1. Jessica Amaral.
FCT UNESP
1º semestre do curso de Geografia 2012.
Disciplina de Sociologia
Docente Nivaldo Correia
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. “A ideologia em geral e particularmente a
alemã.” (pag. 23-38). IN: A Ideologia Alemã, 1984.
A ideologia alemã é uma polêmica dirigida contra os neo-hegelianos, analisando e
satirizando as suas idéias de reforma moral da humanidade. A essas fantasias de uma
pequena-burguesia sonhadora, Marx e Engels opõem a pesquisa de método histórico e
crítico, apóia-se sobre as relações sociais, no estudo da vida prática em sociedade. O
estilo satírico se mistura a uma refinada argumentação histórica a filosófica, e na defesa
de um projeto de emancipação real da humanidade.
O idealismo filosófico alemão reduz o mundo à sua representação intelectual (idealismo
objetivo) nos sistemas ideológicos como a religião, o Direito, a ciência, etc. Reduz toda
a evolução histórica a estes ideais, que são considerados pelos idealistas não apenas
como independentes dos fatores e agentes da realidade social, mas como efetivos
criadores desta última. Acrescentam a este historicismo idealista um tempero místico e
hermético, fazendo com que ele adquira um sabor transcendente. A escravização da vida
pelos ideais transcendentes é um axioma deste idealismo, seja na sua versão cristã,
panteísta ou atéia. Em radical oposição a este pensamento, Marx e Engels defendem a
pesquisa da história material dos homens, suas relações entre si e suas relações com o
meio natural, para, então, desvendar as formas de ideologias, pois é da vida material que
surge as ilusões ou verdades do espírito.As relações a serem investigadas são o Verkehr
(intercâmbio) entre as pessoas, o que manifesta uma diferença radical com as
concepções organicistas da sociedade. Propõem o estudo das relações empíricas entre os
indivíduos, entre os países, classes, regiões, etc. em unidade com a interpretação
conceitual destas relações empíricas.O fundamental, nestas investigações, é o processo
de desenvolvimento da sociedade. Marx e Engels acreditavam que a História e a
Economia Política forneceriam os elementos factuais e conceituais necessários para o
adequado estudo da realidade social, desde que estas ciências fossem submetidas a uma
rigorosa crítica de um ponto de vista teórico específico, que seria chamado
posteriormente de materialismo dialético. Este estudo forneceria a chave para o mistério
da ideologia.
Os filósofos não tinham como finalidade o estabelecimento das propriedades formais da
ideologia em si mesma, de forma semelhante ao que fazem os matemáticos na
geometria euclidiana. A ideologia é um sistema de idéias através das quais as relações
sociais assumem uma forma mistificada na consciência: religião, metafísica, Direito,
moral, etc. A ideologia inverte a realidade histórica, ao invés de representá-la
racionalmente.
2. A formas de representação coletivas devem ser estudadas a partir da sua base na vida
cotidiana, nas relações sociais, cuja totalidade constitui a sociedade. E mesmo essas
representações coletivas surgem, primeiro, como linguagem, e não como "Espírito". A
linguagem é chamada, pelos autores, de "consciência prática".Marx e Engels também
criticaram o materialismo "vulgar" de Feuerbach, que abstrai a existência histórica do
ser humano, definindo-o como um ser passivo, isolado e dominado pela sensibilidade
imediata. É necessário, pelo contrário, partir da sensibilidade ativa e prática do homem
na sua realização histórica efetiva, que é, em primeiro lugar, o trabalho. Na sociedade
moderna, por exemplo, a divisão social do trabalho estabelece a submissão do indivíduo
ao seu trabalho, em um processo relacionado recíprocamente com a dominação
coercitiva de classe e a dominação persuasiva ideológica.
Na evolução histórica, surge o Estado de um conflito entre o interesse individual e o
coletivo, produto da divisão do trabalho e da estratificação social. Alienação e
subordinação do indivíduo à coletividade, que é percebida como uma força
incompreensível e externa, que domina a vida humana. Da mesma forma que a
sociedade subjuga o indivíduo, uma parte da sociedade domina a outra parte. Surge o
paradoxo, segundo o qual o poder coletivo que oprime a individualidade é o
instrumento através do qual a coletividade é submetida a uma parte da sociedade. E a
luta de classes. A ideologia apresenta o interesse particular de uma classe como se fosse
o interesse geral da sociedade. É no conflito entre classes de interesses antagônicos que
a história atravessa os diferentes estágios.
"Os indivíduos, isoladamente, só formam uma classe na medida em que têm que
empreender uma luta contra outra classe". A produção de ideologia está ligado à própria
produção material. Os fatores que determinam a formação de uma ideologia são: a
dominação de uma parte da sociedade sobre as outras; a divisão entre o trabalho manual
e o trabalho intelectual; separação da teoria e da prática; a centralização dos meios de
produção espiritual (eles não especificam o que sejam, mas suponhamos as escolas,
igrejas, impressoras, etc.); a divisão entre os formadores de opiniões e os seus
receptores passivos; dependência política e econômica dos ideólogos para com a classe
materialmente mais poderosa. Os ideólogos são os representantes culturais da classe
dominante, apresentando os interesses particulares dos seus representados como
interesses gerais, ideais elevados, etc. É interessante comparar essa posição de Marx
nesse escrito com a posição anterior, nos Manuscritos econômico-filosóficos, e a
posição posterior, em O capital, no qual cria o conceito de fetichismo de mercadoria.