1) O autor discute como o progresso e desenvolvimento estão ameaçados no mundo atual devido a fatores como superpopulação, esgotamento de recursos e mudanças climáticas.
2) Teóricos iluministas como Condorcet acreditavam no progresso contínuo da humanidade, mas os problemas atuais contradizem essas ideias.
3) Uma catástrofe global pode interromper o progresso, como previu Condorcet, a menos que líderes iluminados tomem ações para evitar o colapso.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
O FIM DO PROGRESSO E O RISCO DE COLAPSO MUNDIAL
1. O PROGRESSO E O DESENVOLVIMENTO AMEAÇADOS NO MUNDO
Fernando Alcoforado*
Progresso significa movimento para frente tendo como sinônimo avanço e progressão
(Ver
o
Dicionário
on
line
de
português
no
website
<http://www.dicio.com.br/progresso/>). O progresso pode ser definido como um
processo cumulativo no qual o estágio mais recente é sempre considerado preferível e
melhor, ou seja, qualitativamente superior, ao que o precedeu. Neste sentido, a mudança
ocorre em uma determinada direção e essa progressão é interpretada como uma
melhoria em relação à situação anterior. Assim, a mudança é orientada para o melhor, é
necessária, isto é, não se pode parar o progresso, e é irreversível, isto é, nenhum retorno
ao passado é possível. A melhoria seria inevitável. O amanhã sempre será melhor que o
hoje.
“Um projeto de desenvolvimento de um país ou de uma região só terá caráter
progressista se gerar transformação, mudança, progresso, criação e distribuição de
riqueza. O desenvolvimento econômico se materializa quando há transformação,
mudança, progresso e criação de riqueza e o desenvolvimento social só acontece quando
a riqueza é amplamente distribuída pela população, isto é, não é concentrada. Um
projeto de desenvolvimento tem, portanto, caráter progressista quando o
desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social ocorrem simultaneamente”
(ALCOFORADO, Fernando. Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da
Bahia.
Tese
de
doutorado.
Universidade
de
Barcelona,
<http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944>, 2003).
Em sua obra The End of progress – How modern economics has failed us (O Fim do
progresso- Como a economia moderna tem falhado), publicada pela John Wiley & Sons
em 2011, Graeme Maxton, colaborador do The Economist e de uma ampla gama de
jornais e revistas internacionais na Europa, Estados Unidos e Ásia e convidado regular
em programas de notícias da BBC e CNN, trata das consequências da crise econômica
mundial que eclodiu nos Estados Unidos em 2008, da superpopulação mundial que está
se aproximando de seus limites (10 bilhões de habitantes), do esgotamento de recursos
financeiros mundiais e da emergência da China como uma potência global que ameaça a
hegemonia norte-americana no mundo. Nesta obra Graeme Maxton afirma que “a
humanidade está se movendo para trás. A humanidade está destruindo mais do que
construindo. Em cada ano, a economia mundial cresce aproximadamente US$ 1,5
trilhão. Mas, em cada ano, a humanidade devasta o planeta a um custo de US$ 4,5
trilhões. A humanidade está se movendo no sentido inverso gerando perdas maiores do
que a riqueza que cria”.
Maxton afirma que a humanidade experimentou rápido crescimento econômico, mas
criou também um mundo instável. Segundo Maxton, em muitos países, pela primeira
vez em séculos, nos defrontamos com a queda na expectativa de vida e com a
perspectiva do declínio da produção de alimentos e da oferta de água, bem como a
exaustão dos recursos naturais como o petróleo. Tudo o que está acontecendo no mundo
conspira contra tudo que pregava o Iluminismo a partir do século XVIII, quando um
grupo de pensadores começou a se mobilizar em torno da defesa de ideias que pautavam
a renovação de práticas e instituições vigentes em toda Europa, levantando questões
filosóficas que pensavam sobre a condição e a felicidade do homem. O movimento
1
2. iluminista atacou sistematicamente tudo o que era considerado contrário à busca da
felicidade, da justiça e da igualdade. O que se verifica hoje em todo o planeta é a
antítese do que preconizava o Iluminismo.
Cabe observar que o pensamento iluminista elegeu a “razão” como o grande
instrumento de reflexão capaz de melhorar e empreender instituições mais justas e
funcionais. Tudo o que acontece na atualidade no mundo em que vivemos nega o
pensamento de Emmanuel Kant, um dos filósofos do Iluminismo, que considerava a
História caminhando na direção do melhor (KANT, Immanuel. Ideia de uma história
universal de um ponto de vista cosmopolita. São Paulo: Brasiliense, 1986). Kant
afirmou que a competição entre os seres humanos constituiria o grande motor da
história gerando discórdias e concórdias entre os homens e, por uma razão ou por outra,
conduzindo-os coletivamente através do Progresso. A história da humanidade
demonstra, entretanto, que esta tese não é verdadeira porque a competição entre os seres
humanos tem gerado a barbárie representada pelas revoluções com o conflito entre
classes sociais e guerras entre povos e nações e a destruição da natureza. Com visão
semelhante à de Kant, o filósofo e matemático francês Condorcet (1743-1797) era
extremamente otimista.
As ideias de Condorcet sobre a História eram de um enorme otimismo histórico.
Condorcet acreditava que, àquela altura da História, o estado de evolução e
aperfeiçoamento da humanidade não mais poderia ser interrompido, a não ser que
ocorresse alguma catástrofe mundial, e que por isto caberia aos homens iluminados pela
razão acelerar este progresso humano, que por si mesmo era inevitável. Para Condorcet,
o Presente em que então viviam ele e seus contemporâneos tinha uma superioridade
sobre todas as épocas do Passado, e, depois de adentrarem o degrau supremo, os seres
humanos dos séculos vindouros não fariam mais do assistir ao acrescentar de novas
luzes a um progresso inesgotável. A História seria para Condorcet, portanto, o registrar
daquela que seria a lei suprema do desenvolvimento humano, a sua “perfectibilidade
indefinida”. O Progresso constituía para Condorcet a grande lei que imprimia
regularidade ao curso da História, e conhecer esta última, isto é, refletir sobre o que
havia sido o homem até então e sobre o seu estado atual poderia contribuir para oferecer
aos homens ilustrados os meios de acelerar o progresso e aproximar mais rapidamente a
humanidade do futuro [CONDORCET. Esquisse d’um tableau historique dês progreès
de l’esprit humain (Esboço de um quadro histórico do progresso do espírito humano).
Paris: Garnier-Flammarion, 1988].
Cabe destacar que Condorcet afirmou que o estado de evolução e aperfeiçoamento da
humanidade não mais poderia ser interrompido, a não ser que ocorresse alguma
catástrofe mundial (grifo nosso). O cenário mundial atual aponta nesta direção com a
possibilidade de um colapso total (interrupção generalizada e duradoura da internet, do
esgotamento do sistema global de abastecimento de alimentos, de um pulso
eletromagnético continental que destrói todos os aparelhos eletrônicos, do colapso da
globalização, da destruição da Terra pela criação de partículas exóticas, da
desestabilização do panorama nuclear, do fim do suprimento global de petróleo, de uma
pandemia global, da falta de energia elétrica e de água potável, de robôs inteligentes que
sobrepujam a humanidade e da deflação global e do colapso dos mercados financeiros
mundiais) como preconizamos em artigo que publicamos no Blog de Falcoforado
(http://fernando.alcoforado.zip.net) publicado em 21/05/2013 a não ser que, como diz
Condorcet, homens iluminados pela razão acelerem o progresso humano, que por si
2
3. mesmo era inevitável. O problema é que os homens iluminados de Condorcet ainda na
surgiram para evitar a catástrofe mundial.
Para evitar o desastre que se avizinha, a humanidade tem que construir uma nova
sociedade que incorpore todos os povos do mundo inteiro que só será viável se for
conduzida por um governo mundial democrático que seja capaz de planejar e controlar
os sistemas caóticos que ameaçam a sobrevivência da humanidade e evitar o colapso de
tudo como prevê John Casti em sua obra O Colapso de Tudo - Os Eventos Extremos que
Podem Destruir a Civilização a Qualquer Momento (Rio: Editora Intrínseca Ltda.,
2012).
*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.S
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