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Crise dos HU’s e a EBSERH
Desde a metade dos anos 90, existe um debate, oriundo do Ministério da Educação e de
alguns “especialistas em gestão da saúde”, de que os Hospitais Universitários estão em
uma crise e que é necessário mudar radicalmente o formato da sua gestão. Sendo assim,
é necessário fazer um histórico da origem desta “crise” e as propostas dos trabalhadores
e usuários do SUS para que isto seja superado.

Origem dos HU’s
Até a década de 80, os hospitais universitários tinham a única missão de serem
hospitais-escola. O foco do atendimento eram as pessoas que não eram credenciadas no
INAMPS (Instituto Nacional de Medicina e Previdência Social). Nesta época, só
aqueles que tinham carteira-assinada eram atendidos pelo INAMPS.

A partir da luta do movimento pela reforma sanitária, que foi gerar a criação do SUS
(Sistema Único de Saúde) na Constituição de 1988, que criou a idéia de que “todos são
iguais perante a lei”, os HU’s passam a integrar a rede SUS. Neste momento, eles
passam a ter missão de hospital de ensino e assistência e a função é ser referência em
assistência secundária e terciária para o SUS.

O financiamento do Hospital de Clínicas da UFPR seria feito então por 4 partes. Cada
procedimento ali executado deveria ser assim financiado: o recurso humano pago pelo
Ministério da Educação, a estrutura do hospital paga pelo Ministério da Saúde, a
pesquisa embutida naquele procedimento paga pelo Ministério de Ciência e Tecnologia
e o procedimento em si pago pela prefeitura (com dinheiro que é recebido do Ministério
da Saúde).
Porém, esse financiamento vai ser quebrado em diversos pontos:
1) Em 1996, é congelado os valores da tabela de procedimentos do SUS. Hoje, a cada
R$2 gasto, apenas R$1 é ressarcido, em média;

2) A falta de concurso público para contratação, pelo MEC, dos recursos humanos vai
gerar uma enorme terceirização. Os custos da terceirização são pagos pelo dinheiro que
deveria ser usado na estrutura. Segundo Arquimedes Ciloni, ex-presidente da
ANDIFES, quase 45% do financiamento é usado para pagamento de pessoal
terceirizado (celetista) e são necessárias 5 mil novas vagas para quadro técnico-
administrativo;

3) Com a diminuição do financiamento via governo federal, os Hospitais buscam mais
dinheiro via SUS, assumindo para isso metas impossíveis de serem cumpridas. Começa
também a busca de financiamento através de doações (Amigos do HC, conta de luz,
etc.) e demais fontes de financiamento não-estatais.

Desta forma, fica evidente que nos últimos anos, com a crise da falta de financiamento
do SUS, os HU’s, por conta da sua grande capacidade e qualidade, ficaram
sobrecarregados. Assim, a crise colocada é uma crise de financiamento e de uma grande
dívida acumulada por estes hospitais. Para a ANDIFES, a dívida dos hospitais seria, em
2003, de R$303 milhões e, para o MEC/MS, seria de R$230 milhões.

Segundo a ANDIFES, em outubro de 2007 os Hospitais vivem uma situação de
“equilíbrio estável” com a dívida chegando a R$440 milhões. É sempre válido lembrar
que em 2007 os gastos governamentais com a dívida pública, externa e interna, foram
de R$237 bilhões. No mesmo ano, o investimento em saúde foi de R$40 bilhões.

Ainda assim, os Hospitais Universitários, que representam 2,3% dos hospitais,
respondem por 10% dos leitos e 12% das internações.

Por conta da dívida e do quadro acima apresentado, hoje os Hospitais Universitários
apresentam: quadro de servidores insuficientes, fechamento de leitos e serviços,
sucateamento, contratação de pessoal via fundação de apoio (terceirizados,
quarteirizados e estagiários) e a subutilização da capacidade instalada para alta
complexidade.

Propostas “alternativas”
Diante deste quadro problemático, é quase consenso entre trabalhadores e gestores que é
necessário mudar a situação atual. Porém, as propostas dos gestores vêm basicamente
exigir que haja flexibilidade para captar recursos onde for possível e necessário, mesmo
que isso “seja caro ao SUS”. Um exemplo foi a proposta feita no ano de 2001, que
previa a venda de 25% dos leitos dos hospitais universitários. Esta privatização geraria
ainda mais sucateamento para as áreas do hospital que continuassem públicas. A
proposta foi barrada depois de uma greve de mais de 100 dias, organizada por
trabalhadores técnico-administrativos, estudantes e docentes.

Há também, por parte do MEC, o discurso que o Ministério da Educação não poderia
custear o que seria a parte assistencial dos HUs. Porém, esse argumento falha em
concretude, visto que é impossível separar o momento do ensino e da assistência dentro
dos hospitais universitários. Também é um argumento perigoso, visto que pode servir
para acabar com o serviços de “escritório modelo”, “TVs universitárias”, entre outros.

Ainda em 2007, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) havia
lançado a proposta de Fundação Estatal de Direito Privado, que foi bastante rechaçada
por movimentos sociais e sindicatos, rejeitada na Conferência Nacional de Saúde e em
diversos Conselhos Universitários e que teve sua constitucionalidade contestada.

Empresa Pública – EBSERH
Dentro da lógica de atacar “problemas de gestão” e de tirar a responsabilidade direta do
Estado brasileiro sobre os serviços de saúde, em 31/12/2010 é editada a Medida
Provisória 520/10, criando a EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.
Essa MP significa o fim do modelo de Hospitais Universitários como temos hoje.

Veja como ela prejudica os diferentes setores do HU:
Trabalhadores do SUS: a proposta de contratação via CLT (regime privado) é
prejudicial aos trabalhadores por conta da precariedade deste contrato e da instabilidade
do contrato. Longe de garantir qualidade, esse sistema permite alta rotatividade de
funcionários, que é claramente prejudicial ao serviço e caro ao serviço público, já que
há todo momento são necessários novos treinamentos.

Usuários do SUS: uma proposta que pode gerar leitos privados dentro de um hospital
público é claramente prejudicial aos usuários do SUS, já que acarretaria ainda mais
demora nos procedimentos que o hospital realiza. Vale lembrar que o modelo de HU
para o Governo Federal é o HCPA (Porto Alegre), que tem 34 convênios particulares
em sua estrutura. Teríamos a situação das “duas portas”: uma dos convênios privados,
onde o atendimento é rápido e outra porta do SUS, sucateada e demorada.

Estudantes da área da saúde: um prejuízo imediato seria, devido a falta de funcionários,
um aumento da exploração dos estudantes e residentes da área. Isso hoje já ocorre e
fruto disso foram duas greves de residentes nos últimos anos, que denunciavam jornadas
de até 80 horas semanais. Além disso, a desvinculação tiraria dos estudantes um ótimo
campo de estudo: ao terem de estabelecerem “contratos de gestão” com universidades,
os hospitais poderiam estabelecer melhores contratos com universidades particulares,
deixando os estudantes das universidades federais a “ver navios”.

Propostas
Fica claro então que não existe solução milagrosa para a atual crise dos Hospitais
Universitários. É preciso muito mais do que simplesmente mudar o “ente jurídico” e o
modelo de gestão atual.

É fundamental que seja garantido um maior financiamento público para os Hospitais e
necessário que os demais prestadores da rede de saúde sejam fortalecidos, para que não
haja sobrecarga em cima dos Hospitais Universitários.

Neste momento, é preciso que os setores historicamente incluídos na defesa do SUS
estejam de novo lado a lado, tanto para rejeitarem as atuais propostas governamentais
como também para formular soluções e proposições ao atual sistema, que se encontra
sim num momento de crise.

Por Bernardo Pilotto – Sociólogo, trabalhador do HC/UFPR e diretor do Sinditest/PR.

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Crise dos h us.pilotto

  • 1. Crise dos HU’s e a EBSERH Desde a metade dos anos 90, existe um debate, oriundo do Ministério da Educação e de alguns “especialistas em gestão da saúde”, de que os Hospitais Universitários estão em uma crise e que é necessário mudar radicalmente o formato da sua gestão. Sendo assim, é necessário fazer um histórico da origem desta “crise” e as propostas dos trabalhadores e usuários do SUS para que isto seja superado. Origem dos HU’s Até a década de 80, os hospitais universitários tinham a única missão de serem hospitais-escola. O foco do atendimento eram as pessoas que não eram credenciadas no INAMPS (Instituto Nacional de Medicina e Previdência Social). Nesta época, só aqueles que tinham carteira-assinada eram atendidos pelo INAMPS. A partir da luta do movimento pela reforma sanitária, que foi gerar a criação do SUS (Sistema Único de Saúde) na Constituição de 1988, que criou a idéia de que “todos são iguais perante a lei”, os HU’s passam a integrar a rede SUS. Neste momento, eles passam a ter missão de hospital de ensino e assistência e a função é ser referência em assistência secundária e terciária para o SUS. O financiamento do Hospital de Clínicas da UFPR seria feito então por 4 partes. Cada procedimento ali executado deveria ser assim financiado: o recurso humano pago pelo Ministério da Educação, a estrutura do hospital paga pelo Ministério da Saúde, a pesquisa embutida naquele procedimento paga pelo Ministério de Ciência e Tecnologia e o procedimento em si pago pela prefeitura (com dinheiro que é recebido do Ministério da Saúde). Porém, esse financiamento vai ser quebrado em diversos pontos: 1) Em 1996, é congelado os valores da tabela de procedimentos do SUS. Hoje, a cada R$2 gasto, apenas R$1 é ressarcido, em média; 2) A falta de concurso público para contratação, pelo MEC, dos recursos humanos vai gerar uma enorme terceirização. Os custos da terceirização são pagos pelo dinheiro que deveria ser usado na estrutura. Segundo Arquimedes Ciloni, ex-presidente da ANDIFES, quase 45% do financiamento é usado para pagamento de pessoal terceirizado (celetista) e são necessárias 5 mil novas vagas para quadro técnico- administrativo; 3) Com a diminuição do financiamento via governo federal, os Hospitais buscam mais dinheiro via SUS, assumindo para isso metas impossíveis de serem cumpridas. Começa também a busca de financiamento através de doações (Amigos do HC, conta de luz, etc.) e demais fontes de financiamento não-estatais. Desta forma, fica evidente que nos últimos anos, com a crise da falta de financiamento do SUS, os HU’s, por conta da sua grande capacidade e qualidade, ficaram sobrecarregados. Assim, a crise colocada é uma crise de financiamento e de uma grande dívida acumulada por estes hospitais. Para a ANDIFES, a dívida dos hospitais seria, em 2003, de R$303 milhões e, para o MEC/MS, seria de R$230 milhões. Segundo a ANDIFES, em outubro de 2007 os Hospitais vivem uma situação de “equilíbrio estável” com a dívida chegando a R$440 milhões. É sempre válido lembrar
  • 2. que em 2007 os gastos governamentais com a dívida pública, externa e interna, foram de R$237 bilhões. No mesmo ano, o investimento em saúde foi de R$40 bilhões. Ainda assim, os Hospitais Universitários, que representam 2,3% dos hospitais, respondem por 10% dos leitos e 12% das internações. Por conta da dívida e do quadro acima apresentado, hoje os Hospitais Universitários apresentam: quadro de servidores insuficientes, fechamento de leitos e serviços, sucateamento, contratação de pessoal via fundação de apoio (terceirizados, quarteirizados e estagiários) e a subutilização da capacidade instalada para alta complexidade. Propostas “alternativas” Diante deste quadro problemático, é quase consenso entre trabalhadores e gestores que é necessário mudar a situação atual. Porém, as propostas dos gestores vêm basicamente exigir que haja flexibilidade para captar recursos onde for possível e necessário, mesmo que isso “seja caro ao SUS”. Um exemplo foi a proposta feita no ano de 2001, que previa a venda de 25% dos leitos dos hospitais universitários. Esta privatização geraria ainda mais sucateamento para as áreas do hospital que continuassem públicas. A proposta foi barrada depois de uma greve de mais de 100 dias, organizada por trabalhadores técnico-administrativos, estudantes e docentes. Há também, por parte do MEC, o discurso que o Ministério da Educação não poderia custear o que seria a parte assistencial dos HUs. Porém, esse argumento falha em concretude, visto que é impossível separar o momento do ensino e da assistência dentro dos hospitais universitários. Também é um argumento perigoso, visto que pode servir para acabar com o serviços de “escritório modelo”, “TVs universitárias”, entre outros. Ainda em 2007, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) havia lançado a proposta de Fundação Estatal de Direito Privado, que foi bastante rechaçada por movimentos sociais e sindicatos, rejeitada na Conferência Nacional de Saúde e em diversos Conselhos Universitários e que teve sua constitucionalidade contestada. Empresa Pública – EBSERH Dentro da lógica de atacar “problemas de gestão” e de tirar a responsabilidade direta do Estado brasileiro sobre os serviços de saúde, em 31/12/2010 é editada a Medida Provisória 520/10, criando a EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Essa MP significa o fim do modelo de Hospitais Universitários como temos hoje. Veja como ela prejudica os diferentes setores do HU: Trabalhadores do SUS: a proposta de contratação via CLT (regime privado) é prejudicial aos trabalhadores por conta da precariedade deste contrato e da instabilidade do contrato. Longe de garantir qualidade, esse sistema permite alta rotatividade de funcionários, que é claramente prejudicial ao serviço e caro ao serviço público, já que há todo momento são necessários novos treinamentos. Usuários do SUS: uma proposta que pode gerar leitos privados dentro de um hospital público é claramente prejudicial aos usuários do SUS, já que acarretaria ainda mais demora nos procedimentos que o hospital realiza. Vale lembrar que o modelo de HU para o Governo Federal é o HCPA (Porto Alegre), que tem 34 convênios particulares
  • 3. em sua estrutura. Teríamos a situação das “duas portas”: uma dos convênios privados, onde o atendimento é rápido e outra porta do SUS, sucateada e demorada. Estudantes da área da saúde: um prejuízo imediato seria, devido a falta de funcionários, um aumento da exploração dos estudantes e residentes da área. Isso hoje já ocorre e fruto disso foram duas greves de residentes nos últimos anos, que denunciavam jornadas de até 80 horas semanais. Além disso, a desvinculação tiraria dos estudantes um ótimo campo de estudo: ao terem de estabelecerem “contratos de gestão” com universidades, os hospitais poderiam estabelecer melhores contratos com universidades particulares, deixando os estudantes das universidades federais a “ver navios”. Propostas Fica claro então que não existe solução milagrosa para a atual crise dos Hospitais Universitários. É preciso muito mais do que simplesmente mudar o “ente jurídico” e o modelo de gestão atual. É fundamental que seja garantido um maior financiamento público para os Hospitais e necessário que os demais prestadores da rede de saúde sejam fortalecidos, para que não haja sobrecarga em cima dos Hospitais Universitários. Neste momento, é preciso que os setores historicamente incluídos na defesa do SUS estejam de novo lado a lado, tanto para rejeitarem as atuais propostas governamentais como também para formular soluções e proposições ao atual sistema, que se encontra sim num momento de crise. Por Bernardo Pilotto – Sociólogo, trabalhador do HC/UFPR e diretor do Sinditest/PR.