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O SENTIDO DA VIDA
“Há […] duas acepções muito diferentes de "propósito". […] A primeira acepção, mais básica, só
se atribui, normalmente, a pessoas ou ao seu comportamento como em "Para que deixaste o carro a
trabalhar?" No segundo sentido, o propósito só se atribui normalmente às coisas, como em "Para que
serve aquela engenhoca que instalaste na garagem?" […]
Há muitas coisas que um homem pode fazer, tais como comprar e vender, contratar trabalhadores,
lavrar a terra, derrubar árvores, etc., que serão tolas, sem sentido, tontas e talvez loucas se não
tivermos qualquer propósito em vista ao fazê-las. […]
Em contraste, ter ou não ter um propósito, na outra acepção é algo neutro quanto ao valor. Não
prezamos mais ou menos uma coisa por ter ou não um propósito. […] Uma fila de árvores perto de
uma quinta pode ter ou não um propósito: pode servir ou não para cortar o vento, as árvores podem
ter sido ou não plantadas naquele local (…). De modo algum depreciamos as árvores se dissermos
que não têm qualquer propósito, tendo-se limitado a crescer assim. […]
Contudo, (…) atribuir a um ser humano um propósito nesta acepção não é neutro, nem sequer
lisonjeiro: é ofensivo. É degradante para um homem ser encarado meramente como algo que serve
um propósito. Se, numa festa, eu perguntar a um empregado “Qual é o seu propósito?” estarei a
insultá-lo. Poderia igualmente ter-lhe perguntado “Para que serve você?”. Tais questões reduzem-no
ao nível de uma geringonça, um animal doméstico, ou talvez um escravo. […] Estamos a tratá-lo, na
expressão de Kant, meramente como um meio para os nossos fins, e não como um fim em si.
A mundividência cristã difere realmente da científica a este respeito, a um nível fundamental. A
última despoja o homem de um propósito neste sentido. Vê o homem como um ser sem qualquer
propósito que lhe tenha sido atribuído por seja quem for excepto ele mesmo. Despoja o homem de
qualquer objectivo, propósito ou destino que lhe tenha sido atribuído por qualquer força exterior. A
mundividência cristã, por outro lado, encara o homem como uma criatura, um artefacto divino, […],
com um propósito, atribuído pelo seu Criador.
Contudo, a falta de propósito, nesta acepção, não impede de modo algum que a vida tenha sentido.
Suspeito que muitas das pessoas que rejeitam a mundividência científica […] pensam confusamente
que se a mundividência científica for verdadeira, então as suas vidas têm de ser fúteis porque essa
mundividência implica que o homem não tem qualquer propósito que lhe tenha sido dado a partir do
exterior. Mas isto é uma confusão, pois, como mostrei, a ausência de sentido só decorre da falta de
propósito na outra acepção, que a mundividência científica não implica de maneira alguma. Estas
pessoas concluem erradamente que não pode haver qualquer propósito na vida porque não há
propósito para a vida; que os homens não podem adoptar e alcançar por si propósitos porque o
homem, ao contrário de um robô ou de um cão de guarda, não é uma criatura com um propósito.
Kurt Baier(1957), O Sentido da Vida” (1957), pp.119-120
Interpretação u
1. Exponha a perspetiva de Baier em relação à proposta da mundividência cristã segundo a qual “ o
homem é uma artefacto divino”.
Kurt Baier (1917-2010): Filósofo moral neozelandês, radicado nos Estados Unidos da América. As suas As suas
ideias sobre o sentido da vida têm sido igualmente muito influentes. Destacam-se as obras The Moral Point of View
(1955), The Problems of Life and Death (1997).

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Kurt Baier - Sentido da vida

  • 1.  A  Religião  e  o  Sentido  da  Existência:  a  experiência  da  finitude  e  a  abertura  à  transcendência    Filosofia  –  10º  Ano   O SENTIDO DA VIDA “Há […] duas acepções muito diferentes de "propósito". […] A primeira acepção, mais básica, só se atribui, normalmente, a pessoas ou ao seu comportamento como em "Para que deixaste o carro a trabalhar?" No segundo sentido, o propósito só se atribui normalmente às coisas, como em "Para que serve aquela engenhoca que instalaste na garagem?" […] Há muitas coisas que um homem pode fazer, tais como comprar e vender, contratar trabalhadores, lavrar a terra, derrubar árvores, etc., que serão tolas, sem sentido, tontas e talvez loucas se não tivermos qualquer propósito em vista ao fazê-las. […] Em contraste, ter ou não ter um propósito, na outra acepção é algo neutro quanto ao valor. Não prezamos mais ou menos uma coisa por ter ou não um propósito. […] Uma fila de árvores perto de uma quinta pode ter ou não um propósito: pode servir ou não para cortar o vento, as árvores podem ter sido ou não plantadas naquele local (…). De modo algum depreciamos as árvores se dissermos que não têm qualquer propósito, tendo-se limitado a crescer assim. […] Contudo, (…) atribuir a um ser humano um propósito nesta acepção não é neutro, nem sequer lisonjeiro: é ofensivo. É degradante para um homem ser encarado meramente como algo que serve um propósito. Se, numa festa, eu perguntar a um empregado “Qual é o seu propósito?” estarei a insultá-lo. Poderia igualmente ter-lhe perguntado “Para que serve você?”. Tais questões reduzem-no ao nível de uma geringonça, um animal doméstico, ou talvez um escravo. […] Estamos a tratá-lo, na expressão de Kant, meramente como um meio para os nossos fins, e não como um fim em si. A mundividência cristã difere realmente da científica a este respeito, a um nível fundamental. A última despoja o homem de um propósito neste sentido. Vê o homem como um ser sem qualquer propósito que lhe tenha sido atribuído por seja quem for excepto ele mesmo. Despoja o homem de qualquer objectivo, propósito ou destino que lhe tenha sido atribuído por qualquer força exterior. A mundividência cristã, por outro lado, encara o homem como uma criatura, um artefacto divino, […], com um propósito, atribuído pelo seu Criador. Contudo, a falta de propósito, nesta acepção, não impede de modo algum que a vida tenha sentido. Suspeito que muitas das pessoas que rejeitam a mundividência científica […] pensam confusamente que se a mundividência científica for verdadeira, então as suas vidas têm de ser fúteis porque essa mundividência implica que o homem não tem qualquer propósito que lhe tenha sido dado a partir do exterior. Mas isto é uma confusão, pois, como mostrei, a ausência de sentido só decorre da falta de propósito na outra acepção, que a mundividência científica não implica de maneira alguma. Estas pessoas concluem erradamente que não pode haver qualquer propósito na vida porque não há propósito para a vida; que os homens não podem adoptar e alcançar por si propósitos porque o homem, ao contrário de um robô ou de um cão de guarda, não é uma criatura com um propósito. Kurt Baier(1957), O Sentido da Vida” (1957), pp.119-120 Interpretação u 1. Exponha a perspetiva de Baier em relação à proposta da mundividência cristã segundo a qual “ o homem é uma artefacto divino”. Kurt Baier (1917-2010): Filósofo moral neozelandês, radicado nos Estados Unidos da América. As suas As suas ideias sobre o sentido da vida têm sido igualmente muito influentes. Destacam-se as obras The Moral Point of View (1955), The Problems of Life and Death (1997).