Este documento discute a proposta de criação de um Grupo de Trabalho de Formação Política na Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB) com o objetivo de: 1) Discutir a conjuntura da FEAB e seus objetivos; 2) Construir um Programa de Formação Política; 3) Propor espaços de formação política. O Grupo de Trabalho será coordenado pela Coordenação Nacional e contará com representantes das coordenações nacionais anteriores e outros interessados. Seu funcionamento se dará principalmente por me
1. Sauda ções Companheiros e Companheiras!
“Quando o ser humano compreende a sua realidade, pode
levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e
procurar soluções”
Sobre o Grupo de Trabalho em Formação Política da Federação dos Estudantes de
Agronomia do Brasil
Esse material visa iniciar o debate em torno da constituição do grupo de trabalho
de formação política de nossa federação, caracterizando-o, colocando suas demandas,
potencialidades e perspectivas. Não se propõe aqui se aprofundar em questões mais
complexas e específicas e sim fornecer elementos para que isso seja feito
posteriormente. Ou seja, é um texto que visa iniciar o debate, não findá-lo.
1. Problematização: a formação política dentro da FEAB
É conhecido que vivemos um momento de quase completa alienação da base
estudantil, fruto principalmente da dominação dos meios de comunicação e do sistema
educacional como um todo, incluindo aí a universidade. Nesse cenário observamos que o
nível de consciência de nossa base, do estudante comum de agronomia, é muito baixo. A
FEAB historicamente cumpriu e cumpre um fundamental trabalho que é o de se inserir no
conjunto de seus estudantes carregando as nossas bandeiras e luta e desafiando o
senso-comum dominante na universidade.
Portanto nos últimos anos experimentamos uma grande diminuição do nível de
consciência em geral, tanto na base quanto na militância. Foi parcialmente abandonado o
Plano Nacional de Formação – PNF, pela federação, entendendo que esse plano já não
cumpria com os desafios conjunturais e estruturais da federação. Ainda assim não houve
uma clara proposta da FEAB, seja das suas direções como dela como um todo, que
suplantasse o vácuo que deixou o PNF. A Coordenação Nacional de Montes
Claros/UFMG iniciou em conjunto com os companheiros da então Nacional da ABEEF,
Lavras/UFLA, um processo assessoria da companheira Roberta Transpadini, habitual
colaboradora na formação política do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra –
MST. O debate continuou após a posse de Aracaju/UFS enquanto coordenação nacional e
teve como principal fruto o Curso Nacional de Formação Política realizado na Escola
Nacional Florestan Fernandes – ENFF, em maio de 2009.
Esta assessoria auxiliou os então grupos de coordenação nacional a visualizar o
conjunto das executivas e entender a complexidade que é trabalhar a formação política no
movimento estudantil:
– Houve no passado uma realidade onde muitos dos estudantes da federação
estavam organizados dentro de um instrumento partidário, que fornecia a eles a
formação político-teórico. Atualmente vivemos um momento de baixa inserção
2. dos estudantes em partidos, o que ao mesmo tempo que dificulta a construção
política, sobrecarrega a demanda da FEAB por formação.
– Fomos então buscar nos companheiros que contribuem com a formação política
dos movimentos sociais da Via Campesina auxílio na construção de nossas
próprias ferramentas. O problema disso é que nossa dinâmica de movimento é
muito diferente da do movimento social: as gestões de coordenação nacional,
responsáveis por pensar a formação política e a executiva como um todo,
duram apenas um ano, enquanto nos m.s. ficam por muito mais tempo. Nossa
militância é transitória, ou seja é difícil que nossas lideranças se mantenham
por mais de dois, três anos dentro da federação, enquanto nos movimentos
sociais se mantêm por até mesmo décadas. Isso dificulta a construção de um
processo consolidado de formação política.
– Enquanto nos partidos e nos movimentos sociais se pensa a formação à longo
prazo, equacionando nisso pontos táticos e estratégicos, visando os objetivos
do instrumento político, como realizar essa formação dentro da diversidade da
FEAB é uma pergunta essencial. Isso considera também nossos objetivos, ou
seja, onde estamos hoje e onde queremos chegar enquanto organização,
sendo que o militante formado politicamente, consolidado e com o
entendimento da federação permanece pouco mais de um ou dois anos até se
formar.
Considerando essa problemática, é de se imaginar que uma Coordenação
Nacional, durante um ano, está extremamente aleijada para pensar um programa de
formação política. Pode ter sucesso em elaborar um curso pontual, algum espaço
reflexivo, porém terá grandes dificuldades em construir um processo contínuo e pensado
de formação política. Essa fragilidade se demonstra no fato de que todo esforço em
conjunto com a companheira Roberta Transpadini resultou em um curso de formação que
contrariamente as expectativas de seus organizadores, foi um fim nele mesmo. Essa
fragilidade também se demonstra no fato de que estamos desfalcados da companheira
que nos assessorou no passado por problemas pessoais da mesma.
O ideal então seria que tivéssemos uma direção com uma gestão de dois anos ou
mais, que pudesse pensar a organização com calma, com espaços de diálogos, etc. Isso
na nossa realidade é virtualmente impossível. Qual a alternativa então, de não se perder o
debate acumulado pelas antigas coordenações nacionais em torno da formação política?
Como fazer com que as futuras coordenações nacionais tenham consigo todo o
entendimento das anteriores, possível apenas com a dinâmica de pensar constantemente
a federação e suas demandas? Essas de fato são perguntas nada simples, mas que
temos que encarar como questão objetiva e necessária dentro da federação.
2. O Grupo de Trabalho
2.1 Proposta
A Coordenação Nacional de Curitiba, refletindo em torno disso trouxe para a FEAB
em sua plenária de superintendências de Lavras em setembro de 2009, a proposta da
constituição de um Grupo de Trabalho que se debruçasse em cima da questão da
formação política. Não se eximindo da responsabilidade de tocar esse processo enquanto
direção, os companheiros nos trouxeram que este grupo de trabalho poderia abrir
perspectivas interessantes, como aumentar a construção conjunta e participativa da
formação política, incluir as antigas coordenações nacionais com o seu acúmulo, ampliar
o debate para além da coordenação nacional, enriquecendo o mesmo. Também suprimos
o desafio da transitoriedade do movimento estudantil, já que esse Grupo de Trabalho irá
continuar a trabalhar ao longo dos anos, de acordo com o interesse da FEAB, com a
3. dinâmica de companheiros saindo e outros entrando, mas o debate sempre avançando e
se mantendo vivo.
2.2 Objetivo
Mais importante que a aprovação consensual dessa proposta é a consolidação da
mesma. Para isso deve-se pensar uma dinâmica de funcionamento para o grupo de
trabalho para que o mesmo tenha sucesso em sua empreitada. Porém ainda não
esclarecemos qual é essa empreitada, ou seja, qual é o objetivo do grupo de trabalho de
formação política?
O grupo não pode se limitar em ser apenas um fórum que discuta a federação e
suas demandas, apesar dessa reflexão ser importante. Não pode ser apenas uma reunião
de militantes sem um norte definido. Então coloquemos aqui quais são os objetivos dessa
nova ferramenta ainda em gestação:
a) Discutir a conjuntura da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil;
quais são nossos objetivos imediatos, táticos e estratégicos; quais são nossas debilidades
e potencialidades a ser exploradas; entender a federação como um todo;
b) Construir um Programa de Formação Política para a FEAB; analisar as últimas
experiências de formação política; quais os sucessos e quais os fracassos; correlacionar
a formação política aos nossos objetivos táticos e estratégicos;
c) Propor espaços de formação políticas para a FEAB; mesmo durante a
construção do Programa de formação, propor espaços que supram nossas necessidades
imediatas e constantes de formação política; dar subsídio a iniciativas locais e regionais
de formação;
d) Fornecer elaboração teórica sobre formação política e outros temas
correlacionados para a FEAB, na forma de cadernos de textos, de documentos isolados,
entre outros.
Claramente podemos ver que são objetivos de grande importância e difícil
concretização. Não podemos então cair em ilusões do tipo que o Grupo de Trabalho irá
suprir todas as nossas debilidades e angústias em torno da formação política e da FEAB
como um todo. Importante lembrar que o que determinará o tamanho do sucesso do
grupo de trabalho será o próprio grupo de trabalho. É uma ousadia com a qual devemos
ter o cuidado de não avaliar prematuramente nem condená-la com expectativas
demasiadas. Portanto, devemos procurar alcançar cada um dos pontos apresentados,
sem euforia que atropele o processo, nem fatalismos que nos impeçam de avançar.
2.3 Composição
Exposto os objetivos do nosso GT de Formação Política, passemos então para
como iremos conduzir os trabalhos do mesmo. Esse grupo deve ser centralizado pela
Coordenação Nacional, que coordenará e conduzirá as atividades do mesmo, envolvendo
o planejamento e a dinâmica de funcionamento. Isso se deve pois o grupo de
Coordenação Nacional está em constante contato com as bases da federação,
acompanhando sempre os espaços nacionais e regionais, além de estar presente nos
fóruns mais amplos que permitem analisar a conjuntura, como espaços da Via Campesina
e do Fórum de Executivas, por exemplo. A Coordenação Nacional irá dividir, de acordo
com as demandas e possibilidades essas tarefas com outros militantes.
Deverão compor o grupo, necessariamente um representante de cada CN anterior,
a ser indicado pelo próprio grupo de escola ou sugerido pela Coordenação Nacional. Isso
é de grande valor para que se enriqueçam as avaliações e se socializem experiências e
balanços de períodos anteriores. Somando-se as antigas coordenações nacionais,
deverão também outros grupos ou indivíduos que possam enriquecer o grupo de trabalho,
seja porque possui maturidade política, ou porque sente que deve contribuir com o grupo.
4. A inserção desses outros indivíduos fica sob responsabilidade da Coordenação Nacional.
2.4 Funcionamento.
Sabendo o que queremos e como iremos construir esse grupo de trabalho, temos
que agora pensar o seu funcionamento, dentro de todas as dificuldades que enfrentamos
dentro de nossa realidade de movimento estudantil, como nosso calendário, que
impossibilita por exemplo, encontros periódicos desse grupo. Incluindo nessa conta a
distância em que estamos nas mais diferentes escolas de agronomia espalhadas pelo
país fica difícil imaginar que esse grupo se reunirá com constância.
Ou seja, devemos pensar uma dinâmica de funcionamento para que o grupo
funcione mesmo com essas dificuldades. Temos que centrar nossa discussão nos meios
de comunicação disponíveis, como correio eletrônico, telefone, conversação via internet,
entre outros. Porém não se pode eximir na necessidade de se ter espaços onde nossa
militância se encontre fisicamente e discutir com maior propriedade e fluidez. A princípio,
aproveitar os espaços nacionais da FEAB já existentes é um possibilidade real. O primeiro
de fato irá acontecer no seminário de construção do CONEA em Santa Maria/UFSM.
A continuidade e frequência, além do envolvimento e apropriação das escolas, irá
determinar como será o funcionamento de fato, caso contrário, a formação política estará
fadada em se centralizar na coordenação nacional, de maneira descontínua e
precarizada.
“Só crescemos na ousadia”