1) O documento discute as diferenças entre construtivismo e construcionismo, com Jean Piaget representando o construtivismo e Seymour Papert o construcionismo.
2) Enquanto o construtivismo vê a criança como um construtor ativo de conhecimento, o construcionismo enfatiza construções externas e compartilhadas.
3) Piaget e Papert concordam que as crianças constroem suas próprias ferramentas cognitivas, mas Papert dá mais ênfase à importância do contexto situado na aprendizagem.
4. O conceito de construcionismo expande o conceito de
construtivismo. Os modelos construtivistas da
psicologia do desenvolvimento vêm o sujeito como um
activo construtor de conhecimento. Através do
construtivismo, teóricos como Jean Piaget, tentam
descrever como é que esse processo de construção
acontece para melhor se entenderem a aprendizagem e o
desenvolvimento das crianças.
5. Em termos educacionais, este modelo contraria a ideia do
estudante como tabula rasa e o professor como a
autoridade que leva o estudante a aprender, vertendo-lhe o
conhecimento. Pelo contrário, o construtivismo argumenta
que os professores devem compreender a natureza activa
do processo de aprendizagem, no qual os estudantes já
estão empenhados, de modo a estarem aptos a poderem
facilitar e enriquecer esse processo, ao invés de tentarem
impor-lhes experiências que não fazem sentido.
6. Os construtivistas acreditam que todas as crianças
estão empenhadas na criação de uma vasta cadeia
de estruturas intelectuais para darem ordem ao
mundo em que vivem, e que essas estruturas devem
suportar níveis de complexidade cada vez mais
elevados, à medida que a criança cresce e se
desenvolve.
7. O pensamento construcionista acrescenta algo ao ponto
de vista construtivista. Onde o construtivismo indica o
sujeito como construtor activo e argumenta contra
modelos passivos de aprendizagem e de desenvolvimento,
o construcionismo dá particular ênfase a construções
particulares do indivíduo, que são externas e partilhadas.
8. “We understand ‘constructionism’ as including, but
going beyond, what Piaget would call ‘constructivism’.
The word with the v expresses the theory that knowledge
is built by the learner, not supplied by the teacher. The
word with the n expresses the further idea that this
happens especially felicitously when the learner is
engaged in the construction of something external or at
least shareable ... a sand castle, a machine, a computer
program, a book. This leads us to a model using a cycle
of internalization of what is outside, then externalization
of what is inside and so on”*
*Papert (1990), in “Introduction”. Idit Harel (Ed.), Constructionist Learning.
Cambridge, MA: MIT Media Laboratory, p. 3.
9. Se olharmos a criança como um construtor, escreve Papert
(1980) estamos no caminho de uma resposta. E, como qualquer
outro construtor, a criança necessita de matéria-prima para a
construção do seu conhecimento.
Piaget e Vygotsky, por exemplo, indicariam o meio cultural
envolvente como fonte desse material cognitivo em bruto.
Para Papert, a barreira encontra-se mais no exterior que no
interior das crianças, e se o exterior for enriquecido com os
nutrientes cognitivos adequados, e as crianças expostas a esses
nutrientes, elas poderão lidar, sob determinadas condições, com
conceitos cuja abordagem puramente formal lhes estaria vedada.
10. “O Piaget da teoria dos estádios é essencialmente
conservador, quase reaccionário, enfatizando o que as
crianças não podem fazer. Eu me empenho em revelar
um Piaget mais revolucionário, cujas ideias
epistemológicas podem expandir as fronteiras
conhecidas da mente humana” (Papert, 1980, p. 189).
11. Semelhanças e diferenças entre as posições de Piaget e
de Papert segundo Edith Ackermann*.
Distinção entre a “criança” de um e a “criança” de
outro:
* Ackermann, E. (1990). From Decontextualized to Situated Knowledge: Revisiting Piaget´s Water-
Level Experiment. Epistemology and Learning Group Memo Nº 5. Cambridge: Massachusetts
Institute of Technology.
12. Piaget e Papert são ambos construtivistas porque
partilham a opinião de que as crianças são as
construtoras das próprias ferramentas cognitivas bem
como das suas realidades exteriores. Para ambos, o
conhecimento e o mundo são construídos e
constantemente reconstruídos através da experiência
pessoal, em que cada qual ganha existência através da
construção do outro.
13. Piaget e Papert, são desenvolvimentistas no sentido em que
partilham uma visão incrementadora do desenvolvimento
cognitivo. Ambos definem inteligência como adaptação, ou
como a habilidade de manter um equilíbrio entre estabilidade
e mudança, entre fechar-se e abrir-se, continuidade e
diversidade. Na perspectiva de Piaget entre assimilação e
acomodação.
14. Piaget descreve como as crianças se tornam progressivamente
separadas do mundo dos objectos concretos e das contingências
locais, e gradualmente se tornam capazes de manipular
mentalmente objectos simbólicos no interior de um reino de
mundos hipotéticos.
Papert dá ênfase ao polo oposto: a sua maior contribuição é
recordar-nos que a inteligência deve ser definida e estudada in
situ, que ser inteligente é ser situado, ligado e sensível às variações
do envolvimento. Tornar-se um com o fenómeno em estudo - eis a
chave para a aprendizagem.
15. A criança de Piaget é uma espécie de Robinson Crusoe na
conquista de uma ilha rica e deserta. A sua conquista é solitária
ainda que extremamente excitante desde que o explorador seja
guiado interiormente, muito curioso e de carácter independente.
O principal objectivo da sua aventura não é a exploração pela
exploração mas a alegria de, ao dar um passo atrás, ser capaz de
construir mapas e outras ferramentas úteis para melhor controlar
e dominar o território sob exploração.
16. A criança de Papert é um dominador suave. Como a de
Piaget gosta de descobrir novidades, mas por sua vez prefere
manter-se em contacto com as situações (pessoas e coisas) na
procura do sentimento de se sentir una com elas. Gosta de
estar vinculada às situações sem ter que recuar delas. Prefere
compreender, ainda no contexto, a fazer uma retrospectiva
da experiência. É uma praticante reflexiva.