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CAPITULO II

             ORIGEM, APOGEU E
     CRISE DO TAYLORISMO / FORDISMO
Reestruturação produtiva: Uma resposta à crise
           do taylorismo / fordismo




              Prof. Dr. Silvio Cesar Silva
O termo reestruturação produtiva tem                                         por outro lado, teve início no Japão e avançou
    sido empregado por diferentes autores com o                                             em direção ao ocidente, conquistando a Europa
    objetivo de definir o conjunto das inovações                                            Ocidental e os EUA, nos anos 1970, e avançou
    organizacionais e tecnológicas que incidem                                              sobre o Brasil e todo o planeta, nos anos 1990.
    sobre o modelo taylorista-fordista de gestão da                                                     Você deve estar se perguntando: mas por
    mão de obra e do trabalho. Esse processo de                                             que o processo de reestruturação produtiva teve
    mudanças tem início no Japão, nos anos 1950,                                            início no Japão? Pois bem, na década de 50, o
    alcança a Europa e os EUA, nos anos 70 e,                                               Japão apresentava um mercado para a indústria
    finalmente, chega ao Brasil nos anos 90. Várias                                         automobilística semelhante ao que o Ocidente
    são as denominações para esse processo: pós-                                            veio enfrentar apenas na década de 70. Além
    taylorismo, neotaylorismo, especialização flexível,                                     do mercado interno extremamente reduzido,
    acumulação flexível etc. Todavia, a denominação                                         os administradores japoneses enfrentaram, na
    pouco importa, o essencial é percebermos                                                década de 50, uma situação em que seu atraso
    que existe uma relação de bicausalidade entre                                           técnico e industrial proibia toda perspectiva de
    esse processo iniciado no mundo do trabalho e                                           exportação.
    as mudanças em todas as esferas da vida nas                                                         Nos anos 1950, o Japão, recém saído
    sociedades contemporâneas.                                                              da Segunda Guerra Mundial, enfrentava uma
               Cabe lembrar que as organizações de tipo                                     série        de      restrições    macroeconômicas   que
    taylorista / fordista surgiram em um determinado                                        forçaram uma empresa chamada Toyota e o
    contexto social, conforme foi demonstrado no                                            seu engenheiro chefe, cujo nome era Ohno, a
    primeiro capítulo, refletindo a correlação de                                           procurarem soluções novas e criativas para a
    forças na sociedade, refletindo também uma                                              crise econômica. Se uma das características
    forma de organizar a sociedade e distribuir a                                           fundantes do taylorismo / fordismo era a
    riqueza que ficou conhecida como Estado do                                              produção em quantidades cada vez maiores, em
    Bem Estar Social.                                                                       que a oferta dos produtos gerava a demanda1, no
               A reestruturação produtiva, por sua vez, é                                   Japão dos anos 1950 o processo se inverte, era a
    decorrência de uma mudança nas relações sociais                                         demanda que controlava a oferta. Como assim?
    e na economia causada, principalmente, por uma                                          Havia poucos compradores, fato que impôs a
    crise macroeconômica que atingiu as diferentes                                          necessidade de agradar a esses compradores e,
    partes do mundo em períodos diferenciados. A                                            ao mesmo tempo responder à seguinte questão:
    reestruturação produtiva faz um caminho oposto                                          como aumentar os lucros e a produtividade
    ao que foi feito pelo taylorismo / fordismo. Este                                       quando a produção diminui?
    último surgiu nos EUA (mais precisamente, em                                                        Essa restrição comercial – a falta de
    Detroit), depois foi se expandido para o Oriente                                        consumidores para os produtos da Toyota –
    até chegar ao Japão. A reestruturação produtiva,                                        levará à proposição de um conjunto de inovações
    1A tal ponto que o Ford costumava brincar: “o consumidor pode escolher a cor do carro que quiser, desde que seja preto”.




2
organizacionais         e    tecnológicas      conhecidas    trabalho a ser realizado. Nesse sentido, modelo
como modelo japonês, Toyotismo ou Ohnoismo.                  de administração desenvolvido por Ohno busca
Também não podemos nos esquecer que ele não                  envolver os operários na engenharia industrial,
foi desenvolvido a partir do nada, sem nenhuma               nesse ponto ele se afasta dos dois principais
conexão com o taylorismo (Ohno considera                     pressupostos tayloristas / fordistas de eliminar
Taylor e Ford seus predecessores).                           qualquer atividade de concepção do chão da
         A seguir, abordaremos as principais                 fábrica e intensificar a divisão técnica do trabalho.
inovações organizacionais e tecnológicas que                        A proposta      de     reunificar   concepção
concebidas na Toyota, nos anos 50, caracterizam              e execução é bem aceita. Os trabalhadores
o processo de reestruturação produtiva que se                gostam de refletir sobre o que fazem, gostam de
encontra em pleno vapor no século XXI, em todo               opinar, de sugerir e, principalmente de ter visão
o mundo.                                                     global sobre as diferentes etapas do trabalho.
         Começaremos               pelas        inovações    Entretanto, essa aceitação inicial esbarrou em
organizacionais.            Ohno   implementou       sete    um problema social: ao atribuir diferentes tarefas
inovações     organizacionais:        unificação     entre   manuais e intelectuais a um único trabalhador,
concepção e execução, multifuncionalidade,                   Ohno desempregou os outros operários, uma
salário por antiguidade, emprego vitalício, a                vez que essa inovação organizacional não veio
terceirização, sistema just in time / kan ban,               acompanhada da redução da jornada de trabalho.
fábrica enxuta e produção de trás para a frente.             Além disso, o trabalhador que se manteve no
         As     duas           primeiras        inovações    emprego ficou muito atarefado tanto do ponto de
organizacionais (“unificação entre concepção                 vista físico quanto mental.
e   execução”       e       “multifuncionalidade”)    são           Ao implementar essas duas inovações
articuladas entre si. Como vimos em nossa aula               organizacionais (unificação entre concepção e
passada, a característica fundante do taylorismo             execução e multifuncionalidade), Ohno enfrentou
/ fordismo era a rígida divisão entre concepção              uma violenta greve na Toyota que durou 55
e execução, isso porque a preocupação era                    dias. Deste conflito surgiram outras duas outras
como tornar os trabalhadores de ofício altamente             inovações organizacionais propostas por Ohno
qualificados em meros operários desqualificados.             para diminuir a resistência dos trabalhadores: o
A preocupação de Ohno é outra: como tornar o                 salário por antiguidade e o emprego vitalício.
operário que só realiza uma única tarefa simples                    O salário por antiguidade foi a terceira
em um trabalhador multifuncional, que realize                inovação organizacional implementada com
várias    funções       operando      várias    máquinas     dois objetivos. O primeiro objetivo foi agradar
simultaneamente, que não só execute o trabalho               os trabalhadores após a realização da greve
material, mas que também pense sobre o que                   de 55 dias. O segundo foi elevar a qualidade
está fazendo, que planeje, enfim que conceba o               dos produtos, uma vez que a implementação



                                                                                                                     3
do salário por antiguidade está baseada em          vantagem que nós não conhecemos no Ocidente.
    uma percepção segundo a qual o trabalhador é        A concepção do produto (um automóvel) passa
    quem melhor conhece o trabalho que executa,         a envolver todas as empresas pertencentes à
    logo um trabalhador mais antigo possui um           keiretsu.
    saber fazer consolidado ao longo dos anos de               A relação entre empresa principal e
    exercício profissional, o que garante uma elevada   empresa subcontratada, no Japão, define-se por
    qualidade do produto do seu trabalho.               quatro características: 1) a subcontratação é uma
          A adoção do emprego vitalício foi a quarta    relação de longo prazo, cuja duração depende
    inovação organizacional implementada por Ohno       do ciclo de vida dos produtos; 2) constitui uma
    e a segunda após a greve de 55 dias. O sentido      relação institucionalizada e hierarquizada; 3)
    dessa inovação organizacional fica claro quando     tendo por base contratos que são objeto de
    levamos em consideração que a metade dos            processos particulares; 4) e favorece e internaliza
    trabalhadores da Toyota foram demitidos após        a inovação.
    a greve de 55 dias. Mas como Ohno conseguia                As regras de continuidade da relação são
    garantir aos trabalhadores emprego por toda a       complexas e, geralmente, sobrevivem à retirada
    vida? A resposta a essa questão nos remete à        de um produto do mercado e são reconduzidas
    quinta inovação organizacional implementada         na geração seguinte do produto. Como destaca
    por Ohno: a terceirização, que no Japão recebe      Coriat, o fim de um produto marca apenas a
    o nome de keiretsu (família) pois, diferentemente   abertura de um novo período de negociação
    do Ocidente, as empresas são vistas como            entre empresa subcontratada e empresa principal
    co-irmãs, pertencentes a uma mesma família.         porque, na prática, as empresas subcontratadas
    Caso o trabalhador não encontrasse emprego          estão reagrupadas em torno de um construtor
    na empresa matriz, a montadora de automóveis        principal, denominado de keiretsu. O contrato
    Toyota, poderia ser aproveitado na fábrica de       de subcontratação é essencialmente dinâmico,
    motores. O trabalhador que não tivesse espaço       sendo concebido para favorecer a mudança.
    na fábrica de motores, encontraria emprego na              Uma outra característica importante na
    fábrica de parachoques, por exemplo.                relação de subcontratação japonesa seria o
          O processo de terceirização, quinta           número reduzido de fornecedores. Vejamos
    inovação    organizacional    de    Ohno,     foi   o exemplo comparativo utilizado por Coriat:
    fundamental como inovação organizacional.           a Toyota possui 170 fornecedores principais;
    Ele permitiu adotar uma flexibilidade no número     4000 de segunda linha; e 31600 de terceira. Ela
    de trabalhadores empregados na empresa e            fabrica 70% do valor do veículo fora da empresa
    assim externalizar os custos salariais que são      principal, contra 30% da GM.
    remetidos para as empresas co-irmãs. Ao mesmo              Do     ponto   de   vista   da   teoria   das
    tempo, a formação da keiretsu deu à Toyota uma      organizações, Coriat (1994) afirma existir uma



4
escola japonesa de gestão da produção distinta          importante, ou seja, “as explicações culturais da
da escola americana, perfeitamente ajustada às          bem sucedida experiência japonesa”. (idem: 52)
exigências de qualidade e flexibilidade. Embora               Nesse      sentido,   são    extremamente
mantendo-se      afastado     das     interpretações    esclarecedoras as conclusões de Magaud e Sugita
“culturalistas”, o autor busca explicar a “formidável   (1993) sobre a importância das redes relacionais
competitividade das empresas japonesas a partir         nas atividades produtivas. Segundo esses
da história do Japão que, após a Segunda Guerra         autores, as redes relacionais desempenham um
Mundial, se viu na situação de ter de inovar            papel central na organização da empresa e da
áreas associadas da organização do trabalho             economia japonesa. Comparando uma empresa
e da gestão da produção.” O Japão tinha um              japonesa a uma francesa, demonstram como as
mercado restrito para o setor automobilístico           pessoas se relacionam de maneira diferente com
no pós-guerra e enfrentava a resistência dos            a tecnologia nos dois países que se expressa
trabalhadores à racionalização do trabalho. A           na organização espacial das fábricas. Assim,
busca de novas alternativas era uma questão             na empresa francesa, cada espaço possui uma
de sobrevivência econômica. Os empresários              função diferente (devido a ruptura entre concepção
japoneses     enfrentaram     a     resistência   dos   e execução), de tal modo que a relação entre as
trabalhadores de modo diferente dos EUA, que            funções só pode se dar com dificuldades. Na
partiu da desespecialização dos trabalhadores           empresa japonesa, a situação é quase inversa.
qualificados por meio da instalação de uma certa        O escritório fica no interior da fábrica, onde se
polivalência e multifuncionalidade dos homens e         encontra a maior parte dos documentos técnicos
máquinas.                                               que podem ser consultados por todos. Segundo
       Sem sermos pretensiosos, gostaríamos             os autores essa prática demonstra que “a técnica
de fazer uma crítica a Coriat, uma vez que o            não é um domínio reservado”, como na França.
autor professa se afastar das interpretações            Os operadores japoneses quando se encontram
“culturalistas”. Do nosso ponto de vista, a tomada      diante de uma situação nova, partem de seus
de decisões sobre a melhor forma de gestão da           “conhecimentos     empíricos   para   ‘enjambrar’
produção e do trabalho, expressa tendências             uma lógica que os ajudará a agir. Essa lógica
postas no âmbito da sociedade nas quais atuam           ‘enjambrada’ vem antes da gestionária ou
diferentes atores sociais: Estado, empresários,         tecnicista” (Magaud & Sugita, 1993: 210). A
sindicatos, imprensa, etc.                              relação mais participativa com a técnica mostra-
       Wood (1993), por exemplo, chama a                se fundamental no Japão para aquilo que Afonso
atenção para o fato das leituras do “modelo”            Fleury (1993) chama (utilizando a tipologia de
japonês partirem da abordagem das relações              Freeman) de inovações incrementais, ou seja,
humanas, ou da gestão da produção - JIT, CQT            aqueles esforços cotidianos para aperfeiçoar
etc. - deixando de enfocar o que existe de mais         produtos e processos já existentes.



                                                                                                             5
Outra    diferença    cultural    importante,    custo financeiro da sua produção diminuindo
    que singulariza o “modelo” japonês e dificulta         os estoques. Imagine a seguinte situação para
    sua transferência, diz respeito à circularidade        compreender melhor a importância da redução
    das   informações.   No    Japão,      as   relações   dos estoques: se uma montadora de automóveis
    interpessoais são mais institucionalizadas que no      tem seiscentas laterais de carro paradas em
    Ocidente sendo que a capacidade de encontrar           seu estoque, isso significa que ela gastou para
    uma informação e passá-la adiante é altamente          comprar matéria prima e para produzir, está
    valorizada. Tal envolvimento possui relação direta     pagando juros sobre o dinheiro investido na
    com as inovações tecnológicas que abordaremos          produção das seiscentas laterais que estão
    mais a frente. Antes disso, vejamos a sexta            paradas. O just in time permitirá à montadora
    inovação organizacional de Ohno.                       de automóveis não só eliminar essas seiscentas
          A sexta inovação organizacional que              laterais, como também eliminar os estoques de
    Ohno implementou na Toyota é o sistema just            toda a cadeia produtiva reduzindo brutalmente
    in time / kan ban. O just in time é a eliminação       os custos financeiros da produção.
    dos estoques e o kan ban é o sistema de                      É interessante observar que Ohno inspirou-
    comunicação visual adotado na fábrica. No              se nos supermercados norte-americanos para
    sistema kan ban, o trabalhador do posto de             criar o just in time. Segundo Ohno, a idéia surgiu
    trabalho posterior (“cliente”) se abastece quando      quando ele comprou um iogurte em uma grande
    necessita de peças (“produtos” comprados) no           rede de supermercados nos EUA. Ele percebeu
    posto de trabalho anterior (“a seção”). Assim, o       que somente após ele comprar o iogurte o
    lançamento da fabricação do posto anterior só          supermercado iria comprar outro iogurte para
    se faz para alimentar a loja (“seção”) em peças        repor. É o caminho oposto ao que se fazia (e ainda
    (“produtos”) vendidos. Coriat (1994) considera         se faz) em grande parte das fábricas tayloristas
    o Kan ban a “maior inovação organizacional             / fordistas e, até mesmo em setores do comércio
    da segunda metade o século vinte”. As duas             como veremos mais adiante) nas fábricas
    principais consequências do kan ban, segundo           de automóveis. Nelas, primeiro se produzem
    o autor, são: descentralização de parte do             as peças dos carros (como, por exemplo, as
    controle de fabricação antes centralizado no           laterais), que se avolumam nos pátios (estoques
    Departamento de Métodos e a integração das             intermediários), independentemente de os carros
    tarefas de controle de qualidade às próprias           que elas comporão já terem sido vendidos: just
    tarefas de fabricação (idem: 78).                      in time (JIT). Uma estratégia que visa capacitar
          Em um período em que o dinheiro ficou            a empresa para responder às flutuações de
    muito caro (após a Segunda Guerra Mundial,             mercado, através de instrumentos e técnicas que
    a Toyota tinha uma dívida altíssima com os             buscam atingir elevados padrões de qualidade,
    bancos norte-americanos),       Ohno reduziu o         associada a uma significativa redução no custo



6
do produto e grande elevação da produtividade.             Para finalizar o conjunto de inovações
Partindo da premissa que por trás do estoque         organizacionais implementadas por Ohno na
há um “excesso de pessoal” e um “excesso de          Toyota, falta falar da oitava e última delas:
equipamentos”, Ohno conseguiu localizar        as    a produção de trás para frente. Ela está
vias de aplicação e os pontos onde os ganhos de      intimamente relacionada ao just in time. No JIT,
produtividade podem ser obtidos. Dispensando         o impulso da produção parte do fim da linha de
estoques, dispensa-se excesso de equipamentos        montagem para o começo (pull system). Por
e pessoal.                                           isso, permitiria adequar-se à diversificação dos
      Wood (1993) elege o just in time “como         mercados estagnados ou com lento crescimento.
cerne e o elemento distintivo do modelo de           Assim, vincula qualidade, produtividade, custo e
administração japonesa, ...” pois, é um conceito     evidentemente circulação mais rápida do capital.
demasiadamente amplo que se refere ao                Uma eventual desvantagem do JIT seria a maior
processo de difusão de um novo paradigma             vulnerabilidade de todo o sistema a uma greve
organizacional.                                      parcial porque, sem estoques de reserva, uma
      Ohno,       ao     eliminar   os    estoques   greve isolada pode paralisar todo o sistema. Não
intermediários por meio do sistema just in time,     é por acaso que o sistema JIT é implementado,
implementa a sétima inovação organizacional:         no Japão, após uma esmagadora derrota do
a fábrica enxuta. A eliminação das gorduras, ou      movimento sindical japonês.
seja, do excesso de estoques intermediários,               Passemos a tratar agora das inovações
permite visualizar todo o fluxo de produção da       tecnológicas, mais precisamente da principal
fábrica pelo olhar (“Ohno chega até mesmo a          delas: a introdução da microeletrônica aplicada
falar em “administração pelos olhos”). A fábrica     à produção. São os microprocessadores, os
enxuta consegue se adaptar às demandas, ao           sistemas de informação, os microcomputadores
gosto de cada consumidor. Nesse sentido, se          integrados ao processo produtivo.
surge um novo nicho de mercado composto por                Nós já estamos acostumados a refletir
mulheres que, por exemplo, gostam de certos          sobre a forma como os computadores, os
acessórios mais delicados nos carros como            sistemas de inteligência, a internet alteram o
espelho no quebra-sol e, se você não tem um          nosso cotidiano. Aliás, altera tanto que neste
grande estoque, você consegue rapidamente            nosso curso, prezado(a) aluno(a), a principal
responder    a    essa   demanda     do   mercado    ferramenta de aprendizado é justamente uma
produzindo carros adequados às mudanças nos          Plataforma Virtual de Aprendizagem (Moodle)
gostos dos consumidores.                             via internet. Mas nos anos 1950 a utilização
      Essa é uma inovação organizacional que         da microeletrônica no trabalho, feita por Ohno,
se tornou paradigmática para os mais diversos        foi uma verdadeira revolução. A utilização de
setores da produção, do comércio e dos serviços.     sistemas de informação permitiu controlar o



                                                                                                        7
fluxo de toda a cadeia produtiva. Trouxe a              processo produtivo. Flexibilidade é a “habilidade
    possibilidade de trocar informações sobre a             do sistema para levar ou passar entre estados
    produção entre diferentes empresas da keiretsu,         diferentes sem os significativos custos presentes
    de forma a permitir que se evitasse excessos e          ou futuro” (Salerno, 1995: 251) A “flexibilidade
    desperdícios de mercadoria. Em suma, permitiu           aplicada ao sistema produtivo significa poder
    viabilizar o princípio organizacional do just in time   produzir elementos diferentes, talvez ao mesmo
    da eliminação dos estoques intermediários.              tempo, poder aceitar mudanças ou até variantes
           A principal virtude da introdução da             diversas em proporções diferentes, tudo isso sem
    microeletrônica aplicada à produção foi, no             exigir mudanças físicas no sistema. Esse último,
    entanto, utilizá-la nas máquinas-ferramenta, as         além do mais, deveria ser reutilizável em sua
    chamadas “máquinas ferramenta com controle              maior parte e (sem intervalos excessivamente
    numérico computadorizado” (MFCN), o que                 longos de readaptação), no caso de mudanças
    permitiu utilizar a mesma ferramenta para realizar      radicais no produto” (Leite, 1994: 86) . Sendo
    diferentes atividades. Vejamos um exemplo para          programáveis,    os   equipamentos    de    base
    compreender melhor o impacto das MFCN.                  microeletrônica, adaptam-se às flutuações do
    Imagine um operário cuja função é apertar               mercado.
    parafusos de uma roda de automóvel em uma                     O maior controle da produção é garantido
    linha de produção de tipo taylorista / fordista. Este   pela automação de base microeletrônica, quando
    operário utiliza uma ferramenta específica, que         ela rompe a barreira do conteúdo do trabalho
    possui um certo torque para apertar os parafusos        dos antigos postos de trabalho, utilizando o
    da roda da Variant (automóvel que era produzido         trabalhador polivalente. Além disso, ela tenta se
    pela Volkswagen). Caso passasse uma Kombi               apropriar do saber do operário, incorporando-o ao
    na linha de produção, o operário necessitaria           programa das máquinas. Os equipamentos com
    trocar de ferramenta, ou então deveria existir          controle numérico computadorizado permitem
    uma linha específica que só produzia Kombi. A           uma maior independência das empresas em
    partir do momento em que o Ohno instalou na             relação aos operários, uma vez que a velocidade
    máquina ferramenta um microcomputador, basta            de produção e a qualidade do trabalho é
    o operário digitar no “punho da ferramenta” um          garantida pelo programa. Cabe aqui fazer uma
    código numérico que, automaticamente, o torque          ressalva: uma vez que o conhecimento “tácito”
    da máquina, o quanto ela tem de apertar, é              do trabalhador não é totalmente incorporado ao
    reprogramado.                                           programa, essa questão torna-se central na luta
           Qual é a consequência disso? Um                  cotidiana no chão de fábrica porque permite o
    mesmo trabalhador consegue apertar diferentes           surgimento de várias estratégias de resistência
    parafusos utilizando a mesma máquina. Essa              dos trabalhadores. Aliás, não só resistência, mas
    inovação tecnológica trouxe flexibilidade ao            também negociação.



8
A redução do tempo necessário de                     Por outro lado, o “modelo” japonês de
produção é obtida através dos ritmos mais           organização do trabalho e gestão da produção
elevados alcançados pelas máquinas de base          transforma os operários especializados em
microeletrônica. É eliminada uma série de           “profissionais      polivalentes”,   “trabalhadores
‘tempos mortos’, de gastos com regulagem e de       multifuncionais”. Assim como outras formas de
alimentação. Segundo Coriat, a microeletrônica      racionalização do trabalho, a desespecialização
permite inclusive a produção de um tempo            dos operários atacou diretamente o saber dos
oculto, que consiste no fato de obter a execução    trabalhadores qualificados a fim de diminuir seu
simultânea   de   duas    ou   mais   operações     poder sobre a produção. Por isso Ohno, assim
anteriormente realizadas sucessivamente”.           como Ford, enfrentou a resistência dos operários.
      As inovações tecnológicas permitiram uma             As        inovações     organizacionais    e
modificação dos sistemas produtivos tradicionais    tecnológicas propostas inicialmente por Ohno
e das relações do homem com seu objeto de           no Japão nos anos 1950 chegaram ao Ocidente
trabalho. Segundo Alves (1994: 62), hoje já         apenas nos anos 1970. Isso por que, nos anos
se fala em microeletrônica como tecnologia          1970, na Europa Ocidental e nos Estados Unidos
de base. Carvalho (1987: 80) destaca que a          da América ocorreu um forte crise econômica
microeletrônica alia flexibilidade à automação,     conhecida como Segunda crise do Petróleo. Após
através do acoplamento às máquinas de               um conflito entre Israel e Palestina, os países
microprocessadores eletrônicos (controladores       árabes (organizados na OPEP - Organização
programáveis),    que detém as informações          dos Países Exportadores de Petróleo) decidiram
necessárias ao seu comando. Os controladores        aumentar o preço do petróleo em represália aos
programáveis podem receber novos programas          Estados Unidos da América, que havia apoiado
para variação dos produtos a serem fabricados,      Israel. A ação da OPEP teve como consequência
sem alterar a mecânica do equipamento.              uma recessão econômica mundial.
      Cumpre ressaltar que as inovações                    Ao entrar na Europa e nos Estados Unidos
organizacionais     e      tecnológicas      são    da América, esse modelo de reestruturação
complementares e elas refletem um novo estado       produtiva foi sofrendo alterações no sentido de
de relações de força na sociedade e nos ambientes   se adaptar à realidade de cada país. E, o que
de trabalho. Por um lado, o consumidor passa a      é mais importante, os impactos causados pelas
ganhar uma importância maior, justamente, pela      inovações tecnológicas e organizacionais não
escassez de dinheiro que existia no Japão dos       estão restritos ao interior das fábricas, os efeitos
anos 1950 que fez com que o poder de barganha       das mudanças podem ser percebidos também
dos consumidores aumentasse, uma vez que            no mercado, nas regras de negociação coletiva
havia mais produtos a venda do que pessoas          e nas políticas econômicas. Por isso, alguns
dispostas a comprá-los.                             autores afirmam que estamos diante de um novo



                                                                                                           9
modelo de desenvolvimento, baseado em um                            A reestruturação produtiva é marcada por um
     novo regime de acumulação em substituição ao                        confronto direto com o fordismo. “Ela se apoia
     modelo taylorista/fordista.                                         na flexibilidade dos processos de trabalho, dos
                Kern e Schumann2 afirmam estar se                        mercados de trabalho, dos produtos e padrões de
     desenvolvendo um novo modelo de produção que                        consumo”. De acordo com o autor, a acumulação
     se opõe ao modelo taylorista por uma nova forma                     flexível implica em níveis relativamente altos
     de      utilização do trabalho. As consequências                    de “desemprego estrutural, rápida destruição e
     desse novo modelo seriam, de um lado, a                             reconstrução de habilidades, ganhos modestos
     supressão do emprego, de outro lado, uma                            (quando há) de salários reais e o retrocesso do
     transformação radical na utilização da mão de                       poder sindical - uma das colunas políticas do
     obra que permanece empregada. As empresas                           regime fordista” (Harvey, 1992:143).
     passam a se preocupar com a qualificação do                                 No próximo capítulo, abordaremos o
     operário, rompendo a relação estabelecida por                       processo de reestruturação produtiva no Brasil.
     Taylor entre crescimento da produtividade e
     desqualificação da mão de obra.                                     REFERÊNCIAS
                Piore e Sabel                    acreditam que esse
                                                                                 ALVES, Paulo Jorge Marques. Crise e
     modelo de reestruturação produtiva teria suas
                                                                         Mudança em Portugal - Dilemas ‘sindicais Face
     bases firmadas na descentralização do sistema
                                                                         a Inovação Tecnológica e Organizacional (1980
     produtivo, que se apoiaria na flexibilidade
                                                                         - 1993) - Tese de Mestrado; Instituto Superior
     da      produção              propiciada        pela   tecnologia
                                                                         de Ciências do Trabalho e da Empresa; Lisboa,
     microeletrônica. O novo modelo seria marcado
                                                                         1994. mimeo.
     pela horizontalização da produção e pela
     proliferação das pequenas e médias empresas                                 BEYNON, Huw. Trabalhando para Ford:
     integradas entre si. Segundo os autores, os novos                   Trabalhadores     e       sindicalistas       na   Indústria
     padrões de gestão do trabalho seriam definidos                      Automobilística. Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra,
     pela reintegração da execução e da concepção,                       1995.
     pela polivalência dos trabalhadores que devem                               CORIAT,       Benjamin.                “Automação
     realizar tarefas diversificadas e multiqualificadas.                programável: Novas formas e conceitos de
     Teríamos, assim, uma nova divisão do trabalho em                    organização da produção”, in Hubert Schimitz
     um novo segmento de trabalhadores polivalentes                      e Ruy de Quadros Carvalho (org.). Automação,
     e com perspectivas de mobilidade social.                            competitividade       e    trabalho:      A    experiência
                Para Harvey (1992) a flexibilização dos                  internacional. São Paulo, HUCITEC, 1988.
     processos de trabalho e de produção implica
     uma acentuada e generalizada potenciação                                    CORIAT, Benjamin . Pensar Pelo Avesso:
     da capacidade produtiva da força de trabalho.                       O Modelo Japonês de Trabalho e Organização.
     2citados por Leite (1994) e Alves (1994).




10
Rio de Janeiro, Editora da UFRJ / Reavan, 1994.
       HARVEY, David. Condição Pós-Moderna
(uma pesquisa sobre a origem da mudança
cultural). São Paulo, Ed. Loyola, 1992.


       HIRATA, Helena. “Recursos japoneses,
realidade brasileira”. Novos Estudos CEBRAP. 2,
São Paulo, 1983.
        HIRATA, Helena.          Alternativas sueca,
italiana e japonesa ao paradigma fordista:
elementos para uma discussão sobre o caso
brasileiro, S . Paulo, Abet , Abril de 1991.
       HIRATA, Helena. (org.) Sobre o “Modelo”
Japonês: Automatização, Novas Formas de
Organização e de Relações de Trabalho. São
Paulo, EDUSP, 1993.
       HUMPHREY, John. “Métodos japoneses
e operários de produção: evidências a partir da
América Latina”, Cadernos de sociologia, vol. 4,
n 4, UFRGS, 1992.

       LEITE, Marcia de Paula . “Reestruturação
produtiva, novas tecnologias e novas formas
de gestão da mão de obra”. in Mattoso, Jorge
E. L. et al. (org.) O Mundo do Trabalho: Crise e
Mudança no Final do Século. São Paulo , Ed.
CESIT / Scritta / MTb, 1994 b.

Trabalho: Um Estudo de Caso na Indústria
Automobilística    Brasileira.     Dissertação   de
Mestrado, PUC, São Paulo, 1987.
       SUGITA, K. e MAGAUD, J., “A propósito
de uma comparação franco-japonesa: o retorno
das redes” in HIRATA, H. (org.), Sobre o “modelo”
japonês. S. Paulo, EDUSP, 1993.




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Origem, apogeu e crise do taylorismo/fordismo

  • 1. CAPITULO II ORIGEM, APOGEU E CRISE DO TAYLORISMO / FORDISMO Reestruturação produtiva: Uma resposta à crise do taylorismo / fordismo Prof. Dr. Silvio Cesar Silva
  • 2. O termo reestruturação produtiva tem por outro lado, teve início no Japão e avançou sido empregado por diferentes autores com o em direção ao ocidente, conquistando a Europa objetivo de definir o conjunto das inovações Ocidental e os EUA, nos anos 1970, e avançou organizacionais e tecnológicas que incidem sobre o Brasil e todo o planeta, nos anos 1990. sobre o modelo taylorista-fordista de gestão da Você deve estar se perguntando: mas por mão de obra e do trabalho. Esse processo de que o processo de reestruturação produtiva teve mudanças tem início no Japão, nos anos 1950, início no Japão? Pois bem, na década de 50, o alcança a Europa e os EUA, nos anos 70 e, Japão apresentava um mercado para a indústria finalmente, chega ao Brasil nos anos 90. Várias automobilística semelhante ao que o Ocidente são as denominações para esse processo: pós- veio enfrentar apenas na década de 70. Além taylorismo, neotaylorismo, especialização flexível, do mercado interno extremamente reduzido, acumulação flexível etc. Todavia, a denominação os administradores japoneses enfrentaram, na pouco importa, o essencial é percebermos década de 50, uma situação em que seu atraso que existe uma relação de bicausalidade entre técnico e industrial proibia toda perspectiva de esse processo iniciado no mundo do trabalho e exportação. as mudanças em todas as esferas da vida nas Nos anos 1950, o Japão, recém saído sociedades contemporâneas. da Segunda Guerra Mundial, enfrentava uma Cabe lembrar que as organizações de tipo série de restrições macroeconômicas que taylorista / fordista surgiram em um determinado forçaram uma empresa chamada Toyota e o contexto social, conforme foi demonstrado no seu engenheiro chefe, cujo nome era Ohno, a primeiro capítulo, refletindo a correlação de procurarem soluções novas e criativas para a forças na sociedade, refletindo também uma crise econômica. Se uma das características forma de organizar a sociedade e distribuir a fundantes do taylorismo / fordismo era a riqueza que ficou conhecida como Estado do produção em quantidades cada vez maiores, em Bem Estar Social. que a oferta dos produtos gerava a demanda1, no A reestruturação produtiva, por sua vez, é Japão dos anos 1950 o processo se inverte, era a decorrência de uma mudança nas relações sociais demanda que controlava a oferta. Como assim? e na economia causada, principalmente, por uma Havia poucos compradores, fato que impôs a crise macroeconômica que atingiu as diferentes necessidade de agradar a esses compradores e, partes do mundo em períodos diferenciados. A ao mesmo tempo responder à seguinte questão: reestruturação produtiva faz um caminho oposto como aumentar os lucros e a produtividade ao que foi feito pelo taylorismo / fordismo. Este quando a produção diminui? último surgiu nos EUA (mais precisamente, em Essa restrição comercial – a falta de Detroit), depois foi se expandido para o Oriente consumidores para os produtos da Toyota – até chegar ao Japão. A reestruturação produtiva, levará à proposição de um conjunto de inovações 1A tal ponto que o Ford costumava brincar: “o consumidor pode escolher a cor do carro que quiser, desde que seja preto”. 2
  • 3. organizacionais e tecnológicas conhecidas trabalho a ser realizado. Nesse sentido, modelo como modelo japonês, Toyotismo ou Ohnoismo. de administração desenvolvido por Ohno busca Também não podemos nos esquecer que ele não envolver os operários na engenharia industrial, foi desenvolvido a partir do nada, sem nenhuma nesse ponto ele se afasta dos dois principais conexão com o taylorismo (Ohno considera pressupostos tayloristas / fordistas de eliminar Taylor e Ford seus predecessores). qualquer atividade de concepção do chão da A seguir, abordaremos as principais fábrica e intensificar a divisão técnica do trabalho. inovações organizacionais e tecnológicas que A proposta de reunificar concepção concebidas na Toyota, nos anos 50, caracterizam e execução é bem aceita. Os trabalhadores o processo de reestruturação produtiva que se gostam de refletir sobre o que fazem, gostam de encontra em pleno vapor no século XXI, em todo opinar, de sugerir e, principalmente de ter visão o mundo. global sobre as diferentes etapas do trabalho. Começaremos pelas inovações Entretanto, essa aceitação inicial esbarrou em organizacionais. Ohno implementou sete um problema social: ao atribuir diferentes tarefas inovações organizacionais: unificação entre manuais e intelectuais a um único trabalhador, concepção e execução, multifuncionalidade, Ohno desempregou os outros operários, uma salário por antiguidade, emprego vitalício, a vez que essa inovação organizacional não veio terceirização, sistema just in time / kan ban, acompanhada da redução da jornada de trabalho. fábrica enxuta e produção de trás para a frente. Além disso, o trabalhador que se manteve no As duas primeiras inovações emprego ficou muito atarefado tanto do ponto de organizacionais (“unificação entre concepção vista físico quanto mental. e execução” e “multifuncionalidade”) são Ao implementar essas duas inovações articuladas entre si. Como vimos em nossa aula organizacionais (unificação entre concepção e passada, a característica fundante do taylorismo execução e multifuncionalidade), Ohno enfrentou / fordismo era a rígida divisão entre concepção uma violenta greve na Toyota que durou 55 e execução, isso porque a preocupação era dias. Deste conflito surgiram outras duas outras como tornar os trabalhadores de ofício altamente inovações organizacionais propostas por Ohno qualificados em meros operários desqualificados. para diminuir a resistência dos trabalhadores: o A preocupação de Ohno é outra: como tornar o salário por antiguidade e o emprego vitalício. operário que só realiza uma única tarefa simples O salário por antiguidade foi a terceira em um trabalhador multifuncional, que realize inovação organizacional implementada com várias funções operando várias máquinas dois objetivos. O primeiro objetivo foi agradar simultaneamente, que não só execute o trabalho os trabalhadores após a realização da greve material, mas que também pense sobre o que de 55 dias. O segundo foi elevar a qualidade está fazendo, que planeje, enfim que conceba o dos produtos, uma vez que a implementação 3
  • 4. do salário por antiguidade está baseada em vantagem que nós não conhecemos no Ocidente. uma percepção segundo a qual o trabalhador é A concepção do produto (um automóvel) passa quem melhor conhece o trabalho que executa, a envolver todas as empresas pertencentes à logo um trabalhador mais antigo possui um keiretsu. saber fazer consolidado ao longo dos anos de A relação entre empresa principal e exercício profissional, o que garante uma elevada empresa subcontratada, no Japão, define-se por qualidade do produto do seu trabalho. quatro características: 1) a subcontratação é uma A adoção do emprego vitalício foi a quarta relação de longo prazo, cuja duração depende inovação organizacional implementada por Ohno do ciclo de vida dos produtos; 2) constitui uma e a segunda após a greve de 55 dias. O sentido relação institucionalizada e hierarquizada; 3) dessa inovação organizacional fica claro quando tendo por base contratos que são objeto de levamos em consideração que a metade dos processos particulares; 4) e favorece e internaliza trabalhadores da Toyota foram demitidos após a inovação. a greve de 55 dias. Mas como Ohno conseguia As regras de continuidade da relação são garantir aos trabalhadores emprego por toda a complexas e, geralmente, sobrevivem à retirada vida? A resposta a essa questão nos remete à de um produto do mercado e são reconduzidas quinta inovação organizacional implementada na geração seguinte do produto. Como destaca por Ohno: a terceirização, que no Japão recebe Coriat, o fim de um produto marca apenas a o nome de keiretsu (família) pois, diferentemente abertura de um novo período de negociação do Ocidente, as empresas são vistas como entre empresa subcontratada e empresa principal co-irmãs, pertencentes a uma mesma família. porque, na prática, as empresas subcontratadas Caso o trabalhador não encontrasse emprego estão reagrupadas em torno de um construtor na empresa matriz, a montadora de automóveis principal, denominado de keiretsu. O contrato Toyota, poderia ser aproveitado na fábrica de de subcontratação é essencialmente dinâmico, motores. O trabalhador que não tivesse espaço sendo concebido para favorecer a mudança. na fábrica de motores, encontraria emprego na Uma outra característica importante na fábrica de parachoques, por exemplo. relação de subcontratação japonesa seria o O processo de terceirização, quinta número reduzido de fornecedores. Vejamos inovação organizacional de Ohno, foi o exemplo comparativo utilizado por Coriat: fundamental como inovação organizacional. a Toyota possui 170 fornecedores principais; Ele permitiu adotar uma flexibilidade no número 4000 de segunda linha; e 31600 de terceira. Ela de trabalhadores empregados na empresa e fabrica 70% do valor do veículo fora da empresa assim externalizar os custos salariais que são principal, contra 30% da GM. remetidos para as empresas co-irmãs. Ao mesmo Do ponto de vista da teoria das tempo, a formação da keiretsu deu à Toyota uma organizações, Coriat (1994) afirma existir uma 4
  • 5. escola japonesa de gestão da produção distinta importante, ou seja, “as explicações culturais da da escola americana, perfeitamente ajustada às bem sucedida experiência japonesa”. (idem: 52) exigências de qualidade e flexibilidade. Embora Nesse sentido, são extremamente mantendo-se afastado das interpretações esclarecedoras as conclusões de Magaud e Sugita “culturalistas”, o autor busca explicar a “formidável (1993) sobre a importância das redes relacionais competitividade das empresas japonesas a partir nas atividades produtivas. Segundo esses da história do Japão que, após a Segunda Guerra autores, as redes relacionais desempenham um Mundial, se viu na situação de ter de inovar papel central na organização da empresa e da áreas associadas da organização do trabalho economia japonesa. Comparando uma empresa e da gestão da produção.” O Japão tinha um japonesa a uma francesa, demonstram como as mercado restrito para o setor automobilístico pessoas se relacionam de maneira diferente com no pós-guerra e enfrentava a resistência dos a tecnologia nos dois países que se expressa trabalhadores à racionalização do trabalho. A na organização espacial das fábricas. Assim, busca de novas alternativas era uma questão na empresa francesa, cada espaço possui uma de sobrevivência econômica. Os empresários função diferente (devido a ruptura entre concepção japoneses enfrentaram a resistência dos e execução), de tal modo que a relação entre as trabalhadores de modo diferente dos EUA, que funções só pode se dar com dificuldades. Na partiu da desespecialização dos trabalhadores empresa japonesa, a situação é quase inversa. qualificados por meio da instalação de uma certa O escritório fica no interior da fábrica, onde se polivalência e multifuncionalidade dos homens e encontra a maior parte dos documentos técnicos máquinas. que podem ser consultados por todos. Segundo Sem sermos pretensiosos, gostaríamos os autores essa prática demonstra que “a técnica de fazer uma crítica a Coriat, uma vez que o não é um domínio reservado”, como na França. autor professa se afastar das interpretações Os operadores japoneses quando se encontram “culturalistas”. Do nosso ponto de vista, a tomada diante de uma situação nova, partem de seus de decisões sobre a melhor forma de gestão da “conhecimentos empíricos para ‘enjambrar’ produção e do trabalho, expressa tendências uma lógica que os ajudará a agir. Essa lógica postas no âmbito da sociedade nas quais atuam ‘enjambrada’ vem antes da gestionária ou diferentes atores sociais: Estado, empresários, tecnicista” (Magaud & Sugita, 1993: 210). A sindicatos, imprensa, etc. relação mais participativa com a técnica mostra- Wood (1993), por exemplo, chama a se fundamental no Japão para aquilo que Afonso atenção para o fato das leituras do “modelo” Fleury (1993) chama (utilizando a tipologia de japonês partirem da abordagem das relações Freeman) de inovações incrementais, ou seja, humanas, ou da gestão da produção - JIT, CQT aqueles esforços cotidianos para aperfeiçoar etc. - deixando de enfocar o que existe de mais produtos e processos já existentes. 5
  • 6. Outra diferença cultural importante, custo financeiro da sua produção diminuindo que singulariza o “modelo” japonês e dificulta os estoques. Imagine a seguinte situação para sua transferência, diz respeito à circularidade compreender melhor a importância da redução das informações. No Japão, as relações dos estoques: se uma montadora de automóveis interpessoais são mais institucionalizadas que no tem seiscentas laterais de carro paradas em Ocidente sendo que a capacidade de encontrar seu estoque, isso significa que ela gastou para uma informação e passá-la adiante é altamente comprar matéria prima e para produzir, está valorizada. Tal envolvimento possui relação direta pagando juros sobre o dinheiro investido na com as inovações tecnológicas que abordaremos produção das seiscentas laterais que estão mais a frente. Antes disso, vejamos a sexta paradas. O just in time permitirá à montadora inovação organizacional de Ohno. de automóveis não só eliminar essas seiscentas A sexta inovação organizacional que laterais, como também eliminar os estoques de Ohno implementou na Toyota é o sistema just toda a cadeia produtiva reduzindo brutalmente in time / kan ban. O just in time é a eliminação os custos financeiros da produção. dos estoques e o kan ban é o sistema de É interessante observar que Ohno inspirou- comunicação visual adotado na fábrica. No se nos supermercados norte-americanos para sistema kan ban, o trabalhador do posto de criar o just in time. Segundo Ohno, a idéia surgiu trabalho posterior (“cliente”) se abastece quando quando ele comprou um iogurte em uma grande necessita de peças (“produtos” comprados) no rede de supermercados nos EUA. Ele percebeu posto de trabalho anterior (“a seção”). Assim, o que somente após ele comprar o iogurte o lançamento da fabricação do posto anterior só supermercado iria comprar outro iogurte para se faz para alimentar a loja (“seção”) em peças repor. É o caminho oposto ao que se fazia (e ainda (“produtos”) vendidos. Coriat (1994) considera se faz) em grande parte das fábricas tayloristas o Kan ban a “maior inovação organizacional / fordistas e, até mesmo em setores do comércio da segunda metade o século vinte”. As duas como veremos mais adiante) nas fábricas principais consequências do kan ban, segundo de automóveis. Nelas, primeiro se produzem o autor, são: descentralização de parte do as peças dos carros (como, por exemplo, as controle de fabricação antes centralizado no laterais), que se avolumam nos pátios (estoques Departamento de Métodos e a integração das intermediários), independentemente de os carros tarefas de controle de qualidade às próprias que elas comporão já terem sido vendidos: just tarefas de fabricação (idem: 78). in time (JIT). Uma estratégia que visa capacitar Em um período em que o dinheiro ficou a empresa para responder às flutuações de muito caro (após a Segunda Guerra Mundial, mercado, através de instrumentos e técnicas que a Toyota tinha uma dívida altíssima com os buscam atingir elevados padrões de qualidade, bancos norte-americanos), Ohno reduziu o associada a uma significativa redução no custo 6
  • 7. do produto e grande elevação da produtividade. Para finalizar o conjunto de inovações Partindo da premissa que por trás do estoque organizacionais implementadas por Ohno na há um “excesso de pessoal” e um “excesso de Toyota, falta falar da oitava e última delas: equipamentos”, Ohno conseguiu localizar as a produção de trás para frente. Ela está vias de aplicação e os pontos onde os ganhos de intimamente relacionada ao just in time. No JIT, produtividade podem ser obtidos. Dispensando o impulso da produção parte do fim da linha de estoques, dispensa-se excesso de equipamentos montagem para o começo (pull system). Por e pessoal. isso, permitiria adequar-se à diversificação dos Wood (1993) elege o just in time “como mercados estagnados ou com lento crescimento. cerne e o elemento distintivo do modelo de Assim, vincula qualidade, produtividade, custo e administração japonesa, ...” pois, é um conceito evidentemente circulação mais rápida do capital. demasiadamente amplo que se refere ao Uma eventual desvantagem do JIT seria a maior processo de difusão de um novo paradigma vulnerabilidade de todo o sistema a uma greve organizacional. parcial porque, sem estoques de reserva, uma Ohno, ao eliminar os estoques greve isolada pode paralisar todo o sistema. Não intermediários por meio do sistema just in time, é por acaso que o sistema JIT é implementado, implementa a sétima inovação organizacional: no Japão, após uma esmagadora derrota do a fábrica enxuta. A eliminação das gorduras, ou movimento sindical japonês. seja, do excesso de estoques intermediários, Passemos a tratar agora das inovações permite visualizar todo o fluxo de produção da tecnológicas, mais precisamente da principal fábrica pelo olhar (“Ohno chega até mesmo a delas: a introdução da microeletrônica aplicada falar em “administração pelos olhos”). A fábrica à produção. São os microprocessadores, os enxuta consegue se adaptar às demandas, ao sistemas de informação, os microcomputadores gosto de cada consumidor. Nesse sentido, se integrados ao processo produtivo. surge um novo nicho de mercado composto por Nós já estamos acostumados a refletir mulheres que, por exemplo, gostam de certos sobre a forma como os computadores, os acessórios mais delicados nos carros como sistemas de inteligência, a internet alteram o espelho no quebra-sol e, se você não tem um nosso cotidiano. Aliás, altera tanto que neste grande estoque, você consegue rapidamente nosso curso, prezado(a) aluno(a), a principal responder a essa demanda do mercado ferramenta de aprendizado é justamente uma produzindo carros adequados às mudanças nos Plataforma Virtual de Aprendizagem (Moodle) gostos dos consumidores. via internet. Mas nos anos 1950 a utilização Essa é uma inovação organizacional que da microeletrônica no trabalho, feita por Ohno, se tornou paradigmática para os mais diversos foi uma verdadeira revolução. A utilização de setores da produção, do comércio e dos serviços. sistemas de informação permitiu controlar o 7
  • 8. fluxo de toda a cadeia produtiva. Trouxe a processo produtivo. Flexibilidade é a “habilidade possibilidade de trocar informações sobre a do sistema para levar ou passar entre estados produção entre diferentes empresas da keiretsu, diferentes sem os significativos custos presentes de forma a permitir que se evitasse excessos e ou futuro” (Salerno, 1995: 251) A “flexibilidade desperdícios de mercadoria. Em suma, permitiu aplicada ao sistema produtivo significa poder viabilizar o princípio organizacional do just in time produzir elementos diferentes, talvez ao mesmo da eliminação dos estoques intermediários. tempo, poder aceitar mudanças ou até variantes A principal virtude da introdução da diversas em proporções diferentes, tudo isso sem microeletrônica aplicada à produção foi, no exigir mudanças físicas no sistema. Esse último, entanto, utilizá-la nas máquinas-ferramenta, as além do mais, deveria ser reutilizável em sua chamadas “máquinas ferramenta com controle maior parte e (sem intervalos excessivamente numérico computadorizado” (MFCN), o que longos de readaptação), no caso de mudanças permitiu utilizar a mesma ferramenta para realizar radicais no produto” (Leite, 1994: 86) . Sendo diferentes atividades. Vejamos um exemplo para programáveis, os equipamentos de base compreender melhor o impacto das MFCN. microeletrônica, adaptam-se às flutuações do Imagine um operário cuja função é apertar mercado. parafusos de uma roda de automóvel em uma O maior controle da produção é garantido linha de produção de tipo taylorista / fordista. Este pela automação de base microeletrônica, quando operário utiliza uma ferramenta específica, que ela rompe a barreira do conteúdo do trabalho possui um certo torque para apertar os parafusos dos antigos postos de trabalho, utilizando o da roda da Variant (automóvel que era produzido trabalhador polivalente. Além disso, ela tenta se pela Volkswagen). Caso passasse uma Kombi apropriar do saber do operário, incorporando-o ao na linha de produção, o operário necessitaria programa das máquinas. Os equipamentos com trocar de ferramenta, ou então deveria existir controle numérico computadorizado permitem uma linha específica que só produzia Kombi. A uma maior independência das empresas em partir do momento em que o Ohno instalou na relação aos operários, uma vez que a velocidade máquina ferramenta um microcomputador, basta de produção e a qualidade do trabalho é o operário digitar no “punho da ferramenta” um garantida pelo programa. Cabe aqui fazer uma código numérico que, automaticamente, o torque ressalva: uma vez que o conhecimento “tácito” da máquina, o quanto ela tem de apertar, é do trabalhador não é totalmente incorporado ao reprogramado. programa, essa questão torna-se central na luta Qual é a consequência disso? Um cotidiana no chão de fábrica porque permite o mesmo trabalhador consegue apertar diferentes surgimento de várias estratégias de resistência parafusos utilizando a mesma máquina. Essa dos trabalhadores. Aliás, não só resistência, mas inovação tecnológica trouxe flexibilidade ao também negociação. 8
  • 9. A redução do tempo necessário de Por outro lado, o “modelo” japonês de produção é obtida através dos ritmos mais organização do trabalho e gestão da produção elevados alcançados pelas máquinas de base transforma os operários especializados em microeletrônica. É eliminada uma série de “profissionais polivalentes”, “trabalhadores ‘tempos mortos’, de gastos com regulagem e de multifuncionais”. Assim como outras formas de alimentação. Segundo Coriat, a microeletrônica racionalização do trabalho, a desespecialização permite inclusive a produção de um tempo dos operários atacou diretamente o saber dos oculto, que consiste no fato de obter a execução trabalhadores qualificados a fim de diminuir seu simultânea de duas ou mais operações poder sobre a produção. Por isso Ohno, assim anteriormente realizadas sucessivamente”. como Ford, enfrentou a resistência dos operários. As inovações tecnológicas permitiram uma As inovações organizacionais e modificação dos sistemas produtivos tradicionais tecnológicas propostas inicialmente por Ohno e das relações do homem com seu objeto de no Japão nos anos 1950 chegaram ao Ocidente trabalho. Segundo Alves (1994: 62), hoje já apenas nos anos 1970. Isso por que, nos anos se fala em microeletrônica como tecnologia 1970, na Europa Ocidental e nos Estados Unidos de base. Carvalho (1987: 80) destaca que a da América ocorreu um forte crise econômica microeletrônica alia flexibilidade à automação, conhecida como Segunda crise do Petróleo. Após através do acoplamento às máquinas de um conflito entre Israel e Palestina, os países microprocessadores eletrônicos (controladores árabes (organizados na OPEP - Organização programáveis), que detém as informações dos Países Exportadores de Petróleo) decidiram necessárias ao seu comando. Os controladores aumentar o preço do petróleo em represália aos programáveis podem receber novos programas Estados Unidos da América, que havia apoiado para variação dos produtos a serem fabricados, Israel. A ação da OPEP teve como consequência sem alterar a mecânica do equipamento. uma recessão econômica mundial. Cumpre ressaltar que as inovações Ao entrar na Europa e nos Estados Unidos organizacionais e tecnológicas são da América, esse modelo de reestruturação complementares e elas refletem um novo estado produtiva foi sofrendo alterações no sentido de de relações de força na sociedade e nos ambientes se adaptar à realidade de cada país. E, o que de trabalho. Por um lado, o consumidor passa a é mais importante, os impactos causados pelas ganhar uma importância maior, justamente, pela inovações tecnológicas e organizacionais não escassez de dinheiro que existia no Japão dos estão restritos ao interior das fábricas, os efeitos anos 1950 que fez com que o poder de barganha das mudanças podem ser percebidos também dos consumidores aumentasse, uma vez que no mercado, nas regras de negociação coletiva havia mais produtos a venda do que pessoas e nas políticas econômicas. Por isso, alguns dispostas a comprá-los. autores afirmam que estamos diante de um novo 9
  • 10. modelo de desenvolvimento, baseado em um A reestruturação produtiva é marcada por um novo regime de acumulação em substituição ao confronto direto com o fordismo. “Ela se apoia modelo taylorista/fordista. na flexibilidade dos processos de trabalho, dos Kern e Schumann2 afirmam estar se mercados de trabalho, dos produtos e padrões de desenvolvendo um novo modelo de produção que consumo”. De acordo com o autor, a acumulação se opõe ao modelo taylorista por uma nova forma flexível implica em níveis relativamente altos de utilização do trabalho. As consequências de “desemprego estrutural, rápida destruição e desse novo modelo seriam, de um lado, a reconstrução de habilidades, ganhos modestos supressão do emprego, de outro lado, uma (quando há) de salários reais e o retrocesso do transformação radical na utilização da mão de poder sindical - uma das colunas políticas do obra que permanece empregada. As empresas regime fordista” (Harvey, 1992:143). passam a se preocupar com a qualificação do No próximo capítulo, abordaremos o operário, rompendo a relação estabelecida por processo de reestruturação produtiva no Brasil. Taylor entre crescimento da produtividade e desqualificação da mão de obra. REFERÊNCIAS Piore e Sabel acreditam que esse ALVES, Paulo Jorge Marques. Crise e modelo de reestruturação produtiva teria suas Mudança em Portugal - Dilemas ‘sindicais Face bases firmadas na descentralização do sistema a Inovação Tecnológica e Organizacional (1980 produtivo, que se apoiaria na flexibilidade - 1993) - Tese de Mestrado; Instituto Superior da produção propiciada pela tecnologia de Ciências do Trabalho e da Empresa; Lisboa, microeletrônica. O novo modelo seria marcado 1994. mimeo. pela horizontalização da produção e pela proliferação das pequenas e médias empresas BEYNON, Huw. Trabalhando para Ford: integradas entre si. Segundo os autores, os novos Trabalhadores e sindicalistas na Indústria padrões de gestão do trabalho seriam definidos Automobilística. Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra, pela reintegração da execução e da concepção, 1995. pela polivalência dos trabalhadores que devem CORIAT, Benjamin. “Automação realizar tarefas diversificadas e multiqualificadas. programável: Novas formas e conceitos de Teríamos, assim, uma nova divisão do trabalho em organização da produção”, in Hubert Schimitz um novo segmento de trabalhadores polivalentes e Ruy de Quadros Carvalho (org.). Automação, e com perspectivas de mobilidade social. competitividade e trabalho: A experiência Para Harvey (1992) a flexibilização dos internacional. São Paulo, HUCITEC, 1988. processos de trabalho e de produção implica uma acentuada e generalizada potenciação CORIAT, Benjamin . Pensar Pelo Avesso: da capacidade produtiva da força de trabalho. O Modelo Japonês de Trabalho e Organização. 2citados por Leite (1994) e Alves (1994). 10
  • 11. Rio de Janeiro, Editora da UFRJ / Reavan, 1994. HARVEY, David. Condição Pós-Moderna (uma pesquisa sobre a origem da mudança cultural). São Paulo, Ed. Loyola, 1992. HIRATA, Helena. “Recursos japoneses, realidade brasileira”. Novos Estudos CEBRAP. 2, São Paulo, 1983. HIRATA, Helena. Alternativas sueca, italiana e japonesa ao paradigma fordista: elementos para uma discussão sobre o caso brasileiro, S . Paulo, Abet , Abril de 1991. HIRATA, Helena. (org.) Sobre o “Modelo” Japonês: Automatização, Novas Formas de Organização e de Relações de Trabalho. São Paulo, EDUSP, 1993. HUMPHREY, John. “Métodos japoneses e operários de produção: evidências a partir da América Latina”, Cadernos de sociologia, vol. 4, n 4, UFRGS, 1992. LEITE, Marcia de Paula . “Reestruturação produtiva, novas tecnologias e novas formas de gestão da mão de obra”. in Mattoso, Jorge E. L. et al. (org.) O Mundo do Trabalho: Crise e Mudança no Final do Século. São Paulo , Ed. CESIT / Scritta / MTb, 1994 b. Trabalho: Um Estudo de Caso na Indústria Automobilística Brasileira. Dissertação de Mestrado, PUC, São Paulo, 1987. SUGITA, K. e MAGAUD, J., “A propósito de uma comparação franco-japonesa: o retorno das redes” in HIRATA, H. (org.), Sobre o “modelo” japonês. S. Paulo, EDUSP, 1993. 11