A história demonstra que nem o equilíbrio entre as grandes potências, nem a hegemonia exercida por uma delas e aceita pelas demais e nem o monopólio da violência exercido por um Estado imperial contribuem para a construção da paz mundial. O futuro da segurança internacional está em jogo porque o terrorismo islâmico se tornou o epicentro de um potencial conflito de civilizações que ameaça levar o mundo à ruína. Tanto Hillary Clinton quanto Donald Trump na presidência dos Estados Unidos seriam ineficazes porque adotariam exclusivamente uma solução militar para o combate ao terrorismo islâmico. Para celebrar a paz no Oriente Médio, seria necessário, de um lado, aniquilar militarmente o Estado Islâmico e, de outro, promover o desenvolvimento dos países devastados da região com um programa similar ao Plano Marshall posto em prática na Europa devastada após a 2ª Guerra Mundial.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
As eleições presidenciais nos estados unidos e o futuro das relações internacionais
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AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NOS ESTADOS UNIDOS E O FUTURO DA
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Fernando Alcoforado*
A paz já foi definida como ausência da guerra. A fórmula de Carl Von Clausewitz
exposta em Da Guerra- A Arte da Estratégia (a guerra como continuação da política
por outros meios) é substituída na atualidade pela fórmula inversa: a política passa a ser
a continuação da guerra por outros meios. Historicamente, a busca da paz entre as
nações apresentou três características: 1) o equilibrio entre as grandes potências; 2) a
hegemonia exercida por uma grande potência e aceita pelas demais; e, 3) estado
imperial exercido por um grande potência que detem o monopólio da violência e impõe
sua vontade no cenário mundial. Num espaço histórico dado, ou as forças das unidades
políticas estão em equilibrio, ou estão dominadas por uma dentre elas, ou então são
superadas a tal ponto pelas forças de uma unidade que todas as demais perdem sua
autonomia e tendem a desaparecer como centros de decisão política.
Após a 2ª Guerra Mundial, a Guerra Fria se caracterizou pelo equilibrio entre as duas
superpotências (Estados Unidos e União Soviética). Com o fim da União Soviética em
1989, os Estados Unidos passaram a exercer sua hegemonia incontestável no cenário
mundial graças ao seu poder econômico, científico, tecnológico e militar até o final do
século XX. No entanto, os Estados Unidos perderam a condição de potência
hegemônica no início do século XXI graças à incapacidade de superar a crise
econômica mundial a partir da crise de 2008 e de ordenar o caótico sistema
internacional que passou a ter novos protagonistas com o fortalecimento da União
Europeia e da Rússia, bem como o surgimento de potências emergentes como a China e
a Índia e o terrorismo.
O Estado imperial exercido por um grande potência que detem o monopólio da
violência foi exercido pelo Reino Unido quando dominou o mundo durante o século
XIX que passou a ser contestado pela Alemanha e, também, pelos Estados Unidos no
início do século XX. A 1ª e a 2ª Guerra Mundial resultaram, entre outros fatores, do
desejo das classes dominantes da Alemanha, do Japão e da Itália de redividirem o
mundo que era dominado pelo Império Britânico. A ausência da guerra entre as grandes
potências durante a dominação britânica está relacionada com sua superioridade
econômica e militar em relação às demais potências que impedia qualquer uma delas, e
qualquer coalizão destas unidades de impor sua vontade.
O Estado hegemônico exercido pelos Estados Unidos de 1989 até o início do século
XXI não aspirava a situação de império. Está comprovado, entretanto, que a hegemonia
é uma forma precária de equilibrio entre as grandes potências. O caótico sistema
internacional contemporâneo é produto da frágil hegemonia exercida pelos Estados
Unidos. Todas as relações mundiais dos Estados Unidos se modificaram profundamente
nos últimos tempos que é obrigado a compartilhar com outros países seu poder em
escala mundial. É o que já está ocorrendo a partir do governo Barack Obama. Acabou a
era em que os Estados Unidos procuravam impor sua vontade no cenário internacional
nos planos econômico e militar. A estratégia de Donald Trump, candidato republicano à
Presidência República, seria o de transformar os Estados Unidos em um Estado Imperial
para reverter seu declinio econômico e a perda de sua hegemonia na cena mundial.
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A postura adotada por Donald Trump é radicalmente contrária à tendência do governo
Obama de retirar as tropas norte-americanas de países estrangeiros. O candidato
republicano não descarta enviar mais tropas ao Oriente Médio para combater o
terrorismo. Ele disse ter um plano infalível para derrotar o Estado Islâmico
bombardeando-o e tomando todo o seu petróleo para entregá-lo à Mobil e outras
grandes empresas de petróleo dos Estados Unidos. Quando questionado sobre como
trataria a questão religiosa dentro do país, Trump afirmou que, se necessário, fecharia
mesquitas nos Estados Unidos. Trump comprou briga com ninguém menos do que o
maior parceiro comercial dos Estados Unidos: a China. Ele acusou os chineses de
roubarem empregos dos americanos e defendeu que sejam aplicadas sanções a este país.
Pascal Boniface, professor do Instituto de Estudos Europeus da Universidade de Paris
VIII, afirma em seu livro Vers La 4e. Guerre Mondiale (Armand Colin, 2009) que a
ideia de uma 4ª Guerra Mundial está a ser desenvolvida pelos americanos
neoconservadores que acreditam que a Guerra Fria foi a III Guerra Mundial e que a
guerra contra o Islã ou contra o terrorismo, eles usam ambas as palavras muitas vezes
tão indiferentes, seria a quarta. Este é o caso de Donald Trump e seus aliados na
campanha presidencial norte-americana cuja política é baseada no confronto
acreditando que os problemas políticos podem ser resolvidos unicamente através do uso
da força e que o poder militar é uma resposta universal. A candidata democrata Hillary
Clinton tenderia a adotar a política de Barack Obama de equilíbrio nas relações
internacionais e de combate ao terrorismo. A guerra contra o terrorismo é
frequentemente apresentado por Donald Trump e Hillary Clinton como o grande desafio
do mundo ocidental.
A história demonstra que nem o equilíbrio entre as grandes potências, nem a hegemonia
exercida por uma delas e aceita pelas demais e nem o monopólio da violência exercido
por um Estado imperial contribuem para a construção da paz mundial. O futuro da
segurança internacional está em jogo porque o terrorismo islâmico se tornou o epicentro
de um potencial conflito de civilizações que ameaça levar o mundo à ruína. Tanto
Hillary Clinton quanto Donald Trump na presidência dos Estados Unidos seriam
ineficazes porque adotariam exclusivamente uma solução militar para o combate ao
terrorismo islâmico. Para celebrar a paz no Oriente Médio, seria necessário, de um lado,
aniquilar militarmente o Estado Islâmico e, de outro, promover o desenvolvimento dos
países devastados da região com um programa similar ao Plano Marshall posto em
prática na Europa devastada após a 2ª Guerra Mundial.
O terrorismo como o praticado recentemente e o surgimento do Estado Islâmico no
Oriente Médio fazem com que se torne um imperativo a criação de uma nova
superestrutura jurídica e política internacional para tratar dessas novas questões, isto é, a
estruturação de um governo mundial haja vista que nenhuma grande potência será capaz
de derrotá-lo por mais poderosa que seja ou atue em coalizão com outras grandes
potências. A preservação da paz é a primeira missão de toda nova forma de governo
mundial. Ele teria por objetivo a defesa dos interesses gerais do planeta
compatibilizando-o com os interesses de cada nação. O governo mundial trabalharia
também no sentido de mediar os conflitos internacionais e construir o consenso entre
todos os Estados nacionais, fazer com que cada Estado nacional respeite os direitos de
seus cidadãos, além de buscar impedir a propagação dos riscos sistêmicos mundiais.
Ações para constituir uma governança mundial foi objeto do Concerto das Nações em
1815, da Liga das Nações em 1920 e da Organização das Nações Unidas em 1945 que
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foram em vão porque as grandes potências não abriram mão de impor suas vontades no
plano mundial. Até o surgimento de um governo mundial, as relações internacionais
serão regidas pela lei do mais forte. E este é o pior cenário porque nenhum país por mais
poderoso que seja terá capacidade de construir a paz mundial nem solucionar os
problemas do planeta. As crises econômica, financeira, ecológica, social e política, o
desenvolvimento de atividades ilegais e criminosas atuais e o avanço do terrorismo
mostram que elas são insolúveis sem a existência de um governo mundial. É preciso
entender que os problemas que afetam a economia mundial e o meio ambiente global e
contribuem também para o avanço do terrorismo só poderão ser solucionados com a
existência de um governo mundial verdadeiramente democrático representativo de todos
os povos do mundo. O Direito Internacional não pode ser aplicado e respeitado sem a
presença de um governo mundial que seja aceito por todos os países e assegure sua
governabilidade.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes
do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na
Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br.