5. Irra! A máquina está gelada. De onde é que vieste dizer que está quente? A mulher do Zeca da Carris desce as escadas e toca vagarosamente na máquina.
6. Fria? Mas como fria se antes estava a ferver! Que coisa escanifobética!
7. Em pouco tempo, os vizinhos entraram em sua casa para saberem o que havia acontecido.
8. Ao saberem das novidades, todos os vizinhos começaram a tocar na máquina. Já tocaram na máquina de costura do Zé? Está gelada Irra! Aquela engenhoca é pior que gelo! Mãe, posso ir tocar?
9. Assim o Zeca começou por delimitar a zona do frio, fazendo experiências com os vizinhos. Olhe, amigo, posso fazer uma experiência? Não leve a mal.
10. Ao ser autorizado pelo Zeca, o vizinho cospe para a máquina de costura. Perto dela, o cuspo congela e desfaz-se em vários grãos de saliva que embatem contra ela. Parece que consegui delimitar a zona de frio: é um paralelepípedo com cerca de um metro e meio de espessura por oitenta centímetros de largura e dois metros de altura. O que acha, Zeca?
11. Ai, isto só me acontece a mim! Bem, vou fazer outra experiência. Ó mulher, traz um jarro cheio de água!
12. O Zeca pega no jarro de água, sobe a uma cadeira e estica-se até o jarro chegar à zona crítica. Aí o jarro racha, partindo-o ao bocados, e a água congelada cai no chão, estilhaçando-se. Bem, já se percebeu que isto congela mas falta perceber se é o sítio ou se é a máquina.
13. O Zeca vai ao quarto e veste a roupa mais quente que tinha. Ele desce, pega na máquina e leva-a para o outro lado da sala. Depois volta para o quarto, despe-se e vai ver o resultado. Irra! Quase ia morrendo gelado! Mas não há dúvida, o frio vem desta engenhoca. Bom, vou voltar a pôr a máquina no sítio onde estava. Vá! o espectáculo acabou podem se ir embora!
14. O Zeca voltou a vestir a roupa quente, pegou na máquina e voltou a pô-la no sítio enquanto os vizinhos saíam. Bem, amanhã vou ver se encontro o vendedor da máquina para a devolver.
15. Nem pensar em tal semelhante! Então não vês que isto nos dispensa de comprar o frigorífico? É o melhor que há!
16. Não era mal pensado. E assim se fez, porque comprometer a utilidade com a estranheza é ainda mais parvo que confundir género humano com Manuel Germano.