticas. Na verdade, isso fez com que ele amadurecesse e aprendesse muito, não tinha também idade para os mesmos arroubos de antes. Esse amadurecimento, no entanto, não alterou sua visão de uma sociedade socialista, mais livre, mais igualitária e mais humana. E declara: [...] Mantenho inabaláveis minhas convicções nacionalistas, profundamente enraizadas desde os tempos de adolescência quando participei da histórica campanha pelo monopólio estatal do petróleo e pelo controle de setores estratégicos da economia. Hoje, porém, o quadro é diferente, não temos uma ditadura militar, mas, pior, temos um neoliberalismo selvagem, ancorado na parafernália do desenvolvimento tecnológico e na idéia de que a competitividade, em um mundo globalizado, é que move o progresso [...]. (NADER, 1998, p.76). Os agentes tinham uma admiração muito grande pelo Amaury, e era muito conhecido por todos, pelos funcionários, pela imprensa por ter pertencido ao grupo dos deputados mais recentes a serem cassados, pois a pouco tempo ainda estava militando, ao contrário dos deputados cassados em 1967/1969 que estavam afastados do congresso há mais tempo. Todos estavam contentes com sua volta, causando inclusive muita ciumeira entre os cassados antigos. Eis o que declarou Samira em relação a isso: [...] Amaury era muito ligado às embaixadas. Na cassação, ao contrário do que pode se supor, o cassado político que tem prestígio, respeitabilidade continua sendo prestigiado. As embaixadas, embora instaladas no Brasil, legalmente não devem satisfação ao governo brasileiro em termos de prestigiar as pessoas e exilá-las, é um direito internacional desde que não fira o governo e ofenda o mesmo. Essas
  • 39. 39 embaixadas procuravam muito o Amaury, depois de ele cassado. Não era só pelo prestigio dele como parlamentar, mas pela pessoa, pela luta, pelo trabalho e até para prestar solidariedade, muitas embaixadas eram contra a ditadura. Eram países democráticos, mas estavam ali trabalhando então precisavam respeitar, não podiam dar palpites. Amaury sempre era convidado, por pessoas que trabalhavam na embaixada, para festas e eventos, criando um vínculo muito grande depois da cassação. Quando ele retornou para a Câmara, todas as embaixadas queriam fazer festa, homenagear essa vitória, despertando então um pouco de inveja entre seus colegas parlamentares. [...] (trecho da entrevista concedida a autora no dia 03/11/2009, por Samira El Ammar). Todos falavam no nome de Amaury. Pela sua grande respeitabilidade, recebia muitos convites dos Parlamentos e de Governos dos mais variados países, para dar palestras ou participar em congressos, como Finlândia, Londres, México, Austrália, Paraguai, Cuba, etc..., e isso acabava gerando ciúmes em seus colegas. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). FOTO 8: Em Orlando (na Disney). (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). FOTO 9: No México (28/02/1993). (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
  • 40. 40 FOTO 10: Na China . (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). FOTO 11: Na Austrália (21/11/1992). (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). FOTO 12: No Paraguai. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
  • 41. 41 FOTO 13: Em Cuba. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). FOTO 14: Com o Embaixador do Kuwait (25/02/1989, data nacional do Kuwait). (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
  • 42. 42 FOTO 15: Com Yasser Arafat, Presidente da causa Palestina. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). FOTO 16: Com o Presidente da África, Nelson Mandela. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
  • 43. 43 Todos os anos, Amaury recebia Diploma do Presidente do Departamento Intersindical de Acessória Parlamentar (DIAP), por figurar entre os melhores “cabeças” do Congresso Nacional. Recebeu também várias condecorações ao decorrer de sua carreira. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar). FOTOS 17/18: Recebendo Diploma do presidente do DIAP e sendo condecorado pelo seu trabalho em prol dos trabalhadores. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). Amaury estava quase que diariamente na Tribuna Plenário da Câmara, defendendo os seus projetos de interesse social. Sempre participava dos seminários e eventos do partido. Foi 4º Secretário da Câmara de Deputados e presidente durante anos na Comissão de Trabalho, seu trabalho foi pacifico, conseguindo excelentes melhorias para os trabalhadores. Frequentemente recebia amigos e eleitores em seu gabinete. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).
  • 44. 44 FOTO 19: Amaury em seu gabinete com amigos e eleitores. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). FOTO 20: Convenção do PDT. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). FOTO 21: Encontro Nacional do PDT. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
  • 45. 45 FOTO 22: Campanha de Leonel Brizola para presidente. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). FOTO 23: Amaury na Tribuna. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
  • 46. 46 FOTO 24: Amaury na Bancada. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). FOTO 25: Comissão de Trabalho da Câmara com o Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
  • 47. 47 FOTO 26: Na Tribuna com Ulysses Guimarães. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). FOTO 27: Com o Presidente Tancredo Neves e a filha Fernanda, em sua residência, em Brasília, quando recebeu delegação de vereadores de Ijuí. (fotos do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). 3.2. Diretas Já João Baptista Figueiredo, eleito pelo colégio eleitoral, assume a presidência com a finalidade de restaurar, devolver a democracia ao país. O presidente decreta lei de anistia, devolvendo o direito para políticos, artistas e demais brasileiros que se encontravam exilados
  • 48. 48 e condenados por crimes políticos, de regressarem a seu país. Seria o último presidente militar. (Wikipédia Livre). Dessa maneira inicia o processo de redemocratização do país. João Figueiredo em dezembro de 1979 modificou a legislação, restabelecendo o pluripartidarismo do país. (Wikipédia Livre). João Figueiredo enfrentou uma grande crise econômica desde que assumiu seu governo, isso fez com que os partidos de oposição ao regime crescessem e os sindicados e as entidades de classe se fortalecessem. Em 1984, o povo começa a se organizar e surge um movimento pelas Diretas Já, foi um ato de mobilização dos civis, que queriam a volta de eleições diretas pra presidente. Isso tudo teve início com a ementa constitucional Dante de Oliveira pelo congresso, mas não teve sucesso, perdeu por 22 votos. (site: Nova República). Esse movimento pelas Diretas Já tomou proporções gigantescas, foi além das organizações partidárias, acontece grandes comícios, o povo foi pras ruas em passeatas, tornado-se uma mobilização nacional. A população contava que com a vitória das Diretas Já, colocando todas suas expectativas e esperanças, pois esperavam que pudessem ser representados com maior autenticidade e a resolução de muitos problemas como: salários baixos, segurança, inflação, entre outros problemas, que só encontrariam se pudessem escolher seus representantes. (FAUSTO, 2003, p.509). FOTO 28: Amaury percorreu o país nas Diretas Já. Nessa foto com o cantor Agnaldo Timóteo, que participou do comício em Ijuí e região. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller).
  • 49. 49 A derrota das eleições diretas causou um grande desânimo e frustração na população, mas os adeptos ao movimento sentiram uma esperança parcial e julgaram-se vitoriosos quando um de seus líderes, Tancredo Neves, foi eleito presidente da república, pelo colégio eleitoral. Iniciaria aí uma transição para a democracia no Brasil. (FAUSTO, 2003, p.510). Tancredo Neves, ao ser eleito, já começou com intensas atividades de contatos no país e também uma viagem ao exterior. Já se encontrava doente, mas resolveu deixar a doença para depois da posse. Não teve tempo, pois na véspera de assumir o cargo de presidente da república foi internado as pressas por complicações de sua doença. Passou por várias cirurgias. José Sarney, que era seu vice, assumiu como presidente interino. (FAUSTO, 2003, p.514). No dia 21 de abril de 1985, morre Tancredo Neves num hospital de São Paulo, depois de ter adquirido infecção hospitalar. A população se comoveu, foi para as ruas acompanhar o cortejo com o corpo do presidente. Tinha-se a sensação de que o país acabara de perder um político muito importante num momento tão delicado. (FAUSTO, 2003, p.515). Essa sensação tinha tal fundamento, pois Tancredo tinha qualidades que eram raras de se encontrar no meio político, era considerado um político honesto, com equilíbrio e coerência de posição e isso era maior do que suas preferências ideológicas. (FAUSTO, 2003, p.515). José Sarney assume como presidente em exercício pleno no dia 15 de março de 1985 e dando fim aos 21 anos de Regime Militar. A redemocratização só foi completa em 1988 com a promulgação da constituição de 1988. (site: Nova República). 3.3 Dever Cumprido Amaury sentiu-se contente e com uma sensação de dever cumprido com a eleição de Tancredo, tanto ele como outros idealistas e companheiros de luta. E Samira disse: [...] Foi muito gratificante, ele estava inteiramente a favor dessa eleição, tanto que em um determinado período, o Brizola andou ameaçando, sugerindo que não
  • 50. 50 votassem no colégio eleitoral, discutiu com o Tancredo por um motivo qualquer que ele inventou na época. Disse pro Amaury: nem pensar que o Brizola vai impedir essa eleição. Nós estávamos numa luta ferrenha na época, era como se fosse uma eleição direta, o colégio eleitoral acabou sendo praticamente uma eleição direta, porque mobilizou a população toda. Mesmo uma coisa aparentemente ilegal, diferente do que tinha sido até então dos costumes, passou a ser legal porque o povo legalizou, o povo avalizou. Estava todo mundo lutando por isso. A eleição de Tancredo foi considerada como se fosse uma eleição direta. Foi uma vitória nossa, nós vibramos demais, demais, demais [...]. (trecho da entrevista concedida à autora no dia 03/11/2009, por Samira El Ammar). 3.4 Constituição Sarney assume a presidência com algumas restrições, pois até ser indicado pra ser vice de Tancredo, ele pertencia à ala de oposição, não tinha muita ligação com a democratização que o PMDB buscava. O Partido Frente Popular (PFL), não abria mão de seu nome na chapa então o PMDB acabou por ceder. (FAUSTO, 2003, p.511). Sarney fixou sua atenção em dois pontos, que seria a revogação das leis que vinham do regime. O chamado entulho autoritário e na eleição de uma Assembléia Constituinte, encarregada de elaborar uma nova constituição. Uma reunião foi marcada para novembro de 1986. (FAUSTO, 2003, p.520). No dia 5 de outubro de 1988 inicia-se um novo ciclo no país, a constituição é promulgada instaurando um regime democrático sob a forma de governo presidencialista, onde a população votou no dia 21 de abril de 1993, escolhendo sob qual forma queria ser regida. (site: Wikipédia). Em 1988, ano em que foi promulgada a constituição, Amaury recebeu o título de parlamentar nota 10 pela sua atuação na elaboração da Carta Magna. (Entrevista concedida à autora no dia 01/11/2009, por Samira El Ammar).
  • 51. 51 FOTO 29: Amaury assinando a Constituição de 1988, fato que lhe rendeu o titulo cidadão nota 10. (foto do acervo da família, cedida por Samira El Ammar Muller). Fonte: Wikipedia Livre.
  • 52. 52 Amaury foi muito atuante em relação à constituinte, mas achou que no final não tinha sido totalmente satisfatório, deixou muita coisa a desejar. Samira disse que: [...] ele tava todo dia na TV, assim no noticiário, porque focava o plenário todo dia tinha noticiário da constituinte. Foi muito atuante na área da agricultura, dos direitos do trabalhador, ele esteve muito envolvido, a comissão de trabalho, ficava até de madrugada, muitas vezes fazíamos carreteiro na liderança pro pessoal comer lá pela meia noite. Eles não tinham tempo pra nada devido as votações, discussões das matérias relativas a constituinte. O congresso sempre lotado de pessoas de todo o país, grupos, entidades reunidas que iam pra lá ou mandavam seus representantes, pra também entrarem na reforma da constituinte, para serem incluídos seus planos, seus projetos. Amaury achou que a reforma da constituinte ficou muito a desejar, teve muita coisa boa que se conquistou e muita coisa ficou pendente, que não deu pra acrescentar, que não aceitaram a maioria não quis, alguns avanços mais sociais mais arrojados. Tentaram achar um meio termo. Não foi totalmente satisfatório, mas por hora foi o que conseguiram fazer [...]. (trecho da entrevista concedida à autora no dia 03/11/2009, por Samira El Ammar). Amaury, em depoimento a Ana Beatriz Nader, fez o seguinte comentário em relação à Constituição de 1988. [...] Gostaria de fazer um breve comentário sobre a nova Constituição. No início dos anos 70, quando Chico Pinto, Alencar Furtato, Lysâneas Maciel, JG de Araújo Jorge, Marcos Freire, Paes de Andrade e tantos outros formavam a linha de frente na luta contra a ditadura, o próprio Grupo Autêntico lançou a idéia de uma Assembléia Nacional Constituinte. Foi na cidade de Recife, em 1971. Lá militava, entre outros, o deputado Jarbas Vasconcellos, nosso anfitrião. O documento tirado à época sugeria uma grande mobilização nacional em torno da idéia, a fim de tornar vulnerável a ditadura e apressar seu fim. Foi exatamente o que aconteceu. Os CBA’s pregaram simultaneamente a anistia e a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. Mas, mesmo antes deles, o Grupo dos Autênticos pautou sua atuação, em boa parcela, tendo como mote a implantação de um Estado de Direito e de uma ordem econômico-social mais justa, a partir de uma nova Constituição. Quinze anos mais tarde ela veio. Fui constituinte e participei, direta e ativamente, das articulações dos setores progressistas no sentido de textualizar avanços e conquistas sociais, tidas como indispensáveis para assegurar plenamente os direitos da cidadania. Sem embargo desses avanços, que hoje estão sendo destruídos pela fúria neoliberal, lutamos para impor uma ordem econômica protetora dos interesses nacionais, aí incluímos o monopólio de setores estratégicos (petróleo, telecomunicações) e a implementação de uma reforma agrária massiva, radical e profunda. Foi o grito do Grupo Autêntico que ecoou nas consciências dos constituintes. Foi a experiência, acumulada por antigos militantes do Grupo, que deslanchou conquistas extraordinárias, não obstante a tresloucada oposição das áreas conservadoras, notadamente no capitulo referente a questão agrária. Creio, mesmo, que parte apreciável do atual texto é uma espécie de herança política e ideológica do Grupo Autentico. Por derradeiro, quero dizer que, ao participar desse bivaque verdadeiramente oposicionista, realizei-me como cidadão e como homem público. Claro, fui personagem menor do processo, mas nem por isso, porém, sinto-me diminuído perante os demais companheiros [...]. (NADER, 1998, p.77).
  • 53. 53 3.5 Último Mandato O último mandato de Amaury foi em 1991-1995 pelo PDT. A essa altura da carreira política, ele encontrava-se desgostoso, não tinha o mesmo encanto do começo pela política, com o rumo que ela tinha tomado; com as atitudes dos políticos, com a corrupção na política, com o uso do dinheiro para compra de votos, para fazer os esquemas eleitorais em Ijuí e na região. Samira disse que: [...] ele já estava muito chateado no último mandato que exerceu. Ele saiu em 1995 e não tava mais querendo seguir carreira política. Achava que a política tinha mudado muito, não era mais aquela coisa, não tinha mais graça. Era uma compra, quem tem mais arruma mais voto. Mas ele continuou trabalhando, até o fim, nunca deixou de pleitear, de falar, mesmo estando fora da câmara é como se estivesse diariamente na tribuna, pois continuou dando sua opinião. Mas intimamente estava desencantado [...]. (trecho da entrevista concedida à autora no dia 03/11/2009, por Samira El Ammar). Ficha de seus mandatos, licenças, perdas de mandato, filiações partidárias, atividades partidárias, estudos e graus universitários, seminários, conferências e congressos, atividades parlamentares, atividades sindicais, representativas de classe e associativas, condecorações, obras publicadas, missões oficiais, outras informações. (ficha biográfica retirada do site da Câmara dos Deputados). AMAURY MULLER - PDT Amaury Muller Nascimento: 17/1/1936 Profissões: Economista e Jornalista Filiação: Henrique Muller e Virginia Martins Muller Legislaturas: 1971-1975, 1975-1979, 1983-1987, 1987-1991 e 1991-1995.