1. O bicho homem
- Amigo! Se é que assim que posso te chamar... O que tens contra mim?
Será que no meu berço não achaste amparo para tua vida? O bicho homem
enfurecido, de machado na mão rompe um golpe certeiro em outro ser
clorofilado que acha pela frente. A natureza em um ato de revolta manda
mensagens telepáticas para todos os seres que a formam e, como num passe de
mágica, todos em uma só sintonia, deixam de contribuir para a vida... Árvores
controlam-se e não liberam oxigênio por um bom tempo (é claro, tudo
combinado com o Supremo Senhor). Animais e outros seres vivos somente a
consumir esse oxigênio e liberar gás carbônico – e o homem ali, ríspido,
frenético, rompante. Até que, de repente, por falta de oxigênio no cérebro,
desmaia e assim liberta-se da casca que o veste por algum tempo e comunga
com o restante dos seres que ali estão... Então ele consegue perceber a
importância daqueles seres inertes, indefesos aos seus ataques para que a vida
no planeta esteja em equilíbrio. Nisto ele:
... passa pelo lago como um fantasma, e sente a vibração das moléculas d’água
a darem suporte de vida a tantos seres;
... penetra no solo e vê a perfeição do trabalho dos seres decompositores a
transformarem a matéria orgânica morta em sais minerais para nutrir as
plantas, seres produtores, que darão início a todo o ciclo de alimentação e vida
do planeta;
... adentra numa planta milenar e percebe com que força suas seivas, brutas e
elaboradas correm, como o sangue em nossas veias; percebe também o poder
da clorofila que possibilita a existência dessa fábrica maravilhosa que nada
pede em troca - só respeito, amor e preservação.
Como se acordasse de um sonho bom, o homem retorna à sua casca e sua
consciência, agora já conhecendo o que antes ignorava, e chora feito criança.
Pede por tudo que seja perdoado e que a natureza volte a pulsar.
O Senhor, acreditando no homem, deixa correr o tempo como se nada
houvesse acontecido. Só que Ele não lembrou que era época de eleição e
promessa de homem neste tempo...
Cláudia Souza