Imperialismo, guerra e terrorismo de estado estão diretamente relacionados. O imperialismo é a fonte geradora da guerra e do terrorismo de Estado. A expressão terrorismo de Estado passou a ser comum nas denúncias das práticas repressivas pelos serviços secretos que resultaram em assassinatos, torturas, censura aos meios de comunicação e exercício enfim de uma série de violências praticadas pelo estado similares aos empregados no terrorismo. O imperialismo praticado pelas grandes potências ocidentais contra os países capitalistas periféricos tem significado guerra e terrorismo ao longo da história. Os Estados Unidos é o agressor e terrorista número um da Humanidade. Não importa o quanto seja, ocasionalmente, chocante a atividade de pequenos grupos privados de terroristas todos eles são minúsculos perante o superterrorismo dos Estados Unidos. Enquanto prevalecer a hegemonia política, econômica e militar dos Estados Unidos que procura impor sua vontade no contexto do sistema interestatal, a guerra de todos contra todos imperará. Até o surgimento de um poder mundial comum, isto é, um governo mundial, as relações internacionais serão regidas pela lei do mais forte. E este é o pior cenário porque nenhum país por mais poderoso que seja terá capacidade de evitar a guerra de todos contra todos.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Imperialismo, guerra e terrorismo de estado
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IMPERIALISMO, GUERRA E TERRORISMO DE ESTADO
Fernando Alcoforado*
O terrorismo é utilizado por organizações como um meio para alcançar um fim. O
terrorismo difere da guerrilha quanto aos alvos a atingir em suas ações. Enquanto a
guerrilha escolhe alvos militares, as forças do adversário, sua logística, os depósitos de
munições, o terrorismo procura atingir alvos civis e militares indiscriminadamente. O
terrorismo não busca apenas o ataque seletivo, mas também o ataque em massa. Um
movimento terrorista pode, em função da correlação de forças, utilizar simultaneamente
ou separadamente terrorismo, guerrilha e operações militares clássicas desde que
disponha da capacidade suficiente. Este é o caso da Al Qaeda e do denominado Estado
Islâmico que surgiram no Oriente Médio.
A ação terrorista sempre foi vista no passado em um contexto revolucionário. O propósito
mais comum do terrorismo no passado era causar um estado de medo no governo ou perda
de confiança por parte de setores específicos da população que o apoiava. Terrorismo é
freqüentemente o último recurso dos desesperados, e pode ser usado por grandes ou
pequenas organizações. O terrorismo depende fortemente da surpresa e é frequente que
ocorra quando e onde é menos esperado. No passado, o terrorismo evitava matar e ferir
mulheres, crianças, idosos ou outros inocentes. Nos tempos atuais, o terrorismo não
delimita mais aqueles que serão atingidos ou não por suas ações. O termo terrorismo
passou a ser mais largamente empregado na história a partir de 1793 na França de
Robespierre durante o regime do Terror da Revolução Francesa.
Em artigo publicado na Revista Espaço Acadêmico, no. 51, de agosto de 2005, sob o
título A questão do terrorismo e suas raízes históricas, Lejeune Mato Grosso Xavier de
Carvalho, sociólogo da Fundação Unesp, professor da Unimep, membro da Academia de
Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa e membro da International Sociological
Association, afirma que pode-se classificar, a grosso modo, em quatro tipos as ações que
se dizem “terroristas”: 1) o terror religioso e fundamentalista (no caso de muçulmanos,
cristãos e judeus extremistas que muitas vezes fazem de seu corpo uma arma de guerra);
2) os do tipo mercenário (aqueles cujo interesse é o dinheiro); 3) os nacionalistas (como
o exército Republicano Irlandês – IRA na Irlanda e a ETA, no país Basco); e, 4) os
ideológicos sejam eles de esquerda que lutam por mudanças sociais ou de direita que tem
por objetivo a manutenção do “status quo”.
Outra forma de terrorismo não citada por Lejeune Mato Grosso Xavier de Carvalho é o
terrorismo de estado. Modernamente, a expressão terrorismo de Estado surgiu durante a
Guerra Fria para designar a Operação Condor que foi uma estratégia de repressão comum
aos governos ditatoriais da América do Sul na década de 1970, para o enfrentamento dos
movimentos de extrema esquerda, notadamente no Brasil, no Chile e na Argentina. A
expressão terrorismo de Estado passou a ser comum nas denúncias das práticas
repressivas pelos serviços secretos que resultaram em assassinatos, torturas, censura aos
meios de comunicação e exercício enfim de uma série de violências praticadas pelo estado
similares aos empregados no terrorismo. Apesar de ter as mesmas consequências, mas ser
bastante diferente nos métodos, a repressão política em estados ditatoriais é muitas vezes
associada ao terrorismo, como o Terror durante a Revolução Francesa de Rosbepierre, a
repressão na Europa ocupada pela Alemanha nazista e as ditaduras na América Latina nas
décadas de 1960 e 1970, entre outros regimes de exceção em todo o mundo.
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O mundo vive na atualidade dois tipos de terrorismo globalizado: 1) o terrorismo
praticado pelas grandes potências imperialistas, sobretudo pelos setores dirigentes dos
Estados Unidos e seus aliados visando a conquista de recursos naturais e a dominação dos
mercados dos países capitalistas periféricos; e, 2) o terrorismo praticado por organizações
que reagem à ação imperialista em todo o mundo, sobretudo árabes, combatendo a
ocupação militar de seus países pelas grandes potências imperialistas, como ocorre no
Iraque, no Afeganistão, na Líbia e na Síria, entre outros países.
O imperialismo praticado pelas grandes potências ocidentais contra os países capitalistas
periféricos tem significado guerra e terrorismo ao longo da história. De todas as forças
violentas surgidas até hoje ao longo da história, foi o imperialismo (alemão, britânico,
francês e norte-americano, entre outros), quem cometeu os maiores crimes contra a
Humanidade — das guerras interimperialistas como a 1ª e 2ª Guerra Mundial às chamadas
guerras limitadas como a Guerra da Coreia, a Guerra do Vietnã e o patrocínio dos regimes
de terror como as ditaduras militares implantadas através de golpes de estado na América
Latina nas décadas de 1960 e 1970, inclusive no Brasil. Através de regimes subordinados
a seus interesses, o governo dos Estados Unidos e seus aliados patrocinaram todos os
possíveis atos de terrorismo, o que inclui prisões e detenções ilegais, torturas,
assassinatos, entre outras ações. Milhares de pessoas na Ásia, África e América Latina
sofreram com esses atos de terrorismo de Estado.
Nos últimos 20 anos, o governo dos Estados Unidos e seus aliados desencadearam cinco
guerras de agressão em larga escala — as do Iraque, da Iugoslávia, do Afeganistão, da
Líbia e da Síria — e no processo lucraram com espólios, como os recursos petrolíferos,
enquanto os povos destes países sofreram terrivelmente com o terror imperialista em
todas essas guerras de agressão. Os alvos mais recentes dos Estados Unidos e seus aliados
são a tentativa de derrubada dos regimes de Assad na Síria e a dos aiatolás no Irã contando
com o apoio de Israel. O que faz tais guerras serem extremamente abomináveis é a
covardia na utilização do poder aéreo com o uso inclusive de aviões não tripulados
(drones) e de outras armas de alta tecnologia para bombardear e massacrar a população
civil, destruir infraestruturas, incluindo barragens, usinas elétricas, hospitais, creches,
escolas, fábricas, edifícios de escritórios, igrejas e meios de comunicação.
Os Estados Unidos e seus aliados imperialistas são responsáveis pela ruína econômica e
social dos países periféricos do mundo. Além disso, instiga os conflitos étnicos e
religiosos, gerando rivalidades e massacres civis. Os Estados Unidos é o agressor e
terrorista número um da Humanidade. Não importa o quanto seja, ocasionalmente,
chocante a atividade de pequenos grupos privados de terroristas todos eles são minúsculos
perante o superterrorismo dos Estados Unidos. Internamente, o governo dos Estados
Unidos está oprimindo imigrantes da Ásia, África e América Latina e, sobretudo, aqueles
que pertencem à fé islâmica. Promulgaram o Patriot Act fascista durante o governo Bush,
sob o disfarce de antiterrorismo, impondo a outros países o modelo de legislação
antidemocrática e medidas draconianas.
O governo dos Estados Unidos está induzindo a repressão dos países sob sua tutela a fazer
prisões arbitrárias, detenções incomunicáveis e sem acusações, tribunais militares contra
civis, assassinatos ou rapto de líderes anti-imperialistas para serem julgados em tribunais
controlados por eles mesmos. Além disso, são concedidas permissões à CIA para
assassinar líderes anti-imperialistas no estrangeiro como o praticado pelos Estados
Unidos assassinando por drones o general iraniano Qasem Soleimani, chefe da Força de
inteligência Quds do Irã, na última quinta-feira (2/1/2020). A escalada do terror
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globalizado encontra um terreno fértil para sua proliferação com o terrorismo de Estado
praticado pelo governo dos Estados Unidos.
A história da humanidade tem se caracterizado há séculos pela vitória da barbárie sobre
a civilização. Civilização e Barbárie são antônimas, ou seja, palavras com significados
opostos. Segundo o dicionário, Civilização é uma palavra imbuída de qualidades, isto é,
inclui os bens educados, os que vivem em sociedade, em suma, os que se adéquam a
padrões pré-estabelecidos. Em contraposição, Barbárie é o estado em que vivem os
bárbaros e estes são aqueles sem cultura, sem civilização, violentos, cruéis, em suma, os
que não se adéquam a padrões pré-estabelecidos. Se o conceito de civilizado não se aplica
aos povos da periferia capitalista porque não são bem educados, o conceito de bárbaro se
aplica mais do que o de civilizado aos que se consideram civilizados (governos norte-
americanos e europeus) porque são violentos, cruéis e não se adéquam aos padrões
civilizacionais estabelecidos.
A situação atual do planeta é dramática. A humanidade se sente esmagada pelas grandes
potências mundiais a serviço dos grupos monopolistas que comandam suas economias e
que tudo fazem em defesa de seus interesses, desrespeitando leis, culturas, tradições e
religiões. Invasões em países periféricos, de forma aberta ou sub-reptícia, são realizadas
desrespeitando leis e tratados internacionais. Desde suas origens como modo de
produção social no século XVI, o capitalismo tem se caracterizado pela barbárie que
significa selvageria, crueldade, desumanidade, incivilidade. Massacres, genocídios e
múltiplas formas de degradação humana caracterizam o capitalismo em seu
desenvolvimento histórico. É na periferia capitalista que o capitalismo expõe sua face
mais bárbara. É o que tem feito o capitalismo em todo o mundo, destruindo por dinheiro,
matando por riqueza e poder, fazendo com que as vidas já não valham mais nada, tudo
isso por poder e riqueza! Enquanto prevalecer esta situação no mundo o terrorismo tende
a proliferar em todos os quadrantes da Terra.
O cenário em que vivemos atualmente no planeta apresenta o que Thomas Hobbes
denominou de estado de natureza ou estado de guerra de todos contra todos. Segundo
Hobbes, no “estado de natureza”, reina a ausência do Direito, logo não há espaço para a
justiça. Neste contexto, todos procuram defender seus direitos por meio da força. No
“estado de natureza”, portanto, como concebera Hobbes, reina a guerra de todos contra
todos. O estado de natureza é, portanto, o estado da liberdade sem lei externa, isto é,
ninguém pode estar obrigado a respeitar os direitos alheios tampouco pode estar seguro
de que os outros respeitarão os seus e muito menos pode estar protegido contra os atos de
violência dos demais (HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Ícone Editora). Esta é a
situação que prevalece nas relações internacionais atuais.
Não existe na atualidade o que Hobbes denomina de poder comum no plano mundial, isto
é, a existência de acordo de todos para sair do estado de natureza para instituir uma
situação tal que permita a cada um seguir os ditames da razão, com a segurança de que os
outros farão o mesmo. A tentativa de constituir a Liga das Nações após a 1ª Guerra
Mundial e da ONU após a 2ª Guerra Mundial não foi capaz de estabelecer um poder
comum interestatal no plano mundial para evitar a guerra de todos contra todos. Esta é,
segundo Hobbes, a condição preliminar para obter a paz. Hobbes afirma que o estado de
natureza é um estado de insegurança e que a finalidade de um poder comum é remover
as causas dessa insegurança. A causa principal da insegurança é a falta de um poder
mundial comum e o único meio para isso é que todos os estados consintam em renunciar
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a seu próprio poder transferindo-o para uma pessoa jurídica, como, por exemplo, a ONU
reestruturada.
Enquanto a humanidade não construir um poder mundial comum prevalecerá a lei das
selvas, isto é o estado de natureza no plano internacional. Enquanto prevalecer a
hegemonia política, econômica e militar dos Estados Unidos que procura impor sua
vontade no contexto do sistema interestatal, a guerra de todos contra todos imperará. Até
o surgimento de um poder mundial comum, isto é, um governo mundial, as relações
internacionais serão regidas pela lei do mais forte. E este é o pior cenário porque nenhum
país por mais poderoso que seja terá capacidade de evitar a guerra de todos contra todos.
* Fernando Alcoforado, 80, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC-
O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil
(Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização
e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século
XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions
of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o
progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo,
São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI
(Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o
Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017),
Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria)
e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).