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FUNDOS DE PENSÃO - MAIO/JUNHO 2013
Entrevista
Filipe Cerqueira Caldas
Em 2013, o investidor
institucional brasileiro será
mais forte em private equity
F
rente à necessária diversifi-
cação de carteiras de inves-
timento dos fundos de pen-
são brasileiros, os fundos de
private equity têm atraído atenção
como alternativa atraente de retor-
no, ainda que com acesso restrito à
liquidez e, em alguns casos, com a
vantagem adicional de oferecer me-
nor volatilidade do que a da renda
variável. Enquanto os investido-
res internacionais, que movimenta-
ram os negócios de private equity
no Brasil entre 2010 e 2011 come-
çam a dirigir seu olhar para outros
mercados latino-americanos, em
um movimento cíclico de alocação
de recursos, a expectativa é de que
os institucionais locais reforcem seu
aprendizado para sofisticar carteiras
e estratégias nessa classe de ativos,
segundo análise do gestor Filipe
Cerqueira Caldas, vice-presiden-
te do departamento de Relationship
da Hamilton Lane, membro do
Comitê de Investimentos Brasil e do
Comitê de Investimentos do Fundo
Hamilton Lane Brasil.
6
FUNDOS DE PENSÃO - MAIO/JUNHO 2013
ENTREVISTA|FilipeC.Caldas
A alternativa de investir em
private equity tem ocupado
um espaço crescente nas
discussões sobre políticas
de investimento dos fundos
de pensão brasileiros. Quais
seriam, atualmente, os fatores
de atratividade do private equity
em relação à renda variável?
Filipe - Os indicadores macroeconômicos mos-
tram que a desaceleração registrada em 2012 ten-
de a continuar em 2013, mas se o mercado acioná-
rio sente um impacto desfavorável por conta disso,
as operações de private equity, ao contrário, devem
sofrer um impacto relativamente positivo porque
será possível adquirir ativos a preços mais atrativos
e com menor concorrência. Na verdade há também
outro aspecto positivo em momentos de economia
desacelerada que é a possibilidade de avaliar me-
lhor a gestão. Quando a maré está a encher todos
ganham e às vezes fica difícil identificar se a gestão
do private equity realmente agregou valor, mas, na
baixa da maré é possível enxergar melhor os resul-
tados nesse tipo de mercado. Historicamente, em
momentos difíceis da economia os investimentos
nesse mercado foram muito bem. Se olharmos os
resultados de private equity de acordo com as sa-
fras, os anos de crise foram justamente os que pro-
duziram melhores retornos em comparação com
os períodos de crescimento. Além disso, histori-
camente também está comprovado que essa clas-
se de ativos tem um desempenho cerca de 5% su-
perior à da renda variável. Entre outros fatores, por
lidar com empresas de capital fechado, a gestão do
private equity costuma ter um controle maior so-
bre o investimento do que acontece na renda vari-
ável. A desempenho, eu diria, é o principal atrati-
vo do private equity, além de sua volatilidade, que
é menor do que a da renda variável. Ao analisar o
mercado dos Estados Unidos vemos que o índice
S&P 500 demonstra sua volatilidade através de pi-
cos e baixas ocorridos principalmente nos últimos
dois-três anos. O desvio padrão do índice de bolsa
americano atingiu 21,0% enquanto que os merca-
dos de private equity americano de grandes empre-
sas e pequenas/médias empresas tiveram desvios
padrão de 13,0% e 9,4%, respectivamente.
Por outro lado, o fator mais relevante para não
investir em private equity é o seu acesso limitado
à liquidez, com prazos em torno de dez anos, mas
para investidores de longo prazo não é um proble-
ma ter uma carteira menos líquida desde que ela
ofereça retorno superior ao de outros segmentos
do mercado.
Quais são os principais vetores
para o investimento em
private equity no atual cenário
econômico e quais os setores
que mais mobilizam a atenção
de gestores e investidores?
Filipe - Com a redução do juro, o apetite dos
investidores cresce em direção a outras alternati-
vas de alocação de recursos. A expectativa é de
que cresçam os volumes de investimentos prin-
cipalmente aqueles destinados aos projetos que
seguem algumas teses específicas do Brasil nes-
te momento. Nós gostamos muito de três teses de
investimentos no país: o aproveitamento de seus
recursos naturais, extensos e capazes de aten-
der à grande demanda mundial por produtos li-
gados à mineração, energia, petróleo e gás, entre
outros, até porque entendemos que o Brasil está
muito bem posicionado para capitalizar a deman-
da global nesses setores. A segunda tese é a do
crescimento da classe média no país e, por con-
sequência, a expansão do consumo básico, não
de produtos de luxo, mas de setores que continu-
arão sendo necessários em qualquer cenário eco-
nômico, como alimentos e outros. A terceira tese
na verdade está ligada à segunda. Até 2020 as pro-
jeções mostram que 70% da população brasilei-
ra estará no mercado de trabalho, repetindo o que
aconteceu no mercado dos Estados Unidos algu-
mas décadas atrás, então esse é um potencial de
consumo importante para ser explorado nas car-
teiras dos fundos.
O aspecto da governança, com
a participação dos investidores
nos comitês de investimento dos
fundos de private equity, já é
uma questão melhor solucionada
no mercado brasileiro ou
7
FUNDOS DE PENSÃO - MAIO/JUNHO 2013
Entrevista
ainda há dificuldades em atrair
investidores por conta disso?
Filipe -Algumas fundações já anunciaram clara-
mente que não querem participar dos comitês de in-
vestimento e em nossos contatos vimos que há um
interesse inclusive em acabar com esses comitês e
transformá-los em conselhos consultivos porque os
investidores já perceberam que não faz muito senti-
do. Se o investidor, como membro do comitê, apro-
var uma decisão de investimento ele também será
responsável por ela e não poderá cobrar do gestor se
as coisas não derem certo mais adiante, então essa
questão da responsabilidade tem sido fundamen-
tal para mudar a exigência de participar dos comi-
tês. Além disso, há o aspecto da logística interna dos
fundos de pensão, principalmente daqueles de mé-
dio porte, porque à medida que crescem as carteiras
fica mais difícil acompanhar todos os investimentos
no comitê. Acreditamos que a tendência natural será
transformar gradualmente os comitês em conselhos.
Do ponto de vista dos investidores
globais, de que modo a crise tem
afetado seu apetite pelo mercado
brasileiro nessa classe de ativos?
Filipe - Em 2010 e 2011 houve uma grande de-
manda por private equity no Brasil, com uma de-
saceleração em 2012 e este ano estamos esperando
que desacelere ainda mais, porém esse comporta-
mento está ligado a um movimento natural de sa-
fras de investimento, são ciclos que são iniciados e
retomados constantemente. No momento o grande
foco dos investidores internacionais pela América
Latina está no Peru, Colômbia e México, mas a
expectativa é de que dentro de dois anos, obede-
cendo ao ciclo de safras, esse capital retornará ao
Brasil. Outro aspecto que está reduzindo o apetite
pelo Brasil é a retomada do interesse dos investi-
dores pelo mercado dos Estados Unidos, que vol-
tou a crescer muito com as descobertas de grandes
depósitos de gás. Em 2013, em compensação, o in-
vestidor institucional brasileiro será mais forte nes-
se tipo de ativo.
A diversificação geográfica
dos investimentos e, ao mesmo
tempo, o desenvolvimento de
uma demanda dos investidores
por nichos específicos de
mercado são tendências claras.
De que modo essas tendências
podem ser traduzidas no
mercado brasileiro atualmente?
Filipe - As carteiras de investimento de private
equity permitem uma diversificação global que é
um movimento natural, à medida que o investidor
institucional se torna mais sofisticado nessa classe
de ativos ele vai buscar a diversificação em outras
partes do mundo. O que está ocorrendo atualmen-
te é uma mudança importante porque as estratégias
de investimentos em fundos estão tomando cami-
nhos opostos. Por um lado, os gestores expandem
sua presença geograficamente, para capitalizar nas
regiões do mundo que têm maior crescimento do
PIB, competição limitada ou onde há talento nas
áreas operacional e de gestão.Ao mesmo tempo em
que eles estão se tornando globais também ficam
mais focados, seja por região ou indústria, e está
havendo uma forte especialização por setores. Há
oportunidades de negócios para capitalizar empre-
sas de serviços financeiros no Rio de Janeiro, de
varejo no Nordeste, de software em Santa Catarina
e assim por diante. o que representa maior com-
plexidade para essa classe de ativos e mais opções
para os investidores tanto por região como por es-
tratégia e tamanho.
Esse aumento do leque
de oportunidades e
diversificação também
significa maior complexidade
para montar as carteiras?
Filipe - Isso representa maior complexidade
para essa classe de ativos e mais opções para os
investidores tanto por região como por estratégia
e tamanho. Precisamos lembrar, também, que um
bom portifólio de private equity deve superar o re-
torno de renda variável e ser autofinanciável, mas
para isso ele precisa ser diversificado com muito
cuidado, de forma meticulosa e vai levar tempo.
Com o aumento das opções de investimento, talvez
leve mais tempo para fazer isso do que acontecia há
8
FUNDOS DE PENSÃO - MAIO/JUNHO 2013
ENTREVISTA|FilipeC.Caldas
dez anos, mas os dados mostram que uma carteira de
private equity bem diversificada pode gerar retornos
mais atraentes do que os de renda variável, oferecer
liquidez e compensar o custo dessa classe de ativos.
Uma das principais preocupações
dos investidores está ligada à
melhor forma de amenizar o efeito
da curva J e mitigar o fluxo de
caixa negativo nos primeiros anos
de investimento. Como isso pode
ser feito de maneira a produzir um
impacto mais suave no caso das
carteiras dos fundos de pensão?
Filipe - Esse é um dos grandes problemas por-
que os fundos de pensão no Brasil concentram seus
negócios no mercado primário e não combinam isso
com as operações de secundários e coinvestimen-
tos. Nós consideramos ideal combinar os três tipos
de mercados porque a curva dos secundários é inver-
sa à dos primários, então se forem adicionadas cotas
de um investidor já existente, isso permitirá obter li-
quidez mais rapidamente e, conforme as compras de
secundários ocorrem durante o ciclo de vida do fun-
do, o impacto das taxas de administração também
será reduzido, enquanto o tempo da atividade de dis-
tribuição é acelerado. Eu gosto de comparar o in-
vestimento no mercado primário à navegação de um
super petroleiro porque os fundos fechados não con-
seguem mobilidade para manejar o efeito da curva J.
Quando se combina isso com os secundários e coin-
vestimentos, é possível contar com a participação de
dois barquinhos auxiliares que ajudam a navegar pe-
los diferentes ciclos do mercado e o gestor pode de-
cidir mudar o rumo da carteira de modo a eliminar o
efeito da curva J. Eu acredito que grande parte des-
sa dificuldade no Brasil ainda acontece porque as
fundações têm estratégias de private equity que são
mais reativas do que proativas e para ter mercado se-
cundário é preciso montar um time de originação.	■
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Revista Fundos de Pensão - Entrevista Filipe Cerqueira Caldas

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  • 3. 5 FUNDOS DE PENSÃO - MAIO/JUNHO 2013 Entrevista Filipe Cerqueira Caldas Em 2013, o investidor institucional brasileiro será mais forte em private equity F rente à necessária diversifi- cação de carteiras de inves- timento dos fundos de pen- são brasileiros, os fundos de private equity têm atraído atenção como alternativa atraente de retor- no, ainda que com acesso restrito à liquidez e, em alguns casos, com a vantagem adicional de oferecer me- nor volatilidade do que a da renda variável. Enquanto os investido- res internacionais, que movimenta- ram os negócios de private equity no Brasil entre 2010 e 2011 come- çam a dirigir seu olhar para outros mercados latino-americanos, em um movimento cíclico de alocação de recursos, a expectativa é de que os institucionais locais reforcem seu aprendizado para sofisticar carteiras e estratégias nessa classe de ativos, segundo análise do gestor Filipe Cerqueira Caldas, vice-presiden- te do departamento de Relationship da Hamilton Lane, membro do Comitê de Investimentos Brasil e do Comitê de Investimentos do Fundo Hamilton Lane Brasil.
  • 4. 6 FUNDOS DE PENSÃO - MAIO/JUNHO 2013 ENTREVISTA|FilipeC.Caldas A alternativa de investir em private equity tem ocupado um espaço crescente nas discussões sobre políticas de investimento dos fundos de pensão brasileiros. Quais seriam, atualmente, os fatores de atratividade do private equity em relação à renda variável? Filipe - Os indicadores macroeconômicos mos- tram que a desaceleração registrada em 2012 ten- de a continuar em 2013, mas se o mercado acioná- rio sente um impacto desfavorável por conta disso, as operações de private equity, ao contrário, devem sofrer um impacto relativamente positivo porque será possível adquirir ativos a preços mais atrativos e com menor concorrência. Na verdade há também outro aspecto positivo em momentos de economia desacelerada que é a possibilidade de avaliar me- lhor a gestão. Quando a maré está a encher todos ganham e às vezes fica difícil identificar se a gestão do private equity realmente agregou valor, mas, na baixa da maré é possível enxergar melhor os resul- tados nesse tipo de mercado. Historicamente, em momentos difíceis da economia os investimentos nesse mercado foram muito bem. Se olharmos os resultados de private equity de acordo com as sa- fras, os anos de crise foram justamente os que pro- duziram melhores retornos em comparação com os períodos de crescimento. Além disso, histori- camente também está comprovado que essa clas- se de ativos tem um desempenho cerca de 5% su- perior à da renda variável. Entre outros fatores, por lidar com empresas de capital fechado, a gestão do private equity costuma ter um controle maior so- bre o investimento do que acontece na renda vari- ável. A desempenho, eu diria, é o principal atrati- vo do private equity, além de sua volatilidade, que é menor do que a da renda variável. Ao analisar o mercado dos Estados Unidos vemos que o índice S&P 500 demonstra sua volatilidade através de pi- cos e baixas ocorridos principalmente nos últimos dois-três anos. O desvio padrão do índice de bolsa americano atingiu 21,0% enquanto que os merca- dos de private equity americano de grandes empre- sas e pequenas/médias empresas tiveram desvios padrão de 13,0% e 9,4%, respectivamente. Por outro lado, o fator mais relevante para não investir em private equity é o seu acesso limitado à liquidez, com prazos em torno de dez anos, mas para investidores de longo prazo não é um proble- ma ter uma carteira menos líquida desde que ela ofereça retorno superior ao de outros segmentos do mercado. Quais são os principais vetores para o investimento em private equity no atual cenário econômico e quais os setores que mais mobilizam a atenção de gestores e investidores? Filipe - Com a redução do juro, o apetite dos investidores cresce em direção a outras alternati- vas de alocação de recursos. A expectativa é de que cresçam os volumes de investimentos prin- cipalmente aqueles destinados aos projetos que seguem algumas teses específicas do Brasil nes- te momento. Nós gostamos muito de três teses de investimentos no país: o aproveitamento de seus recursos naturais, extensos e capazes de aten- der à grande demanda mundial por produtos li- gados à mineração, energia, petróleo e gás, entre outros, até porque entendemos que o Brasil está muito bem posicionado para capitalizar a deman- da global nesses setores. A segunda tese é a do crescimento da classe média no país e, por con- sequência, a expansão do consumo básico, não de produtos de luxo, mas de setores que continu- arão sendo necessários em qualquer cenário eco- nômico, como alimentos e outros. A terceira tese na verdade está ligada à segunda. Até 2020 as pro- jeções mostram que 70% da população brasilei- ra estará no mercado de trabalho, repetindo o que aconteceu no mercado dos Estados Unidos algu- mas décadas atrás, então esse é um potencial de consumo importante para ser explorado nas car- teiras dos fundos. O aspecto da governança, com a participação dos investidores nos comitês de investimento dos fundos de private equity, já é uma questão melhor solucionada no mercado brasileiro ou
  • 5. 7 FUNDOS DE PENSÃO - MAIO/JUNHO 2013 Entrevista ainda há dificuldades em atrair investidores por conta disso? Filipe -Algumas fundações já anunciaram clara- mente que não querem participar dos comitês de in- vestimento e em nossos contatos vimos que há um interesse inclusive em acabar com esses comitês e transformá-los em conselhos consultivos porque os investidores já perceberam que não faz muito senti- do. Se o investidor, como membro do comitê, apro- var uma decisão de investimento ele também será responsável por ela e não poderá cobrar do gestor se as coisas não derem certo mais adiante, então essa questão da responsabilidade tem sido fundamen- tal para mudar a exigência de participar dos comi- tês. Além disso, há o aspecto da logística interna dos fundos de pensão, principalmente daqueles de mé- dio porte, porque à medida que crescem as carteiras fica mais difícil acompanhar todos os investimentos no comitê. Acreditamos que a tendência natural será transformar gradualmente os comitês em conselhos. Do ponto de vista dos investidores globais, de que modo a crise tem afetado seu apetite pelo mercado brasileiro nessa classe de ativos? Filipe - Em 2010 e 2011 houve uma grande de- manda por private equity no Brasil, com uma de- saceleração em 2012 e este ano estamos esperando que desacelere ainda mais, porém esse comporta- mento está ligado a um movimento natural de sa- fras de investimento, são ciclos que são iniciados e retomados constantemente. No momento o grande foco dos investidores internacionais pela América Latina está no Peru, Colômbia e México, mas a expectativa é de que dentro de dois anos, obede- cendo ao ciclo de safras, esse capital retornará ao Brasil. Outro aspecto que está reduzindo o apetite pelo Brasil é a retomada do interesse dos investi- dores pelo mercado dos Estados Unidos, que vol- tou a crescer muito com as descobertas de grandes depósitos de gás. Em 2013, em compensação, o in- vestidor institucional brasileiro será mais forte nes- se tipo de ativo. A diversificação geográfica dos investimentos e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento de uma demanda dos investidores por nichos específicos de mercado são tendências claras. De que modo essas tendências podem ser traduzidas no mercado brasileiro atualmente? Filipe - As carteiras de investimento de private equity permitem uma diversificação global que é um movimento natural, à medida que o investidor institucional se torna mais sofisticado nessa classe de ativos ele vai buscar a diversificação em outras partes do mundo. O que está ocorrendo atualmen- te é uma mudança importante porque as estratégias de investimentos em fundos estão tomando cami- nhos opostos. Por um lado, os gestores expandem sua presença geograficamente, para capitalizar nas regiões do mundo que têm maior crescimento do PIB, competição limitada ou onde há talento nas áreas operacional e de gestão.Ao mesmo tempo em que eles estão se tornando globais também ficam mais focados, seja por região ou indústria, e está havendo uma forte especialização por setores. Há oportunidades de negócios para capitalizar empre- sas de serviços financeiros no Rio de Janeiro, de varejo no Nordeste, de software em Santa Catarina e assim por diante. o que representa maior com- plexidade para essa classe de ativos e mais opções para os investidores tanto por região como por es- tratégia e tamanho. Esse aumento do leque de oportunidades e diversificação também significa maior complexidade para montar as carteiras? Filipe - Isso representa maior complexidade para essa classe de ativos e mais opções para os investidores tanto por região como por estratégia e tamanho. Precisamos lembrar, também, que um bom portifólio de private equity deve superar o re- torno de renda variável e ser autofinanciável, mas para isso ele precisa ser diversificado com muito cuidado, de forma meticulosa e vai levar tempo. Com o aumento das opções de investimento, talvez leve mais tempo para fazer isso do que acontecia há
  • 6. 8 FUNDOS DE PENSÃO - MAIO/JUNHO 2013 ENTREVISTA|FilipeC.Caldas dez anos, mas os dados mostram que uma carteira de private equity bem diversificada pode gerar retornos mais atraentes do que os de renda variável, oferecer liquidez e compensar o custo dessa classe de ativos. Uma das principais preocupações dos investidores está ligada à melhor forma de amenizar o efeito da curva J e mitigar o fluxo de caixa negativo nos primeiros anos de investimento. Como isso pode ser feito de maneira a produzir um impacto mais suave no caso das carteiras dos fundos de pensão? Filipe - Esse é um dos grandes problemas por- que os fundos de pensão no Brasil concentram seus negócios no mercado primário e não combinam isso com as operações de secundários e coinvestimen- tos. Nós consideramos ideal combinar os três tipos de mercados porque a curva dos secundários é inver- sa à dos primários, então se forem adicionadas cotas de um investidor já existente, isso permitirá obter li- quidez mais rapidamente e, conforme as compras de secundários ocorrem durante o ciclo de vida do fun- do, o impacto das taxas de administração também será reduzido, enquanto o tempo da atividade de dis- tribuição é acelerado. Eu gosto de comparar o in- vestimento no mercado primário à navegação de um super petroleiro porque os fundos fechados não con- seguem mobilidade para manejar o efeito da curva J. Quando se combina isso com os secundários e coin- vestimentos, é possível contar com a participação de dois barquinhos auxiliares que ajudam a navegar pe- los diferentes ciclos do mercado e o gestor pode de- cidir mudar o rumo da carteira de modo a eliminar o efeito da curva J. Eu acredito que grande parte des- sa dificuldade no Brasil ainda acontece porque as fundações têm estratégias de private equity que são mais reativas do que proativas e para ter mercado se- cundário é preciso montar um time de originação. ■ Anúncio Abrapp Atende