[1] O documento discute a falência do modelo econômico, político e de gestão pública no Brasil, levando o país a um futuro sombrio sem alternativas capazes de superar a crise atual. [2] Defende que o governo Dilma adote um "feedback positivo" substituindo o modelo neoliberal por um modelo nacional desenvolvimentista para retomar o desenvolvimento do país. [3] Argumenta que enquanto Dilma e as forças que a apoiam permanecerem no poder, o Brasil continuará sem rumo, como uma nave à deriv
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
O brasil falido tem futuro sombrio
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O BRASIL FALIDO TEM FUTURO SOMBRIO
Fernando Alcoforado*
O Brasil se defronta no momento atual com a falência do modelo econômico neoliberal
e antinacional posto em prática desde 1990 pelos governos Fernando Collor, Itamar
Franco e Fernando Henrique Cardoso e mantido pelos governos Lula e Dilma Rousseff,
a falência do sistema político implantado em 1988 pela Assembleia Nacional
Constituinte e a falência do modelo de gestão pública extremamente ineficiente e
ineficaz no atendimento das necessidades do País.
O modelo econômico neoliberal faliu no Brasil porque depois de provocar uma
verdadeira devastação na economia brasileira de 1990 a 2014 configurada no
crescimento econômico pífio, no descontrole da inflação nos últimos 4 anos, nos
gargalos existentes na infraestrutura econômica e social, na desindustrialização da
economia brasileira, na explosão da dívida pública interna e externa e na
desnacionalização da economia brasileira, não apresenta perspectivas de superação
desses problemas haja vista que o governo Dilma Rousseff decidiu adotar uma política
recessiva que se traduzirá na estagnação da economia, no aumento da dívida pública, no
desequilíbrio das contas externas e também na retomada do desemprego.
Considerando o fato de o sistema econômico do Brasil ser um sistema dinâmico,
quando está sujeito a “flutuações” como o que enfrenta no momento atual é levado a um
ponto de bifurcação a partir do qual o sistema tem que ser reestruturado ou entrará em
colapso. Esta é a situação vivida pela economia do Brasil, que enfrenta uma crise
profunda. Para enfrentar a crise, o governo Dilma Rousseff preferiu adotar um
“feedback” negativo procurando corrigir os desvios para retornar ao caminho original,
isto é, manter o “status quo”, que pode levar o sistema econômico do Brasil ao colapso,
quando deveria adotar o “feedback” positivo com a promoção de mudanças, a formação
de novas estruturas, mais sofisticadas, mais adaptáveis, mais sutis e inovadoras para
superar a crise atual e retomar o desenvolvimento do País em novas bases.
Com o “feedback” negativo a ação é conservadora porque significa a manutenção do
falido modelo econômico neoliberal, cuja continuidade será desastrosa para o País
porquanto coincidirá com a tendência à depressão econômica que já se manifesta no
sistema capitalista mundial com a instabilidade financeira e econômica que está
avançando nos mercados emergentes como o Brasil, inclusive na China cujo
crescimento está desacelerando. Dessa forma, o epicentro da crise global, que ocorreu
pela primeira vez em 2008 nos Estados Unidos e mudou para a Europa entre 2010 e
2013, agora está se concentrando nas economias dos mercados emergentes, inclusive na
China. A instabilidade financeira crescente da economia mundial e da China é um
problema grave para o Brasil porque é altamente dependente das importações,
especialmente da China.
Com o “feedback positivo, o governo brasileiro poderia levar o sistema econômico
brasileiro a outro patamar de desenvolvimento diferente do patamar anterior. A ação
seria revolucionária contemplando a adoção das medidas descritas a seguir: 1) Redução
dos encargos com o pagamento da dívida pública alongando-a no tempo e também os
gastos públicos ao mínimo necessário a fim de que o governo brasileiro disponha de
poupança suficiente para investir na expansão da economia brasileira evitando sua
estagnação; 2) Renegociação com os credores da dívida interna pública do país visando
a redução dos encargos com seu pagamento para 1/3 ou ¼ do orçamento do governo
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federal; 3) Redução drástica do gasto público de custeio reduzindo o número de
ministérios de 39 para 15 ou 20 e a eliminação ou redução ao mínimo necessário dos
cargos comissionados que são cerca de 22 mil; 4) Montagem de um gabinete de crise
composto por pessoas da mais alta competência e do mais alto gabarito e
respeitabilidade ética e moral para obter o respeito da nação para assegurar a
governabilidade; e, 5) Substituição do modelo neoliberal em vigor por outro de caráter
nacional desenvolvimentista de abertura seletiva da economia brasileira para promover
o desenvolvimento do Brasil em novas bases e evitar a estagnação econômica em curso.
Um governo seriamente comprometido com a defesa da soberania nacional, o progresso
do Brasil e o bem-estar-social de sua população teria que, necessariamente, repelir o
cenário atual substituindo o modelo econômico neoliberal pelo modelo nacional
desenvolvimentista de abertura seletiva e controlada da economia nacional que tornaria
certamente o País menos vulnerável ao ataque de capitais externos especulativos com o
governo exercendo um efetivo controle da economia, além de propiciar a retomada do
desenvolvimento nacional. O modelo nacional desenvolvimentista de abertura seletiva
da economia brasileira deveria contemplar o seguinte: 1) Substituição do câmbio
flutuante em vigor pelo câmbio fixo para evitar a elevação vertiginosa do dólar em
curso; 2) Controle do fluxo de entrada e saída de capital, sobretudo do especulativo; 3)
Nacionalização dos bancos para garantir a liquidez aos cidadãos e às empresas; 4)
Importação seletiva de matérias-primas e produtos essenciais do exterior para reduzir os
dispêndios em divisas do País; 5) Reintrodução da reserva de mercado em áreas
consideradas estratégicas para o desenvolvimento nacional; e, 6) Reestatização de
empresas estatais privatizadas consideradas estratégicas para o desenvolvimento
nacional.
O projeto nacional desenvolvimentista permitiria fazer com que o Brasil assumisse os
rumos de seu destino, ao contrário do modelo neoliberal em vigor que faz com que o
futuro do País seja ditado pelas forças do mercado todas elas comprometidas com o
capital financeiro nacional e internacional.
A falência do modelo político do Brasil está configurada no fato do presidencialismo
em vigor ter fracassado totalmente e ser gerador de crises políticas e institucionais, o
sistema político do País estar contaminado pela corrupção, a democracia representativa
no Brasil manifestar sinais claros de esgotamento não apenas pelos escândalos de
corrupção nos poderes da República, mas, sobretudo, ao desestimular a participação
popular, reduzindo a atividade política a meros processos eleitorais que se repetem
periodicamente em que o povo elege seus representantes os quais, com poucas
exceções, após as eleições passam a defender interesses de grupos econômicos em
contraposição aos interesses daqueles que os elegeram. Esta situação tem que chegar ao
fim com a substituição do presidencialismo pelo parlamentarismo e do controle social
dos eleitos pelo povo que deve dispor de instrumentos para dar início ao processo de
cassação de mandatos quando houver descomprometimento de promessas de campanha
eleitoral pelos candidatos.
A falência do modelo de gestão pública no Brasil se configura no fato de não atender as
necessidades do País, o Estado brasileiro ser ineficiente e ineficaz devido, entre outros
fatores, à falta de integração dos governos federal, estadual e municipal na promoção do
desenvolvimento nacional, regional e local. Esta é uma das principais causas do
descalabro administrativo do setor público no Brasil gerador de desperdícios, atrasos na
execução de obras e corrupção desenfreada. A falta de integração das diversas
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instâncias do Estado brasileiro é, portanto, total, fazendo com que a ação do poder
público se torne caótica no seu conjunto, gerando, em consequência, deseconomias de
toda ordem. Urge, portanto, a reestruturação organizacional no Brasil em novas bases
com o planejamento integrado entre os órgãos federais, estaduais e municipais e a
operacionalização das ações com estruturas regionais articuladas entre si visando o
efetivo desenvolvimento das diversas regiões do Brasil.
Percebe-se, pelo exposto, que os problemas atuais do Brasil não serão superados devido
à incapacidade do governo Dilma Rousseff de reestruturar o modelo econômico
neoliberal e antinacional em vigor porque sucumbiu diante do capital financeiro
nacional e internacional e de reformular o sistema político e o modelo de gestão do setor
público porque sucumbiu diante das forças políticas retrógradas que compõem o
Congresso Nacional. Enquanto Dilma Rousseff e as forças que lhe dão sustentação
continuarem no poder, o Brasil continuará um país sem rumo, ingovernável, como uma
nave à deriva prestes a naufragar. O futuro do Brasil é sombrio diante da ausência de
alternativas políticas capazes de superar a crise atual. As manifestações de rua que
ocorreram ou venham a ocorrer não serão suficientes para reverter o quadro atual. Só
resta ao povo brasileiro esperar que, do “naufrágio da nave Brasil”, resulte a
constituição de um novo governo capaz de reestruturar econômica e politicamente o
País.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.