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Revista da SOCERJ - set/out 2006                                                                                             427


                           Disfunção Miocárdica Induzida                                                           Artigo de
                                                                                                                  Atualização
                            pela Sepse / Choque Séptico
                       Myocardial Dysfunction Induced by Sepsis / Septic Shock




                                            Gláucia Maria Moraes de Oliveira, Cid Marcos David

                                        Universidade Federal do Rio de Janeiro, Prontocor Lagoa (RJ)




             A diminuição da performance cardíaca é um achado             Decrease in cardiac performance is a common finding
             comum nos pacientes com sepse/choque séptico. A              in patients with sepsis/septic shock. Myocardial
             disfunção miocárdica secundária à sepse seria                dysfunction secondary to sepsis manifests through
             manifestada pela dilatação biventricular e depressão         biventricular dilatation and depression of systolic and
             da função miocárdica ventricular sistólica e diastólica,     diastolic ventricular myocardial function with an
             com queda na fração de ejeção e aumento do índice de         increase in ejection fraction and an increase in the end-
             volume diastólico final dos ventrículos. Os pacientes        diastolic volume of the ventricles. The patients who
             que sobrevivem à sepse grave/choque séptico                  survived severe sepsis/septic shock show the
             demonstram capacidade de retorno à normalidade dos           capability to readapt to normal standards at the end
             padrões adaptativos ao final de uma semana, porém            of one week. However, those who did not survive it,
             os que não sobrevivem mantêm taquicardia persistente         maintain persisting tachycardia lacking ventricular
             sem a dilatação ventricular como resposta                    dilatation as a compensatory response. Myocardial
             compensatória. A disfunção miocárdica parece ser             dysfunction is apparently caused by a circulating
             decorrente de um fator depressor do miocárdio                myocardial depressant factor, represented by the
             circulante, representado pelo fator de necrose tumoral       tumoral necrosis factor (TNFα) and interleukin (IL-1β).
             (TNFα) e interleucina (IL-1β). A geração de óxido nítrico    The generation of nitric oxide may play a central role
             pode ter um papel central na depressão cardiovascular        in the cardiovascular depression in the sepsis. The
             na sepse. A fase inicial parece ser dependente da geração    initial phase apparently depends on the generation of
             de cGMP via constitutivo óxido nítrico sintetase (cNOS),     cGMP via constitutive nitric oxide synthethase (cNOS)
             enquanto que a fase tardia parece ser dependente do          while the late phase appears to be dependent on the
             cGMP via induzível óxido nítrico sintetase (iNOS). Os        cGMP via inducible nitric oxide synthethase (iNOS).
             autores apresentam uma revisão da fisiopatologia, das        The authors review the physiopathology, the clinical
             manifestações clínicas e dos fatores prognósticos da         manifestations, and the prognostic factors of the sepsis-
             depressão miocárdica induzida pela sepse.                    induced myocardial depression.

             Palavras-chave: Disfunção miocárdica, Sepse, Choque          Key-words: Myocardial function, Sepsis, Septic shock
             séptico


             A diminuição da performance cardíaca é um achado             aumento do índice cardíaco, diminuição da fração
             comum nos pacientes com sepse/choque séptico,                de ejeção e do índice de trabalho sistólico de ambos
             acarretando altas taxas de mortalidade nas unidades          os ventrículos e uma aparente diminuição da
             de terapia intensiva.                                        contratilidade. Na tentativa de aumentar o aporte
                                                                          de oxigênio aos tecidos e assim diminuir a produção
             Tipicamente observa-se taquicardia, hipotensão               de ácido láctico e o conseqüente dano celular,
             (usualmente relativa, pela dilatação vascular),              promove-se a infusão de volume com o intuito de
             Endereço para correspondência: glaucia@mls.com.br
             Glaucia Maria Moraes de Oliveira | Visconde de Pirajá 330/1114 | Ipanema, Rio de Janeiro - RJ | 22410-000
             Recebido em: 20/06/2006 | Aceito em: 11/07/2006
428                                                                                                             Vol 19 No 5

aumentar a pré-carga, obtendo-se uma dilatação dos       função ventricular direita na sepse, observou-se
ventrículos por resposta similar ao mecanismo de         uma queda na fração de ejeção e aumento do
Frank-Starling1,2.                                       índice de volume diastólico final do ventrículo
                                                         direito12-14.
Os pacientes que sobrevivem à sepse grave/choque
séptico demonstram capacidade de retorno à               A hipertensão pulmonar que ocorre na sepse
normalidade dos padrões adaptativos ao final de          poderia colaborar para a disfunção ventricular
uma semana, porém os que não sobrevivem                  direita 15 . O    deslocamento        do   septo
mantêm taquicardia persistente sem a dilatação           interventricular para a esquerda, ocasionado pela
ventricular como resposta compensatória.                 dilatação ventricular direita, também poderia
Resultados conflitantes são encontrados na               dificultar o enchimento diastólico e,
literatura sobre os melhores parâmetros para a           conseqüentemente, a pré-carga do ventrículo
avaliação da função ventricular sistólica e diastólica   esquerdo16.
na sepse, principalmente no que concerne à
avaliação da contratilidade e da complacência            A disfunção miocárdica ventricular diastólica
ventricular nos modelos de sepse3-5.                     induzida pela sepse não está ainda bem
                                                         estabelecida17. Ocorreria isolada ou associada à
Vários problemas contribuem para obscurecer o            disfunção sistólica e, nesse caso decorreria, em
entendimento das alterações cardiovasculares que         parte, da restrição imposta pelo pericárdio, que
ocorrem na sepse grave/choque séptico. A                 tenderia a promover um rápido enchimento
gravidade da doença requer tratamento imediato,          ventricular18. O aumento da cavidade ventricular
o que dificulta a separação entre o processo de          provavelmente decorre do aumento de sua
doença e a terapêutica empregada. Os modelos             complacência.
animais, dos quais se destaca o canino, não
conseguem mimetizar de forma adequada os                 Duas hipóteses foram formuladas para explicar a
portadores dessa patologia, principalmente pela          disfunção miocárdica que ocorre na sepse5. Em
presença freqüente de condições associadas.              voluntários humanos, nos quais se injetaram
                                                         endotoxinas, observou-se uma diminuição na
                                                         relação entre a pressão de oclusão pulmonar e o
Fisiopatologia da depressão miocárdica na                volume diastólico final, alterações estas que
sepse                                                    pareceram independer das modificações do volume
                                                         ventricular e da resistência vascular19. Também os
Diferente de outros tipos de choque (hipovolêmico        episódios de sepse causadas por germes gram-
e cardiogênico), o choque séptico é caracterizado        positivos são capazes de gerar as mesmas alterações
por uma dilatação arterial e venosa, com aumento         que ocorrem quando da liberação de endotoxinas20.
da permeabilidade capilar, ocasionando uma               Os dados anteriores referem-se aos estágios iniciais
hipovolemia relativa, sendo por isso também              da sepse.
chamado anteriormente de distributivo 6-7 . A
síndrome hiperdinâmica causada pelo choque               A segunda hipótese baseia-se na observação de que
séptico manifesta-se pela baixa resistência vascular     substâncias depressoras do miocárdio seriam
sistêmica, acompanhada de débito cardíaco normal         liberadas em resposta à prolongada isquemia
ou elevado, taquicardia e elevada concentração de        esplâncnica e à hipóxia, e apareceriam mais
oxigênio no leito vascular pulmonar8.                    tardiamente.

A disfunção cardiovascular que ocorre na sepse é         Em 1970, Lefer & Martin referem a existência, em
complexa e motivada por diversos fatores                 animais, de um fator que causaria depressão
relacionados não só às mudanças no tônus vascular        miocárdica no choque séptico em modelo animal21.
quanto também às alterações da função sistólica e        Parrilo22, Reilly23 et al. demonstraram a presença
diastólica dos ventrículos esquerdo e direito, tanto     dessas substâncias no choque séptico humano,
em humanos como em modelos animais9-11.                  relacionando-as com a diminuição da fração de
                                                         ejeção, aumento do volume diastólico final,
Inicialmente demonstrou-se, através da                   aumento da pressão de oclusão da artéria pulmonar
monitoração hemodinâmica e da ventriculografia           e acidemia láctica, acarretando inclusive um
com radionuclídeo, que ocorreria uma dilatação da        aumento significativo da mortalidade nos pacientes
cavidade ventricular esquerda e conseqüente              que as possuíam no soro.
depressão da função miocárdica sistólica.
Posteriormente, utilizando-se estas mesmas técnicas      Não foi ainda possível isolar essa substância,
(termodiluição e radionuclídeo) para a avaliação da      parecendo ser a mesma solúvel em água, e ter um
Revista da SOCERJ - set/out 2006                                                                                     429
             peso molecular de 10.000 a 30.000 daltons, sendo      A presença de TNFα e IL-1β parece responder
             possivelmente uma citocina. O fator de necrose        pelas fases iniciais da depressão miocárdica
             tumoral (TNFα) provoca depressão precoce da           induzida pela sepse, aparecendo minutos após
             função miocárdica quando adicionada aos               o início do quadro, ainda que um efeito mais
             miócitos associada à hipotensão, diminuição do        t a rd i o p o s s a s e r o b s e r v a d o , s e n d o
             débito cardíaco e baixa resistência vascular          provavelmente mediado por diferentes vias
             sistêmica, podendo ser esta ação cálcio-              bioquímicas. A geração de óxido nítrico pode
             dependente24. É importante também citar a IL-1β       t e r u m p a p e l c e n t r a l n a d e p re s s ã o
             como candidata à depressão miocárdica induzida        cardiovascular na sepse. A fase inicial parece
             pela sepse.                                           ser dependente da geração de cGMP
                                                                   (guanosina mono fosfato) via constitutivo
             Vários estudos demonstraram que a                     óxido nítrico sintetase (cNOS), enquanto que
             administração de TNFα ao miocárdio de                 a fase tardia parece ser dependente do cGMP
             humanos e animais resulta em uma depressão            via induzível óxido nítrico sintetase (iNOS).
             miocárdica com diminuição da contratilidade que
             é concentração-dependente25,26. Por outro lado,       Esses estudos anteriores e os que foram
             quando se remove o TNFα do soro dos pacientes         desenvolvidos posteriormente suportam a
             com choque séptico, são eliminados parcialmente       hipótese de que a liberação de citocinas – como,
             os efeitos da depressão miocárdica 27. Não foi        por exemplo, o TNFα e a IL-1β - que ocorre na
             observada melhora na sobrevida, nos estudos de        sepse, estimula o coração a produzir
             fase III, quando da administração de anticorpos       seqüencialmente o óxido nítrico, primeiramente
             monoclonais anti-TNFα aos pacientes portadores        o cNOS e depois o iNOS, produzindo depressão
             de choque séptico, ainda que tenha havido             miocárdica via mecanismos dependentes da
             melhora da função ventricular esquerda nesse          tradução do sinal do β1 adrenorreceptor33,34.
             grupo de pacientes28.
                                                                   Kinugawa et al. demonstraram, empregando um
             A IL-1β induz uma resposta semelhante ao TNFα,        modelo de miócito, uma resposta bifásica à
             estando aumentada no soro dos pacientes               administração de IL-6 que, quando infundida em
             portadores de sepse grave e choque séptico,           altas concentrações, deprimia tanto precocemente
             produzindo depressão miocárdica que pode ser          (cerca de 30 minutos) quanto tardiamente a
             parcialmente neutralizada por imunoabsorção da        contratilidade do miócito (24 horas). A depressão
             IL-1β 29. Como também ocorre com o TNFα, o            precoce podia ser inibida por um quelante de cálcio,
             antagonismo da IL-1β atenua as manifestações          acarretando que uma resposta dependente do
             hemodinâmicas do choque séptico ainda que não         cálcio/calmodulina via constitutivo óxido nítrico
             se tenha demonstrado melhora da sobrevida nos         sintetase estava implicada, o mesmo não
             estudos randomizados30,31.                            acontecendo com a resposta tardia35.

             A combinação da administração de TNFα e IL-1β         Pathan et al. demonstraram que removendo a
             pode causar depressão miocárdica em                   interleucina 6 do soro de pacientes com sepse
             concentrações 50 a 100 vezes inferior àquelas         meningocócica aboliam, in vitro, a atividade
             utilizadas quando as mesmas substâncias são           inotrópica negativa e que as concentrações séricas
             administradas individualmente, aproximando-se         da IL6 se correlacionavam com a gravidade da
             das concentrações séricas obtidas nos portadores de   disfunção miocárdica que ocorria em crianças
             choque séptico, sugerindo uma ação sinérgica no       com sepse meningocócica36.
             desencadeamento da depressão miocárdica
             secundária à sepse27..                                Estudos mais recentes relacionam a disfunção
                                                                   miocárdica à ativação da caspase dependente de
             Outra hipótese levantada inicialmente para            TNFα causando apoptose cardíaca37. Especula-se
             explicar as alterações segmentares e difusas          ainda que os receptores Tooll-like 4 expressos nos
             produzidas pela sepse - as alterações no fluxo        miócitos pudessem estar envolvidos no
             coronariano induzindo isquemia - não puderam          mecanismo molecular da disfunção miocárdica
             ser comprovadas nos estudos subseqüentes 32.          induzida pela sepse38.
             Cunnion et al. demonstraram fluxo coronariano
             normal ou elevado nos indivíduos sépticos quando      Estudos adicionais são necessários para
             comparados com os grupos-controles normais, e         completar o quebra-cabeça da fisiopatologia da
             nenhuma diferença significativa de fluxo nos que      disfunção miocárdica que ocorre na sepse, em
             desenvolviam disfunção miocárdica associada à         que diversas substâncias parecem exercer um
             sepse32.                                              papel de regulação e contra-regulação da
430                                                                                                                                         Vol 19 No 5

contratilidade miocárdica nas diversas fases do
choque séptico, destacando-se o TNFα e as                            Jafri et al., utilizando-se do ecocardiograma,
interleucinas IL-1β e IL-6, além do óxido nítrico.                   demonstraram um padrão de relaxamento
                                                                     esquerdo anormal 44. Estas alterações do padrão
                                                                     de relaxamento do ventrículo esquerdo foram
Manifestações da depressão miocárdica                                correlacionadas com a sobrevida dos pacientes
na sepse                                                             portadores de sepse grave, observando-se que a
                                                                     mortalidade foi maior quanto mais anormal foi
Os índices derivados da monitoração                                  o padrão de relaxamento ventricular esquerdo,
hemodinâmica, dos quais se destaca o trabalho                        sendo o escore APACHE II e o aumento do tempo
sistólico (volume sistólico x pressão arterial), não                 de desaceleração, preditores independentes de
se mostrou capaz de quantificar corretamente a                       mortalidade45.
disfunção miocárdica, já que sofre a influência
das variações dos níveis tensionais. Por outro                       Zhou et al. demonstraram, posteriormente, que
lado, a fração de ejeção mostrou-se um excelente                     a contratilidade e a estrutura cardíaca não estão
preditor da disfunção miocárdica biventricular                       alteradas de forma significativa mesmo na fase
que ocorre na sepse, especialmente se à mesma                        tardia, hipodinâmica da sepse, parecendo ser
for adicionada a medida do volume sistólico e                        estas relacionadas com a fase inicial da doença e
diastólico de ambos os ventrículos. A diminuição                     reversível nos sobreviventes46.
da fração de ejeção e o aumento no índice de
volume diastólico final ocorrem nos dois a três                      Recentemente, Levy et al., empregando a
primeiros dias do início do choque séptico e                         ressonância nuclear magnética, a tomografia por
usualmente retornam ao normal cinco a dez dias                       emissão de positron e imagens de tomografia
subseqüentes, nos pacientes que sobrevivem39.                        computadorizada por emissão de único photon,
                                                                     levantaram a hipótese de que a depressão
Jardin et al. demonstraram (em um estudo onde                        miocárdica secundária à sepse pudesse refletir
associaram os índices obtidos pela monitoração                       um processo de hibernação como ocorre na
hemodinâmica com cateter de Swan Ganz e o                            isquemia miocárdica, com diminuição da
ecocardiograma bidimensional) que haveria uma                        performance cardíaca, aumento na captação de
disfunção ventricular sistólica de vários graus,                     glicose, aumento nos níveis de steady-state de
desde uma alteração latente até uma grave                            GLUT4 miocárdico e aumento dos depósitos de
falência ventricular sistólica. A primeira se                        glicogênio 47 . Apoiando essa hipótese, já foi
manifestaria pelo não aumento da fração de                           descrito que os efeitos miocárdicos da sepse
ejeção que é o esperado quando se reduz a                            partilham três características com a isquemia
resistência vascular sistêmica. A hipocinesia                        miocárdica que ocorre na falência crônica do
observada nesse estudo foi difusa, acometendo                        coração: ativação de mediadores inflamatórios;
os dois ventrículos, porém o mesmo falhou em                         depressão miocárdica reversível; dessensibilização
comprovar o mecanismo adaptativo de dilatação                        dos receptores β adrenérgicos, parecendo que a
descrito por Parker et al.9. Sugeriu ainda, serem                    ativação dos mediadores inflamatórios contribui
estas alterações reversíveis com o emprego de                        para a depressão miocárdica reversível e
antibióticos, repleção de volume, seguida do uso                     dessensibilização dos receptores β adrenérgicos
de aminas, inicialmente dopamina e, se                               que foram relatados na sepse, no trauma, na
necessário, dobutamina40.                                            isquemia e na rejeição por transplante e falência
                                                                     cardíaca48.
Uma redução do débito cardíaco e um aumento
da diferença do conteúdo arteriovenoso, com                          Essas observações podem ter implicações
queda da fração de ejeção e pressão de oclusão                       clínicas. Suzuki et al. relataram diminuição do
normal, foram também observados. Este                                TNFα, melhora da utilização de oxigênio e
último achado decorre, em parte, da depressão                        preservação da função miocárdica em animais
v e n t r i c u l a r d i re i t a c o n c o m i t a n t e , c o m   que receberam infusão de esmolol 49. Também
diminuição do retorno venoso e proteção da                           a dessensibilização do cálcio que ocorre como
circulação pulmonar, embora com elevação da                          p a r t e d a f i s i o p a t o l o g i a d a d e p re s s ã o
resistência pulmonar. Outro ponto interessante                       miocárdica na sepse, poderia ser revertida com
é q u e a re s i s t ê n c i a v a s c u l a r s i s t ê m i c a     o emprego do levosimendan, um sensibilizador
permanece próxima do normal, diferindo do                            de cálcio, sugerindo-se que a infusão dessa
choque séptico sem disfunção miocárdica onde                         substância em humanos melhoraria a perfusão
e l a é b a i x a , o u d o c a rd i o g ê n i c o o n d e s e       re g i o n a l e a s a l t e r a ç õ e s h e m o d i n â m i c a s ,
apresenta elevada 41-43 .                                            tornando-se uma alternativa na estratégia de
Revista da SOCERJ - set/out 2006                                                                                    431
             doses crescentes de dobutamina no tratamento           A resistência aos efeitos inotrópicos e vasopressores
             da disfunção miocárdica na sepse 50..                  das catecolaminas parece ser outra característica dos
                                                                    não-sobreviventes que mostram uma resposta
                                                                    inotrópica atenuada ao teste de estresse com
             Fatores de prognóstico cardiovascular no               dobutamina, enquanto que os sobreviventes
             choque séptico                                         aumentam o índice de volume sistólico, a saturação
                                                                    venosa mista de oxigênio, a câmara ventricular e
             Estudos iniciais no choque séptico apontavam que       diminuem a pressão arterial diastólica51.
             a presença de índice cardíaco baixo ou decrescente
             associava-se invariavelmente com um prognóstico        Na tentativa de evidenciar e relacionar a
             ruim no choque séptico. Esses estudos eram             depressão miocárdica que ocorre na sepse com a
             baseados na monitoração da pressão venosa central      mortalidade por choque séptico, estudos
             (PVC) como indicador da repleção adequada de           realizados por Ammann et al. demonstraram que
             volume, porém a PVC não reflete adequadamente          a troponina I estava elevada em 85% dos
             a pré-carga, como foi demonstrado pela utilização      pacientes com sepse, choque séptico ou SIRS52.
             da monitoração da pressão de oclusão pulmonar          Posteriormente, novos estudos demonstraram
             com o cateter de Swan Ganz1,2. Assim, o índice         que os níveis de troponina I se relacionavam com
             cardíaco não é um bom preditor da mortalidade na       a disfunção miocárdica decorrente do choque
             sepse.                                                 séptico e que níveis elevados da mesma se
                                                                    relacionavam com maior gravidade da sepse e
             Estudos posteriores de pacientes com choque            maior mortalidade 53 . Níveis elevados de
             séptico demonstraram que a presença de freqüência      troponina I também foram observados nas
             cardíaca <106 batimentos por minuto na                 diversas populações de choque séptico, incluindo
             apresentação e <95 batimentos por minuto nas           crianças54 e idosos55.
             primeiras 24 horas, bem como um índice de
             resistência vascular sistêmica >1529dinas.cm5/m2       Grandes elevações do pro-peptídio natriurético
             associado a um aumento na freqüência cardíaca          cerebral N–terminal foram observados no soro
             >18 batimentos por minuto e uma diminuição do          de pacientes com choque séptico, parecendo
             índice cardíaco <0,5l/min/m 2 , prediziam a            representar um marcador precoce da disfunção
             sobrevida nesses pacientes8. Esses mesmo autores       miocárdica secundária à sepse, com níveis mais
             descreveram três padrões de mortalidade no choque      elevados encontrados nos não-sobreviventes56.
             séptico: a) mortes precoces decorrentes de baixa       Também o peptídio natriurético cerebral se
             resistência vascular sistêmica associada com           relacionou com a disfunção miocárdica
             hipotensão refratária, apesar de adequada              decorrente da sepse grave e elevou-se mais
             ressuscitação volêmica; b) mortes decorrentes de       significativamente no segundo e terceiro dia nos
             índices cardíacos decrescentes numa forma              indivíduos que morreram durante a permanência
             cardiogênica do choque séptico e c) mortes tardias     na unidade de terapia intensiva57.
             por falência de múltiplos órgãos e sistemas. Os
             indivíduos não sobreviventes seriam aqueles            Finalmente, a presença de doenças cardiovasculares
             incapazes de dilatar o ventrículo esquerdo,            prévias, como hipertensão arterial sistêmica,
             diminuindo a fração de ejeção e aumentando o           acidente vascular encefálico, insuficiência
             índice de volume diastólico final do ventrículo        coronariana crônica e diabetes, também se associou
             esquerdo, retornando aos valores iniciais após cinco   com a disfunção miocárdica decorrente da sepse
             a sete dias.                                           grave e choque séptico, bem como com a
                                                                    mortalidade em idosos internados em unidade de
             O papel das alterações do ventrículo direito como      terapia intensiva58.
             preditor de mortalidade no choque séptico
             permanece mais obscuro, com estudos conflitantes
             em relação à fração de ejeção inicial do mesmo.        Conclusão
             Parker et al. 13 apontam para baixas frações de
             ejeção inicial nos sobreviventes, enquanto que         As alterações cardiovasculares descritas na sepse
             Vincent et al.14 sugerem que os mesmos apresentam      são o resultado da disfunção celular e de um
             altas frações de ejeção. A persistência de disfunção   aumento do metabolismo, estando implicados tanto
             sistólica ventricular direita se associa com           os mediadores externos como as endotoxinas,
             prognóstico ruim, porém parece que o                   quanto endógenos como as citocinas, das quais se
             comportamento dos dois ventrículos é similar com       destacam o fator de necrose tumoral alfa (TNFα),
             dilatação e retorno aos níveis iniciais nos            as interleucinas beta-1 e 6 (IL-B1 e IL-B6), e o óxido
             sobreviventes.                                         nítrico.
432                                                                                                                           Vol 19 No 5

Estudos recentes sugerem que a depressão                       14. Vincent JL, Reuse N, Frank N, et al. Right ventricular
miocárdica secundária à sepse possa refletir um                    dysfunction in septic shock: Assessment by
processo de hibernação como ocorre na isquemia                     measurements of right ventricular ejection fraction
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                                                                   displacement during right ventricular loading in man.
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Disfunção miocárdica na sepse

  • 1. Revista da SOCERJ - set/out 2006 427 Disfunção Miocárdica Induzida Artigo de Atualização pela Sepse / Choque Séptico Myocardial Dysfunction Induced by Sepsis / Septic Shock Gláucia Maria Moraes de Oliveira, Cid Marcos David Universidade Federal do Rio de Janeiro, Prontocor Lagoa (RJ) A diminuição da performance cardíaca é um achado Decrease in cardiac performance is a common finding comum nos pacientes com sepse/choque séptico. A in patients with sepsis/septic shock. Myocardial disfunção miocárdica secundária à sepse seria dysfunction secondary to sepsis manifests through manifestada pela dilatação biventricular e depressão biventricular dilatation and depression of systolic and da função miocárdica ventricular sistólica e diastólica, diastolic ventricular myocardial function with an com queda na fração de ejeção e aumento do índice de increase in ejection fraction and an increase in the end- volume diastólico final dos ventrículos. Os pacientes diastolic volume of the ventricles. The patients who que sobrevivem à sepse grave/choque séptico survived severe sepsis/septic shock show the demonstram capacidade de retorno à normalidade dos capability to readapt to normal standards at the end padrões adaptativos ao final de uma semana, porém of one week. However, those who did not survive it, os que não sobrevivem mantêm taquicardia persistente maintain persisting tachycardia lacking ventricular sem a dilatação ventricular como resposta dilatation as a compensatory response. Myocardial compensatória. A disfunção miocárdica parece ser dysfunction is apparently caused by a circulating decorrente de um fator depressor do miocárdio myocardial depressant factor, represented by the circulante, representado pelo fator de necrose tumoral tumoral necrosis factor (TNFα) and interleukin (IL-1β). (TNFα) e interleucina (IL-1β). A geração de óxido nítrico The generation of nitric oxide may play a central role pode ter um papel central na depressão cardiovascular in the cardiovascular depression in the sepsis. The na sepse. A fase inicial parece ser dependente da geração initial phase apparently depends on the generation of de cGMP via constitutivo óxido nítrico sintetase (cNOS), cGMP via constitutive nitric oxide synthethase (cNOS) enquanto que a fase tardia parece ser dependente do while the late phase appears to be dependent on the cGMP via induzível óxido nítrico sintetase (iNOS). Os cGMP via inducible nitric oxide synthethase (iNOS). autores apresentam uma revisão da fisiopatologia, das The authors review the physiopathology, the clinical manifestações clínicas e dos fatores prognósticos da manifestations, and the prognostic factors of the sepsis- depressão miocárdica induzida pela sepse. induced myocardial depression. Palavras-chave: Disfunção miocárdica, Sepse, Choque Key-words: Myocardial function, Sepsis, Septic shock séptico A diminuição da performance cardíaca é um achado aumento do índice cardíaco, diminuição da fração comum nos pacientes com sepse/choque séptico, de ejeção e do índice de trabalho sistólico de ambos acarretando altas taxas de mortalidade nas unidades os ventrículos e uma aparente diminuição da de terapia intensiva. contratilidade. Na tentativa de aumentar o aporte de oxigênio aos tecidos e assim diminuir a produção Tipicamente observa-se taquicardia, hipotensão de ácido láctico e o conseqüente dano celular, (usualmente relativa, pela dilatação vascular), promove-se a infusão de volume com o intuito de Endereço para correspondência: glaucia@mls.com.br Glaucia Maria Moraes de Oliveira | Visconde de Pirajá 330/1114 | Ipanema, Rio de Janeiro - RJ | 22410-000 Recebido em: 20/06/2006 | Aceito em: 11/07/2006
  • 2. 428 Vol 19 No 5 aumentar a pré-carga, obtendo-se uma dilatação dos função ventricular direita na sepse, observou-se ventrículos por resposta similar ao mecanismo de uma queda na fração de ejeção e aumento do Frank-Starling1,2. índice de volume diastólico final do ventrículo direito12-14. Os pacientes que sobrevivem à sepse grave/choque séptico demonstram capacidade de retorno à A hipertensão pulmonar que ocorre na sepse normalidade dos padrões adaptativos ao final de poderia colaborar para a disfunção ventricular uma semana, porém os que não sobrevivem direita 15 . O deslocamento do septo mantêm taquicardia persistente sem a dilatação interventricular para a esquerda, ocasionado pela ventricular como resposta compensatória. dilatação ventricular direita, também poderia Resultados conflitantes são encontrados na dificultar o enchimento diastólico e, literatura sobre os melhores parâmetros para a conseqüentemente, a pré-carga do ventrículo avaliação da função ventricular sistólica e diastólica esquerdo16. na sepse, principalmente no que concerne à avaliação da contratilidade e da complacência A disfunção miocárdica ventricular diastólica ventricular nos modelos de sepse3-5. induzida pela sepse não está ainda bem estabelecida17. Ocorreria isolada ou associada à Vários problemas contribuem para obscurecer o disfunção sistólica e, nesse caso decorreria, em entendimento das alterações cardiovasculares que parte, da restrição imposta pelo pericárdio, que ocorrem na sepse grave/choque séptico. A tenderia a promover um rápido enchimento gravidade da doença requer tratamento imediato, ventricular18. O aumento da cavidade ventricular o que dificulta a separação entre o processo de provavelmente decorre do aumento de sua doença e a terapêutica empregada. Os modelos complacência. animais, dos quais se destaca o canino, não conseguem mimetizar de forma adequada os Duas hipóteses foram formuladas para explicar a portadores dessa patologia, principalmente pela disfunção miocárdica que ocorre na sepse5. Em presença freqüente de condições associadas. voluntários humanos, nos quais se injetaram endotoxinas, observou-se uma diminuição na relação entre a pressão de oclusão pulmonar e o Fisiopatologia da depressão miocárdica na volume diastólico final, alterações estas que sepse pareceram independer das modificações do volume ventricular e da resistência vascular19. Também os Diferente de outros tipos de choque (hipovolêmico episódios de sepse causadas por germes gram- e cardiogênico), o choque séptico é caracterizado positivos são capazes de gerar as mesmas alterações por uma dilatação arterial e venosa, com aumento que ocorrem quando da liberação de endotoxinas20. da permeabilidade capilar, ocasionando uma Os dados anteriores referem-se aos estágios iniciais hipovolemia relativa, sendo por isso também da sepse. chamado anteriormente de distributivo 6-7 . A síndrome hiperdinâmica causada pelo choque A segunda hipótese baseia-se na observação de que séptico manifesta-se pela baixa resistência vascular substâncias depressoras do miocárdio seriam sistêmica, acompanhada de débito cardíaco normal liberadas em resposta à prolongada isquemia ou elevado, taquicardia e elevada concentração de esplâncnica e à hipóxia, e apareceriam mais oxigênio no leito vascular pulmonar8. tardiamente. A disfunção cardiovascular que ocorre na sepse é Em 1970, Lefer & Martin referem a existência, em complexa e motivada por diversos fatores animais, de um fator que causaria depressão relacionados não só às mudanças no tônus vascular miocárdica no choque séptico em modelo animal21. quanto também às alterações da função sistólica e Parrilo22, Reilly23 et al. demonstraram a presença diastólica dos ventrículos esquerdo e direito, tanto dessas substâncias no choque séptico humano, em humanos como em modelos animais9-11. relacionando-as com a diminuição da fração de ejeção, aumento do volume diastólico final, Inicialmente demonstrou-se, através da aumento da pressão de oclusão da artéria pulmonar monitoração hemodinâmica e da ventriculografia e acidemia láctica, acarretando inclusive um com radionuclídeo, que ocorreria uma dilatação da aumento significativo da mortalidade nos pacientes cavidade ventricular esquerda e conseqüente que as possuíam no soro. depressão da função miocárdica sistólica. Posteriormente, utilizando-se estas mesmas técnicas Não foi ainda possível isolar essa substância, (termodiluição e radionuclídeo) para a avaliação da parecendo ser a mesma solúvel em água, e ter um
  • 3. Revista da SOCERJ - set/out 2006 429 peso molecular de 10.000 a 30.000 daltons, sendo A presença de TNFα e IL-1β parece responder possivelmente uma citocina. O fator de necrose pelas fases iniciais da depressão miocárdica tumoral (TNFα) provoca depressão precoce da induzida pela sepse, aparecendo minutos após função miocárdica quando adicionada aos o início do quadro, ainda que um efeito mais miócitos associada à hipotensão, diminuição do t a rd i o p o s s a s e r o b s e r v a d o , s e n d o débito cardíaco e baixa resistência vascular provavelmente mediado por diferentes vias sistêmica, podendo ser esta ação cálcio- bioquímicas. A geração de óxido nítrico pode dependente24. É importante também citar a IL-1β t e r u m p a p e l c e n t r a l n a d e p re s s ã o como candidata à depressão miocárdica induzida cardiovascular na sepse. A fase inicial parece pela sepse. ser dependente da geração de cGMP (guanosina mono fosfato) via constitutivo Vários estudos demonstraram que a óxido nítrico sintetase (cNOS), enquanto que administração de TNFα ao miocárdio de a fase tardia parece ser dependente do cGMP humanos e animais resulta em uma depressão via induzível óxido nítrico sintetase (iNOS). miocárdica com diminuição da contratilidade que é concentração-dependente25,26. Por outro lado, Esses estudos anteriores e os que foram quando se remove o TNFα do soro dos pacientes desenvolvidos posteriormente suportam a com choque séptico, são eliminados parcialmente hipótese de que a liberação de citocinas – como, os efeitos da depressão miocárdica 27. Não foi por exemplo, o TNFα e a IL-1β - que ocorre na observada melhora na sobrevida, nos estudos de sepse, estimula o coração a produzir fase III, quando da administração de anticorpos seqüencialmente o óxido nítrico, primeiramente monoclonais anti-TNFα aos pacientes portadores o cNOS e depois o iNOS, produzindo depressão de choque séptico, ainda que tenha havido miocárdica via mecanismos dependentes da melhora da função ventricular esquerda nesse tradução do sinal do β1 adrenorreceptor33,34. grupo de pacientes28. Kinugawa et al. demonstraram, empregando um A IL-1β induz uma resposta semelhante ao TNFα, modelo de miócito, uma resposta bifásica à estando aumentada no soro dos pacientes administração de IL-6 que, quando infundida em portadores de sepse grave e choque séptico, altas concentrações, deprimia tanto precocemente produzindo depressão miocárdica que pode ser (cerca de 30 minutos) quanto tardiamente a parcialmente neutralizada por imunoabsorção da contratilidade do miócito (24 horas). A depressão IL-1β 29. Como também ocorre com o TNFα, o precoce podia ser inibida por um quelante de cálcio, antagonismo da IL-1β atenua as manifestações acarretando que uma resposta dependente do hemodinâmicas do choque séptico ainda que não cálcio/calmodulina via constitutivo óxido nítrico se tenha demonstrado melhora da sobrevida nos sintetase estava implicada, o mesmo não estudos randomizados30,31. acontecendo com a resposta tardia35. A combinação da administração de TNFα e IL-1β Pathan et al. demonstraram que removendo a pode causar depressão miocárdica em interleucina 6 do soro de pacientes com sepse concentrações 50 a 100 vezes inferior àquelas meningocócica aboliam, in vitro, a atividade utilizadas quando as mesmas substâncias são inotrópica negativa e que as concentrações séricas administradas individualmente, aproximando-se da IL6 se correlacionavam com a gravidade da das concentrações séricas obtidas nos portadores de disfunção miocárdica que ocorria em crianças choque séptico, sugerindo uma ação sinérgica no com sepse meningocócica36. desencadeamento da depressão miocárdica secundária à sepse27.. Estudos mais recentes relacionam a disfunção miocárdica à ativação da caspase dependente de Outra hipótese levantada inicialmente para TNFα causando apoptose cardíaca37. Especula-se explicar as alterações segmentares e difusas ainda que os receptores Tooll-like 4 expressos nos produzidas pela sepse - as alterações no fluxo miócitos pudessem estar envolvidos no coronariano induzindo isquemia - não puderam mecanismo molecular da disfunção miocárdica ser comprovadas nos estudos subseqüentes 32. induzida pela sepse38. Cunnion et al. demonstraram fluxo coronariano normal ou elevado nos indivíduos sépticos quando Estudos adicionais são necessários para comparados com os grupos-controles normais, e completar o quebra-cabeça da fisiopatologia da nenhuma diferença significativa de fluxo nos que disfunção miocárdica que ocorre na sepse, em desenvolviam disfunção miocárdica associada à que diversas substâncias parecem exercer um sepse32. papel de regulação e contra-regulação da
  • 4. 430 Vol 19 No 5 contratilidade miocárdica nas diversas fases do choque séptico, destacando-se o TNFα e as Jafri et al., utilizando-se do ecocardiograma, interleucinas IL-1β e IL-6, além do óxido nítrico. demonstraram um padrão de relaxamento esquerdo anormal 44. Estas alterações do padrão de relaxamento do ventrículo esquerdo foram Manifestações da depressão miocárdica correlacionadas com a sobrevida dos pacientes na sepse portadores de sepse grave, observando-se que a mortalidade foi maior quanto mais anormal foi Os índices derivados da monitoração o padrão de relaxamento ventricular esquerdo, hemodinâmica, dos quais se destaca o trabalho sendo o escore APACHE II e o aumento do tempo sistólico (volume sistólico x pressão arterial), não de desaceleração, preditores independentes de se mostrou capaz de quantificar corretamente a mortalidade45. disfunção miocárdica, já que sofre a influência das variações dos níveis tensionais. Por outro Zhou et al. demonstraram, posteriormente, que lado, a fração de ejeção mostrou-se um excelente a contratilidade e a estrutura cardíaca não estão preditor da disfunção miocárdica biventricular alteradas de forma significativa mesmo na fase que ocorre na sepse, especialmente se à mesma tardia, hipodinâmica da sepse, parecendo ser for adicionada a medida do volume sistólico e estas relacionadas com a fase inicial da doença e diastólico de ambos os ventrículos. A diminuição reversível nos sobreviventes46. da fração de ejeção e o aumento no índice de volume diastólico final ocorrem nos dois a três Recentemente, Levy et al., empregando a primeiros dias do início do choque séptico e ressonância nuclear magnética, a tomografia por usualmente retornam ao normal cinco a dez dias emissão de positron e imagens de tomografia subseqüentes, nos pacientes que sobrevivem39. computadorizada por emissão de único photon, levantaram a hipótese de que a depressão Jardin et al. demonstraram (em um estudo onde miocárdica secundária à sepse pudesse refletir associaram os índices obtidos pela monitoração um processo de hibernação como ocorre na hemodinâmica com cateter de Swan Ganz e o isquemia miocárdica, com diminuição da ecocardiograma bidimensional) que haveria uma performance cardíaca, aumento na captação de disfunção ventricular sistólica de vários graus, glicose, aumento nos níveis de steady-state de desde uma alteração latente até uma grave GLUT4 miocárdico e aumento dos depósitos de falência ventricular sistólica. A primeira se glicogênio 47 . Apoiando essa hipótese, já foi manifestaria pelo não aumento da fração de descrito que os efeitos miocárdicos da sepse ejeção que é o esperado quando se reduz a partilham três características com a isquemia resistência vascular sistêmica. A hipocinesia miocárdica que ocorre na falência crônica do observada nesse estudo foi difusa, acometendo coração: ativação de mediadores inflamatórios; os dois ventrículos, porém o mesmo falhou em depressão miocárdica reversível; dessensibilização comprovar o mecanismo adaptativo de dilatação dos receptores β adrenérgicos, parecendo que a descrito por Parker et al.9. Sugeriu ainda, serem ativação dos mediadores inflamatórios contribui estas alterações reversíveis com o emprego de para a depressão miocárdica reversível e antibióticos, repleção de volume, seguida do uso dessensibilização dos receptores β adrenérgicos de aminas, inicialmente dopamina e, se que foram relatados na sepse, no trauma, na necessário, dobutamina40. isquemia e na rejeição por transplante e falência cardíaca48. Uma redução do débito cardíaco e um aumento da diferença do conteúdo arteriovenoso, com Essas observações podem ter implicações queda da fração de ejeção e pressão de oclusão clínicas. Suzuki et al. relataram diminuição do normal, foram também observados. Este TNFα, melhora da utilização de oxigênio e último achado decorre, em parte, da depressão preservação da função miocárdica em animais v e n t r i c u l a r d i re i t a c o n c o m i t a n t e , c o m que receberam infusão de esmolol 49. Também diminuição do retorno venoso e proteção da a dessensibilização do cálcio que ocorre como circulação pulmonar, embora com elevação da p a r t e d a f i s i o p a t o l o g i a d a d e p re s s ã o resistência pulmonar. Outro ponto interessante miocárdica na sepse, poderia ser revertida com é q u e a re s i s t ê n c i a v a s c u l a r s i s t ê m i c a o emprego do levosimendan, um sensibilizador permanece próxima do normal, diferindo do de cálcio, sugerindo-se que a infusão dessa choque séptico sem disfunção miocárdica onde substância em humanos melhoraria a perfusão e l a é b a i x a , o u d o c a rd i o g ê n i c o o n d e s e re g i o n a l e a s a l t e r a ç õ e s h e m o d i n â m i c a s , apresenta elevada 41-43 . tornando-se uma alternativa na estratégia de
  • 5. Revista da SOCERJ - set/out 2006 431 doses crescentes de dobutamina no tratamento A resistência aos efeitos inotrópicos e vasopressores da disfunção miocárdica na sepse 50.. das catecolaminas parece ser outra característica dos não-sobreviventes que mostram uma resposta inotrópica atenuada ao teste de estresse com Fatores de prognóstico cardiovascular no dobutamina, enquanto que os sobreviventes choque séptico aumentam o índice de volume sistólico, a saturação venosa mista de oxigênio, a câmara ventricular e Estudos iniciais no choque séptico apontavam que diminuem a pressão arterial diastólica51. a presença de índice cardíaco baixo ou decrescente associava-se invariavelmente com um prognóstico Na tentativa de evidenciar e relacionar a ruim no choque séptico. Esses estudos eram depressão miocárdica que ocorre na sepse com a baseados na monitoração da pressão venosa central mortalidade por choque séptico, estudos (PVC) como indicador da repleção adequada de realizados por Ammann et al. demonstraram que volume, porém a PVC não reflete adequadamente a troponina I estava elevada em 85% dos a pré-carga, como foi demonstrado pela utilização pacientes com sepse, choque séptico ou SIRS52. da monitoração da pressão de oclusão pulmonar Posteriormente, novos estudos demonstraram com o cateter de Swan Ganz1,2. Assim, o índice que os níveis de troponina I se relacionavam com cardíaco não é um bom preditor da mortalidade na a disfunção miocárdica decorrente do choque sepse. séptico e que níveis elevados da mesma se relacionavam com maior gravidade da sepse e Estudos posteriores de pacientes com choque maior mortalidade 53 . Níveis elevados de séptico demonstraram que a presença de freqüência troponina I também foram observados nas cardíaca <106 batimentos por minuto na diversas populações de choque séptico, incluindo apresentação e <95 batimentos por minuto nas crianças54 e idosos55. primeiras 24 horas, bem como um índice de resistência vascular sistêmica >1529dinas.cm5/m2 Grandes elevações do pro-peptídio natriurético associado a um aumento na freqüência cardíaca cerebral N–terminal foram observados no soro >18 batimentos por minuto e uma diminuição do de pacientes com choque séptico, parecendo índice cardíaco <0,5l/min/m 2 , prediziam a representar um marcador precoce da disfunção sobrevida nesses pacientes8. Esses mesmo autores miocárdica secundária à sepse, com níveis mais descreveram três padrões de mortalidade no choque elevados encontrados nos não-sobreviventes56. séptico: a) mortes precoces decorrentes de baixa Também o peptídio natriurético cerebral se resistência vascular sistêmica associada com relacionou com a disfunção miocárdica hipotensão refratária, apesar de adequada decorrente da sepse grave e elevou-se mais ressuscitação volêmica; b) mortes decorrentes de significativamente no segundo e terceiro dia nos índices cardíacos decrescentes numa forma indivíduos que morreram durante a permanência cardiogênica do choque séptico e c) mortes tardias na unidade de terapia intensiva57. por falência de múltiplos órgãos e sistemas. Os indivíduos não sobreviventes seriam aqueles Finalmente, a presença de doenças cardiovasculares incapazes de dilatar o ventrículo esquerdo, prévias, como hipertensão arterial sistêmica, diminuindo a fração de ejeção e aumentando o acidente vascular encefálico, insuficiência índice de volume diastólico final do ventrículo coronariana crônica e diabetes, também se associou esquerdo, retornando aos valores iniciais após cinco com a disfunção miocárdica decorrente da sepse a sete dias. grave e choque séptico, bem como com a mortalidade em idosos internados em unidade de O papel das alterações do ventrículo direito como terapia intensiva58. preditor de mortalidade no choque séptico permanece mais obscuro, com estudos conflitantes em relação à fração de ejeção inicial do mesmo. Conclusão Parker et al. 13 apontam para baixas frações de ejeção inicial nos sobreviventes, enquanto que As alterações cardiovasculares descritas na sepse Vincent et al.14 sugerem que os mesmos apresentam são o resultado da disfunção celular e de um altas frações de ejeção. A persistência de disfunção aumento do metabolismo, estando implicados tanto sistólica ventricular direita se associa com os mediadores externos como as endotoxinas, prognóstico ruim, porém parece que o quanto endógenos como as citocinas, das quais se comportamento dos dois ventrículos é similar com destacam o fator de necrose tumoral alfa (TNFα), dilatação e retorno aos níveis iniciais nos as interleucinas beta-1 e 6 (IL-B1 e IL-B6), e o óxido sobreviventes. nítrico.
  • 6. 432 Vol 19 No 5 Estudos recentes sugerem que a depressão 14. Vincent JL, Reuse N, Frank N, et al. Right ventricular miocárdica secundária à sepse possa refletir um dysfunction in septic shock: Assessment by processo de hibernação como ocorre na isquemia measurements of right ventricular ejection fraction miocárdica com dessensibilização dos receptores using thermodilution technique. Acta Anesthesiol β adrenérgicos, abrindo uma nova perspectiva Scand. 1989;33:34-38. para o tratamento dessa importante disfunção 15. Tadashi M, Shuji S, Hiroharu M. Right ventricular que na atualidade se restringe à ressuscitação dysfunction in septic patients. Crit Care Med. volêmica e ao suporte inotrópico. 1992;20:630-34. 16. Brinker JA, Wess I, Lapp DL, et al. Leftward septal displacement during right ventricular loading in man. Referências Circulation. 1980;61:626-33. 17. Natanson C, Fink MP, Ballantyne HK, et al. Gram 1. Parker MM. 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  • 7. Revista da SOCERJ - set/out 2006 433 29. Hosenpud JD, Campbell SM, Mendelson DJ. 44. Jafri SM, Lavine S, Field BE, et al. Left ventricular Interleukin-1 induced myocardial depression in an diastolic function in sepsis. Crit Care Med. isolated beating heart preparation. J Heart Transplant. 1990;18:709-14. 1989;8:460-64. 45. Munt B, Jue J, Gin K, et al. Diastolic filling in human 30. Fisher Jr CJ, Dhainaut JF, Opal SM, et al. Recombinant severe sepsis: An echocardiographic study. Crit Care human IL-1 receptor antagonist in the treatment of Med. 1998;26:1829-833. patients with the sepsis syndrome: results from a 46. Zhou M, Wang P, Chaundry IH. Cardiac contractility randomized, double blind placebo controlled trial. and structure are not significantly compromised even JAMA. 1994;271:1836-843. during the late, hypodynamic stage of sepsis. Shock. 31. Fisher Jr CJ, Slotner GJ, Opal SM, et al. Initial 1998;5:352-58. evaluation of human recombinant IL-1 receptor 47. 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