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VALTER T. MOTTA
Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
Carboidratos
Volume
7
45
CARBOIDRATOS
s carboidratos são as fontes mais importantes
de energia do organismo. São poliidroxia l-
deídos ou poliidroxicetonas, ou ainda, substâncias
que por hidrólise formam aqueles compostos. São
classificados como: monossacarí dios, oligossaca-
rídios e polissacarídios.
Os monossacarídios são açúcares simples
constituídos por uma única unidade poliidroxia l-
deídica ou cetônica contendo 3 a 9 átomos de
carbono, sendo o principal combustível para a
maioria dos seres vivos. Os mais freqüentes no
homem são a glicose, frutose e galactose, todos
com seis átomos de carbono.
Os oligossacarídios são formados por ligações
glicosídicas de dois ou mais (até dez) monossaca-
rídios. Apesar da grande variedade de combin a-
ções possíveis, são três os mais importantes neste
contexto: maltose, composta de duas moléculas de
glicose; sacarose, formada por uma molécula de
glicose e uma de frutose; e lactose, constituída
por uma molécula de glicose e uma de galactose.
Os polissacarídios são carboidratos de elevada
massa molecular formados por mais de dez unid a-
des monossacarídicas. O amido (forma de armaze-
namento para a glicose nos vegetais) é o principal
polissacarídio da dieta. É constituído por uma
mistura de dois polissacarídios: amilose e amilo-
pectina. A amilose é composta por unidades repe-
titivas de glicose, unidas por ligações α-1,4 (ca-
deias lineares). A amilopectina é uma estrutura
ramificada que além dos laços α-1,4, possui liga-
ções α-1,6 nos pontos de ramificação. O glicogê-
nio é a mais importante forma de polissacarídio de
armazenamento para a glicose nos animais. Sua
estrutura é similar à amilopectina.
Os carboidratos da dieta fornecem a maior
parte das necessidades calóricas do organismo. A
dieta média é composta de amido, sacarose e la c-
tose. O glicogênio, maltose, glicose e frutose, pre -
sentes em certos alimentos, constituem uma fração
menor dos carboidratos ingeridos.
Antes da absorção dos carboidratos pelas cé-
lulas do intestino delgado, é essencial que os po-
lissacarídios e oligossacarídios sejam hidrolizados
em seus componentes monossacarídicos. Este
desdobramento ocorre seqüencialmente em dife-
rentes locais do sistema digestório por uma série
de enzimas.
O amido e o glicogênio são degradados pela
enzima α-amilase (salivar e pancreática) for-
mando maltose e isomaltose. Estes dois produtos
são hidrolizados em glicose por enzimas ligadas à
membrana da borda em escova intestinal: maltase
e isomaltase. Portanto, esta hidrólise ocorre na
superfície das células da mucosa intestinal. Outras
enzimas, que atuam na interface da luz e da cé-
lula, são: sacarase, que hidrolisa a sacarose em
glicose e frutose; a lactase, que fornece glicose e
galactose a partir da lactose.
Os principais monossacarídios obtidos por
hidrólise (glicose, frutose e galactose) são absor-
vidos do lúmem para as células e levados ao fí -
gado pelo sistema porta. A glicose no fígado é
metabolizada ou armazenada como glicogênio. O
fígado também libera glicose para a circulação
sistêmica, tornando-a disponível a todas as células
do organismo. A frutose e galactose são transfor-
madas em outros compostos de acordo com as
necessidades homeostáticas ou convertidas em
glicose, a forma usual de açúcar circulante.
A concentração de glicose no sangue é regu-
lada por uma complexa interrelação de muitas vias
e modulada por vários hormônios. A glicogênese é
a conversão de glicose a glicogênio, enquanto a
glicogenólise é o desdobramento do glicogênio em
glicose. A formação de glicose a partir de outras
fontes não-carboidratos, como aminoácidos, glice-
rol ou lactato, é chamada gliconeogênese. A con-
versão da glicose ou outras hexoses em lactato ou
O
46 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
piruvato é denominada glicólise. A oxidação total
da glicose em dióxido de carbono e água ocorre no
ciclo de Krebs (ciclo do ácido cítrico) e a cadeia
mitocondrial de transporte de elétrons acoplada a
fosforilação oxidativa, geram energia para formar
ATP (adenosina trifosfato). A glicose também é
oxidada em dióxido de carbono e água pela via
pentose fosfato, com a produção de NADPH ne-
cessário para as reações anabólicas do organismo.
Bibliografia consultada
CAMPBELL, M. K. Biochemistry. 3 ed. Philadelphia :
Saunders, 1999. p. 420-571.
LEHNINGER, A. L., NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios
de bioquímica. 2 ed. São Paulo : Sarvier, 1995. p. 297-
354.
STRYER, L. Bioquímica. 4 ed. Rio de Janeiro : Guana-
bara -Koogan, 1995. p. 437-570.
Carboidratos 47
47
GLICOSE, LACTATO E CETONAS
glicose é a aldohexose mais importante para a
manutenção energética do organismo:
Em condições normais, a glicose sangüínea
(glicemia) é mantida em teores apropriados por
meio de vários mecanismos regulatórios. Após
uma refeição contendo carboidratos, a elevação da
glicose circulante provoca:
§ Remoção pelo fígado de 70% da glicose trans-
portada via circulação porta. P arte da glicose é
oxidada e parte é convertida em glicogênio
para ser utilizada como combustível no jejum.
O excesso de glicose é parcialmente convertida
em ácidos graxos e triglicerídios incorporados
às VLDL (lipoproteínas de densidade muito
baixa) e transportados para os estoques do t e-
cido adiposo.
§ Liberação de insulina pelas células β do pân-
creas. Entre os tecidos insulino-dependentes
estão o tecido muscular, adiposo, diafragma,
aorta, hipófise anterior, glândulas mamárias e
lente dos olhos. Outras células, como aquelas
do fígado, cérebro, eritrócitos e nervos não ne-
cessitam insulina para a captação de glicose
(insulino independentes).
§ Aumento da captação da glicose pelos tecidos
periféricos.
§ Inibição da liberação do glucagônio.
§ Outros hormônios (adrenalina, hormônio de
crescimento, glicocorticóides, hormônios da t i-
reóide) e enzimas, além de vários mecanismos
de controle, também atuam na regulação da
glicemia.
Estas atividades metabólicas levam a redução
da glicemia em direção aos teores encontrados em
jejum. Quando os níveis de glicose no sangue em
jejum estão acima dos valores de referência, d e-
nomina-se hiperglicemia, quando abaixo destes
valores, hipoglicemia.
A glicose é normalmente filtrada pelos gromé-
rulos e quase totalmente reabsorvida pelos túbulos
renais. Entretanto, quando os teores sangüíneos
atingem a faixa de 160 a 180 mg/dL, a glicose
aparece na urina, o que é denominado glicosúria.
Em todas as células, a glicose é metabolizada
para produzir ATP e fornecer intermediários me-
tabólicos necessários em vários processos bio s-
sintéticos.
HIPERGLICEMIA
A causa mais freqüente de hiperglicemia é o dia-
betes mellitus, um estado de intolerância à glicose
e hiperglicemia em jejum resultante da ação d efi-
ciente da insulina. Apresenta, também, anormali-
dades no metabolismo dos carboidratos, proteínas
e lipídios.
Pacientes portadores de episódios hiperglic ê-
micos, quando não tratados, desenvolvem cetoaci-
dose ou coma hiperosmolar. Com o progresso da
doença aumenta o risco de desenvolver complic a-
ções crônicas características, tais como: retinopa-
tia, angiopatia, doença renal, neuropatia (câim-
bras, paresteses dos dedos dos pés, dor nos me m-
bros inferiores, neuropatia do nervo craniano),
proteinúria, infe cção, hiperlipemia e doença ate-
rosclerótica. Esta última pode resultar em ataque
cardíaco, gangrena ou enfermidade coronariana.
Os estados hiperglicêmicos são classificados:
A
O
H
HO
OH
H
CH2HO
H
H
H
OH
OH
Glicose
48 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
Diabetes mellitus tipo 1 (Imuno-mediado).
Este tipo compreende 5 -10% de todos os casos de
diabetes mellitus. Os sintomas são: poliúria, poli-
dipsia, polifagia, perda inexplicada de peso, irri-
tabilidade, infecção respiratória e desejo de bebi-
das doces. O aparecimento, em geral, é de forma
subaguda ou aguda em indivíduos com menos de
20 anos. Estes pacientes tem deficiência de insu-
lina e são dependentes da mesma para manter a
vida e prevenir cetoacidose. Quando não tratada,
surgem náuseas, vômitos, desidratação, estupor,
coma e, finalmente, a morte. O diabetes do tipo 1
é caracterizado pela destruição das células β do
pâncreas, levando a uma deficiência total de insu-
lina pancreática. Apresenta a presença de anticor-
pos anti-insulina, anti-ilhotas e anti-GAD (descar-
boxilase do ácido glutâmico). Além do mecanismo
auto-imune este diabetes pode ser idiopático.
Diabetes mellitus tipo 2. Ao redor de 80-90%
de todos os casos de diabetes correspondem a este
tipo. Ocorre, em geral, em indivíduos obesos com
mais de 40 anos, de forma lenta e com história
familiar de diabetes. Estes pacientes apresentam
sintomas moderados e não são dependentes de
insulina para prevenir cetonúria. Nestes casos os
níveis de insulina podem ser: normais, diminuídos
ou aumentados. É caracterizada pela relativa defi-
ciência pancreática, ou de predominante deficiê n-
cia pancreática com relativa resistência à ação
insulínica. Raramente apresenta cetoacidose dia-
bética
Outros tipos específicos de diabetes.
§ Defeitos genéticos das células β: MODY 1,
MODY 2, MODY 3 e outros. São formas raras
de diabetes tipo 2. (MODY = Maturity onset
type of diabetes of youth).
§ Defeitos genéticos da ação da insulina: diabe-
tes lipo-atrófico, leprechauismo, síndrome de
Rabson-Mendenhall, resistência à insulina A e
outros.
§ Doenças do pâncreas exócrino: pancreatites,
trauma/pancreatectomia, neoplasia, hemocro-
matose, pancreatopatia, fibrocalculosa e outras.
§ Endocrinopatias: acromegalia, síndrome de
Cushing, glucagonoma, feocromocitoma, s o-
matostinoma, hipertireoidismo e outras.
§ Induzido por drogas ou substâncias químicas:
vacor – veneno de rato – pentamidine, ácido
nicotínico, glicocorticóides, tiazídicos, hor-
mônios tireoideos, agonistas β-adrenérgicos e
outras.
§ Infecções: rubéola congênita, citomegalovírus
e outras.
§ Formas incomuns de diabetes imuno-mediado:
síndrome de “Stiff-man”, anticorpos antire-
ceptores de insulina e outros.
§ Outras síndromes genéticas associadas ao
diabetes: síndrome de Down, síndrome de
Klinefelter, síndrome de Turner, síndrome de
Lawrence-Moon-Beidel, coréia de Huntington,
síndrome de Prader-Willi e outras.
Diabetes mellitus gestacional. É a intolerâ n-
cia aos carboidratos de intensidade variada (dia-
betes e intolerância diminuída à glicose), dia-
gnosticada pela primeira vez durante a gravidez
podendo ou não persistir após o parto. Estima -se
que esta anormalidade seja encontrada entre 1-
20% das grávidas. No entanto, somente ao redor
de 3% é diabetes mellitus gestacional verdadeira.
Em pacientes diabéticas grávidas, o controle insa-
tisfatório da glicose está associado com alta inci-
dência de morte intra -uterina e má formação fetal.
Tolerância à glicose alterada e hiperglicemia estão
relacionadas com o aumento na incidência de ma-
crossomia fetal e hipoglicemia neonatal. Na maio-
ria destes casos, a resposta ao TOTG (teste oral de
tolerância à glicose, v. adiante) volta ao normal
depois da gravidez, no entanto, ao redor de 50%
destas pacientes desenvolvem diabetes mellitus
nos sete anos seguintes.
INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL
O diagnóstico dos distúrbios no metabolismo da
glicose depende da demonstração de alterações na
Carboidratos 49
concentração de glicose no sangue. As várias d e-
sordens do metabolismo dos carboidratos podem
estar associadas com (a) aumento da glicose plas-
mática (hiperglicemia); (b) redução da glicose
plasmática (hipoglicemia) e (c) concentração nor-
mal ou diminuída da glicose plasmática acom-
panhada de excreção urinária de açúcares reduto-
res diferentes da glicose (erros inatos do metabo-
lismo da glicose). Os seguintes testes laboratoriais
investigam alguns destes distúrbios.
GLICOSE PLASMÁTICA EM JEJUM
A determinação da glicemia é realizada com o
paciente em jejum de 12-14 h. Resultados normais
não devem excluir o diagnóstico de distúrbios
metabólicos dos carboidratos. Os critérios para a
avaliação em homens e mulheres não-gestantes
são:
Normais: até 110 mg/dL
Glicemia de jejum inapropriada: de 110 a 126
mg/dL
Diabéticos: acima de 126 mg/dL
O valor de 126 mg/dL foi estabelecido pois
níveis superiores provocam alterações microvas-
culares e elevado risco de doenças macrovascula-
res.
GLICOSE PLASMÁTICA PÓS-PRANDIAL DE
DUAS HORAS
A concentração da glicemia duas horas após a
ingestão de 75 g de glicose em solução aquosa a
25% (ou refeição contendo 75 g de carboidratos) é
de considerável utilidade na avaliação do diabetes.
Normalmente, após a ingestão de carboidratos, a
glicose sangüínea tende a retornar ao normal den-
tro de duas horas.
Após duas horas da sobrecarga, os valores de
glicemia plasmática ≥200 mg/dL são considerados
diagnósticos de diabetes mellitus. Níveis entre
140 e 200 mg/dL são encontrados na “tolerância à
glicose alterada” (v. adiante). Os indivíduos nor-
mais, que se submetem a esta prova, apresentam
teores glicêmicos ≤140 mg/dL. Entretanto, medi-
cações, agentes químicos, desordens hormonais e
dietas devem ser considerados ao examinar estes
resultados. Além disso, os valo res tendem a cre s-
cer com a idade (10 mg/dL por década de vida,
após a idade de 40 anos). Deste modo, concentra-
ções acima de 200 mg/dL podem ser encontradas
em indivíduos idosos que não apresentam diabe-
tes.
TESTE DE O´SULLIVAN
O teste de O´Sullivan é empregado para detectar o
diabetes gestacional e deve ser realizado entre 24ª
e a 28ª
semana de gestação. À paciente em jejum é
administrada 50 g de glicose em solução aquosa a
25% por via oral. O sangue é colhido após 1 hora.
Resultados iguais ou superiores a 140 mg/dL indi-
cam a necessidade de um teste completo.
TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA À GLICOSE
(TOTG)
Medidas seriadas da glicose plasmática, nos tem-
pos 0, 30, 60, 90 e 120 minutos após administra-
ção de 75 g de glicose anidra (em solução aquosa
a 25%) por via oral fornece um método apropriado
para o diagnóstico de diabetes. Apesar de mais
sensível que a determinação da glicose em jejum,
a TOTG é afetada por vários fatores que resulta
em pobre reproducibilidade do teste (Tabela 7.1).
A menos que os resultados se apresentem nitid a-
mente anormais, a TOTG deve ser realizada em
duas ocasiões diferentes antes dos valores serem
considerados anormais.
As crianças devem receber 1,75 g/kg de peso
até a dose máxima de 75 g de glicose anidra.
A TOTG é indicada nas seguintes situações:
§ Diagnóstico do diabetes mellitus gestacional
(neste caso, é empregado o TOTG modificado,
v. adiante).
§ Diagnótico de “tolerância à glicose alterada”
(ex.: em pacientes com teores de glicemia
plasmática em jejum entre 110 e 126 mg/dL).
50 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
§ Avaliação de pacientes com nefropatia, neuro-
patia ou retinopatia não explicada e com gli-
cemia em jejum abaixo de 126 mg/dL.
Tabela 7.1. Fatores que afetam a TOTG
Antes do teste Durante o teste
Ingestão de carboidratos Postura
Tempo de jejum Náusea
Cirurgia digestória Ansiedade
Tiazidas Cafeína
Estrogênios Tabagismo
Fenitoína Horário do dia
Propranolol Atividade
Corticoesteróides Quantidade de glicose
ingerida
Idade
Inatividade
Peso
Estresse (cirurgia, infecção)
Para garantir a fidelidade nos resultados dos
testes de tolerância à glicose, os seguintes cuid a-
dos devem ser tomados:
§ Nos três dias que antecedem a prova, o paci-
ente deve ingerir, pelo menos, 150 g de carboi-
dratos.
§ O paciente deve estar exercendo suas ativid a-
des físicas habituais, mantendo-se em regime
alimentar usual, exceto pela adição da quanti-
dade de carboidratos indicada no item anterior.
§ Durante o teste, o paciente deve se manter em
repouso e sem fumar.
§ O paciente não deve estar usando medicação
que interfira no metabolismo dos carboidratos.
§ A prova deve ser realizada pela manhã com o
paciente em jejum de 8-10 horas.
CRITÉRIOS PARA O DIAGNÓSTICO DOS
ESTADOS HIPERGLICÊMI COS
O diagnóstico do diabetes mellitus depende da
demonstração de hiperglicemia. Para o diabetes do
tipo 1, a hiperglicemia aparece adruptamente, é
severa e está acompanhada de distúrbios metabó-
licos. No diabetes mellitus do tipo 2 o diagnóstico
deve ser cuidadoso pois as alterações da glicose
podem ser moderadas. A seguir, os critérios de
diagnóstico normalmente aceitos:
Diabetes mellitus em homens e mulheres
não-grávidas. Qualquer dos achados a seguir é
diagnóstico:
§ Sintomas e sinais de diabetes (polidipsia, p o-
liúria, emagrecimento, astenia, distúrbios vis u-
ais e outros) e elevação casual (sem observar o
jejum) de glicose plasmática (≤200 mg/dL).
§ Glicose plasmática em jejum de oito horas
≥126 mg/dL confirmado por um segundo teste.
§ Glicose plasmática ≥200 mg/dL durante a
TOTG aos 120 minutos após a sobrecarga.
Glicemia de jejum inapropriada (Impaired
fasting glucose ou IFG). É definida pela gli-
cemia em jejum igual ou maior que 110 mg/dL,
mas menor que 126 mg/dL.
Tolerância à glicose diminuída (I mpaired
glucose tolerance ou IGT). É definida por
glicose plasmática pós-prandial de duas horas
(ingestão de 75 g de glicose anidra) maior que 140
mg/dL, mas menor que 200 mg/dL.
Diagnóstico do diabetes gestacional. Os indí-
cios de diabetes gestacional incluem uma forte histó-
ria familiar de diabetes, idade superior a 30 anos,
história de gravidez com recém-nascidos grandes para
a idade gestacional ou com mais de 4 kg, uma história
inexplicada de morte fetal ou morte neonatal, história
de diabetes gestacional, presença de hipertensão ou
pré-eclâmpsia, história de reprodução dificultada,
macrossomia ou polidrâmnio na gravidez atual.
Achados clínicos suspeitos incluem obesidade ou
ganho de peso na gravidez atual, glicosúria, infecções
recorrentes por monília.
O teste tolerância à glicose e os critérios dia -
gnósticos são ligeiramente diferentes em gestan-
tes. Nestes casos, administra -se 100 g de glicose e
as amostras de sangue são colhidas nos tempos 0,
Carboidratos 51
60, 120 e 180 minutos. Os valores em mulheres
não diabéticas são:
Jejum <105 mg/dL
Uma hora <190 mg/dL
Duas horas <165 mg/dL
Três horas <145 mg/dL
O diagnóstico de diabetes gestacional ocorre
quando dois desses limites forem atingidos ou
ultrapassados.
Em gestantes a partir da 20a
semana de gravi-
dez, indica-se glicemia em jejum como teste de
rastreamento. Valores maiores que 85 mg/dL são
considerados positivos sendo necessário proceder
ao TOTG. Considera-se, também, confirmatórios
de diabetes gestacional valores o btidos de duas
glicemias em jejum ≥ 105 mg/dL.
CRITÉRIOS PARA A TRIAGEM DO
DIABETES EM ASSINTOMÁTICOS
O teste diagnóstico deve ser considerado em todos
os indivíduos de 45 anos ou mais e, se normal,
repetido a cada 3 anos. Também devem ser reali-
zados em adultos de qualquer idade ou mais fre -
qüentemente nos de 45 anos para cima, nas se-
guintes situações:
§ Com excesso de peso (≥120% do peso ideal).
§ Com parentesco em primeiro grau com diabéti-
cos.
§ Membros de grupos étnicos de alto risco (afro -
americanos, hispânicos, asiáticos, indígenas
americanos e outros).
§ Com história de macrossomia fetal (>4 kg) ou
diagnóstico anterior de diabetes gestacional.
§ Com hipertensão (≥140/90).
§ Com colesterol-HDL ≤35 mg/dL e/ou triglice-
rídios ≥250 mg/dL.
§ Com teste prévio positivo de “glicemia de je -
jum inapropriada” ou “tolerância à glicose al-
terada”.
CONSEQÜÊNCIAS METABÓLICAS DO
DIEBETES MELLITUS
O defeito básico no diabetes mellitus é a deficiência
insulínica (absoluta ou relativa) que afeta o metabolismo
da glicose, lipídios, proteínas, potássio e fosfato. Além
disso, influencia indiretamente a homeostase do sódio e
água. Nos casos severos de diabetes (tipo 1) não-tratado
encontram-se ainda cetoacidose, distúrbios ácido-
básicos e hipertrigliceridemia.
Hiperglicemia. Promovida pela elevação da produção
hepática e diminuição da captação celular de glicose.
§ Aumento da produção hepática: a falta de insulina e
as ações opostas do glucagon e adrenalina causam
redução da glicogênese e o incremento da
glicogenólise. Além disso, a ação do cortisol
(insulina baixa) eleva a gliconeogênese.
§ Redução da captação periférica: a deficiência
insulínica inibe a captação celular de glicose e da
glicólise. Outros substratos (ácidos graxos, cetonas)
são utilizados para a produção de energia.
§ Como conseqüência da hiperglicemia tem-se:
§ Elevação da glicose urinária com diurese osmótica e
a conseqüente perda de água, sódio, potássio e
fosfato, produz a depleção destas substâncias.
§ Aumento da tonicidade do líquido extracelular que
extrai água das células produzindo desidratação
celular e, se houver ingestão de água, a diluição dos
constituintes extracelulares levando à hiponatremia
(hipertônica).
Distúrbios do metabolismo protéico. O diabetes é
um estado catabólico associado com perda protéica,
principalmente pela elevação da gliconeogênese – para
cada 100 g de glicose formada, ao redor de 175 g de
proteínas são destruídas.
Distúrbios do metabolismo lipídico. A deficiência
insulínica e a ação oposta do glucagon e adrenalina
52 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
estimulam a lipólise e a liberação de ácidos graxos para
a circulação. Estes são captados para serem convertidos
em energia (β-oxidação), cetonas e triglicerídios que são
liberados pelo fígado na forma de VLDL (lipoproteínas
de densidade muito baixa). Além do mais, a deficiência
insulínica inibe a atividade da lipase lipoprotéica que
reduz o desdobramento tanto das VLDL como dos
quilomícrons, elevando os níveis de trigliceridemia.
Hiperpotassemia. Uma das ações da insulina é a
captação de íons potássio pelas células. Na redução da
insulina o potássio deixa as células, provocando
hiperpotassemia. Parte deste potássio é perdido na urina
como conseqüência da diurese osmótica, causando
depleção de potássio na ordem de 200-400 mmol.
Quando a insulina é adminis trada, o potássio
extracelular retorna às células o que pode resultar em
hipopotassemia severa a menos que suplementos de
potássio sejam administrados.
Hiperfosfatemia. A insulina ao estimular a glicólise
utiliza fosfato inorgânico (produção de ATP etc.), o que
eleva a captação celular de fosfato. Na falta de insulina,
este íon é liberado das células, promovendo
hiperfosfatemia. Parte do mesmo é perdido na urina
causando déficit no organismo. Quando a insulina é
administrada ele volta para as células, produzindo
hipofosfatemia severa.
Distúrbios ácido-base. No diabetes tipo 1 é fre-
qüente a acidose metabólica devido a cetoacidose
diabética. Os níveis de bicarbonato plasmático podem
atingir valores abaixo de 5 mmol/L com pH de 6,8. Pode
existir também uma acidose láctica moderada associada.
Distúrbios do sódio e água. A hiponatremia pode
ocorrer como conseqüência da hiperglicemia extra-
celular. Além disso, devido a hiperlipidemia pode existir
pseudohiponatremia. Também ocorre a depleção do
sódio total do corpo pela perda renal como conseqüência
da diurese osmótica.
Em pacientes conscientes, a perda de água é
compensada pela ingestão oral. Pacientes graves podem
desidratar-se e, dependendo do grau de desidratação, o
sódio plasmático aumenta levando a uma hipernatremia.
COMPLICAÇÕES DO DIABETES
MELLITUS
Do ponto de vis ta bioquímico as principais complica-
ções são:
§ Cetoacidose diabética.
§ Coma hiperosmolar.
§ Acidose láctica.
§ Doença renal.
§ Hiperlipidemia.
CETOACIDOSE DIABÉTICA
A cetoacidose diabética pode estar presente em
pacientes ainda não diagnosticados como diabéti-
cos. Em pacientes diabéticos, a cetoacidose pode
ser precipitada pela deficiência profunda de insu-
lina (falta da aplicação ou por dose inadequada),
níveis elevados de hormônios contra -reguladores
(glucagon, cortisol, hormônio de crescimento,
adrenalina e noradrenalina), infecções intercor-
rentes, trauma, infarto do miocárdio, episódios
tromboembólicos, crises hipertensivas, vômitos,
exercícios físicos esporádicos ou estresse emocio -
nal. As características clínicas são: desidratação,
cetoacidose, depleção eletrolítica e hiperventila -
ção.
A cetoacidose pela deficiência de insulina
acompanhada por hormônios contra -reguladores
resultam em hiperglicemia (a degradação de pro -
teínas fornece aminoácidos para a gliconeogênese)
e na mobilização de ácidos graxos do tecido adi-
poso (aumento da a ção da enzima lipase hormônio
sensível) com o subseqüente aumento da formação
hepática de corpos cetônicos. Estes, por suas ca-
racterísticas de ácidos fracos, exaurem as reservas
disponíveis de tampão, provocando cetoacidose.
A hiperglicemia causa hiperosmolalidade ex-
tracelular que leva tanto à desidratação intracelu -
lar como também, à diurese osmótica. A diurese
osmótica provoca perda de água, Na +
, K+
, cálcio e
Carboidratos 53
outros constituintes inorgânicos e sobrevém redu-
ção do volume de sangue circulante. O aumento na
produção de corpos cetônicos estabelece uma aci-
dose metabólica com hipercalemia associada. Aci-
dose láctica e uremia pré -renal podem também
estar presentes. As principais características labo-
ratoriais da cetoacidose são:
§ Hiperglicemia, geralmente >300 mg/dL.
§ Acidose metabólica com aníons
indeterminados elevados, pH sangüíneo <7,30
e bicarbonado <15 mmol/L.
§ Cetonemia e cetonúria (diluição >1:2)
§ Hiperpotassemia.
§ Hiperfosfatemia.
Dois outros dados de interesse bioquímico di-
zem respeito a amilase e a creatinina:
§ Elevações da amilasemia são comuns durante
a cetoacidose diabética e como estes pacientes
muitas vezes apresentam dor abdominal, são
realizados diagnósticos errôneos de
pancreatite aguda.
§ Os níveis de creatinina estão elevados em vir-
tude da desidratação, mas também porque o
acetoacetato interfere positivamente na reação
de Jaffé.
Pacientes com cetoacidose diabética apresen-
tam polidipsia, poliúria, cefaléia, náusea, vômitos
e dor abdminal.
CORPOS CETÔNICOS
Os corpos cetônic os consistem de acetoacetato,
β-hidroxibutirato e acetona, sendo formados no
fígado a partir do acetil CoA derivado da oxidação
dos ácidos graxos livres provenientes do tecido
adiposo. Quando ocorre redução na utilização de
carboidratos (ex.: diabetes mellitus) ou falta de
carboidratos na dieta (ex.: inanição) acontece um
aumento na produção de corpos cetônicos, levando
a um acúmulo dos mesmos no sangue que exce-
dem a capacidade dos tecidos periféricos em me -
tabolizá-los. Os corpos cetônicos estão presentes
no sangue na seguinte proporção:
β-hidroxibutirato (78%), acetoacetato (20%) e
acetona (2%). No diabetes severo, a relação
β-hidroxibutirato/acetato pode atingir, ao redor de
8:1 dependendo da presença de NADH suficiente
que favorece a produção de β-hidroxibutirato.
Teores anormalmente elevados de corpos ce-
tônicos no sangue ( cetonemia) ultrapassam o um-
bral renal provocando o aparecimento de cetonú-
ria. O acúmulo destes compostos no sangue leva à
cetoacidose (acidose metabólica). O diabetes e o
consumo de álcool são as causas mais comuns de
cetoacidose.
Quando os tecidos não conseguem metabolizar
completamente os corpos cetônicos formados pelo
excesso de produção, tem-se uma acidose metabó-
lica. A acidose é parcialmente compensada pela
hiperventilação, com redução da pCO2 . Na aci-
dose, também, o H +
desloca-se para o interior das
células enquanto o K +
deixa o espaço intracelular.
Nenhum dos métodos laboratoriais detectam
simultaneamente os três corpos cetônicos no san-
gue ou urina. Os mais comuns detectam somente o
acetoacetato não reagindo com o
β-hidroxibutirato. Este fato pode produzir uma
situação paradoxal. Quando um paciente apresenta
inicialmente cetoacidose, o teste para cetonas
pode estar levemente positivo. Com a terapia, o
β-hidroxibutirato é convertido em acetoacetato
parecendo que a cetose está mais intensa .
O teste para detectação de cetonas na urina é
recomendado no diabetes tipo 1: (a) durante crises
agudas ou estresse; (b) quando os teores de gli-
cose ultrapassam 240 mg/dL; (c) durante a gravi-
dez; (d) ou quando os sintomas de cetoacidose
estão presentes. Estes testes na urina são descritos
no capítulo “Função renal”.
A quantificação da acetona, acetoacetato e β-
hidroxibutirato é realizada por colorimetria, enzi-
mologia, cromatografia gasosa ou eletroforese
capilar.
Os constituintes avaliados na cetoacidose dia -
bética além da glicose e corpos cetônicos, são: (a)
o Na+
que pode estar normal ou inicialmente
baixo; (b) o K+
que pode estar normal mas, em
54 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
geral, está elevado; (c) a uréia apresenta valores
aumentados devido a desidratação. A gasometria
arterial apresenta o CO2 total reduzido, às vezes
abaixo de 5 mmol/L nos casos severos. Outros
resultados de gasometria indicam acidose metabó-
lica com diminuição compensatória da pCO2 .
SÍNDROME HIPEROSMOLAR NÃO-
CETÔNICA
Esta condição ocorre mais frequentemente em pacientes
idosos com diabetes do tipo 2. A deficiência insulínica
promove efeitos sobre o metabolismo dos carboidratos
como na cetoacidose diabética, mas na forma menos
severa, permitindo uma menor cetogênese. Além disso,
pode existir comprometimento da função renal em
pacientes idosos, levando a grandes perdas de água e
eletrólitos. A hiperglicemia severa desenvolve desidra-
tação profunda e osmolalidade bastante alta, mas sem
cetose ou acidose. Esta condição apresenta-se com as
seguintes características bioquímicas:
§ Hiperglicemia (>500 mg/dL).
§ Osmolalidade sérica bastante elevada: >320
mosmol/kg.
§ Acidemia mínima ou ausente: pH sangüíneo >7,30 e
bicarbonato plasmático >15 mmol/L.
§ Cetonemia: negativa.
Os fatores precipitantes da síndrome hiperos-
molar não-cetônica são os mesmos descritos para
a cetoacidose diabética (v. acima).
LACTATO SÉRICO E NO LIQUOR
O ácido láctico, um intermediário no metabolismo
dos carboidratos, é proveniente do músculo es -
quelético, cérebro e eritrócitos. A concentração de
lactato sangüíneo é dependente da sua produção e
degradação no fígado e rins. Ao redor de 30% do
lactato formado é utilizado no fígado, predomi -
nantemente na gliconeogênese (ciclo de Cori) para
a produção de glicose. Aumentos moderados na
formação de lactato resultam no incremento da
depuração do lactato hepático; no entanto, a cap-
tação fica saturada quando as concentrações e xce-
dem 2 mmol/L. Por exemplo, durante o exercício
intenso, as concentrações de lactato podem au-
mentar significativamente - de uma média de 0,9
mmol/L para mais de 20 mmol/L em apenas 10
segundos. Não existe uniformidade quanto aos
teores de lactato que caracterizam a acidose lác-
tica. Níveis de lactato excedendo 5 mmol/L e pH
sangüíneo <7,25 indicam acidose láctica.
A acidose láctica se apresenta em duas condi-
ções clínicas diversas:
Tipo A (hipóxica). Este é o tipo mais comum.
Associada com a redução de oxigenação tecidual
(hipóxia) encontrada em exercícios severos, con-
vulsões, pobre perfusão tecidual (hipotensão, in -
suficiência cardíaca, parada cardíaca), conteúdo
de oxigênio arterial reduzido (asfixia, hipoxemia,
toxicidade pelo monóxido de carbono e anemia
severa).
Tipo B (metabólica). Associada com doença
(diabetes mellitus, neoplasmas, hapatopatia, aci-
dose respiratória, insuficiência renal e sepse).
Drogas/toxinas/infusões (etanol, metanol, salici-
latos, nitroprussiato, fenformin, catecolaminas,
frutose e sorbitol). Acidose láctica congênita:
defeitos na gliconeogênese (deficiência de glicose
6-fosfatase ou piruvato carboxilase), no metabo-
lismo do piruvato (deficiê ncia da piruvato desi-
drogenase), fosforilação oxidativa mitocondrial.
O mecanismo da acidose láctica tipo B não é
conhecido, mas acredita-se que o defeito primário
seja o impedimento mitocondrial na utilização do
oxigênio. Isto reduz os estoques de ATP e NAD+
,
com acúmulo de NADH e H+
. Em presença de
perfusão hepática reduzida ou enfermidade hepá-
tica, a remoção do lactato é diminuída provocando
o agravamento da acidose láctica.
O teor de lactato no LCR normalmente varia de
forma paralela aos encontrados no sangue. Em
alterações bioquímicas no LCR, entretanto, o lac-
tato altera de forma independente dos valores san-
güíneos. Níveis aumentados no LCR são encon-
trados em acidentes cerebrovascular, hemorragia
Carboidratos 55
intracraniana, meningite bacteriana, epilepsia e
outras desordens do SNC. Na miningite asséptica
(viral), os níveis de lactato no LCR não elevam.
Valores de referência: no soro: 5,5 a 22,0
mg/dL. No liquor: 11 a 19 mg/dL.
Na avaliação laboratorial da acidose láctica
também são encontrados os seguintes resultados:
§ Acidose metabólica: bicarbonato plasmático
<20 mmol/L (pode chegar a 5 mmol/L).
§ Lactato plasmático: bastante elevado.
§ Hiperosfatemia.
DOENÇA RENAL
Ao redor de 10-25% dos pacientes tratados com doença
renal terminal apresentam nefropatia diabética. Isto é
provocado basicamente por doença dos pequenos vasos
sangüíneos associada ao diabetes que se manifesta
inicialmente pela proteinúria e síndrome nefrótica.
Subsequentemente, a função renal declina com elevação
da uréia e creatinina plasmática, eventualmente levando
à insuficiência renal. A avaliação da concentração da
microalbuminúria é útil para detectar esta desordem
precocemente.
MICROALBUMINÚRIA
Microalbuminúria (pequenas quantidades de al-
bumina e não pequenas moléculas) designa a ex-
creção aumentada de albumina urinária não de-
tectável pelas tiras reativas empregadas rotineira -
mente. É excretada em pequenas quantidades por
diabéticos com nefropatia com redução da
filtração glomerular. A determinação da microal-
buminúria permite a detecção de complicações
renais, permitindo o retardamento da evolução
pela estabilização dos níveis de glicemia. É con-
siderada importante quando se observa uma taxa
de excreção de albumina (TEA) de 20 a 200
µg/min ou de 30 a 300 mg/d em dois terços das
amostras durante seis meses.
A presença de microalbuminúria em
diabéticos tipo 1 sugere maior risco de contrair
nefropatia diabética. Nos diabéticos tipo 2, um
teor de albumina >0,02 g/d é um fator de risco
para acidentes cardiovasculares e infarto do
miocárdio. A determinação da microalbuminúria é
recomendada nos seguintes casos:
§ Detectação precoce de nefropatia diabética.
§ Monitoramento do diabetes gestacional.
§ Monitoramento de gravidez de risco.
A urina empregada neste teste deve ser colhida
por um período de 12 h ou 24 h com o paciente em
repouso, pois ocorre um aumento significativo na
TEA em diabéticos, após esforço ou exercícios
exaustivos. Em geral, a microalbuminúria é
determinada por métodos imunoturbidimétricos,
nefelométricos ou de imunodifusão radial.
HIPERLIPIDEMIAS NO DIABETES
MELLITUS
As anormalidades lipídicas associadas com o diabetes
mellitus incluem:
§ Hipertrigliceridemia. A deficiência insulínica inibe
a enzima lipase lipoprotéica reduzindo a
metabolização das VLDL. Além disso, ocorre
aumento na síntese hepática das VLDL estimulada
pela liberação de ácidos graxos (lipólise do tecido
adiposo) parte dos quais, são convertidos em
triglicerídios e VLDL no fígado.
§ Hipercolesterolemia. O diabetes tipo 2 e a
intolerância à glicose são comumente associados à
hipercolesterolemia.
HIPOGLICEMIA
A hipoglicemia é uma condição médica aguda
caracterizada pela concentração da glicose san-
güínea abaixo dos limites encontrados no jejum
(<50 mg/dL em adultos e <40 mg/dL em recém-
56 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
nascidos); no entanto é difícil definir limites es -
pecíficos. Pode ocorrer redução em uma hora e
meia a duas horas após uma r efeição, sendo relati-
vamente comum a obtenção de teores de glicose
plasmática ao redor de 50 mg/dL no teste pós-
prandial de duas horas. Mesmo em jejum, valores
de glicose extremamente baixos, podem ocasio -
nalmente ser encontrados sem sintomas ou evi-
dências de alguma doença. As principais causas de
hipoglicemia são:
Neonatais.
§ Pequeno para a idade gestacional/prematuros.
§ Síndrome do sofrimento respiratório.
§ Diabetes mellitus materna.
§ Toxemia da gravidez.
§ Outras causas (ex.: estresse pelo frio, policite-
mia).
Crianças.
§ Hipoglicemia cetônica.
§ Defeitos enzimáticos congênitos (doenças do
armazenamento do glicogênio, deficiência de
enzimas gliconeogênicas, galactosemia, intole -
rância hereditária à frutose).
§ Hipersensitividade à leucina.
§ Hiperinsulinismo endógeno (nesidioblastose).
§ Síndrome de Reye.
§ Idiopática.
Adultos. A hipoglicemia em jejum é rara, mas
sinaliza uma séria patologia subjacente.
§ Medicações/toxinas: doses excessivas de insu-
lina ou agentes hipoglicemiantes orais. Salici-
latos e bloqueadores β-adrenérgicos.
§ Excesso de etanol: pelo aumento da concentra -
ção de NADH citosólico reduzindo a gliconeo-
gênese.
§ Doenças hepáticas: cirrose portal severa, ne-
crose hepática aguda e tumores hepáticos.
§ Doenças endócrinas: insuficiência adrenocorti-
cal (doença de Addison), hipotireoidismo, hi-
popituitarismo (primário ou secundário), defi-
ciência do hormônio de crescimento.
§ Tumores pancreáticos produtores de insulina:
insulinomas – geralmente um pequeno e solitá-
rio adenoma benigno das ilhotas pancreáticas,
que secretam quantidades inapropriadas de in-
sulina.
§ Tumores não-pancreáticos (fibromas, sarc o-
mas, hepatomas, carcinomas adrenais neoplas-
mas gastrointestinais, tumores carcinóides e
mesoteliomas).
§ Septicemia. É descrita em choques sépticos
devido a infecções por g ram-negativos.
§ Insuficiência renal crônica. Pacientes urêmicos
são propensos a desenvolver hipoglicemia por
vários fatores: redução da inativação renal da
insulina, diminuição da gliconeogênese renal,
perda de proteínas resultando no baixo supri-
mento de alanina (precursor da gliconeogê-
nese) e defeito na reabsorção da glicose.
§ Hipoglicemia reativa – causada pela liberação
exagerada de insulina após uma refeição; idio-
pática.
§ Após refeições em pacientes submetidos à ci-
rurgias gástricas.
§ Desnutrição severa.
§ Erros inatos do metabolismo (ex.: glicogenose
do tipo I).
Manifestações clínicas da hipoglicemia.
Não existem sintomas específicos para a hipogli-
Carboidratos 57
cemia. Uma redução rápida da glicose plasmática
a teores hipoglicêmicos geralmente desencadeia
uma resposta s impática com liberação de adrena-
lina, que produz os sintomas clássicos da hipogli-
cemia: fraqueza, suor, calafrios, náusea, pulso
rápido, fome, tonturas e desconforto epigástrico.
Estes sinais não são específicos da hipoglicemia
pois também são encontradas em outras condi-
ções, tais como: hipertireoidismo, feocromocitoma
e ansiedade.
O cérebro é totalmente dependente da glicose
sangüínea e níveis muito baixos da glicose pla s-
mática (menos de 20 a 30 mg/dL) provocam dis-
funções severas do sistema nervoso central (SNC).
Durante jejum prolongado ou hipoglicemia, os
corpos cetônicos são utilizados como fonte de
energia. Nestes casos, vários sintomas e sinais são
encontrados, tais como: enxaqueca, confusão,
letargia e perda de consciência. Estes sinais e
sintomas são conhecidos como neuroglicopenia. A
restauração da concentração da glicose
plasmática, geralmente provoca uma pronta
recuperação apesar de uma provável lesão
irreversível. O teste oral de tolerância à glicose
(TOTG) não é um teste apropriado para avaliar
pacientes suspeitos de hipoglicemia.
DETERMINAÇÃO DA GLICOSE
Paciente. Deve permanecer em jejum por 12-14
horas. Caso seja diabético, não deve usar insulina
ou hipoglicemiantes orais antes da coleta.
Amostra. Soro, plasma, LCR e urina. Quando o
sangue for colhido sem conservantes e deixado a
temperatura ambiente, as enzimas glicolíticas dos
eritrócitos, leucócitos, plaquetas e de alguns con-
taminantes bacterianos reduzem os níveis de gli-
cose na amostra em aproximadamente 5 a 7% por
hora (5 a 10 mg/dL). Esta redução torna-se negli-
genciável quando:
§ O plasma ou soro for separado em menos de 30
minutos após a coleta.
§ Sangue coletado em tubos contendo fluoreto de
sódio (2 mg por mL de sangue) – inibidor da
enzima enolase da g licólise – ou de iodoace-
tato de sódio (2 mg por mL de sangue) – inibi-
dor da gliceraldeído 3 -P desidrogenase da gli-
cólise.
§ Por refrigeração da amostra. Em soro ou
plasma refrigerado a glicose permanece estável
por três dias.
As amostras de LCR estão muit as vezes conta-
minadas com bactériais ou outros constituintes
celulares e devem ser analisadas imediatamente
após a coleta ou centrifugadas e refrigeradas.
Em urinas de 24 h a glicose é preservada pela
adição de 5 mL de ácido acético glacial ao frasco
coletor antes do início da coleta. O pH final da
urina permanece entre 4 e 5, o que inibe a ativi-
dade bacteriana. Mesmo com o uso de conser-
vante, a urina também deve ser armazenada em
refrigerador durante o período de coleta. Amostras
de urina mantidas em temperatura ambiente po-
dem perder até 40% de seu conteúdo de glicose
após 24 horas.
Interferências. Resultados falsamente elevados:
paracetamol, ácido acetilsalicílico, ácido ascór-
bico, ácido nalidíxico, ácido nicotínico, adrena-
lina, benzodiazepínicos, cafeína, carbonato de
lítio, cimetidina, clonidina, cortisona, dopamina,
esteróides anabólicos, estrogênios, etanol, fenito-
ína, furosemida, levodopa, tiazidas. Resultados
falsamente reduzidos: alopurinol, anfetaminas,
bloqueadores β-adrenérgicos, clofibrato, fenaci-
tina, fenazopiridina, fenformina, hipoglicemiantes
orais, insulina, isoniazida, maconha, nitrazepan e
propranolol (em diabéticos).
Métodos. No passado, os métodos empregados
para a determinação da glicose baseavam-se na
capacidade redutora da mesma. Os oxidantes utili-
zados eram o cobre ou o íon ferricianeto em meio
alcalino reduzidos pela glicose a íon cuproso e íon
ferrocianeto, respectivamente. Os métodos mais
populares, transformavam os íons cuprosos a
óxido cuproso em presença de calor. O desenvol-
vimento de cor era conseguido pela redução do
fosfomolibdato (Folin-Wu) ou arsenomolibdato
(Somogyi-Nelson) para formar azul de molibdê-
58 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
nio. Estes métodos foram abandonados por sua
complexidade e sofrerem ação de interferentes.
O-Toluidina. A determinação da glicose pela
o-toluidina é a mais específica entre os métodos
químicos; entretanto, o seu emprego tornou-se
muito restrito depois que esta substância foi cla s-
sificada como carcinogênica. A o-toluidina é uma
amina aromática que condensa com o grupo aldeí-
dico da glicose em solução de ácido acético a
quente para formar uma mistura em equilíbrio de
uma glicosilamina e a correspondente base de
Schiff. Após rearranjos e reações, ocorre o desen-
volvimento de cor verde-azulada cuja absorvância
é medida em 630 nm. A o-toluidina reage com
outras hexoses, como a galactose e a manose. As
pentoses, como a xilose, reagem com a o-toluidina
para formar cor laranja, com absorvância máxima
em 480 nm.
O método da o-toluidina sofre interfe -rências
da bilirrubina que, em teores elevados, apresenta
valores falsamente aumentados de glicose já que
pode ser parcialmente convertida no pigmento
biliverdina de cor verde. A turvação na solução
final como em presença de lipemia, causa result a-
dos falsamente elevados.
Métodos enzimáticos. Empregam enzimas
como reativos e são os mais utilizados atualmente
em razão da grande especificidade pela glicose.
Eles medem a glicose verdadeira e não os com-
postos redutores. São simples e rápidos de
executar, além de necessitar pequenos volu mes de
amostra. Os dois sistemas enzimáticos mais
empregados são: glicose oxidase, hexoquinase e
glicose des idrogenase.
Glicose oxidase. É altamente específica para a
β-glicose. Em presença do oxigênio, a enzima
converte a β-glicose a ácido glicônico e peróxido
de oxigênio. Em uma segunda reação, a enzima
peroxidase decompõe o peróxido de hidrogênio
em água e oxigênio. Este último oxida – em pre-
sença da peroxidase – um cromogênio aceptor de
oxigênio (como o o-dianosidina) para formar um
produto colorido lido fotometric amente. Elevadas
concentrações de ácido úrico, bilirrubina ou ácido
ascórbico inibem a segunda reação por competição
do cromogênio pelo H2 O2 produzindo falsos re -
sultados reduzidos. Muitas destas interferências
são eliminadas pelo uso de 4-aminofenazona
(método de Trinder).
A concentração de glicose também é determi-
nada por polarografia. Este método emprega um
eletrôdo de O 2 e glicose oxidase produzindo ácido
glicônico e peróxido de hidrogênio a partir da
glicose. A catalase desdobra o peróxid o de hidro-
gênio. A quantidade de O2 consumido é medida
pelo eletrôdo de O 2 e está diretamente relacionada
aos teores de glicose nas amostras.
O método de glicose oxidase foi adaptado para
uma grande gama de instrumentos automatizados.
No sistema de reativ o seco DT Vitros a glicose
oxidase está presente em um filme de múltiplas
camadas associado a um indicador similar ao e m-
pregado pelo método de Trinder. A intensidade da
cor final é medida através da redução da transpa-
rênica do filme por espectrofotometria de refle-
xão.
Hexoquinase. O emprego da hexoquinase apre-
senta algumas vantagens sobre a glicose oxidase e
é adotada em alguns países como o método de
referência para a determinação de glicose. Este
método consiste de duas reações acopladas: (a) a
glicose é fosforilada pelo ATP pela ação da hexo-
quinase; (b) a glicose 6-fosfato resultante é con-
vertida pela glicose 6-fosfato desidrogenase, na
presença de NADP+
, em 6-fosfogliconolactona e
NADPH. O NADPH formado é proporcional à
quantidade de glicose na amo stra e é medido em
340 nm. Apesar da hexoquinase também fosforilar
outras hexoses, esses carboidratos não estão pre-
sentes em concentrações suficientemente altas nas
amostras para interferir. A hemólise interfere com
o sistema hexoquinase pois os eritrócit os contém
glicose 6 -P desidrogenase e 6 -fosfogliconato desi-
drogenase que empregam NADP+
como substrato.
Glicose desidrogenase. A glicose desidro -ge-
nase catalisa a redução de NAD+
, produzindo gli-
conolactona e NADH que pode ser monitorado em
340 nm. Sofre interferências da D-xilose e da
manose, que raramente são encontradas em teores
significativos.
Carboidratos 59
HEMOGLOBINA GLICADA
Em adultos, os eritrócitos normais contém hemo-
globina A (97% do total), HbA2 (2,5%) e HbF
(0,5%). Por diferentes métodos eletroforéticos e
cromatográficos, foram detectadas sub-frações da
hemoglobina A, identificadas como HbA1a, HbA1b
e HbA1c e, coletivamente, denominadas hemoglo-
binas glicadas (hemoglobinas glicosiladas ou
glico-hemoglobinas). A fração HbA1c constitui,
aproximadamente 80% da HbA. As hemoglobinas
glicadas são obtidas pela adição espontânea de
glicose ao grupo amino livre das proteínas hemo-
globínicas por reações não-enzimáticas. Os conte-
údos destas sub-frações aumentam com a idade
dos eritrócitos.
O estudo destas hemoglobinas é realizado,
principalmente, pela medida da sub-fração HbAlc
em pacientes com diabetes mellitus. Esta avalia-
ção indica o controle metabólico do paciente nas 8
a 10 semanas precedentes ao teste, enquanto a
glicose sangüínea reflete o controle somente das
24 horas anteriores. A HbA1c é monitorada a cada
três ou quatro meses em diabéticos estáveis e, em
cada um ou dois meses, em diabéticos com pobre
controle glicêmico. Grávidas diabéticas (especi-
almente do tipo 1) são avaliadas uma a duas vezes
ao mês para um controle mais efetivo. A terapêu-
tica insulínica é ajustada nos pacientes diabéticos
se a hemoglobina glicada ultrapassar 10%. Na
monitoração de diabéticos, variações de 2% entre
duas avaliações, é considerada clinicame nte signi-
ficante e indicativa de um melhor ou pior controle
glicêmico.
Este teste não é adequado para o acompanha-
mento de pacientes diabéticos portadores de h e-
moglobinopatias, pois a presença de variantes da
hemoglobina provocam redução da meia -vida das
hemáciais e, portanto, do tempo de exposição da
hemoglobina às variações dos teores de glicose
circulante, diminuindo o percentual de hemoglo-
bina glicada. Nestes casos é recomendado o
acompanhamento destes pacientes pela dosagem
da fructosamina.
DETERMINAÇÃO DA HEMOGLOBINA
GLICADA
Paciente. Não necessita jejum para a coleta.
Amostra. Sangue total colhido em tubo contendo
EDTA, oxalato de potássio -fluoreto de sódio. O
sangue pode ser armazenado em refrigerador por
uma semana. Amostras heparinizadas devem ser
ensaiadas no máximo em dois dias.
Métodos. A hemoglobina glicada é determinada
por três categorias de métodos baseados no modo
como os componentes glicados e não-glicados são
separados. São separados de acordo com: (a) dife-
renças de carga (cromatografia de troca iônica,
cromatografia líquida de alta execução, eletrofo-
rese, focalização isoelétrica), (b) reatividade quí-
mica (colorimetria e espectrofotometria) e (c)
diferenças estruturais (cromatografia por afini-
dade e imunoensaio).
Microcolunas. A HbAlc é determinada, funda-
mentalmente, por cromatografia por afinidade.
Neste método, a amostra é aplicada a uma coluna
trocadora de íons e os subcomponentes glicados
eluídos com um tampão de baixa força iônica. As
hemoglobinas restantes são, então, eluídas com
tampão de alta força iônica. As frações são quanti-
ficadas em espectrofotometria (em 415 nm). Este
método é afetado por variações na temperatura,
mas apresenta boa precisão. As variantes da h e-
moglobina como HbF, HbS ou HbC desenvolvem
interferência mínima.
Eletroforese. A separação eletroforética da
hemoglobina A 1 está baseada na capacidade do N -
terminal livre da hemoglobina não-glicada em
interagir com grupos carregados negativamente.
Valores de referência: estão entre 5 a 8% da
HbA total em indivíduos normais e variam entre 8
a 30% em pacientes com diabetes, dependendo do
grau de controle de glicemia.
60 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações
FRUCTOSAMINA
É o nome genérico de proteínas cetoaminas. É
análoga a hemoglobina glic ada e com meia-vida
ao redor de 2 a 3 semanas, o que a torna de grande
utilidade no monitoramento a curto prazo como
um índice de controle glicêmico do diabético,
particularmente em pacientes portadores de hemo-
globinopatias, por não sofrer interferências de
variantes das hemoglobinas. O ácido ascórbico
exerce interferência positiva sobre o teste.
O teste é sensível à variações nos teores das
proteínas séricas, isto é, pacientes exclusivamente
nutridos por via parenteral apresentam nítidas
variações na concentração da fructosamina, apesar
de glicemia normal estável. Há um aumento de
1,3% da fructosamina plasmática para cada 0,3
g/dL de aumento nos teores de proteinemia. Esta-
dos hipoproteinêmicos (albumina sérica <3,0
g/dL) podem produzir resultados falsamente bai-
xos para os níveis de fructosamina sérica.
Valores de referência: 1,8 a 2,8 mmol/L.
ERROS INATOS DO METABOLISMO
DOENÇAS DO ARMAZENAME NTO DO
GLICOGÊNIO
O glicogênio é sintetizado e armazenado principalmente
no fígado e músculo. As doenças do armazenamento são
erros inatos raros do metabolismo dos carboidratos
provocados pela deficiência ou redução na atividade de
uma ou mais das muitas enzimas envolvidas.
Uma das características deste grupo de doenças é a
anormalidade no armazenamento do glicogênio,
geralmente em quantidades aumentadas e, as vezes, com
estrutura anormal. Pode ocorrer também hipoglicemia,
alterações dos lipídios sangüíneos, hiperuricemia e
acidose láctica.
A mais comum das doenças do armazenamento do
glicogênio é a Cori tipo IV, devido a deficiência da
fosforilase quinase. Glicogênio com estrutura normal
acumula, fundamentalmente, no fígado e músculo. A
doença de von Gierke (Cori tipo I) é provocada pela
deficiência de glicose 6-fosfatase; o glicogênio
acumulado no fígado, rins e intestino também apresenta
estrutura normal. Pode também desenvolver
hipoglicemia profunda.
GALACTOSEMIA
O fígado é o principal local de conversão da galactose
em glicose. Três defeitos genéticos que alteram o
metabolismo da galactose são descritos: (a) deficiência
das enzimas UDP-glicose:galactose 1-fosfato
uridiltransferase, (b) galactoquinase ou (c) UDP-
galactose 4-epimerase. Estes defeitos causam o aumento
da galactose sérica e urinária.
A galactosemia é uma doença rara (2 para cada
100.000 nascimentos). O defeito mais comum e mais
severo é motivado pela deficiência UDP-
glicose:galactose 1-fosfato uridiltransferase, que se
manifesta no período neonatal ou primeira infância por
vômitos acompanhados de hipoglicemia.
A deficiência de galactoquinase não se manifesta
clinicamente no período neonatal e pode não ser
diagnosticada até o desenvolvimento de catarata.
Crianças com testes positivos para substâncias
redutoras na urina devem ser submetidas à análise destes
compostos na urina por cromatografia. Caso forem
identificadas, a galactose e a galactose 1-fosfato devem
ser medidas no soro. A confirmação do diagnóstico é
obtida pela medida das atividades de enzimas
eritrocitárias.
GLICOSÚRIA: CAUSAS VARIADAS
Várias condições promovem glicosúria pela presença de
substâncias diferentes da glicose na urina.
Intolerância hereditária à frutose. O fígado é o
principal sítio de conversão da frutose em glicose. A
deficiência da frutose 1-fosfato aldolase causa o
acúmulo intracelular da frutose 1-fosfato. Vômitos e
hipoglicemia ocorrem após a ingestão de alimentos
contendo frutose, geralmente a sacarose. A idade do
aparecimento da anormalidade depende do tipo de
alimentação e da severidade do defeito. A maioria dos
pacientes desenvolvem uma forte aversão à sacarose. O
teste de tolerância à frutose é empregado nesta
investigação. Pacientes com esta deficiência mostram
pronunciada e prolongada redução dos teores de glicose
e fosfato após a administração de frutose. Também apre-
sentam frutosúria. A cromatografia urinária confirma a
presença de frutose.
Carboidratos 61
Frutosúria essencial. É uma condição benigna
originada pela deficiência de frutoquinase.
Pentosúria essencial. É um erro inato benigno do
metabolismo no qual o açúcar L-xilulose é excretado em
excesso na urina. Isto se deve a um defeito na NADP-
ligada xilitol desidrogenase, uma das enzimas da via de
oxidação do ácido glicurônico.
Lactosúria. Não apresenta significância patológica.
Encontra-se muitas vezes nos últimos estágios da
gravidez e durante a lactação após o parto. Muitas vezes
é necessário distinguir a lactosúria da glicosúria.
Bibliografia consultada
Bioinforme 96. Laboratório Sérgio Franco. Rio de Janeiro :
Faulhaber, 1996
CHAN, A. Y. W., SWAMINATHAN, R., COCKRAM, C.S.
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glication: clinical and pathophysioloic relevance. New York :
P. C. Press, 1996. 275 p.
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film elements for clinical analysis: general concepts. Clin.
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Biochem., 6:24-7, 1969.
62 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações

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  • 1. VALTER T. MOTTA Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações Carboidratos Volume 7
  • 2. 45 CARBOIDRATOS s carboidratos são as fontes mais importantes de energia do organismo. São poliidroxia l- deídos ou poliidroxicetonas, ou ainda, substâncias que por hidrólise formam aqueles compostos. São classificados como: monossacarí dios, oligossaca- rídios e polissacarídios. Os monossacarídios são açúcares simples constituídos por uma única unidade poliidroxia l- deídica ou cetônica contendo 3 a 9 átomos de carbono, sendo o principal combustível para a maioria dos seres vivos. Os mais freqüentes no homem são a glicose, frutose e galactose, todos com seis átomos de carbono. Os oligossacarídios são formados por ligações glicosídicas de dois ou mais (até dez) monossaca- rídios. Apesar da grande variedade de combin a- ções possíveis, são três os mais importantes neste contexto: maltose, composta de duas moléculas de glicose; sacarose, formada por uma molécula de glicose e uma de frutose; e lactose, constituída por uma molécula de glicose e uma de galactose. Os polissacarídios são carboidratos de elevada massa molecular formados por mais de dez unid a- des monossacarídicas. O amido (forma de armaze- namento para a glicose nos vegetais) é o principal polissacarídio da dieta. É constituído por uma mistura de dois polissacarídios: amilose e amilo- pectina. A amilose é composta por unidades repe- titivas de glicose, unidas por ligações α-1,4 (ca- deias lineares). A amilopectina é uma estrutura ramificada que além dos laços α-1,4, possui liga- ções α-1,6 nos pontos de ramificação. O glicogê- nio é a mais importante forma de polissacarídio de armazenamento para a glicose nos animais. Sua estrutura é similar à amilopectina. Os carboidratos da dieta fornecem a maior parte das necessidades calóricas do organismo. A dieta média é composta de amido, sacarose e la c- tose. O glicogênio, maltose, glicose e frutose, pre - sentes em certos alimentos, constituem uma fração menor dos carboidratos ingeridos. Antes da absorção dos carboidratos pelas cé- lulas do intestino delgado, é essencial que os po- lissacarídios e oligossacarídios sejam hidrolizados em seus componentes monossacarídicos. Este desdobramento ocorre seqüencialmente em dife- rentes locais do sistema digestório por uma série de enzimas. O amido e o glicogênio são degradados pela enzima α-amilase (salivar e pancreática) for- mando maltose e isomaltose. Estes dois produtos são hidrolizados em glicose por enzimas ligadas à membrana da borda em escova intestinal: maltase e isomaltase. Portanto, esta hidrólise ocorre na superfície das células da mucosa intestinal. Outras enzimas, que atuam na interface da luz e da cé- lula, são: sacarase, que hidrolisa a sacarose em glicose e frutose; a lactase, que fornece glicose e galactose a partir da lactose. Os principais monossacarídios obtidos por hidrólise (glicose, frutose e galactose) são absor- vidos do lúmem para as células e levados ao fí - gado pelo sistema porta. A glicose no fígado é metabolizada ou armazenada como glicogênio. O fígado também libera glicose para a circulação sistêmica, tornando-a disponível a todas as células do organismo. A frutose e galactose são transfor- madas em outros compostos de acordo com as necessidades homeostáticas ou convertidas em glicose, a forma usual de açúcar circulante. A concentração de glicose no sangue é regu- lada por uma complexa interrelação de muitas vias e modulada por vários hormônios. A glicogênese é a conversão de glicose a glicogênio, enquanto a glicogenólise é o desdobramento do glicogênio em glicose. A formação de glicose a partir de outras fontes não-carboidratos, como aminoácidos, glice- rol ou lactato, é chamada gliconeogênese. A con- versão da glicose ou outras hexoses em lactato ou O
  • 3. 46 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações piruvato é denominada glicólise. A oxidação total da glicose em dióxido de carbono e água ocorre no ciclo de Krebs (ciclo do ácido cítrico) e a cadeia mitocondrial de transporte de elétrons acoplada a fosforilação oxidativa, geram energia para formar ATP (adenosina trifosfato). A glicose também é oxidada em dióxido de carbono e água pela via pentose fosfato, com a produção de NADPH ne- cessário para as reações anabólicas do organismo. Bibliografia consultada CAMPBELL, M. K. Biochemistry. 3 ed. Philadelphia : Saunders, 1999. p. 420-571. LEHNINGER, A. L., NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de bioquímica. 2 ed. São Paulo : Sarvier, 1995. p. 297- 354. STRYER, L. Bioquímica. 4 ed. Rio de Janeiro : Guana- bara -Koogan, 1995. p. 437-570.
  • 4. Carboidratos 47 47 GLICOSE, LACTATO E CETONAS glicose é a aldohexose mais importante para a manutenção energética do organismo: Em condições normais, a glicose sangüínea (glicemia) é mantida em teores apropriados por meio de vários mecanismos regulatórios. Após uma refeição contendo carboidratos, a elevação da glicose circulante provoca: § Remoção pelo fígado de 70% da glicose trans- portada via circulação porta. P arte da glicose é oxidada e parte é convertida em glicogênio para ser utilizada como combustível no jejum. O excesso de glicose é parcialmente convertida em ácidos graxos e triglicerídios incorporados às VLDL (lipoproteínas de densidade muito baixa) e transportados para os estoques do t e- cido adiposo. § Liberação de insulina pelas células β do pân- creas. Entre os tecidos insulino-dependentes estão o tecido muscular, adiposo, diafragma, aorta, hipófise anterior, glândulas mamárias e lente dos olhos. Outras células, como aquelas do fígado, cérebro, eritrócitos e nervos não ne- cessitam insulina para a captação de glicose (insulino independentes). § Aumento da captação da glicose pelos tecidos periféricos. § Inibição da liberação do glucagônio. § Outros hormônios (adrenalina, hormônio de crescimento, glicocorticóides, hormônios da t i- reóide) e enzimas, além de vários mecanismos de controle, também atuam na regulação da glicemia. Estas atividades metabólicas levam a redução da glicemia em direção aos teores encontrados em jejum. Quando os níveis de glicose no sangue em jejum estão acima dos valores de referência, d e- nomina-se hiperglicemia, quando abaixo destes valores, hipoglicemia. A glicose é normalmente filtrada pelos gromé- rulos e quase totalmente reabsorvida pelos túbulos renais. Entretanto, quando os teores sangüíneos atingem a faixa de 160 a 180 mg/dL, a glicose aparece na urina, o que é denominado glicosúria. Em todas as células, a glicose é metabolizada para produzir ATP e fornecer intermediários me- tabólicos necessários em vários processos bio s- sintéticos. HIPERGLICEMIA A causa mais freqüente de hiperglicemia é o dia- betes mellitus, um estado de intolerância à glicose e hiperglicemia em jejum resultante da ação d efi- ciente da insulina. Apresenta, também, anormali- dades no metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídios. Pacientes portadores de episódios hiperglic ê- micos, quando não tratados, desenvolvem cetoaci- dose ou coma hiperosmolar. Com o progresso da doença aumenta o risco de desenvolver complic a- ções crônicas características, tais como: retinopa- tia, angiopatia, doença renal, neuropatia (câim- bras, paresteses dos dedos dos pés, dor nos me m- bros inferiores, neuropatia do nervo craniano), proteinúria, infe cção, hiperlipemia e doença ate- rosclerótica. Esta última pode resultar em ataque cardíaco, gangrena ou enfermidade coronariana. Os estados hiperglicêmicos são classificados: A O H HO OH H CH2HO H H H OH OH Glicose
  • 5. 48 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações Diabetes mellitus tipo 1 (Imuno-mediado). Este tipo compreende 5 -10% de todos os casos de diabetes mellitus. Os sintomas são: poliúria, poli- dipsia, polifagia, perda inexplicada de peso, irri- tabilidade, infecção respiratória e desejo de bebi- das doces. O aparecimento, em geral, é de forma subaguda ou aguda em indivíduos com menos de 20 anos. Estes pacientes tem deficiência de insu- lina e são dependentes da mesma para manter a vida e prevenir cetoacidose. Quando não tratada, surgem náuseas, vômitos, desidratação, estupor, coma e, finalmente, a morte. O diabetes do tipo 1 é caracterizado pela destruição das células β do pâncreas, levando a uma deficiência total de insu- lina pancreática. Apresenta a presença de anticor- pos anti-insulina, anti-ilhotas e anti-GAD (descar- boxilase do ácido glutâmico). Além do mecanismo auto-imune este diabetes pode ser idiopático. Diabetes mellitus tipo 2. Ao redor de 80-90% de todos os casos de diabetes correspondem a este tipo. Ocorre, em geral, em indivíduos obesos com mais de 40 anos, de forma lenta e com história familiar de diabetes. Estes pacientes apresentam sintomas moderados e não são dependentes de insulina para prevenir cetonúria. Nestes casos os níveis de insulina podem ser: normais, diminuídos ou aumentados. É caracterizada pela relativa defi- ciência pancreática, ou de predominante deficiê n- cia pancreática com relativa resistência à ação insulínica. Raramente apresenta cetoacidose dia- bética Outros tipos específicos de diabetes. § Defeitos genéticos das células β: MODY 1, MODY 2, MODY 3 e outros. São formas raras de diabetes tipo 2. (MODY = Maturity onset type of diabetes of youth). § Defeitos genéticos da ação da insulina: diabe- tes lipo-atrófico, leprechauismo, síndrome de Rabson-Mendenhall, resistência à insulina A e outros. § Doenças do pâncreas exócrino: pancreatites, trauma/pancreatectomia, neoplasia, hemocro- matose, pancreatopatia, fibrocalculosa e outras. § Endocrinopatias: acromegalia, síndrome de Cushing, glucagonoma, feocromocitoma, s o- matostinoma, hipertireoidismo e outras. § Induzido por drogas ou substâncias químicas: vacor – veneno de rato – pentamidine, ácido nicotínico, glicocorticóides, tiazídicos, hor- mônios tireoideos, agonistas β-adrenérgicos e outras. § Infecções: rubéola congênita, citomegalovírus e outras. § Formas incomuns de diabetes imuno-mediado: síndrome de “Stiff-man”, anticorpos antire- ceptores de insulina e outros. § Outras síndromes genéticas associadas ao diabetes: síndrome de Down, síndrome de Klinefelter, síndrome de Turner, síndrome de Lawrence-Moon-Beidel, coréia de Huntington, síndrome de Prader-Willi e outras. Diabetes mellitus gestacional. É a intolerâ n- cia aos carboidratos de intensidade variada (dia- betes e intolerância diminuída à glicose), dia- gnosticada pela primeira vez durante a gravidez podendo ou não persistir após o parto. Estima -se que esta anormalidade seja encontrada entre 1- 20% das grávidas. No entanto, somente ao redor de 3% é diabetes mellitus gestacional verdadeira. Em pacientes diabéticas grávidas, o controle insa- tisfatório da glicose está associado com alta inci- dência de morte intra -uterina e má formação fetal. Tolerância à glicose alterada e hiperglicemia estão relacionadas com o aumento na incidência de ma- crossomia fetal e hipoglicemia neonatal. Na maio- ria destes casos, a resposta ao TOTG (teste oral de tolerância à glicose, v. adiante) volta ao normal depois da gravidez, no entanto, ao redor de 50% destas pacientes desenvolvem diabetes mellitus nos sete anos seguintes. INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL O diagnóstico dos distúrbios no metabolismo da glicose depende da demonstração de alterações na
  • 6. Carboidratos 49 concentração de glicose no sangue. As várias d e- sordens do metabolismo dos carboidratos podem estar associadas com (a) aumento da glicose plas- mática (hiperglicemia); (b) redução da glicose plasmática (hipoglicemia) e (c) concentração nor- mal ou diminuída da glicose plasmática acom- panhada de excreção urinária de açúcares reduto- res diferentes da glicose (erros inatos do metabo- lismo da glicose). Os seguintes testes laboratoriais investigam alguns destes distúrbios. GLICOSE PLASMÁTICA EM JEJUM A determinação da glicemia é realizada com o paciente em jejum de 12-14 h. Resultados normais não devem excluir o diagnóstico de distúrbios metabólicos dos carboidratos. Os critérios para a avaliação em homens e mulheres não-gestantes são: Normais: até 110 mg/dL Glicemia de jejum inapropriada: de 110 a 126 mg/dL Diabéticos: acima de 126 mg/dL O valor de 126 mg/dL foi estabelecido pois níveis superiores provocam alterações microvas- culares e elevado risco de doenças macrovascula- res. GLICOSE PLASMÁTICA PÓS-PRANDIAL DE DUAS HORAS A concentração da glicemia duas horas após a ingestão de 75 g de glicose em solução aquosa a 25% (ou refeição contendo 75 g de carboidratos) é de considerável utilidade na avaliação do diabetes. Normalmente, após a ingestão de carboidratos, a glicose sangüínea tende a retornar ao normal den- tro de duas horas. Após duas horas da sobrecarga, os valores de glicemia plasmática ≥200 mg/dL são considerados diagnósticos de diabetes mellitus. Níveis entre 140 e 200 mg/dL são encontrados na “tolerância à glicose alterada” (v. adiante). Os indivíduos nor- mais, que se submetem a esta prova, apresentam teores glicêmicos ≤140 mg/dL. Entretanto, medi- cações, agentes químicos, desordens hormonais e dietas devem ser considerados ao examinar estes resultados. Além disso, os valo res tendem a cre s- cer com a idade (10 mg/dL por década de vida, após a idade de 40 anos). Deste modo, concentra- ções acima de 200 mg/dL podem ser encontradas em indivíduos idosos que não apresentam diabe- tes. TESTE DE O´SULLIVAN O teste de O´Sullivan é empregado para detectar o diabetes gestacional e deve ser realizado entre 24ª e a 28ª semana de gestação. À paciente em jejum é administrada 50 g de glicose em solução aquosa a 25% por via oral. O sangue é colhido após 1 hora. Resultados iguais ou superiores a 140 mg/dL indi- cam a necessidade de um teste completo. TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA À GLICOSE (TOTG) Medidas seriadas da glicose plasmática, nos tem- pos 0, 30, 60, 90 e 120 minutos após administra- ção de 75 g de glicose anidra (em solução aquosa a 25%) por via oral fornece um método apropriado para o diagnóstico de diabetes. Apesar de mais sensível que a determinação da glicose em jejum, a TOTG é afetada por vários fatores que resulta em pobre reproducibilidade do teste (Tabela 7.1). A menos que os resultados se apresentem nitid a- mente anormais, a TOTG deve ser realizada em duas ocasiões diferentes antes dos valores serem considerados anormais. As crianças devem receber 1,75 g/kg de peso até a dose máxima de 75 g de glicose anidra. A TOTG é indicada nas seguintes situações: § Diagnóstico do diabetes mellitus gestacional (neste caso, é empregado o TOTG modificado, v. adiante). § Diagnótico de “tolerância à glicose alterada” (ex.: em pacientes com teores de glicemia plasmática em jejum entre 110 e 126 mg/dL).
  • 7. 50 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações § Avaliação de pacientes com nefropatia, neuro- patia ou retinopatia não explicada e com gli- cemia em jejum abaixo de 126 mg/dL. Tabela 7.1. Fatores que afetam a TOTG Antes do teste Durante o teste Ingestão de carboidratos Postura Tempo de jejum Náusea Cirurgia digestória Ansiedade Tiazidas Cafeína Estrogênios Tabagismo Fenitoína Horário do dia Propranolol Atividade Corticoesteróides Quantidade de glicose ingerida Idade Inatividade Peso Estresse (cirurgia, infecção) Para garantir a fidelidade nos resultados dos testes de tolerância à glicose, os seguintes cuid a- dos devem ser tomados: § Nos três dias que antecedem a prova, o paci- ente deve ingerir, pelo menos, 150 g de carboi- dratos. § O paciente deve estar exercendo suas ativid a- des físicas habituais, mantendo-se em regime alimentar usual, exceto pela adição da quanti- dade de carboidratos indicada no item anterior. § Durante o teste, o paciente deve se manter em repouso e sem fumar. § O paciente não deve estar usando medicação que interfira no metabolismo dos carboidratos. § A prova deve ser realizada pela manhã com o paciente em jejum de 8-10 horas. CRITÉRIOS PARA O DIAGNÓSTICO DOS ESTADOS HIPERGLICÊMI COS O diagnóstico do diabetes mellitus depende da demonstração de hiperglicemia. Para o diabetes do tipo 1, a hiperglicemia aparece adruptamente, é severa e está acompanhada de distúrbios metabó- licos. No diabetes mellitus do tipo 2 o diagnóstico deve ser cuidadoso pois as alterações da glicose podem ser moderadas. A seguir, os critérios de diagnóstico normalmente aceitos: Diabetes mellitus em homens e mulheres não-grávidas. Qualquer dos achados a seguir é diagnóstico: § Sintomas e sinais de diabetes (polidipsia, p o- liúria, emagrecimento, astenia, distúrbios vis u- ais e outros) e elevação casual (sem observar o jejum) de glicose plasmática (≤200 mg/dL). § Glicose plasmática em jejum de oito horas ≥126 mg/dL confirmado por um segundo teste. § Glicose plasmática ≥200 mg/dL durante a TOTG aos 120 minutos após a sobrecarga. Glicemia de jejum inapropriada (Impaired fasting glucose ou IFG). É definida pela gli- cemia em jejum igual ou maior que 110 mg/dL, mas menor que 126 mg/dL. Tolerância à glicose diminuída (I mpaired glucose tolerance ou IGT). É definida por glicose plasmática pós-prandial de duas horas (ingestão de 75 g de glicose anidra) maior que 140 mg/dL, mas menor que 200 mg/dL. Diagnóstico do diabetes gestacional. Os indí- cios de diabetes gestacional incluem uma forte histó- ria familiar de diabetes, idade superior a 30 anos, história de gravidez com recém-nascidos grandes para a idade gestacional ou com mais de 4 kg, uma história inexplicada de morte fetal ou morte neonatal, história de diabetes gestacional, presença de hipertensão ou pré-eclâmpsia, história de reprodução dificultada, macrossomia ou polidrâmnio na gravidez atual. Achados clínicos suspeitos incluem obesidade ou ganho de peso na gravidez atual, glicosúria, infecções recorrentes por monília. O teste tolerância à glicose e os critérios dia - gnósticos são ligeiramente diferentes em gestan- tes. Nestes casos, administra -se 100 g de glicose e as amostras de sangue são colhidas nos tempos 0,
  • 8. Carboidratos 51 60, 120 e 180 minutos. Os valores em mulheres não diabéticas são: Jejum <105 mg/dL Uma hora <190 mg/dL Duas horas <165 mg/dL Três horas <145 mg/dL O diagnóstico de diabetes gestacional ocorre quando dois desses limites forem atingidos ou ultrapassados. Em gestantes a partir da 20a semana de gravi- dez, indica-se glicemia em jejum como teste de rastreamento. Valores maiores que 85 mg/dL são considerados positivos sendo necessário proceder ao TOTG. Considera-se, também, confirmatórios de diabetes gestacional valores o btidos de duas glicemias em jejum ≥ 105 mg/dL. CRITÉRIOS PARA A TRIAGEM DO DIABETES EM ASSINTOMÁTICOS O teste diagnóstico deve ser considerado em todos os indivíduos de 45 anos ou mais e, se normal, repetido a cada 3 anos. Também devem ser reali- zados em adultos de qualquer idade ou mais fre - qüentemente nos de 45 anos para cima, nas se- guintes situações: § Com excesso de peso (≥120% do peso ideal). § Com parentesco em primeiro grau com diabéti- cos. § Membros de grupos étnicos de alto risco (afro - americanos, hispânicos, asiáticos, indígenas americanos e outros). § Com história de macrossomia fetal (>4 kg) ou diagnóstico anterior de diabetes gestacional. § Com hipertensão (≥140/90). § Com colesterol-HDL ≤35 mg/dL e/ou triglice- rídios ≥250 mg/dL. § Com teste prévio positivo de “glicemia de je - jum inapropriada” ou “tolerância à glicose al- terada”. CONSEQÜÊNCIAS METABÓLICAS DO DIEBETES MELLITUS O defeito básico no diabetes mellitus é a deficiência insulínica (absoluta ou relativa) que afeta o metabolismo da glicose, lipídios, proteínas, potássio e fosfato. Além disso, influencia indiretamente a homeostase do sódio e água. Nos casos severos de diabetes (tipo 1) não-tratado encontram-se ainda cetoacidose, distúrbios ácido- básicos e hipertrigliceridemia. Hiperglicemia. Promovida pela elevação da produção hepática e diminuição da captação celular de glicose. § Aumento da produção hepática: a falta de insulina e as ações opostas do glucagon e adrenalina causam redução da glicogênese e o incremento da glicogenólise. Além disso, a ação do cortisol (insulina baixa) eleva a gliconeogênese. § Redução da captação periférica: a deficiência insulínica inibe a captação celular de glicose e da glicólise. Outros substratos (ácidos graxos, cetonas) são utilizados para a produção de energia. § Como conseqüência da hiperglicemia tem-se: § Elevação da glicose urinária com diurese osmótica e a conseqüente perda de água, sódio, potássio e fosfato, produz a depleção destas substâncias. § Aumento da tonicidade do líquido extracelular que extrai água das células produzindo desidratação celular e, se houver ingestão de água, a diluição dos constituintes extracelulares levando à hiponatremia (hipertônica). Distúrbios do metabolismo protéico. O diabetes é um estado catabólico associado com perda protéica, principalmente pela elevação da gliconeogênese – para cada 100 g de glicose formada, ao redor de 175 g de proteínas são destruídas. Distúrbios do metabolismo lipídico. A deficiência insulínica e a ação oposta do glucagon e adrenalina
  • 9. 52 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações estimulam a lipólise e a liberação de ácidos graxos para a circulação. Estes são captados para serem convertidos em energia (β-oxidação), cetonas e triglicerídios que são liberados pelo fígado na forma de VLDL (lipoproteínas de densidade muito baixa). Além do mais, a deficiência insulínica inibe a atividade da lipase lipoprotéica que reduz o desdobramento tanto das VLDL como dos quilomícrons, elevando os níveis de trigliceridemia. Hiperpotassemia. Uma das ações da insulina é a captação de íons potássio pelas células. Na redução da insulina o potássio deixa as células, provocando hiperpotassemia. Parte deste potássio é perdido na urina como conseqüência da diurese osmótica, causando depleção de potássio na ordem de 200-400 mmol. Quando a insulina é adminis trada, o potássio extracelular retorna às células o que pode resultar em hipopotassemia severa a menos que suplementos de potássio sejam administrados. Hiperfosfatemia. A insulina ao estimular a glicólise utiliza fosfato inorgânico (produção de ATP etc.), o que eleva a captação celular de fosfato. Na falta de insulina, este íon é liberado das células, promovendo hiperfosfatemia. Parte do mesmo é perdido na urina causando déficit no organismo. Quando a insulina é administrada ele volta para as células, produzindo hipofosfatemia severa. Distúrbios ácido-base. No diabetes tipo 1 é fre- qüente a acidose metabólica devido a cetoacidose diabética. Os níveis de bicarbonato plasmático podem atingir valores abaixo de 5 mmol/L com pH de 6,8. Pode existir também uma acidose láctica moderada associada. Distúrbios do sódio e água. A hiponatremia pode ocorrer como conseqüência da hiperglicemia extra- celular. Além disso, devido a hiperlipidemia pode existir pseudohiponatremia. Também ocorre a depleção do sódio total do corpo pela perda renal como conseqüência da diurese osmótica. Em pacientes conscientes, a perda de água é compensada pela ingestão oral. Pacientes graves podem desidratar-se e, dependendo do grau de desidratação, o sódio plasmático aumenta levando a uma hipernatremia. COMPLICAÇÕES DO DIABETES MELLITUS Do ponto de vis ta bioquímico as principais complica- ções são: § Cetoacidose diabética. § Coma hiperosmolar. § Acidose láctica. § Doença renal. § Hiperlipidemia. CETOACIDOSE DIABÉTICA A cetoacidose diabética pode estar presente em pacientes ainda não diagnosticados como diabéti- cos. Em pacientes diabéticos, a cetoacidose pode ser precipitada pela deficiência profunda de insu- lina (falta da aplicação ou por dose inadequada), níveis elevados de hormônios contra -reguladores (glucagon, cortisol, hormônio de crescimento, adrenalina e noradrenalina), infecções intercor- rentes, trauma, infarto do miocárdio, episódios tromboembólicos, crises hipertensivas, vômitos, exercícios físicos esporádicos ou estresse emocio - nal. As características clínicas são: desidratação, cetoacidose, depleção eletrolítica e hiperventila - ção. A cetoacidose pela deficiência de insulina acompanhada por hormônios contra -reguladores resultam em hiperglicemia (a degradação de pro - teínas fornece aminoácidos para a gliconeogênese) e na mobilização de ácidos graxos do tecido adi- poso (aumento da a ção da enzima lipase hormônio sensível) com o subseqüente aumento da formação hepática de corpos cetônicos. Estes, por suas ca- racterísticas de ácidos fracos, exaurem as reservas disponíveis de tampão, provocando cetoacidose. A hiperglicemia causa hiperosmolalidade ex- tracelular que leva tanto à desidratação intracelu - lar como também, à diurese osmótica. A diurese osmótica provoca perda de água, Na + , K+ , cálcio e
  • 10. Carboidratos 53 outros constituintes inorgânicos e sobrevém redu- ção do volume de sangue circulante. O aumento na produção de corpos cetônicos estabelece uma aci- dose metabólica com hipercalemia associada. Aci- dose láctica e uremia pré -renal podem também estar presentes. As principais características labo- ratoriais da cetoacidose são: § Hiperglicemia, geralmente >300 mg/dL. § Acidose metabólica com aníons indeterminados elevados, pH sangüíneo <7,30 e bicarbonado <15 mmol/L. § Cetonemia e cetonúria (diluição >1:2) § Hiperpotassemia. § Hiperfosfatemia. Dois outros dados de interesse bioquímico di- zem respeito a amilase e a creatinina: § Elevações da amilasemia são comuns durante a cetoacidose diabética e como estes pacientes muitas vezes apresentam dor abdominal, são realizados diagnósticos errôneos de pancreatite aguda. § Os níveis de creatinina estão elevados em vir- tude da desidratação, mas também porque o acetoacetato interfere positivamente na reação de Jaffé. Pacientes com cetoacidose diabética apresen- tam polidipsia, poliúria, cefaléia, náusea, vômitos e dor abdminal. CORPOS CETÔNICOS Os corpos cetônic os consistem de acetoacetato, β-hidroxibutirato e acetona, sendo formados no fígado a partir do acetil CoA derivado da oxidação dos ácidos graxos livres provenientes do tecido adiposo. Quando ocorre redução na utilização de carboidratos (ex.: diabetes mellitus) ou falta de carboidratos na dieta (ex.: inanição) acontece um aumento na produção de corpos cetônicos, levando a um acúmulo dos mesmos no sangue que exce- dem a capacidade dos tecidos periféricos em me - tabolizá-los. Os corpos cetônicos estão presentes no sangue na seguinte proporção: β-hidroxibutirato (78%), acetoacetato (20%) e acetona (2%). No diabetes severo, a relação β-hidroxibutirato/acetato pode atingir, ao redor de 8:1 dependendo da presença de NADH suficiente que favorece a produção de β-hidroxibutirato. Teores anormalmente elevados de corpos ce- tônicos no sangue ( cetonemia) ultrapassam o um- bral renal provocando o aparecimento de cetonú- ria. O acúmulo destes compostos no sangue leva à cetoacidose (acidose metabólica). O diabetes e o consumo de álcool são as causas mais comuns de cetoacidose. Quando os tecidos não conseguem metabolizar completamente os corpos cetônicos formados pelo excesso de produção, tem-se uma acidose metabó- lica. A acidose é parcialmente compensada pela hiperventilação, com redução da pCO2 . Na aci- dose, também, o H + desloca-se para o interior das células enquanto o K + deixa o espaço intracelular. Nenhum dos métodos laboratoriais detectam simultaneamente os três corpos cetônicos no san- gue ou urina. Os mais comuns detectam somente o acetoacetato não reagindo com o β-hidroxibutirato. Este fato pode produzir uma situação paradoxal. Quando um paciente apresenta inicialmente cetoacidose, o teste para cetonas pode estar levemente positivo. Com a terapia, o β-hidroxibutirato é convertido em acetoacetato parecendo que a cetose está mais intensa . O teste para detectação de cetonas na urina é recomendado no diabetes tipo 1: (a) durante crises agudas ou estresse; (b) quando os teores de gli- cose ultrapassam 240 mg/dL; (c) durante a gravi- dez; (d) ou quando os sintomas de cetoacidose estão presentes. Estes testes na urina são descritos no capítulo “Função renal”. A quantificação da acetona, acetoacetato e β- hidroxibutirato é realizada por colorimetria, enzi- mologia, cromatografia gasosa ou eletroforese capilar. Os constituintes avaliados na cetoacidose dia - bética além da glicose e corpos cetônicos, são: (a) o Na+ que pode estar normal ou inicialmente baixo; (b) o K+ que pode estar normal mas, em
  • 11. 54 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações geral, está elevado; (c) a uréia apresenta valores aumentados devido a desidratação. A gasometria arterial apresenta o CO2 total reduzido, às vezes abaixo de 5 mmol/L nos casos severos. Outros resultados de gasometria indicam acidose metabó- lica com diminuição compensatória da pCO2 . SÍNDROME HIPEROSMOLAR NÃO- CETÔNICA Esta condição ocorre mais frequentemente em pacientes idosos com diabetes do tipo 2. A deficiência insulínica promove efeitos sobre o metabolismo dos carboidratos como na cetoacidose diabética, mas na forma menos severa, permitindo uma menor cetogênese. Além disso, pode existir comprometimento da função renal em pacientes idosos, levando a grandes perdas de água e eletrólitos. A hiperglicemia severa desenvolve desidra- tação profunda e osmolalidade bastante alta, mas sem cetose ou acidose. Esta condição apresenta-se com as seguintes características bioquímicas: § Hiperglicemia (>500 mg/dL). § Osmolalidade sérica bastante elevada: >320 mosmol/kg. § Acidemia mínima ou ausente: pH sangüíneo >7,30 e bicarbonato plasmático >15 mmol/L. § Cetonemia: negativa. Os fatores precipitantes da síndrome hiperos- molar não-cetônica são os mesmos descritos para a cetoacidose diabética (v. acima). LACTATO SÉRICO E NO LIQUOR O ácido láctico, um intermediário no metabolismo dos carboidratos, é proveniente do músculo es - quelético, cérebro e eritrócitos. A concentração de lactato sangüíneo é dependente da sua produção e degradação no fígado e rins. Ao redor de 30% do lactato formado é utilizado no fígado, predomi - nantemente na gliconeogênese (ciclo de Cori) para a produção de glicose. Aumentos moderados na formação de lactato resultam no incremento da depuração do lactato hepático; no entanto, a cap- tação fica saturada quando as concentrações e xce- dem 2 mmol/L. Por exemplo, durante o exercício intenso, as concentrações de lactato podem au- mentar significativamente - de uma média de 0,9 mmol/L para mais de 20 mmol/L em apenas 10 segundos. Não existe uniformidade quanto aos teores de lactato que caracterizam a acidose lác- tica. Níveis de lactato excedendo 5 mmol/L e pH sangüíneo <7,25 indicam acidose láctica. A acidose láctica se apresenta em duas condi- ções clínicas diversas: Tipo A (hipóxica). Este é o tipo mais comum. Associada com a redução de oxigenação tecidual (hipóxia) encontrada em exercícios severos, con- vulsões, pobre perfusão tecidual (hipotensão, in - suficiência cardíaca, parada cardíaca), conteúdo de oxigênio arterial reduzido (asfixia, hipoxemia, toxicidade pelo monóxido de carbono e anemia severa). Tipo B (metabólica). Associada com doença (diabetes mellitus, neoplasmas, hapatopatia, aci- dose respiratória, insuficiência renal e sepse). Drogas/toxinas/infusões (etanol, metanol, salici- latos, nitroprussiato, fenformin, catecolaminas, frutose e sorbitol). Acidose láctica congênita: defeitos na gliconeogênese (deficiência de glicose 6-fosfatase ou piruvato carboxilase), no metabo- lismo do piruvato (deficiê ncia da piruvato desi- drogenase), fosforilação oxidativa mitocondrial. O mecanismo da acidose láctica tipo B não é conhecido, mas acredita-se que o defeito primário seja o impedimento mitocondrial na utilização do oxigênio. Isto reduz os estoques de ATP e NAD+ , com acúmulo de NADH e H+ . Em presença de perfusão hepática reduzida ou enfermidade hepá- tica, a remoção do lactato é diminuída provocando o agravamento da acidose láctica. O teor de lactato no LCR normalmente varia de forma paralela aos encontrados no sangue. Em alterações bioquímicas no LCR, entretanto, o lac- tato altera de forma independente dos valores san- güíneos. Níveis aumentados no LCR são encon- trados em acidentes cerebrovascular, hemorragia
  • 12. Carboidratos 55 intracraniana, meningite bacteriana, epilepsia e outras desordens do SNC. Na miningite asséptica (viral), os níveis de lactato no LCR não elevam. Valores de referência: no soro: 5,5 a 22,0 mg/dL. No liquor: 11 a 19 mg/dL. Na avaliação laboratorial da acidose láctica também são encontrados os seguintes resultados: § Acidose metabólica: bicarbonato plasmático <20 mmol/L (pode chegar a 5 mmol/L). § Lactato plasmático: bastante elevado. § Hiperosfatemia. DOENÇA RENAL Ao redor de 10-25% dos pacientes tratados com doença renal terminal apresentam nefropatia diabética. Isto é provocado basicamente por doença dos pequenos vasos sangüíneos associada ao diabetes que se manifesta inicialmente pela proteinúria e síndrome nefrótica. Subsequentemente, a função renal declina com elevação da uréia e creatinina plasmática, eventualmente levando à insuficiência renal. A avaliação da concentração da microalbuminúria é útil para detectar esta desordem precocemente. MICROALBUMINÚRIA Microalbuminúria (pequenas quantidades de al- bumina e não pequenas moléculas) designa a ex- creção aumentada de albumina urinária não de- tectável pelas tiras reativas empregadas rotineira - mente. É excretada em pequenas quantidades por diabéticos com nefropatia com redução da filtração glomerular. A determinação da microal- buminúria permite a detecção de complicações renais, permitindo o retardamento da evolução pela estabilização dos níveis de glicemia. É con- siderada importante quando se observa uma taxa de excreção de albumina (TEA) de 20 a 200 µg/min ou de 30 a 300 mg/d em dois terços das amostras durante seis meses. A presença de microalbuminúria em diabéticos tipo 1 sugere maior risco de contrair nefropatia diabética. Nos diabéticos tipo 2, um teor de albumina >0,02 g/d é um fator de risco para acidentes cardiovasculares e infarto do miocárdio. A determinação da microalbuminúria é recomendada nos seguintes casos: § Detectação precoce de nefropatia diabética. § Monitoramento do diabetes gestacional. § Monitoramento de gravidez de risco. A urina empregada neste teste deve ser colhida por um período de 12 h ou 24 h com o paciente em repouso, pois ocorre um aumento significativo na TEA em diabéticos, após esforço ou exercícios exaustivos. Em geral, a microalbuminúria é determinada por métodos imunoturbidimétricos, nefelométricos ou de imunodifusão radial. HIPERLIPIDEMIAS NO DIABETES MELLITUS As anormalidades lipídicas associadas com o diabetes mellitus incluem: § Hipertrigliceridemia. A deficiência insulínica inibe a enzima lipase lipoprotéica reduzindo a metabolização das VLDL. Além disso, ocorre aumento na síntese hepática das VLDL estimulada pela liberação de ácidos graxos (lipólise do tecido adiposo) parte dos quais, são convertidos em triglicerídios e VLDL no fígado. § Hipercolesterolemia. O diabetes tipo 2 e a intolerância à glicose são comumente associados à hipercolesterolemia. HIPOGLICEMIA A hipoglicemia é uma condição médica aguda caracterizada pela concentração da glicose san- güínea abaixo dos limites encontrados no jejum (<50 mg/dL em adultos e <40 mg/dL em recém-
  • 13. 56 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações nascidos); no entanto é difícil definir limites es - pecíficos. Pode ocorrer redução em uma hora e meia a duas horas após uma r efeição, sendo relati- vamente comum a obtenção de teores de glicose plasmática ao redor de 50 mg/dL no teste pós- prandial de duas horas. Mesmo em jejum, valores de glicose extremamente baixos, podem ocasio - nalmente ser encontrados sem sintomas ou evi- dências de alguma doença. As principais causas de hipoglicemia são: Neonatais. § Pequeno para a idade gestacional/prematuros. § Síndrome do sofrimento respiratório. § Diabetes mellitus materna. § Toxemia da gravidez. § Outras causas (ex.: estresse pelo frio, policite- mia). Crianças. § Hipoglicemia cetônica. § Defeitos enzimáticos congênitos (doenças do armazenamento do glicogênio, deficiência de enzimas gliconeogênicas, galactosemia, intole - rância hereditária à frutose). § Hipersensitividade à leucina. § Hiperinsulinismo endógeno (nesidioblastose). § Síndrome de Reye. § Idiopática. Adultos. A hipoglicemia em jejum é rara, mas sinaliza uma séria patologia subjacente. § Medicações/toxinas: doses excessivas de insu- lina ou agentes hipoglicemiantes orais. Salici- latos e bloqueadores β-adrenérgicos. § Excesso de etanol: pelo aumento da concentra - ção de NADH citosólico reduzindo a gliconeo- gênese. § Doenças hepáticas: cirrose portal severa, ne- crose hepática aguda e tumores hepáticos. § Doenças endócrinas: insuficiência adrenocorti- cal (doença de Addison), hipotireoidismo, hi- popituitarismo (primário ou secundário), defi- ciência do hormônio de crescimento. § Tumores pancreáticos produtores de insulina: insulinomas – geralmente um pequeno e solitá- rio adenoma benigno das ilhotas pancreáticas, que secretam quantidades inapropriadas de in- sulina. § Tumores não-pancreáticos (fibromas, sarc o- mas, hepatomas, carcinomas adrenais neoplas- mas gastrointestinais, tumores carcinóides e mesoteliomas). § Septicemia. É descrita em choques sépticos devido a infecções por g ram-negativos. § Insuficiência renal crônica. Pacientes urêmicos são propensos a desenvolver hipoglicemia por vários fatores: redução da inativação renal da insulina, diminuição da gliconeogênese renal, perda de proteínas resultando no baixo supri- mento de alanina (precursor da gliconeogê- nese) e defeito na reabsorção da glicose. § Hipoglicemia reativa – causada pela liberação exagerada de insulina após uma refeição; idio- pática. § Após refeições em pacientes submetidos à ci- rurgias gástricas. § Desnutrição severa. § Erros inatos do metabolismo (ex.: glicogenose do tipo I). Manifestações clínicas da hipoglicemia. Não existem sintomas específicos para a hipogli-
  • 14. Carboidratos 57 cemia. Uma redução rápida da glicose plasmática a teores hipoglicêmicos geralmente desencadeia uma resposta s impática com liberação de adrena- lina, que produz os sintomas clássicos da hipogli- cemia: fraqueza, suor, calafrios, náusea, pulso rápido, fome, tonturas e desconforto epigástrico. Estes sinais não são específicos da hipoglicemia pois também são encontradas em outras condi- ções, tais como: hipertireoidismo, feocromocitoma e ansiedade. O cérebro é totalmente dependente da glicose sangüínea e níveis muito baixos da glicose pla s- mática (menos de 20 a 30 mg/dL) provocam dis- funções severas do sistema nervoso central (SNC). Durante jejum prolongado ou hipoglicemia, os corpos cetônicos são utilizados como fonte de energia. Nestes casos, vários sintomas e sinais são encontrados, tais como: enxaqueca, confusão, letargia e perda de consciência. Estes sinais e sintomas são conhecidos como neuroglicopenia. A restauração da concentração da glicose plasmática, geralmente provoca uma pronta recuperação apesar de uma provável lesão irreversível. O teste oral de tolerância à glicose (TOTG) não é um teste apropriado para avaliar pacientes suspeitos de hipoglicemia. DETERMINAÇÃO DA GLICOSE Paciente. Deve permanecer em jejum por 12-14 horas. Caso seja diabético, não deve usar insulina ou hipoglicemiantes orais antes da coleta. Amostra. Soro, plasma, LCR e urina. Quando o sangue for colhido sem conservantes e deixado a temperatura ambiente, as enzimas glicolíticas dos eritrócitos, leucócitos, plaquetas e de alguns con- taminantes bacterianos reduzem os níveis de gli- cose na amostra em aproximadamente 5 a 7% por hora (5 a 10 mg/dL). Esta redução torna-se negli- genciável quando: § O plasma ou soro for separado em menos de 30 minutos após a coleta. § Sangue coletado em tubos contendo fluoreto de sódio (2 mg por mL de sangue) – inibidor da enzima enolase da g licólise – ou de iodoace- tato de sódio (2 mg por mL de sangue) – inibi- dor da gliceraldeído 3 -P desidrogenase da gli- cólise. § Por refrigeração da amostra. Em soro ou plasma refrigerado a glicose permanece estável por três dias. As amostras de LCR estão muit as vezes conta- minadas com bactériais ou outros constituintes celulares e devem ser analisadas imediatamente após a coleta ou centrifugadas e refrigeradas. Em urinas de 24 h a glicose é preservada pela adição de 5 mL de ácido acético glacial ao frasco coletor antes do início da coleta. O pH final da urina permanece entre 4 e 5, o que inibe a ativi- dade bacteriana. Mesmo com o uso de conser- vante, a urina também deve ser armazenada em refrigerador durante o período de coleta. Amostras de urina mantidas em temperatura ambiente po- dem perder até 40% de seu conteúdo de glicose após 24 horas. Interferências. Resultados falsamente elevados: paracetamol, ácido acetilsalicílico, ácido ascór- bico, ácido nalidíxico, ácido nicotínico, adrena- lina, benzodiazepínicos, cafeína, carbonato de lítio, cimetidina, clonidina, cortisona, dopamina, esteróides anabólicos, estrogênios, etanol, fenito- ína, furosemida, levodopa, tiazidas. Resultados falsamente reduzidos: alopurinol, anfetaminas, bloqueadores β-adrenérgicos, clofibrato, fenaci- tina, fenazopiridina, fenformina, hipoglicemiantes orais, insulina, isoniazida, maconha, nitrazepan e propranolol (em diabéticos). Métodos. No passado, os métodos empregados para a determinação da glicose baseavam-se na capacidade redutora da mesma. Os oxidantes utili- zados eram o cobre ou o íon ferricianeto em meio alcalino reduzidos pela glicose a íon cuproso e íon ferrocianeto, respectivamente. Os métodos mais populares, transformavam os íons cuprosos a óxido cuproso em presença de calor. O desenvol- vimento de cor era conseguido pela redução do fosfomolibdato (Folin-Wu) ou arsenomolibdato (Somogyi-Nelson) para formar azul de molibdê-
  • 15. 58 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações nio. Estes métodos foram abandonados por sua complexidade e sofrerem ação de interferentes. O-Toluidina. A determinação da glicose pela o-toluidina é a mais específica entre os métodos químicos; entretanto, o seu emprego tornou-se muito restrito depois que esta substância foi cla s- sificada como carcinogênica. A o-toluidina é uma amina aromática que condensa com o grupo aldeí- dico da glicose em solução de ácido acético a quente para formar uma mistura em equilíbrio de uma glicosilamina e a correspondente base de Schiff. Após rearranjos e reações, ocorre o desen- volvimento de cor verde-azulada cuja absorvância é medida em 630 nm. A o-toluidina reage com outras hexoses, como a galactose e a manose. As pentoses, como a xilose, reagem com a o-toluidina para formar cor laranja, com absorvância máxima em 480 nm. O método da o-toluidina sofre interfe -rências da bilirrubina que, em teores elevados, apresenta valores falsamente aumentados de glicose já que pode ser parcialmente convertida no pigmento biliverdina de cor verde. A turvação na solução final como em presença de lipemia, causa result a- dos falsamente elevados. Métodos enzimáticos. Empregam enzimas como reativos e são os mais utilizados atualmente em razão da grande especificidade pela glicose. Eles medem a glicose verdadeira e não os com- postos redutores. São simples e rápidos de executar, além de necessitar pequenos volu mes de amostra. Os dois sistemas enzimáticos mais empregados são: glicose oxidase, hexoquinase e glicose des idrogenase. Glicose oxidase. É altamente específica para a β-glicose. Em presença do oxigênio, a enzima converte a β-glicose a ácido glicônico e peróxido de oxigênio. Em uma segunda reação, a enzima peroxidase decompõe o peróxido de hidrogênio em água e oxigênio. Este último oxida – em pre- sença da peroxidase – um cromogênio aceptor de oxigênio (como o o-dianosidina) para formar um produto colorido lido fotometric amente. Elevadas concentrações de ácido úrico, bilirrubina ou ácido ascórbico inibem a segunda reação por competição do cromogênio pelo H2 O2 produzindo falsos re - sultados reduzidos. Muitas destas interferências são eliminadas pelo uso de 4-aminofenazona (método de Trinder). A concentração de glicose também é determi- nada por polarografia. Este método emprega um eletrôdo de O 2 e glicose oxidase produzindo ácido glicônico e peróxido de hidrogênio a partir da glicose. A catalase desdobra o peróxid o de hidro- gênio. A quantidade de O2 consumido é medida pelo eletrôdo de O 2 e está diretamente relacionada aos teores de glicose nas amostras. O método de glicose oxidase foi adaptado para uma grande gama de instrumentos automatizados. No sistema de reativ o seco DT Vitros a glicose oxidase está presente em um filme de múltiplas camadas associado a um indicador similar ao e m- pregado pelo método de Trinder. A intensidade da cor final é medida através da redução da transpa- rênica do filme por espectrofotometria de refle- xão. Hexoquinase. O emprego da hexoquinase apre- senta algumas vantagens sobre a glicose oxidase e é adotada em alguns países como o método de referência para a determinação de glicose. Este método consiste de duas reações acopladas: (a) a glicose é fosforilada pelo ATP pela ação da hexo- quinase; (b) a glicose 6-fosfato resultante é con- vertida pela glicose 6-fosfato desidrogenase, na presença de NADP+ , em 6-fosfogliconolactona e NADPH. O NADPH formado é proporcional à quantidade de glicose na amo stra e é medido em 340 nm. Apesar da hexoquinase também fosforilar outras hexoses, esses carboidratos não estão pre- sentes em concentrações suficientemente altas nas amostras para interferir. A hemólise interfere com o sistema hexoquinase pois os eritrócit os contém glicose 6 -P desidrogenase e 6 -fosfogliconato desi- drogenase que empregam NADP+ como substrato. Glicose desidrogenase. A glicose desidro -ge- nase catalisa a redução de NAD+ , produzindo gli- conolactona e NADH que pode ser monitorado em 340 nm. Sofre interferências da D-xilose e da manose, que raramente são encontradas em teores significativos.
  • 16. Carboidratos 59 HEMOGLOBINA GLICADA Em adultos, os eritrócitos normais contém hemo- globina A (97% do total), HbA2 (2,5%) e HbF (0,5%). Por diferentes métodos eletroforéticos e cromatográficos, foram detectadas sub-frações da hemoglobina A, identificadas como HbA1a, HbA1b e HbA1c e, coletivamente, denominadas hemoglo- binas glicadas (hemoglobinas glicosiladas ou glico-hemoglobinas). A fração HbA1c constitui, aproximadamente 80% da HbA. As hemoglobinas glicadas são obtidas pela adição espontânea de glicose ao grupo amino livre das proteínas hemo- globínicas por reações não-enzimáticas. Os conte- údos destas sub-frações aumentam com a idade dos eritrócitos. O estudo destas hemoglobinas é realizado, principalmente, pela medida da sub-fração HbAlc em pacientes com diabetes mellitus. Esta avalia- ção indica o controle metabólico do paciente nas 8 a 10 semanas precedentes ao teste, enquanto a glicose sangüínea reflete o controle somente das 24 horas anteriores. A HbA1c é monitorada a cada três ou quatro meses em diabéticos estáveis e, em cada um ou dois meses, em diabéticos com pobre controle glicêmico. Grávidas diabéticas (especi- almente do tipo 1) são avaliadas uma a duas vezes ao mês para um controle mais efetivo. A terapêu- tica insulínica é ajustada nos pacientes diabéticos se a hemoglobina glicada ultrapassar 10%. Na monitoração de diabéticos, variações de 2% entre duas avaliações, é considerada clinicame nte signi- ficante e indicativa de um melhor ou pior controle glicêmico. Este teste não é adequado para o acompanha- mento de pacientes diabéticos portadores de h e- moglobinopatias, pois a presença de variantes da hemoglobina provocam redução da meia -vida das hemáciais e, portanto, do tempo de exposição da hemoglobina às variações dos teores de glicose circulante, diminuindo o percentual de hemoglo- bina glicada. Nestes casos é recomendado o acompanhamento destes pacientes pela dosagem da fructosamina. DETERMINAÇÃO DA HEMOGLOBINA GLICADA Paciente. Não necessita jejum para a coleta. Amostra. Sangue total colhido em tubo contendo EDTA, oxalato de potássio -fluoreto de sódio. O sangue pode ser armazenado em refrigerador por uma semana. Amostras heparinizadas devem ser ensaiadas no máximo em dois dias. Métodos. A hemoglobina glicada é determinada por três categorias de métodos baseados no modo como os componentes glicados e não-glicados são separados. São separados de acordo com: (a) dife- renças de carga (cromatografia de troca iônica, cromatografia líquida de alta execução, eletrofo- rese, focalização isoelétrica), (b) reatividade quí- mica (colorimetria e espectrofotometria) e (c) diferenças estruturais (cromatografia por afini- dade e imunoensaio). Microcolunas. A HbAlc é determinada, funda- mentalmente, por cromatografia por afinidade. Neste método, a amostra é aplicada a uma coluna trocadora de íons e os subcomponentes glicados eluídos com um tampão de baixa força iônica. As hemoglobinas restantes são, então, eluídas com tampão de alta força iônica. As frações são quanti- ficadas em espectrofotometria (em 415 nm). Este método é afetado por variações na temperatura, mas apresenta boa precisão. As variantes da h e- moglobina como HbF, HbS ou HbC desenvolvem interferência mínima. Eletroforese. A separação eletroforética da hemoglobina A 1 está baseada na capacidade do N - terminal livre da hemoglobina não-glicada em interagir com grupos carregados negativamente. Valores de referência: estão entre 5 a 8% da HbA total em indivíduos normais e variam entre 8 a 30% em pacientes com diabetes, dependendo do grau de controle de glicemia.
  • 17. 60 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações FRUCTOSAMINA É o nome genérico de proteínas cetoaminas. É análoga a hemoglobina glic ada e com meia-vida ao redor de 2 a 3 semanas, o que a torna de grande utilidade no monitoramento a curto prazo como um índice de controle glicêmico do diabético, particularmente em pacientes portadores de hemo- globinopatias, por não sofrer interferências de variantes das hemoglobinas. O ácido ascórbico exerce interferência positiva sobre o teste. O teste é sensível à variações nos teores das proteínas séricas, isto é, pacientes exclusivamente nutridos por via parenteral apresentam nítidas variações na concentração da fructosamina, apesar de glicemia normal estável. Há um aumento de 1,3% da fructosamina plasmática para cada 0,3 g/dL de aumento nos teores de proteinemia. Esta- dos hipoproteinêmicos (albumina sérica <3,0 g/dL) podem produzir resultados falsamente bai- xos para os níveis de fructosamina sérica. Valores de referência: 1,8 a 2,8 mmol/L. ERROS INATOS DO METABOLISMO DOENÇAS DO ARMAZENAME NTO DO GLICOGÊNIO O glicogênio é sintetizado e armazenado principalmente no fígado e músculo. As doenças do armazenamento são erros inatos raros do metabolismo dos carboidratos provocados pela deficiência ou redução na atividade de uma ou mais das muitas enzimas envolvidas. Uma das características deste grupo de doenças é a anormalidade no armazenamento do glicogênio, geralmente em quantidades aumentadas e, as vezes, com estrutura anormal. Pode ocorrer também hipoglicemia, alterações dos lipídios sangüíneos, hiperuricemia e acidose láctica. A mais comum das doenças do armazenamento do glicogênio é a Cori tipo IV, devido a deficiência da fosforilase quinase. Glicogênio com estrutura normal acumula, fundamentalmente, no fígado e músculo. A doença de von Gierke (Cori tipo I) é provocada pela deficiência de glicose 6-fosfatase; o glicogênio acumulado no fígado, rins e intestino também apresenta estrutura normal. Pode também desenvolver hipoglicemia profunda. GALACTOSEMIA O fígado é o principal local de conversão da galactose em glicose. Três defeitos genéticos que alteram o metabolismo da galactose são descritos: (a) deficiência das enzimas UDP-glicose:galactose 1-fosfato uridiltransferase, (b) galactoquinase ou (c) UDP- galactose 4-epimerase. Estes defeitos causam o aumento da galactose sérica e urinária. A galactosemia é uma doença rara (2 para cada 100.000 nascimentos). O defeito mais comum e mais severo é motivado pela deficiência UDP- glicose:galactose 1-fosfato uridiltransferase, que se manifesta no período neonatal ou primeira infância por vômitos acompanhados de hipoglicemia. A deficiência de galactoquinase não se manifesta clinicamente no período neonatal e pode não ser diagnosticada até o desenvolvimento de catarata. Crianças com testes positivos para substâncias redutoras na urina devem ser submetidas à análise destes compostos na urina por cromatografia. Caso forem identificadas, a galactose e a galactose 1-fosfato devem ser medidas no soro. A confirmação do diagnóstico é obtida pela medida das atividades de enzimas eritrocitárias. GLICOSÚRIA: CAUSAS VARIADAS Várias condições promovem glicosúria pela presença de substâncias diferentes da glicose na urina. Intolerância hereditária à frutose. O fígado é o principal sítio de conversão da frutose em glicose. A deficiência da frutose 1-fosfato aldolase causa o acúmulo intracelular da frutose 1-fosfato. Vômitos e hipoglicemia ocorrem após a ingestão de alimentos contendo frutose, geralmente a sacarose. A idade do aparecimento da anormalidade depende do tipo de alimentação e da severidade do defeito. A maioria dos pacientes desenvolvem uma forte aversão à sacarose. O teste de tolerância à frutose é empregado nesta investigação. Pacientes com esta deficiência mostram pronunciada e prolongada redução dos teores de glicose e fosfato após a administração de frutose. Também apre- sentam frutosúria. A cromatografia urinária confirma a presença de frutose.
  • 18. Carboidratos 61 Frutosúria essencial. É uma condição benigna originada pela deficiência de frutoquinase. Pentosúria essencial. É um erro inato benigno do metabolismo no qual o açúcar L-xilulose é excretado em excesso na urina. Isto se deve a um defeito na NADP- ligada xilitol desidrogenase, uma das enzimas da via de oxidação do ácido glicurônico. Lactosúria. Não apresenta significância patológica. Encontra-se muitas vezes nos últimos estágios da gravidez e durante a lactação após o parto. Muitas vezes é necessário distinguir a lactosúria da glicosúria. Bibliografia consultada Bioinforme 96. Laboratório Sérgio Franco. Rio de Janeiro : Faulhaber, 1996 CHAN, A. Y. W., SWAMINATHAN, R., COCKRAM, C.S. Effectiveness of sodium fluoride as a preservative of glucose blood. Clin. Chem., 35:315-7, 1989. COHEN, Margo P., COHEN, Jonathan. Diabetes and protein glication: clinical and pathophysioloic relevance. New York : P. C. Press, 1996. 275 p. CURME, H. G., COLUMBUS, R.L., DAPPEN, G.M. et al. Multilayer film elements for clinical analysis: general concepts. Clin. Chem., 24:1335-42, 1978. DUBOWSKI, K. M. An o-toluidine method for body-fluid glucose determination. Clin. Chem., 8:215-35, 1962. FOLIN, O., WU, H. A system of blood analysis. A simplified and improved method for determination of sugar. J. Biol. Chem., 41:367-74, 1920. GOLDSTEIN, D. E., LITTLE, R. R., WIEDMEYER, H. M. et al. Glycated hemoglobin: Methodologies and clinical applications. Clin. Chem., 32:B64-B70, 1986. KITABCHI, A. E., WALL, B. M. Diabetic ketoacidosis. Med. Clinics North Am., 79:9-37, 1995. KUHN, F. M. Diabetes mellitus: novos critérios de classificação e diagnóstico. Rev. Cient. AMECS, 6:223-6, 1997. LIM, Y. S., STALEY, M. J. Measurement of plasma fructosamine evalueted for monitoring diabetes. Clin. Chem., 31:731-3,1985. LORBER, D. Nonketonic hypertonicity. Med. Clinics North Am., 79:39-52, 1995. NELSON, N. Photometric adaptation of the Somogyi method for he determination of glucose. J. Biol. Chem., 153:375-80, 1944. Report of the Expert Committee on the Diagnosis and Classification of Diabete Mellitus. Diabetes Care, 20:1183-97, 1997. SANNAZZARO, C. A. C., COELHO, L. T. Nefropatia diabética e proteinúria. LAES & HAES, 120:146-52, 1999. SERVICE, F. J. Hipoglycemia. Med. Clinics North Am., 79:1-8, 1995. SOMOGYI, M. A new reagent for the determination of sugars. J. Biol. Chem., 160:19-23, 1952. STERN, H. J. Lactic acidosis in paediatrics: clinical and laboratory evaluation. Ann. Clin. Biochem., 31:410-9, 1994. TRINDER, P. Determination of glucose in blood using glucose oxidase with na alternative oxygen acceptor. Ann. Clin. Biochem., 6:24-7, 1969.
  • 19. 62 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações